maio 2011 convênio resgata artesanato do norte de mg · minha mãe também costurava muito bem. e...
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www.irape.com.br INFOrMATIVO IrAPé ANO 2 nº 9 MAIO 2011
ARCA DAS LETRAS – Projeto de-
senvolve o hábito da leitura e am-
plia o conhecimento por meio de
bibliotecas instaladas nas fazen-
das do reassentamento, nas duas
margens da Usina de Irapé. 8
PLANTAS MEDICINAIS – Progra-
ma desenvolvido em parceria da
Emater com a UFMG desenvolve
produtos alternativos para fins
terapêuticos, beneficiando várias
famílias de reassentados 8
Convênio resgata artesanato do Norte de MGO projeto de resgate da cultura do
artesanato do Jequitinhonha vem mo-bilizando mulheres reassentadas de 27 fazendas. Hoje mais de 140 artesãs, reunidas em 18 grupos, participam do programa, que teve início em 2007. Desde então várias feiras e exposições já foram realizadas, gerando, além de renda, grande satisfação para costu-reiras e bordadeiras que levam para o grande público a riqueza e a arte do Je-quitinhonha e do Norte de Minas. Entre as artesãs destaca-se o trabalho de Iva Barbosa, de Itamarandiba, que borda rendas com a técnica do bilro –arte rara, que corre o risco de ser extinta por falta de seguidores (págs. 2 a 5).
CELsO GOMEsDOs sANTOs:“NÃO PrECIsAMOs MAIs sAIrDA TErrA PArA sOBrEVIVEr
Os reassentados de Irapé hoje se
beneficiam de dois convênios firmados
entre a Cemig e a Emater: a Assistên-
cia Técnica de Extensão rural (ATEr) e
o Artesanato. O objetivo dos convênios
é buscar sustentabilidade para as famí-
lias, proporcionando todo o apoio ne-
cessário para que possam desenvolver
suas atividades no meio rural – além de
incentivar o associativismo e desenvol-
Programas geram rendapara reassentados
ver conceitos de educação ambiental.
Os reassentados também foram
estimulados a se organizar em 28
associações, 14 em cada margem do
rio Jequitinhonha. Através delas, eles
se organizam para buscar sua inclusão
em programas de governo que possam
gerar renda para suas famílias (Pronaf,
PCPr) e facilitar o acesso ao crédito
agrícola (págs. 6 e 7).
Mais...
ArTEsÃs ExPÕEM PrODUTOs EMFEIrAs DE ArTEsANATO
EDITOR - Desde o início das obras para implantação da Usina de Ira-pé, no começo da década passada, o pensamento dos coordenadores do trabalho era um só: desenvolver grande infraestrutura e projetos técni-cos e sociais para que o impacto da mudança nas famílias dos reassenta-dos fosse o menor possível.
Para que isso pudesse ocorrer, foi traçado um diagnóstico detalhado da forma de vida das famílias: como viviam nas terras de origem, o que plantavam, o que gostariam de plan-tar, que festas comemoravam. Todos os aspectos sociais e culturais foram considerados. A partir daí, foi traçado um programa que incluía diversos as-pectos, e um deles foi fundamental: a rede de convênios que poderia gerar renda e possibilitar novas perspecti-vas para esses produtores rurais.
Após a mudança, cada família rece-beu cinco hectares de terra já prepa-rada para o plantio, com sementes e mudas já conhecidas por eles: feijão, arroz, milho, amendoim, cana, man-dioca. Desde então, foram firmados convênios, sendo que o principal deles, com a Emater, trouxe inúme-ros benefícios para a vida desses agricultores, com assistência técnica e rural em processo de aperfeiçoa-mento constante.
Hoje, cinco anos depois da mudan-ça, os reassentados estão adap-tados e já trabalham em regime de autonomia nas suas terras. O acesso a programas sociais e projetos de crédito agrícola geram receita para as famílias e abrem novas possi-bilidades. O projeto de artesanato, uma parceria da Cemig com a Ema-ter, promove uma grande transfor-mação na vida dos reassentados, pois – ao mesmo tempo em que resgata uma cultura tradicional do Norte de Minas e Vale do Jequitinho-nha, gera renda e eleva a auto-estima das artesãs.
