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Monografia Linfomas Primários de Mediastino: Uma Revisão de Literatura Juliana de Assis Lino Salvador (Bahia) 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Faculdade de Medicina da Bahia Fundada em 18 de fevereiro de 1808

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Monografia

Linfomas Primários de Mediastino:

Uma Revisão de Literatura

Juliana de Assis Lino

Salvador (Bahia)

2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia Fundada em 18 de fevereiro de 1808

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II

Ficha catalográfica (elaborada pela Bibl. SÔNIA ABREU da Bibliotheca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde Brasileira/SIBI-

UFBA/FMB-UFBA)

Lino, Juliana de Assis

L758 Linfomas primários de mediastino: uma revisão de literatura / Juliana de Assis Lino.

Salvador: 2013.

75p. : il. [fig., tab.,graf.]

Orientadora: Profª. Drª. Iguaracyra Barreto de Oliveira Araújo.

Monografia (Conclusão de Curso) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina,

Salvador, 2013.

1. Neoplasias - mediastino. 2. Doença de Hodgkin. 3. Linfoma. 4. Patologia molecular. I.

Araújo, Iguaracyra Barreto de Oliveira. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de

Medicina da Bahia. III.Título.

CDU - 616.27-006

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III

Monografia

Linfomas Primários de Mediastino:

Uma Revisão de Literatura

Juliana de Assis Lino

Professora orientadora: Iguaracyra Araujo

Monografia de Conclusão do Componente

Curricular MED-B60, e como pré-requisito

obrigatório e parcial para conclusão do curso

médico da Faculdade de Medicina da Bahia da

Universidade Federal da Bahia, apresentada ao

Colegiado do Curso de Graduação em

Medicina.

Salvador (Bahia)

2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia Fundada em 18 de fevereiro de 1808

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V

“A persistência é o caminho do êxito.”

Charles Chaplin

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VI

Dedico este trabalho à minha cunhada Ana Paula Viegas, que

não está mais aqui, mas eu tenho certeza que está em um lugar

muito especial, olhando por nossa família e principalmente por

sua filha, minha linda sobrinha Katharina. Dedico também ao

meu amado tio Adauto Assis, que faz tanta falta. E dedico

principalmente à minha mãe, Sônia Assis, minha força para

superar todos os desafios e a pessoa mais especial da minha

vida.

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VII

AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), espaço de aprendizado inestimável, de

contribuição ímpar para minha vida acadêmica e profissional. À professora dra Lorene

Louise Silva Pinto, diretora da FMB, professor dr José Tavares Carneiro Neto,

Coordenador do Núcleo de Formação Científica da FMB-UFBA e aos demais professores

desta faculdade, que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

À professora dra Iguaracyra Barreto de Oliveira Araujo, estimada orientadora, que tanto

contribuiu com suas opiniões e conselhos para a elaboração desta obra.

Aos meus pais, irmãos e amigos, pelo apoio e carinho durante essa minha jornada. Em

especial, agradeço à minha querida amiga Sabrina Rodrigues de Figueiredo, pelo incentivo

e ajuda de todas as horas.

Agradeço por fim a Deus, que me guia, e me dá esperança de que tudo isto valerá a pena.

A todos, muito obrigada!

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ÍNDICE

LISTA DE QUADROS .................................................................................................................................... 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................................................. 9 LISTA DE TABELAS .....................................................................................................................................10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................................................11 I. RESUMO ....................................................................................................................................................13 II. OBJETIVOS ...............................................................................................................................................14

II.1. Principal ...............................................................................................................................................14 II.2. Secundários ..........................................................................................................................................14

III. INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................15 IV. METODOLOGIA .....................................................................................................................................17

IV. 1. Desenho do estudo .............................................................................................................................17 IV. 2. Objeto do estudo ................................................................................................................................17 IV. 3. Recuperação de artigos.......................................................................................................................17 IV.4. Critérios de inclusão ...........................................................................................................................17 IV.5. Critérios de exclusão ...........................................................................................................................18 IV.6. Identificação dos artigos......................................................................................................................18 IV.7. Classificação dos artigos .....................................................................................................................19

V. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................................................21 V.1. Introdução ............................................................................................................................................21 V.2. LINFOMA/LEUCEMIA DE CÉLULAS T LINFOBLÁSTICO/A.........................................................27

V.2.1. Definição.......................................................................................................................................27 V.2.2. Aspectos epidemiológicos ..............................................................................................................27 V.2.3. Aspectos clínicos ...........................................................................................................................28 V.2.4. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos ....................................................................................30 V.2.5. Aspectos moleculares ....................................................................................................................30 V.2.6. Aspectos prognósticos ...................................................................................................................31

V.3. LINFOMA DE GRANDES CÉLULAS B PRIMÁRIO DO MEDIASTINO (LBPM) ............................33 V.3.1. Definição.......................................................................................................................................33 V.3.2. Aspectos epidemiológicos ..............................................................................................................34 V.3.3. Aspectos clínicos ...........................................................................................................................34 V.3.4. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos ....................................................................................36 V.3.5. Aspectos moleculares ....................................................................................................................41 V.3.6. Aspectos prognósticos ...................................................................................................................42

V.4. LINFOMA DE HODGKIN ..................................................................................................................45 V.4.1. Definição.......................................................................................................................................45

V.5. LINFOMA DE HODGKIN COM APRESENTAÇÃO MEDIASTINAL ...............................................45 V.5.1. Aspectos epidemiológicos ..............................................................................................................45 V.5.2. Aspectos clínicos ...........................................................................................................................46 V.5.3. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos do LH mediastinal .......................................................48 V.5.4. Aspectos moleculares ....................................................................................................................50 V.5.5. Aspectos prognósticos ...................................................................................................................51

V.6. LINFOMA MEDIASTINAL DA ZONA CINZA ..................................................................................54 V.6.1. Definição.......................................................................................................................................54 V.6.2. Aspectos epidemiológicos ..............................................................................................................55 V.6.3. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos ....................................................................................56 V.6.4. Aspectos prognósticos ...................................................................................................................61

VI. RESULTADOS .........................................................................................................................................62 VII. DISCUSSÃO ...........................................................................................................................................66 VIII. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................68 IX.SUMMARY ...............................................................................................................................................70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................................71

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Subdivisões do mediastino e sua localização anatômica..........................................21

Figura 2. Subdivisões do mediastino e os principais tumores em cada compartimento..........23

Figura 3. Morfologia de LBPM..............................................................................................36

Figura 4. Morfologia de LBPM..............................................................................................36

Figura 5. Coloração para CD79 a em LBPM...........................................................................37

Figura 6. Coloração para CD30 em LBPM.............................................................................37

Figura 7. Expressão de BCL6 em LBPM................................................................................38

Figura 8. Expressão de MUM/IRF4 em LBPM.......................................................................38

Figura 9. Expressão de MAL em LBPM.................................................................................40

Figura 10. Expressão de Oct-2 em LBPM...............................................................................40

Figura 11. Expressão de BOB.1 em LBPM.............................................................................40

Figura 12. Expressão de PU.1 em LBPM................................................................................40

Figura 13. Morfologia de um caso de LMZC..........................................................................59

Figura 14. Caso de LMZC positivo para EBV........................................................................59

Figura 15. LMZC com morfologia de LBPM.........................................................................60

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Cistos e tumores primários do mediastino..............................................................22

Gráfico 2. Tumores malignos primários de mediastino...........................................................24

Gráfico 3. Tumores malignos primários de mediastino em pacientes pediátricos...................25

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LISTA DE QUADROS

Quadro I. Argumentos de busca..............................................................................................19

Quadro II. Resultado de busca pelo método booleano............................................................20

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sistema de Estagiamento St Jude (Murphy,1980) para LNH na infância .............. 29

Tabela 2. Sistema de Classificação e Estagiamento de Ann Arbor ....................................... 29

Tabela 3. Linfomas T linfoblásticos: Aspectos clínico-epidemiológicos .............................. 31

Tabela 4. Aspectos prognósticos de LLT ............................................................................. 33

Tabela 5. Aspectos clínico-epidemiológicos de LBPM ........................................................ 35

Tabela 6. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos de LBPM ......................................... 41

Tabela 7. Fatores de risco determinados pelo IPI ................................................................. 44

Tabela 8. Aspectos prognósticos de LBPM ......................................................................... 44

Tabela 9. Sistema de Classificação e Estadiamento de Ann Arbor com modificações de

Cotswolds para Linfoma de Hodgkin ................................................................................... 47

Tabela 10. Linfomas de Hodgkin mediastinais: Aspectos clínico-epidemiológicos .............. 48

Tabela 11. Linfomas de Hodgkin mediastinais: Subtipos histológicos ................................. 50

Tabela 12. Aspectos prognósticos de LH ............................................................................. 53

Tabela 13. Aspectos clínico-epidemiológicos de LMZC ...................................................... 55

Tabela 14. Aspectos morfológicos e imunoistoquímicos de LMZC ..................................... 58

Tabela 15. Comparação das manifestações clínico-epidemiológicas dos linfomas primários

mediastinais ......................................................................................................................... 63

Tabela 16. Aspectos morfológicos, imunofenotípicos e moleculares dos Linfomas primários

do mediastino ....................................................................................................................... 64

Tabela 17. Comparação dos aspectos clínico– prognósticos dos linfomas primários

mediastinais ......................................................................................................................... 65

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CBA: Célula B ativada

CGB: Célula B de centro germinativo

CM: Celularidade Mista

DH: Doença de Hodgkin

DL: Depleção Linfocitária

EBV: do inglês, Epstein-Baar Virus

ECOG: do inglês, Eastern Cooperative Oncology Group

ENLH: Esclerose Nodular do Linfoma de Hodgkin

HIV: do inglês, Human Immunodeficiency Virus

HRS: Hodgkin Reed-Sternberg

Ig: Imunoglobulina

IPI: do inglês, International Prognostic Index

LB: Linfoma de Burkitt

LBPM: Linfoma de Grandes Células B Primário do Mediastino

LDGCB: Linfoma Difuso de Grandes Células B

LDH: Lactato desidrogenase

LH: Linfoma de Hodgkin

LHC: Linfoma de Hodgkin Clássico

LL: Linfoma linfoblástico

LLA-T: Leucemia Linfoblástica Aguda de células T

LLB: Linfoma Linfoblástico de células B

LLT: Linfoma Linfoblástico de células T

LMZC: Linfoma Mediastinal da Zona Cinza

LNH: Linfoma Não-Hodgkin

NCI: do inglês, National Cancer Institute

OMS :Organização Mundial de Saúde

PL: Predominância Linfocitária

PNET: do inglês, Primitive neuroectodermal tumor

p SLE: probabilidade de Sobrevida Livre de Eventos

Pubmed: do inglês, Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

REAL: do inglês, Revised European-American Lymphoma

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RM: Ressonância Magnética

RMM: Razão de Massa Mediastinal

RS: Reed-Sternberg

Scielo: do ingles, Scientific Electronic Library Online

SG: Sobrevida Global

SLE: Sobrevivência Livre de Eventos

SNC: Sistema Nervoso Central

TAC: Tomografia Axial Computadorizada

TM: Tumor Mediastinal

WHO: do inglês, World Health Organization

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I. RESUMO

LINFOMAS PRIMÁRIOS DE MEDIASTINO: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Linfomas não Hodgkin são neoplasias malignas clonais com origem em linfócitos B ou T/NK,

localizados em linfonodos ou em qualquer sítio extranodal. Os linfomas primários de

mediastino (LPM) são geralmente diagnosticados tardiamente, devido à sua localização, e

respondem pobremente à terapia, quando comparados aos mesmos subtipos histológico em

outros sítios, à exceção do cérebro. Os subtipos caracterizados e reconhecidos pela

Organização Mundial de Saúde até 2008 incluíam os Linfoma de Hodgkin (LH); Linfoma

Linfoblástico de células T (LLT) e Linfoma de grandes células B Primário de Mediastino

(tímico ou LBPM). Recentemente, a OMS reconheceu uma entidade provisória, com

características intermediárias entre Linfoma Difuso de Grandes Células B e Linfoma de

Hodgkin Clássico, chamado de Linfoma de células B, não classificável, (Linfoma Mediastinal

da Zona Cinza). Esta entidade ainda é pouco conhecida e os critérios morfológicos e imuno-

histoquímicos usados para o diagnóstico é passível de confusão diagnóstica com as duas

entidades já conhecidas (LH e LBPM). Considerando as peculiaridades dos linfomas

mediastinais, do pouco conhecimento na nossa região da existência desta nova entidade,

resolvemos revisar a literatura acerca dos aspectos clínicos, morfológicos e imunofenotípicos

dos linfomas mediastinais Para isso, foram selecionados artigos utilizando os unitermos

“lymphoma” e “mediastinal” nas bases de dados pubmed e scielo, com critérios de inclusão e

exclusão específicos.

Palavras-chave: Neoplasias - mediastino. 2. Doença de Hodgkin. 3. Linfoma. 4. Patologia

molecular.

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II. OBJETIVOS

II.1. Principal

Estudar os aspectos epidemiológicos, clínicos, morfológicos, imunofenotípicos,

moleculares e prognósticos dos linfomas primários do mediastino (LPM).

