medidas-padrão medievais portuguesas por mário barroca

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  • 5/17/2018 Medidas-Padro Medievais Portuguesas por Mrio Barroca

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    MEDIDAS-PADRAo MEDIEV AIS PORTUGUESAS

    Por Mario Jorge Barreca"

    o estudo das Medidas-Padrao que se encontram gravadas emdiversos monumentos medievais portugueses nao tern encontrado grandeeco entre os investigadores nacionais. 0 tema, que desdeMalgum temponos tern chamado a atencao, mereceu ate hoje apenas breves referencias,na sua maior parte isoladas e dispersas por uma bibliografia muitovariada, dificultando deste modo uma visao de conjunto. Se e certo queestes testemunhos arqueologicos dizem sobretudo respeito a medidaslineares, destinadas ao comercio de tecidos, abrangendo deste modo umapequena parte do complexo sistema medieval de pesos e medidas, elesnao deixam de ser interessantes documentos com evidentes implicacoeseconomicas, que permitem urn mais correcto conhecimento do panoramanacional nestes domfnios. Por isso, e porque 0desconhecimento generalizadodo seu verdadeiro significado pode conduzir a uma destruicao irremediavel,urge que sejam inventariados e valorizados. E para primeira destas tarefasque nos propomos apresentar aqui urn primeiro contributo.

    * Assistente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto: Bolseiro do. I.N.I.C.

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    1 - 0 Sistema Medieval de Medidas Lineares e as Medidas-PadraoE sabido que a Idade Media se socorreu de uma grande variedadede pesos e medidas', num quadro complexo e tao diversificado que, apartida, seriamos tentados a pensar que nele a unidade nacional teria tido

    pouco lugar. No entanto, pelo menos no que respeita as medidas linearesdestinadas a mensuracao de tecidos.:o quadro que nos revela 0 levantamentodas medidas-padrao sobreviventes parece apresentar, desde cedo, umarelativa uniformidade nacional'.o sistema de medidas utilizado no Portugal medieval para medir ecomerciar tecidos baseava-se no Palmo, com 22 cm de comprimento, quese assumia como unidade-base, enos seus dois principais rmiltiplos: 0Covado, por vezes tambern designado na nos sa documentacao maisantiga como Alna', correspondente a tres Palmos (com 66 em), e a Vara,correspondente a cinco Palmos (com 110 em)", Destas duas medidas

    I Sobre 0 tema cf., entre outros, H. Gama Barros, Historia da AdministracaoPublica em Portugal, vol. X, Lisboa, 2." ed., 1954, p. 15-115; A. de Sousa Silva CostaLobo, Historia da Sociedade em Portugal no Seculo XV, Lisboa, 1903, p. 255-258;A. H. Oliveira Marques, s. v. Pesos e Medidas, Dicionario de Historia de Portugal,vol. V, Porto, p. 67-72, A. H. Oliveira Marques, Portugal na Crise dos Seculos XIV eXV, Nova Hist6ria de Portugal, vol. IV, Lisboa, 1987, p. 139-140.

    2 Ja Costa Lobo registara que em todas as tentativas de normalizacao dossistemas de medidas encetadas pelos monarcas portugueses ao longo dos seculos XIVe XV, desde D. Pedro I, nao se referiam medidas de extensao, num silencio que 0autorinterpretou como sintoma de que estas ja seriam relativamente unifonnes em todo 0reino: D'estes factos conclufmos que a vara, medida geral, e 0covado, empregado emartefactos mais preciosos, eram, pelo menos no seculo XV, da mesma craveira em todoo reino. (A. de Sousa Silva Costa Lobo, Historia da Sociedade em Portugal no SeculoXV, 2." ed., Lisboa 1984, p. 256).

    3 Cf. Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo, Elucidario das Palavras. Termos eFrases ..., vol. I, Ed. Crftica de Mario Fiuza, Porto, 1965, p. 425-427; Henrique da GamaBarros, Historia da Administracdo Publica em Portugal nos seculos XII a XV, vol. X,Ed. de Torquato de Sousa Soares, Lisboa, sid, p. 25-27.

