literatura na formação do leitor
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Cláudia CapelloLígia Martha CoelhoMarcela Afonso FernandezMárcia CabralTRANSCRIPT
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Cludia Capello
Lgia Martha Coelho
Marcela Afonso Fernandez
Mrcia Cabral
Volume 1
Literatura na Formao do Leitor
Apoio:
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Material Didtico
C238Capello, Cludia. Literatura na formao do leitor. v. 1 / Cludia Capello et al. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2010. 116p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-188-X 1. Literatura. 2. Leitura. 3. Hbito de leitura. I.Coelho, Lgia Martha. II. Fernandez, Marcela Afonso. III.Cabral, Mrcia. IV. Ttulo.
CDD: 372.64
Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Copyright 2005, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj
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2010/1
ELABORAO DE CONTEDOCludia CapelloLgia Martha CoelhoMarcela Afonso FernandezMrcia Cabral
COORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALCristine Costa Barreto
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISO Ana Tereza de AndradePatrcia Alves
COORDENAO DE LINGUAGEM Maria Anglica AlvesCyana Leahy-Dios
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Aula 1 O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?_________________ 7 Lgia Martha Coelho
Aula 2 Formamos leitores... ou os leitores se formam? _______________ 23 Marcela Afonso Fernandez
Aula 3 Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina? ____ 37 Lgia Martha Coelho
Aula 4 Leitura e Literatura na escola: o que se l? __________________ 51 Marcela Afonso Fernandez
Aula 5 Leitura e Literatura na escola 2: hbito ou gosto? _____________ 65 Lgia Martha Coelho
Aula 6 Leitura e Literatura na escola 3: aprendemos a ler na escola? __ 81 Marcela Afonso Fernandez
Aula 7 Aula-sntese _________________________________________ 97 Lgia Martha Coelho
Referncias _____________________________________ 111
Literatura na Formao do Leitor
SUMRIO
Volume 1
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O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?
Pr-requisitos
Para que voc entenda mais facilmente o que vamos discutir nesta primeira aula, seria interessante reler as Aulas 5/6 e 15 a 19 da disciplina Lngua Portuguesa na
Educao 1. Reveja, com mais ateno, os conceitos de identidade cultural, aluno-
leitor e aluno-autor.
objetivos1AULA
Esperamos que, no fi nal desta aula, voc seja capaz de:
Conhecer e comparar diferentes concepes de leitura e de leitor.
Conhecer diferentes concepes de Literatura.
Refl etir acerca da natureza e do papel do texto literrio na formao do leitor.
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Literatura na Formao do Leitor | O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?
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Ol! C estamos ns juntos, outra vez!...
Nosso primeiro contato foi com a disciplina Lngua Portuguesa na Educao 1,
lembram-se?
Pois ... Como quem est vivo, sempre aparece, retornamos ao convvio de
vocs, agora trabalhando com esta outra disciplina, Literatura na formao
do leitor. Agora no discutiremos propriamente as normas gramaticais e seu
uso; os usos da lngua materna; o ensino da lngua materna nas sries iniciais
do Ensino Fundamental, apesar de todas estas refl exes acompanharem o
processo de construo de um ensino mais crtico nesta rea de conhecimento
a dos estudos de Lngua e de Literatura.
Nossa discusso se encaminha para um outro ponto complementar quele,
mas, exatamente por isso, diferente...
Nesta disciplina, Literatura na formao do leitor, indagaremos novamente
sobre o texto. No entanto, esse texto est adjetivado trata-se do texto
literrio: sua natureza e suas especifi cidades, ou seja, aquilo que o constitui
como uma obra artstica e, portanto, tambm universal...Vamos, ento, s
nossas indagaes?
INTRODUO
AFINAL, O QUE LEITURA? O QUE LEITOR?
O incio desta primeira aula contm um pr-requisito: o seu retorno
a algumas aulas dos Mdulos 2 e 3 da disciplina Lngua Portuguesa na
Educao 1. Mais precisamente, neste momento, queremos destacar um
ponto discutido nas Aulas 15 e 16: concepes de leitura.
Concepes de leitura
Naquele material, falamos sobre diferentes formas de ler. Uma
dessas formas privilegia, num texto escrito, a decodifi cao dos smbolos
grfi cos, a compreenso das palavras e expresses e, conseqentemente,
seu sentido mais imediato. A essa prtica denominamos concepo
reduzida de leitura.
A outra forma de entender o ato de ler, ao contrrio, apresenta
a leitura e seu(s) possvel(veis) sentido(s) como elementos fundamentais
do ato de ler. Continuando neste percurso, vimos que:
Nem sempre os sentidos imediatos a que nos referimos (...) so
nicos. Eles podem ser mltiplos e, na maioria das vezes, o so.
Dependem, tambm, de nossa viso de mundo; dos valores e
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representaes que temos desse mundo (...). Os sentidos imediatos
dependem, ainda, do que denominamos como INTERTEXTUALIDADE...
(CAPELLO; COELHO, 2003, p. 36).
Voltando idia de leitura ampliada, podemos dizer que esta
concepo pe em xeque um pressuposto que muitos de ns utilizamos,
quando trabalhamos com textos na escola: o de que existe uma
interpretao nica. Mas isto tema para outra aula...
Resgatando ainda o raciocnio que vnhamos construindo, a segunda
concepo que expusemos privilegia os mltiplos sentidos presentes em
um texto; as condies em que esse texto foi produzido, tanto as externas
quanto as internas... O que queremos dizer com isto?
Voc se lembra desta composio musical?
Pai, afasta de mim esse clice
Pai, afasta de mim esse clice
Pai, afasta de mim esse clice...
De vinho tinto de sangue.
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silncio na cidade no se escuta
De que me vale ser fi lho da santa
Melhor seria ser fi lho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta fora bruta (...)
(Clice, de Chico Buarque e Gilberto Gil. CD da coleo MPB
Compositores. Sonopress)
Veja a que sentidos a letra da composio musical Clice, de Chico
Buarque, pode nos remeter. Ns encontramos, pelo menos, dois sentidos:
aquele que nos fala sobre uma passagem da Bblia, em que Cristo
instado a beber do clice da amargura e, tambm, o que nos lembra um
perodo de chumbo da Histria do Brasil: a poca da ditadura militar,
em que as pessoas no podiam expressar livremente suas opinies e
posies polticas. Neste segundo caso, o clice adquire outro sentido,
pela semelhana fontica com o verbo calar, no mesmo? Como as
condies externas ao texto o contexto histrico em que foi produzido
interfere em nossa interpretao! E como essa interpretao do texto
ganha corpo, por meio das condies internas que ele nos apresenta
INTERTEXTUALIDADE
Voc se recorda do termo intertextuali-dade, mencionado
nas Aulas 15 e 16 do material de Lngua
Portuguesa na Edu-cao 1? Naquele
material, comeamos a defi ni-lo. Agora j
podemos aprofun-dar o conceito de intertextualidade,
apresentando-o como a possibilidade de, ao
criar textos, relacion-los a outros textos,
abrindo, assim, o leque de leituras
realizadas por um leitor.
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1. Retorne ao trecho da msica Clice, que apresentamos anteriormente.Refletindo sobre esse trecho, exemplificamos com o termo clice (substantivo que se apresenta, sonoramente, como expresso verbal, possibilitando, assim, uma outra leitura para o texto) o que denominamos condies internas do texto.Voc poderia nos apresentar outro exemplo, em Clice, que tambm estivesse dentro desse mesmo raciocnio, ou seja, que possibilitasse uma dupla leitura? Justifi que sua escolha!!! ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
ATIVIDADES
a semelhana fontica entre clice substantivo e a forma verbal cale-
se, por exemplo...
Nesse sentido, retomando a passagem destacada anteriormente,
ratifi camos a idia de que os sentidos de um texto dependem, sim, de
nossa viso social de mundo. Neste particular, no podemos jamais
abrir mo das idias de nosso grande mestre Paulo Freire. Diz-nos ele
que:
(...) Primeiramente, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que
me envolvia. Depois a leitura da palavra que, nem sempre, ao longo
de minha escolarizao, foi a leitura da palavramundo no
a leitura da palavra mundo, mas a leitura da palavramundo,
uma palavra s (FREIRE, 1995, p. 30).
Como voc pode perceber, os dois fragmentos se aproximam.
Ambos aprofundam a noo de que lemos com os olhos que o mundo nos
deu. E esses olhos refl etem-no, por meio dos sentidos que emprestamos
aos textos que lemos.
Agora vamos ver se voc compreendeu essas duas concepes de
leitura?
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RESPOSTA COMENTADA
Provavelmente, voc vai encontrar vrias respostas para esta ativida-
de. A ttulo de mais um exemplo, veja como bebida amarga tambm
nos apresenta dois sentidos: um, relacionado ao prprio sabor do
vinho que, para alguns, possui um travo amargo. No entanto, pode-
mos entender essa bebida amarga como o vinho tinto de sangue,
ou seja, a bebida amarga porque envolve sofrimento, dor por
isso, o tinto de sangue.
Com essas leituras, experimentamos o que denominamos
condies internas do texto. Em outras palavras: sua construo
vocabular, as imagens criadas, as nuanas fnicas, semnticas e
sintticas que percebemos como mltiplas vo constituindo um
texto plural, polifnico.
