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L i teratura e Pa i s agem em D i á l ogo

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Lit era tura e Paisagem em Diálogo

Lit era tura e Paisagem em Diálogo

SUMÁRIO

Apresentação......................................................................... 05

Pontos de vista sobre a percepção de paisagensMichel Collot (tradução de Denise Grimm)............................ 11

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Roberto Lobato Corrêa......................................................... 29

Paisagem simbólica como descrição da personalidade do lugar: a certidão de nascimento do BrasilZeny Rosendahl..................................................................... 45

Movendo espaços: notas sobre Instaurações SituacionaisCecília Cotrim ........................................................................ 57

Natureza e Paisagem no Brasil no século XIX: o olhar de Francis de Castelnau Maria Elizabeth Chaves de Mello........................................... 81

A leitura paisagística da Festa da Virgem de Nazareth de Saquarema Ana Carolina Lobo Terra..................................................... 99

Paisagem e Alteridade: o dom e a troca Maria Luiza Berwanger da Silva ........................................... 113

O paisagista e o escritor: Praça Euclides da Cunha ­ RecifeAna Rosa de Oliveira............................................................ 131

O romance e a invenção da paisagem brasileira: o caso Iracema Carmem Negreiros............................................................... 145

Poesia e paisagem urbana: diálogos do olharIda Alves............................................................................. 169

Sophia e a poética do mar em Portugal: o espaço do lugarMarcia Manir Miguel Feitosa.............................................. 193

A recriação da paisagem em poemas de Eugênio de AndradeClarice Zamonaro Cortez .................................................... 211

O sublime como ecologia: paisagem­habitação na poesia de Marcos Siscar. Masé Lemos....................................................................... 227

Sobre os Autores............................................................... 249

Literatura e Paisagem em Diálogo

5

Apresentação

Criado em 2008, o Grupo de Pesquisa “Estudos de Pai­

sagem nas Literaturas de Língua Portuguesa”(UFF­CNPq) tem se

mostrado de grande vigor, com sua presença atuante na organiza­

ção de livros, colóquios, cursos interdisciplinares de curta duração

e trocas entre pesquisadores de diferentes instituições nacionais e

estrangeiras.

Com o espírito dinâmico de investigação e, norteados pelo

tema geral do Colóquio “Literatura e Paisagem: diálogos e deba­

tes”, realizado nos dias 20 e 21 de outubro de 2011, com sessões

no Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF),

Niterói,RJ, e no Instituto de Letras, da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro (UERJ), trazemos a público esta reunião de estudos

!"#$%$&#'($%)'%*'+',-$%.%/%paisagem em diálogo com a literatura,

outras artes e áreas, seja por um ponto de vista teórico, seja por

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cimento. Tarefa difícil diante de objeto tão vasto, intenso e escor­

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Desde os anos de 1970, os estudos em torno da paisagem

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tica, a incorporação do conceito de formação social e as noções

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comprendida como uma formulação cultural e, simultaneamente,

Literatura e Paisagem em Diálogo

6

produto do sujeito, sobretudo a partir das obras de pensadores e

estudiosos, tais como Denis Cosgrove, Augustin Berque, Alain Cor­

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tre muitos outros.

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estar no mundo e o estar na escrita.

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a ser lido, mas como um processo no qual as identidades sociais e

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de apropriação visual para o sujeito e foco da formação de identi­

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coordenador do grupo de pesquisa Éscritures de la Modernité na

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cialmente para este livro, as principais características para a or­

Literatura e Paisagem em Diálogo

7

ganização perceptiva da paisagem, espaço plástico ao alcance do

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privado, a ser modelado pela atividade constituinte de um sujeito.

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e Pesquisas sobre Espaço e Cultural (NEPEC), do Departamento

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1970, a respeito da paisagem e destaca o interesse dos geógrafos

pela produção literária como fonte pela qual a paisagem poderá ser

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tida na tela de Vítor Meirelles, A primeira missa no Brasil, como

certidão de nascimento do Brasil, discutindo a dimensão espacial

das relações sociais que colocam em jogo efeitos de poder.

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[e descrita por Oiticica e Torquato]. A autora pretende esboçar

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contemporânea, a partir de obras (Instaurações situacionais) que

tentam contato com o tecido entrópico da metrópole, desmante­

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do viajante naturalista Francis de Castelnau que aqui esteve entre

1843 a 1847, e Ana Carolina Lobo Terra discute a paisagem religio­

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sos como uma demarcação espacial para poder traduzir os valores

Literatura e Paisagem em Diálogo

8

e crenças das pessoas. Nesse sentido, realiza a leitura paisagística

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Luiza Berwanger da Silva discute a relação paisagem e alteridade

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sagística e invenção subjetiva.

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espaço público brasileiro. Entre outras questões, a autora indaga o

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gem e literatura. O artigo de Carmem Negreiros articula a invenção

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da poesia portuguesa contemporânea, como delineamento de uma

escritura lírica de caráter urbano, para estudar como nela ocorrem

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de escrita problematizadores da cultura de língua portuguesa. Já

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respectivamente, da compreensão da paisagem nos poetas portu­

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que analisa a produção de Marcos Siscar, compreendida enquanto

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tarefa política da arte.

Na organização do Colóquio que deu origem a este livro ti­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

9

Programas de Pós­Graduação em Letras da UFF e da UERJ (su­

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Pós­Graduação, Pesquisa e Inovação, da UFF.

As organizadoras são gratas a todos que, com sua presença e

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Diante da multiplicidade teórica, convidamos o leitor a mer­

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paisagem. c45'*/0$4%>"'%/5*'!3'%!/)/%(',($%)'4(/%!$;'(N9'/%!$0%

todas as suas nuanças, inquietações, dúvidas e propostas.

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Carmem Negreiros

Ida Alves

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Literatura e Paisagem em Diálogo

11

Pontos de vista sobre a percepção de paisagens1

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Só se pode falar de paisagem a partir de sua percepção. Com

efeito, diferentemente de outras entidades espaciais, construídas

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como espaço percebido: ela constitui “ o aspecto visível, perceptí­

vel do espaço”.2

Mas, se essa percepção distingue­se de construções e simbo­

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seu aparente imediatismo não deve fazer esquecer que ela não se

limita a receber passivamente os dados sensoriais, mas os organi­

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construída e simbólica.

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rísticas dessa organização perceptiva=%!$9:*$9(/9)$%/4%)'693AD'4%

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são, para mostrar, sob uma perspectiva fenomenológica e psica­

nalítica, como essa estrutura se investe de -.$/.'0&12"-% ;31/)/4%]%

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1 “Points de vue sur la perception des paysages” foi

originalmente publicado em ROGER, Alain (Dir.). La théorie du paysage em

France (1974­1995). Seyssel: Champ Vallon, 1995. p. 210­223.

2 O. Dolfus, L’Analyse géographique, “Que Sais­je?”,

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Literatura e Paisagem em Diálogo

12

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das respectivamente pelo dicionário Robert (“Parte de uma região

[pays] que a natureza apresenta ao olho que a observa”) e pelo

_3((*.%`dc,('94-$%)'%"0/%*'13-$%que se vê sob um único aspecto.

Deve ser observada de um lugar bastante elevado onde todos os

objetos anteriormente dispersos reúnam­se de um único golpe

de vista”).

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ou de conjunto.

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pelo do indivíduo. As primeiras representações picturais da paisa­

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trará que essa solidariedade entre paisagem percebida e sujeito

perceptivo envolve duplo sentido: enquanto horizonte, a paisagem

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Literatura e Paisagem em Diálogo

13

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porque o sujeito, por sua vez, encontra­se englobado pelo espaço.

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vido na perspectiva do que Moles denomina o ponto Aqui­Eu­Ago­

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são, fundada sobre a separação da res extensa e da res cogitans: “o

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meu redor, não diante de mim”.4

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que se pode compreender a retomada de interesse pela paisagem,

atualmente observado em todas as áreas: isso pode ser interpre­

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trico, que não leva em conta o ponto de vista%)$%</&3(/9('=%4'9)$=%

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reivindicar o lugar do sujeito num espaço cada vez mais objetiva­

do e objetivante.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

14

de vista. Isso porque o espaço do mapa não se constrói a partir de

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zontal, uma vez que todos os objetos encontram­se reproduzidos

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reduzido a duas dimensões. Somente os signos convencionais per­

mitem sobrepor a essa imagem essencialmente bidimensional uma

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que tentam reintroduzir a noção de ponto de vista no interior do

'45/A$% !/*($1*F6!$a7%Y% '45/A$% )/% 5/34/1'0=% $*1/93\/)$% /% 5/*(3*%

)'%"0%5$9($%)'%?34(/%^93!$%'%4'1"9)$%"0/%5'*45'!(3?/%<$*3\$9(/;=%

opõe­se em todos os aspectos ao do mapa. Ele “se caracteriza por

um deslizamento de escalas, desde a grande escala em primeiro

5;/9$%/(.%/4%'4!/;/4%!/)/%?'\%0'9$*'4%'0%)3*'A-$%/$%<$*3\$9('e5,

criando­se precisamente sua dimensão de profundidade. Ele com­

porta uma verticalidade. Essas duas dimensões determinam outra

característica distintiva da paisagem: seu aspecto parcial.

Parte

M%5/34/1'0%$:'*'!'%/$%$;</*%/5'9/4%d"0/%parte de uma re­

gião” (Robert). Essa limitação leva em conta dois fatores: a posição

)$%'45'!(/)$*=%>"'%)'('*039/%/%',('94-$%)'%4'"%!/05$%?34"/;=%'%$%

relevo da região observada. E se manifesta de duas formas: pela

!3*!"94!*3A-$%)/%5/34/1'0%/%"0/%;39</%/;.0%)/%>"/;%0/34%9/)/%.%

?342?';=%/%>"'%!</0/*'3%4'"%horizonte externo; 5';/%',34(E9!3/=%9$%

39('*3$*%)$%!/05$%/4430%)';303(/)$=%)'%5/*('4%9-$%?342?'34%`',!'B

r%% %J7%_/!$4('7%dM%>"$3%4'*('%;'%5/T4/1'se7%39%Hérodote.

1977. no 7.

Literatura e Paisagem em Diálogo

15

($%]%!"4(/%%)'%"0%)'4;$!/0'9($%)$%5$9($%)'%?34(/a=%>"'%!</0/*'3%

de seu horizonte interno. c44/%)3/;.(3!/%)$%?342?';%'%)$% 39?342?';%

constitui uma diferença essencial entre o espaço da paisagem e o

do mapa: “o mapa (concluído) representa uma porção do espaço

em sua totalidade, enquanto uma paisagem caracteriza­se neces­

sariamente por espaços que não são visíveis, de um determinado

ponto de vista”6. Não se deve confundir paisagem e panorama: o

panorama tende a retomar o espaço do mapa e a sua visão fora de

/;39</0'9($7

Essas lacunas não são um componente puramente nega­

(3?$%)/%5/34/1'07%H$*%"0%;/)$=%';/4%4-$%5*''9!<3)/4%5';/%5'*!'5­

ção, que sempre ultrapassa o simples dado sensorial, completando

as lacunas. Todo objeto percebido no espaço comporta uma face

$!";(/=%>"'=%4'%'4!/5/%/$%$;</*=%9-$%)'3,/%)'%4'*%;'?/)/%'0%!$9(/%%

5';/%39(';31E9!3/%5'*!'5(3?/%%5/*/%)'('*039/*%%$%4'9(3)$%5*@5*3$%)$%

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('%394(/9('%/$%0'"%$;</*=%5'*!'&'*'3%"0%5')/A$%)'%0/)'3*/=%"0/%

5*/9!</7%p%9/%0')3)/%%'0%>"'%'"%*';/!3$9$%%'44'%/45'!($%)$%$&#'($%%

/%4'"%d$"(*$%;/)$e%=%9$%0$0'9($%$!";($%5/*/%030=%>"'%%$%3)'9(36!$%

como “mesa”. Do mesmo modo o “pedaço” de região que dá a ver a

5/34/1'0%9-$%.%#/0/34%!$943)'*/)$%!$0$%/&4$;"(/0'9('%34$;/)$t%

eu o percebo precisamente como “parte” de uma região mais vasta

>"'%0'%!$05'('%)'4!$&*3*=%?3/#/9)$=%$"%*'!$;<'9)$%$%('4('0"9<$%

de outras pessoas.

% [44$%5$*>"'%/4%:/;</4%9$%?342?';%4-$%(/0&.0%$%>"'%/*(3!";/%

$%!/05$%?34"/;%)$%4"#'3($%%!$0%$%)'%$"(*$4%4"#'3($4f%$%>"'%.%39?342?';%

5/*/%030%'0%)'('*039/)$%394(/9('%.%$%>"'%"0%$"(*$=%9$%0'40$%%

momento, pode ver.7%%M%'4(*"("*/%)$%<$*3\$9('%)/%5/34/1'0%*'?';/

6 Ibid

7 Um mundo no qual o ponto de vista dos outros não

:$44'%%*'!$9<'!3)$%'4(/*3/%5*3?/)$%%)$%<$*3\$9('%'%)/%('*!'3*/%%)30'94-$7%

Literatura e Paisagem em Diálogo

16

que ela 9-$%.%"0/%5"*/%!*3/A-$%)'%0'"%'452*3($=%5'*('9!'%(/9($%/$4%

$"(*$4%>"/9($%/%030=%.%$% ;"1/*%)'%"0/%!$93?E9!3/87%c;/% ;<'%)F%/%

espessura do real e o religa ao conjunto do mundo.

c960=%'44/%;303(/A-$%)$%'45/A$%?342?';%!$9(*3&"3%5/*/%/44'­

gurar a unidade da paisagem.

Conjunto

Justamente porque não se dá a ver por completo, a paisa­

gem se constitui como totalidade coerente; ela forma um “todo”

/5*''942?';%d)'%"0%4@%1$;5'%)'%?34(/e=%5$*>"'%.%:*/10'9(F*3/7%Z0%

!$9#"9($%>"'%9-$%4'%)'69'%4'9-$%5';/%',!;"4-$%)'%)'('*039/)$%9^­

0'*$%)'%';'0'9($4%<'('*$1E9'$47%S'44'%0$)$=%$%<$*3\$9('%)';303­

(/%"0%'45/A$%<$0$1E9'$=%9$%4'3$%)$%>"/;=%!$0$%)3\%_3((*.=%d($)$4%

os objetos dispersos anteriormente reúnem­se”.

c44/%)';303(/A-$%'%'44/%!$9?'*1E9!3/%5*'5/*/0%/%5/34/1'0%

para se tornar quadro. O enquadramento perceptivo invoca a tela,

'%.%'44/%"0/%)/4%*/\D'4%>"'%:/\%)/%5/34/1'0%5'*!'&3)/%"0%$&#'($%

'4(.(3!$=%/5*'!3/)$%'0%('*0$4%)'%&';$%$"%:'3$7

c44'%.%$%!/4$=%5$*%','05;$=%)$%"93?'*4$%4$;35434(/%)'%R$&394$9%)'%

O3!<';%%L$"*93'*=%(/;%!$0$%.%/9/;34/)$%5$*%S';'"\'%'0%4'"%%dH$4:F!3$e%

]%')3A-$%%K$;3$%)'%3"/4%"4.(#*(+"-(+.56"-((4*(7&0.'8*"7%p%(/0&.0%

$%!/4$%)$4%5*30'3*$4%)'4'9<$4%)/%!*3/9A/=%>"'%319$*/%$4%':'3($4%)'%

mascaramento e a profundidade, porque ela ainda não situa nitidamente

seu próprio ponto de vista em relação ao dos outros : ou “a perspectiva

supõe um aposta na relação entre o objeto e o ponto de vista próprio,

tornado consciente de si mesmo (…) e aqui, como em outros lugares,

conscientizar­se do próprio ponto de vista consiste em diferenciá­lo de

$"(*$4%'=%!$94'>"'9('0'9('=%%!$$*)'9FB;$%!$0%';'4e`H3/1'(%'(%[9<';)'*7%

La Représentation de l’espace chez l’enfant).

8 % %C:7%P3;;'4%I/"(('*7%d_'%5/T4/1'%!$00'%!$993?'9!'e7%In

U.*$)$('7%jkuk7%9o 16.

Literatura e Paisagem em Diálogo

17

c44/%!$'*E9!3/=%'44/%!$9?'*1E9!3/%)'%4'"4%';'0'9($4%!$94(3­

("(3?$4%(/0&.0%($*9/%/%5/34/1'0%/5(/%/%-.$/.'0&%(: ela apresenta­

se como uma unidade de sentido=%d:/;/e%]>"';'%>"'%/%$;</7

De onde vem essa -.$/.'0&19#()/%5/34/1'0s%c;/% .%5"*/%'%

simplesmente o produto de discursos, de representações, de mi­

($4%?'3!";/)$4%5$*%"0/%4$!3')/)'%'%4"/%!";("*/s%L/34%431936!/AD'4%

!";("*/34%4'*3/0%6,/)/4=%!/4$%9-$%<$"?'44'%/%5'*!'5A-$% %5*@5*3/%

da paisagem como um chamado aos sentidos? As diferentes ca­

*/!('*24(3!/4%)'4(/!/)/4%9/%)'693A-$%)'%5/34/1'0%:/\'0%)';/%"0/%

'4(*"("*/%5*.B430&@;3!/7%M$%92?';%5'*!'5(3?$%!$94(3("3%"0/%!/0/)/%

de sentidos a partir dos quais as construções semânticas sociocul­

("*/34%5$)'*-$%4'%')36!/*7

c44'%d4'9(3)$%)$%4'9(3)$e%/5/*'!'%!$0$%/%*'4";(/9('%)'%(*E4%

434('0/4%$*1/93\/)$*'4f%$%)/%?34-$%`4"&!$94!3'9('a=%$%)/%%',34(E9­

!3/% `5*.B!$94!3'9('a=%$%)$% 39!$94!3'9('7%I'%/%5/34/1'0%5'*!'&3)/%

431936!/=%.%5$*>"'%.%)'% 30')3/($%/9/;34/)/%?34"/;0'9('=%?3?3)/%'%

)'4'#/)/7%Z0/%4'03@(3!/%)/%5/34/1'0%)'?'*3/%5*$!"*/*%3)'9(36!/*%

'44'4% )3?'*4$4% 39?'4(30'9($4% )'% 4'9(3)$=% !$0%/",2;3$% )$4% !$9<'­

!30'9($4g'9439/0'9($4%)/%543!$643$;$13/=%)/%:'9$0'9$;$13/%'%)/%

543!/9F;34'7%p%'44/%/%/&$*)/1'0%>"'%'4&$A/*'3%9/4%5F139/4%4'1"39­

tes.

SIGNIFICAÇÕES

!$#1*,$#*2*%#"

Y%>"'% :/\%)/%5/34/1'0%"0%!$9#"9($%431936!/9('%.=% 393!3/;­

0'9('=%/%/(3?3)/)'%39:$*0/9('%)/%5'*!'5A-$%?34"/;=%>"'%.%"0/%5*3­

meira forma de organização simbólica. Falou­se a seu propósito

)'% ;$1$4% 305;2!3($=%)'%5'94/0'9($%?34"/;=%)'% 39(';31E9!3/%5'*!'5­

Literatura e Paisagem em Diálogo

18

tiva97%M%?34-$%9-$%4'%;303(/%/%*'134(*/*%$%+",$%)'%%)/)$4%4'942?'34f%

ela o organiza e o interpreta, de forma a torná­lo uma mensagem.

c44/%4'0/9(3\/A-$%5/44/g'9?$;?'%!'*($%9^0'*$%)'%5*$!'44$4%>"'%

*'!"5'*/0%/4%!/*/!('*24(3!/4%)'4(/!/)/4%9/%)'693A-$%)/%5/34/1'0=%

'%>"'%:"9)/0%/%'4(*"("*/%)$%<$*3\$9('%)/%5'*!'5A-$%?34"/;7%

G%Z0/%seleção >"'%d305')'%$%'452*3($%)'%4'%)'3,/*%4"&0'*­

gir numa massa de informação que ele não poderia tratar e com a

qual não saberia o que fazer”107%c44/%.%5*39!35/;0'9('%/%:"9A-$%)$%

<$*3\$9('=%/%)'%305$*%"0%;303('%/$%!/$4%4'94$*3/;=%)'%/!$*)$%!$0%

$% d5*39!253$%)'% !;/"4"*/e=%>"'=%5/*/%/%L'$*3/%)/%P'4(/;(=% .% 39)34­

5'94F?';% %]%)'693A-$%)/%d&$/% :$*0/e7%c44/%4';'(3?3)/)'%('0%"0/%

$*31'0% 39)344$!3/?';0'9('% 543!$;@13!/% '% 643$;@13!/7%S'% "0% ;/)$=%

/%'4(*"("*/%)$4%5*@5*3$4%/5/*';<$4%4'94$*3/34%#F%.%)34!*3039/9('%'%

d!$9(.0%$4%'9>"/)*/0'9($4%)$%'45/A$f%/&'*("*/%)'%!/05$=%!$9)3­

ção de focalização da retina, possibilidades limitadas e precisas de

acomodação...”117%S'%$"(*$%;/)$=%/%0'94/1'0%4';'(3?/%.%30')3/(/­

0'9('%39('*5*'(/)/%'0%:"9A-$%)'%'4>"'0/4%/)>"3*3)$4%5';/%',5'­

*3E9!3/=%'%>"'%/4%%/5*'9)3\/1'94%4$!3$!";("*/34%?E0%*':$*A/*7%

G%Z0/%antecipação presumível, que permite completar os

dados lacunares da mensagem perceptiva: “ a visão, em vez de se

contentar com a parte visível, completa o objeto […] A organização

perceptiva não se limita, portanto, ao material diretamente forne­

!3)$t%';/%5*$!"*/%(/0&.0%)/*%!$9(/%)$4%5*$;$91/0'9($4%39?342?'34=%

9$4% >"/34% *'!$9<'!'% 5/*('4% /"(E9(3!/4% )$% ?342?';e12. A estrutura

k%% %C:7%9$(/)/0'9('%R7%M*9<'307%La pensée visuelle.

Flammarion, et J. Paliard, Pensée implicite et perception visuelle, PUF.

10% M*9<'30=%op.cit.

11% %Q7%P"3;;/"039=%d_'%5/T4/1'%%)/94%;'%*'1/*)'%)v"9%%

54T!</9/;T4('t%*'9!$9(*'%/?'!%;'4%1.$1*/5<'4e=%39%Bulletin du centre de

recherches sur l’environnement géographique et social,%Z93?'*43(.%)'%

_T$9%[[=%jkur=%9o 3.

12% %%M*9<'30=%op. cit.

Literatura e Paisagem em Diálogo

19

)$%<$*3\$9('%5'*03('%/$%0'40$%('05$%',!;"3*%)$%?342?';%"0%!'*­

($%9^0'*$%)'%';'0'9($4%',!')'9('4%'% 39('1*FB;$4%]% 39('*5*'(/A-$%

da mensagem: caso não estejam presentes no campo visual, eles

4-$%d/5*'4'9(/)$4e=%d)/)$4%'0%<$*3\$9('e7%c%.%344$%>"'%/44'1"*/%/%

!$9(39"3)/)'%)/%',5;$*/A-$%5'*!'5(3?/=%/"($*3\/%/%5/44/1'0%4'0%

ruptura de um aspecto a outro do objeto ou do lugar, que preserva

/%"93)/)'%)'%4"/%431936!/A-$%9/%)3?'*43)/)'%)'%4'"4%d5'*64e%$"%)'%

suas perspectivas.

%G%Z0/%relação7%i'*%.%d?'*%'0%*';/A-$e13=%!/)/%$&#'($%.%5'*­

!'&3)$%'%39('*5*'(/)$%'0%:"9A-$%)'%4'"%!$9(',($=%)'%4'"%<$*3\$9('7%

Tal característica aparece muito particularmente na percepção da

5/34/1'0=%>"'%.%4'05*'%d?34-$%)'%!$9#"9($e7%H*39!35/;0'9('%5$*­

que ela implica uma certa distância : ora, a apreciação da distância

'%)/%5*$:"9)3)/)'%.=% 4'0%)^?3)/=%$%5*$!'44$%>"'% 305;3!/%$% !$9­

fronto dos mais numerosos parâmetros: Gibson enumera quatorze

“analisadores da distância”14. Quer dizer que a percepção do lon­

129>"$=%4'0%$%>"/;%9-$%<F%5/34/1'0=%.%"0%/($%)'%5'94/0'9($%',B

(*'0/0'9('%4$64(3!/)$15. Essa pode ser uma das razões pelas quais

13% % %M*9<'30=%op. cit.

14% % c9(*'%'44'4%!*3(.*3$4%)'%$&4'*?/A-$%)/%

distância, encontram­se parâmetros dinâmicos (como o movimento de

$&#'($4a%'%'4(F(3!$4%`d!$9?'*1E9!3/4=%5'*45'!(3?/4=%':'3($4%)'%(',("*/=%

de nuances, de intensidade da luz, de nitidez...”). cf. J.­J. Gibson, The

Perception of The Visual World.

15% % %M%!$**'A-$%>"'%/%39(';31E9!3/%5'*!'5(3?/%

305D'%/$4%)/)$4%4'94$*3/34%.%/39)/%0/34%305$*(/9('%>"/9($%0/34%)34(/9('%

'4(F%$%$&#'($7%c0%'45'!3/;=%/%)34(N9!3/%'9(*'%$%4'"%(/0/9<$%/5/*'9('%'%$%

4'"%(/0/9<$%*'/;%4@%5$)'%4'*%5*''9!<3)/%1*/A/4%/%"0/%!$**'A-$%)'%'4!/;/%

>"'%%.%"0%?'*)/)'3*$%(*/&/;<$%)'%430&$;3\/A-$%)$%4'942?';7%C:7%H/;3/*)=

op. cit.%dV/%?34-$%/$%;$91'=%.%305$442?';%?'*0$4%9/%1*/9)'\/%/5/*'9('%/%

',5*'44-$%4'942?';=%0'40$%/5*$,30/)/=%%)/%1*/9)'\/%*'/;=%9@4%)'3,/0$4%%

(/0&.0%)'%%3)'9(36!/*%)'%"0%/%$"(*$%$%$&#'($%?342?';%%'%$%$&#'($%*'/;7%Y%

430&$;340$%?34"/;%%($0/%!$94!3E9!3/%)'%43%0'40$%%!$0$%430&$;340$e7%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Literatura e Paisagem em Diálogo

20

/4%)34(N9!3/4%1$\/0=%9/%5/34/1'0=%)'%!'*($%5*3?3;.13$%430&@;3!$%'%

'4(.(3!$16.

De um modo geral, deve­se perguntar o que predispõe a

5/34/1'0=%'0%)'('*039/)$%!$9(',($%<34(@*3!$%'%4$!3/;=%/%($*9/*B4'%

$&#'($%'4(.(3!$7%H$)'*2/0$4%:$*0";/*%/%4'1"39('%<35@('4'f%.%&';/%/%

5/34/1'0%!"#/4%5*@5*3/4%'4(*"("*/4%%`)'?3)/4%/$%*';'?$=%]%;"039$­

sidade) reforçam a organização (seletiva e relacional) que a inteli­

1E9!3/%5'*!'5(3?/%305D'%/%($)$%$&#'($%'45/!3/;7%M%'4(.(3!/=%)'%4"/%

5/*('%`/%5/34/1'0%53!("*/;=%5$*%','05;$a=%('0%/%(/*':/%)'%39('*5*'­

(/*%$"%)'%',5;3!3(/*=%4'1"9)$%$4%!@)31$4%)'%"0/%!";("*/%'%'0%:"9A-$%

)'%'4!$;</4%',34('9!3/34%'%39!$94!3'9('4%)$%39)3?2)"$%!*3/)$*=%'44/%

estruturação presente na aisthesis.%Y%$;<$%.=%/%4"/%0/9'3*/=%/*(34­

ta, paisagista.

% c9(*'(/9($=% 9-$% 4@% $% $;<$% % '4(F% '0% !/"4/% 9/% 5'*!'5A-$%

do espaço e das paisagens. O corpo inteiro está aí implicado. Por

','05;$=%/%/?/;3/A-$%?34"/;%)/%?'*(3!/;3)/)'%'4(F%4"#'3(/%]4%*'1";/­

ções de equilíbrio que abrangem toda a estática do corpo. Se con­

siderarmos a psicogênese do espaço, parece que a sua organiza­

A-$%)'4'9?$;?'B4'%5/*/;';/0'9('%]%)$%'4>"'0/%!$*5$*/;7%H3/1'(%'%

[9<';)'*%)'0$94(*/*/0=%5$*%','05;$=%>"'%/4%*'5*'4'9(/AD'4%'45/­

ciais evoluem em função de diversas conquistas sensório­motoras

)$g9$%/0&3'9('7

Essa mediação do corpo permite o investimento na per­

!'5A-$%)'%431936!/AD'4%5*.B!$94!3'9('4%$"%39!$94!3'9('4%!"#$%'4("­

do aponta para uma fenomenologia e uma psicanálise.

16% % %C:7%5$*%','05;$%J7%8$99':$T7%_vM**3w*'B5/T47%%

“Les sentiers de la criation”. Skira.

Literatura e Paisagem em Diálogo

21

Fenomenologia

% Y%('**3(@*3$%5'*!'5(3?$%.%?3?3)$%!$0$%"0%5*$;$91/0'9($%

)$%5*@5*3$%!$*5$7%O"3($%4'%('0%:/;/)$=%/5@4%$4%(*/&/;<$4%)'%O$;'4%

'%)/%%d5*$,.03!/e%)'%&$;</4%5*$('($*/4=%)'%!$9!</4=%>"'%)'693*3/0%%

$4% ;303('4%)'%"0%d'45/A$%5'44$/;e7%UF%)"/4% :$*0/4%)'%0'94"*FB

los. Ou se referem ao espaço objetivo (o do plano ou o do mapa):

$%>"'%:/\%O$;'4%%>"/9)$%'4(/&';'!'%%$%0$)';$%)'%%!$9!</4%4"!'443­

vas, estendendo­se do quarto ao planeta. Ou se referem ao espa­

A$%5'*!'5(3?$=%>"'%.%$%>"'%9$4%39('*'44/%/>"3=%'%!$9!$*)/0$4=%9/%

'4('3*/%%)'%i$9%Z',xy;=%'0%%*'!$9<'!'*%/2%(*E4%(*/A$4%%)34(39($4f%%$%

'45/A$%30')3/($%$"%5*@,30$%`>"'%4'%43("/%'0%($*9$%)'%0'3$%0'(*$%

9$%0F,30$%)$%4"#'3($=%'%9$%>"/;%/%5'*!'5A-$%9-$%5$)'%/?/;3/*%)'%

0$)$%!$94(/9('%$% (/0/9<$%'%/% :$*0/%)'%$&#'($4a=%$%'45/A$%5*$­

fundo (onde predomina a constância perceptiva), o espaço distante

`/;.0%)'%!'*!/%)'%$3($%>"3;h0'(*$4=%'0%>"'%/%!$94(N9!3/%5'*!'5(3?/%

desaparece)17.

Y%'45/A$%)/%5/34/1'0%!$**'45$9)'%]%4'1"9)/%\$9/=%/%)/%)34­

tância mediana, onde as condições da percepção visual são ideais.

c44/%5*$:"9)3)/)'%)$%!/05$%?34"/;%.%',5'*30'9(/)/%!$0$%"0%?'*­

)/)'3*$%+$*'4!30'9($%)$%'45/A$%!$*5$*/;7%Y%!$*5$%4'%',5/9)'%'0%

)3*'A-$%/$4%;303('4%)$%<$*3\$9('=%>"'=%)'%/;1"0/%:$*0/=%0')'%/%4"/%

envergadura, o palmo de sua presença no mundo.

M4430=% /% 5/34/1'0% )'69'B4'% !$0$% '45/A$% d/$% /;!/9!'% )$%

$;</*e=%0/4%(/0&.0%à disposição do corpot%'%39?'4('B4'%)'%431936­

cações relacionadas a todos os comportamentos possíveis do sujei­

to. O ver leva a um poder7%Y%!/039<$%.%?34($%!$0$%%5'*!$**2?';=%%$%

pomar como comestível, o sino como audível...

Y% !$*5$% ($*9/B4'% $% '3,$% )'% "0/% ?'*)/)'3*/% organização

semântica do espaço que repousa sobre oposições, tais como:

/;($B&/3,$=% )3*'3(/B'4>"'*)/=% :*'9('B(*F4=% 5*@,30$B)34(/9('777%

17 Cf. Guillaumin, op. cit

Literatura e Paisagem em Diálogo

22

c44'4% 5/*'4% /9(3(.(3!$4% !$94(3("'0B4'% !$0$% /4% $5$43AD'4% &39F­

rias que estruturam a língua. Eles formam já uma linguagem,

>"'%)'?'*3/%',5;$*/*%"0/%d4'03@(3!/%)$%0"9)$%9/("*/;e18.

Construídas a partir do corpo, tais oposições são portadoras

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oferece imediatamente como a imagem do porvir. No entanto, essa

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estabelece uma distância psicológica variável. Qualquer problema

profundo do relacionamento intersubjetivo perturba o equilíbrio

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($%5*@,30$%'%%5'4/*%4$&*'%$%/>"3%!$0$%"0/%/0'/A/%'40/1/)$*/=%

ou, ao contrário, tornar­se muito longínquo e escapar no vácuo

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lard207%M%9$A-$%)'%5/34/1'0%(/0&.0%%5$)'%4'*%"(3;3\/)/%5';/%!*2(3!/%

18 Cf. o projeto de Greimas “Pour une

4.03$(3>"'%)"%0$9)'%9/("*';e=%39%Du sens, Le Seuil.

19 Cf. notadamente Introduction à l’analyse

existentielle, Minuit

20% % %C:7%9$(/)/0'9('%Q7BH%I/*(*'7%dS'%;/%>"/;3(.%%

Literatura e Paisagem em Diálogo

23

('0F(3!/%5/*/%%)'4319/*%$%!$9#"9($%)'%'4!$;</4%4'94$*3/34=%!/5/\'4%

)'%*'?';/*%%:$*('4%/(3(")'4%',34('9!3/34%)'%"0%/"($*=%d/4%!$$*)'9/­

das pessoais de uma estadia”, o “registro pessoal do desejável e do

indesejável”21

c44/%?34-$%;2*3!/%)/%5/34/1'0%4$:*'=%.%!;/*$=%/%39+"E9!3/%)'%

0$)';$4%!";("*/347%M%431936!/A-$%/:'(3?/%)'%!'*(/4%5/34/1'94%5$)'%

4'*%!$)36!/)/%5$*%0'3$%)'%?'*)/)'3*$4%'4('*'@(35$4=%>"'%!$9)3!3$­

nam a percepção individual (a do turista, particularmente). Assim,

como as associações que M. Ronai destaca entre o lago e a paz, o

vale e a tranquilidade, o pico e a audácia...22 Entretanto, por um

;/)$=%'44/4%0'40/4%431936!/AD'4%%'4('*'$(35/)/4%%9-$%4-$%!$05;'­

tamente arbitrárias: elas se apóiam sobre estruturas característi­

cas do próprio objeto espacial, que entram em relação metafórica

!$0%/(3(")'4%!$*5$*/34%'%',34('9!3/34%)'('*039/9('4=%5$*%','05;$=%

/%<$*3\$9(/;3)/)'%)$%;/1$%%'4(F%;31/)/%5$*%%"0/%0$(3?/A-$%'?3)'9('%%

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apenas uma atualização possível de virtualidades semânticas da

5/34/1'0=%>"'%!/)/%5'*!'5A-$%39)3?3)"/;%6!/%;3?*'%5/*/%',5;$*/*7%

c960=% >"/;>"'*% >"'% 4'#/% /% 39+"E9!3/% % )'%0$)';$4% !";("*/34=% ';/%%

não nos deve fazer esquecer uma outra: a dos movimentos pulsio­

nais, das motivações inconscientes.

!$00'%*.?.;/(*3!'%)'%;vE(*'e=%39%L’Etre et le néant7%d83&;3$(<w>"'%)'4%%

[).'4e7%P/;;30/*)t%8/!<';/*)=%La Poétique de l’espace, PUF.

21% % %Q7BH7%R3!</*)=%Proust et le monde sensible,

dH$.(3>"'e=%_'%I'"3;=%'(%Micro­lectures=%M?/9(B5*$5$4=%dH$.(3>"'e=%_'%

Seuil.

22% % %O7%R$9/3=%dH/T4/1'4e=%39%Hérodote, no 1.

Literatura e Paisagem em Diálogo

24

Psicanálise

!"#"$%$#%&#'($)%')#'*#*+,-+./'01&*#+-/$-*/+&-2&*#%'#3'+*',&"#

consiste em montar um catálogo de todos os fantasmas que seja sus­

/&245&6#%&#/)+*2'6+7')#'#3&)/&308$#%&##'6,9"'*#3'+*',&-*#243+/'*:#;'-2'*­

mas ligados à fase oral (como a toponímia registra: embocadura do rio,

seio...), à fase anal (o labirinto cloacal de dédalos urbanos), ao complexo

%&# /'*2)'08$# </$)2&*=# /'5+%'%&*=# >9&()'#%$#?$)+7$-2&@=# A# /&-'#3)+"+2+5'##

<9-+8$#%'#2&))'#&#%$#/B9:::@=#&2/:#C')&/&D"&=#-$#&-2'-2$=##>9&#&**&*#5'6$)&*#

fantasmáticos 9-$%4-$%4"6!3'9('4%5/*/%!$94(*"3*%"0/%(35$;$13/%1'*/;,

>9&#%&.-+)+'#a priori #'#*+,-+./'08$#+-/$-*/+&-2&#%&*2'#$9#%'>9&6'#3'+*'­

gem. Corre­se o risco, assim, de se chegar apenas a generalidades muito

5','*=#/$"$#'#%+*2+-08$##3)$3$*2'#3$)#E:#F+"(&)2#&-2)&#&*3'0$*#9)('-$*#

6'(+)4-2+/$*=# /9)5+64-&$*=# 6+,'%$*# A# +"',$#"'2&)-'6=# &# &*3'0$*# # 9)('-$*#

geométricos, retilíneos, associados à imago paternal23#:#G'6#%+*2+-08$=#>9&#

*&#'3H+'#-9"'#3*+/'-I6+*&#%&#')>9B2+3$*=#%&#+-*3+)'08$#J9-,9+'-'=#-8$#B#

necessariamente falsa, porém se situa num nível de imensa generalidade.

