marisa barros autismo
TRANSCRIPT
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A Msica como mediadora no desenvolvimento cognitivo em crianas com perturbaes
Autsticas: Interveno junto de uma aluna com perturbaes Autsticas
Marisa Raquel Monteiro de Barros
Tese de Mestrado apresentada Escola Superior de Educao Joo de Deus, para a Obteno do
Grau de Mestre em Necessidades Educativas Especiais, no domnio Cognitivo Motor, sob a
Orientao do Professor Doutor Horcio Saraiva
Mestrado em Necessidades Educativas Especiais Domnio Cognitivo Motor
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II
Resumo
Este projeto de investigao aborda a temtica da importncia da Msica no
desenvolvimento cognitivo das crianas com Perturbaes Autsticas. Pretendemos
possibilitar um conhecimento mais abrangente, acerca das especificidades do Autismo, tal
como, benefcios que a msica manifesta nesta perturbao ao nvel cognitivo,
socializao/interao, comunicao e psicomotricidade.
Deste modo, o nosso projeto incide num estudo de caso, de uma criana que
frequenta o pr-escolar com Autismo; onde sero abordadas estratgias de interveno,
para tal, recorremos observao direta, tendo-se elaborado grelhas de observao, sendo
ainda, delineadas e concretizadas algumas atividades prticas, de modo, a obtermos dados
para o nosso estudos.
Com a realizao deste trabalho, foi possvel conhecer melhor as prticas e
estratgias a adotar com a criana, de forma a possibilitar-lhe uma integrao na sociedade
e meio escolar, e ainda ajudando-a no seu desenvolvimento cognitivo.
Palavras chave: Autismo, Msica, Socializao/Interao, comunicao.
Psicomotricidade.
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III
Abstract
This research project addresses the importance of music on cognitive development
on children with autistic disorders. We intend reach a wider knowledge about the
particularities of autism, such as benefits that music expresses in this particular
disturbance. On the cognitive, social / interactive, communicative and psychomotor level.
In this way, our project focuses on a study of a case of a child who attends
preschool with Autism, there will be addressed intervention strategies, using direct
observation, having been drawn grids of observation, and yet, designed and implemented
some practical activities in order to obtain data for our studies.
With this work, we could better understand the practices and strategies to adopt
with the children, in order to allow them an integration in society and schools, and even
helping them in their cognitive development.
Key words: Autism, Music, Socializing / Interaction, communication. Psychomotricity.
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IV
Dedicatria
A ti Mariana por todos os momentos de partilha nesta etapa que nos uniu ainda mais.
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V
Agradecimentos
Este trabalho no teria sido possvel se no tive a colaborao e apoio de todas as
pessoas que me rodeiam no dia-a-dia, nomeadamente a minha famlia e amigos.
Agradeo especialmente Mariana, por todos os momentos de partilha, pelo
carinho.
Expresso o meu agradecimento Educadora Filomena Ribeira, que me apoio em
todo o trabalho e ainda me da Mariana, que se mostrou disponvel para colaborar
incondicionalmente.
O meu sincero agradecimento ao Doutor Professor Horcio, pela
disponibilidade, apoio e orientao.
Por fim agradeo, a todos os docentes que me acompanharam nesta etapa da minha
vida
A todos o meu obrigado.
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VI
Abreviaturas
DRLVT -Direo Regional de Educao de Lisboa e Vale do Tejo.
Gaes Centro Auditivo
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VII
ndice
Resumo ............................................................................................................................................... II
Abstract ............................................................................................................................................ III
Dedicatria ....................................................................................................................................... IV
Agradecimentos ................................................................................................................................. V
ndice de Grelhas ............................................................................................................................... X
ndice dos Anexos ............................................................................................................................ XI
Introduo .......................................................................................................................................... 1
CAPTULO I - Enquadramento Terico ............................................................................................ 3
1. Perturbaes Autsticas .............................................................................................................. 4
1.1- Caracterizao da criana Autista ....................................................................................... 6
2 - Caractersticas Comuns dos Autistas ...................................................................................... 12
2.1- Conceptualizao ............................................................................................................. 13
2.2- Variantes das Perturbaes Autsticas .............................................................................. 14
2.3- Etiologia ............................................................................................................................ 15
3- Teorias Psicogenticas ............................................................................................................. 16
3.1- Teorias Biolgicas ............................................................................................................ 18
4. Estudos genticos: genes, cromossomas e autismo .................................................................. 19
4.1 Estudos Neurolgicos ........................................................................................................ 19
4.2 Estudos Neuroqumicos ...................................................................................................... 20
5. Fatores Pr, Peri e Ps Natais das Perturbaes Autsticas ...................................................... 21
6- Proposta de Bowler .................................................................................................................. 21
6.1 Modelo de Hobson ............................................................................................................. 21
6.2 Problemas de Ateno ........................................................................................................ 22
7. Avaliar para Intervir ................................................................................................................. 22
7.1- Diagnstico ....................................................................................................................... 27
7.2 Tratamento ......................................................................................................................... 27
7.3- Dificuldades de Aprendizagem ......................................................................................... 29
7.4- Intervenes na rea da Comunicao- Interao e Competncia Social ......................... 30
7.5- Comunicao..................................................................................................................... 34
7.6- Psicomotricidade ............................................................................................................... 35
8- Os Pais e o Processo Educativo da Criana Autista ................................................................. 35
9- Msica ...................................................................................................................................... 38
9.1- O que a Musicalizao? ................................................................................................. 40
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VIII
9.2- O Papel da Msica na Educao ....................................................................................... 41
9.3- A Musica como processo ldico e socializador de aprendizagem .................................... 42
9.4- A Msica como meio de integrao do ser ....................................................................... 43
9.5- A Musica como instrumento de apoio a crianas com distrbios de comunicao e
linguagem.. ............................................................................................................................... 44
CAPTULO II - ENQUADRAMENTO EMPIRICO ...................................................................... 45
Introduo .................................................................................................................................... 46
1- Justificao do Estudo.............................................................................................................. 46
2- QUESTO DE INVESTIGAO .......................................................................................... 47
2.1- Objetivo Geral:.................................................................................................................. 48
2.3- Objetivos Especficos ........................................................................................................ 48
3- Hipoteses .................................................................................................................................. 48
Hiptese 1 ................................................................................................................................. 49
Hiptese 2 ................................................................................................................................. 49
Hiptese 3 ................................................................................................................................. 49
Caraterizao e Contextualizao da situao - problema ........................................................... 50
Amostra .................................................................................................................................... 50
Procedimentos Gerais ............................................................................................................... 50
Dados Relativos Criana ....................................................................................................... 50
Caraterizao do meio .............................................................................................................. 52
Histria ..................................................................................................................................... 53
Caraterizao do A grupamento ................................................................................................... 53
Caraterizao do Jardim de Infncia ............................................................................................ 55
Caracterizao do Grupo .............................................................................................................. 55
Instrumentos de Observao ........................................................................................................ 57
Antes da Interveno - Grelhas de observao ............................................................................ 57
Atividade 1 ............................................................................................................................... 60
Atividade 2 ............................................................................................................................... 61
Atividade 3 ............................................................................................................................... 62
Atividade 4 ............................................................................................................................... 63
Atividade 5 ............................................................................................................................... 64
Atividade 6 ............................................................................................................................... 65
Atividade 7 ............................................................................................................................... 66
Atividade 8 ............................................................................................................................... 67
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IX
Atividade 9 ............................................................................................................................... 68
Atividades realizadas individualmente com a criana do nosso estudo ....................................... 69
Atividade Individual 1 .............................................................................................................. 69
Atividade Individual 2 .............................................................................................................. 70
Atividade Individual 3 .............................................................................................................. 71
Atividade Individual 4 .............................................................................................................. 72
Atividade Individual 5 ............................................................................................................. 73
Atividade Individual 6 .............................................................................................................. 74
Atividade Individual 7 .............................................................................................................. 75
Aps Interveno ......................................................................................................................... 76
Anlise dos Resultados .................................................................................................................... 82
Concluses ....................................................................................................................................... 84
Consideraes Finais ........................................................................................................................ 85
Bibliografia ...................................................................................................................................... 86
ANEXOS.......................................................................................................................................... 89
APROVAO PELO CONSELHO PEDAGGICO ............................................................... 109
O Presidente da CAP .................................................................................................................. 109
APLICAO DO PROGRAMA EDUCATIVO INDIVIDUAL- REVISES/ ADENDAS ... 110
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X
ndice de Grelhas
Grelha 1- rea da Socializao/Interao ........................................................................................ 57
Grelha 2 - rea Motora/Psicomotricidade ....................................................................................... 58
Grelha 3 - rea Comunicao .......................................................................................................... 59
Grelha 4 - rea da Socializao/Interao (Aps Interveno) ....................................................... 76
Grelha 5 - rea Motora/Psicomotricidade (Aps Interveno) ....................................................... 77
Grelha 6 - rea Comunicao (Aps Interveno) .......................................................................... 78
Grelha 7 - Sntese das competncias da rea da Socializao/Interao .......................................... 79
Grelha 8 - Sntese das competncias da rea da Psicomotricidade .................................................. 80
Grelha 9 - Sntese das competncias da rea da Comunicao ........................................................ 81
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XI
ndice dos Anexos
Anexo 1 - Caraterizao do Agrupamento de Escolas de Freixianda .............................................. 54
Anexo 2 - Autorizao da Educadora .............................................................................................. 89
Anexo 3 - Autorizao da me ......................................................................................................... 90
Anexo 4 - Grelha de Registo da rea da Socializao/Interao ...................................................... 91
Anexo 5 - Grelha de Registo da rea da Psicomotricidade .............................................................. 92
Anexo 6 - Grelha de Registo da rea da Comunicao .................................................................... 93
Anexo 7 - Atividade 2 ...................................................................................................................... 94
Anexo 8 - Atividade 3 ...................................................................................................................... 95
Anexo 9 - Atividade 4 ...................................................................................................................... 96
Anexo 10 - Atividade 5 .................................................................................................................... 97
Anexo 11 - Atividade 6 .................................................................................................................... 98
Anexo 12 - Atividade 7 .................................................................................................................... 99
Anexo 13 - Atividade 8 .................................................................................................................. 100
Anexo 14 - Atividade 9 .................................................................................................................. 101
Anexo 15 - Atividade Individual 1 ................................................................................................. 102
Anexo 16 - Atividade Individual 2 ................................................................................................. 103
Anexo 17 - Atividade Individual 3 ................................................................................................. 104
Anexo 18 - Atividade Individual 4 ................................................................................................. 105
Anexo 19 - Atividade Individual 5 ................................................................................................. 106
Anexo 20 - Atividade Individual 6 ................................................................................................. 107
Anexo 21 - Atividade Individual 7 ................................................................................................. 108
Anexo 22 - Programa Educativo Individual ................................................................................... 109
Anexo 23 - DSM-IV critrios de diagnstico de perturbao autista ......................................... 125
Anexo 24 - Critrios de diagnstico de autismo do ICD-10 .......................................................... 126
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1
Introduo
Desde o nascimento que o ser humano manifesta necessidade de comunicar,
interagir com a sociedade e meio envolvente. Essa necessidade comea no tero da sua
me, onde criada uma relao de afeto, estabelecendo-se formas de comunicao entre a
me e a criana, atravs de simples gestos.