II.2. Secundários

1) Estudar os aspectos clínicos, epidemiológicos, histopatológicos, imuno-

histoquímicos e moleculares dos linfomas linfoblásticos de células T

2) Estudar os aspectos clínicos, epidemiológicos, histopatológicos, imuno-

histoquímicos e moleculares dos linfomas de grandes células B primários do

mediastino

3) Estudar os aspectos clínicos, epidemiológicos, histopatológicos, imuno-

histoquímicos e moleculares dos linfomas de Hodgkin mediastinal

4) Estudar os aspectos clínicos, epidemiológicos, histopatológicos, imuno-

histoquímicos e moleculares dos linfomas da zona cinza, com características

intermediárias entre os linfomas de céluals B e linfoma de Hodgkin, entidade

provisória

5) Comparar os aspectos histopatológicos, imunofenotípicos e moleculares dos

linfomas de Hodgkin, linfoma B de grandes células do mediastino e linfoma da

“zona cinzenta” .

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III. INTRODUÇÃO

Diversos estudos têm relatado que os linfomas são os principais tumores malignos

encontrados no mediastino (Temes et al, 1999). Em mediastino, os principais subtipos de

linfoma são: Linfoma Linfoblástico de células T (LLT); Linfoma de grandes células B

Primário de Mediastino (tímico ou LBPM); Linfoma de Hodgkin (LH) e Linfoma de células

B, não classificável, com características intermediárias entre linfoma difuso de grandes

células B e linfoma de Hodgkin clássico (Linfoma Mediastinal da Zona Cinza).

O LLT é uma doença extremamente agressiva, que se apresenta geralmente como uma

massa mediastinal anterior, sendo frequente a ocorrência de efusões pleurais. (Santini et

al.,2008). Além disso, ele pode progredir para uma fase leucêmica, que não pode ser

diferenciada no exame citológico da leucemia linfoblástica aguda (LLA) (Weinstein et

al,1979). Um desafio hoje para este tipo de linfoma é determinar quais os índices prognósticos

que podem ser considerados durante a terapêutica da doença. Uma possível alternativa eficaz

no tratamento pode ser o transplante autólogo de células progenitoras hematopoéticas, o que

vem sendo investigado. (Santini et al.,2008)

Já o LBPM foi reconhecido pela primeira vez na década de 1980, pela classificação

européia e americana dos neoplasmas linfóides, como uma entidade distinta do Linfoma

Difuso de Grande Células B (LDGCB), e mais recentemente também pela classificação da

OMS de 2008 (Johnson e Davies, 2008). Porém, apesar das características clínico-patológicas

deste tipo de linfoma serem bem diferentes de outros subtipos, ainda verifica-se certa

dificuldade em diferenciar LBPM e LDGCB com acometimento mediastinal secundário

(Savage, 2006).

Em relação à doença de Hodgkin_ especialmente o subtipo esclerose nodular_ ela

frequentemente tem um envolvimento mediastinal, com linfadenopatia neste local em cerca

de 60% dos casos. Quando essa adenopatia é volumosa, pode haver comprometimento grave

das vias aéreas superiores, que chega a atingir 2,4% dos casos (Vander et al,2000), o que

aponta para a necessidade de diagnóstico e tratamento precoces da doença, evitando a

ocorrência de possíveis complicações.

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16

Segundo Quintanilla- Martinez e Fend (2011), há uma certa dificuldade na

classificação dos linfomas, visto que por vezes há sobreposição entre características clínicas,

morfológicas e biológicas entre os vários tipos existentes, motivo pelo qual a classificação da

OMS (2008), incluiu duas categorias provisórias de linfomas de células B, não classificáveis:

o primeiro, com características intermediárias entre LDGCB e linfoma de Burkitt(LB) e o

segundo com características intermediárias entre LDGCB e Linfoma de Hodgkin clássico.

Esta segunda categoria acomete geralmente o mediastino, e foi denominada Linfoma

Mediastinal da Zona Cinza (LMZC). Estabelecer o diagnóstico correto tem sérias

implicações, visto que estudos têm demonstrado que LMZC possui um curso clínico

agressivo, além do que a terapêutica para Linfomas de Hodgkin e Não-Hodgkin é distinta

(Hasserjian et al,2009).

Sendo assim, este trabalho visa definir os principais subtipos histológicos de linfomas

primários de mediastino e o que os caracteriza, e se justifica pela necessidade de um

diagnóstico preciso e o início de conduta adequada para o paciente.

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17

IV. METODOLOGIA

IV. 1. Desenho do estudo

Análise secundária de dados obtidos em estudos primários acerca dos linfomas

mediastinais incluindo aspectos clínicos, histopatológicos e imunofenotípicos.

IV. 2. Objeto do estudo

1. Levantamento bibliográfico dos estudos nas bases de dados

MEDLINE™(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) e Scielo

(http://www.scielo.org/php/index.php).

2. Busca ativa nas referências bibliográficas de artigos incluídos na revisão geral do

tema, não sistemática, necessários ao entendimento amplo dos linfomas

mediastinais.

IV. 3. Recuperação de artigos

Os artigos selecionados foram adquiridos mediante o livre acesso no banco de dados

ou através do acesso ao portal CAPES (http://www.periodicos.capes.gov.br/).

IV.4. Critérios de inclusão

A) Idioma: inglês, português ou espanhol;

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B) Artigo que tenha incluído os critérios anátomo-patológicos e imuno-histoquímicos

para diagnóstico dos linfomas ou referido ter usado os critérios da Organização

Mundial de Saúde (2001 ou 2008);

C) Artigos que abordassem subtipos específicos de linfomas ou todos os subtipos e que

incluíssem aspectos patológicos e imunofenotípicos;

D) Estudos em humanos.

IV.5. Critérios de exclusão

A) Idioma não previsto nos critérios de inclusão;

B) Estudos de acesso restrito não disponibilizados pelas bases de dados, mesmo quando

solicitados via VPN/UFBA (Virtual Private Network – ferramenta de acesso a

periódicos e bases de dados do portal de periódico CAPES);

C) Artigos que tinham como objetivo exclusivo comparar modalidades de tratamento,

mecanismo de doença ou dados clínico-epidemiológicos sem mencionar subtipos

histopatológicos;

D) Estudos em cultura de células;

E) Estudos cujo o objeto tenha sido relatos de casos;

F) Estudos em animais.

IV.6. Identificação dos artigos

Foi adotada a busca por argumentação Booleana (x) de unitermos nos títulos e

resumos dos artigos nas referidas base de dados.

Foi utilizado um argumento de busca, com dois unitermos utilizando-se os seguintes

filtros quando disponível no próprio banco de dados: tipo de artigo (“Classical Article;

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19

Multicenter Study; Comparative Study; Meta-Analysis; Validation Studies”), disponibilidade

do resumo (“Abstract available”); espécie humana (Humans) e língua da publicação

(“English; Portuguese; Spanish”). A tabela abaixo sintetiza os passos da busca.

Além dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados os artigos que

responderam a seguinte pergunta: Quais são os principais subtipos histológicos de linfomas

primários de mediastino e o que os caracteriza?

Quadro I. Argumentos de busca

Unitermos mesclados SCIELO PUBMED

#1: lymphomas

OR Lymphoma

2#: mediastinal

or mediastinum

31 97*

Após leitura dos resumos e

exclusão de artigos

exclusivamente terapêuticos,

clínicos ou técnica cirúrgica,

claramente colocados no resumo.

2 17

Total de artigos selecionados para a busca completa: 18

Total de artigos obtidos: 32

IV.7. Classificação dos artigos

Considerando o pequeno número de artigos, todos os 32 obtidos foram selecionados

para a comparação sistemática dos aspectos clínicos, histopatológicos e imunofenotípicos.

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20

Quadro II. Resultado de busca pelo método booleano

Search Add to

builder Query

Items

found

#32 Add Search ("mediastinal") OR "mediastinum" Filters: Classical Article; Clinical

Trial, Phase IV; Multicenter Study; Comparative Study; Controlled Clinical

Trial; Meta-Analysis; Randomized Controlled Trial; Validation Studies;

Abstract available; Humans; English; Portuguese; Spanish

992

#18 Add Search ("lymphomas") OR "lymphoma" Filters: Classical Article; Clinical Trial;

Clinical Trial, Phase IV; Comparative Study; Controlled Clinical Trial; Meta-

Analysis; Multicenter Study; Randomized Controlled Trial; Validation Studies;

Abstract available; Humans; English; Portuguese; Spanish

6293

# 32 and # 18 : 97 artigos

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21

V. REVISÃO DE LITERATURA

V.1. Introdução

O mediastino é a região entre as duas cavidades pleurais, além de ser delimitado pelo

diafragma inferiormente e superiormente pela abertura da cavidade torácica. Pode ser

subdividido de diversas formas e aqui, será subdividido em porções anterior, média e

posterior. A porção anterior também é designada por alguns autores como ântero-superior (1).

(Figura 1)

Figura 1: Subdivisões do mediastino e sua localização anatômica

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22

O mediastino anterior é o compartimento posterior ao esterno e anterior ao coração e

aos vasos braquiocefálicos, onde estão presentes linfonodos, gordura e o timo (1).

O mediastino médio contém coração, pericárdio, traquéia, brônquios, gânglios

linfáticos, artérias e veias pulmonares, vasos braquiocefálicos e aorta (porção ascendente e

transversa) (1).

O mediastino posterior estende-se posteriormente a partir da margem das vértebras

torácicas até o coração e a traquéia, os quais o delimitam anteriormente. Este compartimento

mediastinal contém o ducto torácico, linfonodos, gordura, gânglios e nervos autonômicos,

esôfago, veias ázigos e aorta torácica descendente (1).

A localização mais habitual das massas mediastinais é no mediastino anterior, seguido

do posterior e por último, o médio (1).

A maioria dos pacientes_ 68%_ são sintomáticos no momento do diagnóstico (2).

Dentre os sintomas apresentados em geral pelos pacientes com tumores mediastinais os mais

comuns foram: dor torácica (20%), febre (13%), miastenia gravis (11%), tosse (10%),

dispnéia (10%) e síndrome da veia cava superior (7%).

Os tumores primários mediastinais correspondem a neoplasias tímicas em sua maioria

(31%), seguidas pelos linfomas (22%), tumores neurogênicos (16% ) , tumores de células

germinativas (9%) e os cistos (9%) (2). (Gráfico 1)

Gráfico 1. Cistos e tumores primários do mediastino

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23

As condições tumorais presentes no timo incluem: timomas (benignos e malignos ),

timolipoma, hiperplasia tímica, cisto tímico, carcinoma tímico e carcinoma neuroendócrino do

timo. Dentre os tumores neurogênicos benignos estão o neurilemoma (schwanoma), o

ganglioneuroma e o neurofibroma, enquanto que os malignos incluem o neuroblastoma, o

ganglioneuroblastoma e o PNET. Já os principais tumores germinativos são: os teratomas, os

seminomas e os não-seminomas. Outros tumores localizados em mediastino são: adenoma de

tireóide, adenoma de paratireóide, lipoma, lipossarcoma, fibroma, fibrossarcoma, sarcoma

sinovial, hemangioma e linfangioma (2).

Os tumores do mediastino anterior correspondem a mais da metade de todos os

tumores do mediastino e englobam os tumores de origem tímica, tumores de células

germinativas, linfomas, tumores mesenquimatosos e cistos, além de linfangioma e bócio

intratorácico. Dentre estes, as neoplasias mais frequentes em mediastino anterior são os

timomas, linfomas e teratomas (2,3).

Já no mediastino médio e posterior os principais tumores são os linfomas, os cistos

mediastinais e as neoplasias neurogênicas (principalmente os schwannomas e neurofibromas)

(4). (Figura 2)

Figura 2. Subdivisões do mediastino e os principais tumores em cada compartimento

Fonte: Baue AE, et al. Glenn's Thoracic and Cardiovascular Surgery. 5th ed. Appleton & Lange, Norwalk, CT,

1991 in Uptodate (http://www.uptodate.com).

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24

Segundo BASTOS et al, 2007, o mediastino ântero-superior foi envolvido em 58% dos

casos de cisto ou tumor primário, enquanto que o envolvimento do mediastino posterior e do

médio foi de 24% e 18% respectivamente (2).

Entre os tumores malignos em mediastino, os linfomas predominam (55%), seguidos

pelos tumores de células germinativas malignos (16%), timomas malignos (14%), sarcomas

(5%), tumores neurogênicos malignos (3%), entre outros tumores (7%) (5). (Gráfico 2)

55%

16%

14%

5%3% 7%

Tumores malignos primários de mediastino

Linfomas Tumores de células germinativas

Timomas Sarcomas

Tumores neurogênicos Outros

Gráfico 2. Tumores malignos primários de mediastino

Em TEMES e col,1999, os tumores malignos em mediastino foram mais frequentes

em homens (63%) na quarta década. Dentre os 121 casos de linfomas, 35% (42) foram de

Linfoma de Hodgkin (LH) e 65% (79) de Linfoma Não- Hodgkin (LNH). Entre os linfomas,

doença localizada (confinada ao órgão de origem) foi encontrada em 50% dos pacientes,

doença regional (envolve tecidos circunjacentes e linfonodos regionais) abrangeu 18% dos

casos, disseminação à distância ocorreu em 29% dos casos e nos demais casos _3%_ o

estagiamento era desconhecido (5).

