manual de oftalmologia veterinária
TRANSCRIPT
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
1/88
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANCAMPUS PALOTINA
CURSO DE MEDICINA VETERINRIAOFTALMOLOGIA CLNICA VETERINRIA
MANUAL DE OFTALMOLOGIA VETERINRIA
Olicies da Cunha
Palotina
2008
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
2/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus PalotinaII
COLABORADORES
ANA CAROLINA CARRAROMdica Veterinria
ANDERSON L. CARVALHOMdico Veterinrio
GILSON FENTZLAFFMdico Veterinrio
ANTNIO HENRIQUE CEREDAAcadmico
TIAGO MACHADO DOS SANTOS
Acadmico
RAFAEL STEFFENSAcadmico
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
3/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus PalotinaIII
SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................. IV
MDULO I - Princpios .................................................................................. - 1 -
Captulo 1 - Estruturas anatmicas e implicaes clnico-cirrgicas ............. - 1 -
Captulo 2 - Exame clnico oftalmolgico..................................................... - 13 -
MDULO II - Clios, plpebras, aparelho lacrimal e conjuntivas ................. - 26 -
Captulo 3 - Doenas clnicas e cirrgicas dos clios ................................... - 26 -
Captulo 4 - Doenas congnitas, estruturais e inflamatrias das plpebras- 29 -
Captulo 5 - Doenas traumticas e neoplasias das plpebras ................... - 39 -
Captulo 6 - Terceira plpebra e ducto nasolacrimal ................................... - 42 -
Captulo 7 - Conjuntiva ................................................................................ - 47 -
MDULO III - Afeces da crnea .............................................................. - 51 -
Captulo 8 - Ceratites ulcerativas................................................................. - 51 -
Captulo 9 - Outras ceratopatias .................................................................. - 61 -
MDULO IV - Generalidades ...................................................................... - 65 -
Captulo 10 - Uvete..................................................................................... - 65 -
Captulo 11 - Glaucoma............................................................................... - 68 -
Captulo 12 - Afeces da lente................................................................... - 71 -
Captulo 12 - Tcnicas diversas................................................................... - 78 -
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
4/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus PalotinaIV
LISTA DE ABREVIATURAS
BID a cada 12 horas (Bis in die)
FH farmacopia humana
FV farmacopia veterinria
kg Quilograma
mL Mililitro
mg Miligrama
PIO Presso intra-ocular
QID a cada 6 horas (Quarter in die)
SID a cada 24 horas (Semel in die)
SRD Sem Raa Definida
TID a cada 8 horas (Ter in die)
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
5/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 1 -
MDULO I- Princpios
Captulo 1 - Estruturas anatmicas e implicaes clnico-cirrgicas
As afeces que envolvem o bulbo do olho e seus anexos so vrias e distintas.
ntida a necessidade do estudante de Medicina Veterinria, sobretudo os que se dedicam
clnica e cirurgia, um conhecimento amplo da anatomia e fisiologia ocular para
desempenhar com segurana e efetividade a oftalmologia.
Os olhos so rgos sensitivos complexos que evoluram de primitivas reas
sensveis luz, na superfcie dos invertebrados. Protegidos por uma estrutura ssea,
muscular e cutnea, os olhos possuem uma camada de receptores, um sistema de lente
para focalizao da luz e um sistema de nervos para conduo dos impulsos dos
receptores para o crebro.
rbita
Os crnios das diferentes raas de ces podem ser divididos de acordo com o seu
formato em: dolicocfalo (alongado), mesaticfalo (comprimento e altura mdios) e
braquicfalo (focinho curto). Esta variao tem algum efeito na formao da rbita e
podem ser fatores predisponentes para certas afeces como a proptose do bulbo do olho
em ces braquiceflicos, como os Pequineses. A rbita o arcabouo sseo que circunda
o olho, e formada pelos ossos: frontal, lacrimal, esfenide, zigomtico, palatino e maxilar(Figura 1). A parede dorsolateral da rbita no se compe de osso, mas formada pelo
colagenoso ligamento orbitrio entre o processo zigomtico do osso frontal e processo
frontal do osso zigomtico. Vasos sangneos e nervos que servem as estruturas
orbitrias transitam atravs de numerosos forames nas paredes orbitrias sseas. Os
tecidos moles contidos na rbita esto envoltos pela perirbita, formada por tecido
conjuntivo e situada junto s paredes sseas.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
6/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 2 -
FIGURA 1 Representao esquemtica dos ossos que formam a rbita.
Muitos distrbios orbitrios so tratados cirurgicamente, e procedimentos
manipulativos so freqentemente utilizados no diagnstico das afeces orbitrias. A
orbitotomia a exposio cirrgica da rbita, que pode ser procedida por vrias tcnicas,
sendo a completa, com resseco do arco zigomtico e dissecao do ligamento orbitrio
a que prove exposio orbitria mais ampla. Nestes procedimentos deve se evitar
cuidadosamente a artria maxilar, se ocorrer seco acidental, esta dever ser ligada e
em casos que a ligadura esteja impossibilitada, a ocluso temporria da artria cartida
ipsilateral dever ser procedida.
rgos oculares acessrios
Plpebras e conjuntivas
As plpebras, superior e inferior, so projees mveis e delgadas de pele que
normalmente cobrem os olhos. Elas convergem e se unem, formando assim, os ngulos
(medial e lateral). O espao entre as plpebras chamado de rima palpebral. Em cortesagital, as plpebras so compostas de superfcie epidrmica externa, msculo orbicular
do olho, placa tarsiana, glndulas tarsais e conjuntiva palpebral, que reveste a plpebra
interiormente (Figura 2).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
7/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 3 -
a) superfcie epidrmica
b) m. orbicular do olhor
c) glndula tarsal
d) conjuntiva palpebral
FIGURA 2 Seco sagital da plpebra canina em desenho esquemtico. Observe as estruturas
identificadas.
As margens palpebrais so demarcadas a partir da pele por uma borda
mucocutnea. As glndulas tarsais produzem a camada lipdica da pelcula lacrimal. Aplaca tarsiana um folheto fibroso pouco definido que d sustentao s plpebras. Os
caninos possuem clios apenas na plpebra superior, enquanto os felinos, no os
possuem.
O msculo orbicular do bulbo encontra-se oralmente placa tarsiana, circunda a
fissura palpebral e est fixado medialmente rbita pela fscia e lateralmente pelo
msculo afastador do ngulo. O msculo elevador da plpebra superior inervado pelo
oculomotor (nervo craniano III), junto a este, existe um delgado msculo (m. de Mller)
que mantm a plpebra superior elevada sem esforo algum (Figura 3).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
8/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 4 -
a) contrai a fissura palpebral
b) afasta o ngulo lateralc) deprime a plpebra inferior
d) eleva a plpebra superior
FIGURA 3 Seco frontal da plpebra evidenciando a musculatura regional.
A conjuntiva a membrana mucosa ocular que reveste as pores mais internas
das plpebras superior e inferior, ambos os lados da terceira plpebra, e a parte anterior
do bulbo, excetuando a crnea. dividida nas partes bulbar, do frnix, palpebral ou
tarsiana e da terceira plpebra (Figura 4). A mucosa conjuntival, abundantemente
vascularizada, permite movimentos suaves, isentos de frico, entre o bulbo do olho, a
terceira plpebra e as plpebras, constituindo uma barreira fsica e imunolgica protetora.
Principalmente nos frnices conjuntivais localizam-se grande quantidade de clulas
caliciformes, responsveis pela produo da fase mucosa do filme lacrimal.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
9/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 5 -
a) Conjuntiva palpebral;
b) Conjuntiva do frnix dorsal e frnix ventral anterior;
c) Conjuntiva bulbar;
d) Conjuntiva anterior e posterior da terceira plpebra;
e) Conjuntiva do frnix ventral posterior
FIGURA 4 Representao esquemtica da conjuntiva e suas partes.
A inverso da borda da plpebra (entrpio) pode ocorrer em certos ces, onde os
plos da face externa da plpebra podero irritar a conjuntiva ou crnea. Ces da raa
Shar Pei podem apresentar entrpio com menos de trs semanas de idade e
freqentemente necessitam de interveno cirrgica para evitar afeco corneal grave. A
everso das plpebras tambm poder ocorrer, resultando em exposio da conjuntiva. A
resseco de tumores palpebrais pode provocar grandes defeitos e exigem
procedimentos corretivos. Reveste-se de importncia, a preservao da musculatura
palpebral, no comprometendo assim sua dinmica.
Terceira plpebra
A terceira plpebra uma estrutura triangular com origem na poro ventromedial
oral da rbita. Uma cartilagem em forma de T d sustentao ao conjunto e um
retinculo fixa esta estrutura parte ventromedial da rbita (Figura 5). O msculo orbitrio
(m. liso) o responsvel pela movimentao desta estrutura. A terceira plpebra protege
o globo, secreta e distribui a lgrima. Na base da terceira plpebra localiza-se a glndula
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
10/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 6 -
da terceira plpebra, que ser abordada a seguir. Devido contribuio da terceira
plpebra para produo e distribuio do filme lacrimal, devemos envidar todos os
esforos possveis para que sua integridade seja preservada. A margem afilada e rgida
da terceira plpebra resulta em mecanismo efetivo na remoo de restos teciduais e
corpos estranhos presentes entre a crnea e a conjuntiva palpebral. A remoo desta
estrutura cria espao entre a plpebra e o bulbo que pode abrigar restos teciduais,
microrganismos e corpos estranhos, que danificam a integridade corneal. Portanto,
importante o cuidadoso reparo e preservao da terceira plpebra.
FIGURA 5 Representao esquemtica da terceira plpebra. A. Seco sagital. B. Secofrontal.
