mais vale um toque retal do que um câncer mortal - paulo gracino
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Paulo Gracino
CORDEL – 2015
PAULO GRACINO
CORDEL
MAIS VALE UM TOQUE RETAL
DO QUE UM CÂNCER MORTAL
GUARABIRA – PB 2015
Literatura de Cordel 60 estrofes – septilhas Mas vale um toque retal do que um câncer mortal 1ª Edição - 2015 Autor: Paulo Gracino Capa: Paulo Gracino – Infogravura Formato: PDF
CORDEL
MAIS VALE UM TOQUE RETAL DO QUE UM CÂNCER MORTAL
Paulo Gracino
O tema deste cordel Tem valor essencial.
É sobre exame de próstata, Famoso toque retal,
Narrando um fato vivido Por um homem prevenido
Contra o câncer do mal.
Todo homem que completa Quarenta anos de idade
Deve perder o pudor, Partir pra realidade,
Fazer o bendito exame, Mesmo passando vexame
Perante a sociedade.
A história é de um homem Que se diz ali-viado,
Porque foi recentemente Deste mal examinado,
Por um bom proctologista, Deixando, logo, uma pista
Do assunto abordado.
Quero logo adiantar Que, aqui neste cordel, Irei cometer uns erros, Sendo um pouco infiel
À nossa ortografia, Brincarei com ousadia,
Mas cumprirei meu papel.
Porque como um poeta, Quero é poetizar.
Usarei minha licença No processo de criar,
Mas como o assunto é sério Não farei muito mistério,
Pra melhor dialogar.
Irei por algumas vezes Usar a língua vulgar,
Abordando expressões Da cultura popular,
Pra chamar mais atenção Pra o tema em questão, Duro de compartilhar.
Porque tem gente que faz Mas não fala pra ninguém, Talvez por pura vergonha
E por recato também. Por isso que vou ousar, Versejando irei rimar
2---------------O discurso que convém..................................
Quando eu for falar de ânus Pra rimar neste cordel,
Por exemplo, usarei Termos como carretel, Boga ou mesmo furico, Assoprador de penico,
Rodoviária e anel.
Esses são alguns sinônimos Que o vaso excretor
Ganhará neste folheto Sem denegrir seu valor.
Jamais falarei em cu, Mas não vou narrar pra tu Na linguagem do doutor.
Eu irei sempre alertar
Chamando a sua atenção Pra importância do tema,
Pra nossa população Masculina, que enfrenta A vida após os quarenta Com base na prevenção.
Este é o mal dos homens E mata por preconceito, Porque o cara machista
Sempre vai achar um jeito De fugir sem levar dedo,
Sendo às vezes só por medo .............................Ou achando desrespeito. ---------------3
Por isso, se o cara é macho Não deve fugir da luta,
Deve fazer o exame Sem ferir sua conduta,
Fazer como meu amigo, Que enfrentou o perigo
Sem se tornar prostituta.
Ele disse que agüentou A dedada no anel.
Parecia quebrar todas As pregas do carretel,
Mas vou contar detalhado, Pra que fique explicado, Tudo em rima de cordel.
Antes vou esclarecer Onde isto aconteceu,
Porque o fato é verídico, Sendo ele amigo meu. Aliás, é meu vizinho,
Que contou bem direitinho Como tudo aconteceu.
Isto foi em Guarabira,
Cidade paraibana, Mas existe um detalhe
Que vou narrar bem bacana, Antes que eu possa esquecer,
Irei logo descrever 4----------------De uma forma bem sacana..............................
Guarabira só tem um Médico que faz este exame
E o constrangimento é certo, Mesmo que a gente reclame,
Pois o doutor já conhece E afirma que não esquece Quem já passou o vexame.
Ou seja, só um doutor
Pra toda população Masculina com idade
De passar por seu dedão Desde a primeira vez
Até quem vira “fre-guez”, Andando na contramão.
Por isso volto à história Que meu amigo contou,
Descrevendo alguns detalhes Que ele compartilhou,
Sendo quase um relatório, Antes e pós-consultório, Tudo que viu e passou.
Antes de ir pra consulta
Resolveu telefonar Pra sede do consultório Como intuito de marcar. A moça disse educada:
- É por ordem de chegada, Não se pode demorar. --------------5
Ele sequer perguntou, Mas a moça educada
Falou-lhe que o doutor Já tinha hora marcada
Pra depois das nove e meia, Ficando a sala bem cheia
Antes da sua chegada.
Era oito da manhã, Depressa se arrumou,
Foi-se embora ao destino, Chegando lá se assustou
Ao ver na recepção Uma grande multidão
Que antes dele chegou.