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25

Da mesma forma, em pacientes pediátricos, os tumores malignos mediastinais são mais

comuns em homens, com a média de idade de 11 anos. Em Temes e col 2000, a proporção

entre os tumores em crianças foi: 55% de linfomas, 23% de tumores neurogênicos, 18% de

tumores de células germinativas e 5% de sarcomas. Os tumores neurogênicos estavam

presentes sobretudo em crianças, e os linfomas e tumores de células germinativas em

adolescentes. A sobrevivência em 5 anos foi de 74% para os linfomas, superior em relação

aos tumores de células germinativas_25%_e aos tumores neurogênicos_67%. Essas crianças

foram comparadas a 197 adultos com malignidades mediastinais e verificou-se que possuíam

maior proporção de tumores neurogênicos e menor número de casos de timomas em relação

aos adultos (6). (Gráfico 3)

Gráfico 3. Tumores malignos primários de mediastino em pacientes pediátricos

Apesar de em geral o paciente ser diagnosticado na fase já sintomática, os recentes

avanços na área diagnóstica são visíveis. Deve-se ressaltar pois, entre outros, a evolução de

técnicas radiológicas a exemplo da TAC (Tomografia Axial Computadorizada) e da RM

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26

(Ressonância Magnética) (2). Nesse sentido, a TAC por exemplo, além de auxiliar o

diagnóstico, contribui para o estagiamento da doença, de forma a buscar uma definição da

melhor estratégia terapêutica, além de permitir também a avaliação pós-tratamento. Quando

da avaliação do mediastino, tal técnica permite analisar a relação da massa tumoral com

estruturas adjacentes, verificar a existência de infiltração ou derrames, além de avaliar

comprometimento de outras regiões/órgãos, como por exemplo presença/ ausência de

esplenomegalia, muito mais associada a LNH do que LH, permitindo presunção diagnóstica

(7).

Além disso, verifica-se hoje um aumento da sobrevida relacionado com o diagnóstico

mais precoce e tratamentos radioterápico e quimioterápico mais eficazes. No caso de tumores

linfáticos em mediastino, eles devem ser biopsiados para que se determine o subtipo

histológico e subsequentemente se inicie a terapêutica adequada. Um inconveniente é que a

biópsia por agulha em geral é insuficiente, motivo pelo qual se recorre à abordagem cirúrgica

para obter amostra representativa (2).

Quanto à terapêutica dos linfomas, modalidades combinadas são bastante utilizadas.

Em geral, recorre-se em grande porcentagem dos pacientes à quimioterapia, seguida de

radioterapia e em menor porcentagem dos pacientes é feita a abordagem cirúrgica (5). Com

relação à sobrevivência por 5 anos, para os linfomas mediastinais, ela é de 54%, sendo muito

maior para os LH (77%) do que para os LNH (43%) (5).

Podemos definir, portanto, os linfomas primários de mediastino como neoplasias

malignas, clonais, de linfócitos T ou B, que compreendem vários subtipos histopatológicos,

tendo como apresentação clínica comum um tumor mediastinal. Esses subtipos incluem:

Linfoma de Hodgkin (LH); Linfoma Linfoblástico de células T (LLT); Linfoma de grandes

células B Primário de Mediastino (tímico ou LBPM) e Linfoma de células B, não

classificável, com características intermediárias entre linfoma difuso de grandes células B e

linfoma de Hodgkin clássico (Linfoma Mediastinal da Zona Cinza). Este trabalho busca, pois,

definir tais entidades e mostrar novas perspectivas relacionadas aos diagnóstico, através de

uma revisão de literatura que abrange aspectos epidemiológicos, morfológicos, imuno-

histoquímicos, moleculares e prognósticos desses tipos de linfomas.

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27

V.2. LINFOMA/LEUCEMIA DE CÉLULAS T LINFOBLÁSTICO/A

V.2.1. Definição

Os linfomas linfoblásticos são neoplasias que apresentam marcadores de células T em

mais de 90% dos casos e frequentemente apresentam-se como uma massa na região

mediastinal (8).

O perfil imunofenotípico do Linfoma Linfoblástico de células T (LLT) indica a sua

origem a partir de células T imaturas, intra-tímicas (9). Por convenção, o termo Linfoma

Linfoblástico de células T (LLT) é usado quando a doença ou tumor não apresenta

envolvimento do sangue periférico e medula óssea, ou há um envolvimento mínimo (10). O

encontro de 20% destas células T imaturas no sangue periférico é considerado leucemia (11).

V.2.2. Aspectos epidemiológicos

Os LLT são raros na população em geral, correspondendo a cerca de 2-4% de todos os

LNH em adultos (12). A frequência do LLT parece maior nas séries asiáticas do que nas

séries ocidentais. Na Tailândia, CHEN et al, estudando 363 casos de Linfoma não Hodgkin

observaram uma frequência de 7,4 % (27 casos) de LLT. Estes linfomas ocorrem

predominantemente em crianças e adolescentes (8). Entretanto, a faixa etária varia a depender

da idade da população envolvida. Enquanto BURKHARDT et al, estudando 335 pacientes

com LLT pediátricos observaram predomínio em crianças do sexo masculino, com idade

média de 8,8 anos, JABBOUR et al, estudando pacientes entre 15 a 57 anos observaram idade

média de 31 anos (12,13). Tanto em adultos quanto em crianças, estes linfomas predominam

em pacientes do sexo masculino, com a relação homem/mulher variando de 2,5 a 2,8/1.

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28

V.2.3. Aspectos clínicos

Os LLT apresentam frequente envolvimento mediastinal, que varia de 70% a 100%

(12,14), representado na maioria das vezes por massas maiores que 10cm ao diagnóstico.

Ainda relacionado ao envolvimento torácico, os pacientes podem apresentar derrame pleural

(12). Segundo HOELZER et al, 40% (18 pacientes) dos 45 pacientes adultos com LLT

apresentaram derrame pleural e/ou pericárdico (15).

LLT pode afetar sítios nodais e extra-nodais, como pele, fígado, baço, SNC, amígdalas

e rins (12,15). O envolvimento de medula óssea e/ou sistema nervoso central (SNC) não é

incomum ao diagnóstico (12,13). O envolvimento de medula óssea varia de 18% a 30% dos

casos (13,15). Entretanto, este envolvimento é mais frequente em casos de adultos do que em

crianças. Segundo HOELZER et al, 2002, cerca de 30% dos LLT em adultos apresentam

acometimento medular, enquanto apenas 15% do grupo pediátrico apresenta este achado.

O envolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) segundo BURKHARDT et al é

mais frequente em faixas etárias mais elevadas, sendo menor de 4% até os 14 anos de idade e

cerca de 9% nos pacientes acima de 15 anos (13). Em adultos, este envolvimento ocorre em

cerca de 15% dos casos (12).

Independente de se utilizar distintos sistemas para estadiamento da doença nos grupos

pediátrico e adulto, tanto em crianças quanto em adultos, a doença geralmente apresenta-se

disseminada ao diagnóstico. Enquanto em pacientes pediátricos tem sido usado o sistema de

St. Jude/Murphy, 1980 (Tabela 1), em adultos o sistema Ann Arbor é o usado (Tabela 2).

Pelo sistema Ann Arbor, 89% dos adultos apresentam estagio III/IV (12) e pelo sistema de

Murphy 97% dos pacientes pediátricos apresentam estágio III/IV de Murphy (13).

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29

Tabela 1. Sistema de Estagiamento St Jude (Murphy,1980) para LNH na infância

Estágio I

Um único tumor (extranodal) ou uma única área anatômica (nodal), excluindo-se mediastino ou abdômen.

Estágio II

Um único tumor (extranodal) com envolvimento nodal regional; Duas ou mais áreas nodais do mesmo lado do diafragma; Dois únicos tumores (extranodais) com ou sem envolvimento nodal regional no mesmo lado do diafragma; Um tumor primário do trato gastrointestinal, geralmente na área ileocecal, com ou sem

envolvimento de linfonodos mesentéricos associados.

Estágio III

Dois únicos tumores (extranodais) em lados opostos do diafragma; Duas ou mais áreas nodais acima e abaixo do diafragma. Todos os tumores primários intratorácicos (mediastinais, pleurais, tímicos);

Toda doença abdominal primária extensa; Todo tumor para-espinhal ou epidural, independentemente de outros sítios tumorais.

Estágio IV

Qualquer um dos acima, com envolvimento inicial de SNC e/ou medula óssea.

Fonte: Hoppe, Richard T.The non-Hodgkin’s Lymphomas: Patology, staging, treatment.Current Problems in Cancer,1987;11:364-434.

Tabela 2. Sistema de Classificação e Estagiamento de Ann Arbor

Estágio I

Envolvimento de uma única cadeia linfonodal (I) ou um único órgão ou sítio extra-linfático

Estágio II

Envolvimento de duas ou mais cadeias linfonodais do mesmo lado do diafragma (II) ou

envolvimento localizado de um sítio ou órgão extra-linfático e de uma ou mais cadeias linfonodais do mesmo lado do diafragma (IIE)

Estágio III

Envolvimento de cadeias linfonodais de ambos os lados do diafragma (III), que pode ser acompanhado de envolvimento do baço (IIIS) ou por envolvimento localizado de um sítio ou órgão extra-linfático (IIIE) ou ambos (IIISE)

Estágio IV

Envolvimento disseminado de um ou mais tecidos ou órgãos extra-linfáticos, com ou sem envolvimento linfonodal associado

*A ausência ou presença de sintomas sistêmicos clássicos nos 6 meses precedentes à admissão é denotada pelas letras A e B, respectivamente. Esses sintomas são: febre, sudorese noturna e perda de peso de 10% ou mais do peso corporal. Biópsia documentada de envolvimento de sítios do estágio IV é também denotada por sufixos: marrow (medula, em inglês) = M + ,

lung (pulmão)=L, liver (fígado)= H+, pleura (pleura)= P, bone (osso)= O+, skin/subcutaneous tissue (pele/tecido subcutâneo)= D+ Fonte: Murphy SB, Hustu HO.A Randomized Trial of Combined Modality Therapy of Childhood Non-Hodgkin’s Lymphoma.Cancer, 1980;45:630-7.

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30

Apesar de diagnosticado geralmente em estágios avançados, segundo CHEN et al,

2001, pacientes com LLT apresentaram desempenho clínico favorável, medido pela escala

ECOG (Eastern Cooperative Oncology Group), sendo que em cerca de 87% dos pacientes o

ECOG foi ≤ 2 (16).

Os aspectos clínico-epidemiológicos encontram-se resumidos na Tabela 3.

V.2.4. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos

O LLT é morfologicamente e imunofenotipicamente semelhante à Leucemia

Linfoblástica Aguda de células T (LLA-T) (17). As células neoplásicas linfoides são de

tamanho médio, com núcleos basofílicos, proporcionalmente grandes, de cromatina dispersa e

citoplasma escasso. Quando acomete linfonodo, a cápsula linfonodal é geralmente infiltrada e

a arquitetura encontra-se completamente desorganizada (17). Adicionalmente podem ser

observadas numerosas figuras de mitose (8).

Segundo THOMAS et al, 2004, dos 32 pacientes com LL para os quais foi feita

análise imunofenotípica, 26 (79%) apresentavam imunofenótipo T (14). Caracteristicamente,

o LLT apresenta fenótipo de célula T ( CD2 +, CD5+ e CD7+) (8), imatura (Tdt + e cCD3+),

sendo a expressão de CD1a, CD2, CD4, CD5 e CD7 variável. CD 10 pode ser positivo e a co-

expressão de CD4 e CD8 é frequente (18).

V.2.5. Aspectos moleculares

Em cerca de 1/3 dos casos, observam-se translocações dos loci alfa e delta de 14q11.2.

Na maioria dos casos, as translocações resultam em desregulação do padrão de transcrição

gênico (19).

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31

Tabela 3. Linfomas T linfoblásticos: Aspectos clínico-epidemiológicos

Autor N Idade M:F Estágio Aspectos clínicos

I/II III/

IV

JABBOUR et al,

2006

27 LLT

( TM=25)

31

(15-

57)

20:7 11%

89%

Derrame pleural=44%;

SNC**=15%;

MO**=44%)

BURKHARDT

et al, 2005

335 LLT 8,8

(0,4-

18,5)

2,5:1 3%

97% SNC: < 4% (<14 anos de idade); 9% (>

15 anos) e 15% (adultos).

ELLISON et al,

2005

6 LLT

(mediastinal ou

cervical)

2-20 4:2 17%

83%

-

THOMAS et al

2004

33* LL (26 ou

79% com LLT)

28

(17-

59)

27:6 30%

70%

Derrame pleural: 30%; pericárdico:

9%; sintomas B: 30%;SNC: 9%; MO:

15%; síndrome de VCS : 6%.