2. Retome a discusso do item anterior e complete o quadro a seguir, no sem antes retornar ao material de Lngua Portuguesa na Educao 1...
Concepes de Leitura
Denominao Natureza Especifi cidades
1.Concepo reduzida de leitura
2.Concepco ampliada de leitura
RESPOSTA COMENTADA
No se esquea de reler, atentamente, o material que lhe propu-
semos, alm do que discutimos at aqui, pois nessa segunda
leitura que voc vai perceber, com mais clareza, as duas concepes
que lhe apresentamos. Veja que os prprios termos reduzida,
ampliada j dizem alguma coisa...
Aps completar seu quadro, entre em contato com um dos tutores,
a fi m de verifi car suas respostas. No se esquea, tambm, de que
este curso semipresencial e, como tal, no prescinde da relao
com a tutoria.
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Produo da leitura: a presena do leitor
Agora que j retomamos o barco, vamos nos fi rmar ao leme e
avanar?
Se existem concepes de leitura, sejam elas reduzidas ou ampliadas,
devem existir, tambm, condies para sua produo, no mesmo? Neste
particular, vejamos o que nos diz Abreu (2000, pp. 123-124):
A leitura, alm de uma histria, tem uma sociologia (CHARTIER,
1998). As formas de ler e avaliar os textos variam, se se
considerarem diferentes classes sociais, regies, etnias etc. (...)
Diferentes leitores, espectadores, ouvintes, produzem apropriaes
inventivas e diferenciadas dos textos que recebem. Para Michel
de Certeau, o consumo cultural ele mesmo uma produo
silenciosa, disseminada, annima, mas uma produo. O que
no signifi ca considerar o leitor como completamente livre, pois
ele est submetido a restries e limites impostos por sua formao
cultural e pela forma particular do texto que l.
Convidamos voc a pensar conosco. Lendo atentamente o trecho
destacado, podemos inferir que ler no uma prtica social totalmente
autnoma; muito menos, neutra...
Quando lemos, estamos nos posicionando diante do mundo;
mas, ao mesmo tempo, esta nossa posio depende do que construmos
sobre esse mundo, a partir das possibilidades com que ele nos brindou,
embriagou ou quem sabe deixou de nos presentear... Em outras
palavras, lemos de acordo com concepes que construmos a partir
de nossas condies objetivas de vida. Voc se lembra do Fabiano, de
Vidas secas, fi lme a que assistiu na disciplina Lngua Portuguesa na
Educao 1?
Pois , Fabiano pouco falava. Ele no sabia ler nem contar. Mas
entendia o mundo, e o lia, a partir de suas experincias de vida. No
entanto, agora estamos falando de outra leitura, a dos textos escritos,
aos quais ele no tinha acesso, devido s suas condies socioeconmicas.
Tambm devido condio tnica, geogrfica, cultural, podemos
acumular experincias ou no que nos possibilitem ir alm ou fi car
aqum do texto que lemos...
Portanto, podemos dizer que a produo da leitura sofre a
interferncia de nossas possibilidades sobre ela. Se temos um determinado
conhecimento sociocultural, originado de condies socioeconmicas
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que nos favoreceram ao longo da vida, nossas leituras podero ser mais
profundas, intertextuais, um caleidoscpio de sentidos e signifi cados,
quem sabe? Ao contrrio, se as condies que tivemos foram adversas,
ou mais limitadas, nossa prtica de leitura refl etir essa limitao.
Esta refl exo, contudo, no nos deixa meio paralisados perante
as tais condies objetivas?
Voltemos, novamente, ao trecho de Mrcia Abreu (2000). Verifi que
que a autora nos fala, ainda, sobre outra natureza da produo da leitura:
(...) Diferentes leitores, espectadores, ouvintes, produzem apropriaes
inventivas e diferenciadas dos textos que recebem. Veja bem: esta
afi rmao abre uma brecha na paralisao de que falamos anteriormente!
Se somos condicionados, de certa forma, pelas oportunidades
socioeconmicas e culturais que temos ao longo da vida, somos, ao
mesmo tempo, donos de nossas refl exes. Em outras palavras, podemos,
por meio das oportunidades que tambm nos concedemos, produzir
prticas de leitura diferenciadas e criativas.
No mesmo trecho destacado, Abreu ainda nos confi rma, citando
Michel de Certeau, que o consumo cultural ele mesmo uma produo
silenciosa, disseminada, annima, mas uma produo. Nesse sentido,
ampliam-se ainda mais as possibilidades de produo de leitura...
Para encerrar nossa conversa, consideramos bastante signifi cativa
a distino que a professora Sonia Kramer (2000) apresenta entre vivncia
e experincia, apontando a natureza desta ltima quando relacionada
ao ato de ler. Repare:
(...) na vivncia, h mera reao aos choques da vida cotidiana, a
ao se esgota no momento de sua realizao (por isso fi nita); na
experincia, o que vivido pensado, narrado, a ao contada
a um outro, compartilhada, se tornando infi nita. Esse carter
histrico, de ir alm do tempo vivido e de ser coletivo, constitui a
experincia. Mas o que signifi ca entender a leitura e a escrita como
experincia? (...) Quando penso na leitura como experincia (...)
refi ro-me a momentos em que fazemos comentrios sobre livros
ou revistas que lemos, trocando, negando, elogiando ou criticando,
Condies objetivas Entendemos por condies objetivas aquelas relacionadas a aspectos socioeconmicos e socioculturais que podem interferir, sobremaneira, em nossas prticas sociais, inclusive a da leitura.
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contando mesmo. (...) O que faz da leitura uma experincia
entrar nessa corrente onde a leitura partilhada. (...) Defendo a
leitura da literatura e de textos que tm dimenso artstica, no
por erudio, mas porque so textos capazes de inquietar (...)
(KRAMER, 2000, pp. 28-29).
interessante verifi car que, com essa distino, Kramer nos
apresenta um tipo de leitor aquele que indaga, busca, interfere,
compartilha sentidos. E defende a leitura de um tipo de texto aquele
que capaz de inquietar...
Daqui por diante, abordaremos essa espcie de texto.
3. Comentamos, nesta parte, a produo da leitura e do leitor. Nesse sentido, gostaramos de ouvir voc, como leitor(a), baseando-se nas refl exes que fi zemos. Como voc se v, no papel de leitor(a) e de produtor(a) de leitura? Justifi que suas respostas! ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
4. S para complicar, gostaramos de ouvir voc, mais uma vez, agora como formador(a) de leitores(as)... Como voc se v, nesse papel? Justifi que suas respostas. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
ATIVIDADES
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RESPOSTAS COMENTADAS
ATENO! Aps responder s questes propostas, procure um tutor
(presencial ou do plo), a fi m de discutir sua resposta. Afi nal, delas
dependem sua relao com esta disciplina, no acha?
No entanto, como neste material as respostas tm de vir
comentadas, seja qual for o seu teor, no se esquea de que as
duas questes so subjetivas e, nesse sentido, no cabem respostas
objetivas. O que vai contar, aqui, a sua histria pessoal, so suas
experincias de vida, o seu remexer no ba das lembranas...
TODOS NS ENTENDEMOS O MESMO ACERCA DO QUE SEJA LITERATURA?
No item anterior, fechamos nossas refl exes com uma formulao
de Kramer (2000): Defendo a leitura da literatura e de textos que tm
dimenso artstica, no por erudio, mas porque so textos capazes
de inquietar.... Essa possibilidade de entender o texto bastante
interessante. O que voc entende acerca do que seja Literatura?
Concepes de literatura
Vejamos o que nos diz Aguiar e Silva (1973), autor de uma
tradicional obra de teoria da literatura, sobre os signifi cados da Literatura
ao longo do tempo:
Na segunda metade do sculo XVIII (...) em vez de signifi car o saber,
a cultura do letrado, a palavra passa a designar antes uma especfi ca
actividade deste e, conseqentemente, a produo da resultante (...)
cerca do fi m do terceiro quartel do sculo XVIII, literatura passa
a signifi car o conjunto das obras literrias de um pas, pelo que se
lhe associa um adjectivo determinativo: ingls, francs etc. (...) Por
volta da penltima dcada do sculo XVIII, a palavra literatura
conhece um novo e importante matiz semntico, passando a
designar o fenmeno literrio em geral e j no circunscrito a
uma literatura nacional, em particular. Caminha-se para a noo
de literatura como criao esttica, como especfi ca categoria
intelectual e especfi ca forma de conhecimento (p. 23).
E no se esgota por a o rol de defi nies que existem para
Literatura... Quer ver?
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Literatura na Formao do Leitor | O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?
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Ento a literatura pode se caracterizar como sendo esta identidade
atemporal e anespacial entre o homem de uma poca e o homem
de todas as pocas. E neste sentido, cada leitor um recriador
de emoes (...) Nessa busca de mundos imaginrios, quando
procuramos fugir das agruras da existncia, muitas vezes o escritor
prediz o futuro com preciso quase absoluta. (...) A literatura
ser ento profecia?
Repare-se: no a literatura que brote naturalmente do gnio,
condicionado pelas circunstncias, mas intencionalmente, a
literatura que convm comunidade. Quer-nos parecer que,
assim entendido o compromisso, o escritor se coloca a servio
da sociedade, aponta os caminhos que julgar vlidos (...) Ele um
combatente (...) sem deixar, entretanto, de ser um artista.
