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Loos No CAA

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    Adolf Loos: Nosso ContemporneoSobre a Exposio no CAAA

    Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura

    8 Dezembro 2012 4 Fevereiro 2013

    Maria Lus Neiva Duarte Almeida

    Relatrio de Projecto apresentado Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto para

    a obteno de grau de mestre em Estudos Artsticos, Museologia e Curadoria, sob a orientao

    da Professora Doutora Lcia Almeida Matos.

    Outubro, 2013

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    NDICE

    I. INTRODUO pag.7

    I.I Apresentao

    I.II A proposta da Exposio

    I.III CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura

    I.IV Quem foi Adolf Loos

    I.V Adolf Loos em exposio

    II. ADOLF LOOS NO CAAA pag.29

    II.I Curadoria Local e Arquitectura

    Contextualizar Adolf Loos

    Expandir o conceito

    Ligaes concretas

    Opes formais

    Folha de sala

    II.II Visita exposio

    Galeria #2

    Galeria #1Galeria #3

    II.III Design Grfico e Comunicao

    II.IV Programao paralela

    II.V Edio das entrevistas

    III. PRODUO DA EXPOSIO pag.81

    III.I Financiamento

    III.II Contacto com as Instituies e Detentores de Direitos

    III.III Coordenao da traduo e impresso da Publicao

    III.IV Itinerncia

    IV. CONCLUSO pag.91

    V. BIBLIOGRAFIA pag.95

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    FIG. 1

    Adolf Loos, 1922

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    I. INTRODUO

    I.I Apresentao

    Propus realizar o trabalho de segundo ano do Mestrado em Estudos Artsticos Museologia e

    Curadoria em forma de projecto, quando me foi apresentado por Yehuda E. Safran1, o projecto

    Adolf Loos: Nosso Contemporneo, que tinha como objectivo estabelecer relaes entre a obra

    do arquitecto austraco Adolf Loos (1870-1933) e a arquitectura contempornea, e que seria

    constitudo por uma exposio, publicao de um catlogo, programao paralela e itinerncia.

    O CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura em Guimares, espao do qual sou

    co-fundadora e co-programadora para a rea de arquitectura, seria a primeira instituio a

    acolher a exposio no mbito da Guimares 2012 Capital Europeia da Cultura, que viajaria

    depois para o MAK Museum fr angewandte Kunst Viena, ustria e para a Arthur Ross

    Architecture Gallery GSAPP Columbia University NY, EUA, em 2013.

    Yehuda E. Safran, estudioso de Loos desde h dcadas, assumiria o papel de comissrio geral

    da exposio, definindo o conceito e seleccionando os principais elementos a expor, deixando

    a cargo de cada uma das instituies a seleco de um curador local que deveria configurar a

    exposio s especificidades do seu espao e do seu pblico.

    Acolher a proposta de Yehuda Safran fazia todo o sentido para o CAAA e sua equipa, por

    vrias razes:

    - por ser uma forma inovadora de mostrar e falar sobre arquitectura no se

    concentrando apenas no trabalho de um arquitecto, mas relacionando-o com a obra de

    outros.

    - por considerarmos que o perfil de Adolf Loos um arquitecto que conhecia e escrevia

    sobre outras prticas artsticas, cujas relaes de amizade e trabalho estavam ligadas

    filosofia, msica, cinema, teatro e artes plsticas se adequava perfeitamente ao

    1Yehuda E. Safran estudou no Saint Martins School of Art, no Royal College of Art e na University College. Foi Director de EstudosTericos na Architectural Association, Goldsmiths College, London University, tutor na School of Painting, School of Sculpture andEnvironmental Studies, no Royal College of Art em Londres, tal como ensinou Teoria e Belas Artes na Jan Van Eyck Academy,Mastricht, Holanda. Foi membro do Chicago Institute of Architecture and Urbanism e Professor visitante na School of Architecture,University of Illinois em Chicago tal como na RISDI Providence, Rode Island e Cornell University, College of Art and Architecture.Publicou ensaios em variados aspectos de teoria e prtica da arte, arquitectura e cinema - na Domus, Abitare, The Plan, WbW,Sight and Sound, Ltus, A+U, AA File, Pringer, Artpress, Prototypo, Metalocus e 9H entre outras. Com Steven Holl e outros foieditor da 32 Beijing/New York. O seu livro Mies van der Rohe, foi publicado pela editora Blau em Lisboa e Gustavo Gilli emBarcelona (2000). Foi curador, entre outros, da exposico itinerante do Arts Council of Great Britain 'The Architecture of Adolf Loos'e a exposico de 'Fredrick Kiesler' na Architecture Association. Foi Administrador da galeria 9H, membro fundador da ArchitectureFoundation em Londres e membro do College International de Philosophie, Paris. Actualmente vive e trabalha em Nova Iorque, Professor Visitante no Graduate Institute of Architecture na Nanjing University, China; Consultor de Steven Holl Architects, e ensinaarchitectura e teoria na GSAPP Graduate School of Architecture, Planning and Preservation na Columbia University na cidade deNova Iorque, onde director do AAR(ie)L Art and Architecture Research Lab, tal como do Potlach lab e da publicao Potlach.

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    FIG. 2

    Galeria #2

    FIG. 3

    Galeria #1

    FIG. 4

    Galeria #3

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    ADOLF LOOS:NOSSO CONTEMPORNEOOUR CONTEMPORARY

    CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura

    Inaugurao 8 dez 2012, 18h. At 4 fev 2013Desde o momento em que surge, a crtica cultural de Loosnunca deixou de provocar controvrsia e indignao.Escrita na linguagem do seu tempo, l-se como umapolmica de uma outra era, que permanece contudo actual.

    Opening 8 Dec 2012, 6pm. Until 4 Feb 2013

    From the moment of its appearance Loos cultural criticismnever failed to elicit controversy and outrage.Couched in the language of his day, it reads as a polemicfrom another era that nonetheless continues to hold its own.

    www.centroaaa.org | R. Padre Augusto Borges de S, Guimares AdolfLoos,

    TristanTzaraHouse,

    Paris,

    StreetView,

    1925-26.

    Albertina,

    Viena,

    ALA2626

    lvaroSizaVieira,

    FAUP

    EdifcioH,

    1986-

    95

    Austrian Frederick and Lillian KieslerPrivate Foundation, Vienna

    V&A

    FIG. 5

    Postal de divulgaoda exposiofrente e verso

    10

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    Tomando como exemplo esta viso multifacetada de Adolf Loos, caracterstica que tambm

    privilegiamos no CAAA, comemos este processo definindo as seguintes directivas:

    - o material deveria ser exposto de modo a estabelecer relaes concretas e claras entre

    a obra de Adolf Loos e a dos nossos contemporneos a clareza das ligaes eraimprescindvel para que se compreendesse a influncia e o impacto das ideias de Loos.

    -

    o conceito da exposio deveria ser expandido a outras reas: cinema, teatro, msica,

    design, artes plsticas a obra de Adolf Loos no se resume teoria e prtica

    arquitectnica, mas alastra-se escrita e reflexo sobre outros temas, que assumiriam

    a mesma importncia na exposio.

    - Adolf Loos teria de ser contextualizado Loos no poderia ser apresentado

    isoladamente, era necessrio mostr-lo no seu tempo para que as repercusses da suaobra nos dias de hoje fossem identificadas.

    -

    o aspecto final da exposio teria de ser coeso e de fcil compreenso, em sintonia

    com o conceito e com o homem que foi Adolf Loos.

    A produo da exposio passou pela procura de financiamento, contacto com as instituies

    detentoras de direitos, traduo e legendagem das entrevistas, tratamento e preparao de

    imagens, aquisio de material a expor, coordenao da traduo da publicao e elaborao

    de documentos para efeitos de seguro e emprstimos.

    O relato que se segue vem contar de que modo foi trabalhado o conceito e os elementos a

    expor definidos por Yehuda Safran, pensando a exposio para o lugar que o CAAA, tendo

    em conta as suas especificidades conceptuais e espaciais, e para o pblico diversificado que

    nos iria visitar durante Guimares 2012 Capital Europeia da Cultura.

    11

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    FIG. 6

    Yehuda Safran no CAAAna primeira conversasobre a exposio

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    I.II A proposta da Exposio

    No incio de 2011, Yehuda Safran, especialista e profundo conhecedor da obra e vida do

    arquitecto austraco Adolf Loos, props ao CAAA Centro para os Assuntos da Arte e

    Arquitectura o acolhimento e produo da exposio Adolf Loos: Nosso Contemporneo queseria comissariada pelo prprio. Esta exposio celebrava os 100 anos do edifcio projectado

    por Adolf Loos, agora conhecido como a Looshaus3 (1909-1911) em Viena, e a publicao do

    seu ensaio mais provocador, Ornamento e Crime4(1908-1913).

    Esta exposio seria acompanhada pela publicao de um catlogo e pela programao de

    eventos paralelos sesses de cinema e conversa com o comissrio geral e convidados.

    Estava tambm prevista a itinerncia da exposio para outras duas instituies, o MAK

    Museum fr angewandte Kunst em Viena, ustria (Maro 2013) e a Arthur Ross Architecture

    Gallery GSAPP Columbia University NY, EUA, (Novembro 2013).

    Yehuda Safran, que em 1985 tinha j sido comissrio de uma retrospectiva de Adolf Loos, a

    exposio The Architecture of Adolf Loos: An Arts Council Exhibition no Londons Institute of

    Contemporary Arts, tinha bem definido o propsito da exposio que nos propunha: identificar e

    mostrar as repercusses que a obra de Adolf Loos teve e ainda tem na arquitectura e

    pensamento do ltimo sculo. A exposio no olhava o trabalho de Loos de forma isolada,

    mas estabelecendo ligaes entre a sua obra e a obra de arquitectos nossos contemporneos,

    identificando algumas das reaces mais significativas.

    O elemento central da exposio seria o conjunto de conversas que Yehuda Safran teve com

    onze arquitectos5oriundos dos quatro continentes sobre as controversas ideias de Adolf Loos e

    sua contribuio para a histria da arquitectura do sculo XX. Para alm destas entrevistas, o

    material a expor estendia-se a publicaes, desenhos, fotografias, documentos, objectos e

    filmes, seleccionados por Yehuda Safran.

    A exposio no CAAA inaugurou em Dezembro de 2012, no mbito da Capital Europeia da

    Cultura 2012, tendo sido apoiada pela Programao de Cinema da CEC2012.

    3Edifcio construdo para nova sede da companhia de vesturio masculino Goldman & Salatsch, na Michaelerplatz em Viena.

    4No artigo Ornamento e Crime, Adolf Loos criticava violentamente o uso abusivo do ornamento na arquitectura, posio pela qualse destacava dos seus demais.