Por tudo isso, esse projeto de reas-sentamento é considerado um mode-lo no Brasil, já tendo recebido diversos prêmios.
Palavra do Editor
JOsI LOPEs, TéCNICA DA EMATEr qUE OrIENTA O TrABALHO
Artesãs preservam tradição
A vida de Maria José Pereira de Jesus passou por uma grande transformação. Casada e mãe de oito filhos, ela morava com a família na beira do rio Jequitinho-nha, um local difícil e muito acidentado. Desde a mudança para a Fazenda riacho da Porta, sua vida está muito mais organi-zada, com uma infraestrutura que a per-mite se dedicar a fazer o que mais gosta: o artesanato. “Para mim, isso aqui é outra vida, muito melhor. Meus filhos chegam da escola e me ajudam na roça. E meu marido, além do trabalho na nossa lavou-ra, também cuida de tudo para que eu possa estar aqui, costurando e fazendo meus bordados”, afirma, satisfeita.
Ela conta que o hábito de fiar, costurar e bordar vem da família. “Eu planto e colho
Josi Lopes, técnica da Emater que orienta o trabalho com as mulheres da fazenda, diz que o objetivo do trabalho é resgatar a cultura do artesanato do Jequiti-nhonha, uma tradição que é repassada de geração para geração até hoje. “A ideia é fazer um artesanato de raiz. Por enquanto, estamos qualificando o grupo, através de cursos de costura, bordado e crochê, para melhorar as técnicas que elas já conhecem. queremos resgatar o bordado antigo, que elas aprenderam com suas bisavós”, diz.
Além do artesanato, a Emater dá todo o apoio na assistência técnica e extensão rural para os reassentados, com o obje-tivo de buscar sustentabilidade para as famílias. “A geração de renda tem sido bem nítida, e isso a gente pode visualizar pela melhoria na qualidade de vida deles. Há muito a ser feito ainda, mas estamos num caminho muito bom”. Das técnicas trazidas na origem, ela conta que o tear com o algodão era o mais presente na vida das mulheres. “Nosso trabalho é de
MArIA NAzAré DE JEsUs: “PArA MIM, IssO AqUI é OUTrA VIDA”
Apoio técnico para costuras e bordados de raiz
acompanhar, orientar e sugerir. E a gente vê o resultado na beleza das peças que elas produzem”, conta.
As artesãs de riacho da Porta produ-zem um pouco de tudo: bolsas, almofadas, panos de prato, toalhas de copa, pesos de porta. Com esses trabalhos, já partici-param de feiras e exposições promovidas pela Cemig. “Por enquanto, o foco são os utensílios de casa. Mas depois queremos produzir um catálogo, para colocar tudo no mercado”, acrescenta.
o algodão, para fazer as linhas e cordões, isso é uma tradição que vem da minha avó. Minha mãe também costurava muito bem. E minha filha Edna também me ajuda aqui. é muito bom ter a família perto, todo mun-do produzindo”, diz Maria José.
O apoio da Emater, de acordo com ela, é fundamental para que possam de-senvolver o trabalho com tranquilidade. “Eles nos ajudam muito, orientando, su-gerindo coisas. Já fizemos treinamento em Capelinha e Turmalina, e expomos em Diamantina e Belo Horizonte. Esse proje-to só vai melhorar. Pra mim não tem nada melhor do que ficar aqui, com minhas amigas, costurando, bordando e apren-dendo coisas novas. Isso diverte a gente”, completa.
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Talento e arte em exposições por MG
FEIrA DE ArTEsANATO NA AGrIMINAs: GErAÇÃO DE rENDA
O projeto de artesanato com os reas-
sentados das margens do Jequitinhonha
teve início em 2007. Trata-se de um con-
vênio firmado entre a Cemig e a Emater,
como explica a coordenadora do progra-
ma, Cléa Venina. “Começamos com 67
mulheres e hoje já temos mais de 140
artesãos, incluindo sete homens. Hoje
existem 16 núcleos de produção, em 23
fazendas”. Para que as artesãs possam
mostrar seu talento na arte das costuras
e bordados, a Cemig adquiriu toda a in-
fraestrutura necessária: 24 máquinas de
costura e uma máquina de tear, além de
materiais como tecidos, agulhas, linhas e
tabuas de passar roupa, entre outros.