(...) Por outro lado, ponto pacfi co que a literatura uma
modalidade de linguagem. Em relao ao sistema caracterizador
da lngua, ela funciona como um uso particular, um sistema 2,
que vem se superpor ao primeiro (PROENA FILHO, 1995,
pp. 38-41).
Uma leitura atenta dos trechos destacados desses dois autores
clssicos no panorama da Teoria da Literatura nos leva a vrias
concepes acerca da Literatura que no se excluem, obrigatoriamente.
Veja que essas concepes apontam especifi cidades para o texto literrio
ele envolve, emocionalmente; engajado; trabalha com a linguagem,
mas sob outra perspectiva... Refl ita sobre estes conceitos e aguarde.
Daqui a algumas aulas retornaremos a eles.
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5. Como voc j leu alguns conceitos sobre Literatura, crie agora uma defi nio para o termo e apresente um exemplo nacional de texto literrio. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Estamos, novamente, diante de uma questo subjetiva. Alis, se
estamos tratando de Literatura, como no haver questes subjetivas
nesta disciplina, no mesmo?
Novamente, no h uma resposta especfica e objetiva. Mas
refl ita sobre o conjunto de conceitos que voc apreciou no item
Concepes de Literatura, separe aqueles que voc considera
mais prximos sua prpria defi nio. Pense em obras/textos que
voc tenha lido e que se identifi quem com essa primeira seleo e,
ento, elabore sua resposta. Depois, entre em contato com nossos
tutores presenciais ou a distncia.
ATIVIDADE
Sociedade, literatura e leitor
Refl etindo sobre as concepes de Literatura, uma pergunta nos
assaltou: se Literatura pode ser, dentre outras possibilidades, uma forma de
entender o mundo, trabalhando esteticamente com a lngua, as pessoas de
qualquer classe ou categoria profi ssional, em qualquer sociedade deveriam
ter acesso aos textos literrios. Afi nal, esses textos seriam um complemento
essencial sua constituio como seres histrico-sociais, pertencentes a um
grupo social e, ao mesmo tempo, ao mundo.
Uma pergunta nos assaltou Para deixar voc mais atento, repare que ns poderamos ter escrito o trecho anterior de outra forma, mais objetiva, por exemplo, surge uma pergunta. No entanto, propositalmente, dissemos que a pergunta nos assaltou. Ora, objetivamente, uma pergunta no assalta um ser humano. Neste sentido, estamos trabalhando com o sentido figurado das palavras, matria que veremos adiante.
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Literatura na Formao do Leitor | O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?
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Mas ser que isto o que acontece? Veja como o escritor Moacyr
Scliar (1995) nos conta parte de sua histria de leitor:
Eu lia os escritores que encantaram os jovens da minha gerao.
Lia Monteiro Lobato, Ceclia Meireles, Charles Kinsley, Alice
no Pas das Maravilhas, Histria de um Quebra-Nozes, Robin
Hood, Tarzan, livros sobre piratas, Cazuza do Viriato Correia, a
obra que marcou muito a nossa gerao e que eu releio sempre
que posso para recuperar um pouco da minha infncia. (...) Eu
lia rico Verssimo, o grande escritor do Rio Grande do Sul (...)
Eu lia Jorge Amado, que, vindo a Porto Alegre, se hospedava na
casa de um velho comunista chamado Henrique Scliar, meu tio.
Eu ia visitar o meu tio e fi cava olhando o Jorge Amado porque
nunca tinha visto de perto um escritor to importante (SCLIAR,
1995, pp.165-166).
No entanto, ao contrrio da experincia particular de leitor,
vivenciada por Scliar, verifi camos que, no Brasil, ocorrem problemas
no que se refere constituio de sujeitos leitores. O hbito e o prazer
de ler estariam, desta forma, sofrendo srias restries. A este respeito,
veja o que afi rma Silva (1995):
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O problema da leitura no contexto brasileiro deve ser colocado,
fi gurativamente falando, em termos de uma lei-dura, isto , em
termos de um conjunto de restries agudas que impede a fruio
da leitura, do livro por milhes de leitores em potencial (SILVA,
1995, p. 23).
Se compararmos as duas falas apresentadas, parece que estamos
em pases diferentes...
No entanto, estamos apenas em mundos diferentes. Em outras
palavras, Moacyr Scliar teve acesso ilimitado aos livros, aos textos
literrios, com eles nutrindo a sua j grande sensibilidade. Entretanto,
outros brasileiros no encontram essa facilidade ao longo de suas vidas.
Nesse sentido, a afi rmao de Ezequiel Silva bastante sria;
porm, no nova para ns. Ela constata a excluso, do mapa social
brasileiro, de um sem-nmero de pessoas que, pertencendo a uma classe
desprivilegiada social e economicamente, fi cam igualmente privadas de
bens culturais essenciais sua constituio como cidads.
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Literatura na Formao do Leitor | O que , o que ... leitura? Leitor? Literatura?
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ATIVIDADE FINAL
Procure, em um CD, a letra da composio musical Tatuagem (Chico Buarque) e
responda s questes que se seguem:
a) Partindo de uma concepo ampliada de leitura, destaque uma palavra, verso
ou estrofe, indicando a presena de condies externas ao texto que favoreceram
sua produo.
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CONCLUSO
Esperamos que esta primeira aula tenha lhe deixado um gostinho
de quero mais. Em outras palavras, que ela tenha surtido o efeito
desejado: deixado voc com a pulga atrs da orelha, principalmente em
relao a temas to importantes como as noes de leitura, de leitor e de
Literatura. Sem esses primeiros passos, fi ca difcil caminhar pelos textos
literrios e entender suas especifi cidades. Acabamos por no estabelecer as
diferenas entre os textos literrios e os no-literrios e utilizamos textos
como pretextos para ensinar contedos programticos em sala de
aula... Por outro lado, acreditamos que a refl exo sobre as condies
necessrias para que se tenha acesso leitura nos leva a constatar que as
pessoas, para se formarem leitoras, precisariam ter, no mnimo, acesso
irrestrito aos livros, fosse em bibliotecas, escolas ou livrarias.
Em sntese, esta nossa primeira aula discutiu pontos que voc deve retomar, a fi m de
continuar seus estudos na disciplina:
Existem diferentes concepes de leitura e de leitor.
Existem, tambm, vrias concepes de Literatura.
Ler e ter acesso aos livros no so prticas comuns a todos os cidados brasileiros.
R E S U M O
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b) Do mesmo modo, destaque uma palavra, verso ou estrofe que indique a presena
de condies internas, favorveis criao de mais de um sentido para o texto.
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__________________________________________________________________________
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RESPOSTA
ATENO! Veja que as duas questes que lhe propomos agora no
so, propriamente, subjetivas. Elas tm uma resposta que est nas
entrelinhas do texto que solicitamos a voc procurar e analisar. Retorne
refl exo que elaboramos nesta aula, quando explicamos as condi-
es externas e internas presentes no texto Clice, e tente estabelecer
relaes semelhantes, a partir da leitura do texto Tatuagem.
Tudo bem. Vamos lhe dar uma dica. Repare que as condies externas,
nesta composio, dizem respeito a um amor trgico, meio doentio,
possessivo. Repare, ainda, que h termos e expresses que reforam
essa condio, ao longo da composio musical, como, por exemplo,
grudar em seu corpo/feito tatuagem... Quer algo mais possessivo do
que isto? Procure no restante do poema!
No se esquea de apresentar sua resposta a um dos tutores, presencial
ou a distncia, a fi m de discuti-la!
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Formamos leitores... ou os leitores se formam?
Pr-requisitos
Para voc compreender esta aula, recomendamos que revise o material da
disciplina Lngua Portuguesa na Educao 1, por meio da leitura atenta da Aula 10
(Mdulo 2), que apresenta o conceito de diversidade lingstica, e das Aulas 15 a 19
(Mdulo 3), que discutem diferentes concepes de leitura, objetivando a formao do aluno/
leitor e do aluno/autor de textos. importante rever tambm a Aula 1 desta disciplina.
objetivos2AULA
Ao fi nal desta aula, voc dever ser capaz de:
Analisar diferentes concepes relacionadas formao do leitor.
Avaliar o papel do contexto sociocultural local e da experincia prvia do sujeito-leitor no seu processo de formao.
Apontar para a refl exo acerca da funo do contexto escolar na formao do leitor de texto literrio.
-
Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
24 C E D E R J
Agora que j iniciamos a construo dos pilares conceituais de nosso estudo,
conhecendo diferentes concepes de leitura concepes reduzida e
ampliada -, de leitor relacionadas s nossas condies objetivas de vida
e de Literatura com base nas caractersticas e na identidade do texto literrio
em diferentes tempos e espaos , poderemos, nesse terreno frtil que
apresenta vrios pontos de vista, direcionar e centralizar nossa refl exo sobre
uma das interrogaes que delinear nosso rumo investigatrio: formamos
leitores ou os leitores se formam?
Para responder a esta pergunta, importante que voc considere as
relaes que podemos estabelecer entre uma das concepes de Literatura
e de formao de leitores, nas quais o termo refere-se a uma forma de
compreender o mundo, trabalhando esteticamente com a lngua e o processo
de formao de leitores.
INTRODUO
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C E D E R J 25
AU
LA 2
EXISTEM LEITORES E LEITORES...