    5 Steven Holl, Hermann Czech, Preston Scott-Cohen, Jacques Herzog, Roberto Collov, Hans Hollein, lvaro Siza Vieira, EduardoSouto Moura, David Adjaye, Toyo Ito, Paulo Mendes da Rocha.

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    FIG. 7

    CAAA Exteriorantes e depois

    FIG. 8

    CAAA Galeria #1antes e depois

    FIG. 9

    CAAA Galeria #2antes e depois

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    I.III CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura

    O CAAA uma instituio cultural privada sem fins lucrativos, criada no final de 2010 em

    Guimares, que tem como misso apoiar e estimular a criao artstica e a aplicao de novos

    mtodos de produo, promovendo a interaco entre as mais diversas reas de manifestaoartstica artes visuais, design, cinema, literatura, multimdia e artes do espectculo e

    arquitectura.6

    A ideia para esta estrutura comeou por ser desenvolvida numa realidade completamente

    distinta Nova Iorque, 2007 daquela em que veio a ser concretizada Guimares. Este facto

    foi determinante para a definio do conceito, programa e objectivos do Centro, uma vez que

    foi do outro lado do oceano que tivemos contacto com espaos completamente diferentes das

    instituies museolgicas que conhecamos: espaos alternativos, alguns em pleno

    funcionamento desde os anos 1960 e 19707, que eram locais de produo, experimentao,

    mostra, residncia e colaborao artsticas.

    Esta concentrao de actividades e artistas num espao, despertou o nosso interesse,

    enquanto arquitectos, para a possibilidade e at urgncia em criar um espao semelhante em

    Guimares, cidade para onde regressaramos. Nas escolas de arquitectura em Portugal, a

    teoria e prtica da arquitectura ensina-se isolada das restantes manifestaes artsticas e isso

    era uma falha na nossa formao que tencionvamos colmatar.

    De que forma seria possvel reunir uma srie de pessoas ligadas ao mundo da arte, ainda que

    com diferentes experincias, que colaborassem nos mesmos projectos, no mesmo espao?

    Este Centro deveria ter um espao fsico que proporcionasse uma srie de cenrios: a reunio

    e colaborao de um grupo de artistas de diferentes reas, fomentando a experimentao

    artstica, o acolhimento de artistas nacionais e internacionais, proporcionando-lhes espao de

    trabalho e de mostra, de criao e de pesquisa.

    Estes espaos alternativos nova-iorquinos foram para ns no s modelos conceptuais, mastambm formais. Espaos que partilhavam na sua generalidade o mesmo aspecto, espaos

    recuperados e revitalizados, cuja funo original no correspondia sua funo de galeria de

    mostra e produo artsticas.

    6

    O CAAA foi concebido por Ricardo Areias e Maria Lus Neiva, ambos arquitectos, quando viviam e trabalhavam em Nova Iorque.

    7

    Alguns destes modelos foram espaos como Westbeth Artist Community, 112 Workshop, FluxHouse e Artist Space.

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    FIG. 10

    Diagrama de anlisedas estruturasculturais deGuimares

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    O passo seguinte foi escolher uma equipa multidisciplinar8 inicialmente composta por nove

    membros, cujas reas operativas nos permitiam abranger uma srie de disciplinas - artes

    visuais, fotografia contempornea e fotografia de arquivo, msica, arquitectura, cinema,

    curadoria, produo e design9 - de forma a fomentar a prtica artstica colaborativa e tambm

    garantir a direco e programao do espao. Todos estes membros tinham um day job,

    contribuindo para os projectos do CAAA a ttulo voluntrio e em dedicao de part time.

    Formados o conceito e a equipa, ambos foram apresentados ento recentemente criada,

    Fundao Cidade Guimares, parceria que era imprescindvel acontecer para que o projecto

    avanasse. A proposta que fizemos Fundao Cidade Guimares foi que alugassem durante

    o ano de 2012 uma srie de espaos no edifcio do CAAA onde aconteceriam diversos eventos

    programados no mbito da Capital da Cultura. O CAAA e sua equipa desempenhariam as

    funes necessrias concretizao dos eventos por vezes funcionaramos apenas como

    espao de acolhimento, em outras situaes, assumiramos o papel de produtores,

    coordenadores, comissrios ou designers.

    Depois da proposta aceite, comeou a procura de um local e edifcio. Teria que ser um local

    central e de fcil acesso, de preferncia um edifcio desocupado que no exigisse uma

    reconstruo com grandes recursos financeiros. Analisada a cidade (Fig. 10) e a distribuio

    dos seus servios, decidimos concentrar a nossa procura na zona da Caldeiroa por l existirem

    alguns edifcios industriais devolutos e por ser uma zona que estava a passar por um processo

    de requalificao, com a construo do novo Mercado Municipal de Guimares e uma nova

    rea para a feira semanal.

    Encontrado o edifcio que nos pareceu ideal, uma antiga fbrica txtil abandonada h cerca de

    uma dcada, foi feito por ns10o projecto de arquitectura para a reconverso do edifcio um

    espao num estado de conservao aceitvel, com poucos elementos a demolir, um open

    space como se caracterizam a maioria dos espaos industriais, o que permitia uma grande

    liberdade no desenho dos novos espaos.

    Esta reconstruo foi feita tendo em considerao a funcionalidade do espao e a construo

    rpida e de baixo custo, assumindo o carcter industrial do edifcio, o que permitia criar um

    8Foi escolhida uma equipa inicial que foi posteriormente reformulada e reajustada de modo a que os membros estivessem mais

    envolvidos nas actividades do Centro.

    9

    Equipa CAAA:

    Artes Visuais Pedro Bastos; Fotografia Contempornea Carlos Lobo; Fotografia de Arquivo Eduardo

    Brito; Msica Joana Gama; Arquitectura e Direco Ricardo Areias, Maria Lus Neiva; Cinema Rodrigo Areias; Curadoria

    Maria Lus Neiva, Eduardo Brito, Ricardo Areias; Produo Maria Lus Neiva; Design Grfico Maria Margarida; Apoio

    Jurdico Gustavo Cunha Ribeiro

    10Ricardo Areias e Maria Lus Neiva

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    FIG. 11

    CAAA Galeria #1antes e depois

    FIG. 12

    CAAA Corredor piso 1antes e depois

    FIG. 13

    CAAA Sala Ensaiosantes e depois

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    espao informal de produo artstica, inspirado nos espaos alternativos e informais do

    contexto nova-iorquino descrito por Martin Beck na seguinte frase:

    The features of an unfinished, unpolished, or as-is architecture with traces of

    industrial history are generally associated with the possibility of doing things that cantbe done elsewhere.

    11

    O projecto foi feito de modo a que, programaticamente, fosse possvel incluir no edifcio os

    espaos que tnhamos delineado: galerias de exposio, uma blackbox para cinema, teatro,

    msica e dana com acesso directo a uma sala de ensaios, livraria e cafetaria, estdios de

    trabalho, estdios para artistas em residncia, laboratrio de arte e arquitectura, centro de

    fotografia, plataforma de produo audio-visual e uma biblioteca valncias que tornavam

    possvel concretizar a ideia que tnhamos para o CAAA, de ser um espao multidisciplinar e de

    prtica colaborativa.

    No espao de alguns meses, estavam reunidas as condies fsicas e a equipa de trabalho

    para que o CAAA pudesse comear a trabalhar em pleno, e no dia 1 de Outubro de 2011 o

    CAAA inaugurou, tendo sido a primeira estrutura cultural a abrir as portas no mbito da

    CEC2012.

    Desde a sua abertura e at ao final de 2012 passaram pelo Centro 31 exposies e respectivos

    eventos paralelos, 18 sesses de cinema e 12 de teatro, 9 eventos de dana/performance,

    vrios concertos, workshops e artistas em residncia.

    Nas actividades programadas internamente, houve sempre a preocupao e o objectivo de

    envolver, na medida do possvel, toda a equipa de forma a mobilizar todas as reas de trabalho

    do CAAA e usufruir da contribuio de pessoas especializadas em reas especficas.

    A exposio Adolf Loos: Nosso Contemporneo foi um projecto onde foi possvel envolver

    outras reas do CAAA para alm da arquitectura, produo e design, como por exemplo a do

    cinema e msica, que funcionaram como consultores em algumas escolhas de material de

    exibio, como veremos mais abaixo.

    11Beck, Martin Alternative: Space, in Ault, Julie Alternative Art New York, 1965-1985, University Of Minnesota Press , 2003, p.254

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    FIG. 14

    Adolf Loos porOskar Kokoschka

    1909

    FIG. 15

    Transportation Building,Louis SullivanWorlds ColumbianExposition, Chicago,1893

    FIG. 16 e 17

    Jornal Das Anderen1 e n2

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    I.IV Quem foi Adolf Loos

    Adolf Loos nasceu em 1870 em Brno, no ento imprio Austro-hngaro. Depois de ter

    deambulado por alguns cursos e escolas, acabou os seus estudos em Arquitectura e, aos 23

    anos, rumou aos Estados Unidos da Amrica onde viveu durante 3 anos.

    A sua estadia nos Estados Unidos foi extremamente importante para a sua formao como

    arquitecto e crtico dos costumes, da poltica e vida europeias. Aquele pas simbolizava a

    ordem e o trabalho, a igualdade, a praticidade e simplicidade, qualidades que Loos considerava

    indispensveis para que a evoluo de uma sociedade fosse vivel, caractersticas que no

    encontrava no seu pas. Durante a sua estadia visitou a Exposio Mundial de Chicago (1893),

    que prestava tributo ao arquitecto americano Louis Sullivan, que Loos admirava

    profundamente, e a arquitectura americana viria a influenciar de modo significativo a sua

    prtica arquitectnica e os seus escritos.

    De regresso a Viena, Loos trabalhou essencialmente em projectos de interiores e dedicou-se

    escrita, tratando questes relacionadas com valores morais, sociais e culturais da sociedade

    vienense do incio do sculo XX e em 1903, edita os dois nicos nmeros do jornal Das

    Andere, O Outro (Fig. 16 e 17), meio que lhe permitia expressar-se sem restries.

    Foi nesta altura que comeou a desenvolver as suas ideias em relao ao ornamento: Loos

    considerava imoral que uma sociedade produzisse e usasse objectos que no passavam de

    imitaes de pocas passadas, ornamentadas de modo anacrnico. Loos insurge-se contra a

    falsidade com que os edifcios e objectos so produzidos e pensados, procurando e

    defendendo a autenticidade do objecto, do vesturio, do detalhe, do material, da arquitectura,

    que deveriam ser feitos a pensar no homem do presente o homem moderno e no no

    homem que viveu h um sculo. Uma sociedade s poderia evoluir se se despojasse de todo o

    ornamento. Segundo ele, este s existia para encobrir uma sociedade podre e culturalmente

    atrasada. Todas estas ideias so exploradas no seu polmico artigo Ornamento e Crime

    iniciado em 1908 e aperfeioado at 1913.