Aparelho lacrimal
O aparelho lacrimal tem como funo produzir e remover as lgrimas. As glndulas
lacrimais, responsveis pela produo da maior parte da lgrima, esto localizadas naregio da rbita entre o globo nasalmente e o ligamento orbital e o processo zigomtico
do osso frontal temporalmente (Figura 6). Os ductos destas glndulas so em nmero de
20 a 30, invisveis a olho desarmado e se abrem atravs da conjuntiva no frnix temporal.
A glndula da terceira plpebra glndula lacrimal acessria e circunda a haste da
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
11/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 7 -
cartilagem da terceira plpebra, e contribui com uma parte importante do filme lacrimal.
Cada plpebra, superior e inferior, tm pequena abertura, o ponto lacrimal, que o incio
do sistema de drenagem lacrimal e que situam-se entre 2 e 5 mm do canto nasal. Os
pontos tm continuidade com os canais lacrimais que possuem um comprimento de 4 a 7
mm e convergem para o saco lacrimal, que a terminao caudal do ducto nasolacrimal.
O ducto nasolacrimal tem incio no saco lacrimal, continua rostralmente e se abre no
assoalho da cavidade nasal, aproximadamente 1 cm da abertura das narinas externas
(Figura 7).
Abordagens cirrgicas oculares que atuam agressivamente na glndula lacrimal, ou
a extirpao da glndula da terceira plpebra podem levar a afeces por diminuio da
produo lacrimal como a ceratoconjuntivite seca. A presso de seleo imposta pelo
homem aos animais alterou muito o perfil frontonasal, com isso, o ducto nasolacrimal
sofreu alteraes importantes, sobretudo as tortuosidades que podem levar a obstruo.
Freqentemente, o oftalmologista se depara com obstrues do ducto nasolacrimal e
precisa lanar mo de procedimentos desobstrutivos ou criao de novo canal de
eliminao, o que torna imprescindvel o conhecimento antomo-cirrgico.
FIGURA 6 Representao esquemtica das glndulas lacrimais. A. Glndulas lacrimais
principais. B. Canto medial. C. Canto lateral
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
12/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 8 -
FIGURA 7 Ducto nasolacrimal e a representao de seu trajeto.
Msculos do bulbo
A musculatura extra-ocular composta por quatro msculos retos (medial, lateral,
dorsal e ventral), que se inserem na esclera posteriormente ao limbo, dois oblquos
(dorsal e ventral) e os retratores do bulbo. Afeces como proptose do bulbo do olho
podem causar rupturas musculares e conseqentemente estrabismo.
Bulbo do olho
O bulbo do olho formado por trs camadas ou tnicas. A mais externa a fibrosa,
e compreende a crnea e a esclera. A mdia a tnica vascular e a mais interna a
tnica nervosa.
Tnica fibrosa
Crnea e esclera
A crnea a janela transparente no revestimento fibroso do olho, a esclera a
parte posterior opaca e o limbo a zona de transio entre estas duas estruturas. A
crnea, em ces, tem aproximadamente 0,61 0,01 mm de espessura central e 0,67 0,01 mm de espessura perifrica. A esclertica tem cerca de 1 mm na regio ciliar, 0,3
mm na regio equatorial e 0,55 nas proximidades do disco ptico. A crnea possui 5
camadas; a pelcula lacrimal pr-corneal, o epitlio anterior e sua membrana basal, o
estroma (substncia prpria), a membrana de Descemet (lmina limitante posterior) e o
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
13/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 9 -
endotlio (epitlio posterior) (Figura 8). As principais caractersticas da crnea que
garantem refrao e transparncia so: ausncia de vasos sangneos, ausncia de
pigmentos, superfcie ptica lisa, proporcionada pela pelcula lacrimal pr-corneal, e
disposio extremamente arranjada das fibrilas de colgeno. Os vasos ciliares anteriores
passam atravs da esclera, posteriormente ao limbo, e as veias do vrtice, em nmero de
quatro, passam atravs da esclera em um ponto posterior ao equador do bulbo.
a) filme lacrimal
b) epitlio
c) estroma
d) Descemet
e) endotlio
FIGURA 8 Representao esquemtica das camadas da crnea incluindo o filme lacrimal.
A crnea possui caractersticas peculiares com importncia cirrgica prtica. A
manipulao de suas camadas exige o conhecimento das caractersticas. A preenso da
crnea depende do uso de pinas dentadas que fixam com firmeza as bordas da crnea e
em hiptese alguma pode tocar o endotlio. As disseces superficiais da crnea exigem
tenso tecidual difusa e baixa presso intra-ocular. A sutura da crnea necessita
aplicao e direcionamento precisos da agulha. As suturas so aplicadas profundamente,
mas no totalmente atravs do estroma.
Tnica vascular
ris, corpo ciliar e corideA ris formada por uma delicada rede de vasos sangneos, tecido conjuntivo,
fibras musculares e nervos. Por estar em contato direto com a lente, tem a mesma
curvatura que sua superfcie anterior. Seu epitlio intensamente pigmentado com
melanina. A parte basilar da camada anterior est constituda por musculatura lisa, que
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
14/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 10 -
forma o msculo dilatador da ris. Este mecanismo, juntamente com as plpebras,
controla a passagem da luz atravs da pupila.
O corpo ciliar estrutura caudal a ris, de constituio semelhante. Apresenta fibras
musculares indistintas no co, que possuem pouca capacidade de acomodao. Possui
como funo acomodao da lente e constitui-se no local de maior produo do humor
aquoso. Uma exciso cirrgica acima de 25% do corpo ciliar pode prejudicar a dinmica
do humor aquoso. A poro anterior do corpo ciliar a parte pregueada (pars plicata), e
consiste dos msculos ciliares e processos ciliares; a poro posterior a parte plana
(pars plana), que se estende posteriormente at a coride. As fibras zonulares (Figura 9),
que sustentam a lente, originam na parte plana. A coride a parte da camada vascular
compreendida entre o corpo ciliar e a retina.
a) ris
b) corpos ciliares
c) coride
FIGURA 9 Representao da tnica vascular e lente sustentada pelas fibras zonulares.
Tnica nervosa
Retina
A retina, camada mais interna do bulbo do olho, formada por clulas nervosasdistribudas em 10 camadas. A papila ptica formada pela confluncia das fibras
nervosas da retina. Localiza-se na extremidade posterior do olho e mede
aproximadamente 1 mm de dimetro. Seu formato varia de oval, triangular, redonda a
quadrangular, nas diferentes espcies domsticas.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
15/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 11 -
Cmaras do olho
Clinicamente o bulbo do olho pode ser dividido em dois segmentos. O anterior,
cranial a lente e o posterior, caudal a lente. Anteriormente a lente, o olho dividido em
duas cmaras (anterior e posterior). A cmara anterior do bulbo est circundada
anteriormente pela crnea e posteriormente pela ris. Ela se comunica com a cmara
posterior atravs da pupila. A cmara posterior um pequeno espao limitado
anteriormente pela ris e posteriormente pela lente e seus ligamentos. As cmaras so
preenchidas pelo humor aquoso. A cmara vtrea do bulbo est situada entre a lente e a
retina e contm o corpo vtreo. Quando a drenagem do humor aquoso est dificultada e a
produo continua, ocorre uma situao chamada clinicamente de glaucoma (Figura 10).
FIGURA 10 Ilustrao representativa das cmaras do bulbo.
Meios de refrao
Lente
A lente uma estrutura biconvexa composta de clulas e seus processos, formadapor lminas celulares concntricas. O dimetro da lente do co de aproximadamente 10
mm e a espessura ntero-posterior de aproximadamente 7 mm. A cpsula da lente
muito mais espessa na superfcie anterior, de 30 a 45 m, do que na superfcie posterior,
onde de aproximadamente 5 m. As protenas da lente so seqestradas e
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
16/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 12 -
potencialmente antignicas, devido s seguintes razes: a cpsula da lente forma-se
antes do sistema imune, a lente avascular e a cpsula impermevel a clulas e
grandes molculas. A condio clnica onde h opacidade lenticular chamada de
catarata e sua remoo cirrgica exige conhecimento anatmico e fisiolgico para no
provocar alteraes irreversveis. A cpsula posterior da lente extremamente delgada e
sua ruptura pode levar ao deslocamento do vtreo. O extravasamento de protenas
lenticulares provoca uvete faco induzida e esta condio deve ser evitada nas cirurgias
de catarata ou luxao de lente.
Vasos e nervos
O principal suprimento sangneo para o bulbo do olho origina-se da artria
maxilar, que apresenta um ramo importante, a artria oftlmica externa, que passa sobre
a face dorsal do nervo ptico e anastomosa-se com a artria oftlmica interna. A
anastomose produz as artrias ciliares posteriores. O sangue drenado atravs das veias
oftlmicas dorsal e ventral.
O nervo ptico, que passa atravs do canal ptico, circundado pelo msculo
retratator do bulbo, o nervo sensorial da retina. O outro nervo sensorial para a retina o
trigmio. O principal nervo sensorial para o olho o oftlmico, menor diviso do trigmio.
O nervo maxilar parte do nervo trigmio, e seus ramos participam da inervao das
plpebras. O nervo oculomotor supre o maior nmero de msculos extra-oculares. O
nervo troclear inerva apenas o msculo oblquo dorsal. O nervo abducente supre o
msculo reto lateral e retrator do bulbo. O nervo facial fornece apenas uma quantidade
limitada da inervao do olho, importante para mmica facial incluindo movimento das
plpebras. O controle da glndula lacrimal tambm da responsabilidade deste nervo.