A primeira feira realizada com os
produtos das artesãs aconteceu em de-
zembro de 2009. Desde então elas expu-
seram seus trabalhos na Agriminas, na
serraria souza Pinto, em BH; Grão Mo-
gol; Leme do Prado, Janaúba e Montes
Claros. Em dezembro passado voltaram
a expor no hall da sede da Cemig, em
Belo Horizonte.
Uma das campeãs de venda na feira
foi a artesã Maria do Carmo Alves souza,
que costura desde pequena e hoje man-
tém um pequeno ateliê em sua casa, em
Aricanduva. Por meio do convênio Ce-
mig-Emater ela fez dois cursos de cos-
tura, em Capelinha, e aprimora cada vez
mais o seu trabalho. “Aprendi muita coisa
que não sabia. Estou no grupo há cinco
anos e adorei participar da feira”, diz ela,
que faturou mais de r$ 1.200, entre ven-
das e encomendas.
A coordenadora Cléa Venina destaca
a importância do aprendizado para as
artesãs. “O forte no trabalho delas é o
bordado, uma tradição secular no Jequi-
tinhonha, e agora elas estão aprendendo
novas técnicas, como crochê e bainha.
é um valor agregado, que faz com que
elas conheçam e dominem todas as eta-
pas do que fazem”, explica.
O forte no trabalho delas é o bordado, uma tradição secular no Jequitinhonha. Agora, aprendendo novas técnicas, elas vão agregar valor à arte que produzemCléa Venina, coordenadora do projeto na Emater
“
”
Na comunidade de Muquém, em
Janaúba, várias artesãs começaram a
trabalhar os bordados utilizando a fibra
de bananeira, uma tradição da região.
Em Cristália, na fazenda Chácara, tam-
bém já havia essa cultura de utilizar o ca-
pim natural da região.
Maria do Carmo souza também do-
mina essa técnica. “Entrei para o grupo
quando souberam que eu sabia costurar
com essas fibras, como a fibra de bana-
neira e a palha de milho”, lembra.
Terezinha soares Neves, moradora da
fazenda riacho da Porta, também faz uso
da fibra nos bordados. “A gente faz borda-
dos, bolsas e baús com fibra de banana.
Eu adoro fazer parte desse grupo de arte-
sanato, me sinto realizada”, completa.
A coordenadora Cléa Venina explica
que os jovens representam metade do
total de artesãs vinculadas ao projeto.
são filhas, noras e sobrinhas das reassen-
tadas, que vão aprendendo os segredos
dessa arte e preservando essa cultura.
E o interesse em participar é crescente
entre as mulheres das fazendas.
“quando elas veem uma vizinha
retornando de uma feira ou exposição
com dinheiro no bolso, querem aprender
a técnica também. A geração de renda
torna-se um grande impulso para esse
aprendizado”, diz ela.
MArIA DO CArMO sOUzA, qUE UTILIzA FIBrAs DE BANANEIrA E MILHO
Outras fibras também são utilizadas
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Com as mãos na máquina e os pés na roça
OFICINAs ACONTECErAM EM FrANCIsCO sÁ, JAÍBA, CAPELINHA E TUrMALINA
No último semestre, foram realizadas
novas oficinas com os grupos de artesa-
nato. As artesãs aprendem técnicas de
criação de desenhos e transformação em
riscos. “Nos novos cursos foram desenvol-
vidas a combinação de cores, formação de
preço e a gestão dos recursos, uma prepa-
ração importante para a emancipação de-
las como artesãs, já que o convênio entre
a Emater e Cemig não será eterno”, lembra
Cléa Venina.
Além dessas oficinas, será realizada
uma missão técnica em Itamarandiba para
garantir a transferência de conhecimento às
artesãs sobre as técnicas para a produção
de rendas com bilros. O saldo de todo esse
trabalho desenvolvido poderá ser apreciado
no lançamento de uma coleção e, em se-
guida, um catálogo, que vai retratar toda a
história dos artesãos, sua cultura e os pro-
dutos elaborados por eles.
Na fazenda Fartura, Marisa Teresa da
Paixão também integra o grupo de artesa-
MArCIONÍLIA DA FAzENDA VELHO TExAs: PAssATEMPO E DIsTrAÇÃO
nato local. “Já ganhamos uma máquina da
Cemig, e as reuniões são aqui em casa.