    A procura pela funcionalidade e depuramento no acontecia s ao nvel da arquitectura, com

    Loos, mas era tambm partilhada por muitos dos seus contemporneos e amigos, desde a

    filosofia msica. Este crculo de amizades, que inclua o msico Arnold Shnberg, o escritor

    Karl Kraus, o filsofo Ludwig Wittgenstein, o pintor Oskar Kokoschka, entre outros, uniu-se de

    certa forma na busca pela sobriedade, pelo rigor e pela tica. Os polmicos artigos de Adolf

    Loos surgem no seguimento destas discusses, e verificamos que cada um deles viria a aplicar

    os mesmos ideais nos seus campos de aco.

    21

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    FIG. 18

    Cartaz da palestraOrnamento e Crime

    1913

    FIG. 19

    Cartaz da palestraA minha Casa em

    Michaelerplatz

    1911

    22

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    Adolf Loos era um homem culto, que viajava e conhecia outras realidades, frequentava o teatro,

    exposies, os concertos de Shnberg e de seus estudantes e, assim que o cinema surgiu,

    passou a ser um cinfilo assduo. Loos era, portanto, conhecedor de vrias culturas e fazia

    questo de escrever sobre isso a sua produo literria no que diz respeito a crticas de

    exposies, msica, cinema e teatro vasta. No por acaso que Loos considerado o mais

    importante escritor entre os arquitectos do sculo XX, um homem que alm de escrever sobre

    arquitectura, dedicava-se tambm a dissertar sobre a cultura e vida do seu tempo.

    primeira vista, pode parecer haver um desfasamento entre o que Adolf Loos defende nos

    seus artigos e os interiores dos seus projectos espaos pormenorizadamente desenhados,

    com revestimentos ricos em detalhe, tapetes, cortinas e espelhos. Parece haver uma

    compensao falta de ornamento com uma decorao que tornava os espaos confortveis e

    aconchegantes. Para Loos havia de facto uma diferena entre ornamentao e decorao

    enquanto que o ornamento era uma coisa aplicada sem critrio e justificao sobre o objecto, a

    decorao resumia-se ao uso de formas simples e de materiais naturais, de forma honesta.

    Loos defendia que re-desenhar objectos utilitrios e funcionais era uma perda de tempo e de

    energia, e que no havia justificao para uma inovao formal de um objecto funcional. Da a

    maioria dos seus projectos serem mobilados com peas j existentes, seguindo sempre um

    estilo clssico.

    No eram s os seus escritos que chocavam a sociedade vienense, mas tambm alguns dos

    seus edifcios. Em 1909 a empresa de vesturio masculino Goldman & Salatsch, atribuiu a

    Loos o projecto de um edifcio para apartamentos e a sua nova loja na Michaelerplatz em

    Viena, em frente ao Palcio Imperial. Loos pretendia apenas construir um edifcio modesto,

    entre o moderno e o tradicional, integrado o mais possvel na praa e que se relacionasse com

    os edifcios j l existentes.

    A Looshaus, como agora conhecido o edifcio concludo em 1911, foi considerado uma

    afronta e era alvo de chacota em conversas e jornais da poca. O completo despojamento dos

    pisos superiores fez com que o edifcio estivesse tapado durante alguns meses at que, por

    fim, Loos concordou em decorar algumas das janelas com floreiras. O interior do edifcio era

    sumptuoso e luxuoso, com paredes e pavimentos revestidos a madeira ou mrmore, consoante

    a funo dos espaos, grandes espelhos e escadarias, consistente com a reputao da loja em

    questo (Fig.20, 21 e 22).

    Acima de tudo, Loos preocupava-se em perceber os seus clientes e a desenhar, procurando

    dar-lhes exactamente aquilo que esperavam dele.

    23

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    FIG. 21 dir.

    Looshaus, 1909-11Vista actual dasescadas para osapartamentos

    FIG. 22

    Looshaus, 1909-11Vista actual damezanine

    FIG. 23 e 24

    Villa Mller, 1928-30vistas da sala de estar

    FIG. 20 esq.

    Looshaus, 1909-11Vista actual dasescadas para amezanine

    24

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    Aquilo que podemos identificar de verdadeiramente inovador no modo como Loos fazia

    arquitectura, que esta no pensada bidimensionalmente, atravs da planta, alado ou

    cortes, mas sim pensada em termos tridimensionais. Para Loos, cada espao tinha diferentes

    requisitos, tanto dimensionais como decorativos, e como tal cada espao devia ser desenhado

    a pensar na sua funo.

    O interior ento um conjunto de espaos sucessivos e contguos, que diferem de dimenses

    e de cotas, dependendo da sua funo e simbolismo. Esta estrutura espacial conhecida como

    raumplanera, segundo Loos, impossvel de fotografar, sendo preciso estar dentro dos espaos

    para os apreender e vivenciar.

    O exterior resume-se s necessidades de iluminao do interior. Para Loos uma janela no

    deveria servir para algum se debruar nela. O homem moderno deveria ser recatado e no

    dar nas vistas. Da as suas fachadas serem austeras, desprovidas de qualquer decorao, uma

    porta aberta modernidade. E Adolf Loos representa isso mesmo, o incio da modernidade.

    Adolf Loos, um homem enigmtico e polmico, que ocupa um lugar de destaque na histria da

    arquitectura, no s por ter sido um arquitecto que revolucionou o processo de projectar e

    como consequncia, a prpria arquitectura, mas tambm por ter sido um arquitecto que se

    preocupava com a qualidade de vida dos seus concidados. Como afirma o historiador de arte

    austraco Ludwig Munz, responsvel por uma das publicaes mais relevantes sobre Adolf

    Loos:

    He wanted to build for human beings, who felt the need, however little money they

    might have, to be at home in quiet communion, people who, for their well-being,

    needed to be alone and able to concentrate. Everything he stood for, even the lack of

    decoration on his buildings and their smooth walls, signified to him only a means to

    give people time for the nobler pursuit of life.12

    Loos festejou os seus 60 anos rodeado de amigos na Villa Mller em Praga (Fig. 23 e 24), sua

    obra mais recente e uma das mais conhecidas por ser considerada a mais bem sucedida no

    que diz respeito s ideias que tinha para a raumplan. Adolf Loos morreu passados 3 anos, em

    1933.

    Vrios edifcios de Loos sobreviveram at aos nossos dias: algumas lojas e vrias habitaes

    em Viena, na Repblica Checa e Paris, na sua maioria tornados edifcios classificados e de

    interesse pblico.

    12Munz, Ludwig, Adolf Loos New York, NY: Praeger, 1966, p. 31

    25

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    FIG. 25

    Exposio Learningto DwellRIBA, 2011

    FIG. 26

    Exposio Learningto DwellRIBA, 2011

    FIG. 27

    Exposio Adolf Loos,The Plan in Space

    RIBA, 2011

    26

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    I.V Adolf Loos em Exposio

    Como comum, o centenrio da Looshaus foi assinalado noutras cidades europeias com

    eventos e exposies dedicadas a Loos.

    Em Londres, o RIBA13 dedicou-lhe uma temporada com a Adolf Loos Season, entre 24 de

    Fevereiro e 3 de Maio de 2011, em colaborao com o City of Prague Museum, o Czech Centre

    London e o Austrian Cultural Forum London.

    O programa convidava a celebrar Loos atravs de quatro exposies que aconteceram em

    simultneo e que tratavam temas especficos:

    - Learning to Dwell: Adolf Loos in the Czech lands que j havia sido apresentada no

    Museu da Cidade de Praga em 2008;

    - Saving Loos: The Unknown Legacy of the British Architectural Library;

    - Restoration of the Villa Muller and Hirsch Apartment;

    - Adolf Loos: The Plan in Space

    As exposies foram uma mostra exaustiva tanto no que diz respeito quantidade de material

    exposto documentos, maquetes, desenhos, publicaes, mobilirio como sua relevncia

    histrica e arquitectnica.

    A acompanhar as exposies, o RIBA ofereceu uma vasta programao paralela com

    conferncias, visitas guiadas pelos comissrios e workshops dedicados aos estudantes de

    arquitectura.

    Em Viena, a exposio Adolf Loos und Wien no Centro de Exposies de Ringturm, de 1 de

    Dezembro 2011 a 17 de Fevereiro 2012, comissariada por Marco Pogacnik, reuniu tambm

    material como o acima descrito e a acompanhar a exposio foi publicado um catlogo com o

    mesmo nome.

    Em ambos os contextos referidos acima, falmos de exposies retrospectivas de Adolf Loos,

    que se concentram s e apenas na sua vida e obra de arquitectura.

    A exposio no CAAA tinha, como j foi mencionado, um propsito diferente identificar e

    mostrar as repercusses que a obra de Adolf Loos teve e ainda tem na arquitectura e

    pensamento dos ltimos sculos. Esta exposio no pretendia olhar o trabalho de Loos de

    forma isolada, mas estabelecendo ligaes mais ou menos evidentes com a obra de

    arquitectos nossos contemporneos e contemporneos de Loos.

    13Royal Institute of British Architects

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    Quadro 1

    Desenhosseleccionados porYehuda Safran

    Quadro 2

    Desenhos propostospelo CAAA

    28

    reproduooriginal no includo

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    II. Adolf Loos no CAAA

    Quando Yehuda Safran nos apresentou este projecto, f-lo como sendo uma proposta aberta,

    com espao sugesto e introduo de novos elementos, e que permitia que o prprio material

    por ele j seleccionado fosse trabalhado e mostrado como entendssemos. Havia, portanto,

    espao para uma verdadeira curadoria local.

    O perfil multifacetado de Adolf Loos, enquadrava-se perfeitamente no carcter multidisciplinar

    do CAAA, permitindo-nos explorar o conceito da exposio e alastr-lo a outras prticas

    artsticas, dando-lhes a mesma relevncia prevista para a prtica arquitectnica.

    Iniciei este processo com o estudo do material seleccionado pelo comissrio geral de forma a

    estar plenamente informada sobre todas as obras e ideias que iramos abordar. Com este

    material, que inclua entrevistas gravadas em vdeo, desenhos, fotografias, documentos,maquetes de arquitectura, filmes, objectos e publicaes, era possvel concretizar o conceito da

    exposio uma mostra que pretendia explorar e estabelecer ligaes concretas e objectivas

    entre o trabalho do arquitecto Adolf Loos e a contemporaneidade. Porm, para melhor se

    adaptar a ideia ao CAAA e atingir um nvel de maior compreenso por parte do pblico, seria

    desejvel expandir e reforar o conceito da exposio, dando uma ideia mais completa da vida

    e obra de Adolf Loos e da influncia que exerceu. importante salientar que Adolf Loos um

    arquitecto praticamente ausente do currculo do ensino da arquitectura nas universidades

    portuguesas e ainda mais desconhecido pelo pblico em geral fora da ustria.

