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Max Lucado - Quando Os Anjos Si

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  • E-book digitalizado por: LevitaCom exclusividade para:

    http://ebooksgospel.blogspot.com/

  • QUANDO OS ANJOS SILENCIARAM

    O que realmente aconteceu durantea ltima semana de Jesus na Terra?

    Max Lucado

    Traduo deMARIA EMLIA DE OLIVEIRA

  • 1992 Max LucadoCopyright 1999 Editora United Press Ltda.

    Ttulo do original em ingls: And the Angels Were SilentPublicado por Multnomah Books, U.S.A.

    TRADUO: Maria Emlia de Oliveira

    REVISO: Joo Guimares e Priscila Scripnic

    CAPA: Douglas Lucas Supervisionado por: Marcos Simas

    DlAGRAMAO & PRODUO DE MIOLO: Janete D. Celestino Leonel

    SUPERVISO EDITORIAL E PRODUO:Vera K. Vllar

    Ia. edio brasileira: 1999

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Lucado, MaxQuando os Anjos Silenciaram / Max Lucado; traduo: Maria Emlia de Oliveira. Campinas, SP: Editora United Press, 1999.

    Ttulo Original: And the angels were silent. BibliografiaISBN 85-243-0165-1

    1. Bblia N. T. Mateus XXVI-XXVII - Meditaes 2. Jesus Cristo - Paixo - Meditaes I. Ttulo I. Ttulo.

    98-3376____________________________________CDD 232.96

    ndices para Catlogo sistemtico: 1. Jesus Cristo: Paixo e Morte: Cristologia 232.96

    Publicado no Brasil com a devida autorizaoe com todos os direitos reservados pelaEDITORA UNITED PRESS LTDA.

    Rua Taquaritinga, 118, CEP 13.036-530, Campinas-spFone/Fax (0xxl9) 278-3144

  • A meus sogros,Charles e Romadene Preston,

    por terem me propiciado tamanha alegria

  • SumrioAgradecimentos.............................................................................. 9Uma Nota Introdutria.................................................................. 11

    SEXTA-FEIRA1. Pequeno Demais, VelhoDemais, Bom Demais para Ser Verdade .... 152. De Jerico a Jerusalm................................................................. 233. O General Abnegado.................................................................... 294. Religio Inconsistente............................................................... 35

    SBADO5. No Basta S Trabalhar, Necessrio Saber Parar................. 436. Amor Destemido....................................................................... 49

    DOMINGO7. O Dono dojumentinho............................................................ 59

    SEGUNDA-FEJRA8. Mercenrios e Hipcritas......................................................... 679. Coragem para Sonhar Novamente............................................ 75

    TERA-FEIRA10. Falando de Calos e Compaixo................................................. 8511. VocEst Convidado................................................................ 9312. Manipulao de Palavras.......................................................... 9913. O Que Homem Nenhum Ousou Sonhar................................. 10914. O Cursorou a Cruz?................................................................. 11515. F Descomplicada..................................................................... 12316. Manual de Sobrevivncia.......................................................... 13117. Histrias de Castelos de Areia.................................................. 14118. Esteja Preparado....................................................................... 14519. Gente com Rosa naLapela....................................................... 151

    QUINTA-FEIRA20. Servido pelo Comandante Supremo.......................................... 15921. Ele Escolheu Voc.................................................................... 167

    SEXTA-FEIRA22. Quando o Mundo Vira as Costas para Voc............................ 17523. A Escolha Sua....................................................................... 18324. O Maior de Todos os Milagres................................................ 18925. Uma Orao de Constatao.................................................... 195

    DOMINGO26. O Tmulo Escondido............................................................... 20121 .Penso Que Sempre me Lembrarei Daquela Caminhada.......... 207Guia de Estudo......................................................................... 215

  • AgradecimentosDesejo manifestar minha gratido a algumas pessoas muito queridas que colaboraram para

    a concretizao deste projeto, tornando-o uma tarefa agradvel.A Liz Heaney. Voc foi mais do que uma editora; foi uma amiga.A John Van Diest. Voc nunca se esqueceu do principal objetivo de uma editora crist

    colocar a Palavra de Deus no corao do homem.A Brenda Josee. Energia inesgotvel e criatividade ilimitada.Aos funcionrios da Multnomah. Tiro o chapu para todos vocs.Uma palavra especial minha secretria Mary Stain. Sua aposentadoria e a concluso deste

    livro ocorreram no mesmo ms. Fiquei triste por voc ter partido e feliz por terminar o livro. Muito obrigado por seus incansveis esforos.

    A Joseph Shulam, de Jerusalm. Um amigo e um irmo cujo entusiasmo contagiante. congregao Netivyah de Jerusalm. A nica parte triste de nossa viagem sua cidade

    foi o momento da partida.A Steve Green. Pelos vinte anos de amizade e muitos mais de parceria.Aos freqentadores da Igreja de Oak Hills. Vocs me ensinaram muito mais do que jamais

    poderei lhes ensinar.s minhas filhas Jenna, Andra e Sara. Gostaria de ter a inocncia e a credulidade de vocs.A minha esposa Denalyn. Quando chego tarde em casa, voc no reclama. Quando viajo,

    voc no resmunga. Quando escrevo no meio da noite, voc no se importa. Ser que todo escritor tem um anjo como esposa ou fui premiado com o ltimo?

    E finalmente a voc, leitor. Se esta for a primeira vez que l um de meus livros, sinto-me honrado pela preferncia. Voc est dedicando tempo e afeio a mim. Prometo ser bom mordomo de ambos.

    Se no for a primeira vez, bom t-lo em minha companhia novamente. O objetivo deste livro o mesmo dos outros que escrevi: que voc o veja, e s a ele.

    Posso pedir-lhe algo? Por favor, lembre-se de nosso trabalho em suas oraes. Ore conforme est escrito em Colossenses 4.3-4: "... que Deus nos abra porta palavra, a fim de falarmos do mistrio de Cristo...; para que eu o manifeste, como devo fazer."

  • Uma Nota IntrodutriaIncio da ltima semana. O cenrio e os atores do drama da sexta-feira esto posicionados.

    Os cravos de quinze centmetros esto na caixa. H uma viga encostada numa parede divisria. Galhos com espinhos esto enrolados numa grade espera de ser tranados pelos dedos de um soldado.

    Os atores aproximam-se do palco. Pilatos preocupa-se com o nmero de peregrinos que chegam para a Pscoa dos judeus. Ans e Caifs impacientam-se diante do verstil Nazareno. Judas contempla seu mestre com olhos furtivos. Um centurio ronda o local, aguardando as prximas crucificaes.

    Atores e cenrio. S que no h pea a ser encenada; trata-se de um plano divino. Um plano que comeou antes de Ado receber o sopro divino, e agora o cu inteiro aguarda e observa. Todos os olhos se fixam numa figura o Nazareno.

    Trajes comuns. Recebendo ateno especial. Partindo de Jerico e caminhando rumo a Jerusalm. No conversa. No pra. Segue sua jornada. A jornada final.

    At os anjos silenciam. Sabem que no se trata de uma jornada comum. Sabem que no se trata de uma semana comum. Porque a porta da eternidade est atrelada a essa semana.

    Caminhemos com ele.Vejamos como foram os ltimos dias de Jesus.Vejamos o que significaram para Deus.Quando um homem sabe que seu fim se aproxima s as coisas importantes vm tona.

    A iminncia da morte insufla o essencial. Ignora o trivial. No leva em conta o desnecessrio. S o essencial permanece. Portanto, se voc quer conhecer a Cristo, reflita sobre seus ltimos dias.

    Ele sabia que seu fim se aproximava. Conhecia a finalidade da sexta-feira. Leu o ltimo captulo antes de ter sido escrito e ouviu o coro final antes de ter sido entoado. Por conseguinte, o elemento crtico foi centrifugado a partir do elemento casual. Verdades puras, ensinadas. Atos deliberados, feitos. Cada passo, calculado. Cada ato, premeditado.

    Sabendo que teria apenas uma semana a mais com os discpulos, o que Jesus lhes disse? Sabendo que estaria pela ltima vez no templo, como agiu? Consciente de que a ltima poro de areia escorregava pela ampulheta, o que teria importncia para ele?1

    Entre na semana santa e observe.Sinta a emoo de Jesus. Sorrindo enquanto as crianas cantam. Chorando enquanto

    Jerusalm ignora. Permanecendo alheio enquanto os sacerdotes acusam. Suplicando enquanto os discpulos dormem. Entristecendo-se quando Pilatos lhe vira as costas.

    Sinta seu poder. Cegos... enxergando. rvore infrutfera... mirrando. Cambistas... pondo-se em fuga. Lderes religiosos... escondendo-se. Sepulcro... abrindo-se.

    Oua sua promessa. A morte no tem poder. O fracasso no aprisiona ningum. O medo no domina. Porque Deus veio, veio ao nosso mundo... a fim de nos levar para casa.

    Acompanhemos Jesus na jornada final. Porque se observarmos sua jornada, aprenderemos como trilhar a nossa.

    ___________1. Restringi este livro aos eventos da ltima semana de Cristo conforme registro de

    Mateus.

  • SEXTA-FEIRA

  • CAPTULO 1

    Pequeno Demais, Velho Demais,Bom Demais para Ser Verdade

    Assim, os ltimos sero primeiros, e os primeiros sero ltimos. Mateus 20.16

    A nica coisa mais lenta do que o jeito de andar de Ben era seu modo arrastado de falar. "Olaaa, rapaz", dizia esticando as palavras e demorando um ms entre uma frase e outra, "c estamos ns outra vez".

    Cabelos alvos como a neve e ondulados escapando de seu bon de beisebol. Ombros curvados. Rosto encarquilhado de sete dcadas de inverno no oeste do Texas.

    Lembro-me mais ainda de suas sobrancelhas. Cercas vivas de plos hirsutos no alto da testa. Taturanas que se movimentavam concomitantemente com seus olhos. Passava grande parte do tempo olhando para o cho enquanto falava. Era um homem de estatura baixa. E nessa posio parecia mais baixo ainda. Quando queria enfatizar uma questo, levantava os olhos e fitava o interlocutor atravs das grossas sobrancelhas. Lanava esse olhar a qualquer um que questionasse sua capacidade de trabalhar no campo petrolfero. Mesmo assim, quase todos questionavam.

    Meu bom relacionamento com Ben tem algo a ver com meu pai que acreditava que os dias de folga na escola serviam para os meninos ganhar dinheiro. Quer gostssemos ou no, no dia de Natal, nas frias de vero ou no Dia de Ao de Graas, ele acordava meu irmo e eu antes do nascer do sol e nos arrastava at uma companhia petrolfera nas proximidades onde houvesse um intermedirio de biscateiros, e indagava se poderamos ser contratados por um dia.

    Trabalhar no campo petrolfero tem altos e baixos semelhantes a lidar com equipamentos de perfurao; portanto, se voc no pertencesse a uma empresa ou tivesse sua prpria equipe, no haveria garantia de trabalho. Os biscateiros chegavam muito antes dos supervisores. No entanto, no importava quem chegasse primeiro; o que importava era a resistncia de suas costas e sua experincia de vida.

    Era a que estavam nossos problemas. Eu tinha costas fortes, mas no experincia; Ben tinha mos calejadas, mas no resistncia fsica. Portanto, se no houvesse um trabalho grande o suficiente que justificasse quantidade em detrimento de qualidade, geralmente Ben e eu ramos preteridos.

    Os acontecimentos das manhs eram to previsveis que hoje, vinte anos depois, ainda consigo senti-los.

