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MALEFÍCIOS

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Os Malefcios, Fora e EficciaFilosofia e ReligioPreocupado de S. Paulo:Que so malefcios ? Quais os meios de que dispomos para evit-los e combat-los ? Tendo em vista as duas partes da questo, trataremos abaixo da natureza e das prticas do chamado malefcio; a seguir, procuraremos avaliar a eficcia do mesmo, acrescentando, por fim, uma palavra sobre a mentalidade que o malefcio pressupe.1. Que so malefcios ?1) Os malefcios constituem uma arte que pretende obter, de maneira mais ou menos irresistvel, a colaborao de foras invisveis (espritos) a fim de acarretar algum dano ao prximo.Na verdade, a arte dos malefcios no seno um setor da tcnica mais ampla chamada magia.2) Que seria ento a magia ?A magia o conjunto de prticas que visam de certo modo dominar a Divindade ou os espritos superiores, captando-os para servirem aos interesses dos homens. Em geral, a magia, onde ela exercida, fica reservada a pequeno grupo de peritos que vivem em sociedades secretas, dizem ter recebido especiais revelaes do Alto e se submetem a uma aprendizagem, terica e prtica, prpria; jejuns, provaes dolorosas, isolamento entram por vezes no programa de formao do mago. Certas realizaes da magia so frequentemente patrimnio exclusivo de tal ou tal famlia, pois, em grande parte, o sucesso do mago est baseado em determinada constituio fisiolgica e temperamental hereditria (isto j insinua que as prticas mgicas nada tm de sobrenatural, mas so fenmenos no raro derivados de reaes subconscientes e, muitas vezes, doentias do indivduo). O vocbulo Magia se deriva de Magos, nome de uma das seis tribos integrantes do povo dos medos. Essa tribo tinha significado religioso prprio, pois os seus membros, pertencentes talvez casta sacerdotal se opuseram a Zoroastro na sua obra de reforma da antiga religio do Ir (sc. VII/VI a.C.). Quando os persas, sob o governo de Ciro, se apoderaram da Mdia (550 a.C.) e da Babilnia (539 a.C.), os magos entraram em contato com a Prsia, a Mesopotmia e, a seguir, com a vasta rede territorial conquistada por Alexandre Magno da Macednia (+313 a.C.). A Babilnia tornou-se ento o cadinho de fuso da antiga civilizao oriental com a civilizao grega. o que explica a nova acepo que o ttulo de mago foi tomando no mundo greco-romano: tal nome, guardando o seu significado religioso, passou a designar os sacerdotes da religio babilnica, homens hbeis em prticas de ASTROLOGIA e adivinhao (cf. P. R. 16/1959, qu. 2); por isto o nome mago veio a ser tido como sinnimo de astrlogo, taumaturgo e feiticeiro. A magia hoje praticada nas mais diversas regies do globo, com modalidades e ritos muito variados, mas sempre inspirada pelo mesmo af de captar as foras superiores para servirem aos planos dos homens. Ela , em larga escala, explorada em nossos dias e no Brasil pela sociedade dita de Umbanda, onde os malefcios tomam o nome de despachos.3. Sejam aqui citadas algumas das prticas mais caractersticas da magia.A morte distncia, dizem os magos, pode ser provocada do seguinte modo: faz-se uma estatueta da pessoa de quem se deseja o extermnio, utilizando-se de preferncia os excrementos dessa pessoa ou (no sendo isto possvel) um pouco de barro, no qual o mago procura enxertar pedaos de unha, fios de cabelo, uma parte da esteira de dormir pertencentes vtima visada ou simplesmente um retalho de pano que haja tocado a pele desta. A seguir, o mago (tambm chamado mdium em algumas escolas) evoca foras malficas, pedindo a sua interveno; concentra seus pensamentos nas tribulaes e dores que deseja afetem o indivduo odiado e inflige esttua os ferimentos que ele intenciona causar vitima: caso queira atacar o corao e matar sem demora, finca um osso pontiagudo no suposto lugar do corao da esttua; caso deseje apenas fazer enlouquecer, na cabea da esttua que o mago mete a ponta de osso; se quer, antes, tornar o indivduo cego, visa os olhos; a fim de o tornar paraltico, mutila uma ou mais extremidades da esttua; para fazer morrer aos poucos, faz a esttua consumir-se lentamente em fogo...Semelhantes receitas podem ser utilizadas em vista de finalidades menos sinistras, ou seja, para obter o amor ou conquistar a simpatia de algum. No primeiro caso, esfrega-se a estatueta do homem ou da mulher que se deseja, com pimento, banhando-se a mesma depois em leo de palmeira; no segundo caso, a efgie encerrada