    O perodo de pesquisa permitiu criar uma base de dados de informao e material que foi na

    sua totalidade usada na exposio, complementando, intensificando e expandindo o conceito.

    A lista original de material redigida pelo comissrio geral foi totalmente cumprida no que diz

    respeito s obras que deveriam ser mostradas, sofrendo apenas algumas alteraes

    necessrias para a boa adaptao s especificidades do local ou por razes oramentais.

    (Quadro 1, Quadro 3)

    Pelo facto de o CAAA no ter assumidamente condies nem pretenses museolgicas, foi

    decidido que no seria exposto material original, como desenhos, documentos ou publicaes

    raras, pelo que estes necessitariam de condies controladas de temperatura, humidade do ar,

    iluminao e seguros das peas mais elevados. A opo foi de apresentar esses elementos por

    meio de reprodues.

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    Quadro 3

    Publicaesseleccionadas porYehuda Safran

    Quadro 4

    Publicaes propostaspelo CAAA

    30

    reproduooriginal no includo

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    II.I Curadoria Local e Arquitectura da Exposio

    A razo pela qual aqui se associa a descrio das funes de curadoria local e arquitectura da

    exposio, organizadas por subtemas, deve-se ao facto de estas estarem interligadas e

    interdependentes, tendo sido pensada a exposio como um todo, onde as preocupaes deordem formal mereceram a mesma ateno que as de ordem conceptual. A cada deciso

    curatorial est assim associada uma de ordem arquitectnica.

    Os subtemas aqui abordados correspondem s directrizes que foram delineadas, como

    resposta s questes que se levantaram no incio deste processo como poderia ser exposto

    o material de forma a concretizar o conceito? Como poderamos configurar o material s

    especificidades do nosso espao e ao pblico? Como dar a conhecer a obra e vida de Adolf

    Loos?

    Contextualizar Adolf Loos

    Uma grande vantagem no processo de pesquisa e de estudo do material, foi o

    acesso biblioteca do CAAA14, doada por Yehuda Safran. O facto de Yehuda

    Safran ser um estudioso de Loos e profundo conhecedor do grupo de pessoas que

    se relacionavam com ele, fazia com que fosse possvel encontrar na biblioteca

    inmeras publicaes que se revelaram preciosas para o entendimento daquela

    sociedade e da posio de Loos e seus contemporneos. O ncleo de amizades de

    Loos era constitudo por escritores, artistas, msicos e filsofos, com quem

    partilhava os mesmos ideais ticos e estticos.

    Foi ento decidido apresentar Adolf Loos inserido na sua sociedade, no seu

    contexto poltico e no seu grupo de relaes de amizade, de trabalho e amorosas,

    com vista a reforar e evidenciar o facto de que o processo criativo no se faz

    isoladamente, mas atravs da troca de reflexes tambm existentes no seu tempo.

    Na Galeria #2 (Fig. 28) foi construda uma narrativa cujo principal objectivo era o de

    contextualizar Adolf Loos quem foi, o que defendeu, que percurso fez, para onde

    viajou, com quem trabalhou e com quem casou, quem eram os amigos com quem

    discutia as coisas da vida no caf e quem foram as pessoas que conheceu e

    influenciou.

    14Yehuda Safran doou ao CAAA a sua biblioteca pessoal, especializada em arquitectura, arte e filosofia.

    31

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    FIG. 28

    Galeria #2

    FIG. 29

    Pormenor Galeria #2

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    Esta narrativa seguiu duas lgicas de construo sobrepostas, uma cronolgica,

    mas com composio no linear a informao comea por se focar na Viena de

    Loos do incio do sculo XX e estende-se at meados desse sculo e outra

    relacional as personagens foram posicionadas segundo o tipo de relao que

    tinham com o arquitecto e, quando possvel, que tinham entre elas originando um

    diagrama rizomtico de leitura no linear, no impondo ao espectador uma nica

    leitura.

    Para concretizar este diagrama, recorreu-se a documentos, citaes, desenhos,

    fotografias e publicaes, compostos de modo a contar a histria de Adolf Loos,

    apresentando-o em dilogo com as personagens que o acompanharam durante a

    vida. Eram principalmente elementos que foram sendo recolhidos durante o

    processo de pesquisa para a exposio e que se revelaram de extrema importncia

    para perceber Loos como pessoa e como arquitecto (Fig. 29).

    Nesta galeria, foi tambm apresentada a maioria das publicaes da lista inicial

    sempre que possvel com o livro original, ou em alternativa, com cpia da capa ou

    com artigos completos, e vrias publicaes propostas posteriormente que

    enriqueceram e complementaram a apresentao final.

    A ideia de incluir as publicaes neste diagrama surgiu pela necessidade de as

    contextualizar e relacionar, fugindo ao pr-concebido formato de as mostrar em

    vitrines, que no se considerou conceptualmente adequado ao local.

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    Gurrelieder as ltimas composies! Como que elas rimam umas com as outras? Emesmo que Schnberg represente, de facto, os ltimos anos da sua criao (e no h queduvidar disso) como que ele se apresenta perante as mesmas? No ter ele que neg-las?Entretanto, ficamos a saber que acontece o contrario vimos como foi ele mesmo que asensaiou e dirigiu. Explique-nos l essa contradio!Meu caro pblico, os senhores no tm razo. Ningum nega o que criou nem o arteso,nem o artista. Nem o sapateiro, nem o msico. As diferenas na forma como o pblico

    apercebe os objectos no so visveis pessoa que cria. Os sapatos que o mestreproduziu h dez anos eram muito bons. Por que razo havia ele de ter vergonha deles?Por que razo haveria de neg-los? Olhe para esta porcaria que eu fiz h dez anos, spoder ser dito por um arquitecto. Mas como se sabe, no considero que os arquitectossejam boas pessoas.Os crocodilos vem um embrio humano e dizem: um crocodilo. Os seres humanos vem umembrio e dizem: uma pessoa.Em relao s Gurrelieder, os crocodilos dizem que se trata de Richard Wagner. Aspessoas, no entanto, sentem aps os trs primeiros compassos algo se completamente novo edizem: Isto Arnold Schnberg!Sempre foi assim. Todas as vidas de todos os artistas estiveram desde sempre sujeitasa este mal-entendido. Os seus contemporneos nunca souberam o que era s seu. certoque o artista sente o mistrio como sendo qualquer coisa de estranho e, ao princpio,procura ajudar-se atravs de analogias. Mal ele se aperceba, porm, de toda a novidade da

    total expresso do Eu artstico, procurar salvar-se da sua prpria inferioridade atravsdo riso e da raiva. Conhecemos a obra de Rembrandt desde a sua mais terna juventude.Tornou-se num pintor famoso at criar a Ronda Nocturna. Gritava-se e vociferava-se:Por que que ele agora cria de maneira diferente?... Isto no o famoso Rembrandt,isto uma gatafunhada horrvel! E o mestre ficava espantado e no percebia nada doque o pblico dizia. Ele no via aquilo que o pblico via. Ele no mudou em nada, norealizou nada de novo. Aps 300 anos, o pblico d razo ao mestre.No era mesmo um novo Rembrandt era apensas um melhor, maior, mais grandioso ainda.E o pblico que percorre a obra de Rembrandt no consegue aperceber-se minimamente dotrao que os seus contemporneos to bem tinham notado. Nos seus desenhos da juventudej se pode reconhecer inteiramente Rembrandt e perguntamo-nos, espantados, como que foipossvel que a dimenso revolucionria desses quadros tenham sido recebida de uma formato indiferente. Mas, de facto, s se conseguia ver o crocodilo.Querem que d mais exemplos? O percurso de Beethoven? J se esqueceram que a Nona

    Sinfonia foi desculpada pela surdez do mestre? Que esta obra poderia ter sido perdidapara todo o sempre se os franceses no tivessem intervindo a favor do mestre alemoenlouquecido?Talvez tenham de passar vrios sculos at que as pessoas fiquem espantadas ao saberemcomo os contemporneos de Schnberg deram cabo das suas cabeas.

    FIG. 30

    Excerto do artigoArnold Schnberg

    e os seus

    Contemporneos

    Adolf Loos, 1924

    FIG. 31

    Galeria #3

    34

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    Expandir o conceito

    Seguindo a lgica de abrir o campo de viso no que diz respeito sociedade onde

    Loos estava inserido, foi decidido fazer o mesmo no que diz respeito disciplina da

    arquitectura: expandir o conceito a outras reas, uma vez que a actividade de Loosno se resume arquitectura, mas estende-se s artes plsticas, teatro, cinema e

    msica. Como j mencionado, a dedicao de Loos a esses temas era a mesma

    que tinha arquitectura, da fazer sentido alastrarmos o conceito a outras reas,

    dando-lhes a mesma evidncia. Uma vez mais, a personalidade e actividade

    multifacetada de Loos, estava em perfeita sintonia com o perfil multidisciplinar do

    CAAA e isso era algo que queramos evidenciar.

    Apesar de haver na lista de material, dois artigos escritos por Loos sobre teatro e

    cinema, estes no eram representativos da sua actividade literria, e no faria

    sentido mostr-los isoladamente. Foram ento adicionados outros artigos escritos

    por Loos, crticas a artistas, a peas de teatro, exposies e concertos, bem como

    outros elementos que os complementavam.

    A Galeria #3 foi dedicada s disciplinas acima mencionadas, e composta por

    elementos adicionais que de alguma forma completavam os j seleccionados por

    Yehuda Safran, ou que abordavam temas no previstos pelo comissrio geral.

    Exemplo disso a adio do artigo escrito por Adolf Loos relativo composio

    Gurrelieder de Arnold Shnberg (Fig. 30), considerada uma obra de transio no

    percurso deste compositor e amigo ntimo de Loos. Ao lado deste artigo, incluiu-se

    uma playlist com trs peas de Shnberg: Verklart Nacht op.4 (1899), Gurrelieder

    (1911) e Ode to Napoleon Buonapart(1942), com o objectivo de dar a conhecer um

    pouco das trs fases da obra de Shnberg.

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    FIG. 32

    Carta de Adolf Loos Lobmeyr, 1931

    FIG. 33

    Copo desenhado porAdolf Loos, 1931;Copo por StefanSagmeister, 2009

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    Ligaes concretas

    Para que o objectivo da exposio fosse cumprido identificar as repercusses e

    impacto da obra de Loos na contemporaneidade era essencial que fossem

    estabelecidas relaes evidentes entre a obra de Loos e as obras e opinies dearquitectos contemporneos.

