lideranças do contestado

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LIDERANÇAS DO CONTESTADO

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Lideranças do contestado

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L I D E R A N Ç A S D O C O N T E S TA D O

Comissão Editorial da Coleção Várias HistóriasSIDNEY CHALHOUB (coordenador) – MARTHA ABREU

SILVIA LARA – JOÃO JOSÉ REIS – ALCIR PÉCORA

Conselho Consultivo da Coleção Várias Histórias CLÁUDIO HENRIQUE DE MOR AES BATALHA – MARIA CLEMENTINA PEREIRA CUNHA

MARIA HELENA P. T. MACHADO – ROBERT WAYNE ANDREW SLENES

Consultoria deste volume MARCOS LUIZ BRETAS DA FONSECA – MAR IA CECÍLIA VELASCO E CRUZ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

ReitorJOSÉ TADEU JORGE

Coordenador Geral da UniversidadeFERNANDO FERREIRA COSTA

Conselho EditorialPresidente

PAULO FRANCHETTI

ALCIR PÉCORA – ARLEY RAMOS MORENO

JOSÉ A. R. GONTIJO – JOSÉ ROBERTO ZAN

LUIS FERNANDO CERIBELLI MADI – MARCELO KNOBEL

SEDI HIRANO – WILSON CANO

PAULO PINHEIRO MACHADO

L I D E R A N Ç A S D O C O N T E S T A D O

A F O R M A Ç Ã O E A A T U A Ç Ã O D A S C H E F I A SC A B O C L A S ( 1 9 1 2 - 1 9 1 6 )

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

Índices para catálogo sistemático:

1. Movimentos sociais 301.2422. Coronelismo 321.53. Milenarismo 236.34. Messianismo 296.335. Brasil – História – Campanha do Contestado, 1912-1916 981.62

Copyright © by Paulo Pinheiro Machado

Copyright © 2004 by Editora da UNICAMP

1a reimpressão, 2007

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenadaem sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios

mecânicos ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

Machado, Paulo Pinheiro.Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916) / Paulo Pinheiro Machado. – Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004.

1. Movimentos sociais. 2. Coronelismo. 3. Milenarismo. 4. Messianismo.5. Brasil – História – Campanha do Contestado, 1912-1916. I. Título.

CDD 301.242321.5236.3296.33981.62

M18L

ISBN 85-268-0642-4

C O L E Ç Ã O V Á R I A S H I S T Ó R I A S

A COLEÇÃO VÁRIAS HISTÓRIAS divulga pesquisas recentes sobre a His-tória do Brasil que apontam para a diversidade da formação culturalbrasileira. Ao centrar seu foco nas práticas, tradições e identidadesde diferentes grupos sociais, seu elenco de obras propõe uma reflexãosobre as tensões e os embates entre valores e interesses que se ex-pressam no campo da cultura. Os trabalhos publicados estão anco-rados em sólidas pesquisas empíricas e descobrem novos problemasde investigação a partir das perspectivas abertas pela história social.

V O L U M E S P U B L I C A D O S

01 – ELCIENE AZEVEDO. Orfeu de carapinha. A trajetória de Luiz Gamana imperial cidade de São Paulo. Campinas: Editora da Unicamp,Cecult, 1999.

02 – JOSELI MARIA NUNES MENDONÇA. Entre a mão e os anéis. A Leidos Sexagenários e os caminhos da abolição no Brasil. Campinas:Editora da Unicamp, Cecult, 1999.

03 – FERNANDO ANTONIO MENCARELLI. Cena aberta. A absolviçãode um bilontra e o teatro de revista de Arthur Azevedo. Campinas:Editora da Unicamp, Cecult, 1999.

04 – WLAMYRA RIBEIRO DE ALBUQUERQUE. Algazarra nas ruas. Come-morações da Independência na Bahia (1889-1923). Campinas: Editorada Unicamp, Cecult, 1999.

05 – SUEANN CAULFIELD. Em defesa da honra. Moralidade, moder-nidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940). Campinas: Editorada Unicamp, Cecult, 2000.