Em situaes cirrgicas como enucleao, o reconhecimento e a preservao da
musculatura extra-ocular so importantes para o preenchimento orbital por ocasio da
sutura. Importncia fundamental deve ser dada ao reconhecimento das estruturas
anatmicas, tanto para preservao quanto para se evitar leses acidentais em
segmentos importantes.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
17/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 13 -
Captulo 2 - Exame clnico oftalmolgico
O objetivo deste tema descrever o exame clnico dos olhos, rbita e anexos
oculares. A Figura 11 representa o modelo de ficha usado no Hospital Veterinrio
Campus Palotina.
FIGURA 11 Modelo de ficha usada no Hospital Veterinrio Campus Palotina.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
18/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 14 -
Instalao e equipamentos para o diagnstico
fundamental que a sala para se realizar o exame oftlmico seja calma e com
luminosidade controlada com a possibilidade de fornecer escurido completa. A
iluminao controlada permite avaliar a simetria pupilar e fazer testes como o do labirinto
em ambiente iluminado (condies fotpicas) e de pouca luminosiodade (condies
escotpica). Os instrumentos necessrios para se fazer um exame oftlmico so:
- lanterna;
- oftalmoscpico;
- tonmetro;
- testes lacrimais de Schirmer;
- corante de fluorescena;
- anestesia ocular tpica;
- sedativos;
- midriticos tpicos.
Os instrumentos requerem prtica e pacincia para serem manipulados
corretamente, mas facilitam o veterinrio no sentido de completar o exame ocular. Swabs
estreis para cultura e lmina de microscopia so necessrios para obter amostras para
cultura e citologia. Formulrios ajudam a fazer um exame oftlmico completo sem correr o
risco de pular etapas, didaticamente dividiremos o exame em trs partes (resenha,
anamnese e exame oftalmolgico).
1. Resenha
A raa, idade e sexo trazem informaes importantes para o diagnstico e o
prognstico.
Raa - muitas raas tm predisposio para doenas oculares como, por exemplo,
o entrpio em ces Shar-Pei e luxao primria da lente em ces Terriers.
Idade - a idade fator predisponente para certas doenas oculares como a
nictalopatia e comprometimento visual em filhotes de ces e gatos com displasia dosfotorreceptores. A esclerose nuclear da lente ocorre com mais freqncias em ces com
mais de seis a oito anos de idade. Filhotes de ces e gatos tm as plpebras fundidas
(anciloblefaro) nos primeiros sete a 14 dias de vida o que impede o exame ocular. A viso
limitada no neonato, pois o desenvolvimento das vias visuais e do olho prossegue
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
19/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 15 -
durante os primeiros meses de vida, a retina e a coride nos ces e gatos se completa
aos trs meses de idade. O reflexo de ameaa aprendido e em geral no est presente
at o animal completar trs meses.
Sexo - a atrofia progressiva da retina, ligada ao cromossomo X, no Husky Siberiano
macho, uma doena ocular relacionado ao sexo.
2. Anamnese
um dos passos mais importante para chegar ao diagnstico. Corrimento ocular,
olho congestionado, dor no olho, alterao da cor, tamanho ou forma do globo ocular ou
das pupilas e cegueira so as queixas mais comuns. Com estas informaes o clnico
chega a uma lista de problemas provisrios e obtm uma anamnese ocular abrangente e
especfica. importante determinar:
- durao dos sinais clnicos e velocidade da evoluo;
- comprometimento uni ou bilateral;
- corrimento ou alterao de cor com o tempo;
- doena sistmica associada e medicamentos que j foram ou esto sendo
usados;
- antecedentes familiares de doenas oculares.
3. Exame oftalmolgico
O exame oftlmico segue uma ordem cronolgica. O exame dos componentes
feito sistematicamente na seqncia dos tecidos oculares superficiais para os profundos,
de forma ordenada e minuciosa. Alguns procedimentos (testes) interferem no resultado de
outros, portanto deve-se seguir a cronologia dos gestos diagnsticos.
Teste lacrimal de Schirmer.
Obteno de amostras para citologia e cultura.
Exame dos reflexos.
Anestesia tpica e tonometria.
Instilao de midriticos e oftalmoscopia.Corantes (fluorescena e rosa bengala).
A descrio detalhada dos testes diagnsticos ser abordada aps a seqncia do
exame dos componentes oftlmicos.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
20/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 16 -
3.1. Exame dos componentes oftlmicos
Neste tpico discute-se a realizao do exame oftlmico (principalmente os
componentes oftlmicos) em sua seqncia lgica, como segue:
1. Deambulao;
2. Inspeo da simetria;
3. rbita, msculos extra-oculares, plpebras e clios;
4. Drenagem e terceira plpebra;
5. Conjuntivas;
6. Crnea;
7. Cmara anterior, humor aquoso e ris;
8. Lente;
9. Retina.
1 - Deambulao
Procura-se observar a reao do paciente perante o ambiente. Para avaliao do
comprometimento visual, indica-se o teste do labirinto onde objetos so distribudos no
ambulatrio e o animal transita entre eles em condies fotpicas e escotpicas. O fato de
o animal esbarrar nos objetos em um ambiente novo indicativo de comprometimento da
viso. Forma de andar, movimentao da cabea, possveis alteraes no
posicionamento da cabea e alteraes na configurao fsica podem ser detectados.
2 - Inspeo da simetria
Observe atentamente a simetria da face. Inspecione a simetria dos msculos da
mastigao, atentando movimentao da mandbula. Observe tambm se h presena
de plos faciais irritando a crnea, isso pode causar dois problemas graves, leso de
crnea por atrito e ceratoconjuntivite seca por atuarem como sifes removendo lgrima do
olho.
3 - rbita, msculos extra-oculares, plpebras e cliosInicia-se com a observao da simetria bilateral. A seguir palpa-se a borda ssea e
procede-se retropulso do globo ocular para avaliao de aumento de volume, dor ou
resistncia, que podem indicar presena de massas retrobulbares. Podem ser
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
21/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 17 -
necessrios procedimentos adicionais como radiografias (contrastadas ou no) e ultra-
sonografias.
Os msculos extra-oculares so avaliados pela posio ocular.
Doenas palpebrais como introverso ou everso do tarso palpebral e
posicionamento ciliar devem ser observados.
4 -Sistema de drenagem e terceira plpebra
O sistema de drenagem avaliado principalmente pelo teste lacrimal de Shirmer.
Epfora refere-se ao transbordamento de lgrima pela face, enquanto a diminuio pode
levar ao olho-seco.
A obstruo dos ductos nasolacrimais pode ser avaliada mediante o teste de
Robert Jones (que ser descrito a seguir).
Devemos nos atentar ainda s secrees e protuso da glndula da terceira
plpebra. A terceira plpebra pode ser avaliada mediante presso no canto dorso-medial,
por sobre a plpebra. Deve ser inspecionada em ambas as superfcies palpebral e bulbar
e respectivos frnices. Recomenda-se avaliar quanto a presena de inflamao,
secreo, folculos e corpos estranhos. A membrana nictitante pode ser retrada com uma
pina aps anestesia tpica.
5 - Conjuntiva
A conjuntiva deve ser avaliada quanto congesto capilar, quemose, trauma e/ou
hemorragias, presena de corpos estranhos, secrees e alterao folicular.
Em casos de secreo ou massas, pode-se solicitar exames complementares
como cultura e antibiograma, citologia e/ou bipsia conjuntival.
6 - Crnea
Esta estrutura deve ser inspecionada quanto perda de transparncia,
neoformaes, falhas na integridade corneal (lceras) e corpos estranhos. A fluorescena
um teste diagnstico de rotina e colorao com corante rosa bengala particularmetetil em diagnstico de lceras dendrticas causada por herpesvrus felino em gatos.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
22/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 18 -
7 - Cmara anterior, humor aquoso e ris
A cmara anterior avaliada quanto profundidade, qualidade do humor aquoso
(lmpido e claro), inflamao intra-ocular e perfuraes oculares. Este exame inclui a
avaliao da ris, que deve ser observada quanto ao dimetro, simetria, colorao,
hemorragia e presena de vasos visveis.
8 - Lente
A alterao mais comum em lente a catarata. Esta estrutura intra-ocular deve ser
observada quanto perda da transparncia, presena de sinquias (anteriores ou
posteriores) e mudanas posicionais (luxao anterior ou posterior).
9 - Retina
Finalmente, a retina, deve ser analisada mediante oftalmoscopia (direta ou indireta)
quanto a presena de atrofias, transudato ou exsudato, edema, colobomas, hemorragias
e descolamentos.
3.2. Seqncia dos testes e procedimentos diagnsticos
A seguir, descreve-se sucintamente a formas mais apropriadas e a seqncia de
realizao das manobras e testes.
1 - Teste lacrimal de Schirmer
Avalia a produo lacrimal em milmetros de umidade (fase aquosa do filme
lacrimal). O teste pode ser comprado no comrcio (fitas de Schirmer).
A tira colocada no frnix conjuntival ventral deixando-a durante um minuto e,
posteriormente, observa-se o quanto a fita umedeceu (Figura 12). Durante o exame a
cabea do paciente contida, mas no deve-se manipular o olho.
Bovinos, ovinos, caprinos e eqinos em geral produzem quantidades abundantes
de lgrima ultrapassando 20 a 30mm de umidade em 60 segundos. Valores baixos so
indicativos de dficit na produo lacrimal.Valores de referncia: entre 15 e 25 mm/min (ces) e 10 a 20 mm/min (gatos).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
23/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 19 -
FIGURA 12 Desenho representativo da forma correta de utilizar as fitas de Schirmer.
2 - Obteno de amostras para citologia e cultura
A obteno de amostras da crnea e da conjuntiva para citologia ou cultura deve
ser realizada antes da instilao de colrios e corantes, pois podem alterar o resultado do
exame. A citologia indicada em presena de ndulos ou massas, e pode ser feita
mediante raspado, aps anestesia tpica, com esptula de ao inoxidvel (Kimura) ou
aspirao com agulha fina.