    A estratgia seguida foi a de fazer associaes claras com os elementos

    expositivos, de forma a evidenciar essas ligaes, contaminaes e o eventual

    impacto de Loos. Deste modo, houve a preocupao de no apresentar nenhuma

    pea isolada, mas sempre em dilogo com outras que a complementavam. Este

    trabalho foi feito tanto com o material escolhido por Yehuda Safran, como com

    material que adicionmos, de modo a completar e reforar essas relaes.

    Para ilustrar uma dessas ligaes vejamos o seguinte exemplo: Yehuda Safran

    pretendia mostrar algumas peas do servio de bar desenhado por Loos para a

    empresa vienense Lobmeyr em 1931. Este servio tem a particularidade de ter sido

    redesenhado em 2009 pelo designer austraco Stefan Sagmeister, com base numa

    carta que Loos escreveu Lobmeyr no mesmo ano (Fig. 32). Nessa carta, Loos

    sugere que as bases dos copos sejam ilustradas com desenhos de partes do corpo

    ou pequenos insectos, ideia seguida por Sagmeister 78 anos depois. Ao invs de

    se mostrar isoladamente algumas peas do servio, optou-se por expor no apenas

    o copo desenhado por Loos mas tambm outro reinventado por Sagmeister, lado a

    lado com a carta onde Loos faz a apreciao do estado dos copos que desenhou, e

    onde sugere o novo desenho.

    Em toda a exposio foi seguida a estratgia de estabelecer claramente ligaes

    entre ideias e projectos, atravs do material exposto. Houve a inteno de no criar

    equvocos, tendo porm a preocupao de deixar espao para alguma procura

    individual por parte do pblico, se houvesse essa vontade.

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    FIG. 34

    Galeria #1

    FIG. 35

    Pormenor Galeria #1

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    Opes formais

    A primeira deciso relativa a como apresentar as peas a expor foi que estas iriam

    ser organizadas tematicamente, por se considerar importante oferecer uma leitura

    simples e clara da exposio.

    O espao destinado a esta mostra foi todo o piso da entrada do CAAA, composto

    por trs galerias: a primeira galeria do percurso, Galeria #2, era um espao

    destinado contextualizao de Adolf Loos; a segunda, Galeria #1 foi dedicada aos

    temas da arquitectura e design; a Galeria #3 dedicada s artes plsticas, cinema,

    msica e teatro.

    Para que se pudesse concretizar essa segmentao temtica, criando uma

    dinmica que ajudasse a manter a ateno e interesse do pblico recorreu-se auma diversidade de meios ou suportes (livros, desenhos, vdeos) para falar sobre a

    mesma obra ou tema.

    O material central da exposio foram as entrevistas que Yehuda Safran fez a onze

    arquitectos, com o intuito de perceber at que ponto foi repercussivo e controverso

    o trabalho e as ideias de Adolf Loos. Estas conversas eram de facto a prova viva do

    impacto da obra de Loos na contemporaneidade, e o alcance temporal e

    internacional conseguido foi extremamente importante para percebermos a

    diversidade de opinies e o modo como estes arquitectos estabeleceram contacto,

    e conhecimento com a obra de Loos e a apreenderam.

    A estas conversas foi atribudo um lugar de destaque no espao expositivo, tendo

    sido projectados na paredes laterais da Galeria #1, seis desses vdeos (Fig. 34). Os

    restantes quatro foram apresentados em monitor, por terem pouca definio,

    resultante das condies precrias de algumas das capturas em vdeo, no

    podendo ser projectados em grande dimenso. A entrevista ao arquitecto Hans

    Hollein captada apenas em udio, foi reproduzida num pequeno monitor com a

    legendagem da mesma em portugus.

    No centro da Galeria #1 foi construda uma estrutura pensada especificamente para

    expor os desenhos, fotografias, maquetes e objectos de design, que permitia

    tambm encaixar os 4 monitores, de forma a que o seu volume no se tornasse

    intrusivo, oferecendo uma leitura clara e desobstruda do ambiente expositivo (Fig.

    35). Nesta estrutura foram tambm includos assentos para que as entrevistas

    pudessem ser vistas comodamente, uma vez que eram bastante longas, com

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    FIG. 36

    Galeria #1

    FIG. 37

    Galeria #3

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    duraes que variavam entre os sete e os trinta minutos. Todas as obras e

    entrevistas estavam identificadas no centro desta estrutura.

    O material nesta galeria foi organizado cronologicamente, no que diz respeito s

    obras de Loos. Estas, estavam em dilogo directo com as obras e opinies dosarquitectos contemporneos, evidenciando as ligaes entre elas.

    A cr verde utilizada nas paredes da Galeria #2 e no mobilirio expositivo era

    alusiva e inspirada nos interiores de Adolf Loos e nos ambientes de Viena do incio

    do sculo XX.

    A iluminao das galerias deixava transparecer duas lgicas distintas: a de criar um

    ambiente sem sombras na superfcie expositiva como no caso da Galeria #2, e a de

    dar um especial destaque a peas pontuais com iluminao dedicada, sem queinterferisse com os vdeos projectados, na Galeria #1.

    Na Galeria #3, destinada s outras prticas artsticas foram criados vrios ncleos

    temticos que abordavam a contribuio dos escritos de Loos na rea da msica,

    teatro, cinema e artes plsticas. Para assistir projeco em grande formato do

    filme Loos Ornamental15de 2008, foi disposta uma mini sala de cinema para que a

    longa metragem fosse vista confortavelmente (Fig. 37).

    Optou-se por no incluir texto no espao expositivo, nem tabelas relativas s peas

    expostas, para reforar o carcter imagtico da exposio, tendo todas as peas

    uma numerao que remetia para a sua identificao e descrio na folha de sala.

    15Loos Ornamental uma longa metragem de 2009, realizada por Heinz Emigholz, mostrando os 27 edifcios e interiores ainda

    existentes de Adolf Loos.

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    FIG. 38

    Folha de SalaFolha de rosto, p.1,p.2, contra-capa

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    Folha de Sala

    A folha de sala foi pensada como um documento onde estava reunida a informao

    relativa s peas em exposio, no s a que geralmente aparece em tabela, mas

    tambm com pequenos pargrafos que davam a conhecer o seu contexto e a suahistria. Assim, antecedendo a informao bsica do objecto, foi criada uma

    explicao introdutria que o contextualizava.

    Este modelo inspira-se de certo modo na descrio de Ingrid Schaffner acerca da

    opo do curador David Hickeys na exposio Beau Monde: Toward a Redeemed

    Cosmopolitanism de 2001: All of the usual didactic material from the

    introductorial wall panel to the explanatorial labels was rolled into one hand-

    carried item that afforded viewers a chance to look at art, undistracted by text and

    labels.16

    Esta opo deve-se a no termos includo texto nem tabelas no espao expositivo,

    como j exposto acima, mas tambm porque o catlogo que foi publicado para esta

    exposio no continha informao concreta sobre os elementos expostos. Apesar

    de haver artigos que tratam temas abordados na exposio, esta publicao no

    podia ser considerada como um catlogo de exposio, uma vez que no continha

    nenhuma informao concreta sobre o material exposto, nem sobre a exposio em

    si.

    A folha de sala continha uma planta do espao que indicava o percurso a seguir,

    que iniciaria na Galeria #2, passando pela Galeria #1, terminando na Galeria #3 e

    foi redigida em Portugus e Ingls, seguindo a regra definida pelo CAAA desde a

    sua abertura.

    16Schaffner, Ingrid, Wall Text, 2003/06 in Marincola, Paula, What makes a great exhibition?, Philadelphia Exhibitions Initiative,

    2006, p.154

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    FIG. 39

    Acerca de Josef

    Hoffmann, Adolf Loos1931

    Josef Hoffmann

    Gustav Kimt

    Panfleto da SecessoVienense

    FIG. 40

    Pormenor Galeria #2A Viena de Adolf Loos

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    II.II Visita Exposio

    Com esta visita, pretende-se mostrar como foram concretizadas formalmente as intenes e as

    ideias delineadas para esta exposio.

    Galeria #2 Contextualizao

    A visita exposio deveria comear nesta galeria, um espao de menor dimenso na entrada

    do edifcio. Como j mencionado, a narrativa que aqui se comps, pretende apresentar Adolf

    Loos no seu contexto, relacionando-o com os seus demais, estando todas as personagens

    representadas com a sua fotografia e informao cronolgica:

    A Viena de Adolf Loos

    Comemos por contextualizar Adolf Loos na Viena sua contempornea, alvo eleito

    das suas crticas, representada pelo pintor Gustav Klimt e os arquitectos Josef

    Hoffmann e Joseph Maria Olbrich, fundadores da Secesso Vienense17, com quem

    Loos mantinha uma relao azeda por questes relacionadas com o ornamento

    (Fig. 39). Como escreve Beatriz Colomina:

    Loos era um escritor mordaz, prolfico e com humor, cujas teorias se organizavam emradical oposio Secesso Vienense18.

    Mas esta oposio no se devia s ao facto de repudiar os princpios estticos da

    Secesso, mas foi no fundo uma questo pessoal, como o prprio Loos conta:

    H quinze anos, abordei Josef Hoffmann pedindo-lhe que me autorizasse a desenhar a

    sala de conferncias do edifcio da Secesso, uma sala que de qualquer forma o

    pblico nunca veria e em que apenas seriam gastas algumas centenas de coroas. Fui

    linearmente rejeitado.19

    Loos nunca deixou de atacar Hoffmann a partir desse momento, como se podia ler

    no artigo exposto, Acerca de Hoffmann20de 1931.

    17A Secesso Vienense, foi criada por uma srie de artistas e arquitectos, que tinham como objectivo explorar as possibilidades da

    prtica artstica fora da tradio acadmica, esperando criar um novo estilo livre das influncias historicistas.

    18Colomina, Beatriz Sexo, mentiras e decorao: Adolf Loos e Gustav Klimt in MAK Wien, CAAA, Columbia University Adolf Loos:

    Nosso Contemporneo, p.161-171

    19Adolf Loos, Meine Bauschule, Der Architekt, 19, Out. 1913

    20Artigo includo na publicao Ornamento e Crime, Edies Cotovia, 2006 p.277-279

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    FIG. 41

    Mulheres de Loos

    FIG. 42

    Pormenor Galeria #2As mulheres

    FIG. 43

    Excerto do livro AdolfLoos de PanayotisTournikiotis, 2002

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    As mulheres

    Loos teve quatro mulheres, trs das quais com quem foi de facto casado. Tinha

    fama de no ser particularmente simptico e afvel com elas e sabe-se que nas

    suas trs luas-de-mel, se fotografou com as suas noivas sempre no mesmo local,em frente a uma das fontes em Veneza, cidade que adorava.