E&"&6?'-2&*# '**$/+'01&*# +-/$-*/+&-2&*# *H# 3$%&"# *&)# &5+%&-/+'%'*# # -$#

contexto preciso de uma paisagem particular e de uma economia libidinal

singular. Uma autêntica psicanálise da paisagem passa pelo exame de um

/'*$=#$#>9&#&9#-8$#3$**$#)&'6+7')#'>9+24.

I'%.%5*'!34$%/('*B4'%/%1'9'*/;3)/)'4=%5/*'!'B0'%0/34%39('*'4­

4/9('%',/039/*%!$0$%/4%1*/9)'4%'4(*"("*/4%)/%5/34/1'0%)'4(/!/­

das mais acima podem ser esclarecidas pelo que a psicanálise nos

ensina da gênese do espaço. A organização perceptiva do espaço

!/**'1/%/%0/*!/%)'%"0/%<34(@*3/=%>"'%.%/%)/4%5*30'3*/4% *';/AD'4%

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4-$%5/*(3!";/*0'9('%305$*(/9('4=%'%($)/%5'*!'5A-$%)'%5/34/1'0%%.%

23 S. Rimbert, Géographie des paysages.

24% % %H/*/%','05;$%)'44/%9/("*'\/=%d54T!/9/;T4'%%

)"%5/T4/1'e=%?'*%0'"%;3?*$%%Horizon de Reverdy7%H*'44'4%)'%%;vc!$;'%

V$*0/;'%I"5.*3'"*'7

Literatura e Paisagem em Diálogo

25

capaz de reativar essa impressão.

H$*% ','05;$=% $% estágio do espelho=% '4(")/)$% 5$*% W/;;$9%

et Lacan25 : sabe­se que a passagem do corpo fragmentado a um

primeiro “esquema corporal” integrado efetua­se pela mediação

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)'%!$*5$*/;%]%)34(N9!3/%)'%43%0'40$f%;F=%)$%$"(*$%;/)$%)$%'45';<$7%

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perspectivas que oferecem ao longe a visão de conjuntos espaciais

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reconquistada.

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!$*5$%)'4(/%)'69'%$%5*30'3*$%'45/A$%%'9(*'1"'%]%',5;$*/A-$%)$%4"­

jeito. À medida que a autonomia deste último se desenvolve, o cor­

5$%0/('*9$%%/:/4(/B4'=%%0/4%6!/%5*'4'9('%%5/*/%5*$('1'*%/%!*3/9A/%)'%

/;1"0%5'*31$%'?'9("/;t%';'%!$94(3("3=%)'%>"/;>"'*%0$)$=%$%<$*3\$9('%

do espaço arcaico para garantir a segurança. Jean Guillaumin for­

0";$"%/%<35@('4'%)'%>"'%/%5/34/1'0%/)";(/%1"/*)/%/%0/*!/%)'44'%

suporte maternal : “ela conservará esse caráter de familiaridade, de

segurança , esse aspecto intuitivo de “bolso”, de espaço prazeroso ,

"0%$!$%!$0$%$%!'9(*$%)'%"0%939<$=%(/9($%>"/9($%$%>"/)*$%z|%>"'%

mais ou menos corresponde aos limites do campo visual como se

o envelopasse, coincidindo, assim, com os pilares que oferecem aos

$;<$4%$%!$*5$%%'%$4%1'4($4%/**')$9)/)$4%)/%0-'=%'0%4'1"3)/%$4%0"­

25% % %C:7%U7%W/;;$97%Les origines du caractère chez

l’enfant, PUF; et J. Lacan, “Le stade du mirroir comme formateur de la

function du je”, in Ecrits, Le Seuil.

Literatura e Paisagem em Diálogo

26

*$4%)/%!*'!<'%=%'%'960%%$4%4"5$*('4%0/34%)34(/9('4%)$%<$*3\$9('e26.

L/;% <35@('4'% .% !$96*0/)/% 5';/% /&"9)N9!3/% )'%0'(F:$*/4% "4"/34%

>"'=% 9/% )'4!*3A-$% )'% 5/34/1'94=% *'0'('0% ]% 394(N9!3/% %0/('*9/;f%

!3)/)'\39</%aconchegante ou refúgio no verde , berço do vale...

Resta compreender o modo de presença do objeto arcaico

9/%5/34/1'0f%';'%'4(F=%!$0%':'3($=%5*'4'9('=%0/4%]%distância. Ora,

'44/% )34(N9!3/=% (-$% )'!343?/% 9/% $*1/93\/A-$% )/% 5/34/1'0=% .% "0/%

!$9>"34(/%!"#/%<34(@*3/%!$9:"9)'B4'%!$0%/%)$%4"#'3($7%M%'44'%5*$­

5@43($=%P"3;;/"039%*'!$**'%]%('$*3/%x;'393/9/%%)$4%5*30'3*$4%'4(F­

13$4%)/%'?$;"A-$%39:/9(3;=%*';/!3$9/9)$B$4%%]%(*35/*(3A-$%)$%'45/A$%

perceptivo evocada mais acima.

K9)'-2&#'#3)+"&+)'#L'*&#<&*>9+7$D3')'-H+/'@=#'#/)+'-0'#3$**9+#'3&­

nas “objetos parciais” (partes do corpo materno) que invadem de modo

imprevisto seu ambiente próximo e que ela pode apenas, de forma precá­

ria, incorporar ou agredir oralmente. Algo desta relação com o objeto

4"&434(3*3/%9/%\$9/%d5*$,30/;e%>"'%.%/>"';/%)/%*';/A-$%4',"/;%$"%)/%

/1*'44-$=%'45/A$%9$%>"/;%9'9<"0%!$9(*$;'%)$%$&#'($%.%5$442?';=%'%

)'%$9)'%';'%9-$%5$)'%4'*%?34($%)'%:$*0/%439(.(3!/7%%

Durante a segunda fase (dita depressiva), a criança tem

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4'9)$%!/5/\%)'% 39(*$#'(FB;$=%)'%1"/*)FB;$%!$9431$7%L$)/%/"4E9!3/%

)$%$&#'($%'>"3?/;'%]%4"/%5'*)/%)'693(3?/7%M;1$%*';/!3$9/)$%/% %';'%

se inscreveria no espaço longínquo, polo depressivo da paisagem

=%$9)'%$4%$&#'($4%'4(-$%:$*/%)$%/;!/9!'%%)$%$;</*%'%)$%)'4'#$=%'%>"'%

4'%'9!/*9/%)'%:$*0/%','05;/*%9/%;39</%)$%<$*3\$9('=%*'!"/9)$%]%

medida que o sujeito avança em direção a ela.

A superação da fase depressiva efetua­se no momento em

>"'% /% !*3/9A/% ($*9/B4'% !/5/\% )'% !$9(*$;/*% /% /"4E9!3/% )$% $&#'($=%

substituindo­o por um símbolo, graças ao qual o objeto perdido

poderá ser pr'4'9(36!/)$7%p%$%!/4$=%5$*%','05;$=%)/%!.;'&*'%%$&­

26 J. Guillaumin, op. cit

Literatura e Paisagem em Diálogo

27

servação freudiana fort / da27, que nos mostra a criança simboli­

zando sua mãe ausente com um carretel que ela faz desaparecer e

*'/5/*'!'*=%>"'%%/5*$,30/%'%/:/4(/%]%4"/%?$9(/)'7%p%$%'4(F13$%)$4%

primeiros comportamentos simbólicos: primeiros jogos, primeiras

5/;/?*/4=%)'?3)$%/$4%>"/34%$%$&#'($%.%!$9(*$;/)$=%0'40$%4'%/"4'9('%

ou invisível. Algo relativo ao objeto encontra­se no espaço interme­

)3F*3$=%>"'%.%$%)/%5*$:"9)3)/)'=%9/%>"/;%';'%.%(3)$%]%)34(N9!3/%4'0%

perder­se, presente sem que jamais tal presença torne­se invasora.

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/(3?3)/)'%430&@;3!/%5*@5*3/%]%5'*!'5A-$%?34"/;%7

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&>9+6+()'"# '9*N-/+'# &# 3)&*&-0'=# 3)$O+"+%'%&# &# 'L'*2'"&-2$=# 3$%&# *&)#

comparado ao espaço transicional concebido por Winnicott. Sabe­se que

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2$#&"#>9&#'#/)+'-0'#2$)-'D*&#/'3'7#%&#*&#%&*5&-/+6?')#%&#9"'#QI)&'#%&#

+69*8$R=# %&# 2$%'# 3$2N-/+'# -')/4*+/'# >9&# 6?&# %I# '# +"3)&**8$# %&# /)+')# $*#

objetos, que ela tende a confundir consigo mesma. O objeto transicional

!$94(3("3%d(<'%6*4(%B9$(%0'%5$44'443$9ef%9';'%/%!*3/9A/%*'!$9<'!'%/%

alteridade, mas ainda o utiliza para construir seu universo pessoal.

K&**&#"$%$=#/)+'D*&#9"'#7$-'#+-2&)"&%+I)+'##&-2)&#$#&*3'0$#*9(J&2+5$#&#$#

$(J&2+5$=#>9&#B#$#&*3'0$#2)'-*+/+$-'6S#Q-&**'#I)&'=#'#/)+'-0'#)&T-&#$(J&2$*#

ou fenômenos inerentes à realidade exterior e os utiliza, colocando­os a

*&)5+0$#%$#>9&#&6'#&O2)'+9#%'#)&'6+%'%&#+-2&)-'#$9#3&**$'6R28. Para Winni­

/$22=#&**'#QI)&'#%&#J$,$R#B#$#3)$2H2+3$#%&#2$%$#&*3'0$#/9629)'6=#A#"&%+%'#

que é criada, é uma tentativa de projetar uma realidade pessoal na realida­

de objetiva e coletiva.

27 Nota da tradutor:a fort / da, em alemão,

431936!/%%$%0$?30'9($%)'%/?/9A$%g%*'!"$7%V$%!/4$%/9/;34/)$%5$*%K*'")=%

/%&*39!/)'3*/%)/%!*3/9A/%!$0%"0%!/**'(';%`/5/*'!'*%g%$!";(/*a%'9!'9/%%/%

5*'4'9A/%g%/"4E9!3/%%)/%61"*/%0/('*9/7

28% % %S7%W3993!$((=%Jeu et réalité, “Connaissance

)'%;v39!$94!3'9(e=%P/;;30/*)7

Literatura e Paisagem em Diálogo

28

Podemos dizer, como propõe Guillaumin 29, que a pai­

4/1'0% /44"0'% 5/*/% $% /)";($% /% :"9A-$% )'% "0% /"(E9(3!$% '45/A$%

(*/943!3$9/;s%M%5/34/1'0%.%"0/%39('*:/!'%'9(*'%'45/A$%$&#'(3?$%'%

subjetivo: sua percepção põe em jogo, ao mesmo tempo, o reco­

9<'!30'9($%)'%5*$5*3')/)'4%$&#'(3?/4%'%/%5*$#'A-$%)'%431936!/AD'4%

4"&#'(3?/47%O/4%.%(/0&.0%"0%;"1/*%)'%(*$!/%'9(*'%'45/A$%5'44$/;%

e coletivo: o indivíduo sente­se em sua própria casa na paisagem,

ainda que o aqui pertença a todo o mundo. Ao mesmo tempo lu­

1/*%5^&;3!$%'%5*3?/)$=%/%5/34/1'0%('0%4"/%431936!/A-$%0$)';/)/%

tanto pela memória coletiva quanto pela iniciativa individual. Eu

insisti essencialmente nesta última, porque depois de tudo que foi

)3($%4$&*'%$%!$9)3!3$9/0'9($%4$!3/;%)$%$;</*%`9$(/)/0'9('%$%("­

*24(3!$a=%5/*'!'"B0'%305$*(/9('%5h*%'0%#$1$% %/4%?3*("/;3)/)'4%)'%

sentido envolvidas na percepção mais simples e que permitem ao

indivíduo fazer da paisagem um lugar para ele e não um lugar co­

0"07%%)3:'*'9A/%)'%$"(*$4%'45/A$4%!$)36!/)$4%)'%0/9'3*/%0/34%

*213)/=%/%5/34/1'0%.%"0%'45/A$%plástico, apto a ser refeito por cada

percepção individual que, por sua vez, pode vir a enriquecer, caso

!$9431/% 4'% ',5*'44/*=% /4% *'5*'4'9(/AD'4% !$;'(3?/47%p%5$*% 344$%>"'%

/%5'*!'5A-$%)'%5/34/1'94%!$94(3("3%"0%)'4/6$%9/)/%39431936!/9('%

para nossas sociedades: estando cada vez menos determinada por

"0%?29!";$%:"9!3$9/;%]%%('**/%'%/$%!."=%!/)/%?'\%0'9$4%%*'13)/%5$*%

mitos aceitos universalmente, ela pode ser a oportunidade de uma

39?'9A-$%%5'*0/9'9('%)'%431936!/AD'4%%$"%)'%"0/%*'5'(3A-$%39)'6­

nida de estereótipos.

Tradução de Denise Grimm.R'?34-$%(.!93!/%)'%O/4.%_'0$4%'%[)/%M;?'47

29 J. Guillaumin, op. cit.

Literatura e Paisagem em Diálogo

29

!"#$"%&'(&(%&*%+","

R$&'*($%_$&/($%C$**E/30

c4('%(',($%)'4(39/B4'%/$4%9-$B1'@1*/:$4%39('*'44/)$4%9/%('­

mática da paisagem, tema inscrito na tradição da pesquisa geográ­

6!/=%0/4%(/0&.0%)'%39('*'44'=%/9(31$%$"%9$?$=%)'%!3'9(34(/4=%6;@­

4$:$4%'%)/>"';'4%;31/)$4%]4%<"0/93)/)'47%I"/%39('9A-$%.%$:'*'!'*%

5/*/%*'+',-$%/;1"0/4%)/4%!$9(*3&"3AD'4%)'%1'@1*/:$4=%';/&$*/)/4%

após 1970, a respeito da paisagem.

Y%(',($%'4(F%)3?3)3)$%'0%)"/4%5/*('47%V/%5*30'3*/%*'41/(/B

se brevemente a tradição de pesquisa e o percurso realizado ao se

estudar a paisagem. Na segunda, e mais importante parte, apre­

4'9(/0B4'% /;1"0/4% )/4% 5*39!35/34% !$9(*3&"3AD'4% )$4% 1'@1*/:$4% ]%

temática em tela.

1 A Tradição e o Percurso dos Estudos sobre a Pai­sagem

M%5/34/1'0% ('0%43)$%$&#'($%)'% 39('*'44'%)$4%1'@1*/:$4%<F%

0"3($% ('05$7%c4('% 39('*'44'=% !$9(")$=%9-$% :$3%<$0$1E9'$=%/5*'­

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períodos, que a seguir serão brevemente apresentados. Os períodos

são aqueles sugeridos por Claval (1999) a propósito do percurso da

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30% %ZKRQgVcHcC7

Literatura e Paisagem em Diálogo

30

te e dotadas de funções que as articulam, gerando um quadro inte­

grado e funcional para a vida do grupo que ali vive e que criou, nas

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logia, quer dizer, as suas formas.

Inúmeros estudos foram realizados na Europa, secundaria­

mente nos Estados Unidos, e nas áreas coloniais, sobretudo Ásia e

África. Estes estudos constituem narrativas de “outsiders”, muitos

realizando suas teses de doutorado, procurando, em muitos casos,

a lógica interna ao grupo social que construiu e vive naquela pai­

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ricas sobre a temática em tela. Sobre o assunto consulte­se, entre

outros, Claval (1999, 2004), que resgata a trajetória dos estudos

dos geógrafos sobre a paisagem, e Sauer (1998, 2000) que tem uma

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caracteriza­se pela profunda diminuição do interesse pela paisa­

gem como objeto de estudo. A Segunda Guerra Mundial e a reto­

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outros aspectos, na transformação das paisagens rural e urbana.

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criados. A paisagem está em mutação e os interesses dos geógrafos

se voltam para as análises regionais (1940­1955) e para o processo

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Literatura e Paisagem em Diálogo

31

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como tema do passado, sem praticidade, sendo então colocada em

plano marginal. O seu resgate se faria com base em outros referen­

ciais, distintos daqueles do primeiro período (CLAVAL, 1999).

O período que se estende de 1970 ao presente, caracteriza­

se pelo ressurgimento da paisagem como tema relevante para os

geógrafos. O ressurgimento se fez com bases em versões da feno­

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uma importante participação no ressurgimento dos estudos geo­

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metida a inúmeras críticas. A visão simples e aparentemente não­

problemática foi questionada no que diz respeito a se considerar

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ferenciada e a natureza, constituindo­se em objeto fundamental

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daquelas de Cosgrove no começo dos anos 80 (COSGROVE, 1984,

1985). Estas críticas estavam alicerçadas nas proposições teóricas

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Às críticas emergem as primeiras proposições teóricas e

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(COSGROVE, 1984) e o estudo da “paisagem palladiana”, situada

Literatura e Paisagem em Diálogo

32

em Veneza e em sua região, relativo ao período do Renascimento

constitui­se em marca da renovação conceitual de paisagem (COS­

GROVE, 1993). Ver ainda Cosgrove (2002).

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na perspectiva pós­70. Ressalte­se, antes de referir­se a algumas

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rio e Espaço=%$*1/93\/)$%5$*%b7%R$4'9)/<;%'%R7_7%C$**E/=%5"&;3!/)$%

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mais importantes contribuições dos geógrafos sobre a paisagem

serão apresentadas.

2 A Paisagem: Contribuições Recentes dos Geógra­fos

Inúmeras foram as contribuições dos geógrafos sobre a pai­

4/1'07%V'4(/%4'A-$%/;1"0/4%)';/4=%?39!";/)/4%]%1'$1*/6/%!";("*/;%

pós­70, serão apresentadas. Estamos longe de esgotar as contri­

buições dos geógrafos e muitas delas não serão aqui discutidas,

remetendo­se o leitor para a leitura de Claval (2004). As contribui­

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paisagem e literatura.

Literatura e Paisagem em Diálogo

33

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pregnada de mensagens. A apreensão destas mensagens, no en­

(/9($=%9-$%4'%:/\%)3*'(/%'%30')3/(/0'9('=%0/4%.%0')3/(3\/)/%5';/%

nossa imaginação, que captura as imagens e as transforma metafo­

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admite uma interpretação direta e imediata, assim como se nega a

perspectiva intencionalista, que advoga ser apenas necessário as

intenções daqueles que produziram a paisagem para se compre­

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retórica da verdade daqueles que querem impor uma única inter­

pretação a respeito de processos e formas, entre eles a paisagem.

A polivocalidade aparece, então, como o conteúdo de um embate

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A respeito da polivocalidade da paisagem Meinig (2003) ar­

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se esconde em nossas mentes.” (p. 35).

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bida para 10 pessoas, cada uma com visões distintas de mundo. A

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(1990) sobre as interpretações da paisagem urbana na cidade de

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!$0$%"0%(',($%/%5/34/1'0%.%39('*5*'(/)/%)3:'*'9('0'9('%4'1"9)$%

o rei, de acordo com os nobres e a partir da população. Códigos dis­

Literatura e Paisagem em Diálogo

34

tintos constituem poderosos alicerces das interpretações distintas

4$&*'%$%0'40$%(',($7

Na interpretação da paisagem, argumentam Duncan (1990)

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cedimentos. Cosgrove e Daniels (1988) incorporam na análise da

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níveis analíticos para interpretar as obras de arte. No primeiro

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de iconologia.

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(1998) analisam o monumento dedicado a Vittorio Emanele II, o

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bólicos pode ser feita em diferentes escalas espaciais, como o da

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5'!(3?/%)'%4'"4%431936!/)$4%5$;2(3!$47

2.2 Paisagem, diferenciação social e poder

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Literatura e Paisagem em Diálogo

35

das paisagens alternativas, constituído pela paisagem emergente,

produto da ação de grupos emergentes, que anunciam um possí­

vel futuro, e pela paisagem residual, resultado da ação de grupo

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Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro constituem características da

paisagem da classe dominante e de paisagem emergente, enquanto

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poderosa paisagem dominante em escala global. As áreas de corti­

ços, por outro lado, descrevem uma paisagem residual, caracterís­

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A contribuição de Cosgrove enriquece o debate sobre o con­

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temporalidades e espacialidades, assim como de seu movimento.

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1E9'/%'0%('*0$4%)'%*'9)/%'%5$)'*7

2.3 Paisagem: marca, matriz e mudanças

Augustin Berque em 1981 (BERQUE, 1998) traz para dis­

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modelava a natureza, criando um quadro onde vivia. A paisagem,

Literatura e Paisagem em Diálogo

36

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funcional e simbólico. Funcional porque os elementos que consti­

tuem a paisagem são úteis para o processo produtivo e as relações

sociais; simbólico porque a paisagem está emocionalmente inscrita

no imaginário social, constituindo­se em símbolo de estabilidade e

segurança que deve permanecer.

Mudanças profundas podem romper a estabilidade social e a

5/34/1'0%>"'%/%/!$05/9</7%M%0$)'*93\/A-$%'%39)"4(*3/;3\/A-$%)$%

campo e a industrialização na cidade constituem forças poderosas

que desestabilizam a relação marca­matriz. A mudança, que envol­

ve um certo prazo de tempo, constitui­se em relevante tema para

ser analisado, pois envolve tensões e negociações entre distintos

agentes sociais visando (re)construir uma dada paisagem, condi­

\'9('%!$0%$4%4'"4% 39('*'44'47%M%('94-$%'9(*'%5'*0/9E9!3/%'%0"­

dança, entre passado, presente e futuro, manifesta­se, no entanto,

diferenciadamente ao se considerar o rural e o urbano.

A paisagem do presente pode apagar práticas e relações so­

ciais do passado por meio de profundas transformações na paisa­

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ças em relação ao do passado. Esta substituição pode ter ocorrido

mais de uma vez, produzindo uma sucessão de paisagens desapa­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

37

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“Califórnia brasileira”. A paisagem das áreas de cerrado e de cam­

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simbólico. As transformações no urbano se fazem mais por meio

da incorporação de novas áreas ao tecido urbano, do que por pro­

fundas erradicações, como no caso da paisagem rural. A paisagem

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Neste local a memória pode ser ativada mais facilmente.

2.4 Paisagem da simulação

A paisagem tem, em princípio, uma temporalidade e espa­

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meio de conquista territorial ou de colonização. Tais paisagens, to­

davia, acabam sendo incorporadas aos novos lugares, passando a

fazer parte deles. Estas novas paisagens podem apresentar maior

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Literatura e Paisagem em Diálogo

38

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(1990). Trata­se de paisagens espacial e temporalmente descon­

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Estas paisagens reproduzem atividades e formas de outros lugares

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avançado (CORRÊA, 2010).

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nização da paisagem no centro de Blumenau, Santa Catarina. O

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ampliar o espaço do turismo naquela cidade norte­americana. O

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lo, que gerou a possibilidade de criar um bairro por meio da com­

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referido estilo. Com origem na colonização alemã no vale do Itajaí,

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foi implementada, obrigando que no centro da cidade as constru­

ções seriam no estilo bávaro. Com isto a paisagem urbana foi alte­

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2.5 Paisagem e literatura

O interesse dos geógrafos pela produção literária como fonte

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Literatura e Paisagem em Diálogo

39

te, situando­se sobretudo após 1970. Este interesse manifestou­se,

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Brosseau (1996), que se constitui em uma avaliação crítica e propo­

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ratura como fonte para os geógrafos, seguindo­se um conjunto de

interpretações efetivadas por ele mesmo sobre alguns romances.

Os dois primeiros capítulos do livro de Brosseau foram publica­

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rária. Segundo ele os geógrafos ao considerarem a literatura como

fonte para análise da paisagem, assim como de outros temas, o fa­

zem segundo perspectivas que não envolvem um diálogo entre a

visão do geógrafo e a do romancista. Brosseau, neste sentido, con­

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se parte integrante da trama e não apenas um necessário pano de

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3 Considerações Finais

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Literatura e Paisagem em Diálogo

40

acordo com distintas matrizes e sub­temas.

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partir das distintas visões das disciplinas que se interessam pela

paisagem. Pois elas, parafraseando Cosgrove, estão em toda parte,

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Referências

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Literatura e Paisagem em Diálogo

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Literatura e Paisagem em Diálogo

45

Paisagem simbólica como descrição da perso­nalidade do lugar: a certidão de nascimento do Brasil

b'9T%R$4'9)/<;31

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portância na sociedade. Alguns assinalam com destaque o papel

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cam em jogo efeitos do poder. Outra perspectiva de interpretação

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formas simbólicas de poder e de dominação. As relações entre po­

lítica, religião e espaço manifestam­se de diferentes modos e suas

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tórios político­administrativos com limites rigidamente estabele­

!3)$4=% !$961"*/9)$%0"93!253$4=%'4(/)$4%'%5/24'47%H/*/%/44'1"*/*%

a unidade de comando necessária para uma ação coletiva, o poder

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territórios religiosos, dioceses e paróquias, da Igreja Católica Apos­

tólica Romana são manifestações em que a Instituição Religiosa

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Literatura e Paisagem em Diálogo

46

Roma, o Território­Estado, da Instituição Religiosa Católica Apos­

tólica Romana.

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cultural renovada está amplamente preocupada com a identidade

cultural, com o conceito de lugar e o simbolismo de coisas e obje­

tos na paisagem. Os geógrafos focalizam a maneira como os gru­

5$4%!";("*/34%!*3/0%5/34/1'94%'=%5$*%4"/%?'\=% (E0%4"/% 3)'9(3)/)'%

cultural reforçada por essa paisagem. O conceito de paisagem, na

1'$1*/6/%!";("*/;%*'9$?/)/=%'9:/(3\/%/4%!/*/!('*24(3!/4%0/('*3/34%'%

imateriais da cultura.

Nas relações entre política, religião e espaço as práticas es­

paciais são colocadas em ação por agentes sociais vinculados di­

retamente ou não a uma dada religião. Práticas espaciais são um

conjunto de ações atuando diretamente sobre o espaço visando

/;!/9A/*%/;1"0%607%M4%5*F(3!/4%'45/!3/34%*';313$4/4%(E0%5$*%69/­

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âmago da comunidade de crentes em que participa (STODDARD,

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ção permite a leitura da dimensão político­espacial da religião em

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“O espaço assume uma dimensão simbólica e cultural onde se en­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

47

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espaciais acentuam o domínio político de grupos nacionais civis

que possuem autoridade quase religiosa.

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las, por outro lado, estão no âmbito de cada religião, institucional

que confere unidade funcional e política a religião. As múltiplas

escalas decorrem em razão da religião constituir­se em instituições

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primeiras, pontuais, diferenciam­se entre si em virtude de funções

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entre si e originam escalas espaciais de ação da religião.

A análise da dinâmica do poder e da sua ação em diferentes

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fazer com que os grupos religiosos sobrevivam e para estabelecer

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as sociedades onde uma parte das formas do poder se autono­

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controle ou escala de mando” (CASTRO, 2009, p. 586) que a

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Literatura e Paisagem em Diálogo

48

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sentido de sua presença neste mundo. Como uma dada sociedade

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lugar, na paisagem.

A literatura, pós­1970, aponta inúmeras pesquisas na inter­

pretação da identidade no lugar e do lugar. Os geógrafos focalizam

a maneira como os grupos culturais criam paisagens e, por sua vez,

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tural de Sauer e dos geógrafos europeus. Para o autor, a simbolo­

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música e cinema, considerada a sua representação a partir da ótica

de diferentes grupos sociais. Paisagem e simbolismo representam

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Literatura e Paisagem em Diálogo

49

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vas teorias na interpretação da paisagem, do imaginário e do sim­

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EdUERJ, de 1998.

Na tentativa de interpretar a paisagem simbólica contida

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será empregada no sentido da paisagem como cena real vista por

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continuadamente tirando conclusões e estabelecendo relações com

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um grupo com poder sobre outro. O grupo determina, de acordo

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em grande medida, pela sua capacidade de projetar e comunicar.

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sua natureza, estão menos visíveis nas paisagens do que as domi­

nantes, apesar de que, com uma mudança na escala de observação,

poderá parecer dominante uma cultura subordinada ou alterna­

tiva. Este artigo privilegiará a paisagem da cultura dominante no

Literatura e Paisagem em Diálogo

50

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contemporâneos.

Figura 1 – A primeira missa no Brasil (1861).

Fonte: Museu Nacional de Belas Artes.

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de de São Sebastião do Rio de Janeiro. A representação simbólica

da Primeira Missa, rezada em solo brasileiro no ano de 1500, re­

trata o ritual religioso do poder luso­católico sobre os nativos. A

tela representa a certidão de nascimento do Brasil na construção

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Literatura e Paisagem em Diálogo

51

e do domínio cristão sobre os não­cristãos, aparece em destaque

na pintura. O ritual de celebração da missa, com o altar, a Bíblia,

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Deus revelando claramente que o país nascia luso­católico, com

forte devoção ao sagrado. Era a manifestação patente de que o

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eucaristia era um sinal peculiar da religião católica, em oposição

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O símbolo religioso da cruz colocado na pintura, a cruz de

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recordar a prova do verdadeiro amor entre os cristãos que signi­

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III (d.C). A cruz como representação metafórica da comunidade

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quem iniciou o impacto político sobre o cristianismo, essa atuação

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Literatura e Paisagem em Diálogo

52

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do sol, tendo a inscrição; com isto vencerás.” (CARROLL, 2002, p.

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tiu que o imperador Constantino utilizasse desse sinal de salvação

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construídos em torno do mito ressaltam que o novo estandarte de­

nominado a “lança e a barra transversa” foi o estandarte militar

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e universalizante podia servir ao objetivo do imperador. A cruz,

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sua evocação das quatro direções: o norte, o sul, o leste e o oeste

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religioso está impregnado do poder do sagrado.

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especial traduzida na sua confecção em ouro e em jóias em geral,

foi o primeiro momento de uso de imagens sagradas em local não

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objetos sagrados fora dos espaços sagrados. A imaginação cristã

mudaria após a inovação do imperador Constantino, o valor sim­

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cristianismo permanecesse para sempre separado do judaísmo. A

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Literatura e Paisagem em Diálogo

53

mana da pena de morte. Assim, o valor simbólico estava em torno

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igrejas cristãs.

A cruz se tornaria um objeto de adoração e como um meio

de afastar qualquer mal e os seus efeitos. Carroll (2002) relata que

os iconoclastas bizantinos, no período após Constantino, ao elimi­

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em nossa análise, na certidão de nascimento do Brasil, marca o

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letras inicias da palavra grega para o nome Jesus, mas depois do

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Constantino ainda permanece.

A tela da Primeira Missa no Brasil possui como representa­

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durante a missa, no momento da consagração. Este momento qua­

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sus Cristo, no alto do Gólgota, em celebração de graça divina como

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Literatura e Paisagem em Diálogo

54

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sociedade colonial brasileira nasceu. A dinâmica da ação missioná­

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!/039<$%)'%!$05$*(/0'9($%*';313$4$=%$%!$05$*(/0'9($%!/(@;3!$%

5$*("1"E47%

Os nativos foram os primeiros convertidos no território bra­

43;'3*$%'%9-$%(3?'*/0%$"(*/%$5A-$%)'%'4!$;</7%M%!$9?'*4-$%/!/**'($"%

a perda de sua identidade cultural, a renúncia aos seus cultos e

as suas tradições religiosas. A tela da )"%,.49#(4"(A&-0.5"/,#(4#(

Brasil *'(*/(/%$4%9/(3?$4%9/%5/*('%39:'*3$*%)/%539("*/=%5$*.0%'44'4%

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nativo brasileiro optou por pintar os nativos da America Central.

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C$0"91$%!$0%/4%3).3/4%)'%Q/0'4%C/**$;;7%M%039</%39('*5*'­

tação não visa negar ou estabelecer a autenticidade do que relatei,

0/4%!/039</*%9/%*'+',-$%)$4%';'0'9($4%!$9(3)$4%9/%5/34/1'0%*'­

(*/(/)/7%R'!$9<'!'*=%!$0%?$!E4=%/%?34-$%)/%!*"\%!$0$%$%03($%:"9)/­

dor do Estado Igreja e da Igreja e do Estado que perdura ao longo

)/%<34(@*3/7%c9:/(3\/*=%(/0&.0=%$%/5';$%)/%!*"\%!$0$%420&$;$%"93­

versal e particularmente nesta pintura, que representa a Primeira

O344/%9/%3;</%)'%3"%&()%*B(e Terra de C&/,&()%*BD(Denominações

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H$*("1"E4%'%/%9$44/%3)'9(3)/)'%4$!3/;%'% #"*2)3!/%'4(F% 305*'19/)/%

de valores cristãos.

A contribuição do geógrafo no estudo de uma determinada

paisagem deve priorizar dois fatos fundamentais para entender­

Literatura e Paisagem em Diálogo

55

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!3/34%430&@;3!/4%!$9(3)/4%9/%/A-$%<"0/9/7

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K*/9!34!$t%_YWcVBIMUR=%C'!3;3/9%_"2\/t%I[_iM=%OF*!3/%`Y*147a7%Espaço

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CYIPRYic=%S'9347%M%1'$1*/6/%'4(F%'0%($)/%5/*('f%!";("*/%'%430­

&$;340$%9/4%5/34/1'94%<"0/9/47%[9f%CYRRÇM=%R$&'*($%_$&/($t%RYbcV­

Literatura e Paisagem em Diálogo

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E5"%.0&(&,(,;"(4&F/(#G(,;"(HIJ()"/,*%K7%Y,:$*)f%Y,:$*)%Z93?'*43(T%H*'44=%

2003. p. 759­767.

Literatura e Paisagem em Diálogo

57

Movendo espaços: notas sobre Instaurações Situacionais

Cecilia Cotrim

Y%Q"9x45/!'%.%5@4B',34('9!3/;7

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#F% 5$4($% $% )'4'#$% )'% 4'% 5'94/*% )'% $"(*/% :$*0/%G%5'94/*% 4'9­

sivelmente, sensorialmente, pensar o ainda não­articulado, o

impensado.

(BASBAUM,

Figura 1 – Diagrama Membranosa­entre.

Fonte: Basbaum (2009a).

Um dispositivo atravessado por deslocamentos progressivos

1'*/=% /$% ?3?$=% "0/% 394(F?';% *'13-$=% )'4'9<$%>"'% 4'% )'4)$&*/% '0%

Literatura e Paisagem em Diálogo

58

!$9(/($B6!AD'4B!$0&/('732 O que nos convoca aqui são obras que

reescrevem situações: a cada momento, novos ritmos, novos ter­

reiros33%3*-$%)';39'/*B4'=%0$?'9)$%'45/A$47%S'4'#/B4'%$"(*/4%;39</4%

críticas: instaurações situacionais.

L'9<$%(*/&/;</)$%$%)3/1*/0/%!$0$%:'**/0'9(/%G%"(3;3­

zando­o para abrir e ocupar um tipo de espaço intermediário

'9(*'%)34!"*4$%'%$&*/%)'%/*('7%UF%"0%5*$!'44$%)'%!$94(*"A-$%

para se obter tal espaço, aglutinando palavras e tecendo um

'45/A$%)39N03!$%!$0%;39</4%'%)3?'*4$4%';'0'9($4%?34"/347%I$­

&*'(")$=%<F%/%&"4!/%5$*%394(/"*/*%9$%)'4'9<$%29)3!'4%)'%*3(0$%

e pulsação: sem um adequado padrão rítmico o diagrama não

funciona. Sim, pulsação, produção de ressonância, vibração

*2(03!/%G%4-$%/%1/*/9(3/%)'%>"'%$%)3/1*/0/%4'%0$?'%'%5*$)"\%

as necessárias inscrições, sem as quais permaneceria abstração

>"'%9-$%39('*?.0=%9-$%0$?'%'45/A$4%9'0%$!"5/%*'13D'47%`8MI­

BAUM, 2010)

Em suas múltiplas conjunções de acontecimentos, sets de

)'!34D'4%'%;$!/;3\/AD'4=%$%)3/1*/0/%)'+/1*/%"0%0$?30'9($%!*2(3!$=%

inscrevendo o aspecto problemático das proposições que ali se des­

32 Aqui, aproximo 3 termos que aparecem isolados, embora

&"#9"'#)&6'08$#%&#5+7+-?'-0'=#-$#%+',)'"'#%'#+-*2'6'08$#Membranosa­entre

(BASBAUM, 2009a).