Recomenda-se a cultura em infeces severas, crnicas ou no responsivas ao
tratamento. Para tanto utiliza-se swabs umedecidos em soluo salina 0,9%.
3 - Exame dos reflexos
Este exame tem como objetivo avaliar os reflexos que seguem:
- ameaa e o teste da bolinha de algodo
- luminoso pupilar fotomotor direto e consensual;
- palpebral;
Completa-se o exame antes de se administrar sedativos ou tranqilizantes,
anestsicos tpicos, midriticos e bloqueios nervosos regionais, pois eles impedem ou
interferem na interpretao dos reflexos.
Reflexo de ameaa e o teste da bolinha de algodo.
O reflexo de ameaa avalia a acuidade visual (nervo ptico e crtex cerebral). Faz
se um movimento direto e sbito com a mo no campo visual do olho ipsilateral enquanto
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
24/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 20 -
olho contralateral est coberto. A resposta esperada o piscar do olho, deve-se tomar
cuidado para no deslocar corrente de ar que ativar o reflexo corneano. O nervo ptico
a via aferente e o nervo facial a via eferente desse reflexo, ou seja, estamos testando o
nervo ptico e o nervo facial. Tambm necessrio que o msculo orbicular do olho
esteja funcional. Um animal cego ir piscar com o contato da mo nos plos faciais. Pode
ocorrer reflexo de ameaa falso negativo em um animal dcil com a viso normal. Esses
animais devem ser avaliados deixando cair uma bola de algodo de cima do olho
ipsilateral enquanto o contralateral estiver coberto. O olho com viso normal ir
acompanhar o trajeto da bolinha de algodo. Quando se suspeita de cegueira unilateral
necessrio repetir o exame do labirinto com um olho coberto com uma venda temporria.
Todos os procedimentos citados proporcionam uma avaliao grosseira da viso. A
eletrorretinografia um exame funcional sofisticado.
Reflexo pupilar fotomotor direto e consensual.
O reflexo pupilar fotomotor direto (RPFMd) obtido incidindo-se uma luz brilhante
atravs da pupila observando-se uma imediata miose daquele olho. Este processo requer:
- ativao dos fotorreceptores;
- nervo ptico ipsilateral como uma via aferente;
- via parassimptica no nervo oculomotor ipsilateral como uma via eferente e o
msculo constritor da ris funcional.
O reflexo pupilar fotomotor consensual (RPFMc) provocado observando-se a
pupila contralateral enquanto se dirige um foco luminoso brilhante atravs da pupila
ipsolateral. Este exame requer:
- ativao de fotorreceptores;
- nervo ptico ipsolateral como uma via aferente;
- via parassimptica contralateral no nervo oculomotor ipsolateral como uma via
eferente;
- msculo constritor da ris contralateral funcional.
O RPFMc ocorre devido a decussao de algumas fibras do nervo ptico no
quiasma ptico e na regio pr-tectal. Pode ocorrer em animais cegos que apresentam
leso central, tambm ocorre quando a doena retiniana ou do nervo ptico em que
permanecem poucos fotorreceptores e axnios do nervo ptico funcionais. Tanto o
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
25/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 21 -
consensual como o direto necessitam poucos fotorreceptores funcionais enquanto a viso
necessita de um grande nmero de fotorreceptores funcionais.
Reflexo palpebral
Este reflexo desencadeado quando ocorre um toque no canto temporal e nasal
do olho. A resposta normal uma piscadela, e a falha em piscar indica uma leso na vianervosa ou no msculo encarregado desse reflexo. Os ramos aferentes para esse reflexo
incluem o ramo oftlmico do nervo trigmeo, a partir do canto nasal, e o ramo maxilar do
nervo trigmeo no canto temporal. O nervo eferente o ramo auriculopalpebral do nervo
facial, tambm necessrio que o msculo orbicular do olho esteja funcional.
4 - Tonometria.
A tonometria o exame para mensurao da presso intra-ocular (PIO), que pode
estar alterada em algumas doenas oculares. Para isto, anestesia-se a crnea com uma aduas gotas de anestsico tpico e posiciona-se o tonmetro na regio central da crnea,
enquanto contem-se as plpebras. Para uma boa mensurao necessrio:
- boa conteno da cabea do animal tomando o cuidado para no fazer presso
sobre as jugulares;
- posicionamento cuidadoso do tonmetro e do animal (posicionamento vertical ou
horizontal da cabea);
- anestesia da crnea e integridade da crnea.
O tonmetro de edentao (Shitz) indicado para a mensurao da presso intra-ocular em pequenos animais, pois estes permitem o posicionamento vertical da cabea.
Para uma estimativa acurada das presses intra-ocular calcula-se a mdia de trs leituras
em cada olho. A mdia destas leituras convertida em milmetros de mercrio (mmHg)
em uma tabela que foi elaborada para ces e gatos e que normalmente vem anexada ao
tonmetro (Figura 13).
A tonometria de aplanao (Tonopem), estima a presso pelo achatamento da
crnea. A fora desse achatamento automaticamente convertida em mmHg. O
tonmetro posicionado perpendicularmente superfcie encurvada da crnea ondeocorre uma leve presso. Faz-se esse movimento durante trs vezes e o prprio
tonmetro lhe d a mdia da presso com um erro de apenas 5%. O aparelho caro
(Figura 14).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
26/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 22 -
FIGURA 13 Tonmetro de Shitz e forma de utilizao.
FIGURA 14 Tonmetro de Tonopen e forma de utilizao.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
27/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 23 -
5 - Midriticos (oftalmoscopia)
A midrase obtida com a administrao tpica de um midritico na crnea. A
tropicamida 5% o midritico mais indicado por ter incio rpido, curta durao e ausncia
da cicloplegia (paresia do msculo ciliar). Instila-se uma gota na crnea e repete-se aps
10 minutos. Em 20 minutos as pupilas estaro dilatadas e ficam assim por cerca de 4
horas. A dilatao permite o exame das estruturas mais profundas do globo.
A sala para esse exame deve ser completamente escura. Um foco luminoso
direcionado para a crnea para avaliar a transparncia e a curvatura. A cmara anterior e
a ris so examinadas da mesma forma, porm o ngulo do feixe de luz agudo e obtuso
com olho. Para a avaliao da lente e da cmara posterior necessrio um oftalmoscpio
direto, transiluminador ou oftalmoscpio indireto e lentes convergentes com dilatao
pupilar (midrase). Quando incidido um feixe de luz em direo ao olho midritico, em
um ambiente escuro possvel observar trs reflexes: (crnea, cpsula anterior da lente
e cpsula posterior da lente).
Essas trs reflexes permitem ao examinador localizar a posio aproximada da
leso. Por exemplo, uma leso na cpsula anterior da lente pode alterar a terceira
imagem, j uma leso na crnea altera a viso das duas estruturas subseqentes
(cpsula anterior e posterior da lente).
Exame das estruturas do olho com oftalmoscpio direto.
Ao iniciar o exame de fundo de olho com o oftalmoscpio direto, a primeira
estrutura a ser observada a retina em dioptria zero. De incio o disco ptico deve serlocalizado. Observa-se seu contorno, bem como os vasos retinianos medida que
cruzam o disco. Para examinar o fundo de olho, devemos dividi-lo em quadrantes. Em
espcies cuja retina holangitica (completamente vascularizada), como bovinos, ovinos,
caprinos, sunos, ces e gatos os vasos dividem o fundo de olho em quadrantes. A retina
dos eqinos paurangitica, o que significa que os vasos esto limitados a periferia do
disco ptico, nessa espcie os quadrantes so estabelecidos de forma arbitrria.
Examina-se cada quadrante, comeando no disco ptico e prosseguindo para fora dos
orifcios ciliares da retina.
As estruturas a serem examinadas so: retina (normalmente translcida); vasos
sanguneos retinianos; regio tapetal e extra tapetal.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
28/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 24 -
Quando o fundo de olho for albino possvel observar os vasos da coride e partes
da esclertica. Aps completar o exame fndico necessrio alterar a dioptria tornando-a
mais positiva, tomando o cuidado de manter a mesma distncia entre o oftalmoscpio e o
animal, possibilitando a visualizao das estruturas anteriores (corpo vtreo e lente), onde
qualquer alterao observada deve ser anotada em um pronturio.
6 Corantes
Colorao com fluorescena.
Faz se a aplicao da fluorescena atravs de um tira de papel ou colrio de
fluorescena. O colrio, aps aberto, meio de cultura para bactrias produtoras de
colagenase. Este teste tem como objetivo:
- detectar lceras;
- avaliar a integridade da crnea;
- determinar a qualidade da pelcula lacrimal;
- avaliar a patncia do ducto nasolacrimal.
A fluorescena cora primeiramente a pelcula lacrimal, estroma (quando houver
leso) e a conjuntiva bulbar. Quando o epitlio estiver lesado (lcera de crnea) a
fluorescena ir se ligar ao estroma (segunda camada da crnea), confirmando assim a
presena de ceratite e tendo a possibilidade de avaliar a profundidade da leso (o
estroma hidroflico e tem afinidade pelo corante de fluorescena).
A fluorescena utilizada da seguinte forma:
1 - instile uma gota do corante ou coloque a tira de papel na crnea do olho a ser
testado;
2 - aguarde quinze segundos;
3 - remova o excesso do corante com soluo fisiolgica;
4 - observa-se em sala com pouca luminosidade (escotpica) com a luz azul
cobalto ou ultravioleta (lmpada de Wood). Onde o corante estiver presente o
local da leso.Com o mesmo corante procede-se o teste de Robert Jones. Instila-se o colrio na
crnea e, se o ducto estiver patente, observa-se o corante na narina ipsilateral ou na
lngua dentro de trs a cinco minutos.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
29/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 25 -
Colorao com rosa bengala.