    Posso sentir o vento penetrante castigando minhas orelhas na escurido da madrugada. Posso sentir a maaneta gelada da pesada porta de metal que dava entrada para o galpo. Posso ouvir a voz rude de Ben vinda do fogareiro que eleja acendera e sentara-se ao lado: "Feche a porta, rapaz. Vai esfriar antes que comece a esquentar."

    Eu atravessava a escurido rumo luz dourada que vinha do fogareiro, virava de costas para o fogo e olhava para Ben. Ele fumava, sentado em um barril de 200 litros. Seus ps calados com botas de trabalho ficavam pendurados a uns 30 centmetros do cho e a gola do casaco enrola-va-se em seu pescoo.

  • "Precisamos comear a trabalhar logo, rapaz. Precisamos trabalhar."Outros trabalhadores comeavam a aparecer. A cada chegada diminuam as chances que

    Ben e eu tnhamos de conseguir trabalho. Em breve o ar impregnava-se de fumaa, piadas grosseiras e reclamaes sobre o fato de precisar trabalhar para tubares em um clima to gelado.

    Ben nunca falava muito.Pouco depois entrava o supervisor. Pode parecer engraado, mas eu ficava um pouco

    nervoso ao v-lo entrando no galpo para ler a lista.Com a eloqncia de um sargento instrutor, gritava o tipo de trabalho a ser feito e quem ele

    queria para execut-lo. "Preciso de seis mos para limpar a bateria hoje", ou, "Para colocar uma nova linha no campo do sul, vou precisar de oito." Em seguida, lia a lista em voz alta: "Buck, Tom, Happy e Jack venham comigo."

    Havia um certo orgulho quanto a ser escolhido... algo especial quanto a ser escalado, mesmo para cavar fossos. Mas assim como havia orgulho em ser escolhido, havia uma certa vergonha quanto a ser preterido. Novamente.

    A nica posio inferior ao biscateiro no sistema hierrquico do campo petrolfero era a posio de desempregado. Se voc no soubesse soldar, trabalharia na perfurao. Se no soubesse perfurar, trabalharia nos poos. Se no soubesse trabalhar nos poos, seria um biscateiro. Mas se no conseguisse sequer ser um biscateiro...

    Muitas vezes Ben e eu no conseguimos o lugar de biscateiro. Ns, os excludos, permanecamos ao redor do fogareiro por alguns minutos, inventando desculpas para dizer que no estvamos interessados no trabalho. Em breve o pessoal se dispersava deixando Ben e eu sozinhos no galpo. No tnhamos lugar melhor para ir. Alm disso, de repente poderia surgir uma nova oportunidade. E assim permanecamos ali, aguardando.

    Chegava, ento, o momento de Ben conversar. Misturando fatos com fico, ele engendrava histrias de procura de petrleo em campos improdutivos com varinhas de condo e mulas. A madrugada transformava-se em dia e ns dois continuvamos sentados em pneus velhos ou latas de tinta, passeando pelas estradas empoeiradas da memria de Ben.

    Formvamos uma dupla e tanto. Em certos aspectos estvamos em posies opostas: eu com menos de quinze anos de vida, Ben em suas setenta primaveras. Eu em pleno vigor fsico e convencido de que o melhor ainda estava por chegar. Ben cansado e rabugento, vivendo das lembranas do passado.

    Porm, tornamo-nos amigos. Porque no campo petrolfero ramos os excludos. Companheiros de fracasso. Os "pequenos demais, velhos demais". Voc sabe do que estou falando? Voc tambm um desses?

    Sherri . Depois de doze anos de casamento e trs filhos, seu marido encontrou outra mulher um pouco mais jovem. Um exemplar mais novo. Sherri foi passada para trs.

    O Sr. Robinson . Trs dcadas na mesma empresa e s mais uma posio a ser galgada, a mais alta. Quando o executivo se aposentou, Robinson imaginava que seria apenas uma questo de tempo. A diretoria, contudo, tinha outros planos. Queria juventude. A nica coisa que Robinson no tinha. Foi dispensado.

    Manuel poderia lhe contar. Poderia, se pudesse. muito difcil ser um dos nove filhos de um lar sem pai no Vale do Rio Grande. Para Manuel mais difcil ainda. Ele surdo-mudo. Mesmo que houvesse uma escola especializada para surdos, no poderia freqent-la por falta de dinheiro.

    "Uma bola perdida no meio de capim alto.""Um dia atrasado e sem dinheiro.""Sujeito pequeno em um mundo alto.""Tijolo que no faz parte de uma pilha."Escolha a frase o resultado sempre o mesmo. Diz-se com freqncia que s a fruta

    podre jogada no lixo, e voc comea a acreditar nisso. Comea a se achar "pequeno demais, velho demais".

    Se assim que voc se descreve, est segurando o livro certo no momento certo. Mas saiba que Deus tem um sentimento especial para com os excludos. Voc j percebeu?

  • Viu sua mo tocar a pele em chagas do leproso?Viu o rosto da prostituta encostado em suas mos?Percebeu como ele reagiu ao toque da mulher que padecia de hemorragia?Viu como ele passou o brao ao redor do pequeno Zaqueu?Mais uma vez, Deus deseja que compreendamos a mensagem: Ele nutre um sentimento

    especial para com os excludos. O que a sociedade rejeita, Deus aceita. O que o mundo considera perdido, Deus recolhe. Foi por isso que Jesus contou a histria dos trabalhadores escolhidos. a primeira histria de sua ltima semana. a ltima histria que ele contar antes de entrar em Jerusalm. Assim que atravessar os muros da cidade, Jesus se tornar um homem condenado. A ampulheta ser virada e a contagem regressiva e o caos tero incio.

    Mas ele no est em Jerusalm. E no fala a seus inimigos. Est na zona rural de Jerico e com seus amigos. E para esses amigos que Ele conta esta parbola.

    Um proprietrio de terras necessita de trabalhadores. s seis horas ele contrata um grupo; todos concordam com o salrio e so enviados ao local de trabalho. s nove horas ele volta agncia de empregos e contrata mais alguns. E ao meio-dia ele volta, e s 15 horas torna a voltar, e s 17 horas... voc j sabe. Volta outra vez.

    O ponto principal da parbola a raiva daqueles que trabalharam doze horas em relao aos demais que receberam salrio igual. Essa uma mensagem muito importante, mas ser deixada para um outro livro.

    Desejo ressaltar um aspecto quase sempre esquecido nessa histria: a escolha. Voc consegue compreender? Aconteceu s nove horas. Aconteceu ao meio-dia. Aconteceu s 15 horas. E o mais impressionante, aconteceu s 17 horas.

    Cinco horas da tarde. Diga-me uma coisa: o que faz um trabalhador s 17 horas? A maior parte do servio j foi feita. Os trabalhadores medocres chegaram na hora do almoo. Os ltimos aproveitveis chegaram s 15 horas. Que tipo de trabalhador deixado para ser escolhido s 17 horas?

    No fizeram nada o dia todo. So inexperientes. Despreparados. Incultos. Esto pendurados no degrau mais baixo da escada. So totalmente dependentes de um patro misericordioso para lhes dar uma oportunidade que no esperavam.

    A propsito, somos iguais a eles. Deixando de lado um pouco do orgulho, devemos aceitar o conselho de Paulo e analisar o que ramos quando Deus nos chamou.1 Voc se lembra?

    Alguns de ns eram educados e espertos, mas franzinos como papel mach. Outros sequer tentavam esconder o desespero. Sorvamos o desespero. Cheirvamos o desespero. Matvamos o desespero. Vendamos o desespero. A vida era uma busca de emoes. Estvamos procura de um tesouro dentro de um ba vazio em um beco sem sada.

    Voc se lembra de como se sentia? Lembra-se do quanto transpirava de angstia em sua alma? Lembra-se de como se esforava para ocultar a solido at ela ficar maior do que voc, e a partir de ento tentava apenas sobreviver?

    Atenha-se a essa cena por alguns instantes. Agora responda: por que ele escolheu voc? Por que ele me escolheu? Honestamente. Por qu? O que ns temos que possa interessar a ele?

    Intelecto? Francamente, ser que chegamos a pensar por um minuto que temos ou, quem sabe, teremos um pensamento que ele no tenha tido?

    Determinao? Posso respeitar isso. Podemos ser obstinados a ponto de caminhar sobre a gua se formos chamados a fazer isso... mas ser que o reino de Deus teria sucumbido sem nossa determinao?

    E que tal dinheiro? Entramos no reino com um pequeno p-de-meia. Talvez seja por isso que fomos escolhidos. Talvez o criador do cu e da terra pudesse fazer uso de um pouco do nosso dinheiro. Quem sabe o dono de todos os seres vivos e de todas as pessoas e tambm autor da Histria estivesse necessitando de algum capital e tenha vislumbrado em ns alguma possibilidade...

    Entendeu o sentido?Fomos escolhidos pelos mesmos motivos que os trabalhadores das 17 horas foram. Voc e

    eu? Somos os trabalhadores das 17 horas.

  • Somos ns que nos encostamos na cerca do pomar fumando cigarros pelos quais no podemos pagar e apostando em um joguinho qualquer algumas cervejas que no temos condies de comprar. Trabalhadores migrantes, sem emprego e sem futuro. Na tatuagem em seu brao l-se "Betty". Na tatuagem em meu bceps no h nome de ningum mas os quadris dela se projetam quando flexiono o brao. Deveramos poder ir para casa aps o apito da hora do almoo, mas nossa casa apenas uma moradia de um cmodo onde h uma esposa nos aguardando e cuja primeira pergunta ser: "Voc conseguiu ou no?"

    E assim esperamos. Os pequenos demais, os velhos demais.E Jesus? Bem, Jesus aquele motorista da camioneta preta, proprietrio das terras na

    encosta da colina. Ele o homem que nos viu na estrada quando passava por ns, deixando um rastro de p atrs de si. Ele aquele que parou a camioneta, deu marcha a r e se aproximou de onde estvamos.

    sobre ele que voc conversar com sua esposa esta noite enquanto caminha at a mercearia com alguns trocados no bolso. "Nunca tinha visto esse camarada antes. Ele parou, abriu o vidro da camioneta e perguntou se queramos trabalhar. O dia j estava terminando, mas ele nos disse que tinha um servio urgente. Juro, Martha, trabalhei apenas uma hora e ele me pagou o dia integral."

    "No, no sei seu nome."" claro que vou procurar saber. Bom demais para ser verdade, aquele camarada."Por que ele escolheu voc? Porque quis. Afinal de contas, voc pertence a ele. Foi ele quem

    fez voc. Ele o levou at sua casa. Ele seu dono. E certa vez, ele deu-lhe um tapinha no ombro e o fez lembrar daquele fato. No importa quanto tempo voc esperou nem quanto tempo perdeu; voc lhe pertence e ele tem um lugar para voc.

    . . . . . . .

    Vocs a, querem trabalhar?Ben pulou do barril e respondeu por ns dois. Sim senhor. Peguem seus bons e marmitas e subam no caminho.No foi necessrio dizer duas vezes. Eu j havia almoado mas, mesmo assim, peguei

    minha marmita. Subimos na carroceria e nos encostamos na cabina. O velho Ben colocou um cigarro na boca e ps a mo ao redor da chama do fsforo para proteg-la do vento. Embora tenham-se passado vinte anos, ainda posso ver o brilho de seus olhos atravs das grossas sobrancelhas.

    E bom ser escolhido, no , rapaz? Com certeza, Ben. Claro que sim.