33% % H/*/%R3!/*)$%8/4&/"0=% d$% ('*0$% ('**'3*$% .% "(3­

lizado sem qualquer sentido religioso ou místico, mas enquanto

*':'*E9!3/% /% "0% '45/A$%0^;(35;$% '% 5;"*/;% /&'*($% /% (*$!/4=% (*/94­

:$*0/AD'4=% !$9?'*4/4=% !';'&*/AD'4=% #$1$4% 9/**/(3?$4=% *':'*E9!3/4%

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!$*5$*'3)/)'7%M;.0%)344$=%5/*'!'%39('*'44/9('%*'3?39)3!/*%/%4391"­

;/*3)/)'%)/4%!$9+"E9!3/4%/:*$B&*/43;'3*/4%!$0$%5$*(/)$*/4%)'%5*$­

vocação ao pensamento.” (BASBAUM, 2009b, p. 202, grifo nosso).

Literatura e Paisagem em Diálogo

59

)$&*/0=%)'%0$)$%/("/;g?3*("/;f%/%30/1'0%)'%"0 parangolé imate­

rial34%(/;?'\%5$44/%39)3!/*%/%!$05;',3)/)'%>"'%39434('%9'44/%'4!*3(/7%

Membranosa­entre, de Ricardo Basbaum, joga com a modalidade

do intersticial: instalada e concebida especialmente para o interior

de uma galeria de arte de São Paulo, a peça cria um jogo de planos

'%*'44$9N9!3/4=%)'4'9</9)$%G%!$0%!$*5$4=%5'*!"*4$4=%5$'0/4=%6!­

AD'4%G=%('**3(@*3$4%5*$?34@*3$4%>"'%5'*!'&'0$4%!$0$%!*"\/0'9($4%

da arte e do dispositivo metropolitano.35 Trata­se da constituição

de um vocabulário impuro, que pode gerar superpronomes. Atitu­

)'4=%'4!$;</4=%03!*$5'*!'5AD'4%'%)'4;$!/0'9($4%'91'9)*/0%"0/%

arquitetura do devir. “Ligações raras percussonantes”. Desvian­

do da condição abstrata, a obra instaura um campo que se dá em

5*$!'44$=%',5'*3E9!3/B;303('%)'%"0/%'4!*3(/% !/5(/)/%'0% ($)$4%$4%

lances pelo diagrama, e relançada por Sistema­cinema. [As ima­

1'94%*'4?/;/0%)/2%5/*/%"0%/!^0";$%39/("/;=%]%'45'*/%)'%4'9(3)$7|%

_39</4%4'%0$?'0%'9(*'%5*'4'9A/B/"4E9!3/f%0"*$4=%(*/A$4=%&"*/!$4=%

/!';'*/AD'47%M%5/34/1'0%.%puro trânsito. Os blocos­membranosa

5*$?$!/0%',5/94D'4%6!!3$9/34=% 39693($4% *'&/(30'9($4%$;</*B!$*­

po­mente, potencializando saltos, giros críticos, núcleos de gravi­

dade: perguntas dentro da pergunta:

De fato, o que Você gostaria de participar de uma expe­

riência artística? produz, em seus muitos resultados? Somente

G%0/4% 344$%9-$%.%5$"!$%G%/5*$,30/AD'4%]%/;'1*3/%)$%'9310/=%

perguntas multiplicadas, a dúvida irredutível do poema. (BAS­

BAUM, 2008, p. 186).

34 Z#*9,&*28$#B#%&#F+/')%$#['*('9":

35 Em Antonio Negri (2008, p. 201­202), dispositivo

metropolitano%431936!/*3/%d"0%!$9#"9($%)'%4391";/*3)/)'4=%"0/%

0";(35;3!3)/)'%)'%1*"5$4%'%4"&#'(3?3)/)'4%>"'%)-$%:$*0/%/9(/1h93!/%/$%

espaço metropolitano.”

Literatura e Paisagem em Diálogo

60

M4430=%)'4;3\/9)$%)'%)3:'*'9A/%5/*/%)3:'*'9A/=%!$961"*/0B

4'%$5'*/AD'4%5$.(3!/4%>"'%',5/9)'0%$%('**3(@*3$%394(3("!3$9/;%!$0%

atitudes que são forma, corpos que são obra, paisagens que ins­

tauram uma escrita crítica. “Factualidade: o Aterro, do saguão ao

mar mais pensar agindo: Orgramurbana: a quase corporalidade

)/%431936!/A-$e=36 diz uma página de Geléia Geral de dezembro de

1971.

Era já então a palavra­ação num espaço Mondrianesco,

onde o corpo integrava a palavra, sem instrumentação de su­

5$*('4%0/('*3/347%Z0%5@4B5/*/91$;.%)'%U7%Y3(3!3!/%)344$;?3)$%

no espaço­corpo coletivo [...] Ou o pós­conceito de ORGRA­

OZR8MVM=%$9)'%$4%5*$#'($4%4'%)'3,/0%)'439('1*/*%9/%!3)/)'%

$"%)$%!$9!*'($%/$%0/9('*%4$&*'%$%/('**$%F1"/%G%4'1"*/*%/%5/;/­

vra ou a água aterrada. (PIRES, 2004, p. 193).37

Um corpo do Grupo Empreza se arrasta pelo solo da Paulis­

ta38. Manifestons!, plataforma de arquivo e disseminação de vídeos

)'%c)4$9%8/**"4=%'4(F%/&'*(/%9$%0'*!/)$%03,%)$%YouTube.

c4(/% &*'?'% !$0"93!/A-$% ('9(/% /5*$,30/*B4'% )'% /;1"0/4%

5*$5$43AD'4%5$.(3!/4=%/%5/*(3*%)/%39453*/)$*/%ORGRAMURBANA,

43("/A-$%!*3/)/%9$%M('**$=%',5/9)3)/%d)$%4/1"-$%/$%0/*e%z'%)'4­

36 Ver intervenção de Luiz Otavio Pimentel (dezem­

bro de 1971) na coluna Geléia Geral, de Torquato Neto, “Sobre

Orgramurbanae=% >"'% /&$*)/% /% ',5'*3E9!3/% /*(24(3!/% !$;'(3?/% )'­

senvolvida no parque do Flamengo, em torno do Museu de Arte

Moderna do Rio de Janeiro (PIRES, 2004, p. 323).

37 Intervenção de Luiz Otavio Pimentel na coluna

Plug de Torquato Neto.

38 Grupo Empreza, ação realizada na Avenida Pau­

lista, São Paulo, em março de 2009 (Projeto Itauçu, do Itaú Cultu­

ral).

Literatura e Paisagem em Diálogo

61

crita por Oiticica e Torquato]. Buscaremos esboçar, com as obras,

0$)$4% )'% 4'*=% )'% 5'94/*% /% !$05;',3)/)'% )/% ',5'*3E9!3/% "*&/9/%

contemporânea, no momento do esgarçamento mesmo da possi­

bilidade de qualquer pergunta, já que, como argumenta Rem Ko­

$;<//4=%'4(/0$4%'0%"0%*'130'%5@4B',34('9!3/;7%M4430=%>"'*'0$4%

fazer repercutir múltiplas questões, respostas, provocações, vindas

de obras que tentam contato com o tecido entrópico da metrópo­

;'=% )'40/9(';/9)$%/>"';/4%$5$43AD'4% '0% (")$%6,/4f%5^&;3!$g5*3­

?/)$=% :/03;3/*g4$!3/;=%!";("*/;g^(3;=% ;/\'*g(*/&/;<$777%_3)/9)$%!$0%

as condições do Bigness% `ÄYY_UMMI=% jkkra=% '44/4% 5*$5$43AD'4%

artísticas assumem, criticamente, o ritmo indeterminado das cida­

)'4%5@4B39)"4(*3/347%d8319'44%9-$%.%0/34%5/*('%)$%('!3)$%"*&/9$e=%

/6*0/%Ä$$;<//4%`jkkr=%57%rjqa=%/$%)'4!*'?'*%/4%0$)/;3)/)'4%>"'%

;'?/0%]%5'*0/9'9('%*')'693A-$%)/4% 39('9AD'4%)$%"*&/9340$=%)/%

arquitetura, da arte sob o regime do XL: “se Bigness transforma

a arquitetura, suas acumulações geram um novo tipo de cidade.”

`ÄYY_UMMI=%jkkr=%57%rjqa7

Literatura e Paisagem em Diálogo

62

Intensidades

a única alternativa presente para aquele que atravessou

$%)'4'*($%)$%/&4(*/($=%.%/%)/%5$(E9!3/%!$94(3("39('

(NEGRI,

Figura 2 – Grupo Empreza. Arrastão na Paulista. março de

2009.

Figura 3 – Grupo Empreza. Arrastão na Paulista. março de

2009.

Literatura e Paisagem em Diálogo

63

Arrastão na Paulista traz algo do herói absurdo, o Sísifo atu­

/;3\/)$%5$*%Q$4'5<%8'"T4f%$%'('*9$%*'($*9$%)/%(/*':/%5$.(3!/=%/%/*('%

*'!$9)"\3)/%/% 4'"%0$?30'9($%)'%!$94(3("3A-$%G%$%1*/"%\'*$%>"'%

(/9($%('*3/%0/*!/)$%/4%5$.(3!/4%!$9('05$*N9'/47%V'44/%/0/**/A-$%

)'%/($4g/:'($4=%/%*';'3("*/%)$%03($%)'%C/0"4%5$*%8'"T4%5*$5D'%/%

arte como uma questão sobre os limites do ato criativo: dúvida que

se transforma em crença e atravessa a obra do artista alemão. O

>"3/40/%'9(*'%/*('%'%?3)/%0/*!/%(/0&.0%/4%/AD'4%)$%Empreza. Ar­

rastão 0/34%"0/%?'\%','*!3(/%)'%0$)$%/(*$\%'44'4%;303('4=%('4(/9)$%

/4%:*/9#/4%)/%?3)/%!3?3;%9/%0'(*@5$;'%034(/%)$%4.!";$%oo[=%;"1/*%)$4%

305";4$4%/9(/1h93!$47

“Suprimindo os juízos de valor tradicionais, Sísifo introduz

/>"3%"0%9$?$%?/;$*=%/>"';'%)$%<'*@3%/&4"*)$f%/>"';'%)$%<$0'0%

>"'%9-$%('0%0/34%9'9<"0%434('0/%)'%?/;$*'4%<'*')3(F*3$7e%`8cZ­

JI=%jkkq=%57%ua7

Z0%#$?'0%)'%('*9$%'%1*/?/(/%)'3,/%"0%')3:2!3$%9/%M?'93)/%

H/";34(/=%'%4'1"'%5/*/%$%4'"%<$(';=%0"3(/4%>"/)*/4%/)3/9('7%SF%/;­

guns passos, atira­se ao solo, e assim segue, enfrentando ondas de

caos ao longo de muitos quarteirões, arrastando seu corpo pelas

!/;A/)/4%'%5';$%/4:/;($%)/4%(*/94?'*4/347%c0%4'"%'4(*/9<$%)'4;$!/­

0'9($=%!$;/)$%/$%!<-$=%;/9A/%39('**$1/AD'4%/%!/)/%*'453*$7

I/&'0$4% )$% #'3($% !$0% >"'% !$4("0/% 4'% )/*% /% !$9?$!/A-$g

disposição dos corpos, pelas ações do Grupo Empreza. Os artis­

(/4%5*$5D'0%','*!2!3$4%>"'%13*/0%'0%($*9$%)/%5$(E9!3/%5$.(3!/%)'%

"0%'0&/('%!$0%/%0/(.*3/=%$4%';'0'9($4=%$4%+"3)$4%!$*5@*'$4=%>"'%

.%4'05*'%)'0/43/)$%!*"=%'0&$*/%0"3(/4%?'\'4%'?$>"'%9/**/(3?/4%

e fabulações, transversalmente. Em ações­tarefa que se desen­

?$;?'0%'9(*'%$%/($%'%/%0/(.*3/=% 4'1"39)$%/% (*/)3A-$%)'4)'%Gutai

e Fluxus, o Empreza propõe um contato renovado do corpo com

/%',('*9/;3)/)'%)$%0"9)$=%0/4%/(*/?'44/)$%5$*%"0%"4$%5'!";3/*=%

afetivo, da linguagem. O contato, de tão intenso, provoca uma di­

0'94-$%4'!*'(/7%Y%!$*5$%?3?3)$%'0%4"5'*:2!3'=%)345$92?';=%',5$4($%

Literatura e Paisagem em Diálogo

64

a situações­limite, acaba por ativar a sensorialização do ambien­

('=%!/;/9)$%/4%?$\'47%c4(*/9</0'9($%'%'05/(3/f%"0%mergulho ao

avesso, na esfera surda das micropercepções do mundo:

p%5*'!34$%5*$5$*%>"'%'4('%*'42)"$%$"%$&#'($%/$%0'"%;/)$%

G%"0%4$0%>"/;>"'*%9/%*"/=%"0%';'0'9($%/*>"3('(h93!$=% (")$%

/69/;%G%9$4%'9?$;?'%'%9$4%($!/%)'%:$*0/%)'!343?/%`)';3&'*/)/­

0'9('%$"%5$*%/!/4$a%'9>"/9($%:$9('%4';?/1'0%)$%4'942?';t%'%.%

preciso enfrentar a tarefa de responder e evidenciar esta plu­

riestimulação. (BASBAUM, 2000, p. 22).39

M% 1/0/% 5$.(3!/% )$%Empreza, de acento empático, produz

"0%!'*($%':'3($%)'%!<$>"'=%/)?39)$%)'44'%034($%)'%!$9+3($4%>"'%

!/)/%(*/&/;<$%:/\%*'?'*&'*/*7%M4430%4'%)F%!$0%Sangue bom, )&%5&(

ideológico, Beijo7%c,5'*30'9(/)$%9/%)"*/A-$=%$%)'4'9<$%)'%!/)/%

ação, mesmo quando restrito, tende a abrir­se. O desdobramento

da peça quase sempre depende das eventualidades; as disposições

:243!/4%'%0'9(/34=%)3?3)"/34=% ('9)'0%/%*'!$961"*/*B4'%/%!/)/%/($=%

0$?'9)$%'45/A$4%]%?$;(/7%L/;?'\%4'%5$44/%'9('9)'*%/4430%/%!$9',-$%

)/%5$.(3!/%)$%1*"5$%!$0%/%'4(.(3!/%',5*'443$934(/f%"0%!'*($%/5'1$%

/$%0"9)/9$%'%"0%'4(*/9</0'9($=%"0%)'4'#$%)'%)'4:/\'*%$%0"9­

do, para reconstruí­lo a cada ato, a cada repetição. Beber o sangue

4#(#*,%#@( "-0&%.'0&%(&(<"+"/#(<L,.#(4#(5*-"*@( M#$&%N-"( 0#/,%&-(

as pilastras do palácio, da igreja, da galeria de arte. arrastar o

corpo no solo da avenida. Provocações da potência constituinte,

as ações do Empreza '4(/&';'!'0%$"(*$4%5/!($4%)'%!$9?3?E9!3/=%/$%

propor jogos momentâneos em que tarefas ordinárias trocam de

;"1/*%!$0%$%',(*/$*)39F*3$=%)';39'/9)$%'4(*"("*/4%!/*9/34=%034(/4=%

0/4%4'05*'%5/44/1'3*/4=%/&'*(/4%/$%+"3*f%'4(*"("*/4B)"*/A-$s

Arrastão na Paulista atualiza um campo de possíveis: ca­

39% %M%39453*/A-$%)/%5/44/1'0%!3(/)/%.%$%(*/&/;<$B5*$!'44$%

de Barrio, 4 dias e 4 noites, de 1970.

Literatura e Paisagem em Diálogo

65

0/)/4%)'%<34(@*3/=%story=%'%)'%',5'*3E9!3/7%M%/A-$%(*/\%;/('9('%"0/%

($9/;3)/)'%0';/9!@;3!/%'0%5;'9$%<"0$*%XL. Faz pensar em Merz,

!/(')*/;%0$)'*9/%)/%034.*3/%'*@(3!/7%H$34%9$%5$('9!3/;%'9(*';/A/­

mento da ironia Dada !$0%/%5*$:"9)3)/)'%',5*'443$934(/=%5$)'­

mos perceber algo do gesto­limite, delirante, que marca o estado

performativo do Empreza. Em tensão com a superfície do mundo,

$%431936!/)$%)/4%/AD'4%)'5'9)'%)/%*')'%)'%!$9(/($4%'91'9)*/)/=%

>"'%?/3%:/\'9)$%'%)'4:/\'9)$%/%5/*(3("*/%393!3/;=%'%',5;$*/9)$%$"­

tras maneiras de por as coisas em relação. A arte acontece como

sutura entre vidas: o desejo de comunicação, de mistura, manifesta

um romantismo pós­existencial.

Entre a pulsação da vida e a cultura da performance, das ar­

('4%?34"/34=%)/%5$'43/%z$%!/05$%)/%?34"/;3)/)'=%0/4%(/0&.0%/>"';'%

)$4% '9"9!3/)$4%G%)/4%9/**/(3?/4%02(3!/4% !;F443!/4=% ]4% :'4(/4% *';3­

giosas do oeste do Brasil], as ações do Empreza%',5;$*/0%03!*$%

4'94$*3/;3)/)'4=% (*/940"(/9)$% 39('943)/)'4% '0% 43;E9!3$% G% !/*9'%

que entrelaça atualidades e virtualidades. As imagens postas em

!'9/=%)'5'9)'9('4%)'%!$*5$4%>"'%*'453*/0=%9-$%)'3,/0%)'%4'*%'?$­

!/(3?/4=%'4&$A/9)$%('05$*/;3)/)'4%'%'45/A$4%$"(*$47%M5'4/*%)'%',­

5;$*/*%/%;3('*/;3)/)'%)$%!$9(/($%!/*9'g0/(.*3/=%$4%1'4($4%(E0%:$*('%

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:$*0/9!'=%/>"3=%'0%4"/%)'5'9)E9!3/%30')3/(/%)$4%!$*5$4%',5'*3­

mentados em seus limites, deterá a dramaticidade. As imagens de­

4'05'9</)/4%*'4?/;/0%'0%!;3!<.4=%!*'9A/4=%03($4=%0/4%5*$5D'0=%

em sua vibração carnal,novos pactos de leitura, novos diagramas.

Em Arrastão=%$%:'3,'%)'%9'*?$4%>"'%4'%)'4;$!/%5';$%!<-$%)/%

H/";34(/% !$9)'94/% /4% $9)/4% )'% !$9+3($% '0%9$?$4% $;</*'4=% 4'9(3­

mentos, palavras, reescrevendo corpos e situações, transformando

sua mútua adesão. Mar e Eros=%(*/&/;<$%*'/;3\/)$%9$%OMO%)$%R3$%

de Janeiro, ativa a membrana de contato entre arte e instituição,

espaço que se cria pela ação da arte, “do saguão ao mar”. A ação

pode evocar Parangolés, tendas, capas, estandartes. Os limites são

Literatura e Paisagem em Diálogo

66

',5'*30'9(/)$4%9$4% !$*('4%)/%5';'=% (*/39)$g/(*/39)$% '4!*3(/4%)3­

:'*'9('4=%+'*(/9)$%!$0%$%',!'44$=%$% (*/94&$*)/0'9($7%Ersatz de

!";("*/s%O/4%$4%('*0$4%)'%!/)/%/A-$%4'%)'3,/%034("*/*%9$%','*!2!3$%

de um corpo disponível=% 9$%6$%)/% ;N039/%>"'%)'4'9</% ;'(*/4%)'%

4/91"'%9/%!/*9'%)$4%<$0'94%'9!/5"A/)$4=%?$;(/)$4%5/*/%/;1"0%/;­

tar imaginário… Dor?A ação desfaz e refaz corpos, movimentando

30/1'94%*'/)TB0/)'7%O5()#%<#N!&$# + Mar e Eros. Nos pilotis

)$%0"4'"=%"0/%0";<'*%9"/%',5';'%"0%(',($%;3)$%/$4%(*/9!$4=%('9)$%

o torso atado por cordas e uma tala de madeira e estando semi­

/0$*)/A/)/%5$*%"0%/5/*';<$%'0%0'(/;t%)$34% !$*5$4%0/4!";39$4%

!"*?/)$4%/$%4$;$%!'*!/0%'44/%0";<'*=%0/*!/9)$%5'*64%!E93!$4%4"­

aves, que variam da regra áurea de David a estados enigmáticos

)/%!/*9'=%'0%8/!$97%O/4%$%>"'%?'0%/>"3%!$0%0/34%:$*A/%.%$%(*/A$%

'4(@3!$%)/%5'*:$*0/9!'%G%/%atitude de entrega aos acontecimentos

G=%>"'% (-$%5*$9(/0'9('%9$4% ;'?/%]%O/*39/%M&*/0$?3!% zRitmo 0,

#*()&-&(0#5(P.-,&(<&%&(#(Q0"&/#]. Pensamos nesse estado per­

formativo como partindo da criação de uma membrana de contato

com o outro. [Segundo Abramovic (2003, p. 151), a possibilidade

)'%!*3/A-$%)'44/%\$9/%)'%!$9(/($%:/*3/%)/%5'*:$*0/9!'%d(<'%<31<'4(%

form of art”.]

Y%<"0$*%)'%Arrastão na Paulista provoca essa zona origi­

9F*3/=%/(3?/9)$%"0/%!'*(/%&'4(3/;3)/)'=%5*@,30/%]>"';/%)'45'*(/)/%

pelos urros de Beijo. A selvageria de Mar e Eros faria repercutir

"0/%4.*3'% (/;?'\% 39/"1"*/)/%5$*%Y3(3!3!/% !$0%4"/% d;'13-$%)'%<"­

9$4e%zd'0%"0%!$*('#$%>"'%0/34%5/*'!3/%"0/%!$91/)/%:'.*3!/%!$0%

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)/%)'4!*3A-$%>"'%W/;T%I/;$0-$%:/\%)/%/5*'4'9(/A-$%)$4%Parango­

lés em Opinião 65, lembramos de duas imagens dos selvagens do

OMO=%>"'%!$94(3("'0%5/*('%)/%<34(@*3/%)$%0"4'"%!/*3$!/f%/%!.;'­

&*'%:$($1*/6/%)'%)#%<#6%&=%/A-$%)'%M9($93$%O/9"';=%'%$%6;0'%>"'%

registra Barrio e o desenrolar de PH no parque em torno do museu,

rumo ao mar.

Literatura e Paisagem em Diálogo

67

Figura 4 – Grupo Empreza. Mar e Eros. MAM­Rio, março 2011.

Figura 5 – Grupo Empreza. Mar e Eros. MAM­Rio, março 2011.

Literatura e Paisagem em Diálogo

68

Figura 6 – Grupo Empreza. Mar e Eros. MAM­Rio, março 2011.

O Empreza%5/*'!'%5*$5$*=%9'44'4% (*/&/;<$4%*'!'9('4=%"0/%

'4!*3(/%>"'%5*'4(/%<$0'9/1'0%'%)'4/6/%/%/*('B5*$!'44$7%M%43("/A-$%

1'*/%"0%('05$%>"'%.%5";4/A-$%9'?*F;13!/f%!/*9'7%c0%Arrastão na

Paulista, o contato do corpo do performer com a calçada, ao longo

de muitas quadras de percurso­tarefa, acaba por tingir a camisa

branca do uniforme­Empreza de novos traços, espessuras. São

(/0&.0%0/*!/4%9$%!$*5$%!$;'(3?$=%'9:/(3\/9)$%/4%0^;(35;/4%)3*'­

ções dos gestos dativos. A partitura de Mar e eros anuncia que dois

rapazes terão as palavras inscritas na pele de seu dorso, letras que

permanecerão marcadas para sempre em seus corpos, mas tingi­

*-$%;'?'0'9('%)'%4/91"'%4"/4%!/5/4g'4(/9)/*('47%M%5';'%z/%!/5/=%/%

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5*$:"9)$=% #F%>"'%/&'*(/% ]%)30'94-$%)/% !/*9'=%5"*/%034("*/7%c0%

Arrastão=%.%!$0$%4'%(")$%344$%3**$05'44'7%c%"0%;3*340$%0'(*$5$­

litano parece ser ativado aí, em sua própria impossibilidade. Um

certo postergar do sentido, que produz um estremecimento, uma

Literatura e Paisagem em Diálogo

69

)3:'*'9A/%5$.(3!/%G%$%*3(0$%.%$%)/%(*/94:$*0/A-$%!$94(/9('7%d831­

9'44%)'4(*@3=%0/4%.%(/0&.0%"0%9$?$%!$0'A$7e% ÄYY_UMMI=%jkkr=%

p. 511).

Escrita­limite

C$0$%/)?'*(E9!3/=%4'*3/%5*'!34$%)3\'*%>"'%/&$*)/0$4%"0/%

'4!*3(/%>"'%.%5"*/%39('943)/)'f%experiência­limite [tomando o ter­

0$%'05*'4(/)$%)'%Y3(3!3!/f%d',5'*3E9!3/%5$43(3?/%)'%?3?'*%9'1/(3­

vo”.]

V[VUYI%8/&T;$9'4(4f% `9$0'% )/)$% ('9)$% /39)/% !$0$%

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9-$%4-$%0/34%/>"3%;31/)$4%/%4$9<$4%*$0N9(3!$4%)'%/453*/A-$%]%

aristocracia utópica (salão de cristal luzes de seda) mas prática

)'%',5'*30'9(/;3)/)'4%9-$%:$*0";/)/4%z|%0'"%939<$%!$9#"1/­

)$%]%(?%/39)/%.%'45/A$B4/;/%á!$9#"1/)$à%'%9-$%)39/03!/0'9('%

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0$*('f%0/4%!$0$%('*%('05$%'%:/\'*%)$%/&*31$%$%/&*31$%4$9</)$s%

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9"%5'*0/9'9('%)/%#/9';/%>%/&*'%5*/%*"/%G

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9"4!*3($%)/(/)$%)'%V$?/%J$*x=%#"9<$%)'%jkul%G%*'0'('%/%"0%('*0$%

inventado pelo artista em outra passagem de sua escrita in pro­

gress: experiência­limite. Tal condensação, quem sabe inspirada

40 Ver “Fatos, 1973”, em: <((5fggXXX73(/"!";("*/;7$*17&*g

/5;3!',('*9/4g'9!3!;$5')3/g<$g<$0'g39)',7!:0.

Literatura e Paisagem em Diálogo

70

na )#/P"%-&( ./'/.,&()'%O/"*3!'% 8;/9!<$(41, nomeia provisoria­

0'9('=%9$%!$9(',($%)'%"0/%!/*(/=%$%)'4)$&*/0'9($%)'% d"0%(35$%

)'%',5'*3E9!3/%>"'%4'%!$;$!/%9$4%;303('4%)'%"0%(35$%)'%5*$)"A-$%

positiva e de negação de produção: q não quer ser obra mas q quer

0/93:'4(/*B4'%9$%('05$%'%9$%'45/A$%'%>%5$*%344$%0'40$%.%!$9(*/­

dição e limite.” (OITICICA, 1973). Oiticica iria aí revelar um dos

aspectos da arte na era da indeterminação, do propor­propor42%G%/%

transgressão, o transbordamento que se traça nos próprios limites

da relação arte e mundo: “produção positiva de viver negativo, voi­

;]âe%`Y[L[C[CM=%jkula7

Visando essas margens problemáticas da arte, como a indi­

!/)/%5';/%0'0&*/9/%:/($4g939<$4=%>"'%4"*1'%9$%!/)'*9$%)'%jkul=%

',5;$*/0$4% $% ('*0$% instaurações situacionais. Oiticica parece

>"'*'*%'4&$A/*%"0/%'45.!3'%)'%5/*(3("*/%02930/%*31$*$4/f%d5*$!"­

*/*%)3*313*%/4%',5'*3E9!3/4%5/*/%"0/%)3*'A-$%'0%>%$%>"'%:$*%:'3($%$"%

proposto não seja algo q se reduza ao contemplativo ou ao espetá­

culo: que sejam instaurações situacionais.”43

I'0%>"'%4'%)'4:/A/%$%?29!";$%!$0%$"(*/4%5*$5$43AD'4%)'%UY%

[)&M*( 7%#M",#( ./( 7%#$%"--, Delirium Ambulatorium, Mitos Va­

dios|=% ('943$9/)/4%'0%"0/%'45.!3'%)'% 434('0/%5$.(3!$%G%conglo­

merado em constante desdobramento44, a passagem parece mos­

41% %O/"*3!'%8;/9!<$(%`jk~k=%57%lmna%'4!*'?'=%'0%

RS=/,%",."/(./'/.f%dM%',5'*3E9!3/B;303('%.%/%*'45$4(/%>"'%'9!$9(*/%$%

<$0'0%>"/9)$%)'!3)'%!$;$!/*B4'%*/)3!/;0'9('%'0%>"'4(-$7e

42 Em A obra, seu caráter objetal, o comportamento, Oiticica

'-$2'S#Q\#')2+*2'#-8$#B#&-28$#$#>9&#%&/6'-/?'#$*#2+3$*#'/'('%$*=#"&*"$#>9&#

altamente universais, mas sim propõe propor, o que é mais importante como

conseqüência.” (OITICICA, 1986, p. 120, grifo nosso).

43 Caderno de Oiticica de fevereiro de 1979. Ver: ?223SWW]]]:

+2'9/9629)'6:$),:()W'36+/&O2&)-'*W&-/+/6$3&%+'W?$W?$"&W+-%&O:/L".

44 Em )%"+&B"%, Oiticica escreve: “As proposições

crescem e se desdobram nelas mesmas e noutras...” (OITICICA, 1986, p.

115).

Literatura e Paisagem em Diálogo

71

(*/*%"0%!/039<$%5$('9('%5/*/%5'94/*%/%)3:'*'9A/%)'44'4%(*/&/;<$4=%

5'*03(39)$%"0/%;39</%)'% ;'3("*/% ;$!/;%'%5*$?34@*3/7% zM)?'*(E9!3/f%

retomar o termo de Oiticica: instaurações situacionais?]

GFigura 7 ­ Hélio Oiticica, Página de caderno de 3 de fevereiro de

1979.

Literatura e Paisagem em Diálogo

72

Figura 8 –U.;3$%Y3(3!3!/7%HF139/%)'%!/)'*9$%)'%jn%)'%#"9<$%)'%

1973.

Querer a multidão

Manifestons!, de Edson Barrus, e Você gostaria de parti­

cipar de uma experiência artística?, de Ricardo Basbaum: essas

Literatura e Paisagem em Diálogo

73

duas proposições45%4"*1'0%'0%;39</4%0"3($%?';$\'4%)'%!$0"93!/­

ção urbana, mas despertam a atenção pelo modo algo intempestivo

!$0%>"'%!$94(3("'0%*')'4%)'%*'434(E9!3/%/$%:"9!3$9/0'9($%9$*0/­

(3?$%)$%434('0/%!";("*/;7%L*/&/;</9)$%!$0%/%/;'/($*3')/)'%!$0"0=%

:$!/9)$%4"/4%5$443&3;3)/)'4%5$.(3!/4%9/%39?'9A-$%'%)344'039/A-$%

)'%"0/%'4!*3(/%)$%!$(3)3/9$=%'44'4%(*/&/;<$4%1'*/0=%'0%0'3$%/$4%

',!'44$4%)/%39('*9'(=%!$05;',$4%!3*!"3($4%)'%5*$,303)/)'4%0'(*$­

politanas. Propondo jogos com o cotidiano e novos inventários de

imagens, tornam afetivo e turbulento o uso da máquina. As novas

('!9$;$13/4%4-$%'9(-$%',5'*30'9(/)/4%'0%5;'9/%/!';'*/A-$=%4$&%$%

próprio movimento de abertura das obras ao tempo da rua. “Como

9$4%/5*$,30/*0$4%)/%',!')E9!3/%)$%4'*=%)'%4'"%)'?3*=%)'%4"/%*'/­

lização?”, pergunta Antonio Negri, em uma de suas “Nove cartas

sobre arte” (NEGRI, 2009, p. 101).

R$"&/*% )/% 39('*9'(% '45/A$g('05$% 5/*/% !$9',D'4% '9(*'% $%

mundo das imagens e o pensamento do mundo: em This is my he­

art, em Palestine libre, os acontecimentos são como que desloca­

)$4%)/%<34(@*3/%'%($*9/)$4%atrasos ao lado de outros Manifestons!,

9$%03,%)$%YouTube7%c0&/*/;</*%/4%9$*0/4%)$%!3*!"3($%/(*/?.4%)/%

!*3/A-$%)'%#$1$4%)'%;391"/1'0%>"'%39?'4(31/0%/%5*@5*3/%'4(*/(.13/%

de circulação da arte: Você gostaria... ? e Manifestons! são traba­

;<$4%>"'%4'%)'3,/0%;'?/*%5';/4%)3:'*'9A/4=%('9)'9)$%/%!$9:"9)3*B4'%

!$0%$4% *'134(*$4%'% 4'"4%+",$4%)'+/1*/(@*3$47% %O/4=% 4'*3/0%'44'4%

/($4% 5$.(3!$4% !*3/)$*'4% )'% ':'3($4% )'%0";(3)-$s% V'1*3% )'4(/!/% $%

potencial de invenção contido em atos de verdadeira interrupção

da rede metropolitana: “a recomposição capitalística da metrópole

)'3,/%534(/4%)'%*'!$05$43A-$%5/*/%/%0";(3)-$7e%`VcPR[=%nmm=%57%

206).

45 Ver: Manifestons!: ?223SWW]]]:^$929(&:/$"W9*&)W

edsonbarrus; e Você gostaria de participar de uma experiência artística?S#?223SWW

]]]:-(3:3)$:():

Literatura e Paisagem em Diálogo

74

M;.0% )/% ',(*$?'*4-$% )/% 5*@5*3/% 5*F(3!/% /*(24(3!/% '% )'% 4'"%

#$1$%*'?'*42?';%!$0%/%?3)/%G%0/9$&*/%)'%8/**"4%G=%$%*''9!$9(*$%

do comum, o “delirante projeto de reconstruir a metrópole” esta­

*3/0%',5*'44$4%9'44/4%5F139/4%)$%YouTube7%_/9!'4%)'%"0/%',5'*3­

E9!3/%)'/0&";/(@*3/%/("/;g?3*("/;=%!/5(/)$4%5';/%!N0'*/%)'%&$;4$%

)$%/*(34(/%$"%5$*%$"(*$4%$;</*'4=%4-$%!$;'!3$9/)$4%'%)344'039/)$4%

9/%4"5'*:2!3'%)$%+"3*=%4'9)$%/$%0'40$%('05$%5$442?'34%interrup­

ções nas metrópoles globalizadas. A criação do contato, da instável

0'0&*/9/%/*('g?3)/%('0%/%0/*!/%)'%"0%305";4$%)'+/1*/)$*7%

Figura 9 –Edson Barrus. Manifestons!

8/**"4% /44"0'% /% <$*3\$9(/;3)/)'% '% $% &/3,$% 0/('*3/;340$%

!$0$% ?'($*% '4(.(3!$B5$;2(3!$% )$% (*/&/;<$% z'=% /39)/=% !$0$% 5'94/­

mento de um medium agregado|=%'?3(/9)$%5$*.0%($)/%4"&4!*3A-$%

a uma retórica do precário. Nesses blocos erráticos de Manifes­

tons!=% 4'0%)'3,/*%)'% '?$!/*% /% (F(3!/%5/5/*/\\3%0/4% '05*'4(/9)$%

"0%$"(*$%<"0$*%]%5*$5/1/A-$%)'44/%:$*0/%;$X%)'%*'134(*$%z(/;?'\%

por forçar o quase esgotamento do sentido no próprio processo de

5*$5/1/A-$|=%$%/*(34(/%',/!'*&/%'0%!$*'4%'%1*3($4%)/4%*"/4%$%03($%

depauperado do espaço público, investindo no debate múltiplo,

Literatura e Paisagem em Diálogo

75

4391";/*%'%)'4:"9!3$9/;%)$4%/44"9($4%!$0"947%V/%"*1E9!3/%)/%!/5­

("*/%'%9/% 30')3/(/%)345$43A-$%'0%4.*3'%)$4% *'134(*$4%?3/% 39('*9'(%

'4(/*3/% 305;3!/)$%$%5/*/)$,$%)'44/%5*$5$4(/%'0%)'*3?/f%/>"3=%$4%

limites críticos da arte cruzam­se com os limites da própria mul­

(3)-$7%Z0%0$?30'9($%)'%)'*3?/%)/%/*('%4'%!$9#"1/*3/%/%+",$4%)'%

E,$)$%)/%0";(3)-$s%L*/(/B4'%)'%"0/%)"5;/%5$(E9!3/s%H'94/*%!$0%

/%/*('=%'%!$9?3)/*%/$%"4$7%C$0$%(/0&.0%/%5"&;3!/A-$%AT-()#/,"5­

porâneos46, criação de Barrus, essa coleção de manifestações de

*"/4%4"*5*''9)'%5$*% 39?'9(/*=%9/4%&$*)/4%)'%',5'*3E9!3/4B;303('=%

instâncias alternativas de circulação de imagens e conceitos, con­

)'94/AD'4%)'%4'9(3)$%+"3)$%0^;(35;$4%':'3($4%)'%?3&*/A-$%'9(*'%

arte e política. “Fascínio pelo de fora? Ou bem a multiplicidade que

9$4%:/4!39/%#F%'4(F%'0%*';/A-$%!$0%"0/%0";(35;3!3)/)'%>"'%9$4%</­

&3(/%)'%)'9(*$se%`Sc_cZbct%PZMLLMR[=%jkm=%57%nkla7

Você gostaria de participar de uma experiência artística?,

/4430%!$0$%/%',5$43A-$%psiu­ei­oi­olá­não=%/4%;39</4%)3/1*/0F(3!$B

!$*'$1*F6!/4=%?2)'$B439:h93!/4=%)'4'9?$;?3)/4%'0%I</91/3%znmm|=%

ou as “ritmações” da Membranosa de São Paulo [2009]47, são po­

('9('4% 394(/"*/AD'4% 43("/!3$9/347%M>"3=% /%$&*/%?$;(/B4'%]% ';/&$*/­

ção de uma dinâmica com a vida, conectando aparato tecnológico

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Você gostaria…?, pergunta dentro da pergunta que corresponde

46 Ver Revista Nós Contemporâneos, barrus MÁ IMPRESSÃO

editora, acervo Casa Daros Latinamerica. Disponível em: <?223SWW]&(:"&:/$"W

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dezembro de 2004, Bienal de Shangai, 2008, Galeria Luciana Brito, São

Paulo, março de 2009.