    Elsie Altmann Loos e Clare Beck Loos deixaram-nos as suas memrias da vida

    com o arquitecto, representadas na exposio com o livro e reproduo,

    respectivamente. Elsie Altmann Loos confirma a sua fama de marido pouco

    afectuoso:

    Sempre fui um tipo de mulher acrianada e era isso que Loos amava em mim. Mas,

    subitamente, acha que no tenho sex appeal e, alm disso, pernas demasiado curtas.Afirmava que se tivesse pernas mais compridas, a minha vida mudaria totalmente. Por

    isso decidiu levar-me a um cirurgio que me partiria ambas as pernas e as tornaria

    mais longas.21

    21Altmann-Loos Elsie, Adolf Loos, Der Mensch,Wien, Mnchen, Herold, 1968

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    FIG. 44

    Pormenor Galeria #2Os amigos

    FIG. 45

    Adolf Loos com PeterAltenberg

    Karl Kraus

    Ludwig Wittgenstein

    Oskar Kokoschka,

    Gertrud e ArnoldShnberg, Adolf Loosno Bristol Bar emBerlim, 1927

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    Os amigos

    Loos tinha amigos ntimos a quem se dedicou toda a sua vida, como o caso do

    escritor Peter Altenberg, o escritor Karl Krauss, o filsofo Ludwig Wittgenstein, o

    arquitecto Paul Englemann, o pintor Oskar Kokoscha e o msico Arnold Schonbergcom quem se identificava e partilhava ideias.

    Conta-se que Loos quando conheceu o filsofo Wittgenstein atravs de Engelmann

    exclamou:

    You are me!

    E a escrita de Karl Kraus identificava-se com o modo de Loos projectar:

    Tudo o que Adolf Loos e eu fizemos ele, literalmente e eu, gramaticalmente foi

    nada mais do que mostrar que h uma diferena entre uma urna e um penico e que

    essa diferena, acima de tudo, que proporciona a existncia de uma cultura. Os outros,

    aqueles que no fazem essa distino, dividem-se nos que usam a urna como um

    penico e nos que usam o penico como uma urna.22

    Este grupo de amizades estava representado com publicaes escritas pelos

    prprios, textos de Loos a eles relativos, e citaes retiradas de publicaes que de

    algum modo explicitava a sua relao.

    22

    Kraus, Karl, Die Fackel389/390, Dezember 1913, p.37

    49

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    FIG. 46

    Pormenor Galeria #2Os alunos

    FIG. 47

    Carta de RudolfSchindler a LouisSullivan

    50

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    Os alunos

    Rudolf Schindler e Richard Neutra, alunos de Loos, partiram para os Estados

    Unidos da Amrica por influncia deste, onde estabeleceram contacto directo e

    ntimo com o arquitecto americano Louis Sullivan, que Loos tanto admirava.Ambos fizeram carreira do outro lado do oceano e entraram para histria da

    arquitectura como dos mais relevantes arquitectos modernistas.

    Quando Louis Sullivan tenta, sem sucesso, publicar o seu livro Kindergarten Chats,

    Schindler envia o nico manuscrito a Loos pedindo-lhe que encontre quem o

    publique na ustria ou Alemanha. Sem notcias por um longo tempo, Schindler

    escreve uma carta a Sullivan justificando o silncio de Loos, carta essa

    apresentada neste diagrama, lado a lado com a publicao de Sullivan em questo(Fig. 47).

    Schindler e Neutra estavam tambm representados com reprodues de projectos

    seus e de publicaes.

    51

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    FIG. 48

    Pormenor Galeria #2Paris

    FIG. 49

    Cartaz dasconferncias naSorbonne

    52

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    Paris

    Em 1922, cansado da sua vida e ms experincias em Viena, Loos fixou-se em

    Paris, cidade que j bem conhecia, onde viveu 6 anos. Em 1925 organizou uma

    srie de conferncias na conceituada universidade Sorbonne sob o nomeMan with

    Modern Nerves (Fig. 49) e no mesmo ano visitou a Exposio internacional das

    Artes Decorativas e industriais modernas, na qual Le Corbusier participava com o

    seu Pavilion de LEsprit Nouveau. Apesar de Loos ser considerado o pai do

    modernismo, reagia de forma crtica a este movimento:

    An architect is a mason who has learned Latin. Modern architects seem, however, more

    likely to have mastered Esperanto.23

    Foi exposta uma cronologia comparativa da obra de Adolf Loos e Le Corbusier,retirada do livro Raumplan versus Plan Libre24, bem como uma publicao sobre Le

    Corbusier, aberta na pgina dedicada ao Pavilion de LEsprit Nouveau (Fig. 48).

    Em Paris, Loos construiu apenas um edifcio, a casa para o Dadasta Tristan Tzara,

    por quem Loos introduzido no grupo vanguardista Parisiense.

    23Loos, Adolf Grundstzliches von Adolf Loos, 1930 p.17

    24Risselada, Max, Raumplan Versus Plan Libre, Adolf Loos & Le Corbusier, 010 Uitgeverij, 2008

    53

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    FIG. 50

    Pormenor Galeria #2Depois de Adolf Loos

    FIG. 51

    ndice da revistaCasabella

    54

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    Depois de Adolf Loos

    Em 1959, Casabella, uma das mais importantes revistas de arquitectura editada

    pelo arquitecto italiano Ernesto Rogers, aqui apresentada em reproduo, dedica o

    seu n233 a Adolf Loos com o ttulo Attualit di Adolf Loos, com extenso artigo doarquitecto Aldo Rossi, sobre a obra e vida de Loos (Fig. 51). Aldo Rossi, tambm

    representado nesta narrativa por ter sido uma pea fundamental para a divulgao

    da obra de Loos nas geraes mais recentes, com a sua publicao Autobiografia

    Cientfica, aberta na pgina onde se podia ler:

    O meu livro favorito, era sem dvida o de Loos, em cuja leitura e estudo me introduziu

    Ernesto Rogers, a quem bem posso chamar de mestre(...)25

    No deixa de ser curioso que, mais de 50 anos depois desta publicao, estejamostambm a reclamar Adolf Loos como nosso contemporneo.

    Os meados do sculo XX foi a data escolhida para cessar esta narrativa, no por a darmos por

    terminada, mas porque a partir da passaramos a outra gerao de arquitectos, representados

    nas entrevistas da Galeria #1.

    25Rossi, Aldo, Autobiografia Cientifica, Editorial Gustavo Gili, S.A., Barcelona, 1998, p.58

    55

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    FIG. 52

    Pormenor Galeria #1Cadeira para o CafMuseumAdolf Loos, 1898

    FIG. 53

    PublicaoAdolf Loos, MihlyKubinszky, AkademiaiKiado, 1967

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    Galeria #1 Arquitectura e Design

    Este espao foi dedicado arquitectura e design e a sua apresentao seguiu a lgica da

    galeria anterior, cronolgica e relacional, destacando-se no incio a entrevista a Steven Holl, por

    ser a conversa com o contedo mais completo e abrangente no que diz respeito histria daarquitectura, oferecendo uma viso do panorama arquitectnico pr e ps Loos. Dada esta

    introduo, inicimos o percurso pelas obras de Adolf Loos, dispostas cronologicamente:

    1898, Cadeira para o Caf Museum

    Desde o declnio do Imprio Romano que no houve uma era to clssica quanto a nossa...

    Vejam a cadeira Thonet! Sem decorao, incorpora os hbitos de sentar de toda uma era,

    no ter ela nascido do mesmo esprito da cadeira Grega com os seus ps curvos e o seu

    encosto?26

    Comemos por uma pea de mobilirio, a cadeira que Loos desenhou para o Caf

    Museum em Viena, interior que projectou em 1898. Este caf era frequentado por

    artistas e, claro, por Loos e seus amigos. O interior sobreviveu intacto at 2003,

    altura em que foi remodelado e retirado todo o trabalho feito pelo arquitecto. Esta

    cadeira tem a particularidade de ter sido desenhada a partir da cadeira para cafs

    de Michael Thonet (1859), que Loos admirava imensamente, por a considerar um

    objecto que cumpria a sua funo na plenitude, sem qualquer detalhe ornamental.

    Foi proposto ao comissrio incluirmos na exposio a cadeira de Thonet, para

    evidenciar e dar a conhecer em que bases acontece o processo criativo no

    como um acto isolado, mas feito por contaminaes (Fig. 52).

    Ao lado deste mobilirio foi includa uma publicao aberta na pgina contendo

    uma fotografia do interior de Adolf Loos do Caf Museum, de modo a mostrar a

    cadeira no contexto para o qual foi desenhada (Fig.53).

    26

    Adolf Loos, Review of the Arts and Crafts, in Spoken into the Void, p.104

    57

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    FIG. 54

    Pormenor Galeria #1Ornamento e Crime

    FIG. 55

    Excerto do artigoOrnamento e Crime

    Adolf Loos, 1908-13

    58

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    1908, Ornamento e Crime

    A necessidade daquilo a que Le Corbusier chamou um dia uma limpeza homrica parece-

    nos agora axiomtica: a ascenso do modernismo impensvel sem banir o papo

    ornamental. Era inevitvel, tanto previsvel como predestinado. De outra forma, como

    poderia a esttica moderna ter feito a sua espectacular ascendncia?27

    A primeira publicao do polmico artigo Ornamento e Crime (1908-1913)

    aconteceu em 1913 pela revista Les Cahiers daujourdhui. Esta publicao fazia

    parte da lista original mas s foi possvel mostrar a sua reproduo. Foram

    adicionados dois exemplares (um em Portugus, outro em Ingls) da publicao

    Ornamento e Crime que, para alm do artigo com o mesmo nome inclui vrios

    artigos que Loos escreveu ao longo da sua vida. Estes livros, que no faziam parte

    da lista original, foram mostrados de forma a que o artigo em questo pudesse ser

    lido. A razo pela qual este artigo foi includo nesta galeria deveu-se a duas razes:

    foi um artigo que determinou e definiu a forma como Loos fez e pensou arquitectura

    e era importante relacion-lo com a entrevista ao arquitecto Hermann Czech que se

    foca principalmente no tema do ornamento (Fig. 54).