06 – JAIME RODRIGUES. O infame comércio. Propostas e experiênciasno final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850). Campinas:Editora da Unicamp, Cecult, 2000.

07 – CARLOS EUGÊNIO LÍBANO SOARES. A capoeira escrava e outrastradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850). Campinas: Editorada Unicamp, Cecult, 2001.

08 – EDUARDO SPILLER PENA. Pajens da casa imperial. Jurisconsultos,escravidão e a Lei de 1871. Campinas: Editora da Unicamp, Cecult,2001.

09 – JOÃO PAULO COELHO DE SOUZA RODRIGUES. A dança das cadeiras.Literatura e política na Academia Brasileira de Letras (1896-1913).Campinas: Editora da Unicamp, Cecult, 2001.

10 – ALEXANDRE LAZZARI. Coisas para o povo não fazer. Carnaval emPorto Alegre (1870-1915). Campinas: Editora da Unicamp, Cecult,2001.

11 – MAGDA RICCI. Assombrações de um padre regente. Diogo Antô-nio Feijó (1784-1843). Campinas: Editora da Unicamp, Cecult, 2002.

12 – GABRIELA DOS REIS SAMPAIO. Nas trincheiras da cura. As dife-rentes medicinas no Rio de Janeiro imperial. Campinas: Editora daUnicamp, Cecult, 2002.

13 – MARIA CLEMENTINA PEREIRA CUNHA (org.). Carnavais e outrasf(r)estas. Ensaios de história social da cultura. Campinas: Editora daUnicamp, Cecult, 2002.

14 – SILVIA CRISTINA MARTINS DE SOUZA. As noites do Ginásio. Teatroe tensões culturais na Corte (1832-1868). Campinas: Editora daUnicamp, Cecult, 2002.

15 – SIDNEY CHALHOUB, VERA REGINA BELTRÃO MARQUES, GABRIELA

DOS REIS SAMPAIO e CARLOS ROBERTO GALVÃO SOBRINHO (orgs.). Artese ofícios de curar no Brasil. Capítulos de história social. Campinas:Editora da Unicamp, Cecult, 2003.

16 – LIANE MARIA BERTUCCI. Influenza, a medicina enferma. Ciência epráticas de cura na época da gripe espanhola em São Paulo. Campinas:Editora da Unicamp, 2004. 17 – PAULO PINHEIRO MACHADO. Lideranças do Contestado. A for-mação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916). Campinas:Editora da Unicamp, 2004.

P R Ó X I M O V O L U M E

18 – CLÁUDIO HENRIQUE DE MORAES BATALHA, ALEXANDRE FORTES eFERNANDO TEIXEIRA DA SILVA (orgs.). Culturas de classe. Identidadee diversidade na formação do operariado. Campinas: Editora daUnicamp, 2004.

A G R A D E C I M E N T O S

Este livro é uma versão modificada de minha tese de doutorado,intitulada Um estudo sobre as origens sociais e a formação políticadas lideranças sertanejas do Contestado, 1912-1916, defendida emdezembro de 2001 no Departamento de História da UNICAMP.

Por caprichos da sorte, encontrei grande número de pessoasque me auxiliaram, das mais diferentes maneiras, para levar adiantee concluir este trabalho. Espero não desapontá-las. Pretendo listá-las neste espaço, apesar do temor de cometer alguma injustiça,por lamentável esquecimento. De qualquer forma, coloco-me, evi-dentemente, como o único responsável pelas incorreções destetrabalho.

Pude contar, desde o primeiro semestre do curso de douto-rado, com a atenção e a confiança do professor-doutor CláudioHenrique de Moraes Batalha, meu orientador. Sua comunicaçãodireta e suas observações inteligentes muito me ajudaram a superarvárias dificuldades em diferentes momentos do trabalho.

À Ivone Gallo agradeço por ter colocado seu material de pes-quisa à minha disposição, fornecendo-me importantes indicaçõese alertando-me para uma série de dificuldades e problemas emrelação às fontes para o estudo da guerra sertaneja.