Literatura e Paisagem em Diálogo

76

/%"0/%)/4%:/4'4%5$.(3!/4%)'%NBP,48 traduz um fascínio pelo devir­

múltiplo, insistindo na fratura do núcleo autoral rumo a uma pro­

liferação criadora sempre ao menos de duplo sentido, entre­dois,

!$0$%/%:/3,/%)'%0ä&3"4%'0%)&5./;&/4#: euvocê/vocêeu.

Figura 10 – Você gostaria de participar de uma experiência

artística?

48 NBP = Novas Bases para a Personalidade. “O projeto

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18 cm) para ser levado para casa pelo participante (indivíduo, grupo ou

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diagramas, relativos a diversos tipos de relações e dados sensoriais,

tornando visíveis redes e estruturas de mediação.” Disponível em:

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Literatura e Paisagem em Diálogo

77

A proposição de Basbaum – Você gostaria de participar

de uma experiência artística? –%/!';'*/%/%('9)E9!3/%/$%superpro­

nome, lançando para fora do centro a pergunta pela autoria e re­

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cria a partir do objeto NBP '%)'%4'"4%(*N943($4%d5*'4'9A/B/"4E9!3/B

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um programa de caráter progressivo, um dispositivo em que atos­

conceitos­imagens jamais adquirem estabilidade e, ao modo de

“vírus­poemas”, estão sempre delineando nova regiões, articulan­

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escultura e do objeto, termos e proposições de camadas discur­

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constante de sedução: querer o outro, saber atraí­lo, atraí­la.

(BASBAUM, 2008, p. 134).

Referências

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Museu Serralves, 2000.

______. Você gostaria de participar de uma experiência artísti­

ca?%`ãV8Ha7%nmm7%L'4'%`S$"($*/)$%'0%M*('4a%G%c4!$;/%)'%C$0"93!/AD'4%

e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

Literatura e Paisagem em Diálogo

78

______. Membranosa­entre. São Paulo: Galeria Luciana Brito,

2009a.

ÉÉÉÉÉÉ7%å"'0%.%>"'%?E%9$44$4%(*/&/;<$4s%[9f%IcO[VçR[YI%[V­

TERNACIONAIS DO MUSEU VALE, 4., 2009. )%.&19#("(0%U,.0&. Vila Ve­

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______. Sur, Sur, Sur, Sur… como diagrama: mapa + marca.

[9f%OcS[VM=%C"/"<(.0$!%`c)7a%Sur, sur, sur, sur / South, south, south,

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5<5s5/1'é305*30'*è3)É/*(3!;'éllqj

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Literatura e Paisagem em Diálogo

79

PIRES, Paulo Roberto (Org.). Torquatália. Rio de Janeiro: Rocco,

2004.

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critos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

Literatura e Paisagem em Diálogo

81

Natureza e paisagem no Brasil no século XIX: o olhar de Francis de Castelnau

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(CASTELNAU, 1850, p. 3).

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ção do país como nação. Partimos dos primeiros viajantes franceses

que vieram, durante o Renascimento, pouco depois dos portugue­

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em grande parte, pela maneira pela qual os brasileiros recebem o

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de “fora para dentro”, na literatura, nas outras artes e em todos os

domínios, em geral.

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sileiras, assim como pelos costumes dos indígenas, encontrados

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dados, para escrever algumas de suas páginas mais importantes

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Literatura e Paisagem em Diálogo

82

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do Setecentos, a Europa tornara­se maníaca por esse tema, alar­

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aqui representado pelo indígena, em contato permanente com a

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No seu Discours sur le style (1753), pronunciado na ocasião

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climas temperados. Questiona, a partir daí, se os povos do Novo

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são percebidos de forma ambivalente pelo discurso europeu, que

oscila entre “a imagem positiva da felicidade natural e inocente dos

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Literatura e Paisagem em Diálogo

83

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ser difundidas. Surge, portanto, uma tensão entre a ‘imagem nega­

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a natureza seria fundamentalmente boa, não corrompida pelo pe­

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frutos de fraternidade universal. Rousseau adota, assim, a teoria

do bon sauvage, vigoroso, simples e generoso, ignorando a corrup­

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mito do bon sauvage=%)$%<$0'0%9/("*/;=%.%/0&21"$=%4'*?39)$%(/9­

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como isento de todos os vícios e defeitos dessa sociedade; por sua

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da no instinto e na razão. Acrescente­se a isso outro elemento, já

que os nossos viajantes falam de seres repulsivos, antropófagos e

ferozes, e teremos o selvagem ora bom, ora mau, dando respaldo

a agnósticos e religiosos, e o Brasil torna­se, ao mesmo tempo, um

paraíso natural a ser preservado e um mundo primitivo que deve

4'*%Å!3?3;3\/)$v7

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em 1843, aportando, inicialmente, no Rio de Janeiro. Com seus

Literatura e Paisagem em Diálogo

84

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uma imensa quantidade de material, resultado de suas observa­

ções sobre meteorologia, mineralogia, botânica e zoologia. Os re­

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*$0'(*3/=%<3)*$1*/6/%'%<3)*F";3!/7%Sua obra, Expédition dans les

parties centrales de l’Amérique du Sud, de Rio de Janeiro à Lima,

et de Lima au Para, exécutée par ordre du gouvernement français

pendant les années 1843 à 1847, !$9(.0%4'34%?$;"0'47%Y%(',($%5'*BY%(',($%5'*­

corre grande parte do Brasil, discorrendo sobre a população, seus

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tentrional desse continente perde a cada dia seu caráter primi­

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tureza virgem: aqui, nada de estradas de ferro, nem de canais,

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Literatura e Paisagem em Diálogo

85

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no dia seguinte da criação, e, nessas solidões sem limites, a obra

de Deus desvenda em toda parte sua admirável grandeza. (CAS­

TELNAU, 1850, p. 42, tradução nossa).

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te, vista como uma macaqueação da Europa, com suas estradas de

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Literatura e Paisagem em Diálogo

86

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tímidas, incapazes de falar em sociedade, a natureza surge como

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Recusando a sociedade, o viajante encontra refúgio na natureza

deslumbrante. Assim, a paisagem, a mata, o verde, mostram ao eu­

ropeu as principais diferenças entre o Novo Mundo, que ele está

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imitar, naquele momento.

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teressante ao estudarmos o que ele fala do Jardim Botânico. Nes­

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quando se trata de estudar a arte do paisagismo. Aí, a obsessão

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ocupado pelo Jardim Botânico, que visitei. O nome de Jardim

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Literatura e Paisagem em Diálogo

87

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de sua cultura. Vários outros produtos interessantes prosperam

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caso me sobrasse tempo, fazer uma segunda visita a esse jar­

dim. (CASTELNAU, 2000, p. 41).

Em oposição a isso, o primeiro contato do naturalista com a

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de um caminhante solitário (Rêveries du promeneur solitaire),

dando lugar ao desregramento da lógica, ao desvio da razão cien­

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sempre igual, bem comportada, opõe­se a riqueza da paisagem tro­

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de maneira mais insólita, tem­se a impressão de que duas cria­

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dente. O pensamento se perde ao encarar essas árvores gigan­

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se erguem a altura tão prodigiosa, como se quisessem dominar

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Literatura e Paisagem em Diálogo

88

tretanto, vão buscar apoio em seus troncos rijos; unem­se em

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maneiras, trespassam muitas vezes com seus sugadores a casca

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Essas graciosas plantas, a que se dá o nome de cipós, empres­

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diações do Rio de Janeiro; são incessantemente atingidas por

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ras terão substituído as )"0%#<.& e as Lecythis. p%39)345'94F?';%

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p. 25­26).

Terra prometida, metáfora do paraíso perdido, o Brasil já vai

se delineando para Castelnau como o lugar do mundo pelo avesso,

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de que a linguagem escrita do relatório de viagem não daria conta

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para poder descrever o que via. Ao subir o Corcovado, trajeto que

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Literatura e Paisagem em Diálogo

89

reter na tela aquela paisagem, impossível de ser descrita só com a

memória e as palavras:

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dia bom, somos pagos da fadiga pelo soberbo panorama que se

descortina do alto do cabeço a que acabo de me referir; deste

posto elevado os contornos da baía são perfeitamente visíveis,

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pício de várias centenas de metros de profundidade, o Jardim

Botânico, as restingas de Copacabana, com suas lagoas de água

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divisam­se nitidamente as restingas de Taipu e de Maricá, cujas

riquezas vegetais são muito gabadas. Algumas das vistas que se

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variadas, são, no mais alto grau, dignas do pincel de um artista;

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belas cenas da natureza. (CASTELNAU, 2000, p. 34­35).

Castelnau preocupa­se com a sua memória, que não o aju­

dará a reproduzir aquelas paisagens paradisíacas. Esquece da sua

condição de cientista, para lamentar não ser artista, não poder pin­

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fato e na possibilidade de formular simplesmente o que aconteceu.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

90

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lamentar não ser artista. Naquele momento, ele está consciente da

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distância do mar, e na noite do segundo dia estávamos de vol­

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tudo quanto não me cansei de contemplar durante esse passeio.

(CASTELNAU, 2000, p. 38).

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temporâneos, está ligado ao desejo da arte, da representação de

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Literatura e Paisagem em Diálogo

91

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das anteriormente encontradas, que eu quase me acreditaria

transportado noutro país. Em verdade nada fere mais a aten­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

92

são muito pouco elevadas acima do nível do mar, o bastante

todavia para não serem jamais por ele invadidas. Vezes fre­

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de água doce ou levemente salgadas, formadas essencialmente

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muito bem conservado, bem como a base de dois bastiões que

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to esta parte da costa, se não fossem eles talvez mais fáceis de

abordar do que se imagina. Passada a fortaleza e após uma rápi­

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que a vista desvenda com curiosidade a vasta planície, onde não

se ergue uma só árvore, mas apenas alguns grupos de arbustos,

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e compostos de plantas diversas... (CASTELNAU, 2000, p. 39­

40).

Como observado anteriormente, podemos fazer associações

com passagens dos Devaneios do caminhante solitário, de Rous­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

93

com as matas brasileiras:/$%5/44/*%5';$%5$9($%'0%>"'=%/(*/?.4%)'%'4(*'3($%!/9/;=%

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0/*%$% !</0/)$%Saco de Jurujuba, vi­me subitamente diante

de um espetáculo admirável, diante do qual esmaeceram todas

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fascinados não sabiam como desviar­se da magia desse quadro.

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zava­se com ela de modo tão perfeito, as formas brancacentas

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portado entre os gelos do pólo, se não fosse o ruído que fazia de

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triturada pelos dentes do meu cavalo impassível. Ia afastar­me,

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bras da noite e projetando ao longe, na superfície lisa da baía,

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rão com amargura. (CASTELNAU, 2000, p. 43).

Observa­se nessa passagem uma teatralização do espetáculo

que está sendo apresentado, na medida em que se muda o cenário

abruptamente. Como se a imaginação e a sensibilidade cedessem o

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ro a essa paisagem tão impressionante... Os gelos do pólo, criados

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rância da natureza, transformam­se rapidamente em outro cená­

Literatura e Paisagem em Diálogo

94

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menos, que podem trazer contriubições ao estudo do pensamento

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do positivismo, anunciando o evolucionismo e o determinismo, já

em elaboração entre os seus contemporâneos.

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O Brasil, mais do que qualquer outro país, encontra­se nessas

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que quase só são representados por alguns mestiços vindos

como muladeiros das províncias de São Paulo ou das minas.

(CASTELNAU, 2000, p. 130­131).

A mistura de raças, o colorido das peles atraem e fascinam,

ao mesmo tempo em que surpreende o fato de não se ver índios

propriamente ditos. Certamente, no imaginário de Castelnau, ele

aqui encontraria, logo ao desembarcar, uma selva repleta de ín­

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estudadas. Possuindo contatos no Rio e tendo logo sido convidado

a assistir ao casamento de D. Pedro II, como aristocrata que era e,

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Literatura e Paisagem em Diálogo

95

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natureza e paisagem americanas, bem como sobre a população. Al­

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Creio que os dias feriados são mais numerosos que aqueles consa­

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no fato e na possibilidade de formular simplesmente o que acon­

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positivista. No entanto, observa­se, lendo Castelnau, que, naquele

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o romantismo, nos inúmeros momentos em que pretende descre­

ver a natureza deslumbrante que percebe, confessando não encon­

trar palavras e lamentando não ser um grande pintor para poder

reproduzir a riqueza da paisagem. Seus relatos se prestam a muitas

discussões, em várias disciplinas, tanto para o romantismo, como

já foi dito, por ser defensor da crença no progresso da igualdade e

da fraternidade, no deslumbramento com a paisagem, com tudo o

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A possibilidade de uma verdadeira felicidade só passa a ser possí­

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de utopia da paisagem relaciona­se, necessariamente, com a noção

Literatura e Paisagem em Diálogo

96

do exotismo, ?39!";/)/% /(.% <$#'% /$% !$9(39'9('% /0'*3!/9$=% 5';$4%

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:/03;3/*v7e (ROUANET, 1991, p. 72). A admiração que o fascínio

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tes europeus muito contribuiu para a própria noção que os autores

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pátria.” (ALENCAR, 1893, p. 46).

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importante para nós, na medida em que comandará a discussão

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selvagens, denotando desencanto com a civilização.

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no nosso estudo.

Literatura e Paisagem em Diálogo

97

Referências

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BUFFON, Georges­Louis Lecler, comte de. Discours sur le style.

U";;f%c)7%Z93?'*43(T%$:%U";;=%jku7

CASTELNAU, Francis de. Expédition dans les parties centrales de

l’Amérique du Sud, de Rio de Janeiro à Lima, et de Lima au Para­ exé­

cutée par ordre du gouvernement français, pendant les années 1843 à

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BNF. Reprodução de toda a obra, que será mais aprofundada no Brasil).

______. Expedição às regiões centrais da América do Sul. Belo

U$*3\$9('t%R3$%)'%Q/9'3*$f%c)3($*/%[(/(3/3/=%nmmm7

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*34f%_3&*/3*3'%P.9.*/;'%K*/9A/34'=%nmmj7

Literatura e Paisagem em Diálogo

99

A leitura paisagística da festa da virgem de Na­zareth de Saquarema

Ana Carolina Lobo Terra50

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sociais e políticos, tornando inteligíveis as espacialidades e tempo­

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representações do imaginário social, pleno de valores simbólicos

culturais e sagrados (MELO, 2001). Salientamos que o verdadeiro

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que se destacam da rotina e do lugar comum.

Segundo Cosgrove e Jackson (2003, p. 16), “a paisagem

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permite a apreensão e percepção de elementos que simbolizam a

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Literatura e Paisagem em Diálogo

100

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simbólica (CAUQUELEN, 1989). Comungando com a ideia de que

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por imprimir valor aos elementos do mundo natural (FREITAS,

2002; COSGROVE; JACKSON, 2003; COSGROVE, 2004), o gesto

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religião e natureza. S'%/!$*)$%!$0%I</0/=%'4(/0$4%</&3("/)$4%/%

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mas na verdade elas são inseparáveis. Antes de poder ser um re­

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as camadas de simbólica densidade dos lugares (MARCIAL, 2008).

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berá a paisagem religiosa ]%5*'4'*?/A-$%)'%suportes de memória

da comunidade religiosa que nela se insere. Seja por meios mate­

riais ou imateriais, seja por costumes ou objetos que tragam lem­

branças ou práticas de um comportamento social, esse tipo de pai­

4/1'0%(*/*F%4'9(3)$4%*';313$4$4%]4%5*F(3!/4%'%/(3?3)/)'4%*';313$4/4%

(IUMOM, 1996).

A paisagem religiosa percebida e legitimadora das marcas

estruturantes e estruturada nos permitiu pensar no ser e no agir

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intrinsecamente ligada ao santuário mariano saquaremense, uma

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calendário litúrgico de 30 de agosto, data que marca o início da

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I'9<$*/%)'%V/\/*'(<%)'%I/>"/*'0/=%('9)$%!$0$%(*/#'($%'45/!3/;%/4%

Literatura e Paisagem em Diálogo

101

ruas principais da cidade de Saquarema, município do Estado do

Rio de Janeiro (MATTOS, 1987). A paisagem religiosa percebida

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tindo a difusão do tempo sagrado e seus valores (ELIADE, 1962).

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al. Trata­se do cortejo que marca o itinerário simbólico, ou seja, a

mobilidade do espaço sagrado móvel, na procissão realizada com

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são espacial, uma porque analisa o espaço, a outra porque, como

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cial, as religiões imprimem no espaço, paisagens religiosas que se

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cordamos com Cosgrove (2004, p. 98), ao enfatizar que a paisagem

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constante de beleza e feiúra de acertos e erros, de alegria e sofri­

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como templo sagrado, ou seja, como espaço onde eles se comuni­

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seu ser divino. A forma de se cultuar depende de cada segmento

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Literatura e Paisagem em Diálogo

102

são materializadas em lugares sagrados. As religiões se constituem

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A paisagem religiosa, construída pelo comungar das rela­

ções entre natureza e religião, transpõe o lócus da alteridade da

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seja, o totalmente outro se transmuta no íntimo outro, de modo

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as representações culturais e a realidade corporal de um “outro”

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168), “o erro dos fenomenologistas foi fazer uma distinção entre o

objeto e o sujeito da religião quando, na verdade, o real objeto da

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Segundo Csordas (2004), decorre disto que o totalmente ou­

tro e o intimamente outro são dois lados da mesma moeda, de for­

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na contemporaneidade poderia ser pensado como a busca por um

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que as religiões institucionais aprisionaram nas suas representa­

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neo um importante ponto de ancoragem e de plausibilidade. Neste

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Literatura e Paisagem em Diálogo

103

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mensagem que nela se escreve em termos geossimbólicos (BON­

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ção. No descortinar da paisagem do lócus objetivado na festividade

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as pessoas para se comunicarem culturalmente, transformam os

elementos do mundo material em um mundo de símbolos. Dando

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A comunidade de indivíduos que participam da memória

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estabelece no mundo sagrado onde participa e realiza a “alquimia

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em relações sobrenaturais, inscritas na natureza das coisas e, por­

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força coletiva no lugar, podendo adquirir uma dimensão transcen­

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ponto impregnado de sacralidade. Independentemente da forma

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Literatura e Paisagem em Diálogo

104

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unicidade e sacralidade originando a prática das peregrinações e

de outras modalidades de comportamento religioso. Essas, por sua

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da paisagem religiosa.

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gantescas nas quais se pode comungar e vivenciar com os outros da

mesma comunidade religiosa (MAFFESOLI, 1997).

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móvel, quando for detentora de mobilidade, sendo criada somente

na temporalidade festiva do calendário litúrgico. Tal teoria pode­

rá ser enquadrada na seguinte tipologia para estudos de paisagem

religiosa.

Literatura e Paisagem em Diálogo

105

Quadro 1 G%H$442?';%L35$;$13/%)'%c4(")$4%)/%H/34/1'0%R';313$4/7%

Abordagem :2"$$#,1"/0*

PE9'4' Fixa: quando o agente

construtor e regulador

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instituição religiosa.

Sua forma espacial

permanece no tempo

do calendário comum

e no tempo do

calendário de festas

religiosas.

Móvel: quando o

agente construtor

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religioso no espaço.

Sua forma espacial

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social religioso no

calendário das festas

religiosas e possui

mobilidade espacial.

Fonte: Terra (2011).

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de da festa, com a criação de uma singular paisagem religiosa, de

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da escala espacial da geofácie51, caracterizada, em especial, pela

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unidades superiores, e o geossistema, com suas divisões do geofácies

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desenvolve uma mesma fase de evolução geral do geossistema. Nesse

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de nossa dissertação. Nesse recorte será possível a leitura da paisagem

religiosa.

Literatura e Paisagem em Diálogo

106

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Na procissão em si, a dádiva perpassa o mundo material, visto que

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rema está diretamente ligada aos bens simbólicos. Segundo Bour­

dieu, bens simbólicos “são as trocas, ou transações nos mercados

de bens culturais ou religiosos [...] os bens simbólicos são esponta­

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como economia da oferenda o tipo de transação que se instaura

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culturais. Para o autor, na economia da oferenda, a troca se trans­

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transformar a coisa bruta em objeto belo, em estátua, faz parte do

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prisma, tudo circula, as dádivas circulam, mas na realidade, o que

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te a seus bens que, quando passados a outrem, estabelecem ligação

Literatura e Paisagem em Diálogo

107

espiritual com o doador. E, neste sentido, misturam­se doadores e

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de pessoa a pessoa e das pessoas para com as divindades. Segundo

essa teoria, a dádiva está presente nas diferentes classes da socie­

dade, tanto nas modernas, como nas mais tradicionais. Desta for­

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mesma propicia um vínculo social muito amplo. Não isolada, uma

vez que as festividades que ocorrem paralelamente e em função da

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contrada em 1630, funciona como o símbolo (BOURDIEU, 1984),

podendo ser basicamente, uma síntese simbólica que oferece os

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mente sessenta a setenta centímetros de altura, conforme as ima­

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São Paulo.

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mensagem de devoção:

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vos dignaste abrir nesse santuário, a fonte de vossas graças

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Literatura e Paisagem em Diálogo

108

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aos saquaremenses e a todos os brasileiros, dos males que nos

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Repleta de valores de diferentes naturezas, como os valores

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taneidade. A totalidade da imagem, aliada a um discurso religioso,

constitui um instrumento de poder. Um símbolo estruturado e es­

(*"("*/9('%>"'%!$9)3!3$9/*F%9$?$4%</&3("4 a população, permitin­

do assim, a criação de uma paisagem religiosa.

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9F*3$%`RYIcVSMU_=%nmmna7%S"*/9('%$%(*/#'($%5*$!'443$9/;=%!$0%

a imagem milagrosa percorrendo as ruas da cidade, tornou­se

possível o vislumbrar de um circuito religioso, onde cada ponto

do deslocamento serve como ponto de encontro e fortalecimento

da identidade religiosa. A forma simbólica da procissão traz em si

tradições e rituais que remetem a outras temporalidades e a soli­

)/*3')/)'%4$!3/;%`8cCÄ=%jkkua7%Y4%1*"5$4%>"'%/%!$05D'0%G%!;'*$=%

3*0/9)/)'=%&/9)/%'%;'31$4%G%*'0'('0B4'%/%<34(@*3/%)$%!";($=%5'*03­

tindo­se contemplar um interiorizamento do sagrado. A procissão

4$0/)/%]%)39N03!/%)/%5/34/1'0%*';313$4/%!$9)3!3$9/*F%"0%9$?$%

Literatura e Paisagem em Diálogo

109

</&3("4% `8YZRS[cZ=% jkma% /% 5$5";/A-$% `ScI8ZRJt% C_YÄc=%

2009), permitindo, a aquisição dos valores e ideais presentes no

discurso religioso; tornando a festividade um pólo difusor do sa­

grado (SANTOS, 2004), para os saquaremenses, os romeiros, os

turistas religiosos e os demais grupos presentes.

M%?3?E9!3/% )/%5/34/1'0% *';313$4/% '% )$% 3(39'*F*3$% 430&@;3!$%

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*'(<%)'%I/>"/*'0/%5'*03('%/%!*3/A-$%)'%"0/%3)'9(3)/)'%*';313$4/%

católica mariana saquaremense em seu lugar.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

113

Paisagem e alteridade: o dom e a troca

Maria Luiza Berwanger da Silva52

c4(/%5/34/1'0s%V-$%',34('7%c,34('%'45/A$

vacante, a semear

de presença retrospectiva.

[...]

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6&*3;</4%)'%!/039<$=%)'%<$*3\$9('

'%9'0%5'*!'&'%>"'%/4%*'!$;<'%

para um dia tecer tapeçarias

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de impercebida terra visitada.

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a tingir­se de verde, marrom, cinza,

0/4%/%!$*%9-$%0$)';/7%M%5')*/%4@%.%5')*/

no amadurecer longínquo.

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9-$%0$;</%$%!$*5$%9"f

0$;</%0/34%(/*)'7

A água é um projeto de viver [...]

(ANDRADE, 2006, p. 730­731).

52 !-+5&)*+%'%&#;&%&)'6#%$#F+$#b)'-%&#%$#E96:

Literatura e Paisagem em Diálogo

114

H/*!$"*$94% ;/% 1.$1*/5<3'% /3943% 9$"?';;'0'9(% .(/&;3'=%

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4"*/#$"('9(%/"%*.';7%

(GLISSANT, 1997, p. 188).53

Como traduzir a fertilidade desta Paisagem que tanto con­

fessa distintos espaços e cronologias, quanto os transgride, sinte­

(3\/9)$=%/%4'"%0$)$=%/%5*$)"(3?3)/)'%)'4(/%!/*($1*/6/%5/*/%$%5'9­

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enigma a ser decifrado pelo Sujeito­local e pelo Sujeito­estrangei­

*$=%/>".0%'%/;.0%)'%1'$1*/6/4=%4"&#'(3?3)/)'4%'%!/05$4%)34!35;3­

9/*'4s%KF&";/%)$% ;"1/*% (*$53!/;%]%'45'*/%)$%$;</*%>"'%/%5'*!'&'=%

desdobrando­a?

Se toda prática da decifração paisagística passa pelo diálogo

>"'%$%O'40$%'4(/&';'!'%!$0%$%Y"(*$=%!$0%?34(/4%]%&"4!/%)'%5;'93­

tude insuperável, então evidenciar o efeito de revitalização captado

deste Outro­Diverso corresponde a rememorar a passagem da pre­

sença estrangeira pelo espaço brasileiro.

H*'4'9A/% ','05;/*% )/% 39!"*4-$% :*/9!'4/=% C;/")'% _.?3B

Strauss, ao brindar a cultura nacional com sua obra Tristes Tró­

picos=% 4"&;39</% !'*(/% 5'*!'5A-$% )$% ;"1/*% &*/43;'3*$% !$0$% :F&";/%

)"5;/f%($)/%)'4!*3A-$%1'$1*F6!/%)'4)$&*/B4'%'0%1'$1*/6/%430&@­

lica, fazendo­se arquivo da subjetividade em constante processo de

)'4;$!/;3\/A-$%'%)'%!$94'>y'9('%*';$!/;3\/A-$%'%>"'%C;/")'%_.?3B

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dos conquistadores, mas o termo lugar do amante e da amante, a dura

:/&*3!/A-$%)$%(*/&/;<$=%/%39('*#'3A-$%)$%4$:*30'9($%'%)/%/;'1*3/%>"'%4'%

acrescentam ao real.” (traduzido pela autora deste estudo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

115

Antropólogo singular, conquanto articula o ato de captação

do real mediando­o pelo sentimento da intimidade lírica, Claude

_.?3BI(*/"44%;'1/%]%!$0"93)/)'%;$!/;%'4(/%)"5;/%30/1'0%)/%5/34/­

1'0%'0%>"'%$%'45/A$%0')3)$%'%!/*($1*/:/)$%.%!$9(39"/0'9('%*'­

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5'44$/;7%S'4('%0$)$=%/%4')"A-$%)'4('%/9(*$5@;$1$%:*/9!E4=%>"/9)$%

observa:

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mas, essas luzes não indicam províncias, povoados e cidades;

9-$%431936!/0%+$*34(/4=%5*/)$4=%?/;'4%'%5/34/1'94t%9-$%(*/)"­

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'%1;$&/;7%Y%>"'%0'%!'*!/%5$*%($)$4%$4%;/)$4%'%0'%'40/1/%9-$%.%

a diversidade inesgotável das coisas e dos seres, mas uma só e

:$*03)F?';% '9(3)/)'f% $%V$?$%O"9)$7% `_pi[BILRMZII=% jkk~=%

p. 75­76).

c4(/% $&4'*?/A-$% ',5*'44/% $% 5*$#'($% )'% *'('*% '4('% )'4)$­

bramento da Paisagem por sobre temporalidades e territórios a

!$9<'!'*t% !$0$% 4'% ($)/% 30/1'0% *'(3)/% 5';/%M;('*3)/)'% )'!3:*/4­

se para o Mesmo­local o ponto de origem e de fundação, fundar

5/34/1'94%!$0$%'?3)E9!3/%)'%!'*(/%30/1'0%9/%>"/;%/%4"*5*'4/%)$%

!$94(/9('%+"3*%0')3/(3\/%5/*/%$%4"#'3($B5'*!'5($*%$%)'4;$!/0'9­

($%/$%Y"(*$%!$0$%':'3($%)$%4"&;30'=%!$0$%5*$)"($%)$%$;</*%>"'%

constrói, difratando, e que percebe, ressimbolizando. Deste modo,

6,/*=%9'4('%:*/10'9($%)'%Tristes Trópicos, o grão seminal mais ge­

nuíno da vitalidade do estrangeiro para o imaginário brasileiro, na

(*/945/*E9!3/%)/%5/34/1'0=%!$**'45$9)'%/%?34;"0&*/*%'4('%1'4($%)'%

'**N9!3/%]%M;('*3)/)'%9-$%4@%!$0$%*'?3(/;3\/A-$%4$*?3)/%'%39!$*5$­

Literatura e Paisagem em Diálogo

116

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9$%Y"(*$%!'*($%0$?30'9($%)'%*'($*9$%>"'% 39('9436!/%/%&"4!/%)/%

diferença e do novo.

C$9?'*1E9!3/%>"'%':'("/%(*/94:'*E9!3/4%)'%9/("*'\/%430&@­

lica e não­simbólica, este encontro do Mesmo com o Outro remete

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:$*0/4%.%9'!'44F*3$7%[9:$*0/?/B4'%4$&*'%/%'4(*"("*/%1'$;@13!/%

das paisagens. Essas relações abstratas deviam intervir no ato

do pintar, mas reguladas a partir do mundo visível. A anato­

03/%'%$%)'4'9<$%'4(-$%5*'4'9('4=%>"/9)$%';'%)F%"0/%539!';/)/=%

!$0$%/4%*'1*/4%)$%#$1$%9"0/%5/*(3)/%)'%(E9347%Y%>"'%0$(3?/%"0%

gesto do pintor nunca pode ser apenas a perspectiva ou ape­

nas a geometria, as leis da composição das cores ou um outro

!$9<'!30'9($%>"/;>"'*7%H/*/% ($)$4%$4%1'4($4%>"'%/$4%5$"!$4%

:/\'0%"0%>"/)*$=%<F%"0%^93!$%0$(3?$=%.%/%5/34/1'0%'0%4"/%

totalidade e em sua plenitude absoluta. Ele começava por des­

!$&*3*%/4%&/4'4%1'$;@13!/47%S'5$34=%9-$%4'%0',3/%0/34%'%$;</?/%

!$0%$4%$;<$4%)3;/(/)$47%c;'% Å1'*039/?/v% !$0%/%5/34/1'07%c4­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

117

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do espace transitionnel%>"'%($0/%)'%'05*.4(30$%)'%S7%W7%W3993­

!$((=%)'6939)$B$%!$0$%dzone intermédiaire entre l’espace subjectif

et l’espace objectif.” (COLLOT, 2000, p. 222). Nas palavras de Mi­p. 222). Nas palavras de Mi­. Nas palavras de Mi­

!<';%C$;;$(f

[...] la perception des paysages constitue un enjeu non

négligeable pour nos sociétés : étant de moins en moins déter­

minée par un lien fonctionnel à la terre et au ciel, de moins en

moins régie par des mythes admis universellement, elle peut

\,%"( +S#00&-.#/(4S*/"(./P"/,.#/(<"%5&/"/,"(4"-(-.$/.'0&,.#/-(

#*(4S*/"(%]<],.,.#/(./4]'/."(4"-(-,]%]#,K<"-. (2000, p. 223).54

Percepção ampla que, uma vez relocalizada no presente,

incidirá na revalorização do fora (ou do dehors) como ponto de

equilíbrio entre o coletivo e o privado e perspectiva da qual a cer­

teza neste intermezzo (in el mezzo del camino, o antecipava Dan­

te) garante a prática da constante oscilação entre um e outro (ou

outros espaços); esta percepção paisagística funda territórios de

!$9+"E9!3/%9$4%>"/34%($)$%)$0=%)$0%)$%$;</*=%5*$)"\%"0/%(*$!/=%

(*$!/%)'%$;</*'4=%)'%61"*/AD'4%'=%5$34=%)'%)3:*/AD'4%)$%4'9(30'9­

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Collot evidencia no processo de germinação traduzido por Maurice

O'*;'/"BH$9(T%9$%'4(")$%4$&*'%/%539("*/%)'%C.\/99'7

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intermediado por um ato perceptivo o gesto da invenção como pro

54 Qc:::d#'#3&)/&308$#%'*#3'+*',&-*#/$-*2+29+#9"'#3)I2+/'#-8$#

negligenciável para nossas sociedades: sendo cada vez menos determinada

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(fragmento traduzido pela autora deste estudo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

118

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da memória residual, na base da prática da reinvenção. Assim, pois,

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4'942?';%)/%0$)";/A-$%5/34/124(3!/%(*/941'$1*F6!/%'%(*/94"&#'(3?/7%

Em uma palavra: inventar paisagens, no contemporâneo, remete a

este processo inconfesso no qual e para o qual toda imagem retida

representa a vitalidade potencial do arquivo a desdobrar, desdo­

&*/*%6$4%0'0$*3/34%!$0$%5*/\'*$4/%'**N9!3/%/% ;"1/*'4%)$%30/13­

nário. Neles, espacialidades e temporalidades novas cartografam

d5/*/1'94e%!$0$%!$9)'94/AD'4%)'%431936!/)$4%'%)345$93&3;3)/)'4%

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criando; (Ressalte­se que este ritmo duplo do refazer e do fazer evi­

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(3("3%5*$1*'443?/%'0'*1E9!3/%)/%>"/;%$4%d!39!$%4'9(3)$4e%'9(*';/A/­

dos restituem ao Sujeito que os entrelaça, na prática do perceber, a

certeza da permanente ressimbolização.

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marcados pelo espace transitionnel=%)3\'*%<$#'%d)$0%'%(*$!/e%*'­

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*'!'9('0'9('% $% ;3?*$% `nmmua=% )"/4% 61"*/AD'4% >"'% '9!$9(*/0%9$%

Essai sur le Don (1922­1993) do antropólogo Marcel Mauss sua

(*/)"A-$%/%0/34%','05;/*t%!$0$%$%/6*0/%Q'/9%I(/*$&394xTf

[...] je ne me suis référé qu’indirectement [...] au systè­

me général des échanges, tels qu’ils ont été interprétés et dis­

Literatura e Paisagem em Diálogo

119

cutés à partir de l’ouvrage fameux que Marcel Mauss avait pu­

blié en 1922­1923, essai sur le don, forme et raison de l’échange

dans les socités archaïques. Dans la situation d’aujourd’hui, il

est assurément très important d’établir une sorte de grammai­

re historique de l’échange et de la dépense dans le registre de

l’anthropologie, ou, de l’histoire, comme dans celui de la phé­

noménologie.%`ILMRY8[VIÄJ=%nmmu=%57%~a755

De certo modo, esta relocalização a que acena o crítico de

Largesse% #F% !$94(3("3% $% :"9)$% )/% *'+',-$% )$% 5*':F!3$% )'% C;/")'%

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Essai sur le Don do seu mestre Marcel Mauss. Recorta­se deste

diálogo entre o crítico e o antropólogo aqueles ângulos e traços que

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rem a Paisagem na “república mundial” do pensar global e virtual.

Fait social total=%'34%/%30/1'0%'%$%'3,$%/*(3!";/)$*%!$0%>"'%C;/"­

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O/"44%5/*/%$%!$9<'!30'9($%"93?'*4/;=%)'6939)$B$%!$0$f

Le fait total social ne réussit pas à être tel par simple

réintégration des aspects discontinuus : familial, technique,

économique, juridique, religieux, sous l’un quelconque des­

quels on pourrrait être tenté de l’appréhender exclusivement.