GOUILL et al,

2003

92 LL (83% ou

77 com LLT)

31

(18-

61)

61:31 35% 65% Derrame pleural=49%; sintomas B=

35%; SNC= 26%;MO= 22%; TV (>10

cm)= 60%.

HOELZER et al,

2002

45 LLT (91% TM)

15-61 33:12 27% 73% Derrame pleural e/ou pericárdico (40% dos adultos); MO= 30% dos adultos.

CHEN et al, 2001 27 LL

(20 LLT)

23

(17-

73)

25:2 18% 82% Derrame pleural= 50%; derrame

pericárdico=30%; sintomas B=44%;

SNC =4%; MO=48%; síndrome de

VCS =15%.

COSSMAN et al,

1983

11 (8 LLT) 4-56 7:4 - - Derrame pleural e/ou pericárdico (40% dos adultos); MO= 30% dos adultos.

MO= medula óssea/ TV= tumor volumoso/VCS= veia cava superior/TM=tumor mediastinal *Dos 33 pacientes, 23(70%) com doença mediastinal, não especificando se eram LLT ou LLB.

**As porcentagens representam o envolvimento de SNC e medula óssea à época do diagnóstico

V.2.6. Aspectos prognósticos

A pSLE (probabilidade de Sobrevida Livre de Eventos), em um estudo com 335 casos

de LLT para homens foi de 87± 2% e para mulheres, foi de 77 ± 4%, o que representa uma

diferença estatisticamente significante (p= 0,029). O desfecho clínico foi pior para

adolescentes do sexo feminino do que para as meninas mais jovens, de 5 (cinco) a 9 (nove)

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32

anos. Por outro lado, em relação ao sexo masculino, não houve diferença significante na pSLE

entre as faixas etárias. Através de análise multivariada do impacto prognóstico de idade e

gênero, verificou-se que estes dois fatores (idade e gênero) não são fatores de impacto no

prognóstico, porém idade superior a 9 anos e sexo feminino representam uma razão de risco

aumentado (13).

Em THOMAS et al, 2004, verificou-se que os pacientes com LL com massa

mediastinal tinham uma pSLE (estimativa em 3 anos) de 59%, enquanto que aqueles sem

doença mediastinal apresentavam pSLE de 83% (14). A pSLE média dos pacientes com LLT

foi de 62%, enquanto que entre os casos de LLB foi de 100%, o que indica melhor

prognóstico para os LLB quando comparado a LLT.

Já no estudo de GOUILL et al, 2003, o único fator que significativamente influenciou

a Sobrevida Global (SG) foi a idade de diagnóstico, tendo a SG sido menor para os pacientes

acima dos 40 anos (18). Segundo HOELZER et al, 2002, que abordaram a terapêutica de 45

casos de LLT em adultos, a recaída ocorreu em 15 casos (36%) no período de 12 meses (15).

Tais recaídas fizeram-se presentes sobretudo no mediastino (em 7 casos ou 47%). Nesta série,

três pacientes tiveram volumosa massa mediastinal e, ao mesmo tempo, mais de 25% de

comprometimento da medula e apresentaram, pois, pior desfecho clínico.

Estas observações em conjunto sugerem que pacientes adultos, adolescentes do sexo

feminino, fenótipo T, massa mediastinal representam fatores de mau prognóstico.

Adicionalmente, JABBOUR et al, sugerem que envolvimento de medula óssea e elevação do

LDH também estejam relacionados a um pior prognóstico (12). Entretanto, alguns destes

fatores podem ser modificados a depender da terapêutica empregada. Assim, para pacientes

com envolvimento de medula óssea por exemplo, pode ser sugerido transplante autólogo de

medula.

Ainda busca-se uma terapêutica eficaz na tentativa de atingir para os adultos mesmo

nível de cura já obtido para as crianças (cerca de 90%) (15).

A comparação dos aspectos prognósticos nas diferentes séries estão compiladas na Tabela 4.

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Tabela 4. Aspectos prognósticos de LLT

Autor N Prognóstico Fator adverso

SG

(5 anos)

SLE

( 5 anos ou

+)

CR RI

JABBOUR et al,

2006

27 LLT

(TM=25)

- 44%

12/27

74%

(20/27)

- Tumor em MO e

elevação do LDH

BURKHARDT et

al,2005

335 - M: 87± 2%

e F: 77 ±

4%

- - Idade > 9 anos e

sexo feminino

THOMAS et al 2004 33* (26 ou 79%

com

LLT)

- - 91%

(30)

- Tumor em SNC

GOUILL et al, 2003 92 32.3%

22% 71%

(66)

- Idade > 40 anos

HOELZER et al,

2002

45 LLT

(91%

TM)

- 62% 93%

(42)

36%

(15/45)

TV e > 25% da

medula envolvida

V.3. LINFOMA DE GRANDES CÉLULAS B PRIMÁRIO DO MEDIASTINO (LBPM)

V.3.1. Definição

O Linfoma de Grandes Células B Primário do Mediastino (LBPM) foi reconhecido

como uma variante distinta de LDGCB, através da classificação REAL (Revised European-

American Lymphoma) e OMS (Organização Mundial de Saúde) (20). Sabe-se que

características genéticas, clínicas e patológicas distintas diferenciam LBPM de outros tipos de

LDGCB (21). Isso foi suspeitado quando verificou-se que havia um grande percentual de

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morte por LBPM, à época em que ele era tratado da mesma forma que LDGCB. Apesar

desses aspectos distintos, o diagnóstico de LBPM ainda pode gerar dificuldades, mas, por

outro lado, recentes estudos mostraram a existência de uma assinatura molecular única,

diferente de LDGCB, e que apresenta uma sobreposição com o subtipo ENLH (22).

V.3.2. Aspectos epidemiológicos

LBPM corresponde a menos de 3% dos LNH (23) e de 6-10% de todos os LDGCB

(23), predominando em adultos jovens (10). Diversas séries demonstram que esta doença

acomete mais comumente mulheres do que homens (22,24–27) porém a maior série já

relatada apresentou sobreposição do sexo masculino sobre o feminino na proporção de 86:67

(21). A média de idade de diagnóstico varia de 32-37 anos (22,28) (21).

V.3.3. Aspectos clínicos

O Linfoma de Grandes Células B Primário do Mediastino (LBPM) frequentemente

apresenta-se como uma grande massa situada no mediastino anterior, de crescimento rápido e,

portanto, tosse, dispnéia, disfagia e síndrome da veia cava superior costumam ser precoces

(25,29).

A invasão de pulmão, pleura, pericárdio e parede torácica é mais comum em LBPM do

que em outras variantes de LDGCB (28). Além disso, a disseminação à distância para órgãos

como fígado, rim, adrenal ou SNC também é comum, mas o envolvimento de medula óssea é

infrequente (10).

A maior série já publicada destes linfomas envolveu 153 pacientes, com idade média

de 37 anos. A maioria destes pacientes exibiam ao diagnóstico estádios clínicos iniciais (74%:

I/II e 26% III/IV) com massa mediastinal maior que 10cm em 75% dos casos. Apesar de

referidos como portadores de doença clínica localizada, 77% apresentavam LDH elevado,

47% apresentavam sintomas B e 50% tinham efusões pericárdicas ou pleurais (21). Estes

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35

aspectos diferem do LDGCB que ao diagnóstico apresentam, na maioria dos casos (65%),

estágios avançados de doença (22).

Segundo OSCHLIES e cols, 2011, não existem diferenças quanto à apresentação

clínica destes linfomas nos grupos adulto e pediátrico (30).

Os aspectos clínicos e epidemiológicos destes linfomas são mostrados na Tabela 5.

Tabela 5. Aspectos clínico-epidemiológicos de LBPM

Autor N Idade M:F Estágio Aspectos clínicos

I/II III/ IV

SCHIMTZ et al, 2009 14 - - - - -

DUNPHY et al,2008 25 15-83 1:1,4 - - -

ROBERTS et al 2006 42 - - - - -

SAVAGE et al, 2006 153 37 86:67 74% 26% TM> 10cm em 75%; sintomas B em 47% e efusões pericárdicas ou pleurais em 50%.

MALPELI et al, 2004 24 33 (20-67)

8:16 - - -

PILERI et al,2003 137 - - - - -

ROSENWALD et al,

2003

43 33 20:23 - - -

SAVAGE et al, 2003 34 32 (14-59)

5:12 74% (25)

26% (9) -

ZAMO et al, 2005 13 - - - - -

LEVAL et al, 2001 19 34 (14-78)

5:14 94%* (16/17)

6% (1/17)

Tosse, dispnéia, dor no peito, síndrome de VCS em 14 (74%)

CAZALS-

HATEM,1996

141 37 (19-70)

1:1,4 77% (109)

23% (32) Envolvimen to de: pulmão (23%), pleura

(27%), pericárdio (16%).

MO= medula óssea

*Nem todos os pacientes do estudo foram avaliados quanto ao estagiamento.

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V.3.4. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos

A neoplasia é caracterizada pela proliferação de células grandes, com padrão de

crescimento difuso (25) e núcleos polimórficos, de formas variadas (redondos, ovais,

multilobulados) em um mesmo caso (20), sendo que, algumas vezes, podem ser confundidas

com células RS (10). Na maioria dos casos, as células têm um citoplasma abundante, que

varia de claro a basofílico (20,27). (Figuras 3 e 4)

Figura 3. Células grandes com citoplasma claro

Figura 4. Células com citoplasma claro exibem núcleos com contornos e tamanhos

variados, alguns deles multilobulados

Fonte: PILERI et al, 2003.

De acordo com o estudo de PILERI et al, 2003, esclerose é muito frequente (125 de

137 casos) e varia a sua forma de apresentação de caso a caso (20). A esclerose tende a cercar

grupos de células neoplásicas, resultando em compartimentalização do crescimento tumoral.

3 4

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37

Embora muito frequente, a esclerose varia em intensidade nas diferentes regiões do mesmo

tumor e pode não estar presente quando se dispõe de amostras pequenas (20).

Quanto aos seus marcadores, LBPM apresenta antígenos de células B: CD19, CD20,

CD22 e CD79a, (Figura 5) sem expressar Igs de superfície (10,20). Porém, OSCHLIES et al,

2011, encontraram um caso raro de LBPM CD20 negativo em criança. Análises fenotípicas

confirmam a positividade para o antígeno comum leucocitário CD45 e negatividade para CD3

e vários outros marcadores de células T (30). A expressão de CD30 é fraca, (Figura 6) em

contraste com a forte e uniforme expressão em LHC (Linfoma de Hodgkin Clássico) (20),

mas, em alguns casos, pode tornar difícil a distinção entre LBPM e LHC (28).

Em 5 , coloração para CD79a mostrando quase que completa positividade das células neoplásicas e em 6,

positividade para CD30 na maioria das células neoplásicas, porém de forma mais fraca do que no LH. Fonte:

PILERI et al, 2003.

Para distinguir os Linfomas B dos LHC tem sido empregada a expressão de TP73L

_conhecido como P63. Este marcador pode estar presente em células B do centro germinativo

5 6

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38

e em alguns tipos de LDGCB, mas nunca em LHC. Pode entretanto, ocorrer no LH tipo

predominância linfocitária. Este marcador tem sido ainda postulado para diagnóstico

diferencial entre LBPM e LDGCB, pois a análise das isoformas de TP73L _ α e γ _ por PCR

estão superexpressas em LBPM em comparação com LDGCB e células B do centro

germinativo. A isoforma β não mostrou diferença significativa na expressão entre LPMB e

LDGCB (29). Assim, este pode ser um marcador confiável de diagnóstico para LBPM.

A expressão de antígenos relacionados aos estágios de diferenciação de células B de

centro germinativo e pós centro-germinativo é variável, mas geralmente co-expressa BCL6 e

MUM1/IRF4, (Figuras 7 e 8) frequentemente na ausência de CD10, sugerindo um fenótipo

pós-centro germinativo ou célula B ativada (CBA).

Em 7, expressão do produto do gene BCL6 pelas células neoplásicas e em 8, padrão de coloração produzido por

MUM1/IRF4. Fonte: PILERI et al, 2003.

Já a origem a partir de uma população de células B tímicas é evidenciada pela

freqüente expressão de CD23 e de MAL (11,27). Acredita-se que em LBPM a expressão de

7 8

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39

MAL pode ter influência no processo de surgimento do linfoma e no controle do crescimento

tumoral (20).

BCL-2 é expresso em mais de 80% dos casos (27). De acordo com a pesquisa de, os

fatores de transcrição de células B associados a Igs BOB.1, OCT-2 e PU.1 foram detectados

em todos os casos analisados (20). Um dos poucos problemas enfrentados pelos

pesquisadores nesse estudo foi a presença de células semelhantes a Reed-Sternberg. Nessa

situação, a diferenciação com o LHC deve basear-se no fato de LBPM ser CD15 negativo e

positivo para CD45, CD20, CD79a, MAL, BOB.1, Oct-2 e PU.1. (Figuras 9, 10,11 e 12)

Em 2003, PILERI e cols. postularam que os LBPM geralmente não expressam

moléculas de histocompatibilidade classe I e/ou II (20). Entretanto, a análise da expressão

relativa média de genes MHCII em LBPM em comparação com outros subtipos de LDGCB

mostrou apenas algumas diferenças (31). Neste estudo, LBPM teve menor expressão de todos

os genes MHC individuais, exceto CD74 e menor expressão média de MHCII, do que o

subtipo CGB (células de centro germinativo), que é o subtipo mais comum de LDGCB.