    27

    Long, Christopher, Ornamento no exactamente crime: sobre a longa e curiosa vida pstuma do famoso ensaio de Adolf Loos,

    in Adolf Loos: Our Contemporary, Yehuda E. Safran, 2012, p.189

    59

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    FIG. 56

    Pormenor Galeria #1Looshaus

    FIG. 57

    Looshaus

    Adolf Loos, 1910

    FIG. 58

    Looshaus, 1911Departamento dedesporto, piso daentrada

    FIG. 59

    Looshaus, 1911Oficina da escolados aprendizes

    60

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    1909, Looshaus

    Viena, primavera de 1911, o arquitecto Robert Hlawatsch relembra, dcadas depois, o seu

    primeiro confronto com a Looshaus: O meu pai e eu - eu tinha onze anos - passevamos

    pelo ptio interior do palcio imperial, entrmos na Michaelerplatz e caminhmos em

    direco ao edifcio da companhia de moda masculina, a Goldman & Salatsch. Fiquei

    chocado com o despojamento dos pisos superiores. Pai, o que isto? Quem o desenhou?

    o seu pai respondeu: Quem desenhou este edifcio foi o arquitecto Adolf Loos; os

    especialistas dizem que especial. O rapaz no se deixou impressionar: Pai, se eu

    conhecesse esse homem, no lhe apertaria a mo.28

    O edifcio Looshaus (1909-1911) em Michaelerplatz, a mais conhecida obra de

    Loos, pela polmica que originou, estava representada em desenhos, fotografias e

    com a publicao de Christopher Long The Looshaus. Uma vez mais, achmosapropriado que o livro fosse passvel de ser manuseado e lido, uma vez que um

    documento bastante completo sobre esta obra de Loos. Este projecto, pela sua

    relevncia histrica e arquitectnica, era o mais bem representado relativamente

    diversidade e quantidade de elementos expostos (Fig. 56). Estabeleceu-se uma

    relao com a entrevista ao arquitecto suio Jacques Herzog, que lembra o

    entusiasmo do seu professor Aldo Rossi referindo-se ao edifcio na Michaelerplatz.

    28Long, Christopher, The Looshaus, Yale University Press, 2011, p.1

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    FIG. 61

    Strada Novissima

    Hans Hollein, 1980

    FIG. 62

    The Chicago Tribune

    Column

    Adolf Loos, 1922

    FIG. 60

    Pormenor Galeria #1The Chicago Column

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    1922, The Chicago Tribune Column

    A grandiosa coluna Drica Grega ser construda. Se no for em Chicago, ento em outra

    cidade. Se no for para o Chicago Tribune, ento para outro. Se no for por mim, ento por

    outro arquitecto.29

    Em 1922 o jornal americano The Chicago Tribune abre um concurso para a sua

    nova sede e Loos concorre com um edifcio que no era mais do que uma gigante

    coluna drica (Fig. 62). O seu projecto no saiu vencedor mas tornou-se um cone

    arquitectnico, de tal forma que o arquitecto austraco Hans Hollein, na 1 Bienal de

    Arquitectura de Veneza em 1980, prope uma fachada com 6 colunas que

    representam a histria da arquitectura, sendo uma delas o projecto de Loos (Fig.

    61). A este projecto de Loos est associada a entrevista feita a Hollein, bem como

    uma fotografia da fachada da sua proposta para a Bienal, cedida pelo seu arquivo.

    29Frase escrita por Adolf Loos na proposta entregue

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    FIG. 63

    Pormenor Galeria #1Villa Moissi

    FIG. 64

    Alados e CorteVilla Moissi

    Adolf Loos, 1923

    FIG. 65

    Estudos sobre osdesenhos daVilla Moissi

    Eileen Gray, 1923

    64

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    1923, Villa Moissi

    No mesmo ano, a revista LArchitecture Vivante tinha publicado uma petite maison de

    Adolf Loos na qual este tentava resolver um problema que o preocupava h anos: como

    obter um espao puro. Eileen trabalhou sobre esses desenhos, alterando a fachada este e

    deixando apenas o terrao e a disposio do quarto e da sala de banho com o desenho

    original de Loos.30

    Uma das mais evidentes ligaes mostrada nesta exposio o projecto de Loos

    para a Villa Moissi (Lido de Veneza) de 1923 e os desenhos da arquitecta irlandesa

    Eileen Gray. Gray tomou conhecimento do projecto de Loos, que foi publicado

    nesse mesmo ano na revista LArchitecture Vivante e trabalhou sobre esses

    desenhos, fazendo algumas alteraes, como descrito na citao acima (Fig. 65).

    Estes estudos foram mostrados lado a lado com o projecto de Loos, juntamente

    com a reproduo do artigo La Pelle31

    de Yehuda Safran, que explora exactamente

    esta relao (Fig. 63).

    30

    Adam, Peter Eileen Gray, a Biography, Thames and Hudson, 1987, p.150

    31Safran, Yehuda La Pellein 9Hn8, 1989

    65

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    FIG. 66

    Pormenor Galeria #1Entrevistas a EduardoSouto Moura elvaro Siza Vieira

    FIG. 67

    Pormenor Galeria #1Maquete FAUP Ed.H

    lvaro Siza Vieira,1986-95

    Casa Tristan TzaraAdolf Loos, 1925

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    1925, Casa Tristan Tzara

    (...) e especialmente aquela que tem um terrao com a altura de dois piso, quando estava a

    desenh-la, o Tristan Tzara veio ajudar-me.32

    A casa para Tristan Tzara em Paris, projectada e construda entre 1925 e 1926, foio seu nico projecto construdo naquela cidade e Tzara escolhe Loos porque este

    seria: The only one today whose works are not photogenic, and whose expression is a

    school of depth and not a way to attain illusions of beauty.33

    A entrevista ao arquitecto lvaro Siza Vieira e a maquete do bloco H do edifcio da

    Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto foram associadas casa de

    Tzara, pois as suas fachadas revelam uma semelhana irrefutvel, reconhecida por

    Siza na conversa com Yehuda Safran, como mencionado na citao acima (Fig.

    67).

    O arquitecto Eduardo Souto de Moura, tambm entrevistado pelo comissrio,

    explica como s mais tarde no seu percurso se dedicou a estudar Loos. Perante a

    sua dificuldade em desenhar janelas num projecto em que estava a trabalhar, foi

    aconselhado por Siza Vieira a observar o modo como Loos posicionava os vos

    nas fachadas. O seu treino foi ento desenhar em papel vegetal sobre as fachadas

    de Loos. Esta particularidade pareceu-nos relevante ao ponto fazer sentido mostrar

    esses desenhos na exposio, (com a concordncia de Safran) tendo Souto Moura

    cedido os desenhos em questo para a mostra.

    32

    Entrevista com lvaro Siza Vieira, 2010, min 2420

    33Homage by Tristan Tzara in Adolf Loos Festschrift zum 60. GebrustagViena 1930

    67

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    FIG. 68

    Pormenor Galeria #1Servio de Bar n248

    68

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    1931, Servio de Bar n248

    Na sua carta para a Lobmeyr em maio de 1931, Adolf Loos sugere que seja substitudo o

    padro geomtrico original por borboletas, pequenos animais e partes do corpo nuasnas

    bases dos copos. Pegmos neste conceito e expandimo-lo usando os sete pecados mortais

    e as sete virtudes o que nos permitiu incorporar ilustraes e nos dava a possibilidade de

    discutir sobre o bem e o mal durante o jantar.34

    Em 1931 Adolf Loos desenhou um servio para a empresa Vienense de cristais

    Lobmeyr, o Servio de Bar n248, que fazia parte da lista de objectos a apresentar.

    Adolf Loos escreveu uma carta ao responsvel pelo fabrico do servio, em resposta

    recepo de um copo para sua apreciao. Nessa carta, onde aprovava a

    manufactura do copo, sugeria algumas alteraes para as bases dos mesmos:

    ilustr-las com desenhos de pequenos insectos e partes do corpo humano, ideia

    que no foi explorada at 2009, quando lanado o desafio ao designer austraco

    Stefan Sagmeister.

    Ao invs de mostrar algumas peas do servio desenhado por Loos, optou-se por

    expor um copo deste arquitecto, um copo reinventado por Sagmeister, lado a lado

    com a carta de Loos Lobmeyr (Fig. 68). Desta forma, estabeleceu-se mais uma

    ligao entre Loos e a contemporaneidade, numa outra rea, o design de objectos.

    H coisas que surgem naturalmente na montagem de uma exposio e o modo como se iniciou

    e terminou o percurso nesta galeria, com um objecto que marca o inicio de carreira a cadeira

    e outro que marca o seu fim o copo , deixa uma grande questo no ar: no era afinal

    Adolf Loos contra re-desenhar objectos utilitrios e funcionais? Porque surgem ento estes

    objectos no seu percurso?

    34

    Stefan Sagmeister em entrevista com James Gaddy. Disponvel na internet: http://www.lobmeyr.at/detnews/newsarchiv2013/33

    69

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    FIG. 69

    Galeria #3

    FIG. 70 dir.

    Frame do filmeLinhumaine

    Marcel LHerbier,1924

    FIG. 72 dir.

    Frame do filmeLooss Box

    Andrea Slovakova,2004

    FIG. 71 esq.Frame do filme HeidiPaul McCarthy, MikeKelley, 1992

    FIG. 73 esq.

    Frame do filme The

    Man With ModernNerves

    Bady Minck, StefanStratil, 1998

    70

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    Galeria #3 Cinema, Msica e Teatro

    Loos escreveu intensamente ao longo de toda a sua vida sobre inmeros temas, incluindo

    cinema, msica e teatro, da termos decidido dedicar um espao a estas disciplinas.

    Cinema

    Quando foi decidido que se iria expandir o conceito da exposio, foi pedido a

    Yehuda Safran que seleccionasse alguns filmes que se poderiam relacionar com

    Loos. Um deles foi LInhumaine(1924), de Marcel LHerbier (Fig. 70), uma vez que

    Loos depois de ter assistido sua estreia em Paris, escreveu um artigo entusiasta

    sobre o filme35, artigo esse que fazia parte da lista inicial de elementos

    seleccionados pelo comissrio geral.

    Outro foi Heidi (1992), de Mike Kelley e Paul McCarthy, uma vdeo-instalao

    apresentada na Krinzinger Galerie em Viena, que consistia num cenrio e num

    vdeo gravado nesse mesmo cenrio (Fig. 71). H vrias referncias a projectos de

    Loos, nomeadamente ao Bar Americano em Viena, e s suas ideias sobre o

    ornamento. A este filme foi associada a maquete do Bar Americano, construda

    para a exposio The Architecture of Adolf Loos: An Arts Council Exhibition,

    comissariada por Safran em 1985.

    Loos Ornamental (2008), de Heinz Emigholz, foi tambm escolhido por Safran

    filme que mostra, por ordem cronolgica, os projectos ainda existentes de Adolf

    Loos foi mostrado em grande projeco, como imagem de fundo da galeria, e foi

    encenada uma pequena sala de cinema para que o filme pudesse ser visto

    comodamente.

    Foram propostos e mostrados mais dois filmes que encontrmos durante a nossa

    pesquisa, duas curtas metragens que reforavam e ampliavam o impacto de Loos

    fora do campo da arquitectura: Looss Box (2004), de Andrea Slovakova (Fig. 73),

    filmado na Villa Muller em Praga, com vrios protagonistas que representam as

    ideologias do final dos anos 1920, cuja influncia exercida sobre Loos, faz com que

    este tivesse sido um arquitecto singular. A este filme foram associadas duas

    publicaes sobre a Villa Muller.