Para analisarmos essa questo to instigante, podemos iniciar
nosso percurso investigatrio com algumas pistas sugeridas por meio
dos relatos de experincia com leitura de alguns leitores/escritores que
povoam a literatura infanto-juvenil nacional com suas belas histrias,
que apresentamos a seguir.
Fanny Abramovich
Ah, a volpia de poder ler sozinha, de mergulhar no mundo mgico
das letras pretas que remetiam a tantas histrias fantsticas!!! (...)
Como era deleitoso, delicioso lagartear (no ao sol, mas onde
fosse e nas condies climticas que fossem...) com os livros do
Monteiro Lobato. Era gostosura pura, maravilhamento total!
(...) E essa volpia de ler, essa sensao nica e totalizante que
s a literatura provoca (em mim pelo menos), esse ir mexendo
em tudo e formando meus critrios, meus gostos, meus autores
de cabeceira, relendo os que me marcaram ou mexeram comigo
dum jeito ou de outro (...), esse perceber que o ler um ato
fl uido, ininterrupto, de encantamento e de necessidade vital,
algo que trago comigo desde muito, muito pequenina... E foi
o que me tornou essa viciada total em ler que sou at hoje!
(ABRAMOVICH, 1995, p. 11).
Ana Maria Machado
O stio era praticamente o do Picapau Amarelo, s que com o
mar na porteira. Era praia de manh, mato de tarde e, noite,
histrias em volta da fogueira. As contadeiras se turnavam.
A me era especialista em fadas, mas incursionava tambm nas
histrias clssicas, O gato de botas, A bela e a fera. (...) O pai
contribua com os grandes aventureiros mitolgicos, Robin Hood,
Robinson Cruso, Gulliver, Baro de Munchausen (LAJOLO,
1995, p. 26).
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Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
26 C E D E R J
Joel Rufi no dos Santos
No foi na escola que me apaixonei por livros.
Onde foi?
Minha av materna era de origem caet (...) era uma contadora
excepcional de histrias, e quando fi cou de cadeira de rodas,
no podendo mais cozinhar, sentvamos sua volta para ouvir
O Soldado Verde, O que aconteceu com Malazartes, O dia
em que Lampio entrou em Cajazeiras (...)
Minha me esperava que lendo a Bblia eu me tornasse um bom
cristo como ela. No me tornei. O sagrado, no meu caso, perdeu
para literrio (SANTOS, 1999, pp. 89-90).
Os relatos do incio da trajetria dos leitores/escritores Fanny
Abramovich, Ana Maria Machado e Joel Rufi no dos Santos revelam
pistas iniciais para respondermos provocao que nos inquieta nesta
aula formamos leitores ou os leitores se formam? Aproveite este
momento de refl exo com base nesses depoimentos para relembrar os
seus primeiros passos como leitor.
Quais seriam, a princpio, essas pistas?
o processo de formao do leitor est intimamente vinculado aos
primeiros RITUAIS DE INICIAO experincias que o constituem como tal;
as experincias iniciais sinalizam a presena de um ingrediente
importante, que tem o potencial de defl agrar este processo de formao:
o prazer/gosto pela leitura;
o despertar do gosto pela leitura, geralmente, est atrelado
presena de agentes de formao, mediadores, pontes rolantes que
estimulam esta interao leitor/texto literrio;
o contexto local que oportunize e enriquea a interao leitor/
texto literrio infl ui signifi cativamente na sua formao, oferecendo
condies de produo de leitura capazes de aproxim-lo e seduzi-lo
para esta prtica cotidiana.
Podemos observar, nesta primeira etapa de nosso percurso, a
importncia que devemos atribuir aos espaos de leitura e aos adultos
leitores, responsveis pelo desenvolvimento de aes positivas na
formao de leitores em potencial. Tais fatores so capazes de despertar
e estimular prticas impregnadas de pura fruio, prazer, afetividade,
que exercem uma infl uncia sobre a constituio humana.
RITUAIS DE INICIAO
O processo de for-mao do leitor pode desempenhar um papel signifi cativo ao vincular-se aos rituais de iniciao/rituais de passagem do ser humano. O termo ritual, segundo o Dicionrio brasileiro de lngua portuguesa, refere-se ao conjunto de cerimnias de uma religio, culto, doutri-na, seita. Neste caso, os diferentes rituais de passagem repre-sentam e marcam as diversas fases vividas pelo ser humano ao longo de sua vida (infncia, adolescn-cia, fase adulta). Para que voc compreenda melhor esses ritos de passagem, sugerimos a leitura do livro Ritos de passagem de nossa infncia e ado-lescncia, antologia organizada por Fanny Abramovich, da edito-ra Summus Editorial. Um dos contos, inti-tulado Que escola esta?, por exemplo, relata os diferentes ritos de passagem que existem no cotidiano escolar. No livro, voc encontrar diferentes contos que traduzem os diferentes ritos que podemos vivenciar.
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C E D E R J 27
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LA 2
1. Para compormos o panorama acerca do processo de formao do leitor, propomos uma atividade, na qual voc ser o pesquisador.Entreviste, informalmente, pessoas de diferentes contextos locais e faixas etrias, perguntando-lhes sobre suas primeiras experincias como leitores.Registre estes relatos, destacando neles as categorias ambientes de leitura, percursos de leitura e concepo de leitor respondidas pelos entrevistados para, posteriormente, preencher o painel a seguir:
Existem leitores e leitores...
EntrevistadosAmbientes de
leituraPercursos de
leituraConcepo de
leitor
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
RESPOSTA COMENTADA
Observe, aps o registro dos relatos apresentados pelos entrevistados,
o quanto as categorias destacadas nos ajudam a compor um
determinado perfi l de leitor, ou seja, os valores, caractersticas e
representaes de mundo e experincias prvias pautados nestas
categorias nos revelam como cada sujeito/leitor se relaciona com o
texto literrio. Para voc ter uma viso ampla acerca das diferentes
facetas e trajetrias vividas por cada leitor, leve seu relato de
experincia para ser partilhado com seus colegas e tutor presencial
durante a tutoria, no plo, ou partilhe com os tutores a distncia de
sua universidade.
ATIVIDADE
Para aquecermos o nosso debate e trazermos voc para a
berlinda da discusso, que tal registrar suas primeiras experincias
com a leitura no seu caderno? Com certeza, seu relato ir enriquecer
nossas refl exes desta aula.
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Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
28 C E D E R J
Partindo destas mltiplas vozes e sentidos apresentados acerca
da leitura e dos processos de formao do leitor, vamos continuar
encaminhando nossa refl exo para respondermos pergunta que ainda
ecoa nesta aula e que tanto nos inquieta: formamos leitores ou os leitores
se formam?
AMBIENTES GERADORES DE PRTICAS LEITORAS
Se procurarmos enxergar com ateno as primeiras histrias de
leitura de diferentes leitores, verifi caremos a importncia do ambiente
gerador destas prticas, no que tange ao sentido que atribumos leitura
e que defi nem nosso perfi l de leitores.
Tomando por base os relatos colhidos no tpico anterior,
podemos observar o quanto o processo de formao do leitor deve estar
necessariamente vinculado a situaes/experincias que despertem o seu
gosto/prazer pela leitura.
Percebemos, ento, a relevncia que estes vnculos entre leitor/
texto literrio representam para o desenvolvimento de prticas leitoras.
Prticas leitoras motivadas pelos vnculos culturais e sociais locais que
o sujeito progressivamente vai estabelecendo em funo de seus modos
e contextos de vida.
As primeiras experincias de interao com o universo da literatura
geralmente acontecem nos contextos familiares, por adultos leitores do
mundo e da palavra que, com suas narrativas mgicas e permeadas de
encantamento, oferecem ao leitor iniciante o livro e a literatura como
passaportes, bilhetes de partida, como enuncia Bartolomeu Campos
de Queirs:
A leitura guarda espao para o leitor imaginar sua prpria
humanidade e apropriar-se de sua fragilidade, com seus sonhos,
seus devaneios e sua experincia. A leitura acorda no sujeito dizeres
insuspeitados enquanto redimensiona seus entendimentos.(...)
A iniciao leitura transcende o ato simples de apresentar ao
sujeito as letras que a esto j escritas. mais que preparar o
leitor para a decifrao das artimanhas de uma sociedade que
pretende tambm consumi-lo. mais do que a incorporao de
um saber frio, astutamente construdo. (...)
Fundamental, ao pretender ensinar a leitura, convocar o homem
para tomar da sua palavra (QUEIRS, 1999, p. 24).
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LA 2
As singelas e signifi cativas palavras de Bartolomeu nos instigam a
pensar no quanto a criao e o cultivo de vnculos entre leitor e literatura
motivados pelos ambientes geradores locais potencializa a sua
formao e, conseqentemente, transformao em cidados leitores.
Todavia, o desenvolvimento do gosto/prazer pela leitura, visando
formao integral do leitor, tornou-se um constante desafi o, difcil de
superarmos em funo, sobretudo, de prticas de leitura desiguais, no que diz
respeito ao acesso e s formas de se conceber e de se produzir a leitura.
Tais situaes, embora estejam num primeiro momento
relacionadas aos ritos de iniciao local de cada leitor em potencial,
requerem tambm destes ambientes geradores outros elementos
condicionantes destas prticas.