Sou especialmente grato aos professores que fizeram partede minha banca de defesa: Michael M. Hall, Marli Auras, EmíliaPietrafesa de Godói e Fernando Antônio Lourenço. Neste textofinal para publicação, procurei, dentro do possível, incluir ques-tões, propostas e correções debatidas durante a defesa.

Recebi inestimável apoio e camaradagem de meus colegasde curso e de linha de pesquisa, principalmente de Norberto Fer-reras, Maria Veronica Secreto, Luigi Biondi, Fábio Gutemberg de

Sousa, Álvaro Pereira do Nascimento, Luigi Negro, Paulo Fontes,Elciene Azevedo, Cristiane S. Pereira e Ana Paula Palamartchuck.

Na secretaria de pós-graduação do IFCH, sempre tive a segu-rança de poder contar com a necessária retaguarda oferecida porLurdinha, Marli e Júnior.

Pelo interior de Santa Catarina e do Paraná, em 12 viagensentre 1998 e 2000, contei com a colaboração atenciosa de um grandenúmero de pessoas: Carlos Guérios (Itajaí), professor Nilson Thomé(Caçador), Vicente Telles (Irani), Fernando Tokarski (Canoinhas),Luiz Antônio e Aydée Blasi (Florianópolis), Maria da Glória Foohs(Rio Negro), Maria Salmória Vieira Tedesco (filha do coronel Fa-brício Vieira, em Caçador), Reni Antunes (São José do Cerrito),Danilo de Castro (Lages) e padre Elcio (Rio das Antas). Em Curi-tibanos, tive o auxílio e a interlocução de Enori Pozzo, EuclidesJosé Felipe, Aldair Goeten de Moraes, juiz João Ciwinski, Nelsondos Santos, Ilson Neves de Moraes e da professora Célia Lemos.

Agradeço a atenção especial de Márcia Janete Espig (PortoAlegre), Telmo Marcon (Passo Fundo), Rogério Rosa Rodrigues(Florianópolis e Vitória) e Delmir José Valentini (Caçador), quatropesquisadores do Contestado que foram freqüentes interlocutores.Márcia Espig e Rogério Rodrigues forneceram-me vários docu-mentos de suas pesquisas. Delmir encaminhou-me a vários depoen-tes da região de Caçador.

Em Florianópolis, sou especialmente grato aos colegas doDepartamento de História da UFSC, que absorveram minhas ativi-dades docentes durante o período de afastamento. O professorHenrique Luís Pereira Oliveira, com seu vídeo Vida laboriada, foiquem me dirigiu o olhar ao planalto serrano. Agradeço ao profes-sor João Klug por traduções e empréstimos de livros. O professorÉlio Cantalício Serpa foi um freqüente interlocutor sobre as-pectos da vida cabocla. Recebi importantes informações da pro-fessora Adelaide Gonçalves Pereira, da UFC, enquanto ela esteveestudando em Florianópolis. Agradeço ao professor Paulino deJesus Francisco Cardoso, da UDESC, pela importante interlocuçãoe pela leitura e crítica do texto que deu origem ao capítulo 5deste livro.

Agradeço especialmente a atenção e o empenho dos trabalha-dores de arquivos e demais acervos: Neusa Damiani Nunes e AnaMaria (Arquivo Público de Santa Catarina), Orivalda Silva e Gil-berto Machado (Museu do Judiciário Catarinense), Denise Lopes(Arquivo Municipal Waldemar Rupp, Campos Novos), Chica (Mu-seu Thiago de Castro, Lages), Cida (Departamento do Arquivo Pú-blico do Paraná) e Carlos Dias Correa Augusto (Arquivo da RFFSA,de Curitiba). Em Florianópolis, obtive importantes indicações eempréstimo de material de pesquisa do escritor Telmo Fortes e doeditor Nelson Rolim de Moura.

No Arquivo Histórico do Exército, no Rio de Janeiro, obtivea atenção do coronel Tarragô, do tenente Paulo, do cabo Carlos edo soldado Duarte. No Arquivo da Polícia Militar de Santa Cata-rina, tive acesso aos boletins diários do Regimento de Segurança,fornecidos pelo tenente-coronel Edson.