A gente se reúne, sob orientação da Dul-
ce, da Emater, e depois as mulheres levam
suas tarefas pra fazer em casa. Tem sido
muito bom, porque a gente não tinha essa
cultura na terra de origem. E está dando
renda: desde 2009 já vendemos várias
peças, o que é um incentivo a mais para
as mulheres das famílias”, diz ela.
Novas oficinas trazem inovação e design ao trabalhoNos últimos meses, foram implemen-
tadas novas oficinas com os grupos de
artesanato. As artesãs aprendem técnicas
de criação de desenhos e transforma-
ção em riscos. “Nos novos cursos são
desenvolvidas a combinação de cores,
formação de preço e a gestão dos recur-
sos, uma preparação importante para a
emancipação delas como artesãs, já que
o convênio entre a Emater e Cemig não
será eterno”, lembra Cléa Venina.
Além dessas oficinas, mais três cur-
sos serão ministrados, com uma inovação
importante: a presença de um profissional
de design. O saldo de todo esse trabalho
desenvolvido nos cursos poderá ser apre-
ciado no lançamento de uma coleção e,
em seguida, um catálogo, que vai retratar
toda a história dos artesãos, sua cultura e
os produtos elaborados por eles.
A gente faz tudo com muito carinho
e dedicação, e o resultado é que nem
A gente era posseiro, não tinha uma terra nossa. Aqui existe uma associação, organização. Temos acompanhamento técnico da Emater
Terezinha Neves
“
”
vemos o tempo passar.
é uma satisfação enorme
fazer parte disso”, afirma.
Terezinha Neves faz do
artesanato um momento
prazeroso. Ela conta que,
antes, em sua terra de
origem, não havia nada
disso, apenas a preocupa-
ção com a sobrevivência.
“A gente era posseiro, não
tinha uma terra nossa.
Aqui existe uma associa-
ção, organização. Temos
acompanhamento técnico
da Emater, na lavoura e
nesse projeto do artesa-
nato. A vinda pra cá foi
uma transformação na
vida da gente”, diz, emo-
cionada.
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Uma técnica de bordado rara e
delicada corre o risco de se perder
em Minas Gerais, por falta de artesãs
dispostas a aprendê-la. A renda feita
com bilros (pequenos bastões de ma-
deira, com as pontas alargadas como
uma pêra) é difícil de ser executada
e requer tempo e dedicação. Mas na
fazenda Terça, próxima à Itamarandi-
ba, no Jequitinhonha, Dona Iva Nunes
Barbosa sustenta a tradição com paci-
ência, bordando belas rendas para en-
feitar lençóis, toalhas de mesa e outros
panos. Ela aprendeu a técnica, ainda
pequena, com sua mãe. Mas foi a úni-
ca da casa que se interessou.
“Minhas irmãs não quiseram apren-
der. Em uma semana, eu peguei o jei-
to de fazer. Desde criança eu fazia a
renda e vendia, e com o dinheiro com-
prava o pano para minha mãe fazer as
roupas que a família usava. E não tinha
máquina de costura não, era tudo feito
à mão”, lembra ela.
Depois que se casou, D. Iva ajudou
a criar os filhos com o dinheiro da ven-
Bilro: uma cultura rara que pode acabar
D. IVA BArBOsA, qUE BOrDA rENDAs EsPECIAIs.
da dessas rendas. “Eu fiz todo o meu
enxoval de casa à mão. Todos os meus
filhos, inclusive os homens, sabem te-
cer e fiar o algodão. Mas para bordar
no bilro ninguém se interessou, porque
realmente dá trabalho”, explica. Ela se
preocupa com a continuidade dessa
tradição. “Em Minas eu não conheço
ninguém que trabalha com bilro. é
difícil, mas os mais novos poderiam
aprender e passar pra frente, senão,
na hora em que eu não existir mais,
acabou”.
Há dois anos ela passou a partici-
par do grupo de artesanato da fazenda
Fartura, mas por dificuldades de loco-
moção, costura e borda em casa. “Meu
sonho é ter uma máquina de costura
para me ajudar”, conta a bordadeira.
Para a exposição no final de 2011,
na sede da Cemig, Dona Iva pensa em
fazer mais peças. “quero começar a
produzir mais cedo, sem pressa, e le-
var mais peças para Belo Horizonte”,
diz ela, que hoje trabalha em casa sob
encomenda.