Il faut aussi qu’il s’incarne dans une expérience individuelle;

[...] toute interprétation doit faire coïncider l’objectivité de

55 “[...] Apenas me referi indiretamente [...] ao sistema

geral das trocas, tal qual o foram interpretados e discutidos a partir da

obra famosa que Marcel Mauss publicara em 1922­1923, ensaio sobre

o dom, forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. Na situação de

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<34(@*3!/%)/%(*$!/%'%)$%1/4($%9$%*'134(*$%)/%M9(*$5$;$13/=%$"%)/%U34(@*3/=%

bem como no da Fenomenologia.” (traduzido pela autora deste artigo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

120

l’analyse historique ou comparative avec la subjectivité de

l’expérience vécue7%`_pi[BILRMZII=%nmm~=%57%ooiBooi[a756

H"&;3!/)/%!39!$%/9$4%/5@4%/%'4!*3("*/%)$%5*':F!3$%]%Sociolo­

gie et Anthropologie de Marcel Mauss (1950), a obra Tristes Tró­

picos (1955) faz­se consolidação prática e materialização da lição

teórica de “o dom” e “a troca”. Em Tristes Trópicos, como amos­

(*/1'0%)$%!$9#"9($%)/%5*$)"A-$%)'%C;/")'%_.?3BI(*/"44=%$9)'%)3­

:'*'9('4%!/05$4%4-$%5$4($4%'0%39('*4'!A-$=%/>".0%'%/;.0%)'%:*$9­

('3*/4%*313)/0'9('%)'0/*!/)/4=%/%0$)";/A-$%</*0$93$4/%'%/05;/%

deste antropólogo, comparatista avant la lettre e antecipador da

39('*)34!35;39/*3)/)'=%*'$*)'9/%$%$;</*%4$&*'%/%H/34/1'0f%*'!$;<'%

da projeção sobre o Outro a possibilidade de autoinvenção, quando

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lecida fosse projetada sobre o Sujeito­observador que nela efetua

mudanças, mudando­se, travestindo­se das faces do Outro com

?34(/4% /$% '45/A$% /%)'4'9</*7%c0%429('4'f% 39?'9A-$%5/34/124(3!/% '%

invenção subjetiva tecem novos territórios do imaginário a percor­

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“Escrito no navio”:

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individual; [...] toda interpretação deve fazer coincidir a objetividade

)/%/9F;34'%<34(@*3!/%$"%!$05/*/(3?/%!$0%/%4"&#'(3?3)/)'%)/%',5'*3E9!3/%

vivenciada.” (traduzido pela autora deste artigo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

121

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arquitetura tão fantasista quanto temporária. Com a escuridão,

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$&;2>"$=% 5'*5'9)3!";/*=% '% 39!;"43?'% '453*/;7%Y4% */3$4% )$% 4$;=% ]%

medida que iam declinando (qual um arco de violino inclinado

ou reto para tocar cordas diferentes), estouravam­nas sucessi­

vamente, uma, depois outra, numa gama de cores que pareciam

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034("*/9)$B4'%"0/4%]4%$"(*/4=%(/;%!$0$=%9"0/%(/A/=%;2>"3)$4%)'%

cores e densidades diferentes, de início superpostos, começam

lentamente a se fundir apesar de sua aparente estabilidade. [...]

V/)/%.%0/34%034('*3$4$%)$%>"'%$%!$9#"9($%)'%5*$!'44$4%4'0­

5*'%3)E9(3!$4=%0/4%305*'?342?'34=%5';$4%>"/34%/%9$3('%4"!')'%/$%

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adotará, desta vez única entre todas as outras, o arqueamento

noturno. Por uma alquimia impenetrável, cada cor consegue

metamorfosear­se em sua complementar, quando se sabe mui­

($%&'0%>"'%9/%5/;<'(/%4'*3/%/&4$;"(/0'9('%39)345'94F?';%/&*3*%

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Literatura e Paisagem em Diálogo

122

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/4430=%5$*%!$9(*/4('=%:/\'0%5/*'!'*%?'*)'%"0%!."%>"'%'*/%0'4­

mo cor­de­rosa, mas de um matiz tão claro que não pode mais

lutar com o valor superagudo da nova tonalidade que, no en­

tanto, eu não observara, pois a passagem do dourado para o

?'*0';<$%/!$05/9</B4'%)'%"0/%4"*5*'4/%0'9$*%>"'%/%)$%*$4/%

para o verde. A noite introduz­se, pois, como por um embuste.

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(immaîtrisable, indécidable, como o queria Jacques Derrida), in­

!3)'%9'4(/%!'*('\/%)/%',5'*3E9!3/%5;'9/%)$%/"($(*/)"\3*B4'=%>"/9­

)$%/"($(*/)"A-$%'%/"($39?'9A-$%:/\'0B4'%30/1'94%','05;/*'4%)$%

“espaço vacante” a que se referia Carlos Drummond de Andrade

9/%'521*/:'%/%'4('%'4(")$=%'?3)'9!3/9)$%>"'%$%1'4($%)'%!$94(*"3*g

reconstruir doa ao sujeito o prazer do reconciliar, da autorrecon­

ciliação consigo mesmo. “Une expérience est toujours un rapport

au dehors, à un dehors du discours, ou de la langue, ou du corps,

ou de la croyancee=%)3\%Q";3/%Ä*34('?/%'0%!$9:'*E9!3/%9$%[94(3("(%

)'%;/%H'94.'%C$9('05$*/39'%`nmmra=%9/%>"/;%!$961"*/%/%4')"A-$%

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vécu?

M*>"3?$%?3?$%>"'=%]% ;"\%!$9('05$*N9'/%)$4%'4(")$4%5/34/­

124(3!$4=%)'0/*!/%$%;"1/*%)'%!$9)'94/A-$%'%)'%',5/94-$%39!$9(*$­

lável do visto, do sentido e do imaginado: no rastro da Alteridade,

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espacialidades diversas no corpo da letra. Deste modo, umas das

5$442?'34%61"*/AD'4%)/%*';/A-$%H/34/1'0gM;('*3)/)'%:/\B4'%(*/)"­

Literatura e Paisagem em Diálogo

123

zir pelo redimensionamento do conceito de espaço em que a ima­

1'0%)/%:*$9('3*/=%;303/*%$"%"0&*/;%.%4"&4(3("2)/%5';/%!$94!3E9!3/%

do constante atravessar, do infatigável transgredir. A função da

H/34/1'0%!$9434('%#"4(/0'9('%9$%'4(20";$%]%5/44/1'0%!$0$%1'4($%

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da ultrapassagem de fronteiras territoriais e subjetivas, o prazer

)/%)34(N9!3/%*')'4'9</)/t%!$0$%4'%($)$%*')'4'9<$%5*$?$!/44'%9/%

paisagem da imensidão íntima o próprio prazer da autoinvenção;

como se, ainda, sob todo Sujeito de faces plurais emergentes da

39?'9A-$=%5")'44'0%3)'9(36!/*%!$9)'94/AD'4%)'%'45/A$4%/%!$05$*%

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tecido efetivando­se como lugar de estabilidade que concede tanto

ao espaço condensado quanto ao espaço errante certa percepção de

“encontros na travessia”, imagem da comparatista brasileira Tânia

K*/9!$%C/*?/;</;%'%>"'%*'')3\=%/%4'"%0$)$=%/%!$9!'5A-$%('@*3!/%)'%

Jacques Derrida do que intitula de “parages” (paragens). Como as

)'4!*'?'%'4('%6;@4$:$f

Parages^(?(0"(-"*+(5#,(0#/'#/-(0"(8*.(-.,*"@( ,#*,(<%_-(

ou de loin, le double mouvement d’approche et d’éloignement,

souvent le même pas, singulièrement divisé, plus vieux et plus

jeune que lui­même, autre toujours, au bord de l’événement,

8*&/4(.+(&%%.P"(",(/S&%%.P"(<&-@(./'/.5"/,(4.-,&/,(?(+S&<<%#0;"(

de l’autre rive. [...] Parages encore: ce nom semble émerger

seul, c’est du moins l’apparence, pour consigner l’économie des

thèmes et du sens, par exemple l’indécision entre le proche et le

lointain, l’appareillage dans les brumes, en vue de ce qui arri­

ve ou n’arrive pas au voisinage de la côte, la cartographie im­

Literatura e Paisagem em Diálogo

124

possible et nécessaire d’un littoral, une topologie incalculable,

[...] et l’ingouvernable. (DERRIDA, 1986a, p. 15­17).57

Perspectivada de outro ângulo, (ou seja, do ângulo dos no­

vos lugares espaciais construídos pela condensação e pela irradia­

A-$%)$%'45/A$%4$&%/%.13)'%)/%4"&#'(3?3)/)'a=%/%61"*/%)/4%d5/*/1'94e%

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Assim delimitado e contemplado em seu todo, pois, singular

.%$%)'4'9<$%>"'% /% !"*?/%)$%5'94/0'9($%)'%C;/")'%_.?3BI(*/"44%

estampa a todo estudioso da Paisagem atualmente: ainda que sua

obra Regarder, Écouter, Lire (1993) constitua o desdobramento

de Tristes Trópicos, no que se refere ao entrecruzamento que es­

tabelece, no rastro da lição da apreensão subjetiva captada do fait

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procedam primeiramente da sensibilidade, mas seus ecos sobre

$4%4'9(3)$4%)'5'9)/0%)'%"0/%$5'*/A-$%39(';'!("/;e=%!$0$%$%/6*­

ma para assentar que “les termes ne valent pas par eux­mêmes;

seules importent les relationse%`_pi[BILRMZII=%jkkl=%57%klBkua=%

0'40$%/4430=%/%0/(*3\%)'4(/%!$9+"E9!3/%5$.(3!/%'%53!("*/;%!$0$%

57 “Paragensf%!$96'0$4%/%'4(/%^93!/%5/;/?*/%$%>"'%

43("/=%($(/;0'9('%5'*($%$"%)'%;$91'=%$%)"5;$%0$?30'9($%)'%/5*$,30/A-$%

e de distanciamento, por vezes o mesmo passo, singularmente dividido,

0/34%?';<$%'%0/34%#$?'0%)$%>"'%';'%5*@5*3$=%4'05*'%$"(*$=%]%0/*1'0%)$%

/!$9('!30'9($=%>"/9)$%/!$9('!'%'%9-$%/!$9('!'=%39693(/0'9('%)34(/9('%

)/%5*$,303)/)'%)/%$"(*/%0/*1'07%z777|%Paragens ainda: este substantivo

5/*'!'%'0'*13*%4$\39<$=%.%/$%0'9$4%$%>"'%/5/*'9(/=%5/*/%0/*!/*%/%

'!$9$03/%)$4%('0/4%'%)$4%4'9(3)$4=%5$*%','05;$%/%39)'!34-$%'9(*'%$%

5*@,30$%'%$%;$9129>"$=%/%/5/*';</1'0%9/4%&*"0/4=%'0%?34(/%)$%>"'%

/!$9('!'%'%)$%>"'%9-$%/!$9('!'%9/%5*$,303)/)'%)/%!$4(/=%/%!/*($1*/6/%

impossível e necessária de um litoral, uma topologia incalculável e não

governável.” (traduzido pela autora deste estudo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

125

modo e forma de dar a ver esta “paisagem primordial” encontra­se

em Tristes Trópicos, justamente na modulação a meio tom que a

0^43!/%'%/%/)'4-$%/%C<$539%!$9!')'0%/$%/9(*$5@;$1$B'4!*3($*%'%/$%

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7+'"#&*3&/+'6"&-2&e#U)+'%$#-$#/9-?$#]',-&)+'-$=#&9#%&*/$()+)'#K&­

bussy em data bem recente, inclusive depois que as Núpcias, ouvidas

-'# *&,9-%'# $9# 2&)/&+)'# '3)&*&-2'08$=# 2+-?'"#"&# )&5&6'%$# &"#E2)'­

vinsky um mundo que me parecia mais real e mais sólido do que os

cerrados do Brasil central, fazendo desmoronar meu universo musical

'-2&)+$):#a'*#-$#"$"&-2$#&"#>9&#*'4#%'#;)'-0'=#&)'#Peléias que me

fornecia o '6+"&-2$#&*3+)+29'6#%&#>9&#&9#-&/&**+2'5'f#&-28$=#3$)#>9&#

U?$3+-#&#*9'#$()'#"'+*#('-'6#+"39-?'"D*&#'#"+"#-$#*&)28$e#a'+*#

ocupado em resolver esse problema do que em me dedicar às observa­

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>9&#/$-*+*2&#&"#3'**')#%&#U?$3+-#'#K&(9**^#2'65&7#*&J'#'"36+./'%$#

quando ocorre no sentido contrário. As delícias que me faziam pre­

ferir Debussy, agora eu as saboreava em Chopin, mas de um modo

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zava um duplo progresso: ao aprofundar a obra do compositor mais

antigo, eu lhe reconhecia belezas destinadas a permanecerem ocultas

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(LÉVI­STRAUSS, 1996, p. 357).

Sob, pois, esta mediação efetuada pela palavra musical, que

permite ao sujeito da percepção traduzir modos e formas captadas

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Trópicos=%/$%4"&;39</*%/%:'*(3;3)/)'%)/%'4!*3("*/%0^;(35;/=%5'*('9­

Literatura e Paisagem em Diálogo

126

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sua subjetividade profunda, projeto e prática do projeto para o es­

paço que este intelectual requer e que propõe (talvez, involunta­

riamente) para o “estado de graça” das pesquisas sobre Paisagem,

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a disparidade imprimiu vitalidade incomensurável no imaginário

brasileiro; intelectuais franceses nos quais o “dom” sobre a pai­

sagem brasileira, perspectivada pelo ângulo do transnacional, do

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lizado).

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invenção, compreendendo­se este pensar inventivo como a trans­

gressão do pensar antropológico mediatizado pelo pensar literário

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mediação da música como tradução do dizer, entrecruzada esta

paisagem crítica conforma a superposição da invenção contempo­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

127

de certa imagem ou de certa constelação de imagens a completar,

decifrando e aí semeando o próprio enigma de nossa igual condi­

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evidenciar ressimbolizações as quais, tendo tomado como ponto de

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5/*/%$%>"/;%!*2(3!$%$%*'!$*('%)/%H/34/1'0%'>"3?/;'%/%!$05;'(/*B;<'%

os limites, incide em perspectiva que, se, de um lado, gera certo

espaço­fundante, de outro a relaciona a espaços circunscritos, en­

!/039</9)$%/%H/34/1'0%]%*'+',-$%)'%parages de Jacques Derrida

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Territoires de l’Imaginaire.

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'4('%!$9#"9($%)'%*'+',D'4%!$0$%!'*($%bruissement (ou rumor) da

linguagem que a presença da Alteridade modela, produzindo voz

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/%'%'4(/05/9)$%9/%5F139/%$4%0'!/9340$4%!$0%>"'%*':/&*3!$"g:/­

bricou as faces do Estrangeiro: a dicção a meio tom da voz autorre­

ferencial grafada na palavra escrita guarda, no branco da página a

tornar pleno, a igual suavidade com que o Mesmo captara do Outro

o próprio museu do imaginário.

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o Sujeito, leitor de paisagens, o prazer do eterno desdobramento.

Questionado em 2005, sobre o destino das civilizações, diz

C;/")'%_.?3BI(*/"44f%“Nous allons vers une civilisation à l’échelle

mondiale. Où probablement apparaîtront des différences – il faut

Literatura e Paisagem em Diálogo

128

bien l’espérer. Mais ces différences ne seront plus de même na­

ture, elles seront internes, non plus externes”% `_pi[BILRMZII=%

2005, p. 20), correspondendo a dizer, de outro modo, que “doar” e

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o Novo Mundo” do antropólogo­poeta, a que se entrecruza o pró­

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Alteridade permitem ascender.

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pelo ângulo de o “dom” e a “troca”, o diálogo da Paisagem com a

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contro em C0;.66#+",;(<#*%(7&*+()"+&/%)'%Q/!>"'4%S'**3)/%/%!$96­

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um novo lugar como lugar de outros lugares:

[...] Le pays [...] émigre et transporte sés frontières. Il

se déplace comme ces noms et ces pierres qu’on se donne en

gage, de main en main, et la main se donne ainsi, et ce qui se

découpe, s’abstrait, se déchire, peut se rassembler de nouveau

dans le symbole, le gage, la promesse, l’alliance, le mot parta­

gé, la migration du mot partagé. (DERRIDA, 1986b, p. 52).58

58 “[...] O país [...] emigra e transporta suas fronteiras.

Desloca­se como estes nomes e estas pedras que se dá em troca, de mão

Literatura e Paisagem em Diálogo

129

Paisagem e Alteridade, pois, arquivo vivo e memória das tro­

cas efetuadas que a contemporaneidade revisa, ampliando.

Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de

Janeiro: Nova Aguilar, 2006.

CY__YL=%O3!<';7% H$39(4%)'% ?"'% 4"*% ;/%5'*!'5(3$9%)"%5/T­

sage. In: ROGER, Alain. La theorie du paysage en France. Paris:

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DERRIDA, Jacques. Parages7%H/*34f%P/;3;.'=%jk~/7%

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0/*)=%jkku7%`H$.(3>"'%[ia7%

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Plon, 1993.

______. Tristes trópicos. Tradução de Rosa Freire

SvM1"3/*7%I-$%H/";$f%C$05/9<3/%)/4%_'(*/4=%jkk~7

______. Entretien avec Véronique Mortaigne. Paris:

C</9)'319'=%nmmr7

ÉÉÉÉÉÉ7% [9(*$)"!(3$9% ]% ;vä"?*'% )'% O/*!';% O/"447% [9f%

MAUSS, Marcel. Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, Quadri­

ge, 2006.

OcR_cMZBHYVLJ=%O/"*3!'7%O olho e o espírito. São Paulo:

C$4/!%è%V/3:T=%nmmq7

ILMRY8[VIÄJ=%Q'/97%Largesse. Paris: Gallimard, 2007.

'0%0-$%'%/%0-$%4'%$:'*'!'%/4430%'%$%>"'%.%*'!$*(/)$=%/&4(*/3B4'=%*/41/B4'=%

pode ressurgir novamente no símbolo, na troca, na promessa, na aliança,

9/%5/;/?*/%!$05/*(3;</)/=%9/%031*/A-$%)/%5/;/?*/%!$05/*(3;</)/7e%

(traduzido pela autora deste artigo).

Literatura e Paisagem em Diálogo

131

O paisagista e o escritor: Praça Euclides da Cunha ­ Recife

Ana Rosa de Oliveira

Esse escrito pretende apresentar a praça que o paisagista

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vantar possíveis motivações que o levaram a realizar esse projeto.

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Ele coordenou a seção de Parques e Jardins da Diretoria de Arqui­

('("*/%'%C$94(*"AD'47%c44/%S3*'($*3/%(39</%!$0$%$&#'(3?$%5*$#'(/*=%

construir e conservar os imóveis do Serviço Público de Pernam­

buco. A ideia de criá­la partiu de vários intelectuais que queriam

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6!/44'%]%0/*1'0%)$4%/!$9('!30'9($4%)/%/*>"3('("*/%0$)'*9/7%8/­

seado nisso, foi convocado o arquiteto Luiz Nunes para organizar

e dirigir o Serviço de Arquitetura e Urbanismo da Diretoria. Esse

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liderado a greve estudantil em protesto pela demissão do arquiteto

Lúcio Costa da Escola Nacional de Belas Artes, demonstrado seu

compromisso com a renovação da arquitetura brasileira.

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p. 78). Apesar de ter funcionado por breve período (1934­1937),

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superação da fome, da doença e da ignorância de uma população

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Literatura e Paisagem em Diálogo

132

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destacando­se as contribuições para a padronização industrial da

construção, dentre elas a criação do combogó.

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“jardinismo compatível com a arquitetura moderna.” Durante sua

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de Lucena; dos Largos da Paz, das Cinco Pontas; dos Parques do

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formas. Assim, suas iniciativas não tiveram a mesma autonomia

nem, aparentemente, a mesma rotundidade das obras propostas

pelos arquitetos, como se verá mais adiante. Essa fase inicial de

8"*;'%O/*,%0$4(*/%4'"%'9?$;?30'9($%!$0%0"3($4%'4(")$4%'%',5'­

rimentações. Ele comentou que estar no Recife era como “abrir

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Joaquim Cardozo. Esse último era considerado por ele “uma das

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lar, tendo incidido positivamente na formação de seus membros.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

133

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variedade de bebidas incendiárias, locais ou importadas, discutin­

)$% /5'9/4% /44"9($4%0"3($% 4.*3$4% '% )'% ';'?/)$% 92?';% 39(';'!("/;7e%

(FLEMMING, 1996, p. 45).

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9/!3$9/34%)'%/*>"3('("*/%)/%.5$!/7%M4430=%*'1";/*0'9('=%!/)/%(.!­

nico era incumbido de ler um desses periódicos e de apresentá­los

aos colegas.” (OLIVEIRA, 2007, p. 71).

Esse complemento de formação, apesar de não ter nos es­

critórios o seu ambiente ideal, era o que permitia a construção de

orientações didáticas e teóricas, assim como a atualização em re­

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ali complementavam sua formação. Esse foi o caso de Lúcio Cos­

(/=%Q$*1'%O$*'3*/=%M::$94$%c)"/*)$%R'3)T=%O/*!';$%R$&'*($=%'9(*'%

outros.

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jardins ainda se apresentavam como um amálgama de procedi­

mentos diversos. Ele se relacionava com o jardim da mesma forma

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dins, já se apresentassem certos princípios com uma direção bem

precisa.

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/4%5*/A/4%)/%C/4/%K$*('=%M*(<"*%C$4(/%'%c"!;3)'4%)/%C"9</%0$4­

tram algumas de suas principais pautas, as quais foram retomadas

e aperfeiçoadas ao longo de sua carreira.

M%5*/A/%c"!;3)'4%)/%C"9</=%393!3/;0'9('%)'9$039/)/%)&0­

tário da Madalena=%:$3%"0/%<$0'9/1'0%)'%8"*;'%O/*,%/$%'4!*3($*%

Literatura e Paisagem em Diálogo

134

a quem tanto admirava. Apesar de sua descaracterização ao longo

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área com plantas da caatinga da região do sertão nordestino, dis­

postas sobre pedras. No cadastro para restauro59 da praça, entre os

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joazeiro%O/*(7%Ä7%I!<"0a%'%$4%>"35F4%`Opuntia spa7%p%(/0&.0%*'­

ferido que a escultura de um vaqueiro substitui outra indicada pelo

paisagista, de autoria de Cícero Dias.

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Fonte:%O/*,%`jkuma7

59 Realizada pela Prefeitura do Recife e o Laboratório da

Paisagem da UFPE.

Literatura e Paisagem em Diálogo

135

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logia para a arquitetura. Ou seja, a ampliação de seu vocabulário

e o controle das relações entre as plantas e o ambiente surgiram

como um meio para maior liberdade e novas possibilidades plásti­

cas. A princípio, foi necessário aprender da natureza, retirar alguns

';'0'9($4%)'%4'"%!$9(',($%'%39(*$)"\3B;$4%)3*'(/0'9('%9$%#/*)30=%

como fez com a vegetação da caatinga que inseriu na praça Eucli­

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organismo e, antes de gerar um tipo ou repertório determinado por

elementos e condutas, era como um programa, uma condição de

possibilidade de seu jardim, um estímulo ao projeto, a ser trans­

cendido pela concreção formal.

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(39</%43)$%:$*('0'9('%39+"'9!3/)/%5';/%;'3("*/%)$%;3?*$%Os Sertões

(MARX, 1985) Entre outras questões, pode­se indagar o que levou

8"*;'%O/*,%/%4'%39('*'44/*%5$*%c"!;3)'4%)/%C"9</%$"%!$0$%$%'4!*3­

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O modernismo no Brasil, ao mesmo tempo em que apostou

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crítica do país europeizado e, paralelamente, passou a valorizar

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com o que era próprio do Brasil, assumindo como fonte de reivin­

dicação e de inspiração uma temática inserida no espaço e no tem­

po brasileiros.

Literatura e Paisagem em Diálogo

136

Figura 2 –%O/5/%)/%d)34(*3&"3A-$%)/%+$*/%4'*(/9'#/e7

Fonte:%C"9</%`jkq~a7

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Literatura e Paisagem em Diálogo

137

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/9F;34'%!3'9(26!/%/5;3!/)/%/$4%/45'!($4%0/34%305$*(/9('4%)/%4$!3'­

dade brasileira, no caso as contradições de cultura entre as regiões

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to as longas considerações sobre os valores plásticos, ecológicos,

utilitários e simbólicos da caatinga despertaram sua admiração e

curiosidade pelo sertão (FLEMMING, 1996).

Tratando da caatinga, vegetação usada na praça em questão,

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breve Aufklärung), não se desenvolveram em seguida ao mesmo

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demonstra simbolicamente o ineditismo em que os poderes con­

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política e jurídica. Deste modo, o espírito da burguesia brasileira

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neira de interpretar o mundo circundante foi estilizada em termos,

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Literatura e Paisagem em Diálogo

138

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p. 116). c*/% (/0&.0=%"0/% d/031/%)$% 4'*(/9'#$% :'*3)$e7%H/*/% ';'=%

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pura, no pino dos verões. [...] O umbuzeiro [Spondias tuberosa

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umbuzada tradicional. O gado, mesmo nos dias de abastança,

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umbuzeiro aquele trato de sertão, estaria despovoado. O umbu

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(carnaúba) para os garaunos dos llanos. As juremas [Acacia

bahiensis 8'9(<; Piptadenia stipulacea Ducke], prediletas dos

!/&$!;$4% G% !$0% 4"/% `*'439/% '0&*3/1/)$*/a=% :$*9'!'9)$B;<'4=%

grátis, inestimável beberagem, que os revigora depois das cami­

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98).

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para um possível repertório de plantas a serem utilizadas por Burle

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praça em questão.

Os altos mandacarus [)"%"*-(M&%&5&0&%* DC] destacam­se

isolados acima da vegetação caótica. Se a princípio são novidade

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Literatura e Paisagem em Diálogo

139

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Gravam em tudo monotonia inaturável, sucedendo­se constan­

('4=%"93:$*0'4=%3)E9(3!$4%($)$4=%($)$4%)$%0'40$%5$*('=%31"/;0'9­

te afastados, distribuídos com uma ordem singular pelo deserto.

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cabeças­de­frade [Melocactus bahiensis% `8*7% '(% R$4'a%W'*)'*0|%

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jogadas por ali, a esmo, numa desordem trágica.E a vasta família

)'%!/!(F!'/4=%)'!/3=%5$"!$%/%5$"!$=%/(.%/$4%>"35F4%zOpuntia inamo­

ena%Ä7%I!<"07=%Opuntia palmadora Br et Rose] [...] E pouco mais

especializa quem anda, pelos dias claros, por aqueles ermos, entre

F*?$*'4%4'0%:$;</4%'%4'0%+$*'47%L$)/%/%+$*/=%!$0$%'0%"0/%)'*­

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mato doente, da etimologia indígena, dolorosamente caída sobre o

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Subindo uma elevação qualquer, observando vistas,

perturba­as o mesmo cenário desolador: a vegetação agoni­

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a sylva æestu aphylla, a sylva horrida, de Martius, abrindo

no seio iluminado da natureza tropical um vácuo de deserto.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

140

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de apoteose. As caraíbas [Tabebuia caraíba Mart.] e baraúnas

[Schinopsis brasiliensis% c91;7|% /;(/4% *':*$9)'4!'0% ]%0/*1'0%

)$4% *3&'3*D'4% *':'3($4t% */0/;</0=% *'44$/9('4=% $4% 0/*3\'3*$4%

[Geoffroea spinoza Jacq]; assomam, vivazes, amortecendo as

(*"9!/)"*/4%)/4%>"'&*/)/4=%/4%>"3,/&'3*/4%zBumelia sartorum

Mart.]; mais virentes, adensam­se os icozeiros [)&<<&%.-(K00#

Mart., ou )&<<&%.-(M&0#6./&" Moric]. Pelas várzeas, as umbu­

*/9/4%5'*:"0/0%$4%/*'4=%6;(*/9)$B$4%9/4% :*$9)'4%'9:$;</)/4=%

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pelo gracioso do porte, os umbuzeiros alevantam dois metros

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contra o clima ele registra:

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ressecado as plantas vão assim crescendo entre dois meios des­

favoráveis e mesmo as plantas mais robustas trazem no aspec­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

141

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1946, p. 38).

Quando as plantas não se mostram

tão bem armadas para a reação vitoriosa, apresentam

dispositivos porventura mais interessantes: Não podendo revi­

dar isoladas, disciplinam­se, unem­se, intimamente abraçadas,

transformando­se em plantas sociais, um sessenta por cento das

caatingas. E, estreitamente solidárias nas suas raízes, no subso­

;$=%'0%/5'*(/)/%(*/0/=%*'(E0%/4%F1"/4=%*'(E0%/4%('**/4%>"'%4'%

desagregam, e formam, ao cabo, num longo esforço, o solo ará­

?';%'0%>"'%9/4!'0=%?'9!'9)$=%5';/%!/53;/*3)/)'%)$%39',(*3!F?';%

('!3)$%)'%*/)2!";/4%'9*')/)/4%'0%0/;</4%9"0'*$4/4=%/%4"!A-$%

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provisão de alimentos:

aqueles troncos torturados, na busca dos elementos da

vida, escassamente disseminados no ar diziam tudo [...] con­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

142

5/34/1'0e%`KRcJRc=%jklk=%5.XI.a7%M;.0%)344$=%Os Sertões acabou

transformando­se num manifesto de oposição a um estado cen­

(*/;3\/)$*%>"'%)'4?/;$*3\/?/%!'*($%(35$%)'%<$0'0%'%5/34/1'0%5/*/%

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)'%;3>"3)/*%$4%</&3(/9('4%)'%C/9")$4%!$0$%"0%&/9)$%)'%!*3039$­

sos, Euclides observou: “Depois de nossa vitória, inevitável e pró­

,30/=%9$4%*'4(/%$%)'?'*%)'%39!$*5$*/*%]%!3?3;3\/A-$%/%'4('4%*")'4%5/­

trícios, que, digamos com segurança, constituem o núcleo de nossa

nacionalidade.” (ANDRADE, 1974, p.117).

V/%.5$!/%'0%>"'%8"*;'%O/*,%(*/&/;<$"%'0%R'!3:'=%/%(*/)3­

ção paisagística no Brasil era predominantemente voltada ao uso

)'%5;/9(/4%',@(3!/4%'0%#/*)3947%V'44'%!$9(',($=%'*/%1*/9)'%/%)36­

culdade de encontrar mudas de plantas nativas e, ainda mais, de

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'9(/9($=%9-$%<'43($"%'0%(*/\'*%/%!//(391/%5/*/%$% ;3($*/;7%M5/*'9­

temente simples, essa ação impregna­se de simbolismo. Em sua

5*/A/=% /(*/?.4%)/% ?'1'(/A-$%)/% !//(391/=%8"*;'%O/*,%>"'*=% !$0$%

Euclides com seu livro, tirar o sertão de seu isolamento secular e

apresentá­lo como símbolo, com sua força e sua beleza, ao resto do

Brasil.

M$%)'4!$9(',("/;3\/*% /% !//(391/=%8"*;'%O/*,% ;3&'*$"B4'%)$%

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destrói este fato primordial. Permanece, em Euclides, uma sensa­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

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Literatura e Paisagem em Diálogo

145

O romance e a invenção da paisagem brasilei­ra: o caso Iracema

Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo

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Pretende­se contar, aqui, como de um romance fez­se a len­

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está presente no cotidiano dos brasileiros, sendo repetida na mú­

sica popular em canções que evocam Iracema, nas belas letras de

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O Romance e a Natureza Brasileira

Em O vermelho e o negro=% I('9)</;%"(3;3\/% /%0'(F:$*/%)$%

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realismo.

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ce possui, entre as suas características de formação, o plurilinguis­

Literatura e Paisagem em Diálogo

146

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tidiano e a descrição objetiva da vida social, quando, a partir do

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envolvidos, com o emprego de linguagem mais referencial do que

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municação e transporte; inventos óticos variados; acesso ao con­

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sistiam ao espetáculo das mercadorias, em movimento nas ruas,

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Mas, como podemos pensar o romance no Brasil, especial­

mente numa situação contraditória de incentivo ao consumo de

produtos industrializados, de formação de valores de conacionali­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

147

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de muitos anúncios, que orientam o consumo e as atitudes; tudo

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1988, p. 29).

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para uma cultura que almeja a feição cosmopolita e modernizado­

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auditores, numa sociedade de iletrados. Segundo Antonio Candido

(1980, p. 81), “a grande maioria de nossos escritores de prosa e ver­

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to de gosto e sua pobreza cultural não permitia a formação de uma

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mistura de romance e informação caracteriza os indícios do mundo

do leitor incorporados na escritura. Assim, são constantes recursos

como: a fragmentação da leitura, necessária para criar vínculos de

interesse em indivíduos com precário contato com o livro; a orga­

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to de duração vivenciado no cotidiano e que são alimentadas pelo

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intercaladas; os temas de vingança, sedução e amor; a redundância

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Literatura e Paisagem em Diálogo

148

rações de ritmo da narrativa (OcJcR= 1996).

Difundido pelas revistas e jornais familiares, nas cidades, e,

no interior do país, pela leitura em voz alta, o romance romântico

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acima de tudo, inventa a paisagem, numa reunião de imagens que

dialogam, profundamente, com a tradição ocidental, tais como: os

laços estabelecidos entre a alegria cristã e a beleza da natureza; as

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mais e plantas, entre elas, a palmeira e as palmas,61 presentes na

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aromas que ecoam o paraíso terreal.

Apesar de romântico, o romance que inventa a paisagem traz

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uma forte relação com a natureza e com a sua importância na vida

das pessoas e na formação da identidade, tanto individual, quanto

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titui fonte inesgotável para o desenvolvimento da sensibilidade,

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61 Em O cântico dos cânticos (7.8.) o amante diz,

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Literatura e Paisagem em Diálogo

149

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de, integra­se a um sistema de representação, condicionado pelo

relacionamento ativo do sujeito ao objeto.

Os objetos, que já condensam a percepção sentimental

e emotiva do sujeito neles projetado, são como abreviaturas

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do subjetivo e do objetivo, núcleos de correlações cambiantes,

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(NUNES, 1993, p. 67).

Projeta­se no romance a acolhedora poética do pitores­co, para recriar, iluminando em tons adequados, a natureza e $#?$"&"#()'*+6&+)$*=#*&"#$#()+6?$#&O/&**+5$#%'#)'78$#+69"+­-+*2'=#"'*#A#"&+'#697#/$-/+6+'%$)'=#)$"`-2+/'#&=#*&,9-%$#X$*B#

de Alencar, necessária:

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Literatura e Paisagem em Diálogo

150

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O intenso colecionismo de animais, vegetais, minerais e de seres

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de 1750, que organizou, sistematizou, descreveu e reduziu a diver­

sidade, riqueza e dinamismo de plantas, e animais, na simplicida­

de aparente de um “visível descrito” (FOUCAULT, 1990). Logo,

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receber um nome que cada qual poderá entender.

Desenvolvidas elas próprias, esvaziadas de todas as se­

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tui seu objeto próprio: aquilo mesmo que ela fará passar para

essa língua bem­feita que ela pretende construir. (FOUCAULT,

1990, p. 152).

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siz, que pretendia reunir dados para o esclarecimento das teorias

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publicado em 1870, com o título de !"#+#$.&("($"#$%&'&(GU-.0&(4#(

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Literatura e Paisagem em Diálogo

151

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cal, demonstram a percepção artística, tipicamente romântica, que

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A brisa vem sobre nós quente e perfumada, e nós a respiramos

em largos sorvos. Logo aparece uma clareira, e pode­se ver

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patia entre o observador e o mundo natural, reunindo, ao mesmo

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pitoresco na apresentação da paisagem que traduz a relação de in­

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sação de medo, pavor e melancolia do indivíduo que não se sente

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numa via de mão dupla, permite que, indiretamente, a paisagem

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tureza europeia. Na mesma medida, tal poetização ou estetização

Literatura e Paisagem em Diálogo

152

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pondem sensações que o artista interpreta, esclarece e comunica.

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1992, p. 18).

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al romântico brasileiro realize o diálogo com a tradição Ocidental.

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cesso de integração e diferenciação” (CANDIDO, 1987, p. 179), de­

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so de representação da cultura e autorrepresentação dos sujeitos,

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um espaço representado e, simultaneamente, um espaço presen­

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efeitos perversos da colonização predatória e dos recursos naturais

nem sempre tão prodigiosos.

Consciente da necessidade de cumprir a missão de, pelo

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da bananeira, planta de origem asiática, assumida como nacional.

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laços de conacionalidade.

Literatura e Paisagem em Diálogo

153

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recorde­se de Paulo e Virgínia, e daquelas bananeiras que cres­

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da tarde, e veja como Bernardim de Saint­Pierre soube dar po­

esia a uma cousa que nós consideramos tão vulgar. (ALENCAR,

1960, p. 886).

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tradições e dilemas do intelectual romântico na invenção da pai­

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nenoso e mortal, a fruta áspera, a morte e o abandono. A tensão

permanece latente e o apaziguamento pitoresco não se realiza ple­

namente, como se pode notar tanto na tristeza, abandono e morte

que se anunciam no canto triste da jandaia, em Iracema, quanto

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quequer, no romance O Guarani7%H/*/)$,/;0'9('=%('0$4%/%/44$­

ciação entre a beleza agressiva da natureza que repele e seduz, cujo

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e veneno, só pode ser compreendido pelo artista. Da mesma forma,

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des borrascas; quem viu, sob a verde pelúcia da selva esmaltada

Literatura e Paisagem em Diálogo

154

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levam a morte num átomo de veneno, compreende o que Álvaro

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se e cresceu nesse berço perfumado, no meio de cenas tão diver­

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1958a, p. 165­166).

Iracema e a Paisagem

Publicado em maio de 1865, o romance Iracema% (*$",'%$%

subtítulo R"/4&(4#()"&%L%'%"0%5*@;$1$%)$%'4!*3($*%Q$4.%)'%M;'9­

car, que dedicava a obra a seus conterrâneos, apesar do receio de o

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(ALENCAR, 1958b, p. 234), bem como recebeu a leitura crítica de

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a ingenuidade dos sentimentos, o pitoresco da lingua­

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que entristece. (ASSIS, 1958, p. 226).

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gando neste ponto uma conveniente sobriedade.” (ASSIS, 1958, p.

230).