Porém, a expressão da maioria dos genes MHCII não foi significativamente diferente entre

LBPM e o subtipo CBA (células B ativadas), e os casos de LDGCB não-classificados. Assim

a perda de MHCII não é característica de LBPM, e é similar aos subtipos não CGB de

LDGCB. Assim, estes resultados podem refletir a variação da expressão do gene MHCII

durante a diferenciação da linhagem de células B, já que MHCII normalmente não é expresso

em células pró-B e é normalmente expresso em células B maduras. Por analogia, a baixa

expressão corresponderia à fase de maturação celular do linfoma.

Quanto à análise entre crianças e adultos, OSCHLIES et al, 2011 concluíram que não

há diferenças morfológicas e imunofenotípicas entre LBPM em crianças, adolescentes ou

adultos, o que pode ser exemplificado pela expressão de CD23 (67%) e CD30 (77%) na

infância, comparável à evidenciada em adultos (70% e maior que 80%, respectivamente).

Porém, serão necessários estudos mais amplos, para determinar se há ou não diferenças

moleculares ou genéticas entre esses grupos etários, no que diz respeito a LBPM. Os diversos

aspectos morfológicos e imunofenotípicos são apresentados na Tabela 6.

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40

Em 9, a maioria das células neoplásicas expressam a proteína MAL ao nível do citoplasma e alguma positividade confinada à área de Golgi também pode ser vista; em 10, todas as células reagem com o anticorpo anti-Oct-2;

este mesmo padrão é observado para BOB.1 em 11, que é expresso ao nível de núcleo e citoplasma; em 12, a

maioria das células neoplásicas expressa PU.1. (PILERI et al, 2003).

9 10

11 1200

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41

Tabela 6. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos de LBPM

V.3.5. Aspectos moleculares

Ganhos no cromossomo 9p24, ocorrem em mais de 75% dos casos e incluem JAK2,

PDL1 e PDL2, enquanto que ganhos no cromossomo 2p15 ocorrem em mais de 50% dos

casos e incluem REL e BCL11A (10). Ganhos das mesmas regiões são bastante frequentes em

LHC (30), o que aponta para o fato de que a assinatura molecular de LBPM parecer estar mais

relacionada a LHC do que a LDGCB (28).

Uma dificuldade existente é que não há testes moleculares rotineiros para diagnóstico

de LBPM. Por exemplo, MAL e FIG1, apesar de frequentemente expressos, não são

Autor PILERI et al,

2003 DUNPHY et al,2008

MALPE

LI et al,

2004

LEVAL et al,

2001

CAZALS-

HATEM,

1996

Morfolo

Gia

Geralmente

células

grandes,

crescimento

difuso; esclerose em

125 de 137

casos

Células de tamanho

variável, com citoplasma

abundante e claro e

compartimentalização por

fibrose de densidade variável em todos os

casos.

------------- Células do tipo

centroblásticas

em 18/19 casos e

anaplásica em 1

caso. Fibrose em todos os casos.

Esclerose na

maioria dos

casos

CD20 + + (todos) + ------------- + (129/141)

CD79a + ------------- + ------------- -------------

CD22 ------------- + ------------- -------------

CD30 + + (13/16 analisados) ------------- ------------- -------------

HLA - ------------- ------------- ------------- -------------

CD21 - ------------- ------------- ------------- -------------

CD23 + (5/6 analisados) ------------- ------------- -------------

CD15 - ------------- ------------- ------------- -------------

CD10 - - (18/24 analisados) ------------- - (13/19) -------------

CD45 + + (todos) + ------------ + (55/85)

Pax5 + ------------ ------------ ------------ ------------

Oct2 + ------------ ------------ ------------ ------------

BCL6 +/- +(16/23) + (todos) + (todos) ------------

BCL2 +(21/24) ------------ ------------ + (42/141)

MUM1 +/- + (21/23) ------------ ------------ -------------

Ig - ------------ - - (13/19) -------------

BOB1 + ------------ ------------ ------------ -------------

PU.1 + ------------ ------------ ------------ -------------

MAL +/- ------------ ------------ ------------ -------------

EBV ------------ ------------ ------------ ------------ + (2/41)

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42

encontrados em todos os casos, e FIG1 também é expresso em LDGCB. Este aspecto está

bem representado em ROSENWALD et al, 2003, em que, dos 46 pacientes que haviam sido

diagnosticados como LBPM , 35 (76%) mantiveram tal classificação por perfil de expressão

gênica (28). Dos outros 11, 7 foram classificados como LDGCB like-CGB e 4 como LDGCB

like- CBA. Estes pacientes LDGCB like-CBA_ cujo prognóstico é menos favorável do que

LBPM_ apresentaram rápida progressão da doença e morreram após 2 anos do diagnóstico de

linfoma, o que alerta para a importância de que se realize um diagnóstico correto.

Apesar da expressão do BCL6 ocorrer na maioria dos LBPM, apenas 60% dos casos

exibem mutação somática neste gene. Em LBPM, as principais sequências alteradas são

diferentes daquelas alteradas em LDGCB, sugerindo que as mutações estão presentes antes da

transformação neoplásica. Assim, LBPM pode ter seu surgimento a partir de determinadas

populações de células B, diferentes das que conduzem a outros tipos de LDGCB. A

freqüência de mutações no BCL2 é similar entre LBPM e LDGCB (26). Por outro lado,

diversos estudos baseados em perfil de expressão gênica, não detectaram rearranjos do gene

BCL2 em LBPM (27) e apenas raramente rearranjos de BCL6 (22), o que difere de LDGCB.

V.3.6. Aspectos prognósticos

Estudos verificam que LBPM possui, em geral, um curso clínico mais favorável

[i.e.,melhor 5-anos de sobrevivência (64%) do que LDGCB após terapia (46%)] (27). Em uma

comparação de 153 pacientes diagnosticados com LBPM e uma coorte de 1273 pacientes com

LDGCB, a análise de sobrevida global e a sobrevivência livre de progressão, indicam uma

evolução mais favorável para LBPM. Além disso, em LBPM, recaídas após mais de 2 anos do

fim da terapia foram raras, diferente de LDGCB (21).

Porém, especificamente para crianças e adolescentes, diversos estudos demonstraram

um pior prognóstico (menor sobrevida livre de eventos) de LBPM em relação a outros

linfomas de B, a exemplo de LDGCB e Linfoma de Burkitt. Apesar disso, não foram

encontrados indícios de diferenças biológicas entre LBPM no adulto e na infância (30).

Em PILERI et al,2003, a sobrevida global e a sobrevida livre de recaídas foram 85% e

70% respectivamente, entre os 137 pacientes analisados durante 144 meses (20). Já na

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43

experiência do British Columbia, com 153 pacientes diagnosticados como LPBM, a sobrevida

global e a sobrevida livre de progressão em 5 anos foram 75% e 69% respectivamente (21).

O índice mais empregado na estratificação de risco dos pacientes, o IPI (do inglês,

International Prognostic Index) foi desenvolvido para o uso em LDGCB e sua utilidade em

LBPM ainda não está bem estabelecida (21). O IPI é composto por cinco fatores de risco

(Tabela 7), sendo que para cada um pode ser atribuída pontuação zero ou um, com os

menores valores correspondendo a zero.

A crítica ao uso do IPI para os LBPM baseia-se na idade mais jovem de acometimento

do que para LDGCB e pelo fato de doença geralmente confinada ao mediastino (32). Mesmo

ajustando o IPI por idade, o aumento de LDH (lactato desidrogenase), observado na maioria

dos pacientes, diminui a sua capacidade discriminatória. No British Columbia, o IPI ajustado

por idade não foi preditivo de sobrevivência, o que indica que outros modelos prognósticos

devem ser mais adequados. Neste estudo, os aspectos relacionados a prognóstico adverso

foram: elevação do LDH duas vezes acima da normalidade, idade superior a 40 anos, status

performance ≥ 2 e progressão da doença durante o tratamento inicial (21).

Além desses aspectos, constatou-se que, em LBPM, há elevação importante da

sobrevida com maiores níveis de expressão de MHCII, com estimativas de sobrevida de 5

anos em 68 % dos pacientes com níveis de expressão de MHCII maiores que 10% e apenas

25% dos pacientes apresentariam essa mesma estimativa de sobrevida quando com níveis de

expressão de MHCII de 10% ou menos (31). Neste mesmo estudo, não havia dados clínicos

suficientes para o cálculo do IPI e assim, não foi possível comparar o IPI com a expressão de

MHCII, o que possibilitaria determinar se tal expressão é um preditor independente de

sobrevivência. O objetivo a longo prazo é modificar a expressão de MHCII em tumores de

pacientes, e a partir de tal terapêutica, melhorar a evolução desses pacientes.

A comparação dos aspectos prognósticos nas diferentes séries estão compiladas na

Tabela 8.

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44

Tabela 7. Fatores de risco determinados pelo IPI

Estágio

1 ou 2 versus 3 ou 4

Idade

≤ 60 versus ˃ 60

LDH (lactato desidrogenase)

Níveis normais versus níveis maiores do que

o normal

Status performance

zero ou 1 versus ≥ 2

Número de sítios extranodais

≤ 1 versus ˃ 1

Tabela 8. Aspectos prognósticos de LBPM

Autor N Prognóstico Fator adverso

SG (5 anos )

SG (10 anos ou +)

SLE (5 anos ou

+)

CR RI

SAVAGE et al,

2006

153 75% 66% 69% 77% 26% (31/118)

↑ LDH 2 X acima da normalidade;

idade > 40 anos; status performance ≥ 2; progressão da doença durante o tratamento inicial

PILERI et al,2003 137 75% - 69% - - -

ROSENWALD et

al, 2003

43 64% - - - - -

LEVAL et al, 2001 19 - - - 89% - -

CAZALS-

HATEM,1996

141 56% TM volumoso e LDH alto.

SG= sobrevida global; SLE= sobrevida livre de eventos; CR=Completa remissão com a terapêutica

instituída;RI=recidivas (ou seja, recaídas naqueles pacientes que inicialmente responderam bem à terapêutica);

TV=tumor volumoso (grande volume).

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45

V.4. LINFOMA DE HODGKIN

V.4.1. Definição

A doença de Hodgkin foi descrita primeiramente por Thomas Hodgkin em 1831 e

apenas em 1856 foi denominada por Samuel Wilks como “Doença de Hodgkin”. Apesar de

clinicamente caracterizada, apenas no final do século XIX foi caracterizada morfologicamente

pela identificação da célula de Reed Sternberg (RS) por Carl Sternberg (1898) e por Dorothy

Reed (1902). Várias variantes morfológicas destas células existem e atualmente, sabe-se que

que células RS são proliferações clonais de células B derivadas do centro germinativo.

Baseado em aspectos morfológicos e imunofenotípicos o Linfoma de Hodgkin pode ser

classificado em duas entidades: o LH clássico (LHc) caracterizado por restrição de expressão

de marcadores B e o Predominância Linfocitária com conservação dos marcadores de célula

B. Adicionalmente o LHC é subdividido em 4 subtipos histológicos, quase todos conhecidos

desde 1964, descritos na classificação de Ray (10,33).

Dentre as apresentações clínicas dos Linfomas de Hodgkin, a mediastinal é

relativamente frequente sobretudo para o subtipo Esclerose nodular (34).

V.5. LINFOMA DE HODGKIN COM APRESENTAÇÃO MEDIASTINAL

V.5.1. Aspectos epidemiológicos

Os LH abrangem cerca de 30% de todos os linfomas (19). Considerando as massas

mediastinais, os linfomas de Hodgkin correspondem a aproximadamente 7% dos tumores

(LIT), ocorrem predominantemente no mediastino anterior . Cerca de 60% dos LH envolvem

o mediastino e podem envolver o timo (28) e linfonodos supraclaviculares (35).

A frequência do acometimento mediastinal varia entre as séries de 25% até 75% (NHI,

Crianças alemãs). Dos 49 pacientes descritos por LONGO et.al, a média de idade foi de 22

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46

anos, variando de 12 a 64 anos (36). Enquanto em algumas séries os homens são mais

acometidos (NHI) em outras as mulheres são mais acometidas (37). Em relação ao subtipo

histológico, há uma unanimidade quanto ao subtipo histológico mais frequente: esclerose

nodular (LHcEN), variando de 65,3% a 86% dos casos (37). Os subtipos predominancia

linfocitária e rico em linfócitos são infrequentes no mediastino. A preferencia do subtipo

esclerose nodular pelo mediastino pode ser notada na série de Dorffman que observou

envolvimento mediastinal em 71% dos 137 pacientes com ENLH, enquanto nos outros

subtipos o envolvimento mediastinal foi menor: LHCCM (34%), LHcDL (33%) e nennhum

caso em PL (38).