A possibilidade de ter acesso ao universo da literatura, ou seja,
o direito de se tornar um leitor pleno depende, especialmente, da plurali-
dade de escrituras literrias que o cercam. Surge desta constatao uma
pergunta que incomoda (ser que incomoda mesmo?) os governantes,
responsveis pelas condies infra-estruturais de uma sociedade: que
tipos de programas permanentes de democratizao e promoo da lei-
tura esto sendo implementados e desenvolvidos a fi m de viabilizar essas
prticas cotidianas de interao com a literatura? Que medidas diretas e
indiretas esto sendo adotadas pelo Estado, pelas empresas/instituies
e pelos diferentes segmentos da sociedade no sentido de diversifi car,
ampliar e renovar os espaos de acesso leitura (bibliotecas pblicas e
escolares, salas de leitura, escolas, feiras de livros)? De que forma e com
base em que pressupostos as propostas de interao leitor/texto literrio
esto sendo implementadas nestes espaos?
Estas perguntas poderiam desdobrar-se em tantas outras que
igualmente no teriam, a princpio, respostas simples e precisas que
sero aprofundadas nas prximas aulas. Mas elas sinalizam e alertam
para a complexidade do desafi o de formarmos leitores num cenrio
sociocultural marcado por desigualdades e excluses mltiplas.
Como j foi ressaltado pela citao de Ezequiel Theodoro da
Silva, na Aula 1, a questo da formao de leitores pressupe uma
anlise apurada do contexto brasileiro em termos de lei-duras, que
se traduzem na falta de condies polticas, sociais e econmicas capazes
de promoverem o acesso leitura e a formao de leitores brasileiros.
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Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
30 C E D E R J
Continuando ainda com nossas reflexes no que concerne
ao acesso e vivncia de prticas de leitura, a escola, dentre outros
espaos educativos formais e informais, desempenha tambm um
papel privilegiado no processo de formao de futuros leitores. Como
instituio imersa no mundo das letras, que articula as diferentes reas do
conhecimento, a escola assume a funo de imprimir as primeiras marcas
experienciais que delineiam o perfi l de futuros alunos/leitores.
A impresso destas marcas experienciais pode revelar-nos as
linhas e as entrelinhas de prticas de leitura existentes em muitos ambientes
escolares. Neste sentido, estas prticas de leitura podem estar assentadas
em tcnicas enlatadas, modeladas por catlogos de livros didticos e
paradidticos vendidos pela indstria editorial. Esses livros so consumidos
pela escola como mercadoria, que escolariza em frmas e receitas a
leitura, o leitor e o texto literrio. Contudo, essas receitas didticas
podem ser disfaradas de ludicidade e PRAZER SUPERFICIAL, desviando as
prticas de leitura da escola de seu carter de fruio e PRAZER ESSENCIAL.
E no preciso ter uma bola de cristal para descobrirmos o desdobramento
destas prticas na formao do leitor: o desencanto e o desencontro, muitas
vezes irremedivel, entre leitor e literatura.
PRAZER SUPERFICIAL X PRAZER ESSENCIAL
importante refl etir-mos acerca da diferen-a entre as expresses prazer superfi cial e prazer essencial relacionados ao ato de leitura. Enquanto a primeira denota a vivncia de atividades de dinamizao da leitura puramente ldicas por meio de jogos e brincadeiras que retratam as obviedades contidas no texto literrio, a segunda refere-se situao contrria: so experincias de leitura que procuram desenvolver uma compreenso ampla e profunda, desvelando os sentidos essenciais do texto literrio a partir de atividades problematizadoras.
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E como este desencontro se traduz nas prticas de leitura?
Vejamos duas situaes que podem ser muito familiares a voc:
SITUAO 1
SITUAO 2
O verbo ler no suporta imperativo.
Averso que partilha com alguns outros: o verbo amar... o
verbo sonhar...
Bem, sempre possvel tentar, claro. Vamos l: Me ame!,
Sonhe! Leia!
Leia logo, que diabos, eu estou mandando voc ler!
- V para o quarto e leia!
Resultado.
Nulo (1997, p. 13).
Se analisarmos o processo de escolarizao da leitura e do leitor
apontados nestas e em outras situaes reais e surreais encontradas
no universo escolar, perceberemos que, geralmente, elas partem de uma
concepo equivocada, que no faz a devida distino entre hbito de
leitura e gosto pela leitura, no que diz respeito formao do leitor. Mas
voc compreender melhor isso nas nossas prximas aulas.
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Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
32 C E D E R J
VAMOS DESCOBRIR UM NOVO LEITOR?
Com base em tudo que foi analisado at agora em nosso percurso
investigatrio, j temos condies de pensar como agentes de formao
de leitores em prticas de leitura alternativas, capazes de gerar outros
sentidos e caminhos para a constituio do aluno-leitor.
2. Diante de tudo o que foi exposto no decorrer da aula, responda nesse momento: formamos leitores... ou os leitores se formam? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Refl ita sobre todas as questes apontadas no decorrer desta aula
para responder a esta pergunta. Procure, para tanto, levar em
considerao algumas variveis que intervm neste processo:
contextos geradores de leitura, papel dos agentes de formao de
leitores, condies de acesso ao texto literrio, prticas de leitura
vivenciadas. Para socializar esta refl exo, leve a resposta para ser
discutida durante a tutoria presencial, no plo, ou partilhe com os
tutores a distncia de sua universidade.
ATIVIDADE
CONCLUSO
As refl exes e atividades anteriormente realizadas revelam e
alertam para o fato de que somos co-responsveis (como educadores)
pelo despertar do gosto pela leitura em nossos alunos. Demonstram
tambm a funo principal a ser desempenhada por todas as instituies
engajadas nesse rduo, porm fecundo, processo.
Para trilharmos outros caminhos que revelem novos sentidos,
remetemo-nos mais uma vez s refl exes calorosas de Fanny Abramovich,
ao apresentar o seu ponto de vista a respeito do processo de formao de
leitores a ser encampado por uma destas instituies, capaz de difundir
e fomentar as prticas leitoras, ou seja, a escola:
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C E D E R J 33
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LA 2
Me parece que a preocupao bsica seria formar leitores porosos,
inquietos, crticos, perspicazes, capazes de receber tudo o que
uma boa histria traz, ou que saibam por que no usufruram
aquele conto... Literatura arte, literatura prazer... que a escola
encampe esse lado. apreciar e isso inclui criticar... (ABRA-
MOVICH, 1995, p. 148).
ATIVIDADE FINAL
Leia com ateno os textos a seguir para responder nossa atividade fi nal.
TEXTO 1
Galileu Leu
Era uma vez um menino que lia. Mas a professora dizia:
ERRADO! REPETE!
E o menino sorria. Riso amarelo. E repetia. Mas era s acabar e l vinha nova
gritaria:
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Literatura na Formao do Leitor | Formamos leitores... ou os leitores se formam?
34 C E D E R J
ERRADO! REPETE! QUE AGONIA!
E o menino, agora, j no sorria, nem lia. Inibia.
IVO V A LUVA.
ERRADO, SEU TONTO! I -VO V - A - U- VA.
A sim que a estria comeava. Enquanto a professora corrigia, soletrava, dividia,
o menino sonhava. Que um dia ia ser um goleiro e que no prximo aniversrio ia
juntar trocado por trocado, o que ganhasse do pai e da me, do av e da bisav,
da tia Maricota e da prima-av Carlota. Tudo, tudo num saquinho, ia correndo
na esquina na loja do Bola Bolo. Ficava na ponta do p, que no alcanava o
balco, e agora ordenava, no mendigava, que lhe desse aquela luva, aquela
mesma pendurada no aramado. Luva profi ssional. Agora vou ser o tal. Chega
de dedo quebrado!
L, MENINO!
E o menino acordava, assustado, e era obrigado a ler o que a professora queria,
mas... qual o qu! S conseguia ver aquilo que sentia.
(ZATS, 1992)
TEXTO 2
Infncia
(A Abgar Renault)
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha me fi cava sentada cosendo.
Meu irmo pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a histria de Robinson Cruso
Comprida histria que no acabava mais.
(...)
E eu no sabia que minha histria
era mais bonita que a de Robinson Cruso.
(Carlos Drummond de Andrade)
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C E D E R J 35
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LA 2
Existem diferentes perspectivas que atuam no processo de formao de leitores. Neste
sentido, voc pode observar o papel fundamental desempenhado pelo contexto local
e pelas experincias prvias na constituio do leitor. Com base nestas premissas,
verifi ca-se, ento, que os sujeitos-leitores se formam, a partir dessa realidade local,
que mltipla, heterognea e rica.
R E S U M O
Identifi que e analise que concepes de leitor esto subjacentes aos Textos 1
e 2, tomando por base as discusses e enfoques propostos ao longo desta aula.
Registre em seu caderno.
RESPOSTA COMENTADA
Refl ita sobre todas as questes apontadas no decorrer desta aula,
articulando-as com as histrias apresentadas nos Textos 1 e 2 para
fazer esta atividade. Para socializar esta refl exo, leve esta resposta
para ser discutida durante a tutoria presencial, no plo, ou partilhe com
os tutores a distncia de sua universidade.
INFORMAES SOBRE A PRXIMA AULA
Na prxima aula, voc poder conhecer a natureza dos textos trabalhados na
escola. Tambm compreender, com maior clareza, as prticas escolares realizadas
com os textos literrios, a partir das problematizaes propostas.
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Pergunta dos textos literrios: por que a escola
nos azucrina?