Todavia existe crianas que possuem uma maneira especial de comunicar com os
outros, fazendo-o de uma forma incompreensvel para quem as rodeiam. Nasceram
envolvidos por uma concha impenetrvel, onde estas constroem o seu Mundo, alheios ao
mundo exterior, dificultando-lhe a sua integrao social.
Partindo deste pressuposto e necessidade de um conhecimento mais abrangente
relativo a estas crianas especiais- Autistas-, decidimos focalizar o nosso estudo de caso,
na interveno numa criana autista que frequenta o pr-escolar, recorrendo utilizao da
Msica, de modo a compreendermos at que ponto esta ltima beneficia a criana na
socializao, comunicao e psicomotricidade
Para a realizao deste trabalho recorreu-se a uma variedade de livros, documentos,
entre outros, levando ao emergir de dados sobre o processo de aprendizagem das crianas
autistas.
A palavra autismo foi criada por Eugene Bleur, em 1911, para descrever um
sintoma de esquizofrenia, que definiu como sendo uma fuga da realidade. No contacto
com pacientes esquizofrnicos adultos, Bleuler, introduziu o termo autismo, na tentativa
de abarcar a perda de contacto com a realidade juntamente com a permanncia de um
modo de viver voltado para si mesmo, que neles identificava. Esse neologismo, criado com
base no autoerotismo de Freud (1923), indicava uma perturbao na vida ertica desses
pacientes.
O autismo, ou o que foi originalmente designado por autismo infantil precoce, foi
inicialmente descrito por um psiquiatra peditrico americano. (Leo Kenner), em 1943,
publicou uma srie de descries de onze crianas que apresentavam um certo nmero de
comportamentos peculiares, exibindo todas uma marcada falta de interesse nas pessoas que
as rodeavam.
No decorrer do trabalho, so enumeradas algumas vantagens proporcionadas pela
Msica, a nvel cognitivo, nomeadamente ao nvel da socializao/Interao,
Psicomotricidade e Comunicao.
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2
Do ponto de vista da formao Musical, a prtica da cano, assim como a
interpretao instrumental, possibilitam a atividade de grupo, a qual requer uma atitude de
respeito, colaborao e valorizao do trabalho realizado em comum, todos estes aspetos
de inegvel valor educativo. "Sendo a Escola a instituio responsvel pela formao
cultural da criana, cabe a ela tambm proporcionar esse conhecimento, no s da msica
popular como tambm das msicas folclrica, clssica e erudita" (Silva, 1992).
No que se refere estrutura do trabalho, o primeiro captulo, est patente o
Enquadramento Terico, tendo sido a base terica do nosso trabalho.
O captulo dois possuiu a metodologia da investigao, onde esto presente a
questo da investigao Como a msica pode contribuir no desenvolvimento cognitivo
das crianas com Perturbaes Autsticas?, o objetivo Geral- Identificar nas crianas
com perturbaes Autsticas qual a importncia da msica no seu desenvolvimento
cognitivo; objetivos Especficos Conhecer a importncia que os profissionais de
educao atribuem aos recursos musicais no desenvolvimento global das crianas
autistas.; Conhecer a importncias da Msica na Comunicao das crianas com
perturbaes Autsticas; Conhecer a importncias da msica na interao -social, das
crianas com perturbaes Autsticas; Conhecer a importncia da Msica para o
desenvolvimento psicomotor das crianas com perturbaes Autsticas. Neste captulo
tambm esto presentes as hipteses.
Relativamente metodologia optamos pela elaborao de grelhas, realizao de
atividades, uma vez que se trata de um estudo de caso, em que demos primazia
observao direta e discrio das atividades.
Quanto ao terceiro captulo, constitudo pela anlise e concluso dos resultados e ainda
apresenta as linhas futuras e contempla tambm a bibliografia e anexos.
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CAPTULO I - Enquadramento Terico
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4
1. Perturbaes Autsticas
A palavra autismo foi criada por Eugene Bleur, em 1911, para descrever um
sintoma de esquizofrenia, que definiu como sendo uma fuga da realidade. No contacto
com pacientes esquizofrnicos adultos, Bleuler, introduziu o termo autismo, na tentativa
de abarcar a perda de contacto com a realidade juntamente com a permanncia de um
modo de viver voltado para si mesmo, que neles identificava. Esse neologismo, criado com
base no autoerotismo de Freud (1923), indicava uma perturbao na vida ertica desses
pacientes.
O autismo, ou o que foi originalmente designado por autismo infantil precoce, foi
inicialmente descrito por um psiquiatra peditrico americano. (Leo Kenner), em 1943,
publicou uma srie de descries de onze crianas que apresentavam um certo nmero de
comportamentos peculiares, exibindo todas uma marcada falta de interesse nas pessoas que
as rodeavam.
Nos anos 1950 e 1960, o psiclogo Bruno Bettelheim defendeu que a causa do
autismo seria a indiferena da me, que denominou de me-geladeira. Nos anos 1970
essa teoria foi rejeitada e passou-se a pesquisar as causas do autismo.
Outros autores, como Burack, reforaram a ideia do dfice cognitivo, frisando que a
perturbao do autismo tem sido nos ltimos anos focada sob uma tica
desenvolvimentista, sendo relaciona com a deficincia mental, uma vez que cerca de 70-
86% dos indivduos com perturbaes de autismo so deficientes mentais.
Atualmente sabe-se que o autismo uma perturbao neurobiolgica complexa,
includa no grupo das perturbaes globais do desenvolvimento. Estima-se atualmente que,
em cada 1000 crianas, 3 a 6 venham a ser diagnosticadas como autistas. Ocorre em todos
os grupos raciais, tnicos e sociais. Segundo estudos realizados esta perturbao parece
atingir quatro a cinco vezes mais os homens que as mulheres.
O autismo manifesta-se atravs de dificuldades muito especficas da comunicao e
interao associadas a dificuldades de utilizar a imaginao, em aceitar alteraes de
rotinas e exibio de comportamentos estereotipados e restritos. Estas perturbaes
implicam um dfice na flexibilidade do pensamento e uma especificidade no modo de
aprender que comprometem, em particular, o contacto e a comunicao do indivduo com
o meio.
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5
Nas classificaes das doenas mentais, tanto da Associao Psiquitrica
Americana ( DSMs) quanto da Organizao Mundial de Sade (as CIDs), o autismo sofreu
vrias modificaes em sua definio. Em 1968, a DSM II inclua o autismo no termo
esquizofrenia de incio na infncia; logo em seguida, na dcada de 1970, passou a
avali-lo como deficincia cognitiva ( Rocha, 2001). Em 1980, a DSM III mudou mais
uma vez; distinguiu-o da esquizofrenia infantil e o considerou como um distrbio
pervasivo do desenvolvimento (Rocha, 2001). Por fim, em 1995, a DSM IV passou a
descrev-lo como uma sndrome comportamental com vrias etiologias. A CID 10 em
1993, j no julgava que o autismo fosse uma psicose, identificando-o como um distrbio
global do desenvolvimento.
. Normalmente as crianas mais jovens manifestam indiferena ou averso aos
afetos e contactos fsicos, h ausncia de contacto visual e ausncia de resposta s vozes
dos pais, o que inicialmente os leva a acreditar que o seu filho surdo. medida que a
criana vai crescendo vai aumentando a sua predisposio para uma maior interao social.
Esta perturbao est normalmente associada a um diagnstico de Deficincia
Mental que poder variar entre moderada e profunda. Regra geral, as mulheres com esta
perturbao tm mais probabilidades de possuir uma Deficincia Mental mais grave se
comparadas com os homens.