João Edésio Jungles, professor do Departamento de Enge-nharia Civil da UFSC, fez a gentileza de convidar-me para participardo projeto de restauração do prédio do cinema da Brazil Lumberand Colonization Company, em Três Barras.

Várias indicações pontuais, não menos importantes, foramfornecidas por colegas pela lista H-Brasil, na Internet: JosemirMelo (Recife), William Summerhill (Califórnia, EUA), CarlosKessel (Rio de Janeiro) e Ricardo Costa de Oliveira (Curitiba).

Agradeço aos professores Marcos Bretas e Maria CecíliaVelasco Cruz pela leitura atenciosa e pelas sugestões, que procureiincorporar. Agradeço igualmente a leitura e as sugestões de MárciaEspig e de meu irmão Marco Antônio. Sou grato ainda a RoniéreAmaral (Brasília) e a Maria Lucinete Fortunato (Campina Grande)por terem enviado suas teses.

Registro o apoio incondicional de meus familiares desde oinício da empreitada: Lourdes Consuelo, Dulphe, Ricardo, Carlose Iuri. Marco Antônio e Renata acolheram-me com atenção quandoestive pesquisando no Rio de Janeiro. Taio, meu padrinho, mesmogeograficamente distante, esteve sempre por perto. Agradeço aVera Maria Guimarães por suas traduções.

Meus filhos Cecília, Bolívar e Marco Antônio, apesar dedestruírem periodicamente meus modestos gravadores, foramverdadeiros companheiros durante todo o processo. Bolívar acom-panhou-me em algumas viagens pelo planalto, cuidando com es-mero da “retaguarda” de pesquisa.

Carla, minha mulher, ajudou na viabilização das inúmerasviagens, na revisão geral do texto, na confecção dos mapas e comobservações quanto ao andamento do trabalho. Porém sua partici-pação vai muito além do que está aqui relatado. Seu companhei-rismo, afeto e sensibilidade ajudaram-me a ver de outra maneirao mundo em geral e a vida dos sertanejos em particular.

Recebi do PICD–CAPES bolsa de estudo que viabilizou umasérie de atividades e gastos. Agradeço aos colegas do CECULT–UNICAMP e à FAPESP pela viabilização desta publicação. Sou gratoa todos os que lutam para defender e ampliar o ensino público egratuito.

Por fim, gostaria de salientar o carinho, a gentileza e a hospi-talidade com que eu, um estranho, fui recebido pelos entrevistados:Antônio Fabrício das Neves (Damo), Antônio França Pinto, AvelinoCorreia, Ayhurê Tavares, Cipriano Fragoso, Dario Carneiro, Do-mingas Ávila dos Santos, Elias Ribeiro, Gilberto Kopeki, GracilianoAlves dos Santos, João Maria de Paula, João Maria Palhano (Lica),João Melo, João (Ventura) Paes de Farias, João Pedro de Souza(Totó), João Rupp Sobrinho, Laurentino Martins, Lauro Costa, Ma-noel Jungles, Maria Conceição Correia, Nonésia Carneiro Driessen,Rosalina Watrin, Sebastião Costa, Valmor Carlin do Prado. Apesardos rápidos contatos que mantive com essas pessoas, senti que, dealguma maneira, eles me atribuíram uma “missão”, a de registrarseus pontos de vista, de pessoas comuns, a respeito da grande tor-menta que se abateu sobre sua região. Espero estar à altura de suasexpectativas, uma vez que, para mim, toda essa experiência repre-sentou muito mais do que o cumprimento de uma formalidadeacadêmica.