    35

    Artigo no jornal Neue Freie Presse de 29 Julho 1924

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    FIG. 74

    Pormenor Galeria #3

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    The Man with Modern Nerves (1988), de Bady Minck e Stefan Stratil (Fig. 72),

    uma curta metragem feita a partir de um projecto que Loos desenhou para o Mxico

    em 192336. O nome do filme segue o nome das conferncias que Loos organizou na

    Sorbonne, em Paris.

    Msica

    Arnold Schnberg, compositor e amigo ntimo de Adolf Loos, j includo no painel

    da Galeria #2, representado nesta galeria com um artigo escrito por Loos sobre a

    sua composio Gurrelieder (1900-1911). Esta pea considerada uma

    composio de transio no percurso de Schnberg. Em conjunto com a

    programadora da rea da msica, Joana Gama, decidiu-se inclu-la numa playlist

    na exposio com mais duas composies do autor, de modo a representar as trs

    fases da sua obra. Este ncleo dedicado msica foi tambm proposto por ns e

    aceite pelo comissrio geral.

    36A seleco de filmes foi validada pelo programador de cinema do CAAA, Rodrigo Areias.

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    FIG. 75

    Pormenor Galeria #3Teatro

    FIG. 76

    Space Stage

    Frederick Kiesler1924

    FIG. 77

    ArtigoThe TheatreAdolf Loos1926

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    Teatro

    O arquitecto, artista e escritor Frederick Kiesler, que colaborou como arquitecto com

    Adolf Loos por um breve perodo entre 1920 e 1922, desenhou em 1924 o Space

    Stage o primeiro cenrio electro-mecnico, um cenrio vivo passvel de seralterado durante as peas (Fig. 76). Em 1926, Kiesler organizou a International

    Exhibition of New Theatre Techniquese convidou Loos a escrever um artigo sobre

    o teatro para o catlogo37. No seu texto, Loos afirmava que o Space Stage de

    Kiesler uma proposta com o potencial de revolucionar os mtodos de encenao

    (Fig. 77).

    As duas fotografias do Space Stage e o artigo de Loos faziam parte do material

    seleccionado pelo comissrio geral. Como complemento deste conjunto, foi

    acrescentado um catlogo publicado aquando da exposio de Kiesler no Whitney

    Museum of Modern Art, NY38, aberto nas pginas dedicadas ao Space Stage,

    oferecendo um pouco mais de informao sobre este cenrio inovador (Fig. 75).

    O processo de construo desta exposio que privilegia e evidencia as relaes e as

    contaminaes de ideias, no se esgota aqui, mas abre outros caminhos quando conta a

    histria dos objectos e processos, lanando outros nomes para alm do de Adolf Loos.

    37

    Loos, Adolf,

    The Theatre, in International Theatre Exposition, New York, 1925

    38Philips, Lisa, Frederick Kiesler, Whitney Museum of Modern Art, New York, 1989

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    FIG. 78

    Cartaz da exposio

    FIG. 79

    Banner exterior

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    FIG. 80

    Mesa redondadir. para esq.Joaquim Moreno,Yehuda Safran,Hermann Czech,Rainald Franz

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    II.IV Programao paralela

    A programao paralela exposio constou de uma mesa redonda no dia da inaugurao da

    exposio, dia 8 de Dezembro 2012, moderada pelo arquitecto Joaquim Moreno39. Desta

    conversa, fez parte o comissrio geral, Yehuda Safran, o historiador de arte Rainald Franz,comissrio do MAK Viena, e o arquitecto austraco Hermann Czech, responsvel por uma das

    publicaes mais relevantes sobre Adolf Loos. Yehuda Safran falou-nos sobre a ideia do

    projecto apresentado e Rainald Franz, que iria assumir a curadoria local da exposio no MAK,

    deixou algumas ideias sobre as possveis diferenas entre as duas exposies. Hermann

    Czech deu a conhecer o percurso feito pelos tericos de arte e arquitectura vienenses,

    responsveis pelo estudo e divulgao da obra de Adolf Loos.

    Para reforar a programao na rea do cinema, foi pedido a Yehuda Safran que

    seleccionasse dois filmes a serem apresentados em sesso de cinema, e em Janeiro de 2013

    apresentou-se Introduo Msica de Acompanhamento para uma Cena de Cinema de

    Arnold Schnberg (1973) e Moiss e Aro (1975), ambos da dupla Jean-Marie Straub e

    Danile Hulliet.

    II.V Edio, traduo e legendagem das Entrevistas

    As entrevistas feitas por Yehuda Safran aos onze arquitectos chegaram-nos em bruto, fazendo

    a sua edio parte do meu trabalho como curadora local.

    As duraes destas conversas variavam entre uma e duas horas, pelo que a sua edio teria

    forosamente de reduzir este tempo, tornando-as num objecto passvel de ser visto no mbito

    da exposio. Este trabalho foi feito com o objectivo de seleccionar a parte do discursorelevante para o contexto da exposio, pelo que cerca de metade das entrevistas no

    puderam ser reduzidas mais do que trinta minutos.

    A traduo e legendagem tambm fez parte das tarefas que assumi e executei com o apoio de

    Anabela Ribeiro, tendo tido o apoio tcnico de David Ferreira na edio das entrevistas.

    39

    Joaquim Moreno Formou-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, obteve o grau de Mestre na EscolaTcnica Superior de Arquitectura de Barcelona da Universidade Politcnica da Catalunha e doutorou-se em Teoria e Histria de

    Arquitectura na Escola de Arquitectura da Universidade de Princeton, Princeton University. Alm da prtica da arquitectura, porvezes suspensa pela dedicao actividade acadmica, tem trabalhado como editor e curador. Professor Assistente Adjunto daGraduate School of Architecture da Universidade de Columbia.

    79

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    FIG. 81

    Carta da FCGconfirmando o apoioao projecto

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    ALBERTINA,

    VIENA

    retirar do oramento ovalor dos direitos de

    publicao, as imagenssero apenas exibidas na

    exposio

    recebido o CD com asimagens

    envio de comprovativo depagamento

    pedido das imagens aodirector do Albertina,

    Klaus-Albrecht Schrderenvio de lista com todo omaterial relativo a AdolfLoos

    perguntas relativas resoluo e uso dasimagens; envio do

    oramento

    envio do formulrio deemprstimo e factura

    envio de nova factura

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    envio de nova lista comcortes no nmero deimagens por razes

    oramentais

    envio de lista comimagens escolhidas para

    reproduo, pedido de

    custo dos direitos

    CAAA

    Quadro 5

    Contacto com asInstituies

    III. PRODUO DA EXPOSIO

    A exposio no CAAA foi produzida por uma equipa extremamente reduzida e constou das

    seguintes tarefas:

    - financiamento do projecto

    - contacto com instituies e detentores de direitos de exibio

    - aquisio de elementos a expor e material audio-visual, coordenao da produo do

    mobilirio expositivo

    - coordenao da traduo e impresso da publicao

    III.I Financiamento

    O projecto da exposio Adolf Loos: Nosso Contemporneo, foi apresentado e proposto pela

    equipa de Arquitectura do CAAA a algumas das reas de programao da Capital Europeia da

    Cultura 2012, nomeadamente de Arte e Arquitectura, Cinema e Msica. A razo pela qual

    este projecto, composto pela exposio, publicao e eventos paralelos ter sido proposto a

    estas reas prende-se com o facto de o tema no se encerrar apenas no mbito da

    arquitectura, estendendo-se, como vimos, a outras disciplinas.

    A programao de Cinema foi a nica a se mostrar interessada em apoiar o projecto e f-lo

    com o valor de 10.000,00. Este montante suportou o custo dos direitos de exposio dos

    filmes, das imagens e a sua reproduo; a aquisio dos objectos, direitos dos filmes e de

    algumas das publicaes em exposio; a produo do mobilirio de mostra, custo do

    equipamento audio-visual e honorrios. A publicao foi totalmente suportada pelas outras

    duas instituies envolvidas MAK e GASSP Columbia University cujos oramentos

    individuais para o projecto rondavam os 50.000,00.

    O CAAA teve a iniciativa de apresentar tambm o projecto Embaixada da ustria em Lisboa,

    que participou com 1.000,00destinados ao design grfico e comunicao.

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    VICTORIA & ALBERT

    pedido de imagens de 17desenhos de Eileen Gray

    envio de imagens dosdesenhos, uma vez que

    no se encontram nabase de dados online

    pedido de update

    pedido de update

    NMI j contactado; porquestes de oramentoos 17 desenhos foram

    reduzidos a 7 - copyrightsextremamente elevados

    envio da confirmao depagamento ao MNI

    envio da informaosolicitada

    pedido de informaosobre a exposio, tipo deimagem e sua utilizao

    os 17 desenhos nuncaforam fotografados;pedido das refernciasdos desenhos atravs dabase de dados V&A

    V&A com dificuldadesem encontrar osdesenhos em questo

    o detentor dos direitos o National Museum ofIreland

    envio de novos nmeros,mantm preo especial,apesar da reduo dasimagens

    envio das imagensatravs do website V&A

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    AD & A MUSEUMUSSANTA BARBARA

    pedido de imagem dacarta que Rudolf

    Schindler escreveu aLouis Sullivan falando de

    Loospedido de custo de

    copyrights

    envio de pagamento

    35$ pela imagem; nocobram copyrights

    envio da imagem e factura

    CAAACAAACAAACAAA

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    pedido de imagem doSpace Stage de

    Frederick Kiesler e deartigo sobre Loos

    o preo pelas imagens eartigo demasiado alto,mantemos as 2 imagens

    do #Space Stage eabdicamos dos artigos

    envio do formulrio deemprstimo e dasimagens

    KIESLER

    FOUNDATION,

    VIENA

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    pedido dos direitos dereproduo dos

    desenhos-envio de lista

    pedido de preo especialvisto serem bastantes

    desenhos

    envio de formulriopreenchido, com corte

    significativo no nmero dereprodues

    envio de factura

    NATIONAL

    MUSEUM

    OF IRELAND

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    III.II Contacto com as Instituies e Detentores de Direitos

    O contacto com as instituies museolgicas e fundaes40 foi iniciado entre Maio e Junho de

    2012 (Quadro 5) e correu na sua generalidade sem sobressaltos. Todas elas identificaram o

    que lhes pedimos, excepo do Victoria & Albert que teve dificuldade em encontrar osdesenhos de Eileen Gray, que representam estudos sobre a Villa Moissi de Loos. Depois de

    identificados, percebemos que os desenhos constituam um depsito, sendo o detentor dos

    direitos o Museu Nacional da Irlanda, que foi contactado posteriormente.

    Para alm dos direitos d