entre as duas metades de um galo branco recm-morto. Virglio, na sua cloga VIII, narra o processo aplicado a uma esttua que representava Dafnes; feita de gesso e cera, a imagem foi colocada no fogo, a fim de que, em consequncia, o corao do jovem Dafnes fosse amolecido como cera em relao donzela que praticava o rito, e endurecido como gesso frente a todas as demais mulheres...Para obter um sucesso na caa, os caadores primitivos no raro executavam, e executam, prviamente uma dana que pretende imitar as diversas fases da caada; durante tal rito, um deles permanece revestido da pele do animal que visam capturar. O cdigo da magia ensina que este cerimonial garante a queda da presa nas mos dos caadores que lhe forem ao encalo.Outras receitas tm por objeto o nome da pessoa visada. O nome segundo a mentalidade dos primitivos, faz parte integrante do respectivo indivduo, pois est em estreita relao com a essncia deste. Em consequncia, quem conhece o nome de determinada pessoa, pode influir sobre os sentimentos ntimos e a conduta da mesma; aplicando estes princpios, os magos, desejosos de prejudicar ou exterminar um adversrio, repetem o nome deste, mutilando ou suprimindo progressivamente letras e slabas; a destruio do apelativo assim efetuada deve acarretar a runa da personalidade nomeada... Para defender-se de tal ao mgica, muitos dos homens primitivos guardavam e guardam rigoroso sigilo com relao ao seu nome pessoal ou ao de famlias e entidades caras.Entre as aplicaes malficas da magia, goza de grande celebridade popular o mau olhado. Os temores em relao a este se baseiam na crena de que dos olhos de certos indivduos emana um fluido ou uma corrente qualquer capaz de prejudicar pessoas e coisas. Os latinos davam arte do mau olhado o nome de invidia (donde inveja em portugus), derivado do verbo in-videre (olhar contra); famosa ficou sendo a inscrio gravada no pavimento da taverna dos peixeiros em stia (Itlia), inscrio dirigida contra os maliciosos nos termos seguintes : Invejoso (tu, que lanas mau olhado), eis que te torno cego! (Reg. IV, ilha 5a.). Os gregos designavam a mesma arte pelo apelativo de bskanon, de etimologia incerta, do qual se derivou o termo latino fascinum (fascinao). No raro o mau olhado era acompanhado de uma frmula mgica cantada; em consequncia, essa tcnica tomou tambm o nome de encantamento. interessante notar que a famosa Lei romana das Doze Tbuas proibia explicitamente aos agricultores tentassem, por meio de mau olhado e encantamento, fazer passar para o seu prprio campo os frutos do campo do vizinho (Tab. VIII 1,8, Bruns); Virglio alude ao mau olhado que fascina os cordeirinhos (cl. VIII 99). A ttulo de curiosidade, seja notado que os romanos se procuravam defender dos efeitos nocivos de louvores exagerados (tidos como invejosos), trazendo consigo certa erva denominada baccar ou asarum; por vezes junto a essa planta colocavam mesmo a inscrio : Prae fiscisne, isto : Sem fascinao ! De talouvor no provenha mal! (cf. Srvio Ad Ecl. VII 27). Em geral, minerais e vegetais qualificados (o ouro, os corais, o mbar, a arruda, a sanguinria...) eram utilizados pelos romanos como elementos aptos para afugentar as consequncias do mau olhado.Entende-se. porm, que esses pretensos meios profilticos no libertavam o homem pago do medo dos malefcios. Haveria ento alguma sada satisfatria?2. A eficcia dos malefciosO fato de que os malefcios conseguiram tanta voga no mundo antigo e moderno deve-se inegvelmente obteno de resultados que a muitos homens parecem comprovar a eficcia das artes mgicas. No se poder negar que fenmenos surpreendentes se verificam em consequncia dos ditos encantamentos.Os povos pagos, reconhecendo isso, afirmavam e afirmam que tais portentos se devem realmente interveno dos espritos superiores evocados pelos magos.Os cristos, at o sculo XVII, rejeitando qualquer vestgio de politesmo, atribuam os malefcios cooperao direta do demnio ou dos anjos maus. Em consequncia, era comum, na Idade Mdia, falar-se, por exemplo, de bruxas, ou seja, de mulheres possudas e atormentadas pelo Maligno; julgava-se que, em reunies noturnas (sabs) celebradas nos bosques, os espritos malvados se associavam orgistica e impudicamente a tais criaturas, danando, comendo e deitando-se com elas. As trgicas calamidades desencadeadas pela fome, as guerras e as epidemias no perodo medieval concorriam para alimentar a crena na ao direta do demnio em meio aos homens. Verdade