Literatura e Paisagem em Diálogo

155

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em seus estudos, enfatizou a presença do que denominou “tenuida­

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projetada por Alencar a certos aspectos da paisagem e da vida ani­

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entre outros, iluminaram a leitura da obra.

O romance Iracema incorpora vários procedimentos rea­

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to claro das ações em desenvolvimento. Iniciando em media res,

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uma natureza em movimento tenso, de “mares bravios”, a quem o

narrador dirige­se pedindo tranquilidade para que as personagens

mostrem­se e a estória comece: “Serenai, verdes mares, e alisai

docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso

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como artifício para instigar a curiosidade e a atenção do leitor, pro­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

156

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contaram nas lindas várzeas onde nasci” (ALENCAR, 1958b, p.

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No lugar da precisão de circunstâncias espaciais e tempo­

rais, o narrador apresenta o diálogo com a grande narrativa e a

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rizonte, nasceu Iracema.” (ALENCAR, 1958b, p. 238). No entanto,

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contaminados de conteúdo mítico, numa ação encadeada e inter­

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a premissa realista.

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se, portanto, da unidade de um espaço vital determinado, sentida

como uma visão de conjunto demoníaco­orgânica e descrita com

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Literatura e Paisagem em Diálogo

157

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e os elementos de uma vida cada vez mais mediada por imagens e

fantasmagorias.

Quando realiza esse mesmo recurso, o romance de Alencar

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resgate de outra forma de saber da cultura ocidental, o princípio da

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entanto, o saber das similitudes funda­se na súmula de suas assi­

nalações e na sua decifração, que ultrapassa o visível.

O sistema das assinalações inverte a relação do visível

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do fundo do mundo, tornava as coisas visíveis; mas para que

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visível que a tire de sua profunda invisibilidade. Eis porque a

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Literatura e Paisagem em Diálogo

158

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e devolver a alegria ao semblante do amado.

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ta frondosa, que todos os invernos se cobria de rama e bagos

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escura que faz sombra em tua alma: deve cair, para que a ale­

gria alumie teu seio. (ALENCAR, 1958b, p. 295).

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crita como ação necessária, o movimento da trama a seguir não eli­

mina a dor do processo, tanto na lenta agonia de Iracema, quanto

no permanente deslocamento, e melancólico desenraizamento, de

Martim.

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litude e de mito, presentes na composição das personagens, nos

espaços e nas marcas temporais, mas negados no encadeamento

da trama e das ações. O resultado consiste numa atmosfera mágica

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dagem onisciente do narrador, cujo movimento intercala a voz da

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Para o leitor, apresenta­se um conjunto tão fascinante quan­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

159

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se na saudade e na melancolia, provocadas pelo deslocamento que

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mirar a pátria de outros mares e, simultaneamente, o seu senti­

mento interior.

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brancas areias de Potengi, seu berço natal, onde ele vira a luz

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(ALENCAR, 1958b, p. 278).

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uma linguagem voltada para a sua capacidade de comunicar, o que

faz da escritura um espaço para o contar a, para a narração, daí ser

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sença do amor romântico, fato marcante nos romances formadores

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protagonista, mas o desejo recíproco inicial que se desenvolve en­

tre os dois amantes, igualmente idealizados.

O princípio do amor romântico guarda um impacto no ima­

Literatura e Paisagem em Diálogo

160

ginário coletivo, uma vez que carrega uma força subversiva e de

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dos amantes protagonistas Iracema e Martim, o desejo recíproco

orienta seus movimentos em direção ao mesmo conteúdo, do iní­

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quanto seu amante guerreiro sintetiza a melancolia, os sentimen­

tos em constante deslocamento, “como a alva rede que vai e vem,

sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem

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tes amores.” (ALENCAR, 1958b, p. 266).

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(ALENCAR, 1958b, p. 292). No lugar da reciprocidade no amor,

surgem o desencontro e o abandono.

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dos protagonistas; máscara para o desejo que representa, por um

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Literatura e Paisagem em Diálogo

161

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permite o questionamento e retira a densidade psicológica das per­

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bana; tirou a virgem do seio o vaso que ali trazi oculto sob a

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das mãos, e libou as gotas do verde e amargo licor.

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o beijo, que ali viçava entre sorrisos como o fruto na corola da

+$*7 (ALENCAR, 1958b, p. 267).

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uma cena que realiza uma interessante interlocução com a tradição

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interior.

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areias escaldadas pelovardente sol, manava uma água fresca e

pura; assim destila a alma do seio da dor lágrimas doces de alí­

vio e consolo.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

162

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tura romântica brasileira, como no poema Minha Terra (1856), de

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sombra do cajazeiro”63, numa clara alusão ao poeta italiano a quem

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Em Iracema, no entanto, esse movimento não representa apro­

fundamento ou mudança no estado interior da personagem, cujo

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raizamento, constantemente embalado pela “surdina merencória

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255).

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da paisagem e da brasilidade no romance Iracema, como a lingua­

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ria indígenas, mas de índices e sinais que descobrem a similitude

sob o visível e estabelecem as correlações necessárias para a deci­

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(ABREU, 1961, p. 45).

Literatura e Paisagem em Diálogo

163

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De intenção realista, o romance anula a pretensa objetivida­

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ta de nostalgia, com suspiros de saudade que atingem o leitor e

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cantada, num mundo mágico onde se encontra a pátria de Iracema,

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Guimarães Rosa.65

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produzir outra forma de narrar? Quer dizer, uma narrativa com

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primeira aparição de Iracema correndo, quase voando, e mal to­

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ouvinte?

A cultura não erudita possui uma forte relação com as ima­

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lares movimentou­se intensamente nas praças e feiras medievais,

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65% %c,5*'44-$%>"'%'9!'**/%$%!$9($%Desenredo, de

Guimarães Rosa (ROSA, 1994, p. 557).

Literatura e Paisagem em Diálogo

164

de feira, ou de cego, que ilustravam com imagens dispostas por

episódios o conteúdo do pliego recitado, conforme relata Martin­

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sobre o leitor, na superposição de cenas e quadros que evocam sen­

sações e sugerem movimento. Tudo parece em movimento cons­

tante, natureza e sujeitos, e o leitor torna­se espectador de quadros

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produtos caros e de inventos óticos como o diorama, o panorama

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assim como os tons matizados de claro e escuro, que equivalem a

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valores e instituições pautavam­se pela ambiguidade com a qual o

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Memórias de um sargento de milícias, que, depois de discorrer

sobre os diferentes usos do adereço,66%!$9!;"3f%dO/4%/%0/9(3;</%'*/%

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mais prosaica que se pode imaginar, especialmente quando as que

Literatura e Paisagem em Diálogo

165

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em desníveis narrativos, demonstrando o desencontro dos postu­

lados reunidos no livro, “resultado precário da combinação da for­

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Talvez essas contradições formais sejam risíveis, mas vaza­

das de melancolia, mais do que puramente engraçadas, por sugerir

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esforço de educar a sensibilidade com a força da imaginação, capaz

de superar a rudeza e a precariedade do cotidiano, que se almejava

0$)'*9$%'%:'3($%)'%(*/&/;<$%'4!*/?$7%

Essa junção, como estrutura romanesca, seria risível se as

4"/4%30/1'94%9-$%4'%6,/44'0%!$0$%?'*)/)'=%5/*/%!$9(/*%9$44/%<34­

tória cultural.

Na verdade, pela virgem dos lábios de mel, que, com o seu

(/;<'%)/%5/;0'3*/=%$;<$4%)'%4/&3F=%&$!/%?'*0';</%!$0$%/%53(/91/=%

<F;3($%)'%&/"93;</%'%4'94"/;3)/)'%0$*'9/=%0"3($4%&*/43;'3*$4%4"4­

piram saudosos, tal qual Martim contemplando a praia na abertura

do romance. Vendo­a correr quase sem tocar a “pelúcia” da relva,

numa perfeita integração com a natureza, os brasileiros apren­

)'*/0%/% (*/94:$*0/*%/>"';'% ;"1/*%)'%d/;.0=%0"3($%/;.0%)/>"';/%

4'**/e=%;"1/*%(-$%5'*($%'%;$91'=%d>"'%/39)/%/\";/%9$%<$*3\$9('e%'0%

paisagem, repleta de brasilidade matizada de melancolia, porque

marcada pela dor.

/4%(*/\3/0%'*/0%&/3,/4%'%1$*)/4%!$0$%/4%!$0/)*'47e%`M_Oc[SM=%

s.d., p. 41­42).

Literatura e Paisagem em Diálogo

166

Vale a pena rever essa cena do romance, feita de fragmen­

($4%)'%30/1'94%)'%9$44$%5*$!'44$%)'%!$9<'!30'9($%'%/"($!$9<'!3­

mento, como sujeitos e como brasileiros.

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<$*3\$9('=%9/4!'"%[*/!'0/7

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;$4%0/34%9'1*$4%>"'%/%/4/%)/%1*/^9/%'%0/34%;$91$4%>"'%4'"%(/;<'%

de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a bau­

93;</%*'!'9)3/%9$%&$4>"'%!$0$%4'"%<F;3($%5'*:"0/)$7

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem cor­

ria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira

(*3&$%)/%1*/9)'%9/A-$%(/&/#/*/7%Y%5.%1*F!3;%'%9"=%0/;%*$A/9)$=%

alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primei­

ras águas. (ALENCAR, 1958b, p. 238­239).

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Literatura e Paisagem em Diálogo

167

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0/99%'%K')'*3!$%C/*$((37%I-$%H/";$f%C$05/9<3/%)/4%_'(*/4=%jkkn7

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HRYcVÑM=%O/9$';%C/?/;!/9(37%Q$4.%)'%M;'9!/*%9/%;3('*/("*/%&*/­

Literatura e Paisagem em Diálogo

168

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I-$%H/";$f%C$05/9<3/%)/4%_'(*/4=%jkkm7

Literatura e Paisagem em Diálogo

169

Poesia e paisagem urbana: diálogos do olhar67

Ida Alves

[…] o estatuto do autor no processo de produção lite­

rária não é um estatuto psicológico (uma entidade psíquica

*/.'0&4&a@(5&-(*5("-,&,*,#(,#<#+T$.0#(b*5(+*$&%(#/4"("(4#/­

de) […]

`CYc_UY=%jkun=%57%nkka7

[…] A rua, único / lugar que te acolhe, apesar de / não

veres senão o que te expulsa.

(BESSA, 2004, p. 15)

Desde o início de 2008, no âmbito do Grupo de Pesquisa

ZKK%g%CVH>%dc4(")$4%)'%H/34/1'0%9/4%_3('*/("*/4%)'%_291"/%H$*­

tuguesa”, estamos desenvolvendo estudos sobre as relações entre

poesia e paisagem, considerando como corpus de análise certa

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certeza de que, nesse período, adensarem­se contradições sociais,

culturais e identitárias em paralelo com o fortalecimento de um

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67% %Z0/%5*30'3*/%%'%393!3/;%?'*4-$%)'4('%(*/&/;<$=%

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!$9('05$*N9'/e=%'9!$9(*/B4'%'0%H[RcI=%M9(h93$%S$93\'((37%O legado

moderno e a (dis)solução contemporânea. Araraquara: Editora da

UNESP, 2011.

Literatura e Paisagem em Diálogo

170

cesso de visualidade e a velocidade, seja na transmissão das infor­

mações, seja na utilização massiva do computador e suas práticas

(',("/34%439(.(3!/4%'%:*/10'9(/)/4=%4'#/%9/4%',5'*3E9!3/4%!$(3)3/9/4%

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pensadores da atualidade, mas sobretudo por Paul Virilio (2005),

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porâneas a partir da concepção da “dromologia”, termo de sua cria­

A-$%5/*/%!3E9!3/%`$"%/%;@13!/a%>"'%'4(")/%$4%':'3($4%)/%/!';'*/A-$%)/%

velocidade na sociedade.

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na área de teoria literária renovaram­se questionamentos sobre

/%61"*/A-$%)/%5/34/1'0%9$% (',($% ;3('*F*3$%!$9('05$*N9'$=%!$0$%

comprovam, em nível internacional, as diversas obras do teóri­

!$%)'%5$'43/=%O3!<';%C$;;$(=%5*$:'44$*%)/%Z93?'*43)/)'%H/*34% [[[=%

e uma crítica literária “ecológica”, a Ecocrítica, de Greg Garrard,

“presidente da Associação para Estudos de Literatura e Meio Am­

&3'9('%9$%R'39$%Z93)$%'%5*$:'44$*%)/%Z93?'*43)/)'%)'%8/(<=%$9)'%

leciona poesia, literatura canadense, teoria literária e ecocrítica”

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5$;$13/=%/%6;$4$6/%z'%'4(/0$4%5'94/9)$%'0%'4(")$4%)'%M"1"4(39%

Berque (1994), Paul Cleval (1999), Alain Roger (1997), Anne Cau­

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O'*;'/"BH$9(T%`jkkj=%nmm~a=%$%('*0$%d5/34/1'0e%.%!$05*''9)3)$%

Literatura e Paisagem em Diálogo

171

como “estrutura de interação cultural”, uma “organização percep­

(3?/e=%5$9)$%'0%*';/A-$%(*E4%('*0$4%!/*$4%/$%(*/&/;<$%;3('*F*3$f%$%

sujeito, a palavra e o mundo.

p%'?3)'9('% (/0&.0%>"'%/%/*('% !$9('05$*N9'/=%9/%5;"*/;3­

dade de suas manifestações, vem pensando muito atenta e critica­

0'9('%/%5*')$039N9!3/%)/%4"5'*',5$43A-$%>"'%?'3$%/%!/*/!('*3\/*%

39'1/?';0'9('%$%4.!";$%oo%/%5/*(3*%)/%5*'4'9A/%!$(3)3/9/%'%&/4­

(/9('%)344'039/)/%)/% :$($1*/6/=%)$% !39'0/=%)/% (';'?34-$=% '%0/34%

recentemente da tela do computador. Imersos cada vez mais na

?34"/;3)/)'%',!'443?/=%!$0$%>"'4(3$9/%H/";%i3*3;3$%'%P'$*1'4%S3)3B

U"&'*0/9=%$%$&#'($%'4(.(3!$%5$443&3;3(/%"0/%:*'9/1'0%9/%?';$!3­

)/)'%)/4%30/1'94=%*'/5*$,30/9)$%$%:*"3)$*%)$%#$1$%)'%)'(/;<'4%'%

de perspectivas que a obra de arte pode provocar. Lembramos aqui

"0/%/6*0/A-$%)'%P'$*1'4%S3)3BU"&'*0/9%'0%4"/%$&*/%O que ve­

mos, o que nos olha:

Abramos os olhos para experimentar o que não vemos,

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das vezes dar ensejo a um ter: ao ver alguma coisa, temos em

1'*/;%/%305*'44-$%)'%1/9</*%/;1"0/%!$34/7%O/4%/%0$)/;3)/)'%

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!3/%:"9)/0'9(/;%)'%?34"/;3)/)'%`8cRPcR=%nmmmt%Sc8RMJ=%jkkla=%

'4(/&';'!'9)$%(/0&.0%(*/#'($4%)'%39?'4(31/A-$%4$&*'%4"&#'(3?3)/­

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0'9('%:$*('%*'+',-$%4$&*'%$4%;303('4%)$%5$.(3!$%'0%9$44$%5*'4'9('=%

Literatura e Paisagem em Diálogo

172

questionando­se suas impossibilidades ou não­importância frente

a novos interesses de comunicação ou formas de construções ima­

1.(3!/4%`8MZSR[__MRS=%jkkut%OMRo=%nmmrt%OMZ_HY[o=%nmmra7%

Trata­se de avaliar o impacto do mundo virtual (“a ubiquidade óti­

!$B';'(*h93!/ea%'%/4%9$AD'4%)'%?';$!3)/)'%g%;3>"3)'\%>"'=%'0%9$44/%

atualidade, acarretam efeitos muito fortes em termos de relação

com o espaço e o tempo, como problematizam os estudos de Paul

i3*3;3$% jkkl=%jkkq/=%jkkq&=%nmmra%'%$4%)'%bT10"9(%8/"0/9%`nmmj=%

2007, 2008, 2009).

Em poesia, a problematização da paisagem tem provocado

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ços, estabelecendo em paralelo trajetos de questionamento sobre

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9$%!$9(',($%!";("*/;%/("/;7%V-$%4305;'40'9('%/%5/34/1'0%!$0$%"0%

tema de escrita, como enunciado descritivo (in situ), mas funda­

mentalmente como uma estrutura de sentido, uma rede sensorial,

>"'%4"4('9(/%!$961"*/AD'4%$"%)'461"*/AD'4%)$%4"#'3($=%)/%;391"/­

1'0%5$.(3!/%'%)$%0"9)$%5$*%0'3$%)$%$;</*%`in visu)687%S/%!'9/%g%

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0'9('%/%5'*!'5A-$%)$%4"#'3($%/%5/*(3*%)$%>"/;%5/*('%/%;39</%)'%:"1/%

da paisagem. Trata­se de discutir, sobre novas bases conceituais e a

partir de diferentes práticas culturais, como defendem os ensaístas

:*/9!'4'4%Q'/9BH3'**'%R3!</*)% jkqa%'%O3!<';%C$;;$(% jkk=%nmmra=%

a percepção paisagística como percepção sobre o estar no mun­

do e o estar na escrita=%;"1/*'4%)'%</&3(/A-$%'%)'%*'+',-$%4$&*'%

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coletivas, com a discussão sobre limites e efeitos da subjetividade

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*':'*E9!3/%'%/%0'(F:$*/=%4$&*'%9$?/4%&/4'4%!$9!'3("/34%'%/%5/*(3*%)'%

68 Utilizamos os termos de Alain Roger (1997),

em seu )#*%,(,%&.,](4*(<&K-&$".

Literatura e Paisagem em Diálogo

173

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*'!'9('4%)-$%!$9(/=%5$*%','05;$=%)$%'45/A$%"*&/9$%/("/;%'0%>"'%

vive a maior parte da população mundial. O desenvolvimento e os

novos contornos do espaço citadino alteram nossa própria percep­

ção paisagística e transforma­o numa estrutura de sentido que não

pode ser ignorada. Muita da poesia contemporânea dá conta de

',5'*3E9!3/4%)$%"*&/9$%/%5/*(3*%)'%4"&#'(3?3)/)'4%>"'%4'% 4'9('0%

deslocadas em relação ao espaço material e cultural circundante.

I'1"9)$%O3!<';%C$;;$(=%$%*':'*'9('%)$%5$'0/%.%"0%d"93?'*4$%

imaginário” que constitui uma versão singular de mundo, já que

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'0%>"'%.%';'%5*@5*3$%"0%0"9)$%>"'%4'%:/\%?'*7e70 (COLLOT, 2005,

p. 178).

V-$%4'%(*/(/=%5$*.0=%)'%0'*/%/5;3!/A-$%/$4%(',($4%5$.(3!$4%

de estruturas e esquemas redutores, mas o questionamento da pai­

sagem como uma “organização de sentido”, resultado de um modo

)'% ?'*=% 6,/*% $"% )'4;$!/*% ?/;$*'4% '% !$9:*$9(/*% 4"&#'(3?3)/)'4=% 9/%

tensão contínua entre dentro e fora, ipseidade e alteridade, visível e

69 “)S"-,(+S#6M"0,.P.,](8*.("-,(*/"('0,.#/c(",(

l’imaginaire est en revanche un instrument de connaissance du reel”.

70 “La textualité du poème renvoie à la texture

de l’univers [...] le poème fait voir le monde parce qu’il est lui­même un

monde qui se fait voir.”

Literatura e Paisagem em Diálogo

174

invisível. Num tempo cambiante e veloz como o nosso, os estudos

de paisagem dão a ver as tensões entre sujeito e mundo, revelando

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desses poetas vai constituindo em torno do espaço urbano.

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paisagens, constituindo gestos de escrita problematizadores da

cultura de língua portuguesa. Esse tratamento crítico da noção

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da linguagem lírica, envolvendo a palavra, o sujeito e o mundo. A

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matização de questões determinadas: a relação entre uma cultura

particular e um mundo globalizado, a objetualidade do espaço e a

subjetividade lírica, o diálogo constante entre poesia e outras artes

questionadoras do espaço e da paisagem, como a pintura, o cine­

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de, temporalidade e espacialidade. Numa tradição cultural como

a portuguesa em que o mar representou papel fundamental na

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Literatura e Paisagem em Diálogo

175

atualidade.

Com essa orientação, sustentamos essa análise da poesia

portuguesa atual com estudos recentes sobre o lugar da poesia e do

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abordagens radicalmente formalistas que consideram o poema um

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sua construção. Trata­se, assim, de discutir a poesia não como uma

textualidade hermética, mas uma prática hermenêutica sobre o

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suas emoções, de uma narratividade a dar conta de banais ações e

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Amaral (1991), Martelo (2004), estudos que nos ajudam a pensar

essa produção sobre a perspectiva do urbano e seus impasses.

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estudos mais desenvolvidos e contínuos sobre a poesia dos anos

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cos sedimentados que podem se tornar objeto de análise e sobre

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analítica, como Rosa Maria Martelo, Manuel Gusmão, Fernando

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urbanas que movem nossa investigação ainda não encontraram

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Literatura e Paisagem em Diálogo

176

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de Agamben (2008) ao interrogar “8*S"-,N0"(8*"(0"+&(-.$/.'"@(\,%"(

contemporains?”71%`57%ua7%C$05/*(3;</0$4%/%3)'3/%)'%>"'%!$9('0­

porâneos são aqueles que estão em relação com nosso próprio tem­

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poetas que começam a publicar nos anos oitenta e o diálogo com

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raneidade. Preferimos assim entender como poeta contemporâneo

aquele, que, como propõe Agamben (2008), “'d"(+"(%"$&%4(-*%(-#/(

temps pour en percevoir nos les lumières, mais l’obscurité.Tous les

temps sont obscurs pour ceux que en éprouvent la contemporanéi­

té. Le contemporain est donc celui qui sait voir cette obscurité, qui

est en mesure d’écrire en trempant la plume dans les ténèbres du

présent.”72 (p. 19­20). Assim, o corpus 5$.(3!$%>"'%)'6930$4%5/*/%

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mostrando­nos não respostas mas as indagações e as dúvidas do

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buscamos não apenas a compreensão de uma determinada produ­

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nele perceber não as luzes mas a obscuridade. Todos os tempos são

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livre nossa).

Literatura e Paisagem em Diálogo

177

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questões similares próprias a seu tempo e ao seu universo cultural.

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mando em linguagem lírica uma relação lutuosa com a cidade e

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denotarão muito mais uma percepção pessimista de mundo, rejei­

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na leitura da cidade?

Nos limites deste artigo, fazemos um recorte necessário e

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ao confronto de valores e de projetos literários, uma construção

rarefeita da subjetividade e não um espaço concreto e delimitado

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vazios, a partir de subjetividades fragmentadas e móveis que se

vão escrevendo no cruzamento com a paisagem possível de agora,

de cimento e asfalto: estradas, ruas, esquinas, carros, autocarros,

comboios73, aeroportos, supermercados, restritos jardins públicos,

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na interação de sujeitos vários que transitam pelos poemas. Talvez

falar da cidade ou de seus lugares de rotina cotidiana seja a forma

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Literatura e Paisagem em Diálogo

178

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imagem estática de prazer. Por isso, a paisagem nessa poesia se

escreve como uma questão de luto e não tranquila ordenação do

visível. Escrita lutuosa porque dá­se como narrativa de ou sobre

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de romper o espaço material estático ou limitado para reencontrar

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cas de Jorge Sousa Braga, Manuel de Freitas e Rui Pires Cabral. O

primeiro publicou seu primeiro livro de poesia em 1981 (De manhã

vamos todos acordar com uma pérola no cu); o segundo, em 2000

(Todos contentes e eu também); e o terceiro, em 1994 (!"#$%&'&(

das estações).

Encontra­se em suas obras um convívio com a cidade muito

difícil, tenso, em constante desequilíbrio. A cidade se efetiva como

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“andante”74, sem pouso ou destino certo. Como aborda Ana Fani

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metrópole de São Paulo, o estranhamento e o desencontro são

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mente transformado frente a um tempo vivenciado na velocidade

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uma contradição entre o tempo da vida%G%>"'%4'%',5*'44/%9/%

vida cotidiana (tempo e espaço que medem e determinam as re­

74% % %Q$1$%/>"3%!$0%"0%('*0$%"4/)$%9$%0'(*h%

do Porto em relação ao cartão que o usuário pode adquirir para

compra de passagens (Cartão Andante).

Literatura e Paisagem em Diálogo

179

lações sociais), e o tempo de transformação da cidade, que pro­

duz no mundo moderno, particularmente na metrópole, formas

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tendo como limite último o esvaziamento dos espaços apropria­

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que a morfologia urbana muda e se transorma de modo muito

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a cidade e seus espaços, paisagens não naturais, indiferentes e de

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o poema como uma câmera de observação do cotidiano, do mundo

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muito forte de perda, uma certa amargura insolúvel misturada com

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Literatura e Paisagem em Diálogo

180

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ce, serventia.[...]” (FREITAS, 2007, p. 72); e de Sousa Braga (2007,

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vício” indicam duas possibilidades de compreensão: por um lado,

mostram uma relação fortemente desencantada com o mundo; por

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volução dos Cravos (1974) e a consequente abertura política, eco­

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para essa perspectiva, e voz com a qual alguns desses jovens poetas

mais diretamente dialogam, como comprovam epígrafes, citações

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citamos um poema emblemático dessa relação tensa com o espaço

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outra forma de percepção da realidade cotidiana:

Poucas vezes a beleza terá sido tanta

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Literatura e Paisagem em Diálogo

181

os lençóis com sangue, os restos apodrecidos,

adesivos negros que parecem afagos.

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são erguidos a imaginações malditas,

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ao odor sacrílego e alquimistas mortos.

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a dar­nos o sebo como se fosse a arte,

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O/1/;<-'4% ','*!'"% '45'!3/;0'9('%9/4%).!/)/4%)'%m%'%km%

um papel de analista bastante referencial no circuito literário por­

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Os dois crepúsculos (1981), o crítico manifesta­se não só sobre a

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tacamos uma intitulada “Sobre praias”, em que o autor ataca vee­

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população que transforma a paisagem da praia num cenário sem

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dúvida aumentado pela mediocridade das situações, de nelas

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Literatura e Paisagem em Diálogo

182

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se encontra e o seu mal­estar frente a um mundo que rejeita e que

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paço urbano degradado , como já procuramos discutir em outro

momento (ALVES, 2008).

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físico pela velocidade (aceleração do tempo cotidiano, não domínio

das mudanças espaciais, a vida gasta nos transportes e nas tarefas

de consumo), afastando cada vez mais os sujeitos de seus afetos e

de suas certezas, separando­os de uma memória afetiva ligada a

pequenos territórios de emoção (a infância, a família, os amigos),

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portas súbitas e imprevistos alçapões. (CABRAL, 2006, p. 24).

75 Sobre a narrativa e poesia brasileira

!$9('05$*N9'/4=%9/%5'*45'!(3?/%)/%?3?E9!3/%)$%'45/A$=%?'*%I"44'x39)%

(2005).

Literatura e Paisagem em Diálogo

183

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gem urbana muito sintomática. Encontra­se em poetas como os já

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Fátima Maldonado, a qual, embora nascida 1941, junta­se a esses

mais jovens poetas a partir da publicação de suas obras de poesia

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missão (1999), reunião de títulos anteriores, o conjunto de poemas

intitulado “Mágoa Urbana”, do livro O rumo das coisas, e desse

conjunto apenas uma primeira parte do poema “Mágoa Urbana 1”,

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Nesta cidade onde vamos soterrados

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dos depósitos,

ameijoas decompostas reluzem

em sucos opalinos,

compõem ritmos

onde sucumbem fórmulas

nos restos de maresia,

o nácar das ostras derrete­se no estrume,

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passa ser se deter

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lesmático o coturno

cumprindo cada pedra

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do sórdido jornal

onde todos os dias

Literatura e Paisagem em Diálogo

184

se renega a nascente

se devassa na fonte

a língua,

derruído cristal

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]%($*5'%0";(3)-$

que ignora o vocábulo,

a ascese,

a nitrogicerina da beleza.

[…] (MALDONADO, 1999, p. 191).

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mente o “Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde, e o “desas­

sossego” de Alvaro de Campos e de Bernardo Soares, essas vozes da

mágoa e do desalento tão presentes na cultura literária portuguesa.

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co, constituindo uma anti­pastoral inevitável. “[...] sempre perten­

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inócua mentira. [...]” (CABRAL, 2007, p. 58).

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autor, Carlos Bessa, nascido em 1967, com primeiro livro de poesia

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nas que envolvem sujeitos desmotivados, solitários e passivos a

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Literatura e Paisagem em Diálogo

185

“Antídotos”, do livro Em partes iguais (2004, p. 41):

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ou entre numa pastelaria como

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e da falta de razões ainda sejam essas

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o salário na mais nobre das tarefas

as da escuta. Embora sejam de gente

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passam na televisão.

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imaginário do locus amoenusa%$"%/%!$961"*/A-$%)'%"0/%5/34/1'0%

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perda, de vazio e de morte simbólica, em termos sócio­culturais, de

suas realidades citadinas. De novo, citamos Carlos Bessa em outro

livro Dezanove maneiras de fazer a mesma pergunta (2007, p.

31):

Sou um poeta maldito porque não consigo

que a natureza compareça no que escrevo.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

186

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que

viaja pouco e pouco sai de casa

que

diz o que sente e sente como qualquer,

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escreve sobre aqueles que ama, mesmo que

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iguais, anteriormente citado, o poema de abertura intitula­se “lo­

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Depressão” (p. 13) e o segundo “genius loci”: “Eram cinco da tarde

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canto ocorre sobretudo na linguagem, ou seja, utilizando­se de fra­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

187

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_/0'9(/0$4=%0/4%)'%0$0'9($%9-$%.%5$442?';

estabelecer a sua ligação. Volte a tentar

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H$*%','05;$=%/%!$05/3,-$%>"'%0'%(*/\'0

todos os infelizes logo depois de recusarem

um sorriso ao mais solícito dos empregados.

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da amizade, em quantos, pela leitura iluminados,

são esse misto de santidade e de pregruiça.

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o não, com um destino. Ou, então, será

qualquer coisa muito maior do que um poema,

a serenidade, essa sabedoria toda mármore.

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como se entre nós e a vida

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A retomada da elegia como forma “impura“ na poesia mais

recente merece aprofundamento, fase atual de nossa pesquisa. As

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um sujeito lírico que não oculta sua fraqueza, sua banalidade coti­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

188

Tandis que l’épopée raconte les hauts faits et que l’ode

encense les vainqueurs, l’élégie médite sur l’action et sur le sor­

te de l’homme. Elle devient volontiers gnomique et sentencieuse.

Elle correspond à un relatif désengagement du poète vis­à­vis de

+S&0,.#/^(-#/(./,]%.#%.,]('+,%"(",(4]0#5<#-"(+"-(]+]5"/,-(#6M"0,.G-(

du monde qui sont données à observer plus qu’à louer ou transfor­

mer. L’élégie est introspective. On y observe une dégraditon fatale

de l’élément épique, en même temps qu’un effort pour en dégager

le sens. L’élégie accomplit ainsi un glissment de l’épique vers le

lyrique. […] Travai de deuil et de mémoire, toute élégie formule un

deuil qui doit être dépassé. (p. 193­194).

A poesia portuguesa mais recente apresenta uma produção

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que se repetem palavras como desabrigo, morte, vazio, deserto,

ausência, esquecimento, constituindo um panorama de desalento

e de nostalgia. Em Oráculos de cabeceira (2009, p. 44), de Rui Pi­

res Cabral, lemos o poema “Linda a noite, ­para quem?”:

Cidade, um nome tão delicado

9$%!$0'A$%)'%"0/%<34(@*3/=

ainda sem música própria

$"%)'4:'!<$%5*'?342?';7%_"\'4

entre desperdícios, corredores

que se bifurcam na penumbra

de um acaso, antes do erro

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03*/9('4=%?3%$%>"'%(39</%)'%?'*%%B

mas o mundo era dos outros,

Literatura e Paisagem em Diálogo

189

não me oferecia consolo,

9'0%4'%)'3,/?/%($!/*%5';/4%039</4

ilusões. Foi a primeira incerteza,

de todas a mais real. Entretanto

o tempo passa, treze outonos

de longada, inconstantes

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nem eu próprio o sei dizer:

encontrei o pó das ruas e o mau

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perenes, amigos mortais.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

193

Sophia e a poética do mar em Portugal: o espa­ço do lugar

Márcia Manir Miguel Feitosa

Introdução

I$5<3/% )'%O';;$% 8*'T9'*% M9)*'4'9% .% 4'943?';0'9('% 5$'(/%

e curiosamente portuguesa. A inspiração do mar pulsa em suas

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43/7%L/;% !$0$%C/0D'4%'%H'44$/=% '9/;('!'"%'44'% ';'0'9($%5$.(3!$%

com verdadeiro sentimento de afeição e intimidade e publicou, em

2001, a antologia Mar=%$&#'($%)'%9$44/%*'+',-$%9'4('%'94/3$7

% ;"\% )/% P'$1*/6/% U"0/934(/=% )'% &/4'% :'9$0'9$;@13!$B

',34('9!3/;34(/=%'9:$!/*'0$4=%9'44/%/9($;$13/=%$%!$9#"9($%)'%5$'­

mas em que a poeta reúne poemas tematicamente ligados a sua

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0'9(/;%)$%1'@1*/:$%!<39E4%J3BK"%L"/9%>"'=%9/%5*30'3*/%0'(/)'%)/%

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]%P'$1*/6/%U"0/934(/=% !$0%'4(")$4%!'9(*/)$4%9$4%!$9!'3($4%)'%

lugar e de mundo vivido e com investigações acuradas em torno

)$4%)3?'*4$4%'%?/*3/)$4%431936!/)$4%)$%'45/A$7%

Evidenciaremos como as concepções teóricas de Tuan pare­

!'0%'!$/*%9/%0/(*3\%5$.(3!/%)'%I$5<3/=%9/>"3;$%>"'%4'"4%5$'0/4%

veiculam de mais íntimo com a ideia de lugar. O fulcro de nossa

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69'0%/%9/("*'\/%)/%1'$1*/6/7%%%%%%%%%

A Memória do Mar: Fusão entre Espaço e Tempo

c0%1*/9)'%5/*('%)$4%5$'0/4%)'44/%/9($;$13/=%3)'9(36!/0$4%

o conceito de “lugar” como a pausa em movimento, visto que o

Literatura e Paisagem em Diálogo

194

0/*%4'% ($*9/%$%!'9(*$%)'%431936!/A-$%9$%'45/A$%!*3/)$%5';/%5$'­

(/=%/39)/%>"'=%39?/*3/?';0'9('=%&"4!/)$%9/%0'0@*3/7%J3BK"%L"/9%

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$% ;"1/*% !$9434('%9"0/%>"'&*/%9$% '45/A$=% 34($% .=% dthe pause that

allows a location to become a centre of meaning with space or­

ganized around it7e%`LZMV=%jku=%57%jqa7%p%344$%>"'%'?3)'9!3/0$4%

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4'#$4f%d"0%!/9($%)/%5*/3/%4'0%9391".0e%$"%d/>"';/%5*/3/%',(/43/)/%

e nua”.

Ida Ferreira Alves, em “De casa falemos”, publicado em Es­

crever a casa portuguesa, ressalta, dentre outros poetas, o caso

5/*(3!";/*%)'%I$5<3/=%'0%!"#/%5$'43/=%4'1"9)$%/%/"($*/=%d5'*434('%$%

movimento em direção ao interior, seja do poeta, seja do próprio

poema.” (ALVES, 1999, p. 484). A memória, destaca ainda Alves,

constitui seu impulso de criação.

No segundo poema da antologia, intitulado “Mar I”, o eu­lí­

rico parte “dos cantos do mundo”, logo espaço livre e amplo, para a

“praia”, lugar da pausa onde se torna possível a união com o mar, o

?'9($%'%/%;"/7%V$%5;/9$%)/%0'0@*3/=%I$5<3/%*'!"5'*/%39('94/0'9('%

o passado vivido, numa clara fusão entre espaço e tempo.

O mesmo se dá em “Mar sonoro”, em que constatamos a

(*/945$43A-$%)$%39693($=%*'5*'4'9(/)$%5';$%0/*=%5/*/%/%39(303)/­

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alma de sujeito solitário:

MAR SONORO

O/*%4$9$*$=%0/*%4'0%:"9)$%0/*%4'0%607

A tua beleza aumenta quando estamos sós.

E tão fundo intimamente a tua voz

Literatura e Paisagem em Diálogo

195

I'1"'%$%0/34%4'!*'($%&/3;/*%)$%0'"%4$9<$

å"'%0$0'9($%<F%'0%>"'%'"%4"5$9<$

Seres um milagre criado só para mim. (ANDRESEN,

2001, p. 16).

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5'94/0'9($%'0%($*9$%)/%5$'43/%)'%I$5<3/%>"/9)$%/6*0/%>"'f

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(3)/=%*''9!$9(*$=%!$9('05;/A-$=%*'9$?/A-$=%/(.%)'%'45'*/9A/%)'%

regresso do post mortem para recuperar o não­vivido em pleni­

(")'%'%!$9?'*(EB;$%'0%?3?3)$=%9/%?3)/%034('*3$4/%;3&'*(/%)$%5'4$%

da caducidade e da morte; ou para integrar toda a sua alma

5$.(3!/=%3)'9(36!/)/%!$0%($)/%/%4"/%?3)/%?3?3)/%#"9($%)$%0/*=%

em todos os instantes, e do instante para a eternidade, como

;3&'*(/A-$%)/4%!$9(391E9!3/4%)$%('05$7%`_MVPRYZiM=%nmmn=%

p. 03).