Veja o que ele me disse: - Eu fiquei desconfiado
Quando vi aqueles homens No ambiente lotado,
Parei num canto encolhido Pra não ser reconhecido,
Pois estava envergonhado.
Mas lembrei de que ali Todo mundo ia fazer
A mesma coisa que eu Sem precisar esconder,
Já que num proctologista Ninguém precisa de pista
6----------------Pra precisar entender...............................
Em meio àquele silêncio Sobrava observação.
Cada um olhava o outro Na mais pura descrição.
As conversas que surgiam Aos poucos se desfaziam
Sem haver agitação.
Aguardei observando O rosto de quem saía, Olhando a expressão
Pra ver se aquilo doía. Notei ser constrangedor,
Mas não sei se era dor. Só sei que ninguém sorria.
A cada um que saía
Uma voz logo ecoava: - Entre o próximo, por favor.
E aquilo incomodava Eu fui ficando suado, Nervoso e atordoado,
Com isso o tempo passava.
Quando chegou minha vez Deu trabalho levantar,
As pernas tremiam tanto Que nem gosto de lembrar.
Quando entrei, disse o doutor: - Bom dia nobre senhor!
Faça favor de sentar. ----------------7
É sua primeira vez Aqui no meu ambiente.
Pode ficar à vontade, Como todo paciente.
Está sentindo algum mal? Vamos pro toque retal Pra ver se está doente?
Não era que o danado Conhecia todo mundo,
Macho com mais de quarenta, Dando um desprazer profundo.
Disse, para meu desgosto: - Posso esquecer seu rosto,
Mas lembrarei do seu fundo.
Pediu pra tirar a roupa E de bruços me deitar.
Depressa calçou as luvas E eu querendo espiar.
Disse para não ter medo, Depois afiou o dedo
E mandou-me relaxar.
Como eu ia relaxar, Naquela situação,
Deitado e desprevenido, Sem nenhuma proteção. Eu só rezava pra Deus, Olhava pros dedos seus
8------------------Pra ver se tinha dedão.................................
Fechei os olhos e trinquei Os dentes severamente, Só senti algo entrando,
Quando vibrou, de repente, O celular do doutor.
Pra ser mais constrangedor, Ele atendeu sorridente.
Era outro paciente
De um distrito vizinho Que chegara à cidade,
Mas não sabia o caminho. O doutor foi explicando,
Com o dedo gesticulando, Sem tirar do buraquinho.
- Saia da rodoviária Que você vai avistar
Uma rua em linha reta. Nela, pode caminhar...
Dobre à esquina primeira, Siga por dentro da feira...
E eu me pus a gritar:
- Seu doutor faça um favor! Fale pra esse sujeito Pegar um táxi que eu Pago muito satisfeito.
O senhor vai me estuprar! Pare logo de explicar
O caminho deste jeito. -----------------9
Aí ele se tocou E foi o dedo tirando,
Desligou o celular E a conversa terminando.
Aquela parte encerrou. Nenhum mal ele encontrou,
Aí, fui-me ali-viando.
Pediu para me vestir, Pois havia terminado,
Depois de todo processo. Como sempre, educado.
Disse pra mim um segredo: - Eu nunca meti o dedo
Num boga tão arrumado.
Isso foi de arrepiar, Senti-me um depravado.
E ele ainda disse mais, Pra me ver ali-viado:
- Qualquer coisa é só voltar, Não precisa se acanhar,
Será sempre bem chegado.
Agradeci-lhe, dizendo Que eu iria rezar
Pra todo tipo de santo, Que pudesse conservar O meu parreco sofrido, Que saiu todo ardido
10-----------------Daquele triste lugar...................................
Foi aí que eu abri A porta pra ir embora, Já meio desnorteado,
Quando vi o povo fora, Olhando para meu rosto,
Batendo um grande desgosto. Foi bem triste aquela hora.
Eu até ia saindo
Sem o exame pagar, Mas a moça me chamou
Somente para cobrar. Eu achei inoportuna,
Pois paguei uma fortuna Pro doutor me bulinar.
Vi que o povo da sala
Olhou-me desconfiado, Mas depressa fui saindo
Numa porta, assim, do lado, Quando cruzei o portão,
Pus meus pés firmes no chão, Muito mais ali-viado.
Estava fora do prédio,
Mas a sensação mantinha, De que todos me olhavam Fazendo alguma gracinha. Depressa fui me afastando,
Pela rua caminhando, Andando sempre na linha. ------------11
Até eu chegar em casa Foi longo o estirão.