Ao nvel comportamental, as crianas com esta perturbao podem apresentar
sintomas tais como: hiperatividade, impulsividade, agressividade, birras e comportamentos
autoagressivos. Estes sintomas ocorrem normalmente em crianas mais jovens.
Poder-se- verificar alteraes a vrios nveis, nomeadamente ao nvel da
alimentao (uma dieta muito limitada, ingesto de poucos alimentos), ao nvel do sono
(acordar vrias vezes de noite), ao nvel do humor ou do afeto, isto , mudanas de humor
frequentes e poder-se-, em alguns, casos verificar a ausncia de medo a perigos reais e
reaes excessivas de medo perante situaes ou objetos banais. Poder ainda existir
comportamentos autoagressivos.
Estas crianas quando entram na adolescncia ou at mesma na idade adulta e que
possuam capacidade intelectual tendem a ficar deprimidos quando percebem que possuem
um grave dfice
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1.1- Caracterizao da criana Autista
O autismo descrito pela existncia de disfunes sociais, perturbaes na
comunicao e no jogo imaginativo, bem como por interesse e atividades restritivas e
repetitivas, s pode ser considerado em termos de diagnstico, quando estas manifestaes
esto presentes desde o nascimento at aproximadamente os 36 meses de idade, persistindo
e evoluindo de diferentes maneiras ao longo da vida.
Segundo Lorna Wing (Marques, 2000), as pessoas com autismo apresentam dfices
em trs domnios: social, linguagem e comunicao, pensamento e comportamento, tendo
ficado conhecido por Trade de Wing.
Desde o sculo XIX, que a literatura tem descrito casos isolados de crianas com
severos distrbios mentais decorrentes de importantes distores dos processos normais de
desenvolvimento que, de acordo com a atual terminologia, apresentariam critrios
diagnsticos de autismo infantil ou transtorno autista.
1.1.1- Interao social
O dfice na interao social uma das caractersticas principais das Perturbaes
Autsticas sendo dos primeiros sinais para o seu diagnstico.
O dfice na interao social pode ir desde o desinteresse por outras pessoas, as
quais so estranhadas, at uma forma intrusiva de interao (por exemplo., uma criana
pode estar a repetir vezes sem conta a mesma questo qual o teu nome? de forma a
conseguir estabelecer/manter a comunicao coma as outras pessoas). Certas crianas,
adotam uma posio de distncia e evitam o contacto ocular (no olham diretamente para a
pessoa, quando o fazem um olhar de lado) mas outras crianas interagem com as outras
pessoas, entrando mesmo no espao dessas pessoas, mesmo que sejam estranhos,
aproximando-se demasiado, tocando-os inapropriadamente, olhando-os de perto, beijando-
o.
Estas crianas revelam vrias dificuldades de se relacionar com outras pessoas,
fazendo com que simultaneamente, apresentem dfice salientado de comportamentos no-
verbais.
Manifestam um afeto lbil, podendo sem motivo aparente, ter ataques agressivos e
repentinos ou rir sem razo. Muitas, destas crianas, manifestam comportamentos de
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agressividade, chegando a morder ou at mesmo beliscar outra criana, sem que exista
qualquer provocao por parte destas crianas. Alguns, destes comportamentos de
agressividade refletem uma incapacidade de admitir a frustrao, e um desenvolvimento
imprprio dos controlos sociais inibidores. As caractersticas expressas refutam a crena,
de que as crianas com esta Perturbao no tm capacidade para expressar afecto.
Alm das caractersticas enunciadas atrs, de salientar que estas crianas
demonstram familiarizar-se melhor com objetos do que propriamente com as pessoas. As
crianas com Perturbaes Autsticas detm um carcter instrumental de se relacionar,
pois muitas delas dirigem-se apenas s pessoas com o intuito de satisfazer uma
necessidade.
Manifestando ausncia de empatia, no so capazes de compreender nem
reconhecer os sentimentos dos outros, alm dos seus, embora algumas tenham essa
capacidade.
Finalizando, as crianas com Perturbao Autsticas no possuem, de modo geral,
conscincia das convenes sociais, no sendo capazes de conhecer as regras que regulam
a interao, no sabendo a forma como se estabelece as relaes de amizade.
(Marques,2000)
1.1.2- Linguagem
Outra caracterstica central do autismo o dfice na linguagem. De facto, cerca de
metade da populao com Perturbaes Autsticas nunca adquirem uma linguagem
funcional (Sigman & Capps, 1997) caracterstica designada por mutismo.
Convm realar que h crianas que adquirem as capacidades lingusticas normais
para a sua idade, porm, perdem de um momento para o outro esta capacidade de discurso,
desencadeando a regresso (anteriormente referida) no desenvolvimento lingustico. Esta
perda tende a ocorrer entre os 18 e os 30 meses.
de referir que no h um padro exclusivo de desenvolvimento e uso da
linguagem; pelo contrrio, existe, nestas crianas, uma vasta diversidade de capacidades
lingusticas. Sendo que, estas variaes manifestam-se desde a presena de um nvel de
linguagem que possibilita o estabelecimento de interaes relativamente normalizadas, at
ao mais profundo mutismo, associado ausncia de intenes comunicativas. Esta
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excecional multiplicidade varia conforme dois fatores: altura do desenvolvimento da
criana em que surgiu esta perturbao e o nvel de QI (dfice mental associado).
Todavia, convm salientar que mesmo as crianas que alcanam o discurso, a sua
utilizao so, tipicamente, bastante limitadas. Por exemplo, estas crianas podem possuir
imensa dificuldade em falar de um acontecimento imediato. O discurso das crianas com
Perturbaes Autsticas muito funcional, j que, apresentam uma linguagem
comparativamente sofisticada, parece privado de expresses de emoo, abstrao ou
imaginao.
Ser importante mencionar que a uso do discurso no detm, na maior parte das
vezes, uma inteno comunicativa, pois, muitas crianas falam somente com um objetivo
de autoestimulao.
Uma das caractersticas principais da linguagem das crianas com Perturbaes
Autsticas a ecollia, isto , elas repetem aquilo que as outras pessoas dizem, desde
simples palavras at frases um pouco mais complexa Este tipo de discurso contm,
caracteristicamente, uma inteno no-comunicativa. Existem variados tipos de ecollia,
sendo as mais habituais a retardada e a imediata. No que respeita ecollia retardada, a
criana repete um estmulo verbal que ouviu h algum tempo atrs (este tempo pode variar
desde alguns minutos at alguns anos atrs!) (Schreibman,1998).Uma vez que a situao
em que a criana repete a(s) palavra(s) distinta do contexto em que a(s) ouviu, o que
desencadeia um discurso contextualmente inapropriado, levando, muitas vezes, a situaes
inesperadas(por exemplo, a criana pode de um momento para o outro dizer qualquer tipo
de frase que tenha ouvido anteriormente Eu quero comer um frango assado), quanto
ecollia imediata, designada pela repetio um estmulo verbal que a criana acabou de
ouvir. O discurso ecollico, , muitas vezes, denominado pela forma, na qual a linguagem
usada pelas crianas com Perturbaes Autsticas e a sua existncia, nomeadamente se
acontece posterior aos cinco anos, estando relacionado com uma resposta mais positiva
interveno na linguagem
Cabe destacar que a ecollia, por si s, no peculiar das crianas autistas nem
uma caracterstica obrigatoriamente patolgica. De facto, a ecollia uma particularidade
do desenvolvimento habitual da linguagem, representando inclusivamente um papel fulcral
para a sua aquisio. Este aspeto do discurso aparece, usualmente, por volta dos dois anos
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9
ou dois anos e meio, pelo que s se torna patolgica quando persiste para alm dos trs ou
quatro anos de idade.
Segundo alguns autores, estas crianas com autismo, para alm da palavra eu
evitam tambm a palavra sim. O sim e o eu, sendo que estes so conceitos que
demoram muitos anos a serem adquiridos por estas crianas, fazendo com que as mesmas
sejam incapazes de os utilizar como smbolos gerais de concordncia.
No domnio da compreenso da linguagem, esta pode residir severamente
diminuda nas crianas com Perturbaes Autsticas, ainda que este dfice seja igual ou
menor que o da expresso. Certas crianas assimilam o significado das palavras atravs de
um condicionamento operante acidental, pois, apreendem vocbulos que esto relacionadas
com certo tipo de compensao, particularmente no que respeita comida.
importante referir outra caracterstica, do autismo que a incompreenso da
prosdia, uma vez que estas crianas no entendem o contedo no verbal do discurso,
especificamente a entoao, a ironia, humor, intenes subtis Cabe destacar que esta
caracterstica est igualmente evidente nas crianas que utilizam a ecollia, mas est
caractersticas se manifeste nas crianas com boas aptides lingusticas.
Ser relevante mencionar que as crianas com Perturbaes Autsticas tm
dificuldades de relacionar facilmente acontecimentos do passado ou do futuro, uma vez,
que estacionam num estado temporal presente, isto , aqui e agora.
1.1.3- Comportamentos
No que respeita s crianas com Perturbaes Autsticas, estas patenteiam uma
limitao salientada dos seus interesses, evidenciando, muitas vezes, um sentido totalmente
focado, num interesse especfico. Muitas pessoas com esta perturbao podem manifestar
rituais compulsivos, muitos destes, aparecem vulgarmente na adolescncia; onde se podem
incluir uma rotina para entrar e sair de uma sala, ter de seguir sempre o mesmo caminho
para ir para a escola, entre outros (Bautista, 1997).