O corante de rosa bengala, que vendido em colrio ou tiras, um corante
supravital utilizado para corar tecidos necrticos ou clulas epiteliais em degenerao. O
colrio aplicado sobre a crnea e logo em seguida o olho lavado exaustivamente.
Quando o corante impregna na crnea porque existe leso. Ele mais sensvel que o
teste de fluorescena, pois cora clulas epiteliais desvitalizadas. O corante causa grande
desconforto ocular.
3.3. Procedimentos especficos
Dentre eles podemos citar a gonioscopia (para avaliao direta e indireta do ngulo
iridocorneal); biomicroscopia com lmpada de fenda (permite um exame abrangente do
segmento anterior, obtendo-se uma imagem aumentada da crnea, ris, cmara anterior e
posterior da lente e do vtreo anterior); paracentese da cmara anterior (obteno de
humor aquoso para exames, principalmente a citologia); eletrorretinografia (para avaliar a
funo da retina) e ultra-sonografia (til no diagnstico de neoplasias, hemorragias,
luxaes de lentes, descolamento de retina, entre outros).
Sondagem do ducto nasolacrimal. O sistema de drenagem da lgrima do olho
composto por dois pontos (inferior e superior) localizados no canto medial de cada olho, e
na seqncia o ducto propriamente dito. A gravidade e uma certa presso negativa
exercida pelo msculo orbicular do olho faz com que a lgrima flua do saco lacrimal at o
ponto nasal. Quando o animal apresenta epfora crnica necessrio a canulao e
irrigao deste ducto. Faz-se necessrio anestesiar as conjuntivas, os canalculos e o
ducto nasolacrimal com soluo tpica anestsica. A irrigao pode ser normgrada
(pequenos animais) ou retrgrada (grandes animais). Em pequenos animais pode se
utilizar uma cnula lacrimal curva ou um cateter intravenoso de calibre 20 a 24 sem o
mandril. Aps a adaptao da sonda, deve-se injetar, com auxlio de uma seringa,
soluo fisiolgica ou colrio at que o lquido saia na narina.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
30/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 26 -
MDULO II - Clios, plpebras, aparelho lacrimal e conjuntivas
Captulo 3 - Doenas clnicas e cirrgicas dos clios
Os clios so estruturas que promovem a defesa ocular, e que esto diretamente
associados na promoo da integridade visual. As alteraes que envolvem os clios
causam desconforto ocular, uma vez que atritam diretamente com a crnea.
As trs principais afeces observadas nos clios so anormalidades congnitas.
Clio ectpico:clio adicional emergindo atravs da conjuntiva a partir das glndulas de
meibmio (Figura 15).
FIGURA 15 Representao esquemtica de clio ectpico.
Distiquase: clios adicionais emergindo das aberturas das glndulas de meibmio(Figura 16).
FIGURA 16 Representao esquemtica de distiquase.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
31/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 27 -
Triquase: clios e/ou plos faciais (localizao normal) direcionados crnea e
conjuntiva (Figura 17).
FIGURA 17 Representao esquemtica de triquase.
Na anamnese importante estar atento ao que se relata como desconforto visual,
vermelhido e prurido.
Para identificar essas afeces ciliares recomendado um criterioso exame
oftlmico. Doenas perioculares, posio, movimentos e conformao ocular devem ser
avaliados. Os clios so melhores observados com uso de magnificao, como a lupa de
pala.
Atravs do exame oftlmico detalhado possvel encontrar sinais clnicos comoepfora e blefarospasmo, secreo, edema, vascularizao, pigmentao e lcera crnea.
O diagnstico clnico e baseia-se nos achados na anamnese e exame fsico.
O tratamento est intimamente ligado ao grau de dano nas estruturas oculares, e
a correo pode ser feita atravs de procedimentos clnicos e/ou cirrgicos.
Os clios ectpicos devero ser removidos cirurgicamente. Obrigatoriamente o
folculo piloso tambm dever estar incluso nesta resseco.
Para distiquase, que pode causar danos irreversveis s estruturas oculares,
recomenda-se realizar procedimentos como epilao mecnica, microcrioepilao ou
resseco parcial da placa tarsal, o procedimento escolhido depender da severidade do
caso (Figura 18). A microcrioterapia feita com equipamento especfico.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
32/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 28 -
FIGURA 18 Microcrioepilao para triquase e distiquase em desenho esquemtico.
Para a correo da triquase indica-se, alm da microcrioepilao, a tcnica de
Stades, que consiste em remover um segmento de pele envolvendo os plos faciais que
tocam a crnea. A inciso suturada parcialmente (Figura 19).
FIGURA 19 Tcnica de Stades em desenho esquemtico. Resseco cutnea sutura.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
33/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 29 -
Captulo 4 - Doenas congnitas, estruturais e inflamatrias das plpebras
As plpebras e seus anexos realizam vrias funes, dentre elas a defesa contra
agentes externos e o espalhamento do filme lacrimal, evitando assim o ressecamento da
crnea.
Devido a essas propriedades funcionais das plpebras e anexos (clios), importante estar atento as afeces existentes, visto que anormalidades nessas
estruturas podem determinar a ocorrncia de doenas na superfcie ocular.
As afeces palpebrais sero abordadas em dois captulos. Neste primeiro
trataremos das desordens que se referem a alteraes congnitas, estruturais e
inflamatrias como: coloboma, anquiloblefaro, entrpio, ectrpio e blefarites.
Coloboma palpebral
o desenvolvimento incompleto da margem palpebral. Esta afeco de origemhereditria. A partir da anamnese e do exame fsico possvel encontrar os seguintes
sinais clnicos: dor, conjuntivite, ceratite e outras afeces congnitas.
No tratamento do coloboma indicada a utilizao da tcnica da Robert e Bistner
(pedculo de pele, msculo orbicular e placa tarsal), que consiste basicamente em
desenvolver um pedculo de pele e transferi-lo para regio que no foi formada
completamente.
Anquiloblfaro (oftalmia neonatal)Refere-se unio entre as margens palpebrais superior e inferior. Considera-se
de 10 a 14 dias o tempo normal de abertura das plpebras em ces e gatos. Portanto, so
anquiloblfaros fisiolgicos at esta idade.
Algumas vezes, desenvolvem-se infeces no saco conjuntival antes das
plpebras abrirem (oftalmia neonatal). Normalmente esta afeco decorrente de
infeces intra-uterinas. As plpebras assumem aspecto edemaciado e pode haver
pequena quantidade de material purulento saindo pelo canto nasal.
Esta condio deve ser tratada atravs de abertura das plpebras ao longo da
linha de fuso utilizando presso digital ou uma tesoura oftlmica. recomendado colrio
ou pomada de antibiticos como a gentamicina ou tobramicina, BID ou QID, durante sete
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
34/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 30 -
dias, e limpeza com cloreto de sdio 0,9% vrias vezes ao dia. Em uvetes associadas
recomenda-se atropina colrio BID por trs dias e antiinflamatrio sistmico por 10 dias.
Entrpio
Esta afeco ocorre quando as plpebras, superior ou inferior, apresentam
introverso (viradas para dentro), como mostra a Figura 20. comum em ces e
provavelmente hereditria em algumas raas.
FIGURA 20 Entrpio em desenho esquemtico. Observe a introverso da plpebra inferior.
O incio do aparecimento difere entre as raas. Os Shar Peis podem desenvolver
entrpio logo aps a abertura das plpebras e esta condio pode ser revertida com
everso temporria suturas de alinhavamento. Algumas raas como Retrievers,
desenvolvem entrpio em idade posterior.
A afeco pode ser estudada em categorias, isso ocorre devido o entrpio possuir
diferentes origens. Podem ser dividido nas seguintes classes, de acordo com a origem:
- Congnito (primrio ou anatmico):quando a origem hereditria. Sabe-se que existem
raas mais predispostas a entropia congnita, comum em gatos Persas e ces das raasShar Pei, Chow-chow, Labrador, So Bernardo, e Dobermann;
- Espstico: relacionados a processos dolorosos (lceras de crnea). O excesso de
movimento palpebral (blefarospasmo) causa espasmo do msculo orbicular. Este tipo de
entrpio pode ser diagnosticado com reverso, atravs do uso de colrio anestsico;
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
35/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 31 -
- Adquirido (cicatricial): seqela de enoftalmo, cicatrizes de conjuntiva ou plpebras. Os
sinais clnicos aparecem em decorrncia do contato dos plos palpebrais e clios com a
crnea, causando dor, desconforto, lacrimejamento, blefarospasmo e at ceratite.
No exame fsico so encontrados sinais clnicos que sugerem a doena, como
epfora, blefarospasmo, fotofobia, secreo e alteraes corneais.
O diagnstico clnico e baseia-se nos achados da anamnese e exame oftlmico.
importante avaliar o olho sem e com anestesia tpica. Muitas vezes o entrpio
espstico pode ser um componente parcial da inverso palpebral, nas situaes onde o
entrpio congnito ou adquirido cause dor. Aps a administrao do anestsico, restar
apenas o componente anatmico (primrio).
Para entrpio espstico, basta tratar a causa. Para o congnito e adquirido, o
mais indicado a resseco msculo cutnea (Hotz-Celsus), no esquecendo alguns
passos importantes que devem ser seguidos, como: inciso inicial a 3 mm do tarso
palpebral, promover leve hipocorreo (durante a cicatrizao ocorre contrao da
plpebra), seco da pele e msculo orbicular do olho e para finalizar a sutura deve ser
iniciada no centro da ferida.
A tcnica consiste na retirada de pele em meia-lua abaixo ou acima do entrpio. A
sutura inicia-se no centro da inciso para melhor acabamento. Recomenda-se fio seda ou
monilon 4-0. O proprietrio deve ser conscientizado em relao a recidivas. No ps-
operatrio tratam-se distrbios relacionados, e, caso no existam, pomada antibitica TID
durante sete dias (Epitezanou Regenon), e uso de colar protetor (Figura 21).