    ___________

  • 1. 1 Corntios 1.26.CAPTULO 2

    De Jeric a Jerusalm

    E o entregaro aos gentios para ser escarnecido,aoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgir.

    Mateus 20.19

    De acordo com os clculos do padre Alexander Borisov, ele no teria condies de sobreviver. A negra noite russa no era sinnimo de segurana. Esperava que a polcia se intimidasse diante de seus trajes esvoaantes de tons negros e dourados, porm no havia nenhuma garantia.

    Moscou estava cercada de policiais. O urso hibernante despertara de seu longo sono e estava faminto. Fatos precedentes levavam a crer que mais uma vez o povo seria oprimido.

    Mas Borisov ousou desafiar os fatos precedentes. Em 20 de agosto de 1991, carregando pilhas de Novos Testamentos nas mos, ele e alguns membros da Sociedade Bblica da Unio Sovitica, fundada h apenas um ano, aproximaram-se dos carros blindados. Uma vez que as autoridades haviam se recusado a conversar frente a frente com eles, o sacerdote subiu nos carros blindados e atirou as Bblias para dentro, atravs de suas pequenas aberturas.

    No fundo do corao, eu acreditava que os soldados com os Novos Testamentos no bolso no atirariam em seus irmos e irms", ele disse posteriormente.

    Atitude sensata. Melhor ir para a batalha com a Palavra de Deus no corao do que com armas poderosas nas mos.

    Moscou, no entanto, no serve de exemplo para situaes como essa. Para conhecer a imagem mais comovente de algum marchando para a batalha com a verdade de Deus, no v Rssia. No leia os jornais. No assista ao noticirio das 18 horas. Ao contrrio, pegue as Escrituras e realce um pargrafo ao qual nunca demos a devida ateno.

    E fcil no observar. Apenas trs versculos. Apenas 85 palavras. No h nada que os destaque como sendo importantes. Nenhum trecho dramtico. Nada de letras em negrito. Nenhum ttulo chamativo. O fato mais importante a afirmao que o leitor comum passa por cima como se fosse um trecho transitrio. Mas isso o mesmo que sair da mina sem ver a jia.

    Apenas um evento. No tem o efeito de uma ressurreio como a de Lzaro. Nem certamente a grandeza das cinco mil pessoas que foram alimentadas. Foi-se o momento mgico da manjedoura. Falta o drama da tempestade acalmada. Trata-se de um momento sereno das Escrituras. Mas deve ser levado a srio. Porque nesse momento anjo nenhum ousou cantar.

    Apenas uma estrada. Pouco mais de 20 quilmetros. Meio dia de jornada em um desfiladeiro perigoso. Mas no a estrada que deve atrair nossa ateno. Estradas poeirentas eram comuns naquela poca. No, no a estrada, aonde ela chega o homem que caminha por ela.

    Ele segue adiante de seu grupo. Em nenhum outro lugar vemos Jesus caminhando na frente. Nem quando desceu da montanha aps o Sermo do Monte. Nem quando partiu de Cafarnaum. Nem quando entrou no povoado de Naim. Geralmente ele preferia estar cercado de pessoas, sem caminhar adiante delas.

    Desta vez no. Marcos narra que Jesus ia adiante.1 Apenas um homem. Um jovem soldado

  • marchando para a batalha.Se voc quiser conhecer o corao de algum, observe a jornada final dessa pessoa.A histria do garoto Matthew Huffman surgiu em minha mesa na semana em que eu

    escrevia este captulo. Matthew era o filho de seis anos de um casal de missionrios em Salvador, Brasil. Certa manh ele se queixou de febre. A medida que sua temperatura subia, ele comeou a perder a viso. Seus pais o colocaram em um automvel e o levaram apressadamente para o hospital.

    No caminho, enquanto estava deitado no colo da me, o garoto fez algo que seus pais jamais esquecero. Estendeu a mo em direo ao ar. A me segurou-a, mas ele a estendeu novamente. Outra vez ela segurou a mo do filho, mas ele continuou a estend-la. Confusa, ela perguntou-lhe:

    O que voc est tentando alcanar, Matthew? Estou tentando alcanar a mo de Jesus respondeu. Aps essas palavras o garoto

    fechou os olhos e entrou em coma do qual no chegou a despertar. Morreu dois dias depois, vtima de meningite.

    Apesar de no ter aprendido muitas lies em seu breve perodo de vida, Matthew aprendeu a mais importante de todas: a quem buscar na hora da morte.

    Voc pode conhecer muito a respeito de uma pessoa pelas atitudes que ela toma diante da iminncia da morte. Veja o exemplo de Jim Bonham.

    De todos os heris do Alamo, ningum mais conhecido do que James Bonham, um corajoso jovem advogado da Carolina do Sul. Estava no Texas h apenas trs meses, mas seu anseio de liberdade no lhe deixou outra escolha a no ser marchar ao lado dos texanos em sua luta pela libertao. Serviu como voluntrio no Alamo, uma pequena misso prxima ao rio Guadalupe. Quando o exrcito mexicano se perfilou no horizonte e o minsculo bastio se perfilou para lutar, Bonham atravessou as linhas inimigas e galopou rumo a Goliad no leste para pedir ajuda.

    Em seu livro Texas, James Michener imagina qual deve ter sido o apelo do soldado: "L fora h 150 homens. Santa Anna tem perto de 2.000 homens, e muitos mais a caminho... Precisamos que todos os homens corajosos do Texas partam rpido rumo ao Alamo. Que fortaleam nossas tropas! Que nos ajudem! Que comecem a marchar imediatamente!"

    No houve nenhum compromisso. A nica promessa que o coronel Fannin fez a Bonham foi a de que pensaria no assunto. O jovem da Carolina do Sul sabia o que aquilo significava; disfarou a raiva e esporeou seu cavalo em direo a Victoria.

    Michener imagina uma conversa entre Bonham e um menino. O que voc pretende fazer agora? indaga o menino. Vou ao Alamo Bonham responde sem pestanejar. Voc vai voltar sozinho? Eu vim sozinho.To logo parte, o menino pergunta a seu pai: Se tudo est to ruim assim, por que ele tem de voltar? O pai responde: Duvido que ele tenha pensado em qualquer outra possibilidade.2 No temos

    conhecimento se essas palavras foram proferidas, mas sabemos que a viagem foi feita. Bonham caminhou para a batalha com a certeza de que seria sua ltima.

    O mesmo aconteceu com Jesus. Com a misso final diante de si, ele chamou seus discpulos parte e lhes falou pela terceira vez de seu encontro definitivo com o inimigo. "Eis que subimos para Jerusalm, e o Filho do homem ser entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenaro morte. E o entregaro aos gentios para ser escarnecido, aoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgir."3

    Observe o conhecimento detalhado de Jesus sobre o evento. Ele diz quem "os principais sacerdotes e os escribas." Diz o que "eles entregaro o Filho do homem aos gentios para ser escarnecido, aoitado e crucificado." Diz quando "mas ao terceiro dia ressurgir."

    Esquea qualquer insinuao de que Jesus caiu numa armadilha. Elimine qualquer teoria de que Jesus errou nos clculos. Ignore qualquer especulao de que a cruz foi um esforo

  • derradeiro para salvar uma misso agonizante.Se essas palavras nos dizem algo, dizem que Jesus morreu... propositadamente. No houve

    surpresa. No houve hesitao.Voc pode conhecer muito a respeito de uma pessoa pelas atitudes que ela toma diante da

    iminncia da morte. E a maneira como Jesus marchou para a morte no deixa dvida nenhuma: ele veio ao mundo para esse momento. Leia as palavras de Pedro: "Sendo este entregue pelo determinado desgnio e prescincia de Deus, vs o matastes, crucifcando-o por mos de inquos."4

    No, a jornada at Jerusalm no comeou em Jerico. Nem na Galilia. Nem em Nazar. Nem mesmo em Belm.

    A jornada at a cruz comeou muito antes. Enquanto o rudo da mordida da fruta ainda ecoava no paraso, Jesus partia para o Calvrio.

    E assim como o padre Alexander Borisov caminhou para a batalha com a Palavra de Deus na mo, Jesus seguiu para Jerusalm com a promessa de Deus no corao. A divindade de Cristo assegurou a humanidade de Cristo, e Jesus falou em voz alta suficiente para fazer vibrar os abismos do inferno: "Mas ao terceiro dia ressurgir."

    Existe uma Jerusalm em seu horizonte? Voc est prestes a enfrentar combates dolorosos? Est a poucos passos dos muros de sua prpria aflio? Aprenda uma lio com seu mestre. No marche para uma batalha com o inimigo sem antes buscar coragem nas promessas de Deus. Posso dar-lhe alguns exemplos?

    Quando voc estiver confuso: "Eu que sei que pensamentos tenho a vosso respeito", diz o SENHOR; "pensamentos de paz e no de mal."5

    Quando se sentir oprimido pelos fracassos de ontem: "Agora, pois, j nenhuma condenao h para os que esto em Cristo Jesus."6

    Nas noites em que gostaria de saber onde Deus est: "Porque eu sou Deus e no homem, o Santo no meio de ti."7

    Se pensar que est afastado do amor de Deus: "A fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento."8

    Na prxima vez em que voc se sentir na estrada de Jerico marchando rumo a Jerusalm, coloque as promessas de Deus na boca. Quando as trevas da opresso se abaterem sobre sua cidade, lembre-se da convico do padre Borisov.

    A propsito, os obreiros da Sociedade Bblica de Moscou sempre se lembraro da histria de um soldado que fez isso. Nas primeiras horas do dia 20 de agosto eles lhe ofereceram uma Bblia infantil colorida porque os Novos Testamentos pequenos haviam se esgotado. O soldado constatou que precisaria escond-la de seus superiores se pretendesse lev-la para casa. Porm seu uniforme tinha apenas um bolso grande.

    O soldado hesitou, mas depois retirou suas balas do bolso. Seguiu para a trincheira com uma Bblia em vez de munio.

    E muito importante marchar para Jerusalm com a promessa de Deus no corao. Foi importante para Alexander Borisov. Foi para Matthew Huffman. E importante para voc.

    ___________1. Marcos 10.322. Michener, James. Texas, Nova York: Random House, 1985, p. 367.3. Mateus 20.18-19.4. Atos 2.23.5. Jeremias 29.11.6. Romanos 8.1.7. Osias 11.9b.

  • 8. Efsios 3.18-19.CAPTULO 3

    O General Abnegado

    Tal como o Filho do homem, que no veio para ser servido,mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.

    Mateus 20.28

    A deciso havia sido tomada. As tropas tinham sido distribudas e os navios de guerra estavam a caminho. Cerca de trs milhes de soldados preparavam-se para se arremessar contra o paredo atlntico de Hitler na Frana. O Dia D aproximava-se. A responsabilidade pela invaso recaa diretamente sobre as quatro estrelas nos ombros do general Dwight D. Eisenhower.

    O general passou a noite anterior ao ataque com os homens da 101 tropa de pra-quedistas. Eles chamavam a si mesmos de guias Estridentes. Enquanto seus comandados preparavam planos e conferiam equipamentos, o general dirigiu-se a cada soldado transmitindo palavras de nimo. Quase todos os aviadores eram to jovens que poderiam ser seus filhos. E ele os tratava como tais. Um correspondente escreveu que enquanto observava os avies C-47 decolarem e desaparecerem na escurido, Eisenhower permaneceu o tempo todo com as mos afundadas nos bolsos e os olhos marejados de lgrimas.

    Em seguida o general dirigiu-se para seu alojamento e sentou-se diante da escrivaninha. Pegou caneta e papel e escreveu uma mensagem - que seria enviada Casa Branca em caso de derrota.