Uma caracterstica tpica desta perturbao a resistncia a mudanas triviais,
nomeadamente mudanas nos rituais compulsivos ou no quotidiano da criana por
exemplo, uma criana muito jovem pode ter uma reao catastrfica face mais pequena
alterao, como utilizao de novos talheres mesa (DSM-IV-TR, 2002).
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As crianas com Perturbaes Autsticas, nomeadamente aquelas com deficincia
mental grave, manifestam maneirismos motores estereotipados e repetitivos.
Estes incluem autoestimulaes cinestsicas (por exemplo, baloiar a cabea,
inclinar-se, mexer-se), autoestimulaes preceptivas de tipo visual (por exemplo, olhar
para os dedos altura dos olhos, luzes), tctil (por exemplo, arranhar superfcies, acariciar
determinados objetos) ou auditiva (por exemplo, cantarolar, dar pancadas numa superfcie,
bater palmas). Apesar destes maneirismos, podem estar evidentes anomalias posturais,
como andar nas pontas dos ps, movimento das mos peculiares, posturas corporais
estranhas, entre outros. Para alm destes maneirismos e posturas peculiares, podem sentir-
se fascinados por movimentos (por exemplo, o girar as rodas de um carro, o abrir e fechar
de uma porta ou qualquer objeto que gire rapidamente).
Como foi referenciado em relao s interaes sociais, as pessoas com esta
perturbao parecem ligar-se melhor com objetos do que com pessoas, no desenvolvem,
na maioria, relaes de proximidade com pessoas, podendo, por vezes, permanecer
intensamente vinculadas a um objeto inanimado, levando-o consigo para todo o lado. Na
realidade, os objetos propiciam-lhe segurana, fazendo com que as crianas se sintam
melhor, isto , seguras na sua presena. Referente a este aspeto, as pessoas com
Perturbaes Autsticas puderam desenvolver uma obsesso por determinadas partes destes
objetos.
O que diz respeito ao comportamento motor, os movimentos giratrios so
prprios e exclusivos desta perturbao, so exclusivas e nicos para cada criana. A
maioria das crianas com Perturbaes Autsticas d pancadinhas com os dedos e giram-
nos continuamente. Andersen (1996) chama-lhe dana interativa e segundo a autora
algumas destas crianas utilizam determinado objeto que tem um significado pessoal
associando-o ao movimento.
Ao girar os dedos dever-se-ia provavelmente acrescentar o balano, o rolar e o bater
com a cabea como sintoma desta perturbao. necessariamente importante no interferir
no girar dos dedos da criana, na medida em que, representa a sua capacidade mxima de
abordar a realidade. A criana deve pois ser estimulada e ajudada a progredir mais tarde,
encorajada a girar objetos reais.
Quando um beb ou uma criana no abraa, no fixa o seu olhar nos olhos de
outro, ou no responde a demonstraes afetivas ou ao tato, um motivo para que os pais
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se preocupem seriamente. Esta falta de resposta pode estar acompanhada de inabilidade
para comunicar e de uma incapacidade para estabelecer algum tipo de inter-relao social.
Muitas crianas no demonstram ter preferncias pelos pais em relao a outros adultos,
nem desenvolvem amizade com outras crianas.
A capacidade para falar e comunicar com os outros muito pobre, e em certas
ocasies no existe.
Quando a criana no desenvolve relaes normais com os objetos que a rodeia,
demonstra relaes extremas para com eles, que tanto pode ser de uma total falta de
interesse, ou pelo contrrio uma preocupao de forma obsessiva para com eles, so
comportamentos para os quais se deve estar atentos e constituem desde logo uma
preocupao.
O autismo uma perturbao do desenvolvimento, podendo ser um problema srio
e incapacitante, de carcter permanente. Sendo apoiado por terapia e treino apropriado,
muitas crianas conseguem aumentar certas habilidades que lhes possibilitam alcanar um
maior grau de independncia. Para isso, necessrio, que as crianas sejam estimuladas e
apoiadas no desenvolvimento dessas destrezas, de forma sentir-se melhor consigo mesmas.
Atravs de uma educao adequada, as caractersticas podem no ser to
percetveis, possibilitando-lhes uma melhor qualidade de vida. Outro fator importante, a
criao de um ambiente adequado, pois se este ambiente for inadequado ou manifestar
falha de educao apropriada, pode levar a uma regresso e/ou perda de capacidades
anteriormente adquiridas e ainda determinao de comportamentos como a
automutilao, gritos, destruio,
Na opinio de Kirk & Gallagher (1991), o autismo no pode ser diagnosticado
apenas a partir de um s sintoma, necessrio que estejam presentes simultaneamente os
sintomas principais o que acontece antes dos trs anos.
1.1.4- Cognio
Quanto s capacidades cognitivas, as crianas com Perturbaes Autsticas podem
ostentar aspetos bastante discrepantes, os quais desde uma deficincia mental profunda at
capacidades cognitivas superiores. Mas essencial, realar que, mesmo crianas com
capacidades cognitivas elevadas tm provavelmente, menor competncia noutras reas.
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Deste modo, possvel que uma deficincia mental profunda coexista com um talento
excecional para a msica, matemtica, desenho, entre outros.
Apesar desta variabilidade, possvel traar um padro de funcionamento mais
frequente a coexistncia de capacidades verbais diminudas com capacidades no-verbais
elevadas.
Finalmente e de acordo com Rapin, a maioria das crianas com Perturbaes
Autsticas (cerca de 70%) apresenta um QI inferior a 70. Contudo, estes resultados devem
ser interpretados com alguma relutncia. Assim, porque no existe consenso absoluto
quanto s caractersticas que definem as Perturbaes Autsticas, provvel que muitas
crianas autistas, por apresentarem capacidades cognitivas elevadas, no sejam
diagnosticadas e, portanto, no sejam includas nestes estudos (enviesando, portanto, os
resultados).
2 - Caractersticas Comuns dos Autistas
Tem dificuldade em estabelecer contacto com os olhos;
Parece surdo, apesar de no o ser;
Pode comear a desenvolver a linguagem mas repentinamente ela
completamente interrompida;
Age como se no tomasse conhecimento do que acontece com os outros;
Por vezes ataca e fere outras pessoas mesmo que no existam motivos para isso;
Costuma estar inacessvel perante as tentativas de comunicao das outras
pessoas;
No explora o ambiente e as novidades e costuma restringir-se e fixar-se em
poucas coisas;
Apresenta certos gestos repetitivos como balanar as mos ou balanar-se;
Cheira, morde ou lambe os brinquedos e ou roupas;
Mostra-se insensvel aos ferimentos podendo inclusive ferir-se intencionalmente.
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2.1- Conceptualizao
O autismo uma perturbao global do desenvolvimento, que se manifesta
tipicamente antes dos 3 anos de idade. Esta perturbao global compromete todo o
desenvolvimento psiconeurolgico, afetando a comunicao e o convvio social,
apresentando em muitos casos um atraso mental.
Hoje em dia, no faz muito sentido falar-se em Autismo mas sim em Perturbaes
Autsticas, dado que existem muitas variantes desta perturbao.
Na classificao do DSM-IV-TR (American Psychiatric Association, 2000), as
Perturbaes Autsticas ou Perturbaes Globais de Desenvolvimento so caracterizadas
por um dfice grave e global em diversas reas do desenvolvimento: competncias sociais,
competncias de comunicao ou pela presena de comportamentos, interesses e atividades
estereotipadas (DSM-IV-TR, 2002:69)
Os dfices qualitativos que definem estas perturbaes variam consoante a idade
cronolgica da criana e dependem do seu nvel de desenvolvimento. Existe uma notria
perturbao da interao recproca que regula a interao social e a comunicao, podendo
ocorrer uma incapacidade de utilizao de comportamentos no verbais (contacto pelo
olhar, a expresso facial, postura corporal, etc.). Estas crianas no desenvolvem relaes
sociais com os seus pares.
Tendo ainda como referncia o manual DSM-IV-TR a incapacidade comunicativa
poder afetar tanto as competncias verbais como as competncias no-verbais, podendo
existir apenas um atraso ou ocorrer uma ausncia total de linguagem falada. Mesmo nos
casos em que essa linguagem falada exista tm grandes dificuldades em manter conversas,
o seu discurso pode apresentar um tom, um ritmo e uma entoao anormais do tipo
monocrdico. A perturbao da compreenso da linguagem pode ser evidente e traduz-se
na incapacidade para entender questes e frases simples.
Existem ainda perturbaes ao nvel do jogo social e imitativo adequado ao nvel
etrio em que as crianas tendem a envolver-se em jogos de imitao muito simples ou
rotineiros, ou ainda de forma mecnica. Os seus interesses, comportamentos e atividades
so muito limitadas.
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2.2- Variantes das Perturbaes Autsticas
Aps vrios casos estudados verificou-se que o comportamento de indivduos com
autismo difere, fazendo assim, sentido falar-se em subtipos dentro das perturbaes
autistas.
Um claro exemplo destas diferenas entre indivduos autistas so os casos de
algumas crianas, nomeadamente as mencionadas por Kanner que evitavam ou recusavam
a partilha social refugiando-se no isolamento, enquanto, outras eram mais passivas e
aceitavam as ideias dos outros e sua maneira eram sociveis.
Ao mesmo tempo se confrontarmos as descries feitas por Kanner e por Asperger
sobre crianas autistas rapidamente verificamos que apesar de referirem muitos traos
comuns em crianas com a mesma perturbao, tambm so muito evidentes as diferenas
existentes.