S U M Á R I O

L I S T A D E A B R E V I A T U R A S ............................................................. 15

P R E F Á C I O ...................................................................................... 17

I N T R O D U Ç Ã O ................................................................................. 23Observações sobre as fontes ................................................................... 38

1 B U G R E S , T R O P E I R O S E B I R I V A S ............................................... 57Colonos e bugres ............................................................................... 58O caminho das tropas .......................................................................... 60O perfil da população .......................................................................... 64A ocupação do solo ............................................................................ 73Diferenciação social ............................................................................ 79Tragédia na família Damasceno ............................................................... 84Maragatos versus pica-paus ................................................................... 89Coronelismo “sem enxada” e “sem voto” ..................................................... 90Tensões entre os poderes local e estadual .................................................... 104

2 A S P E C T O S I N S T I T U C I O N A I S .................................................... 123A questão dos limites ......................................................................... 123Desmandos e usurpações ..................................................................... 127A disputa pela erva-mate .................................................................... 133A política de terras de Santa Catarina ........................................................ 138A Brazil Railway e a Lumber and Colonization ............................................... 142

3 O T E M P O D O “ F A N A T I S M O ” .................................................... 163A legenda João Maria ......................................................................... 163O Canudinho de Lages ........................................................................ 173A atuação de José Maria ...................................................................... 175O êxodo ao Irani .............................................................................. 182A santificação de José Maria ................................................................. 189

Pau l o P i n h e i r o M a c h a d o14 |

Crise política em Curitibanos ................................................................. 193As visões de Teodora .......................................................................... 198O comando de Manoel ........................................................................ 200A economia “pelada” ......................................................................... 204O monarquismo sertanejo .................................................................... 212O comando do menino Joaquim .............................................................. 216A “virgem” Maria Rosa ....................................................................... 222Perfil social das lideranças “peladas” ........................................................ 224As divisões familiares ........................................................................ 226

4 O T E M P O D O “ J A G U N C I S M O ” .................................................. 243A ascensão de Chiquinho Alonso ............................................................. 248Erupção rebelde em Canoinhas ............................................................... 251A ofensiva rebelde generalizada .............................................................. 261O debate nacional ............................................................................ 279

5 A D E O D A T O : L U T A E M E M Ó R I A ................................................. 293O primeiro batismo ........................................................................... 295O segundo batismo ........................................................................... 297Adeodato assume a liderança ................................................................ 300O reduto de Santa Maria ..................................................................... 304O terror ....................................................................................... 306Negociações e transações ..................................................................... 309Costumes e transgressões .................................................................... 314A captura ..................................................................................... 317Armadilhas da memória ...................................................................... 321Tratamento dos prisioneiros .................................................................. 323

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S .............................................................. 335