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traiu, portanto, um dos mais contundentes motivos de sua poesia.

I30&$;3!/0'9('=% $% 0/*% ',5*'44/% /% )39N03!/% )/% ?3)/7% S'%

/!$*)$%!$0%Q'/9%C<'?/;3'*%'%M;/39%P<''*&*/9(=%d(")$%4/3%)$%0/*%

e tudo retorna e ele: lugar dos nascimentos, das transformações e

)$4%*'9/4!30'9($47e%`CUciM_[cRt%PUccR8RMVL=%jkkr=%57%rkna7%

I'0';</9('%*'+',-$%5$)'0$4%!$94(/(/*%9/%5$'43/%)'%I$5<3/=%5/*/%

>"'0%$%0/*%!$94"&4(/9!3/%/$%0'40$%('05$%/4%',5'*3E9!3/4%)'%;3­

berdade temporal e de interioridade, absorvendo­o para dentro de

si mesma, de modo a fundirem­se num só.

Um dos poemas que elucidam essa conjunção entre espaço e

Literatura e Paisagem em Diálogo

196

('05$%.%d_3&'*)/)'ef%

LIBERDADE

Aqui nesta praia onde

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M>"3%$9)'%<F%4$0'9('

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

M>"3%$%('05$%/5/3,$9/)/0'9('

Encontra a própria liberdade. (ANDRESEN, 2001, p.

28).

Nele, o eu­lírico elege determinada praia em que a pureza

e o senso de liberdade constituem sua marca principal. Curiosa­

0'9('=%'45/A$%'%;"1/*%4'%)3;"'0=%5$34%/%5*/3/=%/(.%'9(-$%;"1/*%';'3($%

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o presente e o passado, visto que o espaço “invites the imagination

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future. Place, by contrast, is the past and the present, stability and

achievement.” (p. 165).

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&'3*/B0/*e%`39453*/)$%'0%>"/)*$%<$0h930$%)'%H3!/44$a=%9-$%0/34%

construído em primeira pessoa, mas com a mesma perspectiva: o

de fusão do ser com o espaço e o tempo e, mais ainda, com a natu­

*'\/%>"'%5/44/%/%('*%!$9$(/A-$%<"0/9/f

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Confundido os seus cabelos com os cabelos

)$%?'9($=%(E0%$%!$*5$%:';3\%)'%4'*%(-$%4'"%'

tão denso em plena liberdade.

Literatura e Paisagem em Diálogo

197

Lançam os braços pela praia fora e a brancura

dos seus pulsos penetra nas espumas.

Passam aves de asas agudas e a curva dos seus

$;<$4%5*$;$91/%$%39('*039F?';%*/4(*$%9$%!."%&*/9!$

C$0%/%&$!/%!$;/)/%/$%<$*3\$9('%/453*/0%;$91/0'9('

a virgindade de um mundo que nasceu.

Y%',(*'0$%)$4%4'"4%)')$4%($!/%$%!30$%)'

delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.

E aos seus ombros cola­se uma alga, feliz de

ser tão verde. (ANDRESEN, 2001, p. 22).

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'9(*'%$4%!$*5$4%'%/%5/34/1'0%:243!/=%'9(*'%$4%!$*5$4%'%$%'45/A$%',34­

tencial, entre os corpos e a abstracção do pensamento.” (KLOBU­

CKA, 1996, p. 160).

c0% I$5<3/=% /% ;31/A-$% !$0% $%0/*% ',(*/5$;/=%0"3(/4% ?'\'4=%

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#"9($%)';'7%V$%5$'0/%d[94!*3A-$e=%>"/;%"0%'53(F6$=%$%'"B;2*3!$%'4­

treita os laços que o prendem ao lugar eleito:

Literatura e Paisagem em Diálogo

198

INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar

Os instantes que não vivi junto do mar. (ANDRESEN,

2001, p. 40).

c0% !$9(*/5$43A-$=% 9$% 5$'0/% dO$4(*/3B0'% /4% /9.0$9/4e=%

$4% 394(/9('4%/% 4'*'0%?3?3)$4% 4'*-$%',5'*3'9!3/)$4%9-$%0/34%post

mortem, mas da matriz da vida que se inicia nas profundezas do

0/*7% dY% :"9)$% )$%0/*e=% 5/*/% I$5<3/=% /5$9(/% U';'9/% C$9!'3A-$%

_/91*$"?/%`nmmn=%57%jma=%d.%$%:"9)$%0/34%:"9)$%>"'%$%5*@5*3$%5'9­

samento do sujeito lírico.”

O nascimento para a vida que implica o nascer no mar se

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5*$4/%5$.(3!/%>"'%!$*(/%/%/9($;$13/%/$%0'3$=%!$0$%"0%)3?34$*%)'%

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(*/945$43A-$% )$% '"B;2*3!$% )$% ',('*3$*% )'% 43%0'40$=% *'5*'4'9(/)$%

pelo pensamento, para o mais interior, representado pelas imagens

0/34%29(30/4%)$%'"7%_F%</&3(/0%/4%/9E0$9/4%'%/4%0')"4/4=%4"4!3­

tadas no poema anterior. Circular, a “narrativa” inicia­se de fora,

4$&%$%$;</*%)$%)'4;"0&*/0'9($=%'%4'%:'!</%9$?/0'9('%5/*/%$%',­

('*3$*=%4'0%>"'%4'%5'*!/%$%/*%)'%4$;'93)/)'%'%(*/945/*E9!3/7%Y%>"'%

/!$9('!'%'9(*'%$4%)$34%5@;$4%.%/%(*/?'443/%)/%?3)/%'0%4"/%',5*'44-$%

mais verdadeira.

Segundo o Dicionário de símbolos, a gruta simboliza o ar­

>".(35$% )$% ^('*$% 0/('*9$=% ;"1/*% )'% $*31'0% '% )$% *'9/4!30'9($%

`CUciM_[cRt%PUccR8RMVL=%jkkra7%O3*!'/%c;3/)'=%'0%O sagra­

do e o profano: a essência das religiões, ao tratar da sacralidade da

natureza e da religião cósmica, destaca que as grutas, para o Taoís­

Literatura e Paisagem em Diálogo

199

mo, “são retiros secretos, morada dos Imortais taoístas e local das

iniciações. Representam um mundo paradisíaco, e por esta razão,

4"/%'9(*/)/%.%)3:2!3;%`430&$;340$%)/%Å5$*(/%'4(*'3(/v777a7e%`c_[MSc=%

2001, p. 127).

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]%'9(*/)/%9"0%0"9)$%4'!*'($=%9"9!/%/9('4%?343(/)$=%4'%)F%>"/9)$%

o eu­lírico ultrapassa a superfície da água e adentra no mar do seu

inconsciente:

Eis o mar e a luz vistos por dentro. Terror de penetração na

</&3(/A-$%4'!*'(/%)/%&';'\/=%('**$*%)'%?'*%$%>"'%9'0%'0%4$9<$4%'"%

$"4/*/%?'*=%('**$*%)'%$;</*%)'%:*'9('%/4%30/1'94%0/34%39('*3$*'4%/%

mim do que o meu próprio pensamento. Deslizam os meus ombros

!'*!/)$4%)'%F1"/%'%5;/9(/4%*$,/47%M(*/?'44$%1/*1/9(/4%)'%5')*/%'%

a arquitectura do labirinto paira roída sobre o verde. Colunas de

4$0&*/%'%;"\%4"5$*(/0%!."%'%('**/7%M4%/9E0$9/4%*$)'3/0%/%1*/9)'%

sala de água onde os meus dedos tocam a areia rosada do fundo. E

/&*$%&'0%$4%$;<$4%9$%43;E9!3$%;2>"3)$%'%?'*)'%$9)'%*F53)$4=%*F53)$4%

:$1'0%)'%030%$4%5'3,'47%M*!$4%'%*$4F!'/4%4"5$*(/0%'%)'4'9</0%/%

claridade dos espaços matutinos. Os palácios do rei do mar escor­

*'0%;"\%'%F1"/7%c4(/%0/9<-%.%31"/;%/$%5*39!253$%)$%0"9)$%'%/>"3%'"%

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4'*3)$4%)"/4%5F139/4%/9('4=%39(3(";/)$%dP*"(/%)$%;'-$e=%#F%.%5$442?';%

'9(*'?'*%($)/%/%!$05;',3)/)'%)/%*';/A-$%)'%I$5<3/%!$0%/%1*"(/%)'%

sua intimidade, incluída no lugar de sua eleição: o mar. Caracteri­

zada como sendo a do leão, está imbuída de poder, luminosidade

e rejuvenescimento, ao passo que o elemento telúrico, aqui repre­

4'9(/)$%5';/%('**/=%d5$&*'%'%)'4+$*3)/e=%)'?'%4'*%/&/9)$9/)$%'0%

prol do renascimento que o mar proporciona. Logo, a opção por

(")$%/>"3;$%>"'%$%0/*% 430&$;3\/% .% !";("/)$% 39434('9('0'9('%5$*%

Literatura e Paisagem em Diálogo

200

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gorias:

GRUTA DO LEÃO

H/*/%/;.0%)/%('**/%5$&*'%'%)'4+$*3)/

O$4(*/B0'%$%0/*%/%1*"(/%*$,/%'%*$"!/

Feita de puro interior

E povoada

S'% !/?/% *'44$9N9!3/% '% 4$0&*/% '% &*3;<$7% `MVSRcIcV=%

2001, p. 36).

Y%4'9(30'9($%>"'%I$5<3/%9"(*'%5';$%;"1/*%'4!$;<3)$%305;3!/%

!$9<'!30'9($=%!$0$%/!'9("/%J3BK"%L"/9%'0%Space and place: hu­

manist perspective. H/*/%$%1'@1*/:$%<"0/934(/f%

,#(-"/-"(.-(,#(f/#F^(-#(F"(-&K(g;"(-"/-"-(.,S@(#%(g;"(0&,0;­

es the sense of it’. To see an object is to have it at the focus of

#/"S-(P.-.#/c(.,(.-("d<+.0.,(f/#F./$D(>(-""(,;"(0;*%0;(#/(,;"(;.++@(

>(f/#F(.,( .-(,;"%"@(&/4(.,( .-(&(<+&0"(G#%(5"D(`*,(#/"(0&/(;&P"(

a sense of place, in perhaps the deeper meaning of the term,

F.,;#*,(&/K(&,,"5<,(&,("d<+.0.,( G#%5*+&,.#/D(h"(0&/(f/#F(&(

place subsconsciously, though touch and remembered fra­

grances, unaided by the discriminating eye. (TUAN, 1974, p.

235).

Z0%!$9<'!30'9($%>"'%'0'*1'%)$%4'"%0"9)$%39('*3$*%'%>"'%

se manifesta em poesia, em fragrâncias de cor, luz e sensações, sem

a intervenção do racionalismo. Em “Praia”, o tom descritivo da pai­

4/1'0%!*3/%5'*4$936!/AD'4%>"'%',(*/5$;/0%$%0'*$%$;</*%)34!*303­

nador acerca do sentido do lugar:

Literatura e Paisagem em Diálogo

201

PRAIA

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Y%4$;%&/('%9$%!<-$%'%/4%5')*/4%/*)'07

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Pássaros selvagens de repente,

Atirados contra a luz como pedradas

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c%$%4'"%!$*5$%.%($0/)$%9$4%'45/A$47

As ondas marram quebrando contra a luz

A sua fronte ornada de colunas.

E uma antiquísssima nostalgia de ser mastro

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imposta pela maturidade dos anos. “A natureza”, argumenta Tuan

em :#<#'+.&^(*5("-,*4#(4&(<"%0"<19#@(&,.,*4"-("(P&+#%"-(4#(5".#(

ambiente=%d5*$)"\%4'94/AD'4%)';'3(F?'34%]%!*3/9A/=%>"'%('0%0'9('%

aberta, indiferença por si mesma e falta de preocupação pelas re­

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'%)'4!"3)/)$%!$0$%"0/%!*3/9A/=%4'%>"34'*%)'4:*"(/*%5$;30$*6!/­

mente da natureza.” (TUAN, 1980, p. 111).

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Literatura e Paisagem em Diálogo

202

do, um objeto qualquer torna­se outra coisa e, contudo, continua

a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico en­

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PROMONTÓRIO

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_$91$%0"*$%&*/9!$%'9(*'%/%4$0&*/%)$%*$!<')$

E as lâmpadas da água.

No quadrado aberto da janela o mar cintila

C$&'*($%)'%'4!/0/4%'%&*3;<$4%!$0$%9/%39:N9!3/7

O mar ergue o seu radioso sorrir de estátua arcaica

Toda a luz se azula.

R'!$9<'!'0$4%9$44/%39/(/%/;'1*3/f

M% '?3)E9!3/% )$% ;"1/*% 4/1*/)$7% `MVSRcIcV=% nmmj=% 57%

70).

O Mar em Sophia: a Memória das Naus

Conforme já pudemos constatar, a presença do mar na poe­

43/%)'%I$5<3/%!$0$%0$(3?$%1'*/)$*%)/%',5*'44-$%)$%'"B;2*3!$%!$94­

titui a temática da maioria dos poemas reunidos nessa antologia.

No entanto, como bem ressaltou Maria Andresen de Sousa Tava­

*'4=%$*1/93\/)$*/%)$%;3?*$%'%3*0-%)'%I$5<3/=%d$"(*$4%5$'0/4%<F%'0%

$%>"'%$%';'0'9($%0/*2(30$%/+$*/%/5'9/4%/;"43?/0'9('%'%9"0%;"­

gar aparentemente subsidiário, que no entanto se inscreve como

esteio relevante nessa temática.” (TAVARES apud ANDRESEN,

2001, p. 07­08). Essa observação tomará corpo nesse tópico, posto

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)'%/;.0B0/*=%;31/)$%$*/%/$%5;/9$%30/9'9('=%5';/%?3/%)/4%P*/9)'4%

Literatura e Paisagem em Diálogo

203

V/?'1/AD'4=%$*/%/$%5;/9$%(*/94!'9)'9('=%5$*%0'3$%)/%61"*/%'0&;'­

mática de D. Sebastião.

Um variado número de poemas suscita o advento dos des­

cobrimentos marítimos e o papel fundamental do mar para a con­

quista e domínio de novas terras. Dentre eles assinalamos “Des­

!$&*30'9($e=% )';39'/)$% 4$&% $% ;'0/% )/% 5'*4$936!/A-$% )$% $!'/9$%

que se revela como espaço indiferenciado e ameaçador, provido

de “músculos verdes” e de “muitos braços como um polvo”. Em

5$"!/4%'4(*$:'4=%I$5<3/%','*!3(/%/%)'4!*3A-$%'%/%9/**/A-$%'%!<'1/%

a associar “descobrimento” com “deslumbramento”, numa clara

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',5;$*/)$47

DESCOBRIMENTO

Um oceano de músculos verdes

Um ídolo de muitos braços como um polvo

Caos incorruptível que irrompe

E tumulto ordenado

8/3;/*39$%!$9<'!3)$

Em redor dos navios esticados

M(*/?'44/0$4%6;'3*/4%)'%!/?/;$4

Que sacudiam as crinas nos alísios

O mar tornou­se de repente muito novo e muito antigo

Para mostrar as praias

E um povo

S'%<$0'94%*'!.0B!*3/)$4%/39)/%!$*%)'%&/**$

Ainda nus ainda deslumbrados. (ANDRESEN, 2001, p.

44).

Literatura e Paisagem em Diálogo

204

V/% 4.*3'%Navegações=% ',(*/2)/% )'% )$34% ;3?*$4% <$0h930$4=%

apenas particularizados nos “subtítulos”: Navegações (As Ilhas) e

Navegações (Deriva)=%I$5<3/%',5*'44/%)'%:$*0/%)'!;/*/)/%4"/%/)­

miração pelos navegantes que se aventuraram em nome do ideal,

valendo­se de ousadia e espírito de conquista. Especialmente em

Navegações VI=% '?3)'9!3/0$4%>"'% $% ($0%)$%5$'0/% 4'%0$)36!/=%

]%5*$5$*A-$%>"'%$%/($%)'%9/?'1/*%)'3,/%)'%4'*%)'4/!*')3(/)$%`',­

presso em adjetivos como “inavegável”, “inabitável” e “indecifra­

da”) para se conformar em algo realizável, que possa ser efetivado.

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Restelo camoniano.

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Navegavam sem o mapa que faziam

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å"'%4@%5$)3/%</?'*%$%#F%4/&3)$f

Para a frente era só o inavegável

Sob o clamor de um sol inabitável

Indecifrada escrita de outros astros

V$%43;E9!3$%)/4%\$9/4%9'&";$4/4

L*E0";/%/%&^44$;/%(/!('/?/%'45/A$4

Depois surgiram as costas luminosas

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c%$%&*3;<$%)$%?342?';%:*'9('%/%:*'9('7%`MVSRcIcV=%nmmj=%

p. 60).

Literatura e Paisagem em Diálogo

205

M%/A-$%)'%)'4!$&*3*% !$961"*/%"0%/($% :"9)/0'9(/;%5/*/%$%

<$0'0%5$*("1"E47%c0%O espírito da cultura portuguesa, António

Quadros elenca dez palavras que simbolizam o ideal lusitano de

mundo e de vida, dentre elas “descobrimento”. De acordo com o

estudioso:

A viagem portuguesa dirige­se para o descobrimento.

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&'*%'%/%"*1E9!3/%)'%!$94(/9('0'9('%4'%)$&*/*%"0%9$?$%!/&$=%

em busca de uma nova Índia. (QUADROS, 1967, p. 78).

Em Navegações VIII, o eu­lírico, em primeira pessoa, age

como o “poeta” de que trata António Quadros, ávido por desvelar e

4')'9($%5$*%)'4!$&*3*7%L*/?'4(3)/%)'%9/?'1/)$*%5$*("1"E4=%I$5<3/=%

nesse poema, se deslumbra com o que consegue descortinar e, ao

mesmo tempo, coloca sob suspeita o que encontrou. Na última es­

(*$:'=%$%'"B;2*3!$%5/*'!'%!/3*%'0%43%)'5$34%)$%0/*/?3;</0'9($%0/93­

festado nos dezesseis versos anteriores: “As ordens que levava não

!"05*3%g%c%/4430%!$9(/9)$%($)$%>"/9($%?3%g%V-$%4'3%4'%(")$%'**'3%

ou descobri.” (ANDRESEN, 2001, p. 65).

Sua afeição pela pátria, manifestada quando da admiração

que nutre pelos navegadores portugueses que se lançam ao mar,

encontra suporte em Tuan:

c4(/%5*$:"9)/%/:'3A-$%5';/%5F(*3/%5/*'!'%4'*%"0%:'9h0'­

Literatura e Paisagem em Diálogo

206

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'0%'45'!3/;7%p%!$9<'!3)/%)'%5$?$4%;'(*/)$4%'%5*.B;'(*/)$4=%)'%

caçadores­coletores e agricultores sedentários, assim como dos

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(*3\t%$%;"1/*%.%"0%/*>"3?$%)'%;'0&*/9A/4%/:'(3?/4%'%*'/;3\/AD'4%

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!</9!'%'%0$?30'9($%'0%($)/%5/*('7%`LZMV=%jkl=%57%juja7

Uma vez “arquivo de lembranças afetivas e realizações es­

5;E9)3)/4e=%H$*("1/;%61"*/%'0%Mar como o país de alma desbrava­

dora, impelido pelo afã de conquista e de ascensão social e política.

V-$%<F%$&4(F!";$4%>"'%$% 305'A/0=%!$0%',!'A-$%)$%5*@5*3$%0/*%

com seu “instinto de destino”. No poema Navegações IV, em ape­

9/4%)$34%?'*4$4=%I$5<3/%d9/**/e%/%<34(@*3/%<'*$3!/%)'%8/*($;$0'"%

S3/4%>"'=%'0&$*/%('9</%)$&*/)$%$%C/&$%)/4%L$*0'9(/4=%9-$%!$9­

4'1"3"%!<'1/*%]4% ë9)3/4=% ('9)$%'9!$9(*/)$% 3*$93!/0'9('%/%0$*('%

quando do naufrágio de seu navio durante a viagem de Pedro Álva­

res Cabral no mesmo mar já descortinado.

VMicPMÑêcI%[i

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c%$%0/*%$%)'?$*$"%!$0%$%394(39($%)'%)'4(39$%>"'%<F%9$%

mar. (ANDRESEN, 2001, p. 64).

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Mensagem, com o enaltecimento da bravura de Bartolomeu Dias.

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&*/?/)$=% 5/*/% 4'05*'% $% 4'*F=% )'4)'% >"'% </#/% 5$*("1"'4'4% >"'% $%

divisem.

Literatura e Paisagem em Diálogo

207

EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS

Q/\%/>"3=%9/%5'>"'9/%5*/3/%',(*'0/=

O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,

Y%0/*%.%$%0'40$f%#F%9391".0%$%('0/â

Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro. (PESSOA,

1988, p. 64).

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5$*%I$5<3/=%!/&'%4"4!3(/*0$4%/39)/%$%>"'%4'%*';/!3$9/%]%61"*/%02(3­

ca do rei D. Sebastião. Na antologia em questão, a sua presença em

9'9<"0%0$0'9($%.%)'9$(/)/=%/9('4%*':'*'9!3/)/%5$*% 3)'3/4%>"'%

a ele podem ser reportadas. Surpreendentemente ou não, o Enco­

&'*($%4'% 394'*'%9$%*$;%)/4%)'\%5/;/?*/4B!</?'%)$% 3)'/;%5$*("1"E4%

sustentado por António Quadros, ao lado de “Mar”, “Nau”, “Via­

1'0e=%dS'4!$&*30'9($e=%dS'0/9)/e=%dY*3'9('e=%dM0$*e=%d[05.*3$e%

e “Saudade”.

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/44"0'%/%)30'94-$%02(3!$B5*$:.(3!/%)/%<34(@*3/=%)$%H$*("1/;%?3*B

a­ser. No entanto, conforme ressalta Alfredo Antunes, na leitura

5'44$/9/=%d',34('%"0%)"5;$%4$9<$=%$"%z777|%"0/%)"5;/%5*$:'!3/f%/%

grandeza futura de Portugal e o papel messiânico que ele, Fernan­

)$%H'44$/=% .% !</0/)$% /% )'4'05'9</*% 9'44/% !$94(*"A-$% :"("*/7e%

(ANTUNES, 1983, p. 431).

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quando do emprego de “nevoeiro”, metonímia do acontecimento

trágico em Alcácer­Quibir. Do mesmo modo se enuncia o poema

“Espera”, a reforçar o tempo despendido em prol da vinda tão an­

siada.

Literatura e Paisagem em Diálogo

208

ESPERA

Dei­te a solidão do dia inteiro.

Na praia deserta, brincando com a areia

V$%43;E9!3$%>"'%/5'9/4%>"'&*/?/%/%0/*.%!<'3/

A gritar o seu eterno insulto

Longamente esperei que o teu vulto

Rompesse o nevoeiro. (ANDRESEN, 2001, p. 17).

O Espaço (Lugar?) da Memória

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em grande parte dos poemas, desde o título, a anunciar o lugar de

';'3A-$%)/%/"($*/7%K$3%$%!/4$=%5$*%','05;$=%)'%dO/*%[e=%dO/*%4$9$­

*$e=%dO$4(*/3B0'%/4%/9.0$9/4e=%dO";<'*'4%]%&'3*/B0/*e=%dH*/3/e=%

“Promontório”.

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!3/;34(/=%9$4%!'*(36!/*/0%)/% 305$*(N9!3/%)$%5/5';%)/%',5'*3E9!3/%

9$%'9('9)30'9($%)'%!$0$%I$5<3/%5'*!'&'%'%4'9('%$%'45/A$%'%$%;"­

gar em versos aparentemente simples, carregados de subjetivida­

de; muitos deles circulares, com clara manifestação de intimidade

do eu­lírico com a natureza.

%;"\%)'%L"/9=%*'!$9<'!'0$4%>"'%/%5$'43/%)'%I$5<3/%5*30/%

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poema e no espaço de sua vida. Ao plano da memória alude o tem­

Literatura e Paisagem em Diálogo

209

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A par dessa afeição muitas vezes sagrada pelo mar, realça­

0$4%'0%I$5<3/%/%5*'4'9A/%4"&;3039/*%)$%03($%4'&/4(3/934(/7%M39)/%

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39)3?2)"$4%'%)/4%4$!3')/)'4%)'%<$#'7e%H/*/%I$5<3/=%9-$%:$3%)3:'*'9­

te.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

210

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Literatura e Paisagem em Diálogo

211

A recriação da paisagem em poemas de Eugê­nio de Andrade

C;/*3!'%b/0$9/*$%C$*('\76

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que forma o espaço, permeado pelos quatro elementos, presente

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titárias, perpassadas pelas imagens espaciais presentes nos poe­

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em estudos da retórica e estilística, do papel do leitor, entre outras

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Para a realização deste ensaio sobre a recriação da paisagem

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drade) será apresentada uma breve leitura dos poemas: Espelho,

C*+("(j",&5#%G#-"-(4&()&-&.77

76 Departamento de Letras da Universidade Estadual de

Maringá (UEM); 87020­900, Maringá, PR; [email protected].

77 Mar de Setembro, 1961; O Outro Nome da Terra, 1988;

OstinatoRrigore, 1964.

Literatura e Paisagem em Diálogo

212

A Escrita Poética de Eugênio de Andrade e a Leitu­ra do Espaço

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localiza a realidade (permeada pelos quatro elementos), mediado­

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palavra a imagem mais concreta do seu desejo.

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da vida no que ela tem de mais puro e feliz, na poesia eugeniana,

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respeito aos contínuos ciclos da vida, que a fazem eterna. E diante

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“posse feliz do mundo e de si mesmo”. Eis a grandiosidade da po­

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indizível”. E, por conseguinte, “o poema aparece, como o lugar da

unidade humana reencontrada”, embora fragilmente.

Para Lourenço (1996) a poesia cria a realidade, por meio da

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qual nos insere por meio da palavra:

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Literatura e Paisagem em Diálogo

213

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ga ser a sua poesia um manancial de imagens diversas, que con­

+"'0%/%"0%0'40$% lugar, um paraíso terrestre, onde a palavra

4'?'*/0'9('%'4!$;<3)/=%/$%0$?30'9($%)/%0'(F:$*/=%?34;"0&*/%/%39­

tegração dos quatro elementos. Constitui o que ele nomeia de um

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ciais envoltos numa emoção frásica, mediada por uma linguagem

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dessa articulação as próprias imagens elementares, que assumem

valores espaciais de posições muito diversas.

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paço natural, composto pelos quatro elementos; esta proposta de

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dos os aspectos discutidos pela crítica, uma vez que a produção de

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discutem a assimilação dessa categoria narrativa pela poesia; con­

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como forma efetiva de revelação lírica.

Em consonância ao elucidado por Lourenço (1996): dizer o

indizível=%5$*%0'3$%)$%:/\'*%5$.(3!$=%('9)$%$%5$'0/%!$0$%lugar da

unidade humana *''9!$9(*/)/=%8;/9!<$(%`jkua%/6*0/%4'*%$%5/5';%

Literatura e Paisagem em Diálogo

214

do poeta, ouvir a linguagem ininteligível e, pelo desvio, espaciali­

zá­la%9$%5$'0/%)'%0$)$%/% 39('*0')3/*%/4%431936!/AD'4%5*$)"\3­

das pelo leitor. Ou seja, o espaço, com seu status transformador e

transcendental promove a interiorização dos elementos, possibili­

tando a formação de um espaço imaginário.

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isola do mundo por sua capacidade artística de fazer versos e pela

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cas. Assim a arte cumpre o papel de tornar manifesta pela imagem

a verdade inalcançável.

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que estabelece com eles. No sentido de o objeto funcionar como

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gundo o modo da descoberta do espaço inerente a circunvisão, no

sentido de se relacionar num contínuo distanciamento com os en­

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com o mundo circundante por meio do distanciamento e da dire­

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/$% 4'% /5*$,30/*%)'% )'('*039/)$% ';'0'9($% '45/!3/;% $% 4'*% 4'% )34­

tancia de outro que, nesse momento, desaparece por não estar em

!$9(/($%!$0%$%0'40$7%Y%)3*'!3$9/0'9($=%5$*.0=%.%5*@5*3$%)$%)34­

tanciamento porque ao distanciar de alguns elementos o ser pre­

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/5*$,30/A-$%)3*'!3$9/)/7

Literatura e Paisagem em Diálogo

215

;(<$7"/*(<2&'&.="+(&("(:*.,%>+"/0*(9*(?*'&'(na Poesia de Eugênio de Andrade

A leitura dos poemas selecionados pauta­se em aspectos re­

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geniana. O poema Espelho, composto por versos brancos e livres,

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)$%(2(";$=%/%('0F(3!/%)/%&"4!/%)$%<$0'0=%)'%437%Y%'45';<$%*'+'('%

"0/% 30/1'0t%5$*.0=%qual imagem e como% '4(F% *'+'(3)/% 4-$% /4%

discussões que esse poema suscita:

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Que rompam as águas:

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Nunca tive outra pátria,

9'0%$"(*$%'45';<$t

nunca tive outra casa.

p%)'%"0%*3$%>"'%:/;$t

desta margem onde soam ainda,

leves

umas sandálias de oiro e de ternura.

Aqui moram as palavras;

as mais antigas,

as mais recentes:

mãe, árvore,

adro, amigo.

M>"3%!$9<'!3%$%)'4'#$

Literatura e Paisagem em Diálogo

216

mais sombrio,

mais luminoso;

a boca

onde nasce o sol,

onde nasce a lua.

E sempre um corpo,

sempre um rio;

corpos ou ecos de colunas,

rios ou súbitas janelas

sobre dunas;

corpos:

dóceis, doirados montes de feno;

rios:

:*F1'34=%:*3/4%+$*'4%)'%!*34(/;7

E tudo era água,

água,

desejo só

)'%"0%5'>"'9$%!</*!$%)'%;"\7

De luz?

Que sabemos nós

dessas nuvens altas,

)'44/4%/1";</4

nuas

$9)'%$%43;E9!3$%4'%'4!$9)'s

S'44'4%$;<$4%*')$9)$4=

agudos de verão,

e tão azuis

como se fossem beijos?

Um corpo amei;

um corpo, um rio;

"0%5'>"'9$%(31*'%)'%39$!E9!3/

Literatura e Paisagem em Diálogo

217

com lágrimas

esquecidas nos ombros,

gritos

adormecidos nas pernas,

!$0%',('94/4=%/**':'!3)/4

primaveras nas mãos.

Quem não amou

assim? Quem não amou?

Quem?

Quem não amou

está morto.

Piedade,

(/0&.0%'"%4$"%0$*(/;7

Piedade

5$*%"0%;'9A$%)'%;39<$

debruado de feroz melancolia,

5$*%"0/%</4('%)'%'4539<'3*$

atirada contra o muro,

por uma voz que tropeça

e não alcança os ramos.

De um corpo falei:

que rompam as águas. (ANDRADE apud SARAIVA,

1999, p. 73­74­75).

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valor metafórico, que vislumbram dois momentos distintos. O pri­

meiro (seis primeiras estrofes) apresenta o momento presente, no

qual o eu­lírico propõe­se a falar de um corpo, enaltecendo suas

!/*/!('*24(3!/4=%)'9(*'%/4%>"/34%/%5*39!35/;%.%*'+'(3*%/%?3)/7%Y%4'­

gundo (6° a 12° estrofe) volta­se a recordações passadas, fazendo

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Literatura e Paisagem em Diálogo

218

!$0%$%:'!</0'9($%)'%"0%!3!;$7

Quanto aos recursos estilísticos, observa­se a principal me­

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tigre, e, sobretudo na palavra. Dessa maneira, os elementos natu­

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!$**'45$9)3)/4f%/% ('**/%.%!$961"*/)/%5';/%5F(*3/=% !/4/=%0/*1'0=%

árvore, colunas, dunas, montes de feno, pequeno tigre, muro e ra­

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visto por nuvens altas e pelo adjetivo leves; e o fogo, pelo sol: olhos

redondos agudos de verão.

I$&% '44/% 5'*45'!(3?/% )'% ;'3("*/=% /% 5*30'3*/% (*/9461"*/A-$%

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#"4(36!/)/%5';/%/9F:$*/%aqui e pelos substantivos a ele referentes:

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(*/4%30/1'94=%!$0$%$%'45';<$=%/%F1"/%`/%5/;/?*/a%>"'%(")$%*'+'('=%

mas, no intento de se encontrar, sempre volta a si: “Sempre um

!$*5$g4'05*'%"0%*3$g!$*5$4%$"%'!$4%)'%!$;"9/g%c%(")$%'*/%F1"/7e%

(ANDRADE apud SARAIVA, 1999, p. 73­74­75).

A palavra adquire status de lugar, concretizado por elemen­

tos como: casa, pátria, espelho, rio, corpo=%/;.0%)/%*'5'(3A-$%)$%

/)?.*&3$%aqui e do pronome onde. Y"%4'#/=%/%5/;/?*/%.%$%lugar onde

a vida acontece, com sua força natural e material como a própria

vida, com suas contradições, súplicas, lembranças, desejos, desco­

&'*(/4t%>"'%9"0%3*%'%?3*%'45';</0%($)$%'44'%!3!;$%)'%?3?'*%`!$0'A$%

'%60a%'%)'4?';/0%/$%<$0'0%/%4"/%0/('*3/;3)/)'g<"0/93)/)'%5$*­

Literatura e Paisagem em Diálogo

219

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poeta, segundo Santos e Oliveira (2001), onde a imagem e o ce­

nário apresentam­se como forma efetiva de revelação lírica. Nesse

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Permeia o poema a descrição de um ciclo (do rio, da vida,

)/%5/;/?*/g5$'43/a7%R'?';/9)$%$%392!3$f%då"'%*$05/0%/4%F1"/4g.%

de um rio que falo”; “Aqui moram as palavras”; sua continuida­

)'=%*'3('*/)/%5';$%/)?.*&3$%sempref%dc%4'05*'%"0%!$*5$g4'05*'%

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guagem plástica que revela um movimento de metáfora pelo qual

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paisagem onde as transformações acontecem e o próprio corpo que

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luzes e sombras, tidas pelas palavras que se repetem anaforicamen­

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num movimento sensual da vida, que se repete, se transforma, en­

60=%4'%*'+'('f%dM>"3%!$9<'!3%$%)'4'#$e=%dS'44'4%$;<$4%*')$9)$4g%

Literatura e Paisagem em Diálogo

220

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que o tempo cumpriu o seu ciclo e iniciará novamente). Contudo,

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corpo que falo” versus “De um corpo falei: que rompam as águas.”

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metafórico e retórico de imagens construídas que o constituem na

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pre seu papel transformador e transcendental, ao promover a inte­

riorização dos elementos, possibilitando a formação de um espaço

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ra, dos inquietantes questionamentos diante das constantes trans­

formações contraditórias, perturbadoras, contudo, robustas: “Que

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ma, como as inquietantes e contraditórias transformações da vida

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Literatura e Paisagem em Diálogo

221

O segundo poema intitulado Sul=%"934(*@6!$%'%<'('*$0.(*3­

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ou ainda, a fragilidade entre o limite e o não­limite. A partir da

palavra, temporal e espacialmente marcada, o poema vai de um

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Sul

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eram os pombos, o ardor

da cal. De repente

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correu para o mar.

Pensei: devíamos morrer assim.

M4430f% ',5;$)3*% 9$% /*7% `MVSRMSc apud SARAIVA,

1999, p. 160).

O título Sul%.%"0/%*':'*E9!3/%'45/!3/;=%>"'%4'%4$0/%/%$"(*/4%

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de duas maneiras: os verbos no passado mostram um momento

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o cromatismo que se revela pelas cores: dourado (verão, ardor),

branco (pombos, cal) e azul (mar, ar); que se misturam indepen­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

222

algumas imagens: uma praça deserta, num dia claro e quente de

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plodir no ar).

Atentando­se para os recursos estilísticos presentes no po­

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praça; correu para o mar; explodir no ar. Essa gradação reiterada

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No plano morfossintático, nota­se que os verbos, inicialmen­

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espaço, para integrar­se ao cosmos luminoso, ou seja, a união total

entre o ser e o espaço elementar que o compõe.

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tos no tempo e no espaço.

Y% ('*!'3*$% '% ^;(30$% 5$'0/% '4!$;<3)$% .%Metamorfoses da

casa, uma composição constituída por 05 pequenos poemas inter­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

223

Metamorfoses da casa

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a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,

assim a casa, assim um barco...

Uma gaivota passa e outra e outra,

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SARAIVA, 1999, p. 80).

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básico no desenvolvimento de todas as suas obras. As metáforas

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água, ar e fogo se interpenetram e se fundem, atingindo o quinto

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morfose, que revela inovações constantes mesmo na repetição dos

referentes, que se equivalem e anulam as antinomias. O poeta nos

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Literatura e Paisagem em Diálogo

224

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a pedra, construído como a casa. Mas, o poema, no seu processo de

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encontrará a fonte, o princípio da vida, vencedora das mudanças de

tempo “rumor de água”, tão plena que atinge o silêncio. Segundo

Andrade (1972), em Antologia Breve, da Palavra ao Silêncio, toda

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prosa ou em verso.” (p. 73).