Por tudo isto, extremamente importante, para se conseguir realizar uma
interveno mais eficaz, e para se compreender melhor a etiologia, que haja uma
subclassificao das perturbaes autistas, por isso, mais correto falar-se em
Perturbaes do Espectro do Autismo.
Segundo o DSM-IV TR (2002) fazem parte das Perturbaes do Espectro do
Autismo:
3.1.1. Perturbao Autstica
3.1.2. Perturbao de Rett
3.1.3. Perturbao Desintegrativa da Segunda Infncia
3.1.4. Perturbao de Asperger
3.1.5. Perturbao Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificao
(incluindo o autismo atpico)
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2.3- Etiologia
As teorias no-orgnicas ou experienciais apresentam uma conceo psicodinmica e
defendem que durante a gestao e no incio do nascimento, a criana normal. De acordo
com os defensores destas teorias, o desenvolvimento de comportamentos inadaptados
ocorre devido a uma deficincia relacional ou a uma deficincia dos aspetos relacionados
com o desenvolvimento psicolgico provenientes dos pais, mas sobretudo, da me. Foram
apresentadas verses para esta deficincia relacional que podem ser subdivididas em dois
tipos (Pereira, 1996,p.42):
Aquelas cujos pais de crianas com autismo eram considerados como tendo
certas psicopatologias quando comparados com outros grupos de pais;
Aquelas cujos pais eram vistos como tendo tipos de personalidades
excessivas (frios, colricos, sem sentido de si prprios).
Os pais, devido s caractersticas da personalidade no revelam capacidade para
desenvolver junto dos filhos uma estimulao relacional boa.
As teorias orgnico-experienciais podem ser subdivididas em: teorias orgnico-
experienciais do autismo e teorias orgnicas puras.
Nas teorias orgnico-experienciais do autismo, a criana autista entendida como
sendo uma criana biologicamente deficiente e os pais no so considerados culpados,
necessitam, isso sim, de dar apoio relacional criana.
Nas teorias orgnicas puras, a deficincia, em si mesma, considerada como
expresso de uma anormalidade biolgica. Consideram que os pais contribuem muito
menos para a perturbao que afeta a criana do que para aspetos relacionados com o seu
comportamento.
De acordo com as teorias organicistas, existem diferenas significativas quanto ao
maior nmero de gravidezes e de trabalhos de partos problemticos.
Nos ltimos tempos, tm vindo a adquirir importncia as teorizaes do foro
gentico. Apesar do seu peso significativo, tm surgido diversas dificuldades devido a
aspetos relacionados com a natureza das investigaes, nomeadamente, a necessidade de se
efetuarem estudos de gmeos e as dificuldades surgidas com a recolha de dados.
As investigaes de natureza psicolgica no devem ser ignoradas.
Nos ltimos anos e, devido a teorizaes baseadas na manipulao de variveis mais
operacionalizveis, conclui-se que existem dfices de natureza cognitiva e metacognitiva
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de elevado valor heurstico e que tm chamado a ateno para ndices que se acredita
estarem mais prximo de um provvel dfice central na sndroma do autismo.
So diversas as teorias que se tm vindo a desenvolver e que procuram explicar as
perturbaes do espectro do autismo. As teorias comportamentais procuram explicar a
sndroma atravs de mecanismos psicolgicos e cognitivos; as teorias neurolgicas e
fisiolgicas apresentam uma explicao de base neurolgica.
Todas as teorias que tm vindo a ser desenvolvidas, se complementam.
3- Teorias Psicogenticas
Devemos assumir que estas crianas nascem com uma incapacidade inata para
proceder da forma biologicamente correta ao contacto afetivo com os outros, tal como
outras crianas nascem com outro tipo de incapacidades fsicas ou mentais (Kanner,
1943)
Inicialmente Kanner defendia que o autismo era inato, mas mais tarde, em 1954,
influenciado pelas teorias psicanalticas, muito na moda, na altura, acaba por atribuir aos
pais, nomeadamente a frieza emocional o perfeccionismo e a rigidez, a culpa desta
perturbao, no podemos esquecer que o gelo emocional que estas crianas recebem por
parte dos pais pode funcionar como um elemento altamente patolgico para o
desenvolvimento (Marques, 2000, p.54).
No fundo estas teorias tm as suas razes nas teorias psicanalticas e defendem que
as crianas autistas eram normais antes do nascimento, mas que devido a fatores
familiares, nomeadamente pais frios, pouco expressivos, introvertidos, formais, ou super
protetores, teriam afetado o desenvolvimento afetivo destas crianas, desencadeando o
quadro autista.
Segundo Marques (1998:p.44), Kanner considerou que as singularidades
psicolgicas dos pais das crianas com autismo se traduziam em relaes distorcidas e
patolgicas com os seus filhos, e estavam na origem da sndrome autista () [Alm disso],
interpretava o autismo predominantemente como uma perturbao emocional.
Mais tarde, nas dcadas de 50 e 60, comea a entender-se que este distrbio
emocional representava uma resposta desaptativa em relao a um ambiente que no era
favorvel. Nesta ordem de ideias Eisenberg considerava que este comportamento seria uma
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reao relao parental, ou seja, a criana poderia estar a responder a um tratamento
mecnico, feio e obsessivo.
Bettelheim (1967) desenvolveu a teoria das mes frigorfico, na qual se entendia
que as crianas se tornavam autistas como resposta desaptativa a um ambiente ameaador e
no carinhosos por parte da me.
Com o passar dos anos e depois de muitas investigaes chegou-se concluso que
no se podia atribuir a culpa aos pais, dado que, o que existia era sim um dfice inato que
impedia uma relao normal com o meio envolvente. A criana refugiava-se no seu mundo
como resposta ao modo mecnico, frio e obsessivo dos pais.
Cantweed, Baker e Rutter (1984), tendo como base estas teorias, agrupam os
fatores intervenientes na gnese do autismo em quatro grupos:
Perturbaes psiquitricas parentais ou caractersticas de personalidade anmala
dos pais;
Quociente intelectual e classe social dos pais;
Interao anmala entre pais e filhos;
Stress intenso e acontecimentos traumticos numa fase precoce da criana.
Os investigadores que desenvolveram as abordagens psicogenticas basearam-se em
observaes das relaes pais/filhos. Aps as observaes realizadas concluram que a
frieza da criana, a rejeio evidente aos afetos poderia ter como causa uma falta de
ateno precoce por parte dos pais.
Esta teoria manteve-se at meados da dcada de setenta, altura em que foi
abandonada, inclusive, por Kanner, aps terem surgido estudos e exemplos que
questionavam a sua credibilidade. Foram analisados diversos casos de crianas vtimas de
maus-tratos e de atos de negligncia parental, sem que tal facto tivesse influncia ao nvel
do comportamento social.
A abordagem psicognica do autismo foi criticada, uma vez que no existiam dados
credveis capazes de comprovar que o autismo pudesse decorrer de atitudes perpetradas
pelos pais.
Kanner acabou por recuperar a base gentica e constitucional da perturbao,
voltando a defender a existncia de um dfice inato.
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3.1- Teorias Biolgicas
Ritvo, foi um dos primeiros autores a considerar a sndrome autista como uma
desordem do desenvolvimento causada por uma patologia do sistema nervoso central. Foi
um dos primeiros a salientar a importncia dos dfices cognitivos no autismo.
Rutter & Schopler (1978), salienta que o atraso intelectual manifestado por
indivduos com autismo no era global, mas verificava-se que diversas funes cognitivas
se encontravam alteradas, conforme discrimina:
Dfices de abstrao, sequencializao e compreenso de regras;
Dificuldades na compreenso da linguagem oral e utilizao do gesto;
Dfices na transparncia de uma atividade sensorial para outra;
Dificuldade em processar e elaborar sequncias temporais;
Dificuldade para perceber as contingncias dos seus comportamentos e os dos
outros.
Perante o fracasso cognitivo verificou-se um aumento de estereotipias e falta de
responsabilidade social.
Segundo (Marques,2000), nestas teorias verifica-se que o dfice cognitivo tem um
papel fundamental na gnese do autismo. com os avanos dos estudos do crebro que se
verifica um desenvolvimento progressivo nos estudos biolgicos.
Com base nestas teorias destacamos:
Teorias genticas (sndrome do cromossoma x frgil);
Anomalias bioqumicas (esclerose tuberculosa, fenilcetonria no tratada);
De tipo infecioso (rubola, encefalite);
Teorias da disfuno cerebral do hemisfrio esquerdo;
Teorias imunolgicas;
Toxoplasmose;
Anoxia;
Traumatismo no parto.
Foi nos anos 60 que surgiram os primeiros estudos que associam o autismo a
alteraes biolgicas.
Os avanos na tecnologia permitiram efetuar estudos a nvel cerebral. Estas teorias
apontam para uma origem neurolgica. O autismo no se revelaria devido a razes
emocionais, tais como defendiam as teorias psicogenticas, mas sim devido a perturbaes
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biolgicas associadas tais como: rubola pr-natal, epilepsia, toxoplasmose, infees por
citomegalovrus, encefalopatia, esclerose tuberosa, meningite, hemorragia cerebral e
fenilcetonria.
Segundo esta teoria o autismo resulta de uma perturbao de determinadas reas do
sistema nervoso central, que afetam a linguagem, o desenvolvimento cognitivo e
intelectual e a capacidade de estabelecer relaes (Marques, 2000, p.59)
Parece poder falar-se de um carcter multicausal da sndrome.