A renda de bilro é um dos
trabalhos mais difíceis e finos,
podendo levar meses para o de-
senvolvimento de uma só peça,
de acordo com o seu tamanho.
A renda é bordada a partir dos
bilros, onde são amarrados os
fios. Para constituir o desenho,
a bordadeira utiliza uma almofa-
da onde é pregada uma folha de
papel com o desenho-base, com
alfinetes seguindo o traçado que
deve compor.
A rendeira entrelaça os
fios em torno dos alfinetes
com o auxílio de bilros, que
são sempre utilizados aos pa-
res. Trabalhos mais complexos
podem requerer de 14 até mesmo
20 pares de bilros ao mesmo tempo,
o que exige uma grande habilida-
de por parte de quem executa a
técnica.
“Eu conheço, mas não posso
dizer que eu aprendi. A coisa é
complicada. A Dona Iva teve aqui
e me ensinou alguns pontos, mas
não é fácil não”, admite Maria do
Carmo.
sabe-se que a renda de bilro
tem suas origens na Europa, mais
precisamente na Itália, e também
nos Países Baixos (Bélgica), du-
rante o século xVI. Foi levada
também à França e dali chegou à
Portugal e à Inglaterra. Os portu-
gueses, durante a colonização, a
trouxeram ao Brasil.
Trabalho pode levar meses de bordado
BILrO TEM OrIGEM NA EUrOPA DO séCULO xVI.
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Na fazenda Araras, reassentamen-
to na margem esquerda da Usina,
Celso Gomes dos santos mora em sua
casa com a esposa. Ele diz que a vida
hoje é bem mais tranqüila do que na
origem, onde não tinha sossego para
garantir o sustento da casa. “Eu tinha
que sair para trabalhar nos canaviais
do interior paulista. Abandonava a
plantação, e quando voltava tinha que
começar tudo de novo. Aqui a vida é
outra, porque eu tenho a minha terra e
não preciso sair dela para sobreviver”,
conta, satisfeito.
Ele morava em Barra de são João,
na comunidade de José de Barros,
Norte do Estado. “Antes era tudo na
enxada. Agora eu passo um trator, pre-
paro a terra melhor e com mais faci-
lidade”. Celso também está atento às
oportunidades que a nova vida oferece.
“Já peguei crédito no Pronaf (Programa
Nacional de fortalecimento da Agricul-
tura Familiar) para fazer um tanque e
alimentar melhor os meus bois. Com
esse dinheiro quero também melhorar
meu gado, que hoje é muito mistura-
do”, explica.
Assim como Celso, os reassenta-
dos de Irapé têm à disposição toda
uma infraestrutura de programas e
CréDITO NO PrONAF PArA FAzEr TANqUE E ALIMENTAr O GADO.
JOÃO CArLOs rODrIGUEs, GErENTE DA EMATEr: INFrAEsTrUTUrA
Outra fonte de benefícios é o pro-grama estadual Minas sem Fome, que distribui sementes, mudas de frutíferas, caixas de abelhas e mate-rial agrícola e beneficia atualmente 28 associações de reassentados. E o Programa de Combate à Pobreza no Meio rural (PCPr) disponibiliza re-cursos para fábricas de farinha e de processamento de rapadura; compra de trator e outros equipamentos agrí-colas, além da roda d’água, sistema que ajuda a baratear o abastecimen-to de água. Até agora, 232 famílias já foram beneficiadas.
“Tudo isso contribui para diminuir o impacto da mudança”, diz o geren-te geral da Empresa de Assistência Técnica e Extensão rural (Emater) no convênio com a Cemig, João Carlos rodrigues. De acordo com ele, o ór-gão preparou, no início do programa de reassentamento, um plano de de-senvolvimento sustentável que hoje permite aos reassentados uma vida melhor do que tinham na origem. Os reassentados foram estimulados a se organizar através de associações e contam com toda a assistência da Emater. Cada uma reúne várias fa-zendas. Hoje existem 28 delas, 14 em cada margem da represa. Por meio das associações eles podem buscar informações sobre políticas públicas, para que as famílias pos-sam se beneficiar desses programas governamentais.