V.5.2. Aspectos clínicos

O envolvimento mediastinal é caracterizado geralmente por massa mediastinal

volumosa, podendo causar obstrução de vias aéreas (34). Entretanto o tamanho tumoral varia

nas diversas séries. COLONNA et al, estudando 196 pacientes com LH mediastinal referem

tumor pequeno em 105 (53,6%) casos (Razão de massa mediastinal ou RMM ˂ 0,33), em 58

(29,6%) tumor de tamanho médio ( 0,33 ≤RMM ˂ 0,45) e em 33 (16,8%) tumor volumoso

(RMM≥ 0,45) (39). O RMM foi calculado considerando-se a máxima largura do tumor

mediastinal dividida pela largura torácica ao nível da vértebra T6.

Enquanto a maioria das séries (37,39) referem estágio inicial da doença (estágio I e II)

ao diagnóstico, LONGO et al, 1991, observaram que a maioria dos seus pacientes (90%)

apresentavam-se com estágio III ou IV da doença e o restantes possuíam estágio IIB (36).

Entre os pacientes com estágio IV ( 28 casos ou 57%), os sítios extra-nodais acometidos

estavam: pulmão, pleura, pericárdio, medula óssea, fígado, osso e pele, com alguns pacientes

com mais de um sítio extra-nodal (36). Dentre os 28 pacientes com estágio IV, 16 (57%)

apresentavam apenas acometimento de sítios extra-nodais intratoracicos. Distinto também das

outras séries, sintomas B foram frequentes (90%). Neste caso, os pacientes foram estagiados

de acordo com a classificação de Cotswolds. (Tabela 9). Na Tabela 10 encontram-se

detalhados os aspectos clínicos-epidemiológicos dos pacientes com linfoma mediastinal dos

diferentes séries.

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47

Das 552 crianças na Alemanha e Áustria diagnosticadas com LH entre outubro de

1990 e julho de 1995 analisadas, 396 (72%) tiveram envolvimento mediastinal. Desses 552

casos, 258 (47%) apresentaram-se com doença volumosa. Todos esses 258 pacientes somados

possuíam 294 tumores volumosos. A maioria desses tumores de grande volume,

encontravam-se no mediastino: 237/294 ou 80,6%. Esses dados confirmam que LH de volume

elevado_ inclusive em crianças_ geralmente encontra-se no mediastino (40).

Tabela 9. Sistema de Classificação e Estadiamento de Ann Arbor com modificações de

Cotswolds para Linfoma de Hodgkin

Estágio I

Envolvimento de uma única cadeia linfonodal (I) ou um único órgão ou sítio extralinfático (Ie)

Estágio II

Envolvimento de duas ou mais cadeias linfonodais do mesmo lado do diafragma sozinhas

(II) ou com envolvimento limitado de órgão ou tecido extralinfático contíguo (IIe). O

número de regiões anatômicas deve ser indicado por um subscrito (ex: II-3)

Estágio III

Envolvimento de cadeias linfonodais de ambos os lados do diafragma (III), que pode

incluir o baço (IIIs) ou envolvimento limitado de órgão ou tecido extralinfático contíguo

(IIe) ou ambos (IIIes). Este pode ser subdividido em estágio III-1 ou III-2. Estágio III-1 é

usado para pacientes com envolvimento de baço ou linfonodos portal, celíaco,ou hilar

esplênico; estágio III-2 é usado para pacientes com envolvimento de linfonodos paraaórticos, ilíacos, inguinais ou mesentéricos.

Estágio IV

Envolvimento difuso ou em focos disseminados de um ou mais órgãos ou tecidos

extralinfáticos, com ou sem envolvimento linfático associado.

*Todos os casos são classificados quanto à ausência (A) ou presença de sintomas (B), os quais são: febre

significante inexplicada, sudorese noturna, perda inexplicada de peso excedendo 10% do peso corporal total

durante os 6 meses prévios ao diagnóstico.

** O subscrito “X” é usado na presença de massa volumosa.

*** O subscrito “E” é usado quando a extensão extranodal é limitada, enquanto que doença extranodal mais

extensa é considerada estágio IV. Lister et al (1989 apud Mauch 2012).

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48

Tabela 10. Linfomas de Hodgkin mediastinais: Aspectos clínico-epidemiológicos

Autor N Idade M:F Estágio Sintomas B

I/II III/ IV

ELCONIN et al,

2000

83 Mediana=

25 (9-83)

35:48 76%

(63/83)

24%

(20/83)

59%

(49/83)

VANDER et al,

2000

25 31

(20-57)

15:10 - - -

LONGO et al,

1991

49 28

(12-64)

29:20 10%

(5/49)

90%

(44/49)

90%

(44/49)

DIECKMANN

et al, 2003

552

(TM=

396 ou

72%)

M:11,8 (2,7-

17,9)/

F: 13,8

(2,9-17,8)

1,3:1 - - 32%*

(177/552)

COLONNA et

al, 1996

262

(TM=

196 ou

75%)

30,5 (15-65) 1:1 100% - 25%*

(65/262)

DORFMAN,

1971

185

(TM=

110 ou

58%)

Pico: 3ª déc. 1,5:1

- - -

NORTH et al,

1982

189

(TM=

99 ou

53%)

10-66 para

os TM

48:51 47%

(47/99)

53%

(52/99)

-

*Proporção em relação a todos os pacientes com LH do estudo (mediastinais e não-mediastinais)

N= número de pacientes do estudo; M= nº de indivíduos do sexo masculino e F= nº de indivíduos do sexo

feminino; TM=Tumor Mediastinal; déc= década.

V.5.3. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos do LH mediastinal

Por definição diagnóstica as células neoplásicas representam a minoria das células,

variando de 1% a 20% de todas as células. As células neopásicas podem exibir quatro

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49

aspectos morfológicos distintos: célula RS clássica binucleada de nucléolos proeminentes

eosinofílicos; a célula de Hodgkin, semelhante a RS porém mononucleiada; a célula lacunar

que exibe nucleolo menor que as anteriores e halo perinuclear e a célula linfo-histiocítica

(L&H) com núcleo claro multilobado tipo “pipoca” com nucleólos pequenos. O tipo de célula

e o fundo onde as células estão imersas variam de acordo com o subtipo histológico (10).

Embora qualquer subtipo de LH possa acometer o mediastino, o Esclerose nodular é o mais

frequente. Este subtipo se caracteriza por maior quantidade das células lacunares e há uma

estutura nodular definida por compartimentalização fibrosa, colagenizada do linfonodo

acometido.Neste subtipo, as variantes das células de HRS podem associar-se a folículos

linfóides ou estar intimamente relacionadas a células dendríticas foliculares, o que demonstra

a preservação da estrutura nodal. Quando há uma necrose muito proeminente, um estroma

fibro-histiocístico também considerável, além de grande proporção de células de HRS, utiliza-

se a denominação ENLH grau 2. Essa denominação tem sido associada a pior prognóstico,

mas tal nomenclatura ainda permanece como opcional de acordo com a classificação da OMS

(33).

Independente do subtipo histológico, as células neoplásicas exibem características

imunofenotípicas e moleculares indicando origem em célula B madura. Nos casos de LH

medistinais, estas células tem origem provavelmente em células B tímicas, mas assim como

em outros sítios, não apresentam marcadores de células B preservados tais como CD19,

CD20, CD79a (30).

As células neopásicas expressam caracteristicamente CD30 e CD15 (41). Proteína

Latente Membrana (LMP) 1 do EBV pode estar presente em um número variável dos casos de

LH, sem estudo específico quanto aos mediastinais. Os subtipos histológicos e a proporção de

casos para cada um deles em relação aos LH em mediastino estão sumarizados na Tabela 11.

Sabe-se que CD23 é expresso em alguns casos de ENLH (33). Expressa CD30 e CD15

(41). MAL pode ser expresso em LHC, mas não tão frequentemente quanto em LBPM (11).

PU1 não é detectável em células de RS e sofre down-regulation em células de Hodgkin-RS;

não expressa Oct2 e BOB.1 na ausência de Ig e Pax5 é fracamente expresso (41). ENLH

expressa MAL, que não é expresso em outros subtipos de LH (33).

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50

Tabela 11. Linfomas de Hodgkin mediastinais: Subtipos histológicos

Autor N Subtipo histológico

ELCONIN et al, 2000

71 (86%) ENLH

6 (7%) CM

6 (7%) Não especificado

VANDER et al, 2000 23 (92%) ENLH

2 (8%) CM

LONGO et al, 1991

32 (66%) ENLH

11 (22%) CM

5 (10%) DL

1 (2%) PL

DIECKMANN et al, 2003*

363 (65%) ENLH

136 (25%) CM

3 (0,8%) DL

49 (9%) PL

1 (0,2%) Não especificado

DORFMAN, 1971

98 (89% ) ENLH

11 ( 10% ) CM

1 (1%) DL

0% PL

NORTH et al, 1982

82 (83%) ENLH

14 (14%) CM

2 (2%) DL

0 PL

1 (1%) Não especificado

*Neste caso, não foi especificada a proporção dos subtipos histológicos em relação aos LH mediastinais

especificamente; a porcentagem se refere a todos os LH avaliados pelo trabalho ( mediastinais e não-

mediastinais).

V.5.4. Aspectos moleculares

Não há nenhuma alteração molecular específica associada ao linfoma de Hodgkin,

apesar de publicações controversas acerca da translocação 2;5, posteriormente demonstrada

como equivocada. Estudos moleculares em Linfoma de Hodgkin sempre foram cercados de

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51

controvérsias, com a natureza policlonal inicialmente defendida (42,43), considerada

equivocada em KUPPERS et al, 1994, apenas posteriormente reconhecida pelos demais

grupos (43,44). Os estudos moleculares têm mostrado que as células neoplásicas produzem

uma série de citocinas, e a algumas delas são atribuídos os aspectos morfológicos do fundo

onde estas células se encontram, tais como fibrose, eosinofilia. Esta produção tem sido

associada adicionalmente ao meio imunosupressor criado pelas próprias células,

propocionando escape do controle imune, facilitando a sua perpetuação e proliferação

neoplásica.

V.5.5. Aspectos prognósticos

Acredita-se que a localização da massa tumoral do LH na região do mediastino,

funciona como fator de pior prognóstico para este linfoma. Pacientes em estágios I e II com

doença mediastinal têm uma proporção de 5 anos de sobrevivência de 88%, enquanto que

pacientes sem doença mediastinal nesses mesmos estágios apresentam um nível de

sobrevivência de 98%. Para pacientes com estágio III, o índice de sobrevivência em 5 anos foi

o mesmo para ambos os grupos, porém a sobrevivência livre de doença foi de 74% em

pacientes sem doença mediastinal e de 60% em pacientes com doença no mediastino (45).

A comparação dos aspectos prognósticos nas diferentes séries estão compiladas na

Tabela 12.

Em LONGO et al, 1991, dos 49 pacientes com LH mediastinal em estágio avançado,

35 tiveram completa remissão com a terapêutica inicial (36). Quatorze (40%) dos pacientes

que tiveram remissão completa recaíram. Dos 49 pacientes, 30 (61%) morreram: os 14

pacientes que não alcançaram remissão completa, 9 pacientes que tiveram recaída e 7

pacientes que morreram sem doença de Hodgkin. A média de acompanhamento foi de 20

anos. Neste estudo, idade maior do que 40 anos e sexo masculino, ao que parece, afetaram

negativamente a completa remissão da doença.

Comparativamente, em ELCONIN et al, 2000, a sobrevivência foi de 91% em 5 anos e

de 76% em 10 anos, para os 83 casos de LH no mediastino (37). Neste caso, não foi verificada

influência da idade, sexo e estagiamento como fatores prognósticos. A Sobrevivência Livre de

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52

Eventos (SLE) foi a mesma (76%) aos 5 anos e aos 10 anos. Isso acontece porque quase todos

os pacientes responderam bem à terapia de indução, assim, quase todas as falhas foram

recaídas.

Temos que o prognóstico de ENLH é intermediário entre o subtipo Rico em Linfócitos

e o Depleção Linfocitária (19).

DIECKMANN et al, 2003, que analisou crianças com LH verificou que para tumores

no mediastino não-volumosos (˂ 50 cm³) , a taxa de recaída foi de 5% (8/159) e para

pacientes com tumores na mesma localização com volume ˃ 50 cm³, a taxa de recaída foi

maior, de 7,2% (17/237) (40). Verificou-se pois, que massa tumoral volumosa ( no mediastino

e em outras regiões) aumenta um pouco o risco relativo de recaídas, mas não houve

manutenção de significância estatística.