4. Estudos genticos: genes, cromossomas e autismo
Tm-se desenvolvido investigaes na rea da gentica, procurando perceber-se
que papis podero desempenhar os fatores genticos no desenvolvimento das
Perturbaes Autsticas.
Hoje aceite o modelo de hereditariedade complexa, ou seja, a interao de vrios
genes com o ambiente. Entre estes fatores ambientais desfavorveis contam-se alguns
fatores pr e perinatais tais como doena gentica associada perturbao do X frgil,
algumas doenas metablicas, cromossomopatia; embriopatia infeciosa rubola, varicela,
toxoplasmose; infees precoces encefalite,( Pereira, 1996).
A perturbao cromossmica do X-Frgil parece estar relacionada com 5 a 16% de
casos de autismo.
Mais recentemente, a neurofibromatose e a hipomelanoso, que so perturbaes
cutneas, foram relacionadas com o autismo.
Vrios estudos genticos que tm vindo a ser realizados, demonstram uma taxa
crescente de autismo entre irmos (Folstein & Rutter, 1987).
Marques (1998,p.53) conclui que () apesar de ter vindo a ser detetada uma
grande variedade de anomalias genticas em indivduos com Perturbaes Autsticas a
forma como essa anomalia afeta o desenvolvimento cerebral ainda desconhecido.
4.1 Estudos Neurolgicos
Vrios estudos foram realizados, mais recentemente, incidindo sobre a existncia de
uma base neurolgica da Perturbao Auststica.
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Os neurologistas identificaram um grande nmero de perturbaes nas crianas
portadoras da sndroma do autismo que podem ser atribudas a malformaes do
neocortex, gnglios basais e outras estruturas. Pensa-se poder existir um defeito congnito
no sistema nervoso central, com efeitos imediatos e permanentes nos aspetos scio
emocionais do comportamento. Esse defeito pode produzir malformaes a nvel do
sistema sensorial e motor.
As caractersticas cognitivas e lingusticas da perturbao so consequncia de um
desenvolvimento perturbado.
Vrios estudos antomo-patolgicos apontam no sentido de uma possvel existncia
de anatomia anormal em vrias partes do crebro. As estruturas afetadas podem estar
relacionadas com as funes emocionais (Trevarlthen & Aitken, 1996) citado por
(Marques,1998)
Segundo Trevarlthen & Aitken citado por (Marques,1998) todas as concluses dos
estudos baseados nos danos cerebrais nos autistas suportam a ideia que esta perturbao
seria provocada por um desenvolvimento cerebral anormal, iniciando-se no nascimento,
manifestando os efeitos ao nvel do comportamento ao longo da infncia sobretudo quando
a criana vai iniciar o desenvolvimento da linguagem.
4.2 Estudos Neuroqumicos
Tm sido efetuados diversos estudos neuro qumicos, mas tm-se mostrado
inconclusivos. Vrias das investigaes bioqumicas relacionadas com as Perturbaes
Autsticas salientam o papel dos neurotransmissores, que so mediadores bioqumicos
relacionados com as contraes musculares e a atividade nervosa. O excesso ou o dfice de
neurotransmissores e o desequilbrio entre um par de mediadores diferentes pode ser
causador de alteraes comportamentais (Marques, 2000).
As investigaes efetuadas no mbito da neuro qumica, no que se refere sndroma,
conduziram a trs grandes reas que exigem posteriores aprofundamentos.
Uma primeira grande rea est relacionada com o aumento da serotonina em fluidos
corporais; uma segunda rea est relacionada com a dopomina disfuncional; uma terceira
rea relaciona-se com a existncia de nveis elevados de endorfinas de determinado tipo, de
modo especial, em pessoas que apresentam problemas de automutilao.
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5. Fatores Pr, Peri e Ps Natais das Perturbaes Autsticas
Existem diversos fatores que ocorrem nos perodos pr, peri e ps-natal, com alguma
frequncia nas anamneses das mes de crianas portadoras da sndroma de autismo, como
por exemplo, hemorragias aps o primeiro trimestre de gravidez, uso de medicao,
alteraes no lquido amnitico ou, ainda, gravidez tardia. No entanto, e apesar de se
verificar a presena de tais fatores, at hoje, no foram recolhidos dados indicadores de
uma patologia definida no autismo.
Cohen e Bolton (1994) apresentaram um modelo que designaram de Modelo de
Patamar Comum. De acordo com os autores, existem vrias causas que podem ser
responsveis pelas reas cerebrais danificadas e que podem ser responsveis pelo normal
desenvolvimento da comunicao, do funcionamento social e do jogo.
Nesse modelo, Cohen e Bolton fazem referncia a fatores genticos, infees virais,
complicaes pr e peri natais, mas tambm referem existirem vrias outras causas ainda
no identificadas. Todos estes fatores, possivelmente, existem em associao com atraso
mental.
6- Proposta de Bowler
Bowler (1992) fez referncia a uma possvel falha na capacidade para o uso
espontneo e funcional de sistemas representacionais de nvel mais elevado.
Segundo o autor, pode haver sucesso pelo facto das pessoas com autismo serem
capazes de desenvolver uma estratgia especfica que lhes possibilita encontrar solues
em determinados contextos (Marques, 2000).
6.1 Modelo de Hobson
Hobson citado por (Marques, 2000) refere haver um dfice de mentalizao, no
entanto, acredita que existir um dfice mais abrangente que deveria ser procurado num
sistema complexo e mais profundo, o que gera incapacidade na criana para estabelecer a
intersubjetividade.
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O autor afirma que existe um dfice inato que responsvel por uma incapacidade de
se envolver emocionalmente com os outros, pelo que no possuem experincias sociais
necessrias ao desenvolvimento das estruturas cognitivas essenciais compreenso social.
6.2 Problemas de Ateno
Alguns investigadores atribuem as incapacidades tpicas do autismo a uma
dificuldade de regular a ateno.
Os estudos que foram realizados (Sigman & Capps, 1997) sugerem que a pessoa com
sndroma do autismo hper seletivo na leitura do ambiente e concentra-se em detalhes e
no no objeto como um todo.
Nos ltimos anos, as teorias psicolgicas tm evidenciado conceptualizaes
importantes ao nvel da determinao dos dfices responsveis pelas caractersticas
cognitivas e comportamentais.
Parece existir um consenso no que se refere ao facto das perturbaes que a pessoa
autista apresenta terem um defeito neurobiolgico, mas no existem explicaes claras,
simples e totalmente esclarecedoras.
7. Avaliar para Intervir
A avaliao um momento crucial da interveno educativa e ser determinante do
seu sucesso. Uma interveno eficaz pressupe um diagnstico correto e uma avaliao
fidedigna. Inicialmente comea por uma avaliao detalhada da criana em termos do seu
nvel de desenvolvimento funcional, o seu padro de dificuldades e potencialidades,
passando tambm pelos principais problemas que preocupam os pais. A anlise funcional
do comportamento um precursor importante para a interveno, j que permite ter uma
ideia de como os fatores ambientais afetam o comportamento da criana. A avaliao
inicial tambm permite concretizar o impacto da criana autista na famlia, a avaliao dos
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recursos familiares e a presena de fiabilidades parentais, assim como a existncia de
suporte educacional.
O autismo no tanto um rtulo, mas antes um sinal orientador. No o simples facto
de sabermos que uma criana autista que nos vai dizer exatamente o que devemos e o que
no devemos fazer com ela no dia-a-dia. H, na verdade, diferentes nveis de manifestao
do autismo e perturbaes relacionadas, j que cada criana um indivduo cujas
necessidades sero naturalmente variveis. sobretudo, uma forma de compreender como a
criana se comporta e de como poder ser ajudada no seu processo de aprendizagem. Howlin
(1970) sugere mesmo que a maior estratgia de interveno para ajudar as pessoas autistas,
treinar os no autistas a comunicar com elas.
Pensamos que possvel ajudar a ultrapassar a ansiedade, frustrao e desconcerto
que os autistas podem provocar, atravs da compreenso de como constitudo o seu
mundo. Contudo, em nenhum momento se pode falar de receitas mgicas, aplicveis a
todos os casos, uma vez que o autismo se apresenta como um continuum em que h uma
grande variabilidade e gradaes. Por isso, o nosso objetivo oferecer uma srie de
princpios gerais a ter em conta na interveno educativa de crianas com perturbaes do
espectro do autismo. tambm importante partirmos do pressuposto que a interveno no
comea e termina na escola. A nossa interveno educativa deve abarcar todos os
contextos da vida da pessoa.
O acesso, tanto quanto possvel, a uma vasta gama de atividades normais francamente
importante para a maioria dos indivduos com autismo e os melhores ambientes parecem ser
aqueles que oferecem tanta integrao quanto possvel na comunidade local (acesso ao
trabalho e a atividades de lazer, etc.).
Com efeito, no devemos adotar uma postura dogmtica sobre a variedade de
tratamentos que esto disponveis a todas as crianas com autismo, porque a deficincia
muito heterognea em termos de competncias e dificuldades. Muitas crianas tm uma
boa linguagem falada e no necessitariam de formas tradicionais de terapia da fala.