    Tratava-se de uma mensagem breve e, ao mesmo tempo, corajosa."Nossa aterrissagem... fracassou... as tropas, a Aeronutica e a Marinha cumpriram seu

    dever com coragem e devoo. Qualquer culpa ou erro em relao ao ataque devem ser atribudos somente a mim."1

    Pode-se dizer que o maior ato de coragem naquele dia no se originou na cabina de um avio nem numa trincheira, mas numa escrivaninha quando o ocupante do posto mais alto assumiu a responsabilidade em lugar de seus subordinados. Quando o comandante assumiu a culpa antes mesmo de precisar ser assumida.

    Lder raro, esse general. Incomum demonstrao de coragem. Ele exemplificou uma qualidade pouco notada em nossa sociedade de processos judiciais, exoneraes e divrcios. Quase todos ns estamos dispostos a receber o crdito pelo bem que praticamos. Alguns aceitam receber censura pelo mal que praticam. Mas poucos assumem responsabilidades por erros de terceiros. Um nmero menor ainda toma sobre si a culpa por erros ainda no cometidos.

    Eisenhower fez isso. E tornou-se um heri.Jesus fez isso. E nosso Salvador.Antes de a guerra iniciar, ele perdoou. Antes de o erro ser cometido, o perdo foi oferecido.

    Antes de a culpa ser imputada, a graa foi concedida.O comandante assumiu a responsabilidade em lugar de seus subordinados. Veja como

    Jesus descreve o que veio fazer."Tal como o Filho do homem, que no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua

    vida em resgate por muitos."2

  • A expresso "Filho do homem" representava para os judeus da poca de Cristo o mesmo que o ttulo de "general" representa para mim e voc. Uma definio de autoridade e poder.

    Analise todos os ttulos que Jesus poderia ter usado para definir a si mesmo no mundo: Rei dos reis, o grande EU SOU, o Incio e o Fim, o Senhor de todos, Jeov, Altssimo e Santo. Todos esses ttulos e mais uma dezena de outros teriam sido apropriados.

    Mas Jesus no os utilizou.Ao contrrio, chamou a si mesmo de Filho do homem. Esse ttulo aparece 82 vezes no Novo

    Testamento, das quais 81 vezes nos evangelhos e 80 vezes proferidas diretamente por Jesus.Para entender Jesus precisamos compreender o significado desse ttulo. Se Jesus o

    considerou to importante a ponto de empreg-lo mais de 80 vezes, com certeza importante investig-lo.

    Poucas pessoas no concordariam que o ttulo tem sua origem em Daniel 7, um texto que apenas um fotograma de uma obra-prima cinematogrfica. O espectador recebe o ingresso para assistir a um filme que retrata uma rpida viso dos futuros poderes do mundo. Os imprios so representados como animais: violentos, famintos e perversos. O leo com asas de guia3 representa a Babilnia, e o urso com trs costelas na boca4 significa a Prsia dos medos. Alexandre, o Grande, simbolizado por um leopardo com quatro asas e quatro cabeas,5 e um quarto animal com dentes de ferro representa Roma.6

    Porm, os imprios desaparecem medida que a cena se desenvolve. Um a um, os poderes do mundo tombam. No final, o Deus vitorioso, o Ancio de dias, recebe em sua presena o Filho do homem. A ele dado domnio, glria e o reino.7 Imagine-o com vestes brancas brilhantes. Montado num cavalo garboso. E com uma espada na mo.

    O Filho do homem era um smbolo de triunfo para os judeus. O vitorioso. O imparcial. O rbitro. O grande irmo. O intimidador. O brao direito do Altssimo e Santo. O rei que se precipitou do cu numa carruagem de fogo, trazendo vingana e ira sobre aqueles que oprimiram o povo santo de Deus.8

    O Filho do homem foi o general de quatro estrelas que convocou seu exrcito para invadir e conduziu suas tropas vitria.

    Foi por esse motivo que, quando Jesus se referiu ao Filho do homem em termos de poder, o povo se alegrou.

    Quando ele falou de um novo mundo onde o Filho do homem se assentaria no trono da glria9, o povo compreendeu.

    Quando ele falou que o Filho do homem viria sobre as nuvens do cu com grande poder e autoridade10, o povo fez idia da cena.

    Quando ele falou que o Filho do homem se assentaria direita do Todo-Poderoso", todos puderam imaginar a cena.

    Contudo, quando ele disse que o Filho do homem sofreria... o povo silenciou. Isso no combinava com a cena... no era o que eles esperavam.

    Coloque-se no lugar daquele povo. Voc tem sido oprimido pelo governo romano durante anos. Aprendeu desde a juventude que o Filho do homem viria para libert-lo. Agora ele est aqui. Jesus se diz Filho do homem. Prova ser o Filho do homem. Tem o poder de ressuscitar mortos e acalmar tempestades. Cresce o nmero de seus seguidores. Voc se empolga. Finalmente, os filhos de Abrao sero libertados.

    Mas o que ele est dizendo? "O Filho do homem no veio para ser servido, mas para servir." Antes ele lhes havia dito: "O Filho do homem ser entregue nas mos dos homens, e o mataro; mas, trs dias depois da sua morte, ressuscitar."12

    Espere um pouco! Trata-se de uma contestao impossvel, incrvel e intolervel. No de admirar que seus seguidores "no compreendiam isto e temiam interrog-lo."1'' O rei que veio para servir? O Filho do homem sendo trado? O Vitorioso assassinado? O Embaixador do Ancio de dias ridicularizado? Cuspido?

    Mas essa a ironia de Jesus portando o ttulo de "o Filho do homem". tambm a ironia da cruz. O Calvrio um hbrido da posio sublime de Deus e sua profunda devoo. O ribombar do trovo que ecoou quando o poder supremo de Deus colidiu com seu amor. A unio da soberania

  • do cu com a compaixo do cu.14 Os prprios elementos da cruz so simblicos: a viga horizontal da santidade cruza-se com a viga horizontal do amor.

    Jesus usa uma coroa de rei mas ostenta o corao de um pai.Ele um general que assume a responsabilidade pelos erros de seus soldados.Mas Jesus no escreveu uma mensagem; pagou o preo. Ele no s assumiu a culpa como

    tambm tomou para si o pecado. Tornou-se o refm. Ele o General que morre em lugar do soldado, o Rei que sofre pelo campons, o Patro que se sacrifica pelo empregado.

    Quando eu era menino, li uma fbula russa a respeito de um patro e um empregado que viajaram para uma determinada cidade. Esqueci-me da maioria dos detalhes mas lembro-me do final. Antes que os dois homens chegassem ao destino, enfrentaram uma nevasca que os impedia de enxergar. Perderam o rumo e no conseguiram chegar cidade antes do cair da noite.

    Na manh seguinte, os amigos preocupados saram procura dos dois. Finalmente encontraram o patro, congelado, de bruos na neve. Quando o levantaram, encontraram o empregado gelado mas vivo. Ele conseguiu sobreviver e contou como o patro se colocara voluntariamente em cima do empregado para que o empregado pudesse sobreviver.

    Fazia anos que no me lembrava dessa histria. Mas quando li o que Cristo disse que faria por ns, a histria me veio mente porque Jesus o patro que morreu pelo empregado.

    Ele o general que assumiu os erros de seus soldados.Ele o Filho do homem que veio para servir e dar sua vida em resgate... por voc.

    _________________1. "D-Day Recalling Military Gamble that Shaped History" in Time, 28/5/1984, p. 16.2. Mateus 20.28.3. Daniel 7.4.4. Daniel 7.5.5. Daniel 7.6.6. Daniel 7.7.7. Daniel 7.13-14.8. Para referncia adicionais, leia o Livro de Enoch (Hemus Editora, So Paulo, 1982), um obra

    intertestamental concluda por volta do sculo 70 a.C. Esse antigo manuscrito relata as imagens que vieram mente das pessoas quando ouviram a expresso "O Filho do homem".

    Esse Filho do homem que viste, arrancar reis e poderosos de seu sono voluptuoso, f-los- sair de suas terras inamovveis, colocar freios nos poderosos, quebrar os dentes dos pecadores. Expulsar os reis de seus tronos e de seus reinos, porque recusam honr-lo... (Captulo XLIV 3-4).

    Nesse dia, os reis, os prncipes, os poderosos e aqueles que possuem a terra levantar-se-o, vero e compreendero; v-lo-o sentado no seu trono de glria... (Captulo LX 5).

    Ento, os reis, os prncipes, todos aqueles que possuem a terra, celebraro aquele que os governa a todos, aquele que estava oculto. Pois desde o comeo o Filho do homem estava oculto... (Captulo LX10)

    ... todos os eleitos estaro diante dele neste dia (Captulo LX 11). Todos os reis, os prncipes e os poderosos e aqueles que governam na terra prosternar-se-o diante dele e o adoraro. Colocaro sua esperana no Filho do homem e lhe dirigiro suas preces, e invocaro sua misericrdia. (Captulo LX 12-13).

    ... os anjos dos castigos celestes o alcanaro e a vingana de Deus pesar sobre aqueles que perseguiram seus filhos e seus santos... (Captulo LX 14). Eles o bendiziam, o celebravam, o exaltavam, porque o segredo do Filho do homem lhes tinha sido revelado. E ele estava em um trono de glria... (Captulo LXVII 38-39).

    Toda iniqidade cessar, todo mal desaparecer diante de sua face, e a palavra do Filho do homem subsistir sozinha diante da presena do Senhor dos espritos (Captulo LXVII 41).

    9. Mateus 19.28.10. Mateus 24.30; Marcos 13.26; Lucas 17.26-30.11. Mateus 26.64.12. Marcos 9.31.13. Marcos 9.32.14. Mateus 20.28 no a nica passagem que fala do dualismo de Deus. Ele o Senhor "grande em

  • misericrdia e fidelidade; que guarda a misericrdia... ainda que no inocenta o culpado" (xodo 34.6-7). Ele o nico "Deus bom". Ao mesmo tempo, o "Salvador"(Isaas 45.21). igualmente "cheio de graa e de verdade" (Joo 1.14). o Deus que na ira, lembra-se da misericrdia (Habacuque 3.2). Em um precioso momento de reflexo, Miquias dirige-se a Deus dizendo: "O Senhor no retm a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericrdia" (Miquias 7.18). Paulo fala sobre "a bondade e a severidade de Deus" (Romanos 11.22). Deus capaz de "ser justo e o justificador daquele que tem f em Jesus" (Romanos 3.26).

    Sentimos dificuldade em conciliar em nossa mente que Deus o Juiz que pune e, ao mesmo tempo, o Misericordioso que perdoa. Mas esse o Deus das Escrituras. Ele o Deus que "de uma maneira maravilhosa e divina nos amou mesmo quando nos odiou". (John R. W. Stott, The Cross of Christ [Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1986], 131.) Ele se zanga com nosso pecado e se comove com nossas fraquezas.

  • CAPTULO 4

    Religio Inconsistente

    Condodo, Jesus tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e o foram seguindo.

    Mateus 20.34

    Acontece nos negcios quando fabricamos produtos que ficam encalhados.Acontece no governo quando mantemos departamentos inteis.Acontece na medicina quando a pesquisa no sai do laboratrio.Acontece na educao quando os objetivos so as notas e no o aprendizado.E aconteceu no caminho de Jerusalm quando os discpulos de Jesus queriam impedir que

    os cegos se aproximassem de Cristo."Saindo eles de Jerico, uma grande multido o acompanhava. E eis que dois cegos,

    assentados beira do caminho, tendo ouvido que Jesus passava, clamaram: Senhor, Filho de Davi, tem compaixo de ns!"