que os bispos e conclios da poca mais de uma vez procuraram combater a credulidade excessiva e simplria de que dava provas o povo cristo nesse setor: assim o concilio de Braga em 563 repreendeu os fiis que atribuam ao demnio poder sobre os fenmenos atmosfricos; S. Agobardo, arcebispo de Lio em cerca de 840, combateu essa mesma concepo na sua obra Contra insulsam opinionem de grandine et de tonitruis. O Papa S. Gregrio VII tomou semelhante atitude em carta dirigida ao rei Haroldo da Dinamarca (19 de abril de 1080). A lei dos francos chamada Canon episcopi, datada de fins do sc. IX negava a realidade dos fenmenos atribudos aos sabs das bruxas, dizendo tratar-se de invenes da fantasia de mulheres depravadas.Nos ltimos sculos os cronistas cristos se mostraram menos propensos a admitir intervenes diablicas e preternaturais para elucidar os efeitos extraordinrios dos malefcios e da magia. Hoje em dia, os telogos, utilizando novos conhecimentos fornecidos pelas pesquisas modernas de psicologia, parapsicologia e cincias naturais, j consideram toda essa fenomenologia de modo diverso e mais profundo. Eis como se exprimem a respeito:Os efeitos reais (exclua-se, portanto, o nmero no exguo dos prodgios meramente imaginrios ou inventados por mistificadores) produzidos pelos ditos malefcios se podem explicar por duas vias:a) ou so devidos ao direta do demnio (Satans e a coorte de espritos maus). Julga-se, porm, que esta ao direta rara ; est cada vez mais comprovado que os portentos da magia geralmente no so preternaturais, isto , no exigem a interveno de causa superior ao homem, mas, ao contrrio, se explicam muito bem pelas virtualidades da prpria alma humana. Donde a hiptese abaixo:b) ou so devidos a fatores parapsicolgicos, isto , a elementos naturais contidos no subconsciente do indivduo. Trata-se em tal caso (e, note-se bem, o caso frequente) de fenmenos paranormais (isto , no normais, no habituais, mas no necessriamente anormais), os quais podem ser desencadeados no indivduo por ao de um choque ou traumatismo psquico que impressione o ntimo da personalidade. Sabe-se que apenas uma oitava parte dos conhecimentos possudos pela alma humana aflora habitualmente conscincia, ficando sete oitavas partes no subconsciente; dado, porm, que, em virtude de um fator extraordinrio, estas noes latentes se manifestem, a personalidade do indivduo pode tomar aspectos muito variados e imprevistos. Tm sido mais e mais explorados os efeitos da radiestesia, do magnetismo, da letargia, do hipnotismo, assim como os fenmenos intitulados psi-gama (gama a primeira letra da palavra grega gnsis, conhecimento; trata-se do conhecimento distncia ou por via extrassensorial) e psi-kapa (kapa a primeira letra do termo grego knesis, movimento; trata-se da movimentao de corpos sem aparente contato direto do movente com o movido). Os mesmos fenmenos que magos, curandeiros e mdiuns provocam dentro de um ritual religioso, tm sido obtidos sem evocao de esprito algum, por tramite racional e cientfico o que bem demonstra no se tratar de fenmenos essencialmente preternaturais ou religiosos.No h dvida de que o demnio pode exercer e, de fato, no raro exerce ao indireta na pcao dos fenmenos parapsicolgicos, procurando corroborar nos magos e mdiuns a crena de que tais efeitos se devem a espritos superiores ; com isto Satans alimenta os erros religiosos que os autores de encantamentos professam. Em particular com relao a certas doenas, notrio que o Maligno as pode provocar no homem ( o que atesta o S. Evangelho, por exemplo, em Mt 9,32s; 12,22; 17,14-20; Lc 13,10-13). Tendo-as provocado, o demnio pode fazer que resistam ao de qualquer tratamento mdico, mas cedam finalmente aplicao de algum encantamento ou despacho mgico. Assim procedendo, o esprito mau vai fomentando a adeso s idias errneas dos magos e mdiuns...Assim elucidados os efeitos malficos da magia, pergunta-se: tais artes e encantamentos tero realmente a ao mais ou menos infalvel que lhes atribuem seus adeptos, de modo a dever assustar as pessoas visadas ?Em resposta, observe-se que os espritos malignos evocados pelos autores de malefcios so seres reais, sem dvida, dotados de inteligncia e capacidade de ao muito mais elevadas que as do homem. Contudo eles no podem exercer influncia alguma sobre as demais criaturas sem que Deus o permita explicitamente; a ao do demnio neste mundo fica estritamente subordinada aos desgnios do Altssimo.E Deus permitir