Contudo, a comunicao social um dfice que, por definio, se encontra em todas as
crianas com autismo e deve ser dada nfase s intervenes adequadas para encorajar a
comunicao ao nvel adequado a cada criana. Fazer recomendaes muito firmes sobre
como um indivduo com autismo deve ser acompanhado no possvel porque um
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aconselhamento adequado depende muito do perfil de competncias e dificuldades.
tambm muito importante levar em considerao aquilo de que a pessoa gosta ou no gosta
e a sua personalidade. O ponto importante na interveno educativa no consiste em focar
s um aspeto mas desenvolver os pontos fortes da pessoa. Acreditamos que as atividades
teis so aquelas em que o indivduo manifesta o seu talento e no as que no faz com
vontade.
O comportamento obsessivo, por exemplo, pode ser devido ao facto de solicitarem
criana para tomar parte em atividades inadequadas ao seu nvel de competncias ou
inteligncia ou interesses gerais. Pode ser devido ao facto do indivduo estar muito ligado a
certos rituais e nesse caso, tentar reduzir os comportamentos ritualistas pode ser um
caminho adequado para atuar. O ponto crucial descobrir porque que a criana est a dar
essa resposta e tentar lidar com os fatores subjacentes que causam esse comportamento.
Existem vrias consideraes importantes que devem informar o processo de
avaliao. Primeiro, deve manter-se na avaliao uma perspetival interacionista e de
desenvolvimento que explore os atrasos e desvios da criana. O autismo uma perturbao
crnica, que se define em todos os estdios pelas dificuldades interativas do sujeito. O
autismo inicialmente diagnosticado no incio da infncia e continua a ser aparente
durante toda a vida da pessoa. Caracteriza-se por irregularidades do desenvolvimento que
variam durante toda a vida do sujeito. Estudar uma criana segundo uma estrutura
interacionista e de desenvolvimento proporciona balizas para se compreender a gravidade
ou qualidade dos atrasos ou desvios. Os atrasos num dos aspetos do desenvolvimento
podem afetar de forma significativa a obteno dos marcos de desenvolvimento
subsequentes, como, por exemplo, os nveis precoces de articulao da ateno que
predizem a posterior aquisio da linguagem (Mundy,1990) e as capacidades para brincar
(Charman, 1997). Os sintomas de autismo atingem frequentemente um pico de gravidade
entre os 4 e os 5 anos de idade. As crianas que tm muito fraco contacto visual e que
realizam poucas iniciativas sociais nesta idade podem ter sintomas sociais muito diferentes
quando chegam adolescncia. Podem ser relativamente interessados pelos contactos
sociais nesta fase posterior e podem ter adquirido algumas capacidades sociais mais
avanadas. As suas dificuldades sociais podem ento manifestar-se por mostrarem um
comportamento desajeitado ou inapropriado, em vez da falta de interesse observada nas
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crianas mais pequenas. Existem tambm padres caractersticos de atrasos nas
perturbaes do espectro do autismo que diferem de acordo com o domnio e o nvel do
desenvolvimento. Por exemplo, uma criana com autismo pode ter uma linguagem
expressiva significativa, um extenso vocabulrio e capacidades sintticas adequadas, mas
no ser capaz de participar numa conversao, ou at mesmo de responder adequadamente
a perguntas. Uma considerao necessria que as experincias afetam os resultados.
isto que torna to difcil fazer um prognstico a partir dos sintomas precoces. A
compreenso dos sintomas de apresentao exige a compreenso das experincias sociais
da criana at essa data.
Uma segunda considerao importante que a avaliao de uma criana com
autismo deve incluir informaes de mltiplas fontes e contextos ambientais. Medies a
partir de relatos dos pais, dos psiclogos, da observao da criana em diferentes
ambientes, de avaliaes cognitivas e do comportamento adaptativo e avaliaes clnicas
devem ser todos empregues para que se obtenha um Plano Educativo Individual
equilibrado e completo (Filipek,1999). Isto da maior importncia porque as crianas com
autismo podem manifestar diferentes sintomas, dependendo das caractersticas do
ambiente. Por exemplo, uma criana com autismo com elevado grau de funcionamento
pode mostrar-se encantadora, precoce e muito inteligente quando est a ter a ateno
exclusiva e o apoio de um professor. A mesma criana pode parecer muito mais
sintomtica quando est com os companheiros no recreio, situao em que no beneficia da
ateno exclusiva do professor.
Tambm, a criana com graves dfices de aprendizagem e do comportamento pode
parecer muito mais capaz num ambiente conhecido, tal como a sala de aula, do que num
consultrio mdico onde no existem as rotinas familiares criana e que esta pratica bem.
Terceiro, recomenda-se que as avaliaes das perturbaes do espectro do autismo
incluam a participao de profissionais de diferentes disciplinas, incluindo psicologia,
psiquiatria, pediatria, neurologia, terapia da fala e da linguagem e terapia ocupacional,
sempre que possvel. Cada especialidade tem uma perspetiva que lhe prpria e que se
concentra em diferentes sintomas. A avaliao multidisciplinar pode gerar uma escolha
mais rica de potenciais opes educativas. Por exemplo, para resolver a destrutibilidades
de uma criana, o psiquiatra pode recomendar uma medicao estimulante, um psiclogo
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pode recomendar tcnicas cognitivo-comportamentais para reforar o desenvolvimento da
metacognio e um terapeuta ocupacional pode sugerir modificaes ambientais concebidas
para melhorar a ateno e diminuir as distraes. Os resultados desta avaliao devero ser
analisados e discutidos pela equipa ou professor que elabora um conjunto de atividades e
estratgias que serviro de suporte para a elaborao do Programa Educativo Individual.
da maior importncia avaliar a capacidade acadmica, mesmo em crianas mais
pequenas, para que se possa tomar decises sobre a educao. Esta uma rea forte que
muitas vezes no reconhecida. Muitas crianas com autismo tm capacidades de leitura
precoces e podem descodificar palavras a um nvel superior ao de outras crianas com a
mesma idade e capacidade funcional. A leitura e outras capacidades escolares podem ser
usadas para compensar as fraquezas, tal como quando se entrega uma lista escrita para
facilitar as transies ou se d instrues escritas para melhorar a observncia. A boa
memria das crianas com autismo pode significar que as listas de soletrao e as tabuadas
de multiplicao so aprendidas com mais facilidade. Pelo contrrio, existem tambm
reas de fraqueza, sendo a mais bem demonstrada delas a compreenso da leitura. Este
perfil escolar bastante diferente dos padres de problemas que a maioria dos professores
e psiclogos escolares esto treinados para detectarem (por exemplo, a m descodificao
mas boa compreenso da dislexia). Assim, importante que sejam includas numa
avaliao completa um conjunto de testes apropriados que possam revelar as foras e
fraquezas escolares, que os padres de aprendizagem que eles sugerem sejam interpretados
na informao aos pais e no relatrio escrito e que se faam recomendaes educativas
apropriadas.
Ao comear a utilizar mtodos de ensino baseados em tcnicas de modificao do
comportamento, realmente eficazes, a educao converteu-se a partir da dcada de 70, no
principal tratamento, sendo reconhecida como a melhor forma de melhorar a qualidade de
vida destas crianas e de as aproximar do mundo das outras pessoas. Atravs da
educao, a criana autista sai de um mundo essencialmente alheio ao nosso prprio
mundo (Riviere, 1994).
Tem sido muito variada a gama de modelos de interveno educativa que so
aplicadas s pessoas com autismo. De entre esses, a grande nfase, desde os anos setenta
at aos nossos dias, a de usar mtodos psicoeducacionais com base em variadas teorias da
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psicologia da aprendizagem, mas sobretudo as teorias da aprendizagem vicariante e
operante.
7.1- Diagnstico
Vrios autores tm vindo a referir ao longo das suas anlises, relativas s
manifestao autistas, a dificuldade que existe em estabelecer um conjunto de sinais e
sintomas especficos, capazes de identificar a patologia autista, e capaz de reunir consenso
entre as vrias anlises j efetuadas neste domnio (Marques,2002). (Pereira,1996:96), a
este respeito, refere que A aplicao ao autismo de um sistema de classificao
diagnstica, preciso e com um menor nmero de erros possvel, tendo sido particularmente
difcil, uma vez que tem evoludo ao longo dos anos, desde 1943, diferentes concees
sobre o sndroma.
A viso clnica de Kanner em 1943, vem a ser modificada nos ltimos 50 anos,
contudo tm-se mantido as caractersticas bsicas que ele enumerou. Kanner definiu como
caractersticas fundamentais das crianas com autismo, as seguintes(Marques,1998:23):
Incapacidade para o estabelecimento de um relacionamento social;
Falha no uso comunicativo da linguagem;
Interesses obsessivos e desejo de se manter isolado;
Fascnio por objetos;
Boas potencialidades cognitivas;
7.2 Tratamento
No se dispe ainda de cura medicamentosa para o autismo. No entanto, um
conjunto de intervenes teraputicas, nomeadamente a estimulao precoce adequada e
continuada, pode aliviar alguns sintomas e trazer melhorias em termos do desenvolvimento
destas crianas. atualmente recomendado que a interveno seja iniciada o mais cedo
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possvel e que sejam contempladas as 3 reas principais que caracterizam a doena: a
interao social, a comunicao e os interesses e atividades.
A interveno deve ser organizada e estruturada de forma progressiva e, apesar de
sempre orientada por terapeuta especializado, deve incluir os pais. As atividades
teraputicas englobam, entre outras estratgias de modificao comportamental, treino de
integrao sensorial, terapia da fala e treino de competncias sociais. Dever-se- trabalhar
de forma consistente (e persistente) no sentido de potenciar a vinculao das crianas aos
pais/terapeutas, tentando evitar ou minimizar o isolamento e deteriorao social. A terapia
familiar pode tambm ser utilizada para ajudar a famlia a desenvolver estratgias para
lidar com os desafios de viver com uma criana autista.