FIGURA 21 Representao esquemtica da resseco msculo cutnea (Hotz-Celsus).
Em ces jovens, sobretudo os Shar Peis, deve-se evitar a resseco cutnea
inicialmente. Recomendam-se suturas de alinhavamento, que, em algumas vezespodem solucionar o problema (Figura 22).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
36/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 32 -
FIGURA 22 Representao esquemtica da tcnica do pregueamento cutneo para filhotes.
Esta tcnica indicada quando os ces ainda no atingiram a maturidade facial.
Empregam-se suturas de Wolff ou interrompida simples com ou sem captons e fios de
mononilon, iniciando a cerca de 3 mm da margem palpebral. A sutura dever ser refeita
aproximadamente a cada 30 ou 45 dias at se decidir pelo procedimento definitivo ou at
mesmo avaliar como no necessrio a tcnica de Hotz-Celsus.
Pode ocorrer em determinadas raas o entrpio da prega nasal, sendo mais
comum o aparecimento da afeco em Pequins, Pug, Bulldog e demais braquiceflicas.
Os sinais clnicos so idnticos aos ces acometidos com entrpio palpebral.
O tratamento recomendado a remoo parcial ou total da prega (Figura 23)
nasal, a tcnica varia de acordo com a severidade do entrpio.
FIGURA 23 Correo do entrpio da prega nasal. Resseco das dobras nasais e sutura
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
37/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 33 -
Ectrpio
Ectrpio refere-se everso das margens palpebrais e acontece principalmente
na plpebra inferior (Figura 24). comum nas raas So Bernardo, Cocker, Buldogue,
Basset Hound, entre outras. Em geral congnito, mas pode ocorrer em resposta a
formao de tecido cicatricial. Na maioria dos casos no necessita de tratamento
cirrgico, exceto naqueles pacientes que apresentam ceratite e/ou conjuntivite crnica
que no respondem a tratamento mdico.
FIGURA 24 Ectrpio em representao esquemtica. Note a everso da plpebra inferior.
Os sinais clnicos encontrados no exame oftlmico so epfora, conjuntivite,
secreo e alteraes corneais.
Pelo fato da afeco apresentar sinais clnicos muito parecidos com outras
doenas palpebrais o diagnstico torna-se clnico, baseado na anamnese e exame fsico.
A tcnica de Kuhnt-Hembolt (V-plastia) simples e opo eficiente para tratamento
de ectrpio. Consiste em remoo de um tringulo de pele lateral ou medial a reaafetada em espessura total. A base do triangulo ficar voltada para o tarso palpebral.
Sutura-se a conjuntiva com poligalactina 910 5-0 e para pele recomenda-se fio seda ou
monilon 4-0 (Figura 25).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
38/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 34 -
FIGURA 25 Procedimento de Kuhnt-Hembolt modificado ou V-plastia para ectrpio.
Diamond eye
A expresso Olhos de Diamante ou em ingls Diamond eye refere-se a duas
afeces associadas, entrpio combinado com ectrpio.
As causas podem ser variadas, porm as causas mais comuns so: tamanho
reduzido do bulbo do olho, enoftalmia, fraqueza do msculo retrator lateral, pregas faciais
e pavilho auricular pendular.
A cantoplastia lateral de Wyman tcnica indicada para o tratamento do Diamond
eye (Figura 26). Consiste na resseco de um fragmento de pele do canto nasal incluindo
parte da plpebra. Aps a resseco da pele, as plpebras so unidas com um ponto de
sutura, o tecido subcutneo suturado com fio Cat gut 2.0, por ltimo, completa-se a
dermorrafia com fio mononilon 3.0
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
39/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 35 -
FIGURA 26 Representao esquemtica da tcnica de correo oDiamond eye. A - Inciso e
remoo da pele. B Sutura.
Blefarites
Blefarites referem-se s vrias condies inflamatrias das plpebras. As causas
variam de acordo com o agente patognico, estando geralmente relacionados a doenas
infecciosas, parasitrias, seborreicas, alrgicas e imunomediadas.
Estas afeces so clinicamente caracterizadas por prurido, secreo ocular,
desconforto, hiperemia e muitas vezes com aparecimento de edema.
O diagnstico consiste na identificao do fator gnico que est promovendo o
aparecimento da afecoO tratamento varia de acordo o agente causador, basicamente as blefarites so
tratadas com o uso de pomadas oftlmicas (neomicina, bacitracina e polimixina B,
cloranfenicol), xampus neutros infantis diludos (5 a 10 vezes em NaCl 0,9%), antibiticos
e antiinflamatrios sistmicos e caso necessrio antiinflamatrio tpico.
Devido a essas variaes as blefarites podem ser classificadas em classes de
acordo com o agente.
- Blefarite alrgica: normalmente esta condio uma manifestao clnica de
atopia. Observa-se edema palpebral pruriginoso e raramente doloroso.
O tratamento recomendado baseia-se no uso de compressas frias, anti-
histamnicos como a difenidramina (Benadril - FH), 2 a 4 mg/kg, VO, BID a QID), e
glicocorticides sistmicos como prednisona, 0,5 a 1,0 mg/Kg, VO, SID a BID) e tpicos
como prednisona (Pred fort - FH), 1 gota/TID. A terapia deve ser descontinuada
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
40/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 36 -
gradativamente, pesquisando a menor dose efetiva para manuteno. Tratar a causa
primria fundamental, para tanto, o tratamento da atopia fundamental.
- Blefarite bacteriana: esta condio causada pela infestao de bactrias
patolgicas, que podem diferir entre os animais jovens e adultos.
Em filhotes, blefarite purulenta ocorre como parte da piodermite juvenil. H dor
considervel e secreo purulenta.
Staphylococcus e Streptococcus sp. so os mais envolvidos nas blefarites
bacterianas entre os adultos. Nos casos agudos pode se observar hiperemia, crostas e
secreo, j nos crnicos, comum fibrose, alopecia e ulcerao.
Para o tratamento, so recomendados antibiticos sistmicos com base em cultura
e antibiograma. Pode-se iniciar o tratamento com cefalexina por no mnimo 21 dias.
Orienta-se fazer uma limpeza cuidadosa das margens palpebral e remoo de exsudatos
purulentos. Casos agudos podem ser tratados com antibiticos tpicos (ciprofloxacina ou
tobramicina colrio), e os crnicos, alm da tpica, recomenda-se terapia sistmica.
Preconiza-se ainda o uso de colar protetor devido afeco ser altamente pruriginosa,
podendo ocorrer automutilao.
- Blefarite mictica: a infeco palpebral por Microsporum e Tricophyton sp.
ocorre como parte de problema dermatolgico. A alopecia em expanso, descamao e
hiperemia so os aspectos clnicos, e o diagnstico baseado em fluorescncia por
lmpada de Wood e / ou cultura.
O tratamento feito com pomadas de miconazol ou clotrimazol, evitando o contato
com a crnea. Infeces persistentes e/ou profundas podem ser tratadas com
griseofulvina ou cetoconazol sistmicos em doses convencionais.
- Blefarite parasitria: tanto a demodiciose quanto a escabiose, causadas
respectivamente por Demodex canise Sarcoptes scabiei, podem afetar as plpebras. As
leses caracterizam-se por hiperemia e prurido (escabiose), complicadas por infeces
bacterianas e autotraumatismo.
A demodiciose localizada tende a ser restrita a face, com envolvimento palpebral, e
mais comum em ces jovens. A regresso espontnea pode ocorrer, mas retenonatpica e ungento oftlmico de isoflurofato podem ser usados. O perxido de benzola em
gel (Benzac - FH) pode ser friccionado nas plpebras a cada 12h evitando o contato
com a crnea. Em casos generalizados pode-se associar banhos de amitraz a cada trs
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
41/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 37 -
dias ou moxidectin (Cydectin 1%) na dose de 0,5mg/Kg/VO a cada 72h at a obteno de
dois raspados cutneos negativos.
A escabiose causa prurido intenso, com vrias partes do corpo envolvidas alm
das plpebras. O tratamento feito juntamente com a terapia cutnea, sendo os banhos
com amitraz e moxidectina bastante eficientes.
Calzio
Esta afeco resultado da inflamao das glndulas tarsais. Acontece
principalmente em animais jovens. A infeco contida profundamente na placa tarsal, e
o aumento de volume visto distendendo conjuntiva palpebral. O termo calzio denota
a formao granulomatosa como resultado de secrees tarsais retidas nas glndulas.
Para o diagnstico observa-se durante a inspeo uma massa amarelo-acizentada,
firme e no dolorosa palpao. Diferencia do hordolo pela consistncia e ausncia de
sensibilidade dolorosa.
O tratamento cirrgico (Figura 27). Pratica-se imobilizao da rea com pina de
Calzio, incisa-se com bisturi, e procede-se curetagem do tecido com material apropriado
(cureta). Recomendam-se antibiticos e antiinflamatrios tpicos como gentamicina e
dexametasona por um perodo de 7 a 10 dias.
FIGURA 27 Representao da remoo do calzio. Aps a inciso, o tecido removido comcureta
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
42/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 38 -
Hordolo
Refere-se inflamao, infeco e abscesso das glndulas de Zeis ou de Moll
(hordolo interno) ou das glndulas tarsais (hordolo externo).
Existe sensibilidade dolorosa palpao, e no forma uma massa to evidente
como aquela formada no calzio. possvel observar conjuntiva hipermica e discreto
aumento de volume palpebral.
O tratamento envolve o uso de compressas quentes, drenagem do abscesso e possvel
presso manual das leses sob anestesia tpica e antibiticos tpicos.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
43/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 39 -
Captulo 5 Doenas traumticas e neoplasias das plpebras
As condies traumticas e neoplsicas exigem porcedimentos reconstrutivos. O
conhecimento da anatomia e fisiologia palpebral fundamental para preservar a
funcionalidade destes anexos.