Pr-requisitos
Para que o contedo desta aula fi que mais claro para voc, interessante resgatar o material impresso da disciplina
Lngua Portuguesa na Educao 1, por meio da leitura atenta das Aulas 3 e 4. Reveja tambm a disciplina Lngua
Portuguesa na Educao 2, mais precisamente a Aula 11 e as seguintes. Releia, ainda, a Aula 2 desta disciplina.
Voc ver que, nessas aulas, alguns conceitos esto bem marcados como, por exemplo, o papel da escola no ensino,
os diversos tipos de texto e sua aplicabilidade em sala de aula. Estes so pontos essenciais nesta nossa discusso!
objetivos3AULA
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
Identifi car a natureza dos textos trabalhados na escola.
Problematizar as prticas escolares realizadas com os textos literrios.
-
Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
38 C E D E R J
Vamos iniciar outra conversa? At o momento, nossas refl exes andaram
pelos caminhos da leitura e da Literatura, e suas respectivas produo e
prtica. Falamos, mais especifi camente, sobre o leitor sua formao e sua
identidade na diversidade socioeconmica e cultural.
Agora, vamos entrar na escola, nas salas de aula, e analisar o que acontece
nesses espaos formais de educao quando o assunto texto literrio.
INTRODUO
QUAIS AS CARACTERSTICAS DOS TEXTOS TRABALHADOS NA ESCOLA?
J podemos dizer que a pergunta com que abrimos esta seo no
tem uma resposta nica! Ainda bem, pois, h algum tempo, a questo
era respondida com a seguinte frase: s olhar os textos apresentados
nos livros didticos.
Essa era uma resposta vlida, quando a perspectiva pedaggica
que imperava nas escolas se situava no trabalho puro e simples com os
manuais didticos e, obviamente, com os textos neles impressos. E quais
as caractersticas desses textos?
Geralmente, eram trechos retirados de obras da literatura
infantil, nacionais ou no. Difi cilmente encontrvamos outro tipo de
texto. Quando apareciam outros, geralmente eram aqueles adaptados
realizao de algum exerccio gramatical.
No se pensava tambm em trabalhar com a produo escrita
de nossos prprios alunos, pois, que atributos esses textos teriam para
serem trabalhados em sala de aula?
Mas essa realidade est cada vez mais longe de nossas salas, no
mesmo? Trataremos disto na prxima aula. Mesmo assim, vamos refl etir
um pouco sobre o que dissemos nesta seo?
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C E D E R J 39
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LA 3
1. No item anterior, caracterizamos os textos que, comumente, so trabalhados em sala de aula. Releia atentamente esse item, e responda: quais so, afi nal, as caractersticas desses textos? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
2. Agora que j caracterizamos os textos que comumente so utilizados em sala de aula, vamos nos recordar daqueles outros gneros textuais, de que as disciplinas Lngua Portuguesa na Educao 1 e Lngua Portuguesa na Educao 2 nos falaram. Leia com ateno as questes a seguir e responda: a. Que gneros textuais apresentados nas disciplinas Lngua Portuguesa na Educao 1 e Lngua Portuguesa na Educao 2 j foram material de trabalho seu, na(s) escola(s) em que voc atua?b. A partir de quando voc comeou a utilizar gneros textuais diversos em sua(s) aula(s)?c. Que diferenas voc sentiu em relao ao trabalho realizado com a(s) turma(s)? Ou no houve diferena signifi cativa? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
ATIVIDADES
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Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
40 C E D E R J
RESPOSTAS COMENTADAS
1. Esta resposta no difcil, mas depende de sua leitura apurada.
Em outras palavras, voc vai encontr-la no item Quais as
caractersticas dos textos trabalhados na escola?, porm esse
encontro compree0nde, por vezes, aquela leitura nas entrelinhas
de que tanto falamos em aulas da disciplina Lngua Portuguesa na
Educao 1. Vamos lhe dar uma dica: so duas as caractersticas...
2. Repare que, mais uma vez, as perguntas so subjetivas. Portanto,
preciso que voc se coloque no lugar que lhe estamos sugerindo
o de responsvel por uma turma e, nesse sentido, refl ita sobre
os trabalhos que vem desenvolvendo em sala de aula: at que
ponto esses trabalhos so mais dinmicos? Voc tem difi culdades
em constituir atividades diferentes? Por qu? No se esquea de
justifi car, sempre, sua resposta.
PRTICAS ESCOLARES REALIZADAS COM TEXTOS LITERRIOS
J dissemos que os livros didticos recorriam, na maioria das vezes,
aos textos literrios. Entretanto, como estes textos eram apresentados?
Muitos de ns nos recordamos de que os livros, estruturados em
captulos, procuravam trabalhar com temas que tratavam, geralmente, de
questes gramaticais. A abertura de cada captulo dava-se, ento, por meio
de textos, fragmentados ou no, de grandes obras da literatura infantil
ou, ainda, de textos criados exclusivamente para serem trabalhados com
a temtica daquele captulo. Vamos nos deter, agora, no primeiro caso
textos, fragmentados ou no, de obras da literatura infantil.
No livro didtico Escola vida (2 srie), suas autoras nos
apresentam, no captulo 5, um trecho do livro Onde tem bruxa tem
fada, de Bartolomeu Campos Queiroz.
Ao ler atentamente este captulo, podemos verifi car que o texto
apresentado constitui-se como um fragmento da obra citada.
O livro didtico sequer teve a preocupao de falar pouco sobre
o escritor suas obras principais, por exemplo. Ele tambm no teve o
cuidado de inserir o trecho destacado para aquele captulo em uma sntese
da obra citada, a fi m de que os pequenos leitores contextualizassem
-
C E D E R J 41
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aquele trecho. Nesse sentido, que inferncias foram efetivamente
oferecidas criana para que entenda o texto, aproprie-se de sua
linguagem e torne-se um leitor?
Como segundo exemplo, para mostrar a falta de contextualizao
nos livros didticos, citamos o poema Ou Isto ou Aquilo, de Ceclia
Meireles, destacado para a abertura do captulo 14, no livro Lngua
portuguesa, tambm da 2a srie, da Coleo Quero aprender. Neste
captulo, estruturado em quatro partes distintas (Compreenso e
Interpretao; Vocabulrio; Ortografi a e Redao), a autora nos brinda
com o poema inteiro, sem cortes. No entanto, como no exemplo anterior,
nossa grande poetisa no apresentada ao pblico leitor, muito menos suas
obras, ou ainda a obra especfi ca que empresta o nome ao texto citado.
Para complicar um pouco mais, as atividades propostas nas partes
de vocabulrio, ortografi a e redao encontram-se, predominantemente,
desvinculadas do texto. A primeira parte, dedicada compreenso e
interpretao do texto, refere-se a poema, estrofe e verso. E, entre as
questes propostas, solicita-se ao aluno que copie o primeiro verso da
primeira estrofe. Perguntamos a voc, professor: este tipo de tarefa
acrescenta algo ao gosto de ler? Possibilita ao aluno a apreenso do
texto em suas nuanas literrias?
O terceiro exemplo desta falta de contextualizao, ns retiramos
de um trabalho completo, apresentado pela professora Marta Morais da
Costa, durante o XII Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino
(Endipe), realizado na cidade de Curitiba (PR), em 2004. Refl etindo
acerca das questes relativas leitura, formao de leitores e textos
Estamos entendendo o termo inferncias como um sinnimo amplo de contextuali-zaes. Em outras palavras, quais elementos os autores daqueles livros didticos apresentam aos alunos, a fim de propiciar-lhes uma leitura mais significativa?
Veja que ns estamos sempre reforando a importncia do contexto, tanto na produo da leitura quanto da escrita... Sem contexto, ausenta-se do texto uma parte que pode torn-lo mais, ou menos significativo para cada leitor. Em outras palavras, mais, ou menos inteligvel para ele.
-
Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
42 C E D E R J
literrios, a autora nos brinda com trecho transcrito do livro didtico
Trabalhando com poesia, no qual seu autor, ao apresentar o poema Trs
Tias, de Elias Jos, sugere, entre as propostas de atividades:
1. Que letras se repetem bastante no poema? (...) Todos
concordam?
2. Verifi que qual a letra que mais se repete no poema. Transcreva-a
tantas vezes quantas ela aparecer na primeira estrofe (COSTA,
2004, p. 266).
O terceiro exemplo, assim como o segundo, caracteriza-se por
apresentar um texto literrio completo, mas que, como diria Marisa Lajolo,
constitui-se como mero pretexto para ensinar questes gramaticais.
Repare que as perguntas propostas esto fora de foco, so meras
repeties de exerccios que em nada lembram o ritmo ou a sensibilidade
do poema utilizado, desvinculadas da produo textual signifi cativa.
Uma anlise mais apurada do tipo de trabalho proposto pelos
autores dos livros didticos apresentados nos trs exemplos acaba por
deixar no aluno um gosto amargo de leitura, ou seja, a sensao de que
ler no uma tarefa prazerosa. Parafraseando o professor Ezequiel Silva,
citado nas Aulas 1 e 2 desta disciplina, cria-se uma outra lei-dura,
Estamos denominando produo textual significativa aquela que institui uma relao expressiva e ao mesmo tempo subjetiva com o leitor.
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ou seja, no a da ausncia de acesso leitura, mas a de seu acesso por
caminhos tortuosos...