que os espritos maus ajam sobre o homem ?Sim. O Senhor o permite. E permite-o segundo dias modalidades principais: a) Aos justos Satans pode atacar a fim de que se comprovem a f e o amor de tais homens a Deus; , sim, pela luta que o cristo se configura a Cristo. Esses ataques podem tomar propores de grande vulto (como no caso de uma doena ou de um desastre) ; mas saibamo-lo bem s so permitidos em vista de um efeito bom a ser obtido no homem tentado. E, para que este consiga realmente beneficiar-se do combate contra Satans, Deus lhe d a graa correspondente, nunca permitindo que o homem seja tentado acima de suas forcas. Caso, portanto, algum se considere vtima de um malefcio ou de um despacho, no julgue que o rito mgico foi por si eficaz para tanto (longe disto !), mas conclua que Deus, por ocasio da ao do mago ou mdium, houve por bem permitir tal efeito, outorgando simultaneamente a graa para que o indivduo atribulado usufrusse de todo o proveito espiritual resultante da sua situao.b) Sobre os pecadores Deus pode permitir que o demnio tenha influncia mais intensa, pois que tais homens habitualmente vivem em afinidade com Satans e em revolta contra Deus. Principalmente quando algum declara explicitamente travar um pacto com o Maligno ou vender sua alma ao demnio, o Senhor pode conceder a Satans que responda tomando posse dessa alma, seja de maneira visvel e veemente, seja de maneira invisvel; est claro ento que os malefcios e encantamentos dirigidos contra tal pecador podem ter certa eficcia, pois Deus poder permitir que o Maligno trabalhe mais livremente num indivduo que deseja sofrer a ao do demnio; note-se, porm, que mesmo neste caso a permisso de Deus ainda visa a cura espiritual (ou seja, um benefcio real) para o pecador.Diante destas consideraes o cristo concluir que ele no tem motivo algum para temer os encantamentos da magia ou os malefcios. Quem procura viver com Deus, como fiel catlico, sabe que nada poder prevalecer contra os seus verdadeiros interesses: Se Deus est por ns, quem ser contra ns?, pergunta vitoriosamente So Paulo (Rom 8,31). Verdade que o Senhor no prometeu eximir das dores e da cruz os seus filhos devotos; muito ao contrrio... (cf. P. R. 15/1959, qu. 6). O cristo conta mesmo com provaes que mais e mais o purifiquem das tendncias desregradas da natureza, mas pouco lhe importa saber se tais provaes provm de artes malficas ou no; em todo e qualquer caso, o filho de Deus tem certeza de que o Pai do cu quem rege os acontecimentos da sua vida, e no o demnio; sabe que ele depende de Deus, e no de Satans, de modo que, se no abandona espontaneamente o seu Salvador, pode estar seguro de que o Salvador no o abandonar: Para quem ama a Deus, Deus tudo faz cooperar para o bem, ensina de novo o Apstolo (Rom 8,28). Retomando uma comparao de S. Agostinho, alis muito conhecida, diremos que Satans como um co acorrentado que pode ladrar muito, sim, mas a ningum consegue fazer mal a no ser que algum espontaneamente se coloque sob a sua influncia.Procurem, pois, os homens viver na graa de Deus; fujam do pecado e dos vcios. E, fazendo isto, no duvidem de que nada, nada absolutamente, os impedir de chegar posse consumada do Bem Infinito!3. A mentalidade do magoPor ltimo, parece oportuna breve reflexo sobre a atitude religiosa que caracteriza a magia. Esta, embora conserve as aparncias de religio, significa decadncia ou aberrao do esprito religioso.Com efeito, a genuna religio leva o homem a implorar a Deus e se submeter a Ele num gesto de abandono humilde; o orante conserva a conscincia de que depende sempre do Altssimo, O Qual lhe outorga gratuitamente seus dons; , alis, nessa entrega total a Deus que o homem religioso v a realizao de si mesmo e de seu ideal. Ora o oposto se verifica na magia: o mago se separa da coletividade dos demais homens, julgando possuir cincia oculta muito profunda; exalta-se mesmo acima da Divindade, pois, mediante essa cincia, presume forar o consentimento da prpria Divindade; a obedincia e a submisso de que ele d provas nas fases de iniciao, para ele no so seno a coio ou talvez a artimanha necessria para que possa adquirir a maravilhosa cincia de dominar os poderes supremos.A magia, portanto, vem a ser uma afirmao da cobia do homem, que tende a se endeusar dentro de um ambiente primitivo e ignorante, ambiente em que qualquer verniz de cincia suficiente para assegurar a carreira dos cobiosos. Dom Estvo Bettencourt (OSB)