    4 As Varas nao eram apenas utilizadas para 0 cornercio de tecidos mas tam bernpara 0 de fitas e linhas. No Livro das Posturas Antigas de Lisboa encontra-se umapostura municipal datada de 28 de Setembro de 1422 que regulamenta 0 comercio delinhas e fitas .,. asy de seda como outras quaaesquer que vendam as dictas linhas mayspequenas que de vara de claveira de cinqua palmos e asfitas men os que de dez palmosa vara del/as nem as meca per outra medida senom per a vara (cf. Livro das PosturasAntigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues, Lisboa, C.M.L., 1974, pp. 81-82).A vara de claveirade cinco palmos corresponde itVara (110 em), enquanto de a varade c1aveira de dez palmos corresponde a 220 cm.

    Embora Varas, Covados e Palm os fossem utilizados na esmagadora maioria dasreferencias documentais conhecidas para 0 comercio de tecidos, eles podiam tam bern

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    MED ID AS-P AD RAO MED IE VAIS PO RTUGU ESA S 55

    existiam dois subrmiltiplos: 0Meio Covado, com 33 em, e a Meia Vara,com 55 em. 0sistema medieval apresentava ainda uma quarta medida,usada sobretudo no comercio de fitas e linhas, a Braca, que teria urn valorde eerea de 184 em. Esta era a unica medida, de todas as que abordaremosao longo do nosso estudo, que se desviava do sistema que tinha poruriidade-base 0Palmo. Nos dois exemplos que eonheeemos de medidas--padrao eorrespondentes a Meias-Bracas (Se do Porto, n.? 3, e Igreja daMadalena, em Monforte, n.? 19) eneontramos valores da ordem dos 92em, 0que nos permite eoloear a Braca nos 184 em.Assim, poderiamos sistematizar as prineipais medidas utilizadas nanos sa Idade Media para 0comercio de teeidos no seguinte quadro:

    Braca 184 em -Vara 110 em 5 PalmosMeia Braca 92 em -Covado ou Alna 66 em 3 PalmosMeia Vara 55 em 2,5 PalmosMeio Covado 33 em 1,5 PalmosPalmo 22 em Unidade-Base

    Desta breve lista, apenas para a prime ira medida - a Braca - naodispomos de qualquer exemplo de medida-padrao. Para os restanteseasos (Palmo, Meio Covado, Meia Vara, Covado, Meia Braca e Vara) osvalores eneontrados nas medidas-padrao sobreviventes apresentam umaassinalavel uniformidade de valores. Como teremos oportunidade deverifiear atraves do seu inventario, a uniformidade destas medidas pareee

    ser utilizados para determinar a extensao de terrenos. Sobre este aspeeto veja-seHenrique da Gama Barros, Hist6ria da Administracdo Publica em Portugal nos seculosXU a XV, vol. X, Ed. de Torquato de Sousa Soares, Lisboa, sid, p. 36-37.Na maiorparte dos estudos hist6rieos eneontramos a equivalencia do Covado aos70 em e do Palm o aos 20 em . 0inventario de medidas-padrao que eneetamos pareee

    reeomendar-ihes aatribuicao dos 66 e 22 em, respeetivamente.

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    ter-se estendido a todo 0 territorio nacional desde relativamente cedo,talvez ja a partir dos meados do seculo xm . Por outro lado, se atendermosa que 0 Covado e a Vara sao rmiltiplos perfeitos do Palmo, e se pon-derarmos os valores encontrados para estas medidas, somos levados apensar que ja antes do reinado de D. Joao I 0Palmo seria uma medidauniforme'.