    O povo repreendeu os cegos para que se calassem, mas eles gritavam mais alto ainda: "Senhor, Filho de Davi, tem misericrdia de ns!"

    Jesus parou e disse aos cegos: "O que vocs querem que eu lhes faa?"Eles responderam: "Senhor, queremos enxergar."Jesus "tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista e o foram seguindo".2Mateus no relata por que o povo no permitiu que os cegos se aproximassem de Jesus

    mas fcil imaginar. Desejam proteg-lo. Ele se encontra em uma misso, uma misso crtica. O futuro de Israel est em jogo. Ele um homem importante com uma tarefa crucial. No tem tempo a perder com indigentes beira do caminho.

    Alm disso, olhe para eles. Sujos. Espalhafatosos. Desprezveis. Inoportunos. Ser que no aprenderam boas maneiras? No tm dignidade? Essas coisas devem ser conduzidas de maneira apropriada. Que falem primeiro com Natanael, que falar com Joo, que falar com Pedro, que ento decidir se vale a pena aborrecer o Mestre com um assunto de tal natureza.

    Porm, apesar da sinceridade, os discpulos estavam errados.E o mesmo acontece conosco quando pensamos que Deus est atarefado demais para dar

    ateno aos humildes ou formal demais para tratar de assuntos insignificantes. Quando pessoas prximas de Cristo impedem que algum se aproxime dele, a religio torna-se vazia, oca. Religio inconsistente.

    Um fato incrivelmente semelhante a esse ocorreu em um hospital de San Antnio.Paul Loetz sofreu uma queda violenta e teve o pulmo perfurado, costelas fraturadas e

    leses internas. Prostrado em uma sala de pronto-socorro, quase inconsciente, ele talvez tenha imaginado que a situao no poderia piorar ainda mais.

    Mas piorou.Deitado em seu leito, viu os dois mdicos responsveis por ele discutindo para saber quem

    colocaria um tubo dentro de seu peito esmagado. A discusso passou para a agresso fsica e um

  • dos mdicos ameaou chamar a polcia para retirar o colega do local."Por favor, salvem minha vida", implorou Loetz enquanto os mdicos lutavam ao lado

    dele.3Os dois mdicos estavam discutindo sobre procedimentos. Enquanto brigavam, dois outros

    colegas assumiram a responsabilidade pelo paciente e salvaram sua vida.Difcil acreditar nisso? Ignorar uma emergncia para discutir pontos de vista? No entanto,

    acontece mesmo nas igrejas. H algum tempo recebi o telefonema de um homem que costuma ouvir meu programa de rdio. Ele cresceu num lar no-cristo. Porm, trabalha com dois cristos de denominaes diferentes. Considerei estranho o telefonema desse meu ouvinte uma vez que seus colegas eram cristos. Ele me disse o seguinte: "Cada um diz uma coisa diferente. Tudo o que quero encontrar a Jesus."

    Acontece hoje.Acontece quando uma igreja dedica mais tempo em discusses sobre o estilo do templo do

    que sobre as necessidades dos famintos. Acontece quando os membros mais ilustres da igreja se ocupam com controvrsias tolas e no com verdades sublimes. Acontece quando uma igreja mais conhecida por sua posio diante de um determinado assunto do que por sua confiana em Deus.

    Acontece hoje. E aconteceu naquela poca.Aos olhos daqueles que estavam prximos de Jesus, os cegos no tinham nenhum direito

    de aborrecer o Mestre. Afinal, ele est a caminho de Jerusalm. O Filho do homem est prestes a estabelecer o reino. No tem tempo para ouvir o clamor de uns pobres cegos beira do caminho.

    E por isso, o povo os repreendia para que se calassem.No passam de um estorvo, aqueles cegos. Veja seus trajes. Veja como procedem. Veja

    como clamam por ajuda, Jesus tem coisas mais importantes a fazer do que ser importunado por pessoas insignificantes.

    Jesus pensou de outra maneira. Ele condoeu-se dos cegos, "tocou-lhes os olhos e imediatamente recuperaram a vista".

    Jesus ouve o clamor dos cegos apesar do burburinho ao redor. E no meio de toda a multido, so os cegos que realmente vem Jesus.

    Os dois cegos entenderam instintivamente que Deus est mais preocupado com a pureza do corao humano do que com a perfeio de roupas ou procedimentos. Sabiam de alguma forma que a falta de mtodo poderia ser compensada com motivo, por isso gritaram com toda a fora de seus pulmes. E foram ouvidos.

    Deus sempre ouve aqueles que o buscam. Posso dar um outro exemplo? Retroceda alguns sculos na Histria.

    Ezequias, rei de Israel, que provocou um avivamento religioso naquela nao, exorta o povo a abandonar falsos deuses e retornar ao Deus verdadeiro. Exorta o povo a seguir para Jerusalm a fim de celebrar a Pscoa. Mas h dois problemas.

    Primeiro, fazia muito tempo que o povo no participava da celebrao da Pscoa por causa da impureza de seu corao. Ningum est preparado para tal solenidade. At mesmo os sacerdotes haviam adorado dolos e descumprido a observao dos rituais necessrios para a purificao.

    Segundo, Deus ordenara que a Pscoa fosse celebrada no dcimo quarto dia do primeiro ms. Ezequias s consegue reunir o povo no segundo ms.

    Portanto a Pscoa foi realizada com um ms de atraso com a participao de pessoas de coraes impuros.

    Ezequias orou por elas: "O Senhor, que bom, perdoe a todo aquele que disps o corao para buscar o Senhor Deus, o Deus de seus pais, ainda que no segundo a purificao exigida pelo santurio."4

    Voc entende o dilema?Como Deus age quando o motivo puro mas o mtodo incorreto?"Ouviu o Senhor a Ezequias, e sarou a alma do povo."5Mais vale um corao puro com um ritual incorreto do que um corao impuro com um

    ritual correto.

  • Algum tempo atrs, quando estava em Atlanta, Gergia, para participar de uma conferncia, telefonei para casa e conversei com Denalyn e minhas filhas. Jenna, na poca com cerca de cinco anos de idade, disse que tinha uma surpresa para mim. Levou o telefone at perto do piano e comeou a tocar uma composio desconhecida.

    Do ponto de vista musical, a cano deixava muito a desejar. As marteladas de Jenna nas teclas do piano abafavam o som da msica. No havia ritmo. No havia rima nos versos. As palavras no tinham contedo. Tecnicamente a cano era um fracasso.

    Mas para mim era uma obra-prima. Por qu? Porque Jenna a comps especialmente para mim.

    Papai, voc maravilhoso.Sinto muito sua falta

    Quando voc est longe fico triste e choro.Volte logo para casa.

    Que pai no gostaria dessa cano? Que pai no se sentiria lisonjeado mesmo diante de uma homenagem desafinada?

    Alguns de vocs devem estar franzindo as sobrancelhas. "Espere um pouco, Max. Voc est dizendo que o mtodo que utilizamos para nos aproximar de Deus irrelevante? Est dizendo que o importante o motivo pelo qual nos dirigimos a Deus? Que a maneira como nos aproximamos dele relativa?"

    No, no isso o que estou querendo dizer (mas gosto da pergunta). O ideal que nos aproximemos de Deus com motivo certo e mtodo certo. s vezes fazemos isso. s vezes as palavras de nossa orao so to bonitas quanto o motivo que existe por trs delas. s vezes a maneira como cantamos to forte quanto a razo pela qual cantamos.

    As vezes nosso culto to atraente quanto sincero.Porm, nem sempre assim. Muitas vezes tropeamos nas palavras, e nossa msica

    imperfeita. Muitas vezes nosso culto inferior ao que pretendamos. Muitas vezes nossas splicas pela presena de Deus atraem a ateno tanto quanto as splicas dos cegos beira do caminho.

    "Senhor, ajuda-me."E s vezes, mesmo nos dias de hoje, discpulos sinceros nos repreendero para que nos

    calemos at aprendermos a agir corretamente.Jesus no repreendeu os cegos. Deus no disse a Ezequias para cancelar a comemorao. Eu

    no disse a Jenna para treinar mais um pouco e me telefonar outra vez quando estivesse apta.Os cegos, Ezequias e Jenna, todos deram o melhor de si e isso bastou."Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso corao."6Que promessa! E ele a cumpriu com os cegos.A ltima cena da histria fascinante. Os dois cegos mal vestidos, mal-cheirosos mas com

    olhos brilhantes esto caminhando ou melhor, saltitando atrs de Jesus na estrada de Jerusalm. Apontando, flores cujo perfume sempre sentiram sem nunca ter podido v-las. Enxergando o sol cujo calor sempre sentiram sem nunca ter podido v-lo. Irnico, dentre todas as pessoas na estrada naquele dia, eles eram os nicos com viso perfeita mesmo antes de poder enxergar.

    ______________l. Mateus 20.29-30.2. Mateus 20.34.3."Wilford Hall turf fight puts patients at risk" in San Antnio Light, 3/2/1990, Al, Al6.4. 2 Crnicas 30.18-19.

  • 5. 2 Crnicas 30.20.6. Jeremias 29.13.

    SBADO

  • CAPTULO 5

    No Basta S Trabalhar, Necessrio Saber Parar

    Seis dias trabalhars e fars toda a tua obra.Mas o stimo dia o sbado do Senhor, teu Deus.

    xodo 20.9-10

    Tempos atrs levei minha filha Andra para dar um passeio. Com quatro anos de idade, ela era uma menina curiosa, portanto comeamos a explorar os locais prximos nossa casa. "Vamos conhecer novos territrios", sugeri. Confiantes, deixamos o refgio da rua sem sada onde morvamos e partimos para regies desconhecidas.

    O capito Kirk teria se orgulhado.A regio era totalmente nova para Andra. Caminhamos por ruas que ela nunca havia

    pisado e brincamos com ces que ela nunca havia tocado. Territrio inexplorado. Os jardins das casas eram diferentes. As crianas pareciam mais velhas. As casas pareciam maiores.

    Imaginei que toda essa mudana poderia confundi-la. Pensei que os novos locais e os novos sons poderiam gerar ansiedade.

    Voc est bem? perguntei. Claro. Sabe onde estamos? No. Sabe como voltar para casa? No. E no est preocupada?Sem diminuir o ritmo de seus passos, ela segurou a minha mo e disse: No preciso saber como voltar para casa. Voc sabe.Certa vez Deus fez com seus filhos o mesmo que fiz com Andra. Levou-os a uma terra

    desconhecida. Fez com que marchassem atravessando o mar e guiou-os at um territrio inexplorado.

    Os filhos de Deus no sabiam onde estavam. O deserto era estranho. Os sons eram novos e o cenrio desconhecido. Mas havia algo diferente: eles no tiveram a mesma confiana de Andra.

    "Leve-nos de volta para o Egito", pediram com insistncia.Porm o Pai queria que seus filhos confiassem nele. O Pai queria que seus filhos

    segurassem sua mo e se tranqilizassem. O Pai queria que seus filhos deixassem de se preocupar com a situao e se contentassem por haver algum cuidando deles.

    Ele os libertou do cativeiro e abriu um caminho no mar. Enviou uma nuvem para orient-los durante o dia e fogo para que enxergassem durante a noite. Deu-lhes alimento. Atendeu a necessidade bsica de seus filhos: saciou-lhes a fome.