Veja o que o professor Ezequiel Silva afi rma, ainda, em relao
a este problema:
E este tipo de leitura o mais prejudicado no ambiente escolar
devido s prprias distores existentes no nosso sistema de
ensino. Ao invs do prazer, levantam-se o autoritarismo da
obrigao, do tempo predeterminado para a leitura, da fi cha
de leitura, da interpretao prefi xada a ser convergentemente
reproduzida (como se isso fosse possvel!) pelo aluno-leitor e
outros mecanismos que levam ao desgosto pela leitura e morte
paulatina dos leitores (...) (SILVA, 1986).
A partir das prticas de formao de leitores produzidas pela
escola, e do modo como os textos so trabalhados nos livros didticos,
Kleiman complementa dizendo:
Ningum consegue fazer aquilo que difcil demais nem aquilo do
qual no consegue extrair o sentido. (...) Muitas das prticas do
professor desse perodo aps alfabetizao sedimentam as imagens
negativas sobre o livro e a leitura desse aluno que logo passa a ser
mais um no-leitor em formao (KLEIMAN, 1998).
Lendo atentamente os trechos destacados, acreditamos at que,
sem exageros, cria-se uma barreira entre leitor/texto literrio, na medida
em que este ltimo no entendido como uma linguagem artstica.
O gosto, o prazer do texto no so levados em conta (tema para as
prximas aulas). Essa barreira entre leitor/texto literrio no permite
aos alunos-leitores conhecer suas potencialidades fi guradas, isto , a
sua literariedade.
Contudo, como afi rmamos no incio desta aula, nossas prticas
tm sido acompanhadas por livros didticos em que uma abordagem
mais ampla do texto literrio ou no-literrio e de leitor-autor nos so
apresentadas. Vamos relembrar as Aulas 15 a 19 da disciplina Lngua
Portuguesa na Educao 1 e as Aulas 12, 26 e 27 da disciplina Lngua
Portuguesa na Educao 2?
Estamos denominando potencialidades figuradas as formas de expresso que so utilizadas de maneira artstica, singular, nos textos literrios.
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Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
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Relembrando um dos itens desta aula Prticas escolares
realizadas com textos literrios verifi camos como os livros didticos
podem desqualifi car estes tipos de textos... Agora chegou a sua hora!
Se voc retornar a esse material de Lngua Portuguesa na
Educao 1, vai perceber que discutimos a importncia de uma viso
ampliada de texto, e tambm afi rmamos a necessidade de se trabalhar com
gneros textuais diferentes, reforado no material de Lngua Portuguesa
na Educao 2. Acreditamos que estas formas de se entender o texto
possibilitam ao aluno a compreenso de que a produo escrita depende
de diversos fatores. E sua recepo, atravs da leitura, tambm.
Entre os fatores apresentados est, inclusive, a nossa prpria
disponibilidade para l-lo, ou melhor, por vezes decifr-lo. Lembram-se
daquela clebre frase da Esfi nge? Decifra-me ou te devoro... Pois , a
produo escrita precisa ser decifrada, mas cada um de ns realiza este
ato de seu jeito, a partir de seu acmulo de experincias. E a escola?...
Ela nos auxilia nesta prtica? Para confi gurar melhor essa questo,
continuemos, pois, a destacar um tipo de texto: o literrio. E um local
privilegiado onde ele pode aparecer a escola.
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3. Abra e leia, cuidadosamente, o livro didtico que voc indicou para sua turma este ano, ou qualquer outro indicado para turmas das sries iniciais do Ensino Fundamental. D uma olhada e verifi que os textos que ele lhe apresenta. Voc reconhece, entre os textos apresentados, algum que possa ser denominado texto literrio? Justifi que sua resposta.Agora, repare nas questes que so levantadas sobre o texto. De que natureza so essas questes? Voc avalia as questes apresentadas para o trabalho com o texto como capazes de levar o aluno a gostar de ler? Justifi que sua resposta. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Ora, como podemos comentar uma resposta sem que saibamos, no
caso, qual o material que voc escolheu para responder pergunta?
Obviamente, aqui no d nem para lhe dar uma simples dica. O
jeito voc escolher o livro didtico, olhar com ateno os textos
que ele apresenta e verifi car se algum pode ser denominado texto
literrio. A partir dessa escolha e da resposta que voc elaborar,
entre em contato com o tutor presencial ou do plo e discuta essa
resposta com ele.
ATIVIDADE
Continuando com o nosso raciocnio, ser que o livro didtico
estar sempre azucrinando o texto literrio? Em outras palavras, essa
relao livro didtico/texto literrio ser, realmente, uma relao
antagnica?
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Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
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Como voc pode perceber, a autora nos deixa entre o sim e o
no... Para ela, havia momentos em que a escola se tornava um peso em
relao s prticas de leitura. No entanto, existiam outros instantes em
que ela se deliciava com os livros existentes no espao da sala de aula.
Perguntamos: que livros seriam esses? Seriam histrias includas em
livros didticos? Ou a autora estaria se referindo ao prprio livro, sem
a adjetivao pedaggica, ou seja, livro simplesmente, sem o apndice
da palavra didtico?
Retornemos ao espao formal da escola: no ter ela, a escola,
outras formas de trabalhar o texto literrio? Neste sentido, repare o que
Lia Luft nos diz, em crnica publicada na revista Veja:
(...) e a escola era um fardo (seria to mais divertido fi car lendo
debaixo das rvores, no jardim de casa...). Mas, em compensao,
na escola tambm se brincava com palavras: l, como em casa,
havia livros, e neles as palavras eram caramelos saborosos ou
pedrinhas coloridas que a gente colecionava, olhava contra a luz,
revirava no cu da boca... E s vezes cuspia na cara de algum de
propsito, para machucar (LUFT, 2004).
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Acreditamos que a segunda opo a referncia ao prprio livro
sem adjetivao pedaggica possa ser uma resposta. Se pensamos na
escola como um espao de educao ampla e irrestrita, por ela devem
passar atividades no somente intelectuais, mas tambm esportivas,
culturais, profi ssionais ou artsticas. O texto literrio refl ete essa faceta
artstica que a educao deve propiciar. Pensando nesse texto, e em sua
natureza, Zilberman e Silva afi rmam que:
Compete hoje ao ensino da literatura no mais a transmisso de um
patrimnio j constitudo e consagrado, mas a responsabilidade
pela formao do leitor. A execuo dessa tarefa depende de se
conceber a leitura no como o resultado satisfatrio do processo
de alfabetizao e decodifi cao da matria escrita, mas como
atividade propiciadora de uma experincia nica com o texto
literrio. A literatura se associa ento leitura, do que advm
a validade dessa. (...) A experincia da leitura decorre das
propriedades da literatura, (...) esse universo, contudo, se alimenta
da fantasia do autor, que elabora suas imagens interiores para se
comunicar com o leitor... (...) Dbia, a literatura (...) aciona sua
fantasia (...) mas suscita um posicionamento intelectual. (...) Nesse
sentido, o texto literrio introduz um universo que, por mais
distanciado do cotidiano, leva o leitor a refl etir sobre sua rotina
e a incorporar novas experincias (1990, pp. 18-19).
Nesse texto, os autores apresentam uma bela refl exo acerca da
natureza da Literatura e, por extenso, do texto literrio. Se no compete
escola didatizar a leitura, quando empreende a tarefa de formao de
leitores, tambm no lhe deve competir a de pedagogizar o texto literrio,
muito menos a de encerr-lo apenas nos muros dos livros didticos. Em
outras palavras, livros mo cheia o que a escola precisa cultivar, e
deixar que os leitores, por meio de sua criatividade e disponibilidade,
faam as suas escolhas. Voc no concorda conosco?
CONCLUSO
Concluindo, acreditamos que esta aula lhe possibilitou refl etir um
pouco mais acerca do papel da escola na constituio de sujeitos-leitores. Em
outras palavras, procuramos mostrar a voc que tambm se pode aprender a
ler na escola, desde que esse ato no seja entendido como um fazer mecnico,
passvel de ser contabilizado em uma prova, ou num daqueles testes-surpresa
que tantas vezes nos azucrinaram, no mesmo?
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Literatura na Formao do Leitor | Pergunta dos textos literrios: por que a escola nos azucrina?
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Sintetizando nossos propsitos nesta aula, apresentamos-lhe trs tpicos essenciais
continuidade de seu estudo:
A escola trabalha com textos de naturezas e caractersticas diferentes.
Muito presente no espao escolar, o texto literrio tem sido didatizado, ou seja,
trabalhado de uma forma em que sua especifi cidade no ressaltada.
Se pensamos em Educao a partir de uma concepo mais ampla, necessrio
valorizar o texto literrio como manifestao/expresso artstica da linguagem
verbal.
R E S U M O
ATIVIDADE FINAL
Como atividade fi nal, apresentamos a voc uma afi rmao de Lajolo (1993):
Ou o texto d um sentido ao mundo, ou ele no tem sentido nenhum.
E o mesmo se pode dizer de nossas aulas. (...) Na escola, anula-se a
ambigidade, o meio-tom, a conotao sutis demais para uma pedagogia
do texto que consome tcnicas de interpretao como se consomem pipocas
e refrigerantes (pp.15-16).
Leia, atentamente, esta afi rmao. Aps a leitura, compare-a com o tema desta
aula e suas respectivas discusses.