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53

Tabela 12. Aspectos prognósticos de LH

Autor N Prognóstico Fator adverso

SG (5

anos )

SG (10

anos ou

+)

SLE

( 5 anos ou

+)

CR RI

ELCONIN et al,

2000

83 91%

76% 76% 94% (78/83)

19% (15/78)

19-39 anos (93% de RI)

LONGO et al,

1991

49 - 39% 60% 71%

(35/49)

40%

(14/35)

-

DIECKMANN

et al, 2003*

TV=

177

Sem

TV=

206

- - - TV=

54,8%

(97 / 177)

e

sem TV=

71,4%

(147/

206)

6%

(igual

para TV e

sem TV)

-nº de sítios

acometidos

-sintomas B

-ENLH tipo 2

-tamanho do

tumor

COLONNA et

al, 1996*

262

- 89,4% 88,6% 83%

(217/

262)

8%

(21/

262)

-estágio

-sintomas B

-nº de sítios

envolvidos

-tamanho do

tumor

NORTH et al,

1982

189

(TM= 99 ou

53%)

TM:

88% (I/II) e

75%

(III)/

TNM:

98%

(I/II) e

78%

(III)

- -TM: 66%

(I/II) e 60% (III)

-TNM:

78% (I/II)

e 74% (III)

- - -localização

mediastinal

SG= sobrevida global; SLE= sobrevida livre de eventos; CR=Completo respondedor à terapêutica

instituída;RI=recidivas (ou seja, recaídas naqueles pacientes que inicialmente responderam bem à terapêutica);

TV=tumor volumoso (grande volume).

* Nestes casos, não foi especificada a proporção de tumores que eram mediastinais ; portanto, a porcentagem se

refere a todos os LH avaliados pelo trabalho ( mediastinais e não-mediastinais).

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54

V.6. LINFOMA MEDIASTINAL DA ZONA CINZA

V.6.1. Definição

A expressão “linfoma da zona cinza” foi introduzida pela primeira vez no “Workshop

sobre Doença de Hodgkin e doenças relacionadas”, em 1998, para designar casos de linfomas

que não tinham diagnósticos estabelecidos de LH ou LNH de células B (35).

Em 2008 a OMS introduziu uma categoria provisória “Linfoma com características

intermediárias entre LDGCB e linfoma de Hodgkin clássico (LHC)”. Esta entidade é

considerada primária do mediastino, e possui carcterísticas morfológicas e imunofenotípicas

comuns aos LH Classicos e linfoma de grandes células B primário do mediastino (LBPM)

(11).

A existência de linfomas compostos, concomitantes (LHC e LBPM) ou seqüenciais

(LHC e LBPM) tem sido reconhecido desde 1998 (11), embora não se saiba se existe relação

deste com o LMZC. Esta nova categoria foi descrito por TRAVERSE-GLEHEN et al, 2005,

abrange casos que geram grande dúvida diagnóstica, e são de grande preocupação clínica

(35). Há alguns anos, os casos de LMZC eram relatados como casos de Linfoma Anaplásico

de Grandes Células semelhante a LH, mas não se encontrou relação biológica entre ambos

(41).

Estabelecer o diagnóstico correto tem importantes consequências clínicas, pois o

tratamento para LH e LNH é diferente. Uma das questões relevantes e que permanecem sem

resposta é: qual a terapêutica adequada para um caso de LMZC? Uma alternativa plausível é

utilizar a terapêutica voltada para linfomas agressivos de células B. Além disso, acredita-se

que o uso de quimioterapia associada a radioterapia durante longo período, pode aumentar a

possibilidade de sobrevida elevada. Na maioria dos casos de LMZC, segue-se o protocolo

terapêutico para LDGCB (35,41).

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V.6.2. Aspectos epidemiológicos

LMZC não tem sua incidência conhecida, mas é considerado raro, pois a maior série

relatada até agora incluiu somente 21 pacientes (30). Nesta série, a proporção homem/mulher

foi de 10/11 e a idade média foi de 31 anos (variando de 13-62 anos) (41). Apesar de nessa

série, o número de mulheres ter sido um pouco maior do que o de homens, em geral, verifica-

se que LMZC é mais comum em homens, dos 20 aos 40 anos (46), como representado nas

séries de OSCHLIES et al, 2011 e EBERLE et al, 2011, com proporções homem/mulher de

3/1 (média de idade= 13,7 anos) e 7/2, respectivamente (30,35). A apresentação clínica de

LMZC é similar ao LBPM e LHC no mediastino (35). A Tabela 13 sumariza os aspectos

clínico-epidemiológicos das séries publicadas.

Tabela 13. Aspectos clínico-epidemiológicos de LMZC

Autor N M:F Idade Estadio Aspectos clínicos

OSCHLIES et

al, 2011

4 3:1 13.7(10.7-17.9) III (100%) Derrame pleural,

pericárdico e ascite

(25%)

Derrame não

maligno (75%)

EBERLE et al,

2011

9 7:2 37.1(16-67) - -

TRAVERSE-

GLEHEN et al,

2005

21 10:11 31 (13-62) - -

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V.6.3. Aspectos morfológicos e imunofenotípicos

Os aspectos morfológicos e imunofenotípicos das séries publicadas estão sumarizadas

na Tabela 14.

Em OSCHLIES et al 2011, 4 casos de LMZC foram diagnosticados dentre os 52 casos

de linfomas no mediastino (30). Estes 52 casos foram, de início, diagnosticados e tratados

como LBPM e foram revistos de acordo com os critérios de classificação da OMS. Dois dos

casos de LMZC apresentavam características de LBPM em uma área e de LH em outra, sendo

portanto um linfoma composto, além de expressar CD15. E os outros dois casos de LMZC

apresentavam morfologia de LBPM, mas eram positivos para EBV. (Figura 13 A e B )

Além disso, nesse mesmo estudo verificou-se que LBPM e LMZC em crianças foram

ambos positivos para marcadores de células B, como CD20, CD79a e PAX5 e frequentemente

expressaram CD30 e CD23. (Figuras 14 A,B,C,D) Porém, a expressão de BCL6 foi mais

freqüente em LBPM do que em LMZC.

Em TRAVERSE-GLEHEN et al, 2005, dos 21 casos de LMZC, 11 apresentaram

aspectos morfológicos compatíveis com ENLH, mas com características não-habituais como:

infiltrado inflamatório diminuído, grande número de variantes mononucleares, ausência de

fenótipo de Hodgkin clássico, necrose focal ou ausente , forte expressão de CD20 e CD79a

positivo em 7 casos ( mesmo que fracamente) (41). Dentre estes 11 casos, em concordância

com LHC , em 10/11 casos CD30 foi positivo, em 8 dos 11 casos, CD15 foi positivo e CD45

foi positivo em 3 dos 7 casos testados. Dois (2) dos sete (7) casos de LMZC com morfologia

de LHC foram investigados para EBV e foram positivos.

No mesmo estudo, outros 10 casos de LMZC tiveram morfologia de LBPM, mas com

células de Hodgkin/ RS e células lacunares, expressão de CD20 ausente (em 3 dos 10 casos)

ou fraca ( em 7 dos 10 casos), CD30+ em todos os casos e positividade para CD15 em 70%

dos casos (7 casos) (Figura 15). Todos os 21 casos de LMZC apresentaram áreas de fibrose.

Ainda nessa série, os fatores de transcrição de células B foram mais próximos de

LBPM do que de LHC, em 14 (93%) dos 15 casos estudados, sendo esses fatores: Oct2,

BOB.1 e Pax5. Além disso, o fator de transcrição PU.1 foi expresso em 7 dos 9 casos de

LMZC analisados.

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57

Em geral, os casos de LMZC podem ser positivos para MAL (46). Em TRAVERSE-

GLEHEN et al, 2005, MAL foi positivo em 7 de 9 casos de LMZC, sendo que não houve

correlação entre a morfologia e a expressão de MAL (41).

Alguns casos de LMZC foram apresentados no XIV Encontro da Associação Européia

de Hematopatopatologia e da Sociedade de Hematopatopatologia, ocorrido em Bordeaux, na

França, em 2008 (46):

-Um com histologia de LBPM e marcadores compatíveis_ CD45, CD79a, CD30,

PAX5 e MAL_ mas na ausência de CD20, OCT2, BOB1 e expressão de CD15, o que é mais

compatível com LHC.

-O segundo caso com histologia de LHC e o seguinte fenótipo: CD20+, CD45+,

CD79a+, CD30+ focalmente, CD15-, EBER+, MAL-, OCT-2+ e BOB-1 fracamente positivo.

- Um outro caso também mostrou que após ser usada técnica de biópsia por agulha, a

análise de uma grande massa mediastinal mostrou características de ENLH. A biópsia foi

repetida após um ciclo de quimioterapia, e o material analisado foi definido como LMZC,

com células mononucleares like- Hodgkin, esclerose e um infiltrado inflamatório misto. A

análise imunofenotípica mostrou expressão de CD30, OCT-2, BOB.1, CD20 e MAL.

-Um caso de linfonodo inguinal, que trouxe como variação a questão da localização

fora do mediastino.

Quanto aos linfomas compostos, em TRAVERSE-GLEHEN et al, 2005, verificou-se a

existência desses casos, em que há características histológicas de LHC , LBPM, além de

poder haver áreas de transição que lembram LMZC. Dos 6 casos, 4 (67%) apresentavam, nas

áreas compatíveis com LHC, o imunofenótipo esperado para tal entidade (CD20-, CD30+,

CD15+, Oct2-, BOB.1-, Pax5- ou fracamente +).

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Tabela 14. Aspectos morfológicos e imunoistoquímicos de LMZC

Autor OSCHLIES et al

2011

EBERLE et al, 2011 TRAVERSE-GLEHEN

et al, 2005

Morfologia

-Igual a LBPM em

uma área e a LH em

outra (50%);

-morfologia de

LBPM , porém

marcadores

incompatíveis

(50%).

-Morfologia de LHC,

mas imunofenótipo de

LBPM, ou seja CD20+ e

CD15- (4/9 ou 45%);

-Morfologia de LHC e

LBPM na mesma

amostra (1/9 ou 10%);

-Morfologia de LBPM,

mas imunofenótipo de

LHC , ou seja, CD30+,

CD15+ ou CD20-,

CD79a- (4/9 ou 45%).

-Morfologia de LBPM

(10/21 ou 48%);

- Morfologia de LHC

(11/21 ou 52%).

CD20 100% (4/4) 90% (8/9) 86% (18/21), fortemente

+ em 14/18 (78%)

CD79a 100% (4/4) - 71% (10/14), fortemente

+ em 20% (2/10)

CD30 100% (4/4) 10% (1/9) 95% (20/21)

CD15 25% (1/4) - 67% (14/21)

CD23 100% (3/3) - -

CD5 0% - -

CD10 25% (1/4) - -

CD45 - - 50% (5/10)

Pax5 100% (4/4) - 83% (15/18)

Oct2 100% (3/3) - 78% (14/18)

BCL6 33% (1/3) - -

MUM1 100% (3/3) - -

EBER 67% (2/3) - -

BOB1 - - 78% (14/18)

PU.1 - - 64% (7/11)

MAL - - 54% (7/13)

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Figura 13. Morfologia de um caso de LMZC

Exemplo de LMZC mostrando áreas com morfologia de LBPM com explosões de blastos de médios a grandes

(A) e áreas com morfologia de LHC com blastos únicos em um fundo rico em linfócitos T no mesmo tumor (B)

(OSCHLIES et al, 2011)

Figura 14. Caso de LMZC positivo para EBV; A= H &E, B= CD20, C= CD30, D= EBER

(OSCHLIES et al, 2011)

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60

Figura 15. LMZC com morfologia de LBPM

Em A, células grandes com citoplasma claro e algumas células parecidas com células lacunares, além de haver

fibrose trabecular. Em B, a maioria das células é CD20 positiva, porém fracamente e de forma variável. Em C, as

células tumorais são positivas para anticorpo anti-CD30. Em D, forte coloração para CD15. Em E, embora as

células normais expressem BOB.1, as células tumorais são negativas. Oct2 também foi negativo. Em F, Pax5 foi

negativo para as células neoplásicas e fortemente positivo para as células normais. Então, o perfil de coloração se

aproxima muito mais de LHC do que de LBPM. (TRAVERSE-GLEHEN et al, 2005)

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61

V.6.4. Aspectos prognósticos

Casos de linfomas com morfologia de LHC, mas com imunofenótipo incompatível,

têm sido associados com curso cliníco mais agressivo, o que sugere que LMZC pode ter um

pior prognóstico do que outros linfomas como LBPM e LHC no mediastino (41).

LMZC tem então, provavelmente, um curso clínico mais agressivo e pior prognóstico

do que qualquer LHC ou LPMB, o que aponta para a necessidade de mantê-los em separado,

diante da perspectiva de que novos estudos revelem se esses casos representam casos

limítrofes verdadeiros biologicamente, ou se podem ser atribuídos a uma entidade específica

(35).