    Havia man para ser recolhido todas as manhs. As codornizes retornavam todas as noites. "Confiem em mim. Confiem em mim e eu lhes darei tudo o que vocs necessitam." O povo foi

  • instrudo a recolher apenas a quantidade necessria para um dia. Suas necessidades seriam supridas, um dia por vez. Apesar de Deus cumprir fielmente sua promessa, o povo tinha dificuldade em acreditar que o alimento era obra do Pai. Para eles, no havia lgica em ver o alimento e no poder armazen-lo.

    "E se amanh ele se esquecer? E se ele no voltar?" Diante disso, resolveram recolher uma quantidade a mais para o dia seguinte. Durante a noite, o alimento deteriorou-se.

    "Recolham o suficiente para hoje", foi a mensagem de Deus. "Deixem que eu me preocupe com o dia de amanh."

    O Pai queria que seus filhos confiassem nele.Na sexta-feira o povo foi instrudo a recolher uma quantidade em dobro para o dia

    seguinte, sbado o dia estabelecido por Deus em que a humanidade se rene para adorar seu Criador. O alimento reservado para o sbado no se deteriorava durante a noite.

    Contudo, os filhos de Deus no queriam descansar no sbado. No havia sentido em parar e meditar quando o melhor seria levantar e trabalhar. Desobedecendo as ordens de Deus, saram para recolher alimento.

    ( curioso notar que os fatigados so os que mais relutam em descansar.)Observe a sabedoria de Deus. Precisamos de um dia para renovar nossas foras.

    Precisamos de um perodo de 24 horas para frear as rodas e desligar o motor. Precisamos parar.O sbado o dia em que o povo de Deus em uma terra estranha aperta a mo do Pai e diz:

    "No sei onde estou. No sei como voltar para casa. Mas tu sabes, e isso basta."Cerca de duas semanas atrs Andra e eu partimos para uma nova aventura desta vez

    de bicicletas. Ela acabara de aprender a se equilibrar sobre duas rodas e estava pronta para sair da rua segura onde moramos e descer a ladeira atrs de nossa casa. Nunca havia andado de bicicleta num declive.

    Sentados nas bicicletas no topo da ladeira, olhamos para baixo. Para ela, aquilo parecia o monte Everest.

    Voc tem certeza de que quer tentar? perguntei. Acho que sim ela respondeu com um suspiro. Acione os breques quando quiser parar. No se esquea dos breques. Est bem.Pedalei at a metade do caminho e aguardei. L vinha ela. A bicicleta comeou a ganhar

    velocidade. O guido comeou a tremer. Os olhos de Andra arregalaram-se. Os pedais moviam-se com uma velocidade espantosa. Ao passar por mim ela gritou:

    No me lembro como devo parar! Em seguida, ela bateu no meio-fio.Se voc no souber como parar, o resultado ser desastroso. Aplica-se s bicicletas. Aplica-

    se vida. Voc sabe como parar?J teve a sensao de estar descendo uma ladeira de bicicleta sem saber como brecar? J

    sentiu as rodas de sua vida girando a uma velocidade cada vez maior enquanto voc passa pelas pessoas que ama? No conseguiu se lembrar de como reduzir a velocidade at parar?

    Se isso j lhe aconteceu, leia o que Jesus fez no ltimo sbado de sua vida. Comece no evangelho de Mateus. No encontrou nada? Tente Marcos. Leia o que Marcos escreveu a respeito do ltimo sbado de Jesus. Tambm no encontrou nada? Estranho. Que tal procurar em Lucas? O que Lucas diz? Nenhuma referncia quele dia? Nenhuma palavra? Ento procure em Joo. Certamente Joo menciona alguma coisa sobre o ltimo sbado de Jesus. Tambm no? Nenhuma referncia? Hummmm. Parece que Jesus descansou naquele dia.

    Espere um pouco. isso mesmo? isso mesmo. Voc quer dizer que tendo apenas uma semana de vida pela frente, Jesus descansou no

    sbado? Pelo que sabemos, sim.Voc quer dizer que com todos aqueles apstolos para treinar e tanta gente para

    doutrinar, ele separou um dia para descansar e prestar culto ao Pai? Aparentemente sim.Voc est me dizendo que Jesus achou que prestar culto era mais importante do que

    trabalhar? exatamente isso o que estou lhe dizendo.Essa a finalidade do sbado. E essa foi a prtica de Jesus. "Indo para Nazar, onde fora

  • criado, entrou, num sbado, na sinagoga, segundo o seu costume e levantou-se para ler."1 No deveramos fazer o mesmo?

    Se Jesus encontrou tempo em meio a uma agenda tumultuada para parar e descansar, no poderamos tambm fazer o mesmo?

    Ah! Sei o que voc est pensando. Posso ver o seu rosto. A est voc. Olhando-me pelo monitor com ar de dvida e sobrancelhas franzidas. "Max, domingo o nico dia que tenho para colocar tudo em ordem no escritrio." Ou "Boa idia, Max, mas voc ouviu o que disse o nosso pastor? Deus nos proporciona o descanso e eu pego no sono! E o culto de adorao?" Ou "E fcil para voc dizer isso, Max. Voc um pregador. Se tivesse uma esposa como a minha e filhos como os meus..." No fcil parar.

    Parece que a atividade sinal de maturidade. Existe uma bem-aventurana que diz "Bem-aventurados os atarefados"? No, no existe. Mas existe um versculo que resume a vida de muitas pessoas: "Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vo se inquieta: amontoa tesouros e no sabe quem os levar."2

    Isso tem algo a ver com sua vida? comum voc ficar to pouco em um lugar que seus amigos o vem como uma sombra? Passa tanto tempo fora de casa que sua famlia est comeando a questionar sua existncia? Orgulha-se de uma correria custa de sua f?

    Faz suas as palavras de Andra? "No me lembro como parar." Se assim for, voc vai se machucar.

    Pare. Se Deus ordenou, voc precisa parar. Se Jesus obedeceu, voc tambm precisa obedecer. Deus ainda fornece o man. Confie nele. Reserve um dia para dizer no ao trabalho e sim ao culto de adorao.

    Uma palavra final.Um dos pontos de referncia de Londres a Chring Cross. Ela fica perto do centro

    geogrfico da cidade e serve de orientao para quem no conhece as ruas de Londres.Uma garotinha perdeu-se na grande cidade. Um policial a encontrou. Entre lgrimas e

    soluos, ela explicou que no conhecia o caminho de volta para casa. O policial perguntou se ela sabia o endereo. No sabia. Perguntou o nmero do telefone; tambm no sabia. Mas quando ele perguntou o que ela sabia, seu rosto se iluminou.

    "Sei onde est a cruz", ela disse. "Se voc me mostrar a cruz, saberei encontrar o caminho de casa."

    Voc pode fazer o mesmo. Tenha sempre uma viso ntida da cruz em seu horizonte e encontrar o caminho de casa. A finalidade de seu dia de repouso : descansar o corpo, porm mais importante ainda, restaurar sua viso. E um dia em que voc v o ponto de referncia e consegue encontrar o caminho de casa.

    Faa um favor a si mesmo. Segure a mo de seu pai e diga o mesmo que Andra me disse: "No sei onde estou. No conheo o caminho de casa. Mas tu sabes, e isso basta."

    _______________1. Lucas 4.16 (grifo meu).

  • 2. Salmo 39.6.

    CAPTULO 6

    Amor Destemido

    Ento, Maria, tomando uma libra de blsamo de nardo puro,mui precioso, ungiu os ps de Jesus e os enxugou com os seus

    cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do blsamo.Joo 12.3

    Artful Eddie tinha tudo o que desejava. No campo da advocacia no havia ningum mas astuto do que ele. Teve participao ativa na prspera dcada de 1920. Por ser amigo ntimo de Al Capone, ele dirigia as corridas dos ces dos gngsteres. Aprendeu a dominar a tcnica simples de determinar o resultado da corrida fornecendo alimento em excesso a sete ces e apostando no oitavo.

    Riqueza. Posio social. Estilo. Artful Eddie no sentia falta de nada.Ento por que se apresentou policiai1 Por que se ofereceu para denunciar Capone? Qual

    foi o motivo? Ser que Eddie desconhecia as srias conseqncias de denunciar um gngster?Sabia de tudo isso, mas tomou uma deciso.O que teria a ganhar? O que a sociedade lhe poderia oferecer alm do que eleja possua?

    Tinha dinheiro, poder, prestgio. Qual seria o motivo?Eddie revelou o motivo. Seu filho. Eddie sempre viveu ao lado de pessoas desprezveis.

    Durante muito tempo sentiu na pele as agruras do submundo do crime. Para seu filho, queria oferecer algo melhor. Queria dar-lhe um nome. E para dar um nome ao filho, teria de limpar o seu. Eddie estava disposto a assumir o risco para que seu filho pudesse ter uma folha corrida limpa. Artful Eddie no chegou a ver seu sonho concretizado. Aps a denncia, o gngster se vingou. Dois tiros silenciaram-no para sempre.

    Valeu a pena?Para o rapaz valeu. O filho de Artful Eddie soube dar valor ao sacrifcio do pai. uma das

    pessoas mais famosas do mundo.Porm, antes de falarmos do filho, falemos da causa: amor destemido. Amor que aproveita

    uma oportunidade. Amor que enfrenta perigos. Amor que se expe e deixa um legado. Amor abnegado.

    Amor inesperado, surpreendente, comovente. Atos de amor que tomam de assalto o corao e deixam marcas na alma. Atos de amor que nunca se esquece.

    Tal ato de amor foi presenciado na ltima semana da vida de Jesus. Uma demonstrao de devoo que o mundo jamais esquecer. Um ato de ternura extravagante em que Jesus no foi o doador, mas o receptor.

    . . . . . . .

    Um grupo de amigos encontra-se ao redor de Jesus. Esto sentados mesa. A cidade Betnia e a casa pertence a Simo.

  • Ele era conhecido como Simo, o leproso. Mas isso havia acabado. Agora seu nome era apenas Simo. No sabemos quando Jesus o curou. Mas sabemos como ele era antes de ser curado por Jesus. Ombros curvados para a frente. Mo sem dedos. Brao em chagas e costas purulentas cobertas com roupas esfarrapadas. Um trapo esconde todo o seu rosto com exceo dos olhos de olhar penetrante.

    Isso, contudo, foi antes do toque de Jesus. Ser que Simo foi um dos que Jesus curou aps ter proferido o Sermo do Monte? Ser que foi aquele nico que voltou para agradecer quando Jesus curou os dez leprosos? Ou foi um dos quatro mil que Jesus ajudou em Betsaida? Ou ento foi um dentre os milhares de fiis annimos que os autores dos evangelhos no chegaram a mencionar?

    No sabemos. Mas sabemos que ele convidou Jesus e seus discpulos para um jantar.Um ato simples, mas que deve ter sido muito significativo para Jesus. Afinal de contas, os

    fariseus j esto lhe preparando uma cela no corredor da morte. No demorar muito tempo para que apontem Lzaro como cmplice. Pode ser que, at o fim da semana, os nomes de todos os que esto ali presentes passem a constar da lista dos procurados pela Justia. E preciso coragem para ter dentro de casa um homem procurado pela Justia.

    Mas tambm preciso coragem para colocar a mo na chaga de um leproso.Simo no se esqueceu do que Jesus fez. No podia esquecer. Onde antes existia um coto,

    agora havia um dedo para sua filha segurar. Onde antes existiam chagas purulentas, agora havia pele para sua mulher tocar. E onde antes existiam momentos de solido, agora havia momentos como este uma casa repleta de amigos, uma mesa farta.