Lacerao palpebral
As afeces traumticas so relativamente comuns, principalmente em ces.
Ocorrem por diferentes causas, freqentemente devido a brigas, mordidas, arranhes
ou em acidentes automobilsticos.
importante nesses casos avaliar as extenses das laceraes, determinar o
grau de infeco e se possvel determinar o tempo ocorrido do acidente.
No tratamento recomendada a limpeza abundante com soluo de cloreto de
sdio 0,9%, depilao da rea afetada deixando no mnimo uma margem de trs
centmetros. Em alguns casos a correo clnica, mas geralmente a correo torna-se
cirrgica devido a uma grande perda de tecido local, principalmente em brigas. Caso seja
necessria a reconstruo cirrgica, esta deve ser realizada o mais rapidamente possvel,
estando atento entre a relao da margem palpebral e superfcie ocular quando realizar a
sutura para evitar a ocorrncia de ectrpio ou entrpio cicatricial. Fio de poliglactina 910
dimetro 4.0 a 6.0 so os mais recomendados para suturar a conjuntiva. Para pele o
mononilon 4.0 apropriado. O primeiro ponto de sutura proximal ao tarso e deve ser
executado de forma que as pontas do fio no atritem a crnea conforme a Figura 28.
indicado o uso de antibioticoterapia tpica e sistmica associado a analgsicos.
FIGURA 28 Representao da disposio da sutura em laceraes palpebrais (sutura em 8).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
44/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 40 -
Neoplasias palpebrais
A plpebra local comum de formao neoplsica em ces idosos no havendo
uma tpica predisposio racial. A maioria das neoplasias palpebrais na espcie canina
benigna, sendo o adenoma sebceo, a neoplasia mais comum. J na espcie felina as
neoplasias em geral costumam ser malignas.
As neoplasias mais comuns na espcie canina so: adenoma sebceo,
adenocarcinoma sebceo, melanoma, histiocitoma e papiloma.
Em felinos, a neoplasia palpebral mais freqente o carcinoma de clulas
escamosas, carcinoma de clulas basais e tambm podem ocorrer fibrossarcoma e
mastocitoma.
As causas so desconhecidas. Os sinais oftlmicos podem ser variveis. A
identificao pode ser feita atravs da visibilizao, devido o surgimento de massas nas
plpebras, o que ir depender muito do tamanho do tumor.
O diagnstico baseado na localizao e aparncia da massa e a confirmao
feita mediante citopatologia. O material pode ser colhido atravs de aspirao com agulha
fina ou encaminhamento de toda a massa aps exciso completa.
Para o tratamento de tumores indicado resseco cirrgica associada
quimioterapia em alguns tipos de neoplasias como mastocitomas. A tcnica usada a
blefaroplastia, que consiste na remoo da massa e reconstruo da plpebra.
Contudo, os tumores palpebrais devem ser removidos antes de alcanarem
tamanhos considerveis, o que exigiria uma remoo radical, necessitando
procedimentos de blefaropoiese.
Tumores que envolvam mais que um tero da extenso palpebral necessita
procedimentos de reconstruo palpebral (Figura 29), j os menores, podem ser
excisados e suturados por primeira inteno (Figura 30).
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
45/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 41 -
FIGURA 29 Retalho de avano/adiantamento para leses de espessura facial.
FIGURA 30 Desenho esquemtico ilustrando resseco palpebral. A tcnica indicada em
pequenos tumores palpebrais como demonstra a figura.
A Quadro 01 fornece a classificao histognica das principais neoplasias
oculares que acometem ces e gatos (BEDFORD, 2000).
QUADRO 01: Classificao histognica das neoplasias.
CLASSIFICAO HISTOGNIA
Adenoma 29 60%
Melanoma benigno 13 18%
Papiloma escamoso 11 17%
Adenocarcinoma 2 15%
Melanoma maligno 2,8 8%
Histiocitoma 1,6 3,5%Mastocitoma 1 2,5%
Carcinoma basocelular 1 2,5%
Carcinoma epidermide 1 2%
Outros 1 5%
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
46/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 42 -
Captulo 6 Terceira plpebra e ducto nasolacrimal
Terceira plpebra
A terceira plpebra uma estrutura de proteo mvel, localizada entre a crnea e
a plpebra inferior, na poro nasal do saco conjuntival inferior. Alm de proteo, a
glndula localizada na sua base produz lgrima e ainda participa da atividade imunolgica
do olho.
As duas afeces mais comuns da terceira plpebra e sua glndula so a everso
da cartilagem e a hiperplasia/hipertrofia da glndula da terceira plpebra.
Everso da cartilagem
A everso da terceira plpebra, refere-se ao enrolamento da margem da
membrana em decorrncia da curvatura anormal da poro vertical de T cartilaginoso
um distrbio congnito que ocorre devido a uma m formao da cartilagem da terceira
plpebra. O Pointer uma raa predisposta, mas pode ocorrer em qualquer raa.
A principal complicao clnica a conjuntivite crnica com secreo ocular devido
exposio da mucosa conjuntival. Pode ocorrer ceratite e ulcerao corneal.
O tratamento feito mediante a remoo de um fragmento do brao vertical do T
cartilaginoso (Figura 31), isso permite a terceira plpebra se acomodar em sua posio
anatmica.
Nesta tcnica, a conjuntiva aberta com pequena inciso e um fragmento de 2mm
do brao vertical T removido. No necessrio suturar a conjuntiva.
FIGURA 31 Cirurgia para everso da cartilagem mostrada em desenho esquemtico.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
47/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 43 -
Protruso da glndula da terceira plpebra(Cherry eye)
A protruso ocorre geralmente por hiperplasia/hipertrofia da glndula, apresenta
uma aparncia no atrativa e pode causar irritaes e inflamaes oculares (Figura 32).
A deficincia do tecido conectivo na perirbita pode levar a exposio da glndula
lacrimal, inflamao, hiperplasia e hipertrofia. Esta afeco pode ser unilateral ou bilateral
e ocorre com maior freqncia em ces com at dois anos 2 anos de idade (entre trs e
seis meses mais comum). O Cocker Spaniel, Bulldog Ingls, Shar Pei e Mastiff so
raas predispostas. Em gatos a doena rara.
Os sinais mais observados so massa avermelhada no canto medial, hipertrofia
glandular, prejuzo produo lacrimal, conjuntivite crnica e secreo ocular.
A remoo da glndula, procedimento muitas vezes executado, pode causar a
ceratoconjuntivite seca (CCS) em indivduos predispostos. Como esta glndula contribui
com cerca de 30 a 40% do filme lacrimal, contra-indica-se sua remoo. O tratamento
pode ser mdico ou cirrgico. O tratamento mdico feito base de antibitico e
antiinflamatrio, onde normalmente a glndula reduz bastante, mas dificilmente fica
imperceptvel. O tratamento cirrgico consiste na reposio da glndula atravs de vrias
tcnicas. As Figuras 33 e 34 demonstram o procedimento. A sutura empregada com fio
poligalactina 910 em padro contnuo simples. As principais envolvem o sepultamento da
glndula, atravs de suturas, e ancoragem da glndula no peristeo da rbita. A tcnica
usada rotineiramente no Hospital Veterinrio da Universidade Federal do Paran
Campus Palotina o reposicionamento da glndula em um bolso criado pela conjuntiva
da 3 plpebra descrita por MORGAN (1993).
Quando no h lcera de crnea, recomenda-se corticoterapia com prednisona
colrio (uma gota a cada 8h) cinco dias antes do procedimento cirrgico, continuando por
sete dias no ps-operatrio. A corticoterapia prvia reduz a inflamao e facilita o
procedimento, preconiza-se colar elisabetano e antiinflamatrio no esteroidal sistmico
por cinco dias. Antibioticoterapia tpica fica na dependncia do desenvolvimento de
infeces.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
48/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 44 -
FIGURA 32 Paciente felino apresentando protruso da glndula da terceira plpebra.
FIGURA 33 Tcnica da bolsa de fumo de Moore para protuso da glndula da terceira plpebraem corte sagital.
FIGURA 34 Tcnica da bolsa de fumo de Moore para protuso da glndula da terceira plpebra
em vista frontal
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
49/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 45 -
Ducto nasolacrimal
As alteraes do ducto nasolacrimal produzem freqentemente epfora (fluxo
exagerado de lgrima) por deficincia de drenagem. Isso pode ser decorrente de
dacriocistite, tortuosidades ou no-perfurao do ponto lacrimal.
Dacriocistite
a inflamao e obstruo do ducto nasolacrimal. Pode ocorrer devido obstruo
por corpos estranhos principalmente em ductos tortuosos em pacientes braquiceflicos. O
diagnstico feito mediante observao dos sinais clnicos (secreo e plos faciais
manchados, acmulo de material purulento no canto medial e dor), e atravs do teste de
Schirmer (aumentado) e teste de Robert Jones com fluorescena (o corante no sai pela
narina num perodo de 3 a 5 minutos).
Nestes casos, indica-se a desobstruo do ducto nasolacrimal. A desobstruo
deve ser procedida com fio de nilon ou sondas apropriadas para lavagem do ducto. O
procedimento feito sob anestesia tpica ou geral. Pode-se adaptar um cateter nmero
20 ou 24 que deve ser inserido em um dos pontos lacrimais. Enquanto injeta-se NaCl
0,9% com uma seringa de 5 a 10 mL, faz presso simultnea no ponto lacrimal no
canulado, forando a sada da soluo pela narina (Figura 35). Prossegue-se com
associao de corticide e antibitico em forma de colrio por sete a dez dias.