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o status%)'%;"1/*%$9)'%$%<$0'0%4'%:/\%<$0'0=%5$*%0'3$%)$%0$?3­

mento de metáforas que suscitam imagens concretas da vida plena

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essa plenitude, (re) dimensionando­se a cada palavra. Realidades

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quatro elementos (água, ar, terra e fogo); e, pela palavra (o discur­

Literatura e Paisagem em Diálogo

225

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nesse sentido, contribui para a (re) constituição da paisagem e do

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tude espacial com a qual anuncia a vida plena de sentidos, onde o

<$0'0%4'%`*'a%'9!$9(*/=%!$94(/9('0'9('7

Referências

MVSRMSc=%c"1.93$%)'7%Antologia brevef%)/%5/;/?*/%/$%43;E9!3$7%

Porto: Editorial Inova, 1972.

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_YHcI=%Y4!/*7%Z0/%'45.!3'%)'%0^43!/f%)$34%0$?30'9($4%)'%0'(F­

:$*/%'0%c"1E93$%)'%M9)*/)'7%)#+T8*.#(R",%&-, Lisboa, Fundação Calouste

Gulbenkian, n. 14, jan. 1979.

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Nacional­Casa da Moeda, 1996.

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Martins Fontes, 2001.

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de Andrade. Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1999.

Literatura e Paisagem em Diálogo

226

Literatura e Paisagem em Diálogo

227

O sublime como ecologia: paisagem­habitação na poesia de Marcos Siscar

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vislumbrada como uma ecologia7%c44'%</&3(/*%9-$%)'?'%4'*%5'9­

sado como simples maneira de conservação de um dado território,

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1"/1'0=%>"'%4'*3/%5$442?';%/%5*$)"A-$%)/%</&3(/A-$%`#.f#-) e da

cidade (polis)797%U/&3(/A-$%4'%/5*$,30/%(/0&.0%)/%3)'3/%)'%5*$­

fanação80 no sentido de negligenciar%/%4'5/*/A-$%'9(*'%$4%<$0'94%

e os deuses, permitindo a aqueles a eliminação do indizível (como

:/;</%)/%;391"/1'0%<"0/9/%'%>"'%9-$%4'%!$9:"9)'%!$0%$%43;E9!3$a%

'%/%5$443&3;3)/)'%)'%!*3/A-$%)'%4'9(3)$47%C$0$%)3\%M1/0&'9=%',­

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431936!/*%9-$%.%"0%39':F?';=%0/4%.%$%4"5*'0/0'9('%)3\2?';=%/%coisa

78 UERJ.

79 Agamben, em seu livro Infância e história, cita

M*34(@(';'4f%d$%>"'%.%4391";/*%9$4%<$0'94%'0%*';/A-$%/$4%$"(*$4%?3?'9('4=%

.%>"'%';'4%(E0%/%4'94/A-$%)$%&'0%'%)$%0/;=%)$%#"4($%'%)$%39#"4($%'%)/4%

$"(*/4%!$34/4%)$%0'40$%1E9'*$t%'%/%!$0"93)/)'%`f#/#.5&) dessas coisas

:/\%/%</&3(/A-$%`#.f&) e a cidade (polis).” (1978, p. 13).

80% %M%'44'%*'45'3($=%?'*%$%#F%!.;'&*'%'94/3$%)'%M1/0&'9=%

“Elogio da profanação” publicado no livro Profanações (2007).

Literatura e Paisagem em Diálogo

228

da linguagem.” (AGAMBEN, 1978, p. 9).

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(/*':/%5$;2(3!/%)/%/*('7%p%9'44'%4'9(3)$%>"'%1$4(/*3/%)'%5'94/*%/%5$­

esia de Marcos Siscar, poeta rigoroso, que constrói poemas como

paisagem­habitação7% I$&*'% '44/4% >"'4(D'4=% I34!/*% 0/9(.0% "0%

305$*(/9('%)3F;$1$%!$0%$%5$'(/%'%6;@4$:$%:*/9!E4=%O3!<';%S'1"T=%

diálogo que tentarei, aqui, retraçar em alguns pontos.

A Ecologia e o Sublime

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4'9:"0/A/*%$%93!<$=%)'%)'45$;"3*% $%Umwelt (atmosfera ou meio

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G%5/*/%/%Å1*/9)'\/v%$"%Å!;/*'3*/v%`Lichtung) do mundo ou do Ser.”

`ScPZJ=%nmjm/=%57%jjra7%M4430=%S'1"T%>"'4(3$9/%4'%4'*3/%d5$442?';%

estabelecer na e pela poesia uma ocupação diferenciada do mun­

do?” (GLENADEL, 2004, p. 34).

Como então ocupar o mundo de outra maneira, como criar

/&*31$4%5$.(3!$4%>"'%9-$%?34/0=%!$0$%5*'('9)'%$%;3*340$%(*/)3!3$­

nal, re­encantar o mundo ou a retornar a um estágio de natureza

original, ou, ainda, a se defender do mundo, mas antes remodelá­

lo a partir de outras ilações que não as ditadas pela ordem e pelo

progresso dos discursos midiáticos? Seria possível uma outra “tác­

tica” que não o esvaziamento nonsense das vanguardas que aca­

bam por criar apenas “ilisibilidades ofensivas”82=%$"=%!$0$%/6*0/%

81% %M%39453*/A-$%)'%U'3)'11'*%.%0/*!/9('%9$%5'94/0'9($%

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reaparece no seu livro Reabertura após obras=%*'!.0%5"&;3!/)$%9$%

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ser­em­linguagem como acontecimento.

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Literatura e Paisagem em Diálogo

229

S'1"T%`nmmma=%)'4(*"3A-$=%'%5'94/*%$%?'*4$%!$0$%"0%0$0'9($%)'%

construção de sentido? Como então abrir, esticar nosso espaço de

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sa medida de simples mortais, e pressionar nosso limite?

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na poesia uma volta ao lirismo, mas de um “lirismo crítico”83%z5<T­

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como espaço de questionamento da capacidade da língua em se

relacionar e criar o real. Siscar profana o uso das subidas e quedas,

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arriscar­se no lirismo, mas um lirismo­crítico, para ampliar esse

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como risco da subida rumo a uma revelação na busca do sublime

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poderia continuar a se fazer”. (GLENADEL, 2004, p. 35). Assim,

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desta impossibilidade. O sublime seria uma maneira de reabrir o

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Marie Gleize (2010, p. 129).

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Literatura e Paisagem em Diálogo

230

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S'1"T=% '0% '94/3$% 39(3(";/)$% Le grand­dire84, no qual faz

uma leitura do livro do pseudo Longino, Peri Hupsous, que foi

traduzido por Boileau como Do Sublime=%/4439/;/%4"/%5*':'*E9!3/%

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de um pensamento que procura a altura, de uma linguagem que

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de uma conformidade ou “mortalidade”. O grand­dire, que não

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<$0.*3!/4=%5/*/%*':/\'*%/%'45'*/9A/=%/(*/?.4%)$%grand­dire, desse

dizer arriscado entre subida e descida, para as gerações futuras.

Assim prega que a linguagem tem como medida essa linguagem

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de um como=%5*'4'9('%(/0&.0%9/%5$'43/%)'%S'1"T7%M69/;=%/%d!$0­

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sem assimilá­los, preservando as diferenças.” (GLENADEL, 2004,

p. 37).

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84 Em grego, Megalogoreuein.

Literatura e Paisagem em Diálogo

231

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acreditamos mais como eles. Mas transportar, no nosso dizer se es­

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namento nostálgico, a recomendação de não negligenciar “o cres­

cimento de nossas partes imortais” (Longino, XXIV, 8), ou, como

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nos cercam, procurar na imitação dessa linguagem divina, próprias

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cia a anulação da diferença%`>"'%.%9'!'44/*3/0'9('%"0/%*';/A-$a7e%

(SISCAR, 2004, p. 29).

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ra, trata­se de ingressar num devir­perecer, entre profanação e sa­

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A carta de Longino a Terenciano funciona como últimas pa­

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sagem entre fracasso e promessa, abandono e salvação”. A teste­

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sobrevivente a transmissão de seu fracasso. O como. Assim “o pon­

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(3)/%5';$%!$9<'!30'9($%)$%!$0$7e%`ScPZJ=%jk=%57%jka7%%M4430=%/%

Literatura e Paisagem em Diálogo

232

revelação, como mimesis=%9-$%.%"0%'91/9$=%';/%.%/>"';/%)$%como;

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methodos, qual technès%c44/% .% /% (/*':/% )'% _$9139$=% 9$4% '9439/*%

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!$94(3("2)/%5';$%5'94/0'9($%'%5';/%5/3,-$%zpathos, nossa natureza

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que encontramos no último livro de poesia de Marcos Siscar, In­

terior via satélite=%5$)'%4'*%5'94/)$%!$0$%','05;$%)'4(/%*';/A-$7%

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)3\'*%'%/%!$34/%/%4'*%)3(/%!$0$%429('4'%)3/;.;3!/785 Esse raciocínio

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da linguagem como comunicação, formulando uma compreensão

do dizer como interlocução.” (p. 19).86

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ultrapassar. Assim, a technè% !$9)"\%/%/;0/%]%';'?/A-$=%/(.%/%4"/%

9/("*'\/%>"'%.%;@13!/t%$%logos mede o alto­profundo (mega, bathu)

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do cosmos.

I'%/%<35@('4'%.%>"'%9-$%</?'*3/%/*(3:2!3$%9$%!$0'A$%G%/%cri­

se se localizaria assim nesse segundo começo, escrever como no

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ao profundo e ao elevado, uma vez que o fogo sublime conduz os

auditores "/("f-,&-.-%/%?'*'0%4$0'9('%$%:$1$7%Y%5/*/)$,$=%'9(*'­

85 Dialelof%'45.!3'%)'%!2*!";$%?3!3$4$%>"'%9-$%4'%"936!/7

86 Aqui a ideia de comunicação%.%9$%4'9(3)$%)/%

linguagem utilizada pela mídia, ou como na teoria de Jacokson, não se

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interlocução.

Literatura e Paisagem em Diálogo

233

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para encontrar aquele momento inicial, próprio aos imortais, a sal­

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A/*%/$%4"&;30'7%R$"&/*%$%43;E9!3$f%(*/\'*%/4%5/;/?*/4%5/*/%$%!'9(*$%

do poema.

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esia (se consuma em favor daquilo que o ultrapassaria e que seria

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5'*1"9(/%S'1"T%`jk=%57%rqaf%då"/9)$%$%)3($%'%$%)3\'*%`777a%$0­

breiam­se tautologicamente.”

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$%$"(*$%)/4%5/;/?*/4t%>"'%!</0/0$4%$%silêncio. Os discursos são

5/*/%:/\'*%$%43;E9!3$%z777|7e%

Em O roubo do silêncio, livro de Marcos Siscar, de 2006, a

>"'4(-$%>"'%.%(*/\3)/%]%&/3;/%.%/%9'!'443)/)'%)'%)/*%/%5/;/?*/%/$%

5$'(/=%)'3,/*%$%5$'0/%9/%5$'43/%61"*/*7%Y%43;E9!3$=%$%'9310/%>"'%

9"9!/%.%)'!3:*/)$=%/>"3;$%>"'%'4!/5/%]%;391"/1'0=%/>"3;$%>"'%Não

se diz, para mencionar um outro livro de Siscar, só pode ser alcan­

çado pelas palavras que giram e se retorcem nos poemas. Dessa

0/9'3*/=%)'4034(36!/%/%d;305'\/e%G%9'1/A-$%)/%61"*/%G%5$442?';%)/%

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Literatura e Paisagem em Diálogo

234

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frase que quer construir sentido mesmo que em cintilação, mas

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espaço da alteridade, do enigma que, entretanto, possibilita a in­

terlocução.

Assim, não se trata de retornar ao tempo dos deuses, de

U$0'*$=%0/4%)'%'9!'9/*%'%)'4'#/*%'44'%*'($*9$%!$0$%:";1"*/A-$=%

passagem, profanação, como um como7%c%.%'44'%5'*!"*4$=%'44/%pas­

sagem que a poesia, o poema tenta “pegar no ar”, tentativa sempre

:*/!/44/)/=%5$*.0%!$9(39"/0'9('%5$4(/%'0%/($=%*'?';/9)$%4'"%5*@­

prio fracasso, sua crise=%)/%305$443&3;3)/)'%)'%*'($*9$%/$%43;E9!3$%

5*@5*3$%)/%;391"/1'0%5'*:'3(/%)$4%)'"4'47%c%'44/%'9!'9/A-$%.%:'3­

(/=%4@%5$)'%4'*%:'3(/=%!$0$%('9(/(3?/=%5';/4%5/;/?*/4=%5';/4%61"*/4=%

quando o dito e o dizer se unem, e não se desgrudam. O poema

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via satélite, diz bem sobre isso:

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/%5$'43/%9-$%.%5'1/*%9'0%.%;/*1/*7%/%5$'43/%.%$%>"'%5'1/%'%9-$%

larga meu amigo. aqui discordamos. (SISCAR, 2010a, p. 54).

Subidas e Descidas: o Sublime entre o Deslocamento, a De­

riva, a Escala

Em 1999, Siscar publicou seu primeiro livro, Não se diz,

0/*!/)$%5';/%5'*2:*/4'=%>"'%('9(/%)3\'*%/>"3;$=%$%43;E9!3$=%>"'%9-$%

se pode dizer a não ser pelo dito, maneira de tentar circundar aqui­

;$=%$%*'/;=%>"'=%9$%'9(/9($=%4'05*'%'4!/5/7%c4('%;3?*$%/6*0/%>"'%/%

d5$'43/%.%$%/*%>"'%z';'%$"|%?$!E%*'453*/e (SISCAR, 2003, p. 122), ela

.%$%>"'%'9(*/%;3('*/;0'9('%9$%4"#'3($%'0%4'"%!$9(/($%!$0%$%0"9)$7%

Literatura e Paisagem em Diálogo

235

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'%)/%+"3)'\=%9$%?'*4$g5'94/0'9($%4'05*'%d'9(*'!$*(/)$%'%/**'&/­

tado, apressado e paciente, empreendedor e fraturado, arriscan­

)$%(")$%9$4%4'"4%431936!/9('4%5$*%0'3$%)'%61"*/4%'%0$?30'9($e=%

`ScPZJ=%nmml=%57%uua%!/*/!('*24(3!/4%>"'%0/*!/0%/39)/%<$#'%/%4"/%

poesia. Aliás, Siscar, com essas oscilações elásticas, termina por ir­

ritar o verso, colocado em crise; e, no lugar de preferir a planura da

prosa, força o verso, em diversas de suas poesias, ao enjambement,

!$0$%4'%>"34'44'%'4(3!/*=%';'?/*%/$%0F,30$%/%4"&3)/%)$%?'*4$=%9$%

*34!$% )';'=% $% ?'*4$=% !/3*% 9/% 5*@,30/% ;39</% !$0$% 5*@,30$% ?'*4$=%

!$0$%5$)'0$4%?'*%9'44'%(*'!<$%)'%*'(3*/)$%)'%Não se diz:

M%)$*%9-$%.%)3:'*'9('%)/%5/;/?*/%

que se pronuncia em voz alta já que o corponecessita eis a coragem inesperada

?$!E%4'1"*/?/%$%!$5$%!$0%/4%)"/4%0-$4

curvado sobre a mesa levantou­se e agora anda.

(SISCAR, 2003, p. 84).

Para Giorgio Agamben, em A idéia da prosa=%/%)'693A-$%)'%

?'*4$%G%'%)'%5$'43/%G%4'%)/*3/%5';$%"4$%)$%enjambement G%'%(/0­

&.0%)/% !'4"*/%G%>"'% .% '44'% #$1/*B4'%)$% ?'*4$%5/*/% $% /&340$%)/%

5$'43/=%5/*/%$%.;/9%/;($%)/%5$'43/=%'%(/0&.0%5/*/%/%d3).3/%)/%5*$4/e%

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cio, a interrupção entre o som e o sentido, para pensar a linguagem

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0N9(3!/%!$0$%',5;3!/%8'9?'934('87, para que, justamente, a aber­

tura ao sentido, preservada na estância do pensamento, nunca se

87 Ver Giorgio Agamben, Infância e história%'%(/0&.0%O

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Literatura e Paisagem em Diálogo

236

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Percebe­se, de maneira mais acentuada, a presença destas

questões em seu último livro, já mencionado, Interior via satélite,

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lescopia” pela qual coloca em funcionamento todos os cinco senti­

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ritmo do mundo que visa perfurar e alargar.A construção de algumas de suas poesias, entre cortes e

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movimentação no espaço por elas criado, abrindo, esticando as visões

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quebra a “grande prosa do mundo” ao instalar zonas de opacidade, de

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que permite a visibilidade das coisas. Os objetos interpostos requerem

uma percepção na opacidade. Visão não mais estática e ótica, mas

móvel.” (BRISSAC PEIXOTO, 2003, p. 179). Assim, o poeta constrói um

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na direção da prosa, ou como ele mesmo pleitea no seu ensaio intitulado

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Literatura e Paisagem em Diálogo

237

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pelo constante deslocamento em espaços de fronteira, pela deriva, se abre

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O poema “Interior sem mapa”, situado na primeira parte do

livro, diz sobre isso: “discorro pelo interior. na estrada estou fora

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terior. [...] arrancar a casca lamber a ferida.” (SISCAR, 2010a, p.

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se fala. Desse modo, se torna possível uma poesia não apenas obje­

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do espaço de uma afetividade não­confessional, como algo que aca­

ba por interferir, afetar, o próprio raciocínio do poema. Sua poe­

sia parte de um lugar, de um incitamento, de uma circunstância,

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espaço sem mapa, que vai sendo construído aos pedaços, pela im­

possibilidade de se ver a totalidade.

entro num canavial levanto poeira me perco em mil en­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

238

paro no posto abandonado. abro o mapa. encontro uma

capela perdida no

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arrancar a casca lamber a ferida. (SISCAR, 2010a, p. 18).

O movimento do poema parece construir ou percorrer uma

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rir, sai do âmbito da visão para literalmente aspirar o real. O sujei­

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interior, no campo, no canavial, percebe­se a impossibilidade de

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da Land art%/0'*3!/9/=%9-$%(*/&/;<$"%9$%4'9(3)$%)'%á%5*'4'*?/*%à%

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zontal [do interior], no caso o artista percorrendo a espiral, mas

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Literatura e Paisagem em Diálogo

239

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tradição perspectivista, necessitando um deslocamento incessan­

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cidades.

A noção de paisagem ou Land art )'4;$!/%/%3).3/%)'%*'5*'­

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arriscado de encontro com os movimentos incontroláveis da terra,

suspendendo qualquer limite. Pelo jogo de deslocamentos e pelo

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visão, sua poesia constrói territórios não apenas delimitados, mas

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no seu poema “Bloco de notas”, de seu livro de 2003, Metade da

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“Túmulo de Ícaro”, deste mesmo livro, se o próprio título sugere a

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risco da elevação e alargamento está ali presente como contrarie­

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Literatura e Paisagem em Diálogo

240

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natureza como pathos% '% 5'94/0'9($7% H$*.0=% '44'% 5$'0/% 5$)'%

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prefere os cães na poesia de Baudelaire, ou como Pierre Alferi, para

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elevação própria da revelação metafórica.

Bloco de notas

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da terra instaurado pelo processo civilizatório et coetera)

2. não alimente oposições sem fundamento

o calçamento pode pairar sobre as cabeças

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(deite­se erga o tronco apoiando o cotovelo

aprume as pernas para o alto e siga)

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126)

Como anteriormente dito, Siscar profana a tradição lírica de

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Literatura e Paisagem em Diálogo

241

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elevação lírica que seria própria do sublime tradicional. O primeiro

verso da segunda parte do poema, “não alimente oposições sem

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Baudelaire e a profanação feita pelo poeta ao tradicional uso desta

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neste estado de oscilação. Como as nuvens, o poema vai sempre

se transformando elasticamente, produzindo cintilações de senti­

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Em outro poema, do livro Interior via satélite, o poeta, para

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que a torna opaca, radicaliza seu deslocamento, e alcança voo, ar­

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mudança de escala que estabelece em seu poema “Latitude 21º 11à%%

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_$913(")'%qkí%mv%ru7%nue%Y

a primeira vez que vi o interior foi do alto. para ver o

Literatura e Paisagem em Diálogo

242

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rando azul.

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Para ver o todo, abrir uma nova perspectiva, o sujeito lírico

arrisca o voo, a falta de ar das alturas, de um sublime que acaba

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39/5*''942?';7%dL")$%(-$%/\";e%'%+"("/*%!$9(*/%/%;'3%)/%1*/?3)/)'=%

“fazer da ligeireza um modo de ver o mundo” (BRISSAC PEIXOTO,

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como os deuses, profanando a separação inicialmente imposta ao

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As epígrafes que abrem seu último livro se entrelaçam em

torno da movimentação, não só da escrita como já foi dito, mas

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Literatura e Paisagem em Diálogo

243

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da coisa”. Assim, ao microscópico se conjuga uma elevação radical,

que parte da rua familiar e colorida em Drummond para o mar

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tanto de dentro da linguagem, do mundo, quando a partir de um

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dentro e de fora, continuamente.

A capa de Interior via satélite reproduz uma foto feita via

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do poeta, seu pequeno barco enferrujado, imperceptível: esse lugar

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zooms de fotos de pedras e águas, feitas por Cristina Carneiro Ro­

drigues.

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K*/9A/7%S'1"T%/5/*'!'%',5;3!3(/0'9('%'0%Interior via satélite em

uma das epígrafes, e ainda no poema “Telescopia 2”:

Literatura e Paisagem em Diálogo

244

reagir a alterações no espaço do visível. a mudança de

escala. considerar o invisível sem poupá­lo de seus equívocos.

*'39?'9(/*% $% 4"&;30'% 9/% 3039E9!3/% )/% 4"&;30/A-$% `)'1"Ta7% /%

precipitação da altura. reocupar o espaço em que vivemos.

(SISCAR, 2010a, p. 26).

Siscar retraça o sublime como S'1"T%'%'44'%como Longino,

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relação com o mundo, mas como parte dele.

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palavra de Longino que nosso impulso% 5$)'% (*/)"\3*7e% `ScPZJ=%

2010b, p. 106). Se “a economia geral do consumo des­libidiniza,

*';/,/=%)'5*30'%$ desejo%$*3139/;%)'%!/)/%"07e%`ScPZJ=%nmjm&=%57%

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zação conduz ao “abandono da esfera da dizibilidade”, a sublima­

A-$%>"'%39('*'44/%/%S'1"T%4'*3/%!/5/\%)'%d0$4(*/*%'44/%5/44/1'0%

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pelo dizer, continuar a obra, cotidianamente: esse seria o sublime

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obrar incessante e desejado, para reabrir o mundo ao Ser, pela lin­

1"/1'0%5$.(3!/7%

Na poesia de Siscar, o sublime se dá, na iminência da subli­

mação, no movimento de liberação de energia, mas ela não ocorre,

ou seja, não passamos de um estado para outro, para um lugar “ga­

soso”, celestial, mas estamos sempre nessa oscilação, nesse perigo

iminente, em sacrifício do deslocamento constante para oferecer

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Literatura e Paisagem em Diálogo

245

interior via satélite.

c0%dI3'4(/e%.%'9!'9/)$%"0%0$0'9($%)'%5/\%)$0.4(3!/=%)'%

descanso do guerreiro, do poeta que não responde ali “pela crise de

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incitando ele próprio a ruptura desse estado de “pequenas” coisas.

Siscar, em resposta a uma leitura desastrada a esse poema,

*'45$4(/%>"'%5$)'%4'*%;3)/%!$0$%"0/%'45.!3'%)'%/5';$%.(3!$%)/%5$­

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*3/%)'%&*"(/;3)/)'4=%/%<34(@*3/%)$%4'"%)'4'#$%)'%!$94(3("3*B4'%!$0$%

sujeito, reagindo ao rapto de seu direito de fala. Mais do que com­

5/*(3;</*%'44'%)3*'3($=%!/&'%/$%5$'(/%<$#'%*'3?39)3!FB;$7e%`I[ICMR=%

2009).

M%d!*34'%)'%?'*4$4e%0/;;/*0'/9/%*';3)/%5$*%I34!/*=%/%$6!39/%

irritada que tanto admira em Drummond, já fala dessa sublima­

ção, do desejo e impulso pela poesia contrária ao fazer versos por

39.*!3/=%'=%/39)/=%$%)'4'#$%)'%)/*%/%?$\=%)/*%/%5/;/?*/%/$%5$'(/=%)/*%

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Literatura e Paisagem em Diálogo

249

Sobre os autores

Ana Carolina Lobo Terra .%O'4(*'% 5';$% H*$1*/0/% )'%

H@4BP*/)"/A-$% '0%P'$1*/6/%)/%Z93?'*43)/)'%)$%c4(/)$%)$%R3$%

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394(3("3A-$%!$0%&/!</*';/)$%'%;3!'9!3/("*/%'0%P'$1*/6/7%I"/%(*/­

#'(@*3/%!3'9(26!/%/(*';/B4'%]%'45/!3/;3)/)'%)/%*';313-$%'%)/%!";("*/7%

Nos últimos anos, integra o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre

c45/A$%'%C";("*/%`VcHcCa7%M("/%!$0$%5*$:'44$*/%)'%1'$1*/6/%9$4%

'9439$4% :"9)/0'9(/;% '%0.)3$7% C$$*)'9/% $% 5@;$% R3$% )'% Q/9'3*$B

Tijuca do Grupo UNINTER com graduações e pós­graduações em

EaD. Coordena o Curso Superior de Tecnologia em Gestão Am­

biental da Faculdade Internacional Signorelli.

Ana Rosa de Oliveira .% 5'4>"34/)$*/% *'45$94F?';% 5';$%

_/&$*/(@*3$%)/Ü%H/34/1'0%)$%[94(3("($%)'%H'4>"34/4%Q/*)30%8$(N­

nico do Rio de Janeiro e professora do PROURB­UFRJ. Pós­dou­

($*/)$%'0%<34(@*3/%)/4%!3E9!3/4%9/%CYCBK[YCRZb%`nmmuBnmma7%

Doutorado em Arquitectura ­ UPC­ Universitat Politecnica de Ca­

(/;"9T/gZ93?'*43)/)'%)'%i/;;/)$;3)=%c45/9</% `jkka7%P*/)"/A-$%

'0%c91'9</*3/%K;$*'4(/;7%M"($*/%)$%;3?*$f%L/9(/4%i'\'4%H/34/1'07

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)$% Q/*)30%8$(N93!$gQ8RQ% '%c!$('!("*'f%c!$;$13!/;%M*!<3('!("*'7

_$:(g8/*!';$9/7

Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo .%5*$:'44$*/%

adjunta de Teoria Literária da UERJ, publicou capítulos de livros

como “Brasil feito de amor e romance” in Descobrindo o Brasil,

QY8[O% è% Hc_YIY=% $*14t% R3$fc)ZcRQ=% nmjj=% /*(31$4% dY;</*% /%

paisagem, ver a cultura:a lição de Lima Barreto”, revista )"%%&­

Literatura e Paisagem em Diálogo

250

dos, UnB, 2009; “O romance e a estetização da cultura” na revis­

ta Brasil/Brazil (2008);“ e os livros R.5&(`&%%",#("(#('5(4#(-#­

nho republicano; :%./0;".%&-(4"(-#/;#^('019#("(0*+,*%&("5(R.5&(

Barreto`L'05$% 8*/43;'3*$a7C$$*)'9$"=% !$0% M9($93$% U$"/344=% $%

volume Lima Barreto, da Coleção A*!<3?'4gZVcICY

Cecilia Cotrim%(*/&/;</%!$0%'9439$%'%5'4>"34/%'0%U34(@­

ria da Arte Contemporânea, no Programa de Pós­Graduação em

U34(@*3/% I$!3/;% )/%C";("*/=%S'5/*(/0'9($% )'%U34(@*3/=% HZCBR3$7%

L'0%/*(31$4%5"&;3!/)$4%'0%)3?'*4$4%?'2!";$47%p%)$"($*/%'0%U34(@­

ria da Arte pela Universidade de Paris I, Panthéon­Sorbonne.

Clarice Zamonaro Cortez doutora em Letras em Teoria

)/%_3('*/("*/% '% _3('*/("*/%C$05/*/)/=% 5';/%ZVcIHgM4434=% jkkk7%

Possui estágio pós­doutoral realizado na Universidade do Estado

)$%R3$%)'% Q/9'3*$% `ZcRQa=% '0%nmm7%M("/%9/% ;39</%)'%5'4>"34/%

Literatura e Historicidade e desenvolve pesquisas sobre o estudo

)/%5/34/1'0%9/%5$'43/%5$*("1"'4/%'%;'3("*/=%(',($%'%30/1'947%p%5*$­

:'44$*/%/44$!3/)/%)/%Z93?'*43)/)'%c4(/)"/;%)'%O/*391FgHR7

Denise Grimm, graduada em Letras, pela Universidade

K')'*/;%K;"039'94'%`ZKKa=%!$0%;3!'9!3/("*/%'0%H$*("1"E4B_3('*/­

("*/4%`jkla%'%H$*("1"E4Bc45/9<$;%`jkua=%'%O'4(*'%'0%_'(*/4=%9/%

área de Literatura Portuguesa, pela mesma instituição, com a dis­

sertação A moral no discurso pessoanof%)/%(*/941*'44-$%/$%?/\3$%G%

/%.(3!/%)/%39$!E9!3/=%)':'9)3)/%'0%jkku7%M("/;0'9('%.%)$"($*/9)/%

em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense,

com pesquisa na área de poesia portuguesa, envolvendo o estudo

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`jkllBjkua7%c,'*!'%$%!/*1$%)'%5*$:'44$*/%)'%_291"/%H$*("1"'4/%'%

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1*/)$%]%*')'%:')'*/;%)'%'9439$7

Literatura e Paisagem em Diálogo

251

Ida Alves%.%5*$:'44$*/%/44$!3/)/%)'%1*/)"/A-$%'%5@4B1*/)"­

ação de Literatura Portuguesa da UFF. Doutora em Letras (Litera­

tura Portuguesa) pela UFRJ, 2000. Pós­Doutorado pela PUC­MG.

Coordena o Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana

G%VcHMBZKK%`XXX7"::7&*g9'5/a7%p%0'0&*$%)$%H@;$%)'%H'4>"34/%

sobre Relações Luso­Brasileiras (PPRLB), sediado no Real Gabi­

9'('%H$*("1"E4%)'%_'3("*/%)$%R3$%)'%Q/9'3*$% `www.realgabinete.

com.br). Lidera com a Profa. Dra. Celia Pedrosa (UFF) o Grupo

)'%5'4>"34/%dH$'43/%'%%C$9('05$*/9'3)/)'e%G%CVH>7%C$0%/%H*$:/7%

S*/7%O/*!3/%O/93*%K'3($4/%`Z93?'*43)/)'%K')'*/;%)$%O/*/9<-$a=%

coordena ainda o Grupo de pesquisa “Estudos de paisagem nas li­

teraturas de língua portuguesa” ­ CNPq. Coorganizou, com Marcia

Manir Feitosa, Literatura e paisagem, perspectivas e diálogos, Ni­

terói, EdUFF, 2010; com Celia Pedrosa, Subjetividades em devir

– estudos de poesia moderna e contemporânea, Rio de Janeiro,

7Letras, 2008. Tem publicado diversos estudos, em revistas e li­

vros brasileiros e estrangeiros, sobre poesia portuguesa moderna e

!$9('05$*N9'/7%p%5'4>"34/)$*/B&$;434(/%)$%CVH>%'%39('1*/%$%1*"­

5$%39('*9/!3$9/;%)'%5'4>"34/%4$&*'%;391"/1'0%5$.(3!/%'%?34"/;3)/)'%

_JRM=%!$0%4')'%9$%[94(3("($%)'%_3('*/("*/%C$05/*/)/%O/*1/*3)/%

Losa da Universidade do Porto.

Márcia Manir Miguel Feitosa% .%S$"($*/% '0%_3('*/("­

ra Portuguesa pela USP, docente do Departamento de Letras e do

Mestrado em Cultura e Sociedade da UFMA e coordenadora do

Doutorado Interinstitucional em Linguística e Língua Portuguesa

`ZKOMBZVcIHB[KOMa7% p% 5*'43)'9('% )/% M8RMH_[H% `M44$!3/A-$%

Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa (2010­2011).

Publicou Fernando Pessoa e Omar Khayyam: o Ruba’iyat na po­

'43/%5$*("1"'4/%)$%4.!";$%oo%`c)7%P3$*)/9$=% jkka%'%$*1/93\$"=%

juntamente com a Profa. Ida Alves, da Universidade Federal Flu­

minense, o livro Literatura e paisagem: perspectivas e diálogos

Literatura e Paisagem em Diálogo

252

`cSZKK=% nmjma7% p% "0/% )/4% !$$*)'9/)$*/4% )$% 1*"5$% )'% 5'4>"3­

sa Estudos de Paisagens nas Literaturas de Língua Portuguesa

(UFF).

Maria Elizabeth Chaves de Mello%.%5*$:'44$*/%/44$!3/­

da III, da Universidade Federal Fluminense, e pesquisadora 1 D do

CNPq. Atua na pós­graduação em estudos de literatura, onde ensi­

na literatura francesa e comparada. Suas pesquisas se direcionam

5/*/%$%'4(")$%)$%!*"\/0'9($%)'%$;</*'4%'9(*'%/%c"*$5/%'%$%8*/43;%

'%4"/4%!$94'>yE9!3/4%9/%;3('*/("*/%'%9/%!*2(3!/%&*/43;'3*/47%%p%/"($­

*/%)'%(*E4%;3?*$4%'%)'%39^0'*$4%!/52(";$4%'%/*(31$4%'0%5'*3@)3!$47%

Orienta doutorado e mestrado, desde 1994.

Maria Luiza Berwanger da Silv/% .% 5*$:'44$*/% )$% H@4%

Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul; possui Doutorado em Literatura Comparada pelo Programa de

Pós Graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande

do Sul e Pós ­Doutorado na Sorbonne Nouvelle ­ Paris 3(Literatura

Comparada). Pesquisadora convidada de Paris 3­ Sorbonne Nou­

velle (Projeto de Literatura Comparada). Publicações em revistas

e livros nacionais e internacionais ; livro mais recente publicado

: Paisagens do Dom e da Troca .Porto Alegre : Litteralis , 2009 ;

/*(31$%0/34%*'!'9('%f_3((.*/("*'%8*.43;3'99'%C$9('05$*/39'%`'9(*'%

5*$)"!(3$9% '(% *.+',3$9a[9f8cII[ìRc=% Q'/9% `Y*17a7% Littératures

d´aujourd ´hui7%H/*34f%U$9$*.%C</053$9%nmjj7

Masé Lemos%.%%)$"($*/%'0%_'(*/4%5';/%Z93?'*43)/)'%I$*­

bonne Nouvelle ­ Paris 3 (2004) com tese sobre a obra de Radu­

an Nassar, Une poétique de l’intertextualité. Fez pós­doutorado

na Universidade do Estado do Rio de Janeiro com bolsa da Faperj

`nmmrgnmm~a%4$&*'%/4%*';/AD'4%'9(*'%!'(3!340$=%!39340$%'%4F(3*/%9/%

;3('*/("*/% &*/43;'3*/7% p% H*$:'44$*/%i343(/9('% )$%S'5/*(/0'9($% )'%

Literatura e Paisagem em Diálogo

253

_'(*/4% )/%ZcRQ% '% 5'4>"34/)$*/% )$%C'9(*'% )'%R'!<'*!<'% I"*% ;'4%

H/T4%_"4$5<$9'4%B%CRcHM_%B%)/%Z93?'*43(.%)'%;/%I$*&$99'%V$"­

velle ­ Paris 3. Faz parte do Grupo de Pesquisa do CNPq “Estudos

de Paisagem nas Literaturas de Língua Portuguesa”. Pesquisa atu­

almente a poesia contemporânea brasileira e francesa e desenvolve

'4(")$4%/!'*!/%)/4%*';/AD'4%'9(*'%5$'43/%'%5/34/1'07%p%/"($*/%)$%

livro de poesia Redor (2007) e co­organizadora de Alguma Prosa:

ensaios sobre a literatura brasileira contemporânea (2007).

Michel Collot%.%5*$:'44$*%)'%;3('*/("*/%:*/9!'4/%9/%Z93?'*­

43(.%I$*&$99'%V$"?';;'%B%H/*34%[[[=%$9)'%)3*31'%$%C'9(*$%)'%H'4>"3­

4/4%dp!*3("*'4%)'%;/%0$)'*93(.e%`!$9?'9!3$9/)$%/$%CVRI%B%K*/9­

A/a=%!$0%$%/("/;%1*"5$%)'%5'4>"34/%di'*4%"9'%1.$1*/5<3'%;3((.*/3*'e%

(<((5fgg1'$1*/5<3';3(('*/3*'7<T5$(<'4'47$*1g). Publicou vários en­Publicou vários en­

saios sobre a poesia moderna, notadamente R(gl#%.B#/(G&6*+"*d,

Corti, 1988: La Poésie moderne et la structure d’horizon,P.U.F,

1989 e La matière­émotion,P.U.F, 1997. Dirigiu um volume cole­Dirigiu um volume cole­

tivo sobre Les Enjeux du paysage, coleção Recueil, Ousia, 1997, e

preside a Associação Horizont Paysage.

Roberto Lobato Correa% .% ;3!'9!3/)$% &/!</*';=% 0'4(*'%

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Literatura e Paisagem em Diálogo

254

de março de 2002; Professora do Programa de Pós­graduação

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Secretaría de Políticas Universitarias del Ministerio de Educaci­

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