    No, Simo no se esqueceu. Simo sabia o que significava encarar a morte. Sabia o que significava no ter casa para morar e tambm no receber o apoio de ningum. Queria que Jesus soubesse que se algum dia necessitasse de uma refeio e de um local para repousar a cabea, haveria uma casa em Betnia sua disposio.

    Outras casas no sero to acolhedoras quanto a de Simo. Antes do trmino da semana, Jesus passar alguns momentos na casa do sumo sacerdote, a mais bela de Jerusalm. Trs celeiros no quintal e uma vista panormica para o vale. Mas Jesus no ver nada disso, ver apenas teste-munhas falsas, ouvir mentiras e receber bofetadas no rosto.

    No encontrar hospitalidade na casa do sumo sacerdote.Antes do trmino da semana, Jesus visitar os aposentos de Herodes. Aposentos elegantes.

    Servos por toda parte. Talvez haja frutas e vinho sobre a mesa. Mas Herodes no oferecer nada disso a Jesus. Herodes quer ver uma mgica. Um espetculo corriqueiro. "Mostre-me um milagre, caipira", ele alfinetar. Os guardas acharo graa.

    Antes do trmino da semana, Jesus visitar a casa de Pilatos. Oportunidade rara de estar na sala de visitas do procurador de toda a nao israelita. Deveria ser uma honra. Deveria ser um momento inesquecvel, mas no ser. Trata-se de um momento que o mundo preferiria esquecer. Pilatos tem a oportunidade de realizar o maior ato de misericrdia do mundo mas no realiza. Deus est em sua casa, mas Pilatos no o v.

    No podemos deixar de perguntar: E se? E se Pilatos tivesse partido em defesa do inocente? E se Herodes tivesse pedido ajuda a Jesus e no um espetculo? E se o sumo sacerdote tivesse se preocupado com a verdade tanto quanto se preocupava com sua posio? E se um deles tivesse virado as costas multido, olhado para Jesus e assumido uma posio em defesa dele?

    Mas ningum fez isso. A montanha do prestgio era alta demais. A queda seria grande demais.

    Mas Simo fez isso. O amor destemido agarra o momento. Simo aproveitou a oportunidade. Ofereceu uma boa refeio a Jesus. No uma tima refeio, porm melhor do que as costumeiras. E quando Jesus foi acusado pelos sacerdotes e esbofeteado pelos soldados, talvez ele tenha se lembrado do gesto de Simo e adquirido fora.

    E quando Jesus se lembrou da refeio oferecida por Simo, talvez tenha se lembrado do gesto de Maria. Provavelmente ainda podia sentir o perfume.

    Certamente que podia. Tratava-se de um perfume valioso. Importado. Concentrado. Aroma delicioso. Forte o suficiente para perfumar a roupa de um homem durante dias.

  • Pergunto a mim mesmo se, entre uma bofetada e outra, ele no teria revivido aquele momento. E quando se agarra na pilastra romana e se firma no lugar para receber o prximo aoite nas costas, teria se lembrado do blsamo em contato com sua pele? Ser que teria visto, em meio s mulheres que o fitavam, o rosto pequeno e delicado de Maria, sua benfei-tora?

    Ela era a nica que acreditava nele. Sempre que ele falava de sua morte, as outras pessoas davam de ombros, duvidavam, mas Maria acreditava. Maria acreditava porque ele falou com uma firmeza que ela j ouvira antes.

    "Lzaro, vem para fora!" ele ordenara, e o irmo de Maria saiu do tmulo. Depois de estar quatro dias em uma sepultura fechada com uma pedra, ele saiu caminhando.

    E quando Maria beijou as mos, agora cheias de vida, de seu irmo morto h poucos dias, ela se virou e olhou. Jesus estava sorrindo. As lgrimas haviam secado e os dentes brilhavam em meio aos fios de barba. Ele estava sorrindo.

    E em seu corao, Maria tinha a certeza de que nunca duvidaria das palavras de Jesus.Portanto, quando ele falou de sua morte, ela acreditou.E quando ela viu os trs juntos, no conseguiu resistir. Simo, o leproso curado, atirando a

    cabea para trs numa gargalhada. Lzaro, o ressuscitado, inclinando-se para ouvir melhor as palavras de Jesus. E Jesus, que dera vida a ambos, comeando a rir pela segunda vez.

    "Este o momento certo", ela disse a si mesma.No foi um ato impulsivo. Ela carregara o grande frasco de perfume de sua casa at a de

    Simo. No foi um gesto automtico. Mas foi uma extravagncia. O perfume valia um ano de salrio. Talvez fosse a nica coisa de valor que ela possua. No havia lgica em fazer isso, mas desde quando o amor movido pela lgica?

    A lgica no comovera Simo.O bom senso no chorara diante do tmulo de Lzaro.A praticidade no alimentara as multides nem amara as crianas. O amor fez tudo isso.

    Amor extravagante, destemido, oportuno.E agora algum necessita demonstrar o mesmo ao doador de tanto amor.E Maria fez isso. Com o frasco na mo, postou-se atrs de Jesus. Dentro de instantes todas

    as bocas silenciaram-se e todos os olhos arregalaram-se ao v-la retirar, com os dedos nervosos, a elegante tampa do frasco.

    Somente Jesus no notou sua presena. Assim que ele viu todos os olhares voltados para atrs de si, ela comeou a derramar o blsamo. Sobre a cabea de Jesus. Sobre seus ombros. Pelas suas costas.

    A fragrncia inundou o ambiente. Os aromas de ervas e carne cozida desapareceram diante do perfume do blsamo.

    "Onde quer que estiveres", o gesto parecia dizer, "sente o aroma e lembre-se de quem zela por ti."

    Na pele de Jesus a fragrncia da f. Em suas roupas o aroma da confiana. Mesmo enquanto os soldados repartiam as vestes de Jesus, o gesto de Maria continuou a exalar perfume.

    Os outros discpulos zombaram de tal extravagncia. Consideraram-na uma tolice. Irnico. Jesus os salvara de se afundarem no barco durante uma tempestade no mar. Capacitara-os para curar e pregar o evangelho. Dera sentido s suas vidas confusas. Eles, os recebedores de um amor ilimitado, censuraram a generosidade de Maria.

    "Por que desperdiar aquele perfume? Poderia ser vendido por um bom dinheiro e repass-lo aos pobres", disseram com um sorriso maldoso.

    Observe a pronta defesa de Jesus a Maria. "Por que molestais esta mulher? Ela praticou boa ao para comigo."1

    A mensagem de Jesus to poderosa hoje quanto naquela poca. Observe: "Existe um tempo para o amor destemido. Existe um tempo para gestos extravagantes. Existe um tempo para derramar seus afetos sobre quem voc ama. E quando esse tempo chegar agarre-o, no o deixe escapar."

    O jovem marido est empacotando os pertences de sua mulher. A misso solene. Seu corao est pesaroso. Ele nunca imaginou que ela morreria to jovem. Porm o cncer veio com

  • tudo, rapidamente. No fundo da gaveta, ele encontra uma caixa. Dentro um nglig. Sem uso. Ainda embrulhado em papel. "Ela estava sempre aguardando uma ocasio especial", ele diz a si mesmo, "sempre aguardando..."

    O rapaz na bicicleta se revolta ao observar a zombaria dos estudantes. de seu irmo mais novo que eles esto rindo. O rapaz sabe que deve se intrometer e defender o irmo, mas... aqueles estudantes so seus amigos. O que pensaro? E por se importar com o que eles pensam, o rapaz d meia volta e segue pedalando.

    O marido olha para a estojo de jias e pensa racionalmente: "Sei que ela quer esse relgio, mas muito caro. Ela uma mulher prtica, compreender. Hoje comprarei o bracelete. O relgio... algum dia."

    Algum dia. O inimigo do amor destemido uma serpente cuja lngua domina com maestria a linguagem da decepo. "Algum dia", ela sussurra.

    "Algum dia, eu a levarei para fazer uma viagem de navio.""Algum dia, terei tempo para telefonar e bater um papo.""Algum dia, as crianas compreendero por que sou to ocupado."Mas voc sabe a verdade, no sabe? Sabe antes de eu t-la escrito. Pode diz-la melhor do

    que eu.Esse algum dia nunca chegar.E o preo da praticabilidade s vezes maior do que a extravagncia.Porm as recompensas do amor destemido so sempre maiores que seu custo.V em frente. Invista no tempo. Escreva a carta. Pea desculpas. Faa a viagem. Compre o

    presente. Faa isso. A oportunidade aproveitada traz alegria. A oportunidade perdida traz arrependimento.

    A recompensa foi grande para Simo. Ele teve o privilgio de proporcionar descanso quele que fez o mundo. O gesto de Simo jamais ser esquecido.

    Nem o de Maria. Jesus prometeu: "Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, ser tambm contado o que ela fez, para memria sua."2

    Simo e Maria: Exemplos de amor destemido demonstrados no momento certo.Isso nos leva de volta a Artful Eddie, o advogado de Chicago que denunciou Al Capone

    para que seu filho pudesse ter uma oportunidade digna. Se Eddie tivesse vivido para ver seu filho Butch crescer, sentir-se-ia orgulhoso.

    Teria orgulho ao ver Butch ser designado para Annapolis. Teria orgulho ao v-lo galgar a posio de piloto na Segunda Guerra Mundial. Teria orgulho ao ler que seu filho afundou cinco bombardeiros em uma noite no Pacfico, salvando a vida de centenas de tripulantes do porta-avies Lexington. O nome foi limpo. A Medalha de Honra do Congresso recebida por Butch foi a prova disso.

    Quando as pessoas pronunciam o nome O' Hare em Chicago, no pensam em gngsteres pensam em um heri da aviao. E agora quando voc pronuncia o nome 0'Hare, tem algo a mais em que pensar. Pense nos infinitos dividendos do amor destemido. Pense nisso na prxima vez que ouvir esse nome. Pense nisso na prxima vez que estiver no aeroporto que leva o nome do filho de um gngster reformado.

    O filho de Eddie O' Hare.

    _________________1. Mateus 26.10. Mateus narra no captulo 26 uma histria que cronologicamente deveria estar no

    captulo 20. O evangelho de Joo menciona que a uno feita por Maria em Betnia aconteceu na noite de sbado (Joo 12.1). Por que Mateus aguarda tanto tempo para registrar essa histria? Parece que s vezes ele considera o tema mais importante do que a cronologia. Na ltima semana de vida de Jesus h muitos acontecimentos tristes. Os captulos 26 e 27 entoam um canto pesaroso de traies. Primeiro so os lderes, depois Judas, depois os apstolos, Pedro, Pilatos e finalmente todo o povo se volta contra Jesus. Talvez no intuito de contar uma bela histria de f em meio a tantas de traio, Mateus aguarda at o captulo 26 para falar de Simo e Maria.

  • 2. Mateus 26.13.

    DOMINGO

  • CAPTULO 7

    O Dono do Jumentinho

    E, se algum vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviar.

    Mateus 21.3

    Quando chegarmos ao lar celestial, sei o que quero fazer. H algum que desejo conhecer. Voc ir adiante e conversar com Maria ou falar sobre doutrinas com Paulo. Eu me encontrarei com voc logo a seguir. Mas antes, desejo conhecer o dono do jumentinho.

    No sei seu nome nem com quem ele se parece. S sei uma coisa: o que ele ofereceu. Ofereceu um jumentinho para Jesus no domingo em que ele entrou em Jerusalm.

    "Ide aldeia que a est diante de vs e logo achareis presa uma jumenta e, com ela, um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. E, se algum vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviar."1

    Quando todos ns chegarmos ao cu, quero visitar esse homem. Tenho algumas perguntas a lhe fazer.