Recomenda-se a administrao de antibitico pela via sistmica como espiramicina e
metronidazol por 7 a 10 dias ou tilosina na dose de 15 mg/Kg a cada 15 dias (quatro
doses).
FIGURA 35 Desobstruo do ducto em desenho esquemtico.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
50/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 46 -
Epfora (dacriocistocromorria)
uma afeco comum principalmente em ces braquiceflicos (Poodle, Shih Tzu,
Lhasa Apso entre outros). Ocorre por deficincia na drenagem do filme lacrimal e
extravazamento de lgrima pelo canto nasal. Clinicamente observa-se secreo lacrimal e
colorao marrom dos plos na regio. Dentre as causas mais comuns, relacionamse o
lago lacrimal raso, entrpio inferior de canto medial e triquase. A obstruo do ducto,
comentada anteriormente, agenesia de puncta e estenose de pontos lacrimais tambm
podem estar relacionados epfora. Nestes casos, o teste de Jones tem valor excludente.
O tratamento est relacionado correo da causa. Como as causas so variadas,
dificilmente obtem-se cura completa. Pode-se, alternativamente, manter plos curtos e
fazer limpeza freqente.
Para agenesia de ducto, pode-se proceder a tcnicas de neoductos. As vrias
tcnicas descritas consistem basicamente na criao de um trajeto culo-nasal usando
uma sonda para leito de cicatrizao. Esta sonda pode ser adaptada com uma sonda tipo
Tom catpara gatos e uretral nmero 6 para ces. Em ambas as situaes devero ser
usados colrios de antibiticos e antiinflamatrios no ps-operatrio. O uso de cido
acetilsalislico (10 a 20 mg/Kg a cada 8h para ces e 10 mg/Kg a cada 48 horas para
gatos) por um perodo de at 21 dias, reduz a estenose cicatricial e mantm a patncia do
neoducto.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
51/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 47 -
Captulo 7 Conjuntiva
A conjuntiva a membrana mucosa mvel que recobre as superfcies internas das
plpebras, superfcies interna e externa da terceira plpebra e a poro anterior do globo
ocular, adjacente ao limbo. A principal afeco da conjuntiva a conjuntivite.
Conjuntivite em ces
O termo conjuntivite descreve a inflamao inespecfica da conjuntiva bulbar e ou
palpebral e pode ser desencadeada por vrios agentes. Em ces, as conjuntivites so
normalmente secundrias. Geralmente no h uma doena primria de conjuntiva que
determine o processo. Os principais sinais observados em conjuntivites agudas so
hiperemia conjuntival, quemose, lacrimejamento e presena de exsudato. Presena de
Folculos linfides hiperplsicos e espessamento de conjuntiva so sinais mais comuns
nas conjuntivites crnicas.
A seguir, listam-se algumas situaes que podem desenvolver conjuntivite
secundria:
Substncias qumicas irritantes
Neste grupo comum o contato com produtos de limpezas e conservantes de
alguns colrios. Torna-se imprescindvel a avaliao da crnea em busca de leses. O
diagnstico firmado pelo histrico e sinais clnicos, e o tratamento, baseado em
limpeza exaustiva do olho com NaCl 0,9%, colrios de antiinflamatrios esteroidais por 7 a
10 dias e antibitico (colrio ou pomada) em casos de infeco bacteriana secundria.
Reaes de hipersensibilidade do tipo I, II, III e IV
Em razo da posio exposta do saco conjuntival e contedo do tecido linfide, a
conjuntivite alrgica freqentemente ocorre aps a entrada de antgenos para o interior do
saco conjuntival. A resposta desencadeada por vrios tipos de antgenos como plen,
poeira, picadas por insetos, toxinas bacterianas, e pode ocorrer em todas as espcies. Os
sinais clnicos so: hiperemia, quemose, prurido, crostas e folculos conjuntivais. Odiagnstico pode ser formulado com o histrico do animal, exame fsico, testes
intradmicos, citologia e bipsia. O tratamento consiste na administrao de
corticosterides tpicos e sistmicos, anti-histamnicos tpicos, antibiticos para infeco
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
52/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 48 -
bacteriana secundria, tratamento dos sinais clnicos e evitar um novo contato com os
alrgenos.
So frequentemente associados a atopia, pnfigo foliceo ou eritematoso e outras
dermatopatias alrgicas. Em longo prazo pode-se utilizar colrio de ciclosporina de 0,2 a
1%.
Irritao mecnica
Anormalidades palpebrais, dficit lacrimal, estado imune, fatores irritantes e
dermatopatias. O diagnstico baseado pelo exame ocular, avaliao das plpebras, do
sistema nasolacrimal, realizao do teste de Schirmer e teste de Robert Jones. O
tratamento baseia-se na correo da causa determinante e administrao de colrio de
glicocorticide.
Dentre as conjuntivites de causas primrias as bacterianas (Staphylococcus sp. e
Streptococcus sp.) e viral, causada pelo vrus da cinomose, so as mais comuns.
Para o tratamento das conjuntivites bacterianas recomenda-se antibiticos de
amplo espectro, bacitracina, neomicina e polimixina B (para as bactrias Gram-positivas),
e cloranfenicol, gentamicina e tobramicina (para as bactrias Gram-negativas), deve-se
tambm remover as crostas e exsudatos com algodo mido embebido em soluo salina
ou com materiais comerciais para a limpeza do olho, extravasar as glndulas tarsais em
casos crnicos, antibioticoterapia sistmica em casos graves ou crnicos ou se a
conjuntivite for secundria a piodermite ou seborria. Recomenda-se colar elisabetano
para preveno da automutilao.
Na cinomose, a conjuntivite est quase sempre presente nos estgios iniciais.
Causa eritema grave, secreo serosa combinada com tonsilite, faringite, pirexia,
anorexia e linfopenia, principalmente em filhotes, o antgeno viral pode ser detectado por
mtodos imunolgicos ou reao em cadeia da polimerase (PCR). O tratamento
embasado na administrao de antibiticos tpicos e sistmicos, solues repositrias de
lgrima, remoo das crostas e terapia para doenas sistmicas.
Conjuntivite em gatos
Diferente do que ocorre em ces a conjuntivite em gatos geralmente
desencadeada por causas primrias (vrus ou bactrias), sendo assim, o uso de
glicocorticides geralmente contra indicado. Os agentes causadores do complexo
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
53/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 49 -
respiratrio superior felino (herpes vrus, clamdia e micoplasma) so frequentemente
associados conjuntivite felina.
Chlamydia psittaci
A Chlamydia psittaci (bactria) causa conjuntivite significativa em gatos, e h um
potencial zoontico. Esta doena inicialmente unilateral pode atingir o olho contra lateral
em at sete dias, a quemose marcante e pode estar associada a rinite. Os principais
sinais oculares dessa doena so conjuntiva rosa-acinzentada, epfora purulenta,
hiperplasia conjuntival e formao dos folculos linfides. O diagnstico formulado pelos
sinais clnicos, histrico do animal, cultura e teste de PCR, raspado de clulas epiteliais e
a demonstrao de corpos elementares intracitoplasmticos. A doena responde bem ao
tratamento com cloranfenicol ou tetraciclina (colrio ou pomada a cada 8h por 21 a 30
dias) e em casos severos ou para eliminar o estado de portador, deve-se associar a
doxiciclina na dose de 5 mg/Kg a cada 12 h por 30 dias.
Herpes vrus felino 1 (HVF-1)
a causa mais comum de conjuntivite em gatos. O dano ao tecido ocorre devido
lise celular quando o vrus deixa a clula. A manifestao clnica depende da idade do
animal e de sua competncia imunolgica, sendo mais grave em filhotes que sofrem uma
infeco primria.
Em filhotes a replicao viral intensa e pode determinar o desenvolvimento da
oftalmia neonatal (a Clamdia tambm pode estar presente). Nos gatos jovens a infeco
manifesta-se geralmente de forma bilateral, sendo comum a infeco concomitante do
trato respiratrio superior, com sinais de espirros e secreo serosa nasal. Tambm
possvel o desenvolvimento de lceras dendrticas, que so observadas com colrio de
rosa bengala. Nos casos mais crnicos, a conjuntivite pode desenvolver simblfaro. Em
animais adultos ocorre mais comumente a manifestao unilateral da doena no sendo
obrigatria a presena concomitante de sinais de replicao viral no trato respiratrio
superior. O diagnstico dessa doena se d pelo isolamento do antgeno viral, pelafluorescncia indireta e pelo teste de PCR. O tratamento consiste na administrao de
pomadas de antivirais como idoxuridina, trifluridina ou aciclovir (a cada 12h por 21 dias) e
tratamento convencional para lcera de crnea (de preferncia para antibiticos a base de
cloranfenicol ou tetraciclina). Estudos demonstram bons resultados com interferon alfa
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
54/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 50 -
10.000 UI/mL, a cada 8h tpico e L-lisina, 230 a 500 mg, por via oral, a cada 12h por 30
dias.
Mycoplasma felis
uma bactria da microbiota conjuntival dos gatos e pode ocorrer de forma
oportunista ou secundria a outras conjuntivites como as anteriormente citadas. A
cronicidade resulta em espessamento da conjuntiva e formao de pseudomembrana. O
diagnstico definitivo necessita de cultura. O Tratamento pode ser feito com pomadas ou
colrios de tetraciclina, cloranfenicol ou gentamicina a cada 6h por 21 a 30 dias.
Conjuntivites secundria em gatos esto mais associadas a alteraes palbebrais
ou deficincias do filme lacrimal.
-
5/21/2018 Manual de Oftalmologia Veterin ria
55/88
_____________________________________________________________________________________
Prof. Olicies da Cunha, MV, MSc.
UFPR Campus Palotina- 51 -
MDULO III - Afeces da crnea
Captulo 8 Ceratites ulcerativas
A crnea poss