No povo que eu conhecia, Dei muito aperto de mão. Senti-me mais humorado,
Pois estava ali-viado, Após muita aflição.
Eu sei que ninguém sabia Para aonde eu tinha ido. Não disse para ninguém,
Nem estranho ou conhecido, Mas a minha impressão
É que toda multidão Já havia percebido.
E quando eu cheguei em casa,
Que adentrei ao portão, Minha mulher me abraçou
Com aquele sorrisão. Perguntou-me se gostei. Confesso que até chorei
Com tamanha humilhação.
Mas aí fui refletir: - Porque me envergonhar?
Afinal me preveni E voltei para o meu lar, Vindo a minha patroa
Receber-me numa boa, 12-----------------Pronta para me amar...................................
Afirmo isso porque Pior eu sei que seria
Se eu não tivesse mulher, Pra me fazer companhia.
Pois quem passa dos quarenta Sem casar, o povo inventa
Um monte de heresia.
Nisto este meu vizinho Já falava relaxado, Dialogava comigo
Muito despreocupado, Muitas vezes até brincava Com tudo que comentava,
Parecendo ter gostado.
Esta história é a dele, Que parece até cruel, Mas tem tantas por aí
Sem ser contada em cordel, Ficando pra nós a voga:
Melhor um dedo no boga, Do que câncer no anel.
Eu sempre conto esta história
Pra poder incentivar Aquele que sente medo
E insiste em adiar O velho toque retal, Um exame tão banal
No buraco de cagar. -------------------13
É questão de consciência, Ou é coisa cultural.
O exame é muito simples, De valor descomunal.
Depois que faz o primeiro Até fica rotineiro,
Virando algo normal.
Até já ouvi falar De homem acostumado,
Que inventa uma desculpa Para ser examinado
Todo dia ou toda hora, Pois não aguenta a demora
Do prazo determinado.
Tem outros causos que giram Em torno desta questão.
Por exemplo, bem recente, Um amigo, quase irmão, Veio aqui me perguntar Se eu quero participar
De uma grande promoção.
A promoção é bem simples E fácil de entender.
Se eu for com meu amigo No consultório fazer
O exame em promoção, Ele ganha um descontão
14----------------E eu nada vou perder..................................
O desconto é bem legal, Mas não achei atrativo.
Até eu imaginei, Neste exame preventivo,
Levar uma multidão E fazer na promoção Um exame coletivo.
Imagine numa sala
Todo mundo peladão, Um vendo o frasco do outro,
Querendo passar a mão, Tendo que se prevenir, Porque já pode existir
Um de olho em seu oitão.
Mas eu deixo a promoção Pra quem vai se examinar,
Mas quem fizer o exame E quiser compartilhar,
Traga a sua experiência, Pois Cordel é a ciência
Da cultura popular.
Quem não fez este exame, Um dia irá fazer.
Seja mais cedo ou mais tarde, Isto irá acontecer.
Seja um homem prevenido, Faça e fique garantido
Sem ter risco de morrer. ---------------15
Mas como eu já falei E volto pra reforçar,
Todo homem que é homem Não deve se intimidar.
Vá logo ao proctologista, Passe o caneco em revista, Deixe quem quiser falar.
FIM
Paulo Gracino - 2015
Algumas obras do autor
90 anos de encantos de um Pavão Misterioso; O memorial Frei Damião, o romeiro e a fé; A História na visão de um pervertido sexual; O jeitinho brasileiro; Reflexões de um mendigo; Vote no gari; O trabalho feminino no início da República
brasileira; Pruquê batê in mulé qui naisceu só prá amá?; Uma professora muito maluquinha (Ziraldo); Educação no Brasil: A História das rupturas; “Independência ou morte”, Pedro Américo; A História das Sensibilidades; A origem do universo e a sua evolução; O papel do educador e do currículo escolar do
século XXI;
Sobre o autor
Paulo Gracino é um poeta paraibano, nascido a 24
de fevereiro de 1969 na cidade de Guarabira, onde
reside até os dias atuais. Formado em História e Serviço
Social. É casado com Rosângela Gracino e trabalha na
Prefeitura de Guarabira, exercendo a função de pintor
artístico e publicitário. Publicou em junho de 2013 o seu
primeiro cordel - 90 anos de encantos de um Pavão
Misterioso - em comemoração ao aniversário da obra de
José Camelo de Melo Resende, publicada em 1923, “O
Romance do Pavão Misterioso”. Vencedor do Prêmio
Literário Augusto dos Anjos da FUNESC, versões 2013 e
2014, com as obras “A História na visão de um pervertido
sexual” e “Universo Nordestino”.
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