F O N T E S ........................................................................................ 343

B I B L I O G R A F I A .............................................................................. 361

M A P A S .......................................................................................... 375

F O T O S .......................................................................................... 382

Í N D I C E O N O M Á S T I C O ................................................................... 393

| 15A g r a d e c i m e n t o s

L I S T A D E A B R E V I A T U R A S

AFJC Arquivo do Fórum de Justiça de Curitibanos

AHEx Arquivo Histórico do Exército — Rio de Janeiro

AHMC Arquivo Histórico Municipal de Canoinhas

AHMF Arquivo Histórico Municipal de Florianópolis

AHRGS Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul

AHWR Arquivo Histórico Waldemar Rupp — Campos Novos

AIHGSC Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina

APAT Arquivo Particular de Ayhurê Tavares — Itajaí

APESC Arquivo Público do Estado de Santa Catarina

APMSC Arquivo da Polícia Militar de Santa Catarina

APTJSC Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

ARFFSA Arquivo da Rede Ferroviária Federal — Curitiba

BN–RJ Biblioteca Nacional — Rio de Janeiro

BPESC Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina — Florianópolis

DEAP Departamento do Arquivo Público do Estado do Paraná —Curitiba

MTC Museu Thiago de Castro — Lages

MTJSC Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina — Florianópolis

Pau l o P i n h e i r o M a c h a d o16 |

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P R E F Á C I O

Considero bastante provocador este trabalho de Paulo PinheiroMachado, a começar pelo enunciado no próprio título original desua tese de doutorado que resultou neste livro: Um estudo sobreas origens sociais e a formação política das lideranças sertanejasdo Contestado. Se tivermos presente substancial parcela do que jáse produziu acerca do Contestado e do senso comum ainda larga-mente vigente a seu respeito, boa parte do título é, a meu ver, deaceitação tranqüila, inclusive pelo reconhecimento da necessidadede que já era mais que tempo de virem a lume estudos mais siste-matizados (mais científicos) acerca desse importante momento/movimento de nossa história. Agora, falar, ato contínuo, em forma-ção política dessas mesmas lideranças sertanejas é realmente ousar,espicaçar leituras já estabelecidas, desafiar no sentido da busca (comoé o caso) de novas e mais consistentes sínteses, na perspectiva daconstrução da hegemonia dos subalternos. O autor ousa erguer àestatura da condição de formação política trajetórias/vivências/bio-grafias de indivíduos sobejamente desqualificados pela historiografia,de um modo geral, e pelo senso comum ainda dominante. Comofalar, Paulo, em formação política acerca de um bando de “fanáticos”,“jagunços”, “bandidos”, “rebotalho humano”, homens e mulheres(famílias inteiras) que, aos milhares, segundo as leituras conser-vadoras nada mais fizeram que semear “pavor e desordem pública”interior afora?

É impressionante a vastidão e a riqueza das fontes consultadaspara a realização desta obra! É possível imaginar o árduo trabalhode localização, sistematização e articulação dessas fontes até poderchegar ao fecundo resultado ora disponibilizado ao público leitor.Gostaria de ressaltar que, em grande medida, foram utilizadas fontes

P r e f á c i o

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primárias, várias delas inclusive até então inéditas no âmbito dosestudos acerca do Contestado. Daí certamente provém muito docaráter inovador e desarticulador da presente leitura. Em váriosinstantes, com base em documentos consistentes trabalhados comtenacidade e perspicácia intelectual, o texto apresenta importantessínteses que contribuem, em muito, para reforçar a necessidadede se continuar a produzir leituras mais objetivas e seculares acercado Contestado, na expectativa política da construção de uma socie-dade em que “quem tem mói, quem não tem mói também e nofim todos ficam iguais”, como tão bem nos ensinaram os caboclosdo Contestado ao longo de sua luta.

Chama a atenção a maneira como o autor não perde o fio desua análise em meio a um vasto e (inicialmente, então) pulverizadomaterial empírico. No passar das centenas de páginas que com-põem o livro, há uma enorme profusão de nomes, de localidades,de dias e fatos precisos, de “consta que”, os quais, no avançar daleitura, vão ganhando sentido, articulação, inteligibilidade. Per-cebe-se uma forte relação orgânica entre todas as várias partesconstituidoras da presente obra. A linguagem empregada é clara,enxuta, concisa. Faço questão de ressaltar a grande capacidade desíntese revelada pelo autor ao longo do texto.

Considero que essa contribuição aos estudos acerca do Con-testado não deixa pedra sobre pedra em leituras anteriores queentendiam, por exemplo, que os sertanejos viviam isolados do res-tante do país, que acabaram por realizar um movimento pré-político, profundamente marcado pelo fanatismo e pela loucura.Esse trabalho apresenta aspectos do conteúdo que foi emergindodo próprio âmago da luta cabocla, com vistas a, deste modo, poderdesenvolver “uma discussão sobre a capacidade e possibilidade daluta camponesa, além de reagir a investidas ‘de fora’, em engendrarum projeto novo de sociedade”, como se afirma na Introdução.Nela, o autor chega mesmo a falar em “comunismo caboclo”. Sem-pre desafiador, avança em sua leitura tecendo considerações/pro-blematizações tais como as seguintes, apresentadas no capítulo 4:“A ‘monarquia cabocla’ deixa de ser um projeto isolado apenas paraos devotos e se converte, na prática, em um objetivo revolucionário

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para a modificação de toda a sociedade” e “Os ‘pelados’ construíramum projeto de sociedade e defendiam que deveria ser aplicado emtodo o Brasil”.