Em termos farmacolgicos, vrias teraputicas tm vindo a ser tentadas, mas
nenhuma at agora demonstrou alterar a histria natural da doena. No entanto, pode ser
til no controlo de sintomas especficos, como a hiperatividade, estereotipias,
agressividade ou perturbaes do sono. Assim, medicao antidepressiva a mais
frequentemente usada (32,1%) e pode estar indicada para o alvio de sintomas de
ansiedade, depressivos ou obsessivos. Nomeadamente, os inibidores seletivos da
recaptao da serotonina (especificamente a fluoxetina) tm vindo a produzir melhorias em
termos de linguagem, socializao e estereotipias. Medicamentos anti psicticos podem ser
usados no controlo de perturbaes comportamentais graves e medicao estimulante
(usada no tratamento da perturbao de hiperatividade com dfice de ateno) , por vezes,
eficaz na diminuio da impulsividade e hiperatividade.
Pessoas com perturbaes do espectro autista tm uma esperana mdia de vida
semelhante da populao geral, sendo que o prognstico se avalia em termos de dfice de
autonomia, funcionalidade e integrao social na vida adulta. Muitos especialistas
acreditam que o prognstico determinado fundamentalmente pela quantidade de
linguagem que a criana adquiriu at aos 7 anos de idade, pela capacidade cognitiva da
criana e pela presena/ausncia de co morbilidades. De acordo com a maioria dos autores,
a interveno, sendo precoce, contnua e adequada, altera positivamente o prognstico.
(Dr. Pedro Silva Carvalho, Dr.. Manuela Arajo, 2009)
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7.3- Dificuldades de Aprendizagem
Segundo Rutter (1984), as dificuldades de aprendizagem podem ser agrupadas em
quatro reas determinantes:
1 - Dificuldades de ateno. No fixam a ateno sobre aquilo que se pretende que
aprendam.
a) Tm pouca capacidade para, por si prprios, dirigirem a ateno para algo;
algumas crianas so incapazes de se concentrar, mesmo por escassos
segundos. Para superar esta dificuldade devemos planear situaes de ensino
muito estruturadas, dividindo em pequenos passos e metas o que queremos que
aprendam.
b) Muitas crianas autistas apresentam comportamentos inapropriados em
situaes de aprendizagem. Trata-se de comportamentos de autoestimulao
(estereotipias), ou comportamentos inadaptados (atirar com os objectos, rir,
chorar...). Em situaes de tarefas de trabalho, recomenda-se, a princpio, que
sejam ignoradas se no impossibilitam a tarefa e, mais tarde, quando a criana
j tiver feito algumas aprendizagens, reforar diferenciadamente.
c) Super seletividade. Trata-se da dificuldade que manifestam para atender a
aspetos referentes ao meio ambiente ou a tarefas relevantes e, apesar disso,
atender s que no so relevantes e, como tal, sem utilidade para a sua
adaptao. A forma geralmente utilizada para a planificao de tarefas
destinadas a suplantar estas dificuldades evitar ajudas estimulantes exteriores
e utilizar as infra estimulantes. A ajuda estimulante vinda do exterior aquela
que se associa ao estmulo (assinalar, nomear) e, portanto, corre o perigo de se
tornar um estmulo discriminativo. As ajudas infra estimulantes so as que
aumentam ou destacam o estmulo que queremos que sirvam. (Exemplo: dar
mais brilho cor...).
d) Dificuldade em perceber coisas que podem acontecer. Tm grandes
problemas para reconhecer a relao espcio-temporal entre acontecimentos que
se inscrevem dentro da mesma modalidade sensorial e, muito mais, se eles
pertencem a formas sensoriais diferentes. Para diminuir esta dificuldade
devemos fazer com que os acontecimentos dentro de cada tarefa sejam
prximos no tempo e no espao, pelo menos quando se trata de uma tarefa
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nova.
2 - Dificuldades de generalizao/transferncia: dependem de tal modo do lugar e
pessoas onde e com quem aprendem, que parece no poderem faz-lo noutras
circunstncias. Esta dificuldade pode ser superada realizando tarefas relacionadas com
ambientes naturais ou generalizando-as estruturada e controladamente. Um dos pontos
fundamentais nos programas educativos para estas crianas a organizao da
generalizao. Mudando de forma controlada, e paulatinamente, os aspetos do meio
envolvente e retrocedendo s etapas anteriores quando observamos que essa aprendizagem
est a perder-se.
3 - Quando ensinamos estas crianas parece, muitas vezes, que aprendem
mecanicamente, sem compreender a essncia ou significado do que queremos que
aprendam. A planificao da tarefa pode evitar essa mecanizao, acentuando o que
realmente significativo e esquecendo aspetos suprfluos.
4 - Um dos problemas mais habituais com que se depara o professor da criana autista a
sua pouca resistncia no enfrentar as dificuldades que encontra em qualquer aprendizagem.
Frequentemente, deixam de responder s nossas chamadas de ateno e ordens, fazem birras e
baixam o nvel de ateno; em consequncia, a aprendizagem no produz, embora, aparentemente,
atendam ou faam o que lhes pedimos.
7.4- Intervenes na rea da Comunicao- Interao e Competncia Social
A literatura possui uma grande variedade de mtodos criativos e eficazes para
ajudar as crianas com autismo a desenvolverem comportamentos sociais apropriados. As
intervenes disponveis variam no que se refere a algumas dimenses importantes: quem
inicia a troca social (adulto ou companheiro), o contexto (ensino individual ou ensino em
grupo) e o objetivo social especfico que est a ser ensinado (iniciativa ou resposta, jogo,
etc.).
Trata-se nitidamente da rea prioritria por excelncia. Qualquer criana, seja qual for
o seu nvel de desenvolvimento, poder ser educada nesta rea, a no ser que apresente um
comportamento totalmente desajustado, na sala de aula durante todo o tempo. Isto
significa que para se poder educar uma criana a nvel da comunicao, basta que ela possua
algumas aptides.
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O primeiro requisito para promover a comunicao, para conseguir o que, nas teorias
psicoafectivas, foi denominado desbloqueio, conseguir que o educador exista, que seja
gratificante; este educador no aquele que tenta interpretar as estereotipias da criana,
deixando-a entregar-se aos seus rituais e atividades solitrias, mas, pelo contrrio, (Riviere,
1994), aquele que:
a) Tem com a criana um relacionamento que facilmente compreendido por esta,
porque tudo estabelecido ordenadamente e no ao acaso.
b) Pe limites s suas condutas no adaptadas.
c) Refora, discriminando-os, os seus comportamentos adaptados e funcionais.
d) Planifica situaes estveis e estruturadas.
e) Ajuda a criana a refrear as Auto gratificaes e lhe faz compreender quais dos
seus comportamentos e atitudes so caprichos no permitidos.
f) claro nas ordens e instrues que d criana.
g) Tem geralmente uma atitude diretiva na planificao de atividades e durao
das mesmas.
Em resumo, trata-se de fazer com que a criana autista seja capaz de compreender o
que lhe pedido, seja com gestos treinados, com palavras claras ou frases curtas e, sempre,
depois de estar seguro de que est a ser compreendido. Se a criana puder prever o que se
vai passar, a nossa interao com ela ser facilitada.
Reconhece-se que as alteraes nas aquisies normais do perodo sensoriomotor
esto relacionadas com as perturbaes do desenvolvimento normal da comunicao
(Curcio, 1978). Por isso, todo o treino de capacidades para a comunicao-interao tem
vrios objetivos que incidem sobre aquisies a fazer no perodo sensoriomotor:
1 Contacto atravs do olhar;
2 Proximidade e contacto fsico;
3 Coorientao do olhar, com ou sem sinal prvio;
4 Chamadas de ateno funcionais sobre factos, objetos, ou sobre si mesmo;
5 Uso funcional de emisses, vocalizaes, palavras ou frases, olhando e
dirigindo-se ao adulto;
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6 Uso do sorriso como contacto social;
7 Pedido de ajuda ao adulto quando precisa de alguma coisa;
8 Comportamento instrumental: reconhecimento e utilizao de uma ou vrias
formas para alcanar um fim;
9 Dirigir-se ao adulto olhando-o de frente e/ou vocalizando;
10 Reproduzir para o adulto uma determinada atividade ou parte dela;
11 Dar e mostrar objetos;
12 Antecipar-se numa realizao, antes que lhe seja pedida;
13 Jogo recproco.
Todos estes comportamentos podero geralmente ser treinados quer utilizando uma
forma imperativa ou declarativa (por imposio, quer por explicao), consoante o objetivo
a treinar e recordando que, evolutivamente, a funo imperativa aparece antes da
declarativa. evidente que o treino da funo declarativa muito mais difcil, mas, apesar
disso, a regra geral planificar situaes curtas, interessantes, que surpreendam a criana
levando-a a assinalar o facto, no ainda com a inteno de obtermos alguma coisa, mas
para lhe mostrar ou ensinar qualquer coisa (Dale, 1981). Dar-lhe modelos atravs do
gesto e do olhar, ser o instrumento principal da modificao de comportamentos, neste
tipo de treino.
As tcnicas sociais devem ser praticadas de forma diria para que a sua