Sustentabilidade abriu novos caminhos
Convênios e programas ampliam renda das famílias
apoios que os permitem ampliar o sis-
tema de sustentabilidade para suas
famílias, aumentando a geração de
renda. O Pronaf – que é oferecido pelo
Instituto Nacional de Colonização e
reforma Agrária (Incra) – oferece em-
préstimos de até r$ 16.500, com juros
baixos e carência de até dez anos para
pagar, com 40% de desconto para
prestações em dia.
CELsO: ANTEs ErA TUDO NA ENxADA.
Eu tinha que sair para trabalhar nos canaviais do interior paulista. Abandonava a plantação, e quando voltava tinha que começar tudo de novo. Aqui a vida é outra, porque eu tenho a minha terra...
Celso Gomes dos Santos
“
”
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O reassentamento de Irapé é hoje um modelo para todo o país. Todos os moradores das terras inundadas pela represa puderam escolher, entre três fa-zendas, qual seria o local mais adequa-do para a futura moradia. Além de rece-berem muito mais terra do que tinham nas comunidades de origem, eles se mudaram para uma casa já construída, com água encanada e energia elétrica. E muitos posseiros, que apenas traba-lhavam na terra, sem direito de posse, receberam terras no reassentamento.
Esse é o caso de Odair Machado Martins, que morava na fazenda Ca-choeira, nas proximidades de Cristália, no Norte de Minas. Ele conta que, na
Reassentamento é modelo para o país
ODAIr MACHADO MArTINs: DE POssEIrO A PrOPrIETÁrIO
APÓs ADAPTAÇÃO À NOVA TErrA, PErCEPÇÃO DE NOVA FAsE.
O trabalho de integração das famílias ao novo local de moradia foi iniciado ainda em 2002, quando os reassentados ainda moravam em suas terras de origem. Em 2005 tive-ram início as mudanças, e cinco anos depois, a percepção é de que um ciclo se fechou e uma nova fase se inicia.
“O que se percebe é que nós estamos colhendo o que plantamos nesses anos que se passaram. Pode-mos notar uma tendência das asso-ciações de caminhar com as próprias pernas. é como se, no início, eles estivessem na pré-escola, passa-ram pela graduação e hoje estão na
região onde vivia, o acesso era mui-to difícil. “A gente lutava apenas para sobreviver, não tinha como planejar a vida”. Hoje, instalado na fazenda Ara-ras, ele tem casa, luz elétrica e todas as condições para prosperar no trabalho. “Antes, eu trabalhava como vaqueiro, nas terras dos outros. Não tinha nada. Hoje eu trabalho pra mim, e já cheguei a ter 16 funcionários por minha conta na carvoaria. só com essa história não pre-cisa dizer mais nada”, diz ele, enquanto sorri de satisfação.
Ele diz que, nas condições em que vivia antes, era impossível pensar em melhorar de vida. “quando o lugar ofe-rece possibilidades, a vida se transfor-
Autonomia é o retrato de uma nova fasepós-graduação”, exemplifica o enge-nheiro de meio ambiente da Cemig, Márcio rodrigues Correa.
De acordo com ele, isso fica de-monstrado pela diminuição da quanti-dade de demandas das comunidades. “No começo haviam muitas reclama-ções corriqueiras, problemas que eram da atribuição deles mesmos, mas que não tinham iniciativa para resolver. Hoje fica claro que eles estão buscan-do caminhar com as próprias pernas”, define.
O engenheiro conta que, se a pri-meira fase foi de mudança e integração e, em um segundo momento, houve o
período de adaptação, o que se perce-be hoje é que o trabalho da Cemig e da Emater encontra-se em um nível de as-sistência técnica mais elevada, de um aprimoramento de tudo o que foi feito.
“Os reassentamentos já têm sus-tentabilidade, são viáveis. Um exem-plo típico dessa nova fase é o projeto de artesanato, que elevou a auto-esti-ma não só dos reassentados, como também dos técnicos da Emater. O programa deu certo, porque, além de resgatar uma cultura tradicional da região, trouxe novas perspectivas para as famílias, com a geração de renda”, acrescenta Correa.
ma. Hoje eu tenho 50 cabeças de gado e tiro em média 70 litros por dia, que são vendidos a uma cooperativa em Montes Claros”, completa.