Gostaria de destacar, também, o denso diálogo que a obratrava com os três primeiros mais substanciais estudos relativos aoContestado — hoje já considerados clássicos no âmbito do conhe-cimento acerca desse movimento rebelde: o de Maria Isaura Pereirade Queiroz, o de Maurício Vinhas de Queiroz e o de Duglas TeixeiraMonteiro. O presente trabalho reconhece e leva em conta suascontribuições, mas avança significativamente a ponto de promoverrupturas decisivas, pertinentes, necessárias, expostas com solideze argúcia teórica, embasadas em fontes primárias inéditas ou aindapouco exploradas. Ao não partir de conceitos ou categorias abs-tratos, generalizadores, aistóricos, o presente estudo teve condi-ções de perceber e analisar importantes mediações geradoras daespecificidade do movimento rebelde, capazes de evidenciar, na-quele tempo e espaço, a inventividade, a capacidade de criação doscaboclos do Contestado. Considero especialmente lapidar e corajosoo diálogo do autor com Pereira de Queiroz, incluindo o registro deseu lamento diante dos reiterados vetos da professora aos pesqui-sadores do Contestado que buscam acesso ao seu certamente im-portante acervo a respeito desse movimento.

Gostaria de destacar, ainda, a importância deste trabalho paraa problematização do contexto catarinense, grandemente marcado,por exemplo, pelas iniciativas do (primeiro) governo EsperidiãoAmin no sentido de buscar transformar o Contestado em marcacapaz de caracterizar o estado de Santa Catarina, conferindo-lhe,dessa forma, uma suposta identidade.

De que modo as forças conservadoras catarinenses têm procuradorecuperar a memória do Contestado? Folclorizando-o, congelandoa luta cabocla como algo do passado, fruto de tempos idos, quenada tem a ver com os dilemas sociais do presente, cujos ven-cedores nada têm em comum com os dominantes de hoje. Taisforças buscam transformar a luta cabocla em coloridos e compor-tados espetáculos, digeríveis para grandes platéias. Nesta concep-

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ção, o ideal seria que se explorasse o Contestado inclusive do pontode vista turístico, com bem-vindos retornos financeiros aos empre-sários do setor. Durante a gestão Amin foi inaugurado o Museudo Contestado (Caçador), restaurado o Cemitério de Irani, erguidoum grande monumento ao “homem do Contestado” (Curitibanos),construído o galpão do Centro Folclórico do Contestado, editadasobras contando “causos” pitorescos ligados ao evento e realizadoscertames de gaita-ponto, desfiles, bailes, oratório com centenasde vozes, etc. Enquanto as forças hegemônicas procuravam disse-minar sua visão edulcorada do conflito — na perspectiva da conti-nuidade dos interesses dominantes, retirando dele sua alma, aqueladensidade que remete para a exigência de se perguntar pela histori-cidade do presente, com vistas à construção de uma sociedade maisjusta, o Movimento dos Sem-Terra, por exemplo, recupera, naluta política, as verdadeiras lições do Contestado. Os Sem-Terrade hoje, herdeiros da marginalização social dos caboclos de outro-ra, buscam no Contestado elementos fortalecedores de sua luta.*

A chamada grande imprensa catarinense, quando busca de-bruçar-se sobre o Contestado, acaba por engrossar as leituras maisconservadoras. Durante a segunda gestão Amin, a Rede Brasil Sul(RBS) apresentou o Contestado ao público catarinense no horárionobre, sob a forma de digeríveis pílulas diárias e com o valiosoconcurso de atores globais.

É interessante destacar que, tendo o Contestado como objetode estudos, o livro ora em apresentação representa, nesse parti-cular, o primeiro trabalho analítico de fôlego realizado por pesqui-sador pertencente ao Departamento de História da UniversidadeFederal de Santa Catarina, fato sem dúvida francamente alvissareirodiante da necessidade de podermos avançar nossa compreensão

* Marli Auras, Poder oligárquico catarinense: da guerra aos “fanáticos”do Contestado à “opção pelos pequenos”. Tese de doutorado em históriada educação, PUC–SP. São Paulo, 1991, pp. 329-30.

M a r l i A u r a s