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RESPOSTA COMENTADA
Veja que a afi rmao de Marisa Lajolo, de certa forma, resume
muito do que discutimos durante esta aula. Ela procura caracterizar
o texto literrio e mostrar como a escola, por vezes, esconde essas
caractersticas atrs de um trabalho nem sempre relevante. Como a
autora nos mostrou isto? Elabore sua resposta e discuta-a com o tutor
presencial ou a distncia.
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INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
Na prxima aula, voc vai continuar estas refl exes, mais precisamente discorrendo
sobre o que se l na escola natureza e tipo de textos e quais materiais levam
a essa leitura.
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Leitura e Literatura na escola: o que se l?
Pr-requisitos
Para esta aula, importante que voc retorne s Aulas 15 e 16 da disciplina Lngua Portuguesa na Educao 1 que discutem a importncia de
a escola despertar o prazer de ler do aluno nas sries iniciais , Aula 1 da disciplina Lngua Portuguesa na Educao 2 que destaca as
prticas de leitura que visam autonomia do leitor no processo de compreenso/interpretao
de textos e s Aulas 1, 2 e 3 desta disciplina.
objetivos4AULA
Ao fi nal desta aula, voc dever ser capaz de:
Conhecer os critrios de escolha de textos literrios implementados no contexto escolar.
Identifi car critrios de seleo de textos literrios que podem ser utilizados pela escola, levando em considerao os interesses do aluno.
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Literatura na Formao do Leitor | Leitura e Literatura na escola: o que se l?
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Vamos continuar pesquisando o universo escolar e suas prticas leitoras?
Na aula passada, mostramos para voc, por meio de alguns exemplos bem
tpicos extrados de livros didticos, como as prticas leitoras com o texto
literrio no contexto escolar muitas vezes servem como mero pretexto para
ensinar questes gramaticais, suscitando experincias nas quais o valor e o
prazer da leitura no so considerados. Essas experincias so impregnadas
por tcnicas e cobranas de exerccios totalmente desvinculados da produo
textual e de suas possibilidades de atribuio de sentidos. Neste caso, a
professora Raquel Villardi ressalta que
(...) a prtica pedaggica com o livro infanto-juvenil, no primeiro
segmento, distancia a criana do livro, na medida em que pe o
aluno frente ao tema, e no frente ao texto, trabalha a partir do
livro, e no o livro. Se o aluno passa a associar o texto a algo que
vem depois, se para ele o livro apenas um elemento que deto-
na um outro trabalho, e este sim, o importante, ento todo o
processo de valorizao do livro e da leitura se perde, impedindo
que a criana compreenda que o prazer pode (e deve) estar no
simples ato de ler, descobrindo uma variedade de sentidos no que
se leu (1999, p. 22).
Todavia, podemos observar que os livros didticos publicados ultimamente
j procuram abordar o texto literrio e suas prticas decorrentes com uma
viso mais ampla de texto, de literatura e de leitor/autor. Como ainda h um
longo caminho a percorrer quanto abordagem dos textos na escola pois
os ranos e fantasmas da didatizao da leitura e da pedagogizao
ainda pairam nos livros didticos , vamos analisar como a relao aluno/leitor
e texto literrio se traduz no que diz respeito aos critrios de escolha do que
se l no universo escolar.
INTRODUO
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QUE LIVRO VOU ESCOLHER?
O professor, como agente formador de leitores, necessita da
defi nio de certos critrios para fazer a seleo de livros de literatura
infanto-juvenil que sero utilizados em seu cotidiano escolar. Antes de
entrarmos na discusso acerca dos processos de seleo de textos que
podero compor o acervo literrio do universo escolar, vamos refl etir
sobre a sua prtica como agente formador de futuros leitores?
1. Vamos provocao?Dentre os ttulos listados a seguir, qual voc escolheria para ler? Justifi que sua escolha. O soldadinho de chumbo Hans Christian Andersen. A cigarra e a formiga domnio popular. Flicts Ziraldo. O Chapeuzinho Vermelho domnio popular. O rei que no sabia de nada Ruth Rocha.
ATIVIDADES
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Literatura na Formao do Leitor | Leitura e Literatura na escola: o que se l?
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A provocao anterior servir de base para a nossa refl exo
acerca dos critrios que comumente utilizamos ao selecionarmos livros
de literatura infanto-juvenil na escola. Ser que a sua resposta dialoga
com a viso dos autores que elegemos como nossos interlocutores nessa
discusso? O que eles tm a dizer sobre este assunto? Vejamos, a seguir,
alguns deles:
Esta Natureza poltica do educar que me leva a ter bastante
cuidado com os textos que escolho. Trato, nos cursos, de que
existam leituras feitas em casa e comentadas em sala de aula, mas
sempre aposto no prazer das leituras e descobertas feitas em sala
de aula. Os livros, os textos escolhidos iro variar dependendo
do grau de maturidade da turma, das possibilidades de aquisio
do material, tudo isso girando ao redor dos meus objetivos como
orientadora (VARGAS, 1993, p. 22).
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2. Que critrios voc, como agente formador de futuros leitores, utiliza ao escolher um livro de literatura infanto-juvenil para ser abordado na sala de aula? Liste, pelo menos, cinco critrios que voc utiliza, justifi cando breve-mente seu ponto de vista. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________
RESPOSTAS COMENTADAS
Para responder a estas questes, pense primeiro e responda: quais
so os parmetros nos quais voc geralmente se baseia para
escolher um livro de Literatura que ser utilizado na sala de aula:
o currculo escolar, as suas preferncias como leitor, de seu aluno,
da escola (coordenao pedaggica/direo) ou das editoras de
livros? Esta refl exo orientar sua resposta. Todavia, independente
de qualquer parmetro utilizado, importante sempre levar em con-
siderao nesse processo de escolha a bagagem de experincias/
conhecimentos de seus alunos.
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Depois, o livro indicado, no escolhido pelo leitor... Como uma
nica e mesma histria pode interessar a toda uma classe? Como
imaginar que haja uma identifi cao geral de meninos e meninas
todinhos preocupados com o mesmo problema? E todos inte-
ressados num determinado gnero literrio, previsto como fonte
nica de prazer para aquele ms do ano? Mesmo nas escolas mais
democrticas, onde se d o direito de escolher entre dois ou trs
ttulos, quais os referenciais reais para essa prvia seleo? Por
que no ampliar os horizontes, indo s livrarias ou bibliotecas
e deixando cada aluno manusear, folhear, buscar, achar, separar,
repensar, rever, reescolher, at se decidir por aquele volume, aquele
autor, aquele gnero, que, naquele determinado dia, lhe desperta
a curiosidade, a vontade, a inquietao??? Claro que, para isso,
a professora teria de ler muito mais livros, e a questo que fi ca
esta: ela est disposta a fazer isso?
Porque, de verdade, a professora trabalha com um leque muito
estreito de alternativas... Conhece pouco de literatura infantil, em
geral aqueles livros que as editoras enviam para a sua casa/esco-
la ou aqueles cujos autores esto mais dispostos a divulgar seu
trabalho... O critrio reinante, na maioria dos casos, no o da
qualidade do livro, mas o da pronta-entrega (ABRAMOVICH,
1995, p. 140).
Com qual dos depoimentos apresentados voc se identifi cou?
Ou no se identifi cou com nenhum deles? Com estes depoimentos
apresentados pelas professoras Susana Vargas e Fanny Abramovich,
podemos verifi car que os critrios de seleo dos livros de Literatura
podem ser mltiplos, porm, igualmente fundamentados em enfoques
terico-metodolgicos estereotipados, frutos de uma concepo tradicional
em relao s prticas leitoras. Tais critrios so ora centrados na viso do
professor, ora na viso da escola - contedo/programa curricular e at
vinculados aos interesses das editoras. O que ser realmente importante
no momento da seleo do livro de literatura infanto-juvenil que ser
explorado no contexto escolar? A histria em si como geradora de sentidos,
ampliadora da compreenso de mundo, estimuladora de experincias novas
e, sobretudo, desencadeadora de puro prazer, ou a transformao do ato
de ler num trampolim para se trabalharem os contedos programticos
do currculo escolar? Mas ser que tais critrios, geralmente utilizados nas
escolhas dos textos literrios que faro parte do acervo cultural de nossos
alunos, despertam o interesse e o gosto pela leitura?
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Literatura na Formao do Leitor | Leitura e Literatura na escola: o que se l?
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Se voc realizar uma anlise dos fatores que levam a essas escolhas,
posicionando-se criticamente, observar que, alm de elas serem frutos
de problemas que transcendem os muros das escolas (falta de
polticas pblicas e recursos materiais capazes de incentivar e fomentar
a leitura, formao precria do professor no que concerne teoria e
prtica literrias), elas se revestem em seus contextos educativos locais
de concepes mecnicas, utilitrias, ingnuas e acrticas sobre como,
para qu e por que promover este encontro entre nossos alunos/leitores
e o texto literrio.
Contribuindo mais uma vez para nossa reflexo sobre o
tema, o professor Ezequiel Theodoro da Silva salienta que a lgica
de encaminhamento do livro delineada nessas bases se constitui em
infantilidades, pois retrata uma carncia de conscincia crtica e
EPISTEMOLGICA acerca do trabalho com a literatura no mbito escolar.
Em relao aos critrios para a seleo de livros a serem propostos
nas escolas aos alunos/leitores, essas infantilidades se traduzem nas seguintes
situaes apresentadas pelo professor Ezequiel Theodoro da Sil