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VI. RESULTADOS

O estudo clínico comparativo dos linfomas linfoblásticos primários do mediastino

incluiu 7 artigos no período. A inclusão de alguns linfomas B linfoblásticos ou ainda linfomas

T linfoblásticos não mediastinais dificultou a comparação precisa dos artigos. Ainda assim,

considerando que mais de 90% dos casos em todos os artigos compreendiam os LLT

mediastinais foram incluídos na tabela comparativa com as devidas observações. Os 11

artigos analisados relativos aos linfomas B primários do mediastino apresentaram maior

homogeneidade nos critérios analisados. Isto deveu provavelmente ao fato da definição

recente deste linfoma (1980) já com uso sistemático da imuno-histoquímica. Dos 7 artigos

que abordaram os linfomas de Hodgkin mediastinais, apenas 3 foram publicados depois de

2000 e consequentemente o diagnóstico da maioria não utilizou critérios imuno-histoquímicos

precisos e muitos casos apareceram no contexto de linfomas de Hodgkin em geral, sendo

necessário a extração dos dados relativos aqueles primários do mediastino, nem sempre de

fácil acesso para todas os aspectos analisados. Dos 3 artigos encontrados especificamente

sobre linfomas mediastinais da zona cinza, os critérios adotados para o diagnóstico ainda não

estavam definidos pela OMS 2008, pois apenas 2 foram publicados após 2008. As tabelas a

seguir apresentam as comparações dos diferentes aspectos clínico-epidemiológicos e

diagnósticos (morfológicos, imunofenotípicos e moleculares) dos linfomas primários do

mediastino.

A sobrevida livre de eventos em 5 anos variou de 22% a 87%, sendo diretamente

influenciada pela idade, disseminação da doença e com leve tendência em pacientes do sexo

femininos. Após a análise multivariada estes fatores não permaneceram significantes para o

grupo pediátrico isoladamente. Entretanto, considerando estudo em adultos, a idade

permaneceu como fator de pior prognóstico. O uso de esquemas de estadiamento clínico e

terapêuticos distintos nos grupos pediátricos e adultos entretanto não possibilitam comparação

prognóstica entre os diversos estudos.

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63

Tabela 15. Comparação das manifestações clínico-epidemiológicas dos linfomas

primários mediastinais

* Incluindo raros casos de LLB.

** Alguns estudos incluem não somente os LH mediastinais, como também os não-mediastinais. *** Apesar destes valores representarem o total de casos (de todos os estudos), os dados da tabela foram

calculados com base nos casos referentes aos estudos publicados a partir do ano 2000.

LLT LBPM LH** LMZC

Frequência na

população

2% (7% na

Ásia)*

3% 30%

-

Idade mais

frequente

Crianças

(8,5a) e

adultos jovens

(31a)

14 a 83 anos

(média 35

anos)

Crianças (13a)

e adultos

jovens (31 a)

30 anos

Sexo 1F:2,8M 1.1F:1M 1F: 1,2M 1F:1,4M

Tamanho da

massa

>10cm >10 cm - -

Envolvimento

de medula óssea

18% a 30% (>

em adultos)

- - -

Envolvimento

do SNC

4% a 15% (>

em adultos)

- - -

Disseminação ao

diagnóstico

(estágio III/IV)

80%

(crianças>

adultos)

24,5% 24% -

Total de casos

estudados

554*** 645*** 1345*** 34***

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Tabela 16. Aspectos morfológicos, imunofenotípicos e moleculares dos Linfomas

primários do mediastino

LLT LBPM LH clássico LMZC

Célula Média, basofílica, citoplasma escasso

Grande, tamanhos variados, RS símile

Grande, tipo lacunar, RS

Grande, Lacunar e RS

Padrão de crescimento

Difuso, raramente septado

Difuso, com septação frequente

Nodular Misto

Outros aspectos morfológicos

Numerosas mitoses e macrófagos fagocíticos; septos fibrosos

Fibrose muito frequente

Fibrose colagenica (NS)

Variáveis

Marcadores de células primordiais

Positivo (TdT> CD99;CD1a;CD10)

Negativo Negativo Negativo

Marcadores de células B

Negativo 80% (CD79+ em LLT)

Positivo Positivo+/- (parte das células)

Positivo

Marcadores T Positivo em 79% (CD3c/CD7/CD4 e 8 concomitante)

Negativo Negativo Negativo

CD30 Negativo Positivo fraco e difuso

Positivo forte Positivo em

74%

CD15 Negativo/positivo Negativo Positivo Positivo em

60% (15/25)

TP73L-p63 ----------- +/- Negativo -

CD23 -------------- Positivo Negativo Positivo em

100% (3/3)

MAL ----------- Positivo Negativo Positivo em

54% (7/13)

PU.1 -------------- Positivo Negativo Positivo em

64% (7/11)

BOB1/OCT2 ----------- Positivo Negativo* Positivo :

BOB1=78%

(14/18)/OCT2=

81% (17/21)

EBV -------------- Negativo* Positivo+/- Positivo em

67% (2/3)

Alteração genética

Translocação em 1/3

dos casos de 14q11.2 Ganhos no cromossomo 9p24; ganhos no cromossomo 2p15;

Ganhos no cromossomo 9p24; ganhos no cromossomo 2p15;

-

Total de casos estudados

554 645 1345 34

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65

Tabela 17. Comparação dos aspectos clínico– prognósticos dos linfomas primários

mediastinais

LLT LBPM LH LMZC

Sobrevida

média

Crianças

(8,5a) e

adultos jovens

(31a)

74% 91% -

Tamanho da

massa

>10cm >10cm - -

Acometimento

de estruturas

adjacentes

Sim ( 40%

dos adultos)

Sim (23%) - -

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66

VII. DISCUSSÃO

Nestes últimos 12 anos de revisão da literatura observamos melhor caracterização

imunofenotípica e molecular de linfomas mediastinais já conhecidos, tais como Linfoma de

Hodgkin e Linfoma Linfobástico. Novas entidades foram agregadas aos linfomas primários

do mediatino, Quanto aos avanços na classificação dos linfomas, podemos citar o

reconhecimento de LBPM como uma variante distinta de LDGCB pela classificação REAL e

OMS, com base na identificação de diferentes aspectos epidemiológicos, clínicos,

prognósticos e patológicos destes linfomas. Adicionalmente, a OMS em 2008 propôs uma

entidade provisória com características intermediárias entre os LH e Linfoma de células B. Do

ponto de vista epidemiológico, estas entidades apresentam distribuição distintas nos grupos

etários. Enquanto, o LLT e LH acometem preferencialmente crianças, o LBPM e LMZC são

raramente descritos em crianças. Da mesma forma, observa-se uma maior frequência dos

linfomas mediastinais em pacientes do sexo masculino, à exceção do LBPM que acomete

preferencialmente o sexo feminino.

A utilização da imunoistoquímica tem permitido o diagnóstico diferencial da maioria

das entidades com segurança (Tabela 16). Entretanto, há necessidade de painel amplo e

,ainda assim, permanece uma certa interface do LBPM com LDGCB. Estes linfomas são

morfologicamente indistintos, porém o LBPM é mais restrito ao mediastino, acomete

preferencialmente mulheres jovens (32-37 anos), e tem melhor prognóstico (ROBERTS et al,

2006). Recentes estudos moleculares identificaram para LBPM uma assinatura única, que

difere de LDGCB e que de forma intrigante por vezes se aproxima de LHC. Por exemplo,

estudos de perfil de expressão gênica indicam a presença de genes fortemente expressos em

LBPM, bem como em LHC, mas que não são expressos em outros subtipos de LDGCB, como

é o caso de PDL2, que codifica um regulador de ativação de célula T (20,22,28,31) (21).

Considerando as dificuldades do estudo molecular, permanece a procura por um painel ideal

para definição precisa destas entidades.

A localização mediastinal parece ser, por si só, um fator de pior prognóstico para

linfomas, visto que diversas séries mostraram menor sobrevida para pacientes com linfomas

em mediastino quando comparados aos pacientes com linfomas em outras localizações. Isto

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foi demonstrado para os subtipos LLT e LH. Porém, paradoxalmente, comparando-se LBPM

com outros subtipos de LDGCB, verifica-se que LBPM em geral, possui um melhor curso

clínico, com menor probabilidade de recaídas, exceto para o grupo pediátrico. Nestes

pacientes, pela classificação de Murphy (1980), todos aqueles com linfoma linfoblástico

localizado em mediastino estão no estágio III ou IV,o que sugere que a localização

mediastinal é um indicativo de doença avançada (2,25,29).

Em geral, os diferentes linfomas exibem prognósticos distintos, sendo o IPI o

parâmetro clínico mais usado para cálculo de risco de morte. Em LBPM entretanto, o IPI tem

seu uso limitado pelo fato da doença geralmente estar restrita ao mediastino e acometer

pessoas mais jovens (27,30) (21,32). Consequentemente, os estudos se concentram na busca

de novos marcadores prognósticos, principalmente teciduais.

Apesar do avanço diagnóstico na subtipagem dos linfomas mediastinais, o diagnóstico

tardio permanece o maior problema no manejo destes pacientes. A maioria dos pacientes

apresentam sintomas compressivos de estruturas intra-torácias pelo tumor, determinando a

obtenção de amostras limitadas. Este problema tem maior impacto nos linfomas mediastinais

considerando a existência desta nova entidade “linfomas da zona cinzenta” os quais podem

apresentar áreas idênticas a linfomas de Hodgkin e outras idênticas a linfomas B de grandes

células, comprometendo consequentemente o diagnóstico em amostras limitadas.

Em relação ao LMZC, algumas questões ainda carecem de resolução, entre elas os

critérios para diagnóstico desta entidade. Isso aponta para uma necessidade de se estabelecer

quais são as variações aceitáveis dentro de LHC. Algumas pesquisas demonstraram que a

terapêutica utilizada para LBPM ou ENLH não são adequados para casos de LMZC. Portanto,

questiona-se se o LMZC é mais agressivo de fato, ou apenas não tem sido tratado da maneira

ideal. Entretanto, todas essas são perguntas que só poderão ser respondidas definitivamente a

partir de estudos futuros, que são dificultados pela inexistência de padronização dos critérios

diagnósticos, e pela raridade de número de casos de LMZC (35).

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VIII. CONCLUSÃO

1. Os LLT mediastinais exibem aspectos clínicos, epidemiológicos, morfológicos e

imunofenotípicos próprios, distintos dos demais subtipos de linfomas mediastinais.

2. Os LBPM, embora apresentem perfil clínico-epidemiológico e imunofenotípico que

permitem distinguí-lo dos demais subtipos comuns ao mediastino, são por vezes

indistinguíveis dos LDGCB sem métodos moleculares.

3. Considerando o melhor prognóstico dos LBPM, e a inexistência de marcador

específico, um conjunto de marcadores incluindo BCl6, CD10, MUM1, CD23, PU1

seria útil para estabelecer com maior segurança o diagnóstico diferencial com

LDCGB.

4. Os Linfomas de Hodgkin exibem em geral características epidemiológicas,

morfológicas, imunofenotípicas e moleculares distintas dos demais subtipos de

linfomas de mediastinais.

5. Apesar da localização mediastinal ter sido relacionada a pior prognóstico nos LLT, LH

e LMZC, isto não foi verificado nos LBPM.

6. Outros fatores prognósticos apontados em alguns estudos (estadiamento, idade e

gênero) não foram confirmados em todos os estudos, pois os pacientes já se encontram

em estádios avançados de doença, e usam esquemas terapêuticos distintos nos grupos

pediátricos e adultos, impossibilitando comparações.

7. A proposta de criação de entidade provisória com características intermediárias entre

LH e Linfomas de Grandes células B (linfoma da zona cinza) traz dúvidas acerca dos

diagnósticos de LH estabelecidos previamente sem conhecimento desta possível nova

entidade.

8. Considerando que o LMZC podem exibir áreas de LH e áreas de Linfoma de Grandes

células B, amostras limitadas podem resultar em subdiagnóstico desta condição.

9. Os critérios diagnósticos de LMZC precisam de melhor definição. Da mesma forma

que estudos moleculares permitiram identificação da assinatura molecular própria dos

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LBPM, distinta dos LDGCB, estudos moleculares poderão ser de valia para a

confirmação da LMZC como entidade definitiva pela OMS.

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IX. SUMMARY

PRIMARY MEDIASTINAL LYMPHOMAS: A LITERATURE REVIEW

Non-Hodgkin lymphomas are malignancies with clonal origin in B or T / NK lymphocytes,

located in lymph nodes or extranodal sites. The primary mediastinal lymphomas are usually

diagnosed late and respond poorly to therapy, when compared to the same histological

subtypes in other sites (except for the brain). The subtypes characterized and recognized by

the World Health Organization (WHO) until 2008 included the Hodgkin lymphoma (HL); T-

cell lymphoblastic lymphoma and Primary Mediastinal large B-cell lymphoma (thymic or

PMBL). Recently, the WHO recognized a provisional subtype with intermediate

characteristics between Diffuse Large B Cell Lymphoma and Classical HL (cHL), called

unclassifiable B-cell lymphoma, (Mediastinal Gray Zone Lymphoma). This new subtype is

not well known yet. Its morphological and immunohistochemical diagnostic criteria can be

confused with other subtypes (cLH and PMBL). Considering the peculiarities of mediastinal

lymphomas and the little knowledge of this new subtype in our region, we revised the

literature about the clinical, morphological and immunophenotypic aspects of the mediastinal

lymphomas. For this, we selected articles using the keywords "lymphoma" and "mediastinal"

in databases pubmed and scielo, with specific inclusion and exclusion criteria.

Keywords: 1. Mediastinal Neoplasms; 2. Hodgkin Disease; 3. Lymphoma; 4. Pathology,

Molecular.

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