    Esta regularidade da unidade-base do sistema de mensuracao, queao estender-se de Norte a SuI do pais aparentemente facilitaria 0combatea fraudes, nao obstou, no entanto, a que durante toda a nossa Idade Mediase registassem insistentes apelos das populacoes contra abusos e falsi-ficacoes, Estes podiam assumir dois tipos de contomos: utilizacao demedidas falseadas, mais curtas do que 0devido, ou a venda de tecidoscom recurso a medidas incorrectas. Se 0procedimento na primeira moda-lidade e obvio, ja a segunda forma de se retirarem lucros ilegais emprejuizo do comprador so se tomava possivel gracas ao sistema medievalde comercializar tecidos, onde os tecidos finos eram vendidos em Cova-dos e os tecidos correntes eram comercializados em Varas", Acontecia,no entanto, que alguns mercadores procuravam vender tecidos vulgarescomo se fossem tecidos finos, prejudicando, deste modo, 0comprador.No Livro das Leis e Posturas Antigas da Camara de Lisboa encontramosurn eco desse procedimento numa queixa ai exarada, datada de 28 deFevereiro de 1499, onde se regista que mercadores menos honestoscompravam

    5 Costa Lobo, Historia da Sociedade em Portugal no Seculo XV, Lisboa, 1903,p. 256-257, e A. H. Oliveira Marques, s. v. Pesos e Medidas, Dicionario de Historiade Portugal, vol. V, Porto, p. 68, entendem que 0 Palmo seria medida uniforme ja notempo de D. Joao I. Os dados revelados pelas medidas-padrao aqui inventariadasapontam para uma uniformidade em epoca bastante anterior.

    6 Na Lei de Almotacaria de D. Afonso III, promulgada em 1253, os Covados saoa iinica medida referida em relacao aos tecidos de luxo, importados das mais diversasproveniencias (da Inglaterra, da Flandres, da Normandia, de Castela, muitas vezesespecificando as cidades de origem), enquanto que as Varas sao mencionadas apenasem relacao ao burel: ... et vara de burello valeat duos solidos ... " (cf. Joao PedroRibeiro, Dissertacoes Chronologicas e Criticas ... , vol. III, Parte 2 , 2 .a Ed., Lisboa,1857, pp. 64-65, tb. publicada in P.M. H., Leges et Consuetudines, p. 192-196). Na Leide Almotacaria as Bracas surgem-nos como a medida utilizada para cordas e fitasnacionais.

    A referencia sistematica aos covados na Pragmatica de 1340 e tam bern urn bornexemplo de como essa medida se destinava sobretudo ao cornercio de tecidos fin os, deluxo (cf. Cortes Portuguesas. Reinadode D.Afonso IV (1325-1357), Centro de EstudosHist6ricos da F.C.S.H. da V.N.L., Lisboa, INIC, 1982, p. 103 e ss.).

    A mesma dualidade de medidas mantinha-se na Ementa de 1439-1448 (cf. AnaMaria Pereira Ferreira, A lmportaciio eo Comercio Textil em Portugal no seculo XV(1385 a 1481), Lisboa, 1983, p. 35, nota 20, e p. 120).

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    ... panos chapristooes e outros taaes os quaees devemser vemdidos per varas E depois de os terem conprados osfazemtingir E os vendem por covodos no que ho povoo recebe mujtoagravo ...7.

    o problema nao deveria ser, no entanto, apenas uma realidadedesses finais da centuria de Quatrocentos, sendo previsfvel que remontassea epocas bastante mais recuadas. De igual modo, os prejufzos que dafdecorriam nao afectavam apenas os particulares. Tambem a Coroa eraduramente atingida por este tipo de fraudes.ja que 0sistema de impostosdevidos pelo comercio de tecidos nao variava de acordo com 0 tipo detecido mas sim em funcao da dimensao da medida utilizada. As Inquiricoesda Guarda de 1395 registavam que por panno de cor 0forasteiro paga-ria 3 dinheiros por Covado (ate urn total de 15 Covados), e que por cadaVara de burel pagaria igualmente 3 dinheiros". Deste modo, a distincaopara efeitos de impostos tambem nao se fazia em funcao do tipo de tecido.o comprador pagaria sempre tres dinheiros por cada unidade de tecidocomprada, fosse qual fosse a sua qualidade. Apenas a extensao dessa uni-dade variava de acordo com a qualidade do tecido em causa. Na pratica,e reduzindo os calculos ao sistema metrico, 0comprador de tecido fino,de cor, pagaria cerca de 4,5 dinheiros de imposto por cada metro detecido, enquanto que quem comprasse burel pagaria apenas 2,7 dinheirosde imposto por cada metro.Mas havia outras formas, mais subtis, de se retirarem lucros ilicitosdo comercio de tecidos. Nas Cortes de Lisboa reunidas em 1352,0 Art.6. dos Capitulos Gerais alude aos prejuizos que 0povo sofria por algunsmercadores menos escrupulosos comprarem tecidos em zonas onde asmedidas eram grandes e os venderem em areas onde elas eram menores".Este testemunho pode indicar que nem em todas as zonas do territorionacional se usavam as Varas de 110 ern e os Covados de 66 em, mastam bern pode ser interpretado como urn sintoma de que os tecidos eramcomprados em outras areas fora do Reina. Na Igreja de St." Maria deMonterrei (Orense), a Vara que se encontra gravada nos seus murosapresenta 124 ern de comprimento, no que excede em 14 cm os exemplos