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ExPEDIENTEPublicação da Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais – Av. Barbacena, 1.200 – santo Agostinho – Belo Horizonte/MG – CEP: 30.190-131 –
Telefone: (31) 3506-3996 – Jornalista responsável: Luiz Michalick – reg. Nº 2211 – sJPMG – Gerência de Comunicação Interna e de relacionamento
com a Comunidade – redação: Paulo Boanova – Edição: Marcelo Micherif – Projeto Gráfico: Técnica Composição e Arte – Impressão: Gráfica e
Editora 101 – Tiragem: 4.000 exemplares.
A melhor energia do Brasil
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O uso de plantas medicinais como
uso terapêutico já é bem conhecido no
Brasil e em várias partes do mundo. O
Norte de Minas Gerais e o Vale do Je-
quitinhonha são regiões com flora rica
e diversificada, o que gerou um projeto
para se utilizar essas plantas com fins
medicinais, curando pequenas do-
enças. “Os reassentados colhem as
plantas, que são beneficiadas para a
produção de xaropes para dor de ca-
beça e diarréias, pomadas cicatrizantes
e até xampus”, explica o coordenador
da Emater, João Carlos rodrigues. O
projeto das Plantas Medicinais – um
convênio da Emater com a Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG) – já
beneficia 12 fazendas de reassentados,
nessa primeira etapa.
A fazenda Bela Vista, em Ponte Pe-
quena (margem esquerda da Usina) se
destaca no projeto. Os reassentados
Plantas curam doenças e geram receitas
já comercializaram seis toneladas de
barbatimão para uma indústria paulis-
ta. A planta é conhecida por combater
inflamações e acelerar a cicatrização.
é muito empregada no tratamento de
gonorréia, hérnia, diarréias, gastrite,
dores de garganta e hemorróidas. No
total, 13 associações de reassentados
participam do projeto, o que beneficia
dezenas de fazendas.
“Vários produtores rurais, em conta-
to com pesquisadores da UFMG, têm
aperfeiçoado seu conhecimento no
manejo dessas plantas medicinais nas
fazendas. Além da sua eficiência em
moléstias nos seres humanos, elas são
muito úteis no combate aos vermes e
controle de carrapatos no gado”, afirma
o coordenador técnico de meio ambien-
te da Emater, sérgio Azevedo, que co-
ordena o trabalho na margem esquerda
de Irapé.
PLANTAs sÃO ÚTEIs NO COMBATE A VÁrIAs MOLésTIAs
Bolsa Verde: preservação
e rendaAlém da rede de convênios que fa-
cilita a vida do reassentado e gera ren-da para as famílias, outro programa vai ajudar a melhorar a vida dos moradores das fazendas: o Bolsa Verde. O progra-ma, desenvolvido pelo Governo do Es-tado, está voltado para a preservação do meio ambiente e oferecerá r$ 200 anuais por cada hectare preservado nas terras das fazendas.
Mais de 245 famílias de reassen-tados de Irapé já se cadastraram no programa, e no momento aguardam a análise dos cadastros por parte do Ins-tituto Estadual de Florestas (IEF), órgão em que foi criado o comitê de gestão do Bolsa Verde.
Arca das Letras amplia conhecimento
Incentivar a leitura e garantir o aces-so ao conhecimento, desenvolvendo esse hábito entre crianças e jovens. Esse é o objetivo do Arca das Letras, um projeto do Ministério do Desenvol-vimento Agrário voltado para o meio rural. Pequenas bibliotecas são insta-ladas nos reassentamentos, com livros variados, que incluem temas de interes-se para todos os gostos.
As arcas têm o mesmo funciona-mento de uma biblioteca. Os livros são classificados por áreas e identificados por cores. Jovens e adultos se cadas-tram e podem solicitar os livros por em-préstimo para ler em casa, desfrutando do prazer da leitura por meio das obras de grandes autores.
Atualmente, 31 associações de re-assentados de Irapé já têm bibliotecas instaladas nas fazendas. Cada Arca disponibiliza cerca de 200 títulos, que oferecem de tudo: livros didáticos e de pesquisa, literatura infantil, dicionários e livros técnicos. As associações par-ticipam do processo de instalação das Arcas das Letras, treinando voluntários para trabalhar nas mini-bibliotecas.
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