    Como voc sabia? Como sabia que era Jesus quem necessitava de um jumentinho? Voc teve uma viso? Recebeu um telegrama? Apareceu um anjo em seu prato de lentilhas?

    Foi difcil entregar o jumentinho? Foi difcil oferecer algo til para Jesus? Quero fazer perguntas desse tipo porque sinto dificuldades semelhantes. s vezes gosto de preservar meus animais. s vezes, quando Deus deseja algo de mim, ajo como se no soubesse que ele necessita disso.

    Como voc se sentiu? Como se sentiria ao ver Jesus montado no jumentinho que vivia em seu estbulo? Sentir-se-ia orgulhoso? Surpreso? Aborrecido?

    Voc sabia? Tinha idia de que sua generosidade seria utilizada para um fim to nobre? J lhe havia ocorrido que Deus montaria em seu jumentinho? Sabia que os quatro autores dos evangelhos contariam sua histria? Chegou a imaginar que quase dois milnios depois, um prega-dor curioso do sul do Texas estaria meditando altas horas da noite sobre sua atitude?

    Enquanto medito sobre a sua, penso tambm sobre a minha. As vezes tenho a impresso que Deus deseja que eu lhe oferea algo e s vezes recuso-me a isso porque no tenho absoluta certeza, e ento sinto-me mal por ter perdido uma oportunidade. Outras vezes sei que ele deseja algo de mim, mas no lhe ofereo porque sou muito egosta. E outras vezes ainda, poucas vezes, atendo ao seu pedido e sinto-me honrado em oferecer um presente que seria usado para transportar Jesus de um lugar para outro. E mais: sempre me pergunto se minhas pequenas ddivas de hoje chegaro a fazer alguma diferena no cmputo geral.

    Talvez voc tambm tenha essas dvidas. Todos ns temos um jumentinho. Voc e eu temos algo em nossa vida, que, se fosse devolvido a Deus, poderia, como o jumentinho, transportar Jesus e sua histria ao longo da estrada. Talvez possa cantar, abraar algum, programar um computador, aprender a falar suale ou preencher um cheque.

    Seja l o que for, o seu jumentinho.

  • Seja l o que for, seu jumentinho pertence a ele.Pertence a ele de verdade. Seus talentos pertencem a ele, e o jumentinho era dele. O texto

    original das instrues que Jesus deu a seus discpulos prova disso: "Se algum vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles."

    A linguagem utilizada por Jesus a linguagem de algum pertencente realeza. Tratava-se de uma lei antiga que obrigava o cidado a ceder ao rei qualquer objeto ou servio que ele ou um de seus emissrios solicitasse.2 Ao fazer aquele pedido, Jesus est afirmando que rei. Est falando como algum que tem autoridade. Est dizendo que como rei ele tem direito a qualquer bem de seus sditos.

    Talvez Deus queira montar em seu jumentinho para atravessar os muros de outra cidade, outro pas, outro corao. Voc permitiria? Entregaria o jumentinho a ele? Ou hesitaria?

    O homem que deu o jumentinho a Jesus apenas um da longa lista de pessoas que ofereceram coisas insignificantes a Deus. A Bblia tem uma extensa galeria de doadores de jumentinhos. No cu deve haver um santurio para reverenciar coisas comuns que Deus utiliza de forma incomum.

    um lugar que voc no vai querer deixar de conhecer. D uma volta por ali e veja a corda de Raabe, o cesto de Paulo, a funda de Davi e a queixada utilizada por Sanso. Coloque a mo ao redor da vara que dividiu o mar ao meio e feriu a rocha. Cheire o blsamo que suavizou a pele de Jesus e animou seu corao. Encoste a cabea no mesmo manto sobre o qual Cristo descansou no barco e passe a mo ao longo da madeira lisa da manjedoura, macia como a pele de um beb. Ou, ento, coloque o ombro sob a pesada viga romana, to grosseira quanto o beijo de um traidor.

    No sei se todos esses objetos estaro l. Mas tenho certeza de uma coisa as pessoas que os utilizaram estaro.

    Os corajosos: Raabe que abrigou o espio. Os irmos que transportaram Paulo s escondidas.

    Os vencedores: Davi, atirando uma pedra com a funda. Sanso, golpeando com uma queixada. Moiss, levantando uma vara.

    Os benfeitores: Maria aos ps de Jesus. O que ela lhe ofereceu era caro, mas Maria sabia instintivamente que aquilo que Jesus ofereceria custaria muito mais.

    O discpulo annimo no barco. Ele preparou uma cama no barco para que o Mestre pudesse descansar.

    E o estranho peregrino beira da Via-Crcis. Pelas informaes que temos, ele sabia muito pouco. Sabia apenas que as costas aoitadas e ensangentadas de Jesus estavam exaustas e que as suas eram fortes. Por isso, quando o soldado o apontou, ele se apresentou.

    Um grupo e tanto, no? Mordomos competentes que entenderam que seus bens pertenciam a Deus e os colocaram sua disposio todas as vezes que precisou. Meeiros da vinha que sabiam quem era o legtimo dono. Estudantes leais que sabiam quem estava pagando suas mensalidades escolares.

    Eis um outro exemplo: Um professor de Escola Dominical do sculo passado que conduziu um vendedor de calados a Cristo. O nome do professor voc nunca ouviu: Kimball. O nome do vendedor de calados que ele converteu voc conhece: Dwight Moody.

    Moody tornou-se evangelista e exerceu grande influncia na vida de um jovem pregador chamado Frederick B. Meyer. Meyer comeou a pregar nas faculdades e, durante suas pregaes, converteu J. Wilbur Chapman. Chapman passou a trabalhar com a Associao Crist de Moos e organizou a ida de um ex-jogador de beisebol chamado Billy Sunday a Charlotte, Carolina do Norte, para realizar um reavivamento espiritual. Um grupo de lderes comunitrios de Charlotte entusiasmou-se de tal maneira com o reavivamento que planejou outra campanha evangelstica, convidando Mordecai Hamm para pregar na cidade. Durante essa campanha um jovem chamado Billy Graham entregou sua vida a Cristo.

    Ser que o professor de Escola Dominical de Boston imaginava qual seria o resultado de sua conversa com o vendedor de calados? No, Mas da mesma forma que o dono do jumentinho, ele teve a oportunidade de ajudar Jesus a penetrar em outro corao.

    Alguns anos atrs participei de uma campanha evangelstica no Hava. (Bem, algum

  • precisa visitar lugares desertos como esse!) Minha misso era bater de porta em porta e convidar o povo para nossas reunies noturnas. A maioria das pessoas era gentil, porm no demonstrava muito interesse. Embora no nos tratassem com aspereza, no nos convidavam para entrar. Foi ento que conheci uma senhora encantadora cujo nome s no foi mencionado na Bblia porque ela nasceu dois mil anos depois.

    No sei seu nome, mas lembro-me de sua presena e de seus presentes.Era uma senhora delicada. Pequenina. Oriental. Ombros curvados pelos anos. Uma

    senhora de poucas posses que trabalhava como criada em um dos muitos hotis daquela regio litornea. Ao saber que estvamos falando de Cristo ao povo, a senhora insistiu para que a visitssemos a fim de constatarmos como ela estava tentando influenciar suas colegas de trabalho. Entramos num cmodo de fundos. Ali havia uma mesa grande repleta de recortes de papis. Cola. Tinta. Molduras de madeira.Porm, na maior parte do cmodo havia peas de madeira esculpidas no formato de um grande livro aberto.

    Ela nos disse que no podia ler, portanto seria difcil doutrinar algum. Explicou que, pelo fato de receber um salrio irrisrio, no tinha condies de contribuir com dinheiro para o trabalho de evangelizao. Aprendera essa arte em algum lugar e a estava utilizando para transmitir sua f a seus amigos. O plano era simples. De um dos lados do livro de madeira ela colava uma fotografia Polaroid do amigo ou amiga. Do outro lado, colocava um versculo da Bblia.

    Sua lgica? Todos adoravam ver suas prprias fotos. Quase todos os amigos daquela senhora eram pessoas humildes cujas casas tinham poucos enfeites. Ali estava uma maneira de pendurar um versculo bblico na parede da casa onde pudessem v-lo diariamente. Daria resultado? Nunca se sabe.

    Mas Deus sabe. Deus utiliza pequenas sementes para realizar grandes colheitas. no lombo de jumentinhos que ele monta no em cavalos garbosos ou carruagens simples jumentinhos.

    Se eu tivesse feito perguntas senhora havaiana, ela teria respondido: Ele sempre precisa de ns. Somos a sua boca. Somos as suas mos." Posso ver a felicidade estampada em seu rosto, sentindo-se honrada porque seus singelos presentes foram escolhidos por um rei.

    No foi necessrio lhe perguntar: " difcil? difcil oferecer algo a Deus?" A resposta estava em seu sorriso.

    E aquela ltima pergunta? No, tambm no precisei faz-la. "A senhora acha que daqui a dois mil anos..." Ela no tem meios de saber. O dono do jumentinho no tinha. Sanso no tinha. Moiss e Raabe no tinham. O vendedor de calados no tinha, e ns tambm no temos. Nenhum plantador de sementes pequenas tem meios de saber qual ser o resultado de sua colheita.

    Mas no se surpreenda se no cu, perto da funda de Davi, da vara de Moiss e da corda do jumentinho, voc encontrar um livro de madeira com uma fotografia e um versculo.

  • SEGUNDA-FEIRA

  • CAPTULO 8

    Mercenrios e Hipcritas

    A minha casa ser chamada casa de orao; vs, porm,a transformais em covil de salteadores.

    Mateus 2 1.13

    Speedy Morris o treinador de basquete da Universidade LaSalle. Ele estava se barbeando quando sua mulher lhe disse que algum da revista Sports Illustrated o estava chamando pelo telefone. Entusiasmado com a perspectiva de se tornar conhecido em todo o pas, Morris apressou-se e cortou o rosto com a lmina. No querendo deixar a pessoa na linha por muito tempo, saiu correndo do banheiro, perdeu o equilbrio e rolou escada abaixo. Mancando, com o rosto ensaboado e sangrando, ele finalmente alcanou o telefone.

    Sports Illustrated? , perguntou ofegante.Imagine a decepo de Morris ao ouvir uma voz grossa do outro lado da linha responder:Sim, por menos de um dlar por edio o senhor poder fazer a assinatura anual da

    revista...1E duro sofrer um desapontamento. decepcionante imaginar que algum est interessado

    em ns e depois constatar que tal pessoa s est interessada em nosso dinheiro. Quando os vendedores fazem isso, irritante mas quando pessoas religiosas fazem isso, pode ser desolador.

    triste mas verdade: utilizar a religio para obter lucro e prestgio. Quando isso acontece, h duas conseqncias: o povo explorado e Deus se zanga.

    O melhor exemplo disso foi o que aconteceu no templo. "E, quando [Jesus] entrou em Jerusalm, no templo, tendo observado tudo, como fosse j tarde, saiu para Betnia com os doze."2

    Entendeu? O templo foi o primeiro lugar ao qual Jesus se dirigiu quando chegou em Jerusalm. Ele acabara de percorrer as ruas da cidade, tendo recebido as honras de um rei. Era domingo, o primeiro dia da semana da Pscoa dos judeus. Centenas de milhares de pessoas aglomeraram-se nas estreitas ruas de pedra. Uma multido de peregrinos lotou o centro comercial da cidade. Jesus abriu caminho por entre um mar de pessoas enquanto a noite se aproximava. Entrou no tem