    7 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, pp. 228-229: Ssobre os panos chapristooes,

    8 Henrique da Gama Barros, Historia da Administraciio Publica em Portugalnos seculos XII a XV, vol. X, ed. de Torquato de Sousa Soares, Lisboa, sid, p. 31, ondese referem outros exemplos, nomeadamente de Alfaiates e de Marialva.

    9 Corte s P ortu gu esa s. R ein ad od e D .A fo nso IV (1 32 5-1 35 7), Centro de EstudosHistoricos da F.C.S.H. da V.N.L., Lisboa, INIC, 1982, p. 127.

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    de padroes dessa medida conhecidos em Portugal 10. Sobre essa reclamacaode 13520 Monarca haveria de ordenar ... que em todo nosso Senhorio nom aia outra medjda de

    pano de coor ssenom a Alna per huora medem os mercadoresde lixboa ...II.

    o mesmo artigo das Cortes de 1352 refere .pnda que... 0 poboo recebija grande agravo em rrazom dasmedijdas que fazem os mercadores dos panos de Coor porque

    medem os panos pelos aurelos e nom pelo festo. E acontece quequando 0medem os que 0 compram pelo Jfesto acham menos 0quinto dos [covedos] ou Alnas que elles compram pellosaureelos ...

    pelo que 0 Monarca mandou que se medissem os panos sempre pelofesto".o facto de a Vara e 0 Covado serem as medidas mais utilizadas nocomercio de tecidos explica 0 seu claro predominio no conjunto dasmedidas-padrao que tivemos oportunidade de inventariar. Efectivamente,a frequencia com que ocorrem as varias medidas-padrao revela umaexpressiva maioria para os exemplos de Covados e de Varas. Em 29medidas cujos valores sao conhecidos, repartidas por 1910cais distintos,a distribuicao percentual das diferentes medidas e a seguinte:

    10 Cf. Hist6ria de Galiza, dir. por Ramon Otero Pedrayo, vol. 2, Akal Editor,Madrid 1979, p. 651.

    II Cortes Portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (/325-1357), Centro deEstudos Hist6ricos da F.C.S.H. da V.N.L., Lisboa, INIC, 1982, p. 127.

    12 Cortes Portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (1325-1357), Centro deEstudos Hist6ricos da F.C.S.H. da V.N.L., Lisboa, INIC, 1982, p. 127.

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    Vara 10 casos 34,48%Covado 9 casos 31,03%Meia Vara 5 casos 17,24%Meia Braca 2 casos 6,90%

    Palmo 2 casos 6,90%Meio Covado 1 caso 3,45%

    o predommio das Varas e Covados (com urn total de 19 casos ou65,51 %) nao pode deixar de ser urn reflexo da sua funcao e a propriaassociacao destas duas medidas em quatro monumentos (Lavandeira,n." 6; S. Martinho de Mouros, n." 8; Marialva, n." 10; e Sortelha, n.? 14),revela-se elucidativa da complementaridade destas duas medidas.Outra forma de se retirarem lucros ilicitos consistia, como vimos,na utilizacao de medidas falseadas, com comprimento insuficiente. Estesistema de falsificacao esteve precisamente na origem dos exemplos demedidas-padrao que sao inventariadas neste trabalho, e que se destina-yam a conferir a legitimidade das medidas utilizadas pelos mercadores.A obrigatoriedade de as suas medidas serem regularmente conferidas porconfronto com 0 padrao encontra-se registada no Livro das PosturasAntigas de Lisboa, em disposicao que ordenava 0aferimento das medidastodos os meses (no caso de 0mercador ser morador em Lisboa) ou todosos tres meses (no caso de ele ser de fora da cidade mas do seu termo),estipulando igualmente as multas para os infractores:

    ... acordarom e pose ram por postura que qual/quer quenam afinar as medidas e varas e pessas os moradores da cidadecada mes e os do termo de tres em tres meses meses Outrosy selhe forem achadas medidas ou pessas medidas [sic] namverdadeiras que paguem por cada huua vez cinquoenta livraspera 0comcelho afora as penas que the per direito devem a darpor medirem por medidas falsas!".

    13 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, pp. 78-79: das medydas e varas e pesas. Refere A. H. de

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    No mesmo Livro das Posturas antigas encontramos referencia aoAfinador das Medidas e as quantias que podia cobrar pela suaactividade:... que 0afinador leve das medidas grandes e pequenas

    quatro dinheiros de cada huua e de todallas outras medidas evaras e alqueires e meyos alqueres e quartas e oytavas levequatro dinheiros por cada huua esse 0 afinador mays levar.paguepor cada vez cem livras e jaca quinze dias na cadea!",

    Esta disposicao, muito embora diga sobretudo respeito a medidasde capacidade, cujos padroes estariam a guarda do Afinador, inc1ui asVaras entre as medidas citadas, 0 que pode indicar que nem todas asmedidas-padrao lineares seriam gravadas em locais piiblicos, e que pelomenos nas grandes cidades aferir as medidas custava dinheiro ao comer-ciante. Uma outra postura municipal de Lisboa, exarada no mesmo livro,contemplava a obrigatoriedade de os mercadores de fora de Lisboa,nomeadamente os do Porto e de Guimaraes, terem de aferir as suas varasantes de comerciarem os seus panos:Outrosy acordarom e poseram por postura que todollos

    mercadores do rregno asy do porto como de gimariiaes E dosoutros lugarees que vyerem com panos de linho e sayaaes queante que 06 vendam facam afinar as varas per que medirem osdictos panos e nom ho fazendo asy que ajam a pena comtheudana hordenacom daquelles que nam afinam cada mes!".

    Esta medida surge na sequencia de outras exaradas no mesmo Livroonde se sublinhava a obrigatoriedade de se usarem os pesos e medidas daterra, vedando a utilizacao em Lisboa das medidas de outras localidades".Por outro lado, Costa Lobo refere uma queixa apresentada nas

    Oliveira Marques que Em Evora, nos fins do seculo XIV, decretou-se 0 aferimentomensal das medidas de cereais, sal, vinho, azeite e mel, das varas de tecidos e dos pesosde metais, came, sabao, etc. (cf. A Sociedade Medieval Portuguesa, 3.' ed., Lisboa,1974, p. 148).

    14 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, p. 73: Do afinador das medidas.15 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, p. 80: dos mercadores do rregno.

    16 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, p. 3 (

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    Cortes de 1472-73 onde se registava que em aldeias do Norte de Portugale das Beiras havia casos de utilizacao de Varas e Covados falseados,sobretudo por mercadores ambulantes, peloque as populacoes pediam asuspensao da actividade desses vendedores ambulantes, 0que 0monarcanao aceitou dados os evidentes prejufzos daf decorrentes para a economiado reino!'. Conclufa Costa Lobo que

    A fabricacao e ajustamento d'estas [medidas] nao requerespecial destreza; e 0 afilamento e prompto, basta umasimples apposicao, As fraudes previnem-se, sem necessidadede recorrer aos padroes do concelho, pelo assignalamento,em qualquer parede de urn ediffciopublico, da extensao damedida; como parece se praticava em algumas povoacoesde Portugal18.

    Sublinhava 0mesmo autor 0facto de nao serem conhecidas refe-rencias a quebra de medidas lineares por serem falsas, a semelhanca doque acontecia com as medidas de capacidade, 0que poderia indicar quea facilidade de aferimento corresponderia uma menor apetencia pelasfalsificacoes. No entanto, a situacao nao devia ser tao clara quanto seriade desejar. As Ordenacoes Afonsinas registam a obrigatoriedade de asmedidas, tal como os pesos, terem marc as a ate star a sua legitimidade,bern como as multas devidas a quem fosse encontrado na posse demedidas sem as respectivas marcas, ...porque acerqua dos pesos emedidas som achados muitos erros em desvairadas maneiras ... 19.Acrescentavam as referidas Ordenacoes que

    ... na parte dos covodos, e varas, em que for achado errode dous dedos, pague aquelle, em cujo poder for achado talerro, duzentos reis, e por erro d' huu dedo cem reis, e por errode mea dedo cincoenta reisv",

    a Ordenacom que nam vendam pano emteyro, onde se proibia a venda ou compra denenhuus panos enteiros assy largos como estreitos a emgros sem se midirem pollasmjdidas acustumadas da cidade asy a couados como a varas segumdo sefez amtijgamente... (pp. 17-18).

    17 Costa Lobo, Historia da Sociedade em Portugal no Seculo XV, 2.aed., Lisboa1984, p. 257.18 Costa Lobo, Historia da Sociedade em Portugal no Seculo Xv', 2.aed., Lisboa1984, p. 257-258.19 Ordenacoes Afonsinas, Livro I, Titulo V, 34-36, 2.a ed., Lisboa, F.C.G.,1984, pp. 54-55.20 Ordenacoes Afonsinas, Livro I, Titulo V, 38, 2.aed., Lisboa, F.C.G., 1984,

    p.56.

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    A analise das diversas medidas-padrao que conseguimos inventariarsugere-nos que 0 aferimento das medidas utilizadas pelos mercadoresdevia ser feito pelo confronto da 'medida do comerciante com 0 padraogravado na parede do monumento, devendo aquele encaixar dentro deste.Efectivamente, se exceptuarmos 0 caso das medidas-padrao da Se doPorto, muito delidas pela erosao, e0Covado de Resende, de manufacturarude, todos os restantes exemplos apresentam uma configuracao caracte-ristica, com 0campo rectilineo cuidadosamente rebaixado, com paredesverticais e espaco geometricamente defenido, tudo sugerindo que amedida do mercador deveria encaixar no seu leito. Desta forma, a ana-lise das medidas-padrao sobreviventes permite-nos saber que as medidasutilizadas pelos comerciantes de tecidos deveriam possuir ja nos temposmedievais uma seccao quadrada, tal como ainda hoje apresentam osmetros destinados ao comercio de tecidos, facto confirmado por diversasiluminuras e frescos medievais", A uniformidade dos diferentes padroes,quer na configuracao do seu leito, quer na preocupacao de assinalar deforma clara e inequfvoca os seus limites legais sugere, ainda, que eles naodeveriam ser gravados por qualquer cidadao mas sim por pessoa espe-cializada e habilitada para tal. S6 assim se podiagarantir a legitimidadee uniformidade destes registos, levando a que eles fossem reconhecidose aceites por ambas as partes, compradores e vendedores.A pr6pria localizacao das medidas-padrao revela-se elucidativadessa preocupacao em se sublinhar a sua legitimidade. Todas as medidas--padrao que chegaram ate aos nossos dias in situ foram gravadas em trestipos de locais:

    - nas paredes de igrejas (Colegiada de Guimaraes, n.? 2;Se do Porto, n." 3; Igreja de Teloes, n.? 4; Igreja de S. Joao,Lavandeira, n." 6; Igreja Paroquial de Resende, n." 7; IgrejaParoquial de S. Martinho de Mouros, n.? 8; Igreja de S."Marinha, Moreira de Rei, n." 13; Igreja da Miseric6rdia,Sabugal, n.? 15; Igreja de S. Miguel, Monsanto, n." 16;Igreja de S." Maria de Finisterra, Soure, n.? 17; Igreja daMadalena, Monforte, n.? 19)

    21 Veja-se, por exemplo, a iluminura doMaestro del Lancelot, manuscrito da. Biblioteca Nacional de Paris (Nouv. Acq. Lat. 1673), retratando 0 interior de umaoficina de alfaiate, reproduzida por Emma Pirani, La Miniatura Gotica, Milao, FratelliFabbri Editori, 1966, p. 92, ou 0 fresco representando igualmente uma oficina dealfaiate reproduzido na Historia de Portugal, dir. de Jose Hermano Saraiva, vol. 3,Lisboa, Alfa, 1983, p. 152. Em ambos os casos encontramos representadas medidaslineares de seccao quadrangular.

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    -nas portas de amuralhamentos urbanos (Vila Real, n.? 5;Marialva, n." 10; Sortelha, n." 14; Redondo, n." 21; Monsaraz,n." 22)- em castelos (Torre de Menagem de Braga, n." 1;Penedono, n." 9; Alandroal, n.? 20; Castro Marim, n.? 23).

    Em todas as situacoes estamos perante locais de prestigio, quersejam de iniciativa eclesiastica quer real. A pr6pria natureza do edificioonde 0padrao era gravado ajudava, deste modo, a sublinhar a sua legi-timidade.Mas a localizacao dos padroes nao pode deixar de ser colocada emparalelo com os locais onde se realizavam as feiras e mercados. A pre-senca de medidas-padrao pode ser urn contributo para a definicao dosespacos onde essas reunifies peri6dicas de mercadores tinham lugar. Nocaso do Porto a relacao entre os dois elementos - medidas-padrao e localde mercado - parece ser bern evidente. Urn documento nao datado deD. Sancho I encerra declarando:

    ... Et mando quod episcopus facial fieri mercatum anteSanctam Mariam ...22.

    A cidade do Porto tinha, portanto, nos fins do seculo XII, urn mer-cado que se reunia no espaco fronteiro a Se, certamente nao muito longedo local onde se gravaram as medidas-padrao portuenses. E, muitoembora 0exemplo do Porto seja aquele que e mais significativo, variessao os locais onde encontramos medidas-padrao gravadas que tinhammercados ou feiras nos tempos medievais. Compulsando 0 estudo jaclassico de Virginia Rau encontramos referencias a feiras em Braga, Gui-maraes, Vila Real, Ansiaes, Marialva, Castelo Rodrigo, Pinhel e Sabugal",todas localidades para as quais conhecemos medidas-padrao, A mesmaautora entendia que as feiras portuguesas localizar-se-iam quase sempredentro dos espacos amuralhados, pelo menos ate aos fins do seculo XIV,e que desde entao apresentariam tendencia para se realizarem nos arra-

    22 Rui de Azevedo, Avelino de Jesus da Costa e Marcelino Rodrigues Pereira,Documentos de D. Sancho 1 (1174-1211), vol. 1, Coimbra 1979, doc. 209, p. 316. Cf.tb. Virginia Rau, Feiras Medievais Portuguesas. Subsidios para 0seu Estudo, 2. a Ed.,Lisboa 1982, p. 94.

    23 Cf. Virginia Rau, Feiras Medievais Portuguesas. Subsidios para 0 seuEstudo, 2 .. Ed., Lisboa 1982, respectivamente pp. 127,73-76,81-83,93,112-113,130--131,128-129 e 125-126.

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    baldes", Se a associacao entre 0 local onde se gravaram as medidas--padrao e a reuniao de feiras ou mercados e legitima, a perspectiva que,neste aspecto, as medidas-padrao nos transmitem parece apontar para arealizacao de feiras e mercados nos espacos fronteiros a s igrejas, aproveitandoa praca ou 0alargamento da rua em tomo desses centros de culto ondeconvergiam regularmente as populacoes, ou as zonas extramuros juntodas principais portas das vilas ou castelos, em tomo dos acessos maistrilhados.Resta-nos abordar urn dos mais delicados problemas das medidas--padrao: a sua cronologia. Apenas para urn caso - Sabugal, n." 15 - pos-sufrnos elementos cronol6gicos seguros, facultados pela sua epigrafe doanode 1250. Quase todos os restantes exemplos encontram-se gravadosem monurnentos medievais, quer templos romanicos, quer amuralhamentosurbanos, quer castelos, mas a datacao destas construcoes apenas nosgarantem urn terminus a quo para os padroes. Mesmo considerando estaslimitacoes, vale a pena analisar, de forma breve, os principais elementoscronol6gicos facultados pelas construcoes, Comecaremos pelos edificiosreligiosos.o Claustro da Colegiada de Guimaraes (n.? 2) tern sido atribufdo asegunda metade do seculo XIII, tendo a sua construcao sido decidida em125525 No caso da Se do Porto (n." 3), se a rosaceada sua fachada reflecteo acabamento tardio da Se, a zona inferior da fachada, com 0arranque doscontrafortes, ja devia estar conclufda antes. As afinidades do Portal Oci-dental da Se do Porto com 0Romantico de Coimbra sugerem uma cro-nologia nos finais do seculo XII ou inicios do seculo XIIF6. A segundametade do seculo XIII tern sido atribuida a fabrica medieval de Teloes(n," 4)27, enquantoque a igreja de S. Salvador, naLavandeira (n." 6),juntodos muros do castelo de Ansiaes, tern sido enquadrada nos finais doseculo X II ou nos meados do seculo XIII28.A igreja paroquial de Resende

    24 Virginia Rau, Feiras Medievais Portuguesas. Subsidios para 0seu Estudo,2."Ed., Lisboa 1982, p. 48.25 Cf. Gerhard N. Graf, Portugal Roman, vol. II, Zodiaque, Yonne, 1986,p. 158.Veja-se,igualmente,CarlosAlbertoFerreirade Almeida,Arquitectura Rom/mica

    de Entre-Douro-e-Minho, vol. 2, Porto, 1978,p. 228; Manuel Monteiro, 0RomanicoPortugues. Sobrevivencias vimaranenses, Dispersos, Braga, 1980, p. 346 e ss..26 Veja-se 0 ensaio da sua reconstituicao em Manuel Luis Real, Ineditos deArqueologia Medieval Portuense, Arqueologia, n." 10, Porto, 1984, p. 32-37.27 Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Arquitectura Romdnica de Entre-

    -Douro-e-Minho, vol. 2, Porto, 1978, p. 273.28 Respectivamente Gerhard N. Graf, Portugal Roman, vol. II, Zodiaque,Yonne, 1986, p. 297; Carlos Alberto Ferreira de Almeida, 0 Romanico, vol. 3 da

    Historia da Arte em Portugal, Lisboa, Alfa, 1988, p. 105.

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    (n.?7),muito alterada porreformas posteriores, conserva varies testemu-nhos do templo anterior, sensivelmente coevo da construcao de S. Mar-tinho de Mouros. Entre os silhares encontram-se varies com inscricoesnao datadas, que paleograficamente devem ser atribufdas ao seculo XIII.A Igreja de S. Martinho de Mouros (n." 8) deve ser obra da primeirametade do seculo XIII, devendo estar relacionada com a sua construcaouma inscricao gravada na capela-mor datada de 1217, que possivel-mente datara 0fim das obras nesta parte da igreja, ja que a conclusao dafachada ocorreu em epoca posterior, nos meados da centuria". Ostemplos de St." Marinha, em Moreira de Rei (n.? 13), e de S. Miguel, emMonsanto (n." 16), sao igualmente obras do seculo XIII, 0de St."Marinhada primeira metade da centuria", 0de S.Miguel mais tardio, possivelmenteda segunda metade ou finais da centuria.No que respeita aos castelos onde encontramos medidas-padraogravadas, 0 de Penedono (n.? 9) apresenta uma reforma que tern sidoatribuida aos tempos de D. Dinis, nao podendo ser dissociada do valorestrategico que esta fortaleza apresentava antes da assinatura do Tra-tado de Alcanices, em 1297. Tambem 0castelo de Alandroal (n.?20) podeser atribuido com seguranca ao reinado de D. Dinis. Tera comecado aser erguido em 6 de Fevereiro de 1294, por iniciativa do mestre de AvisD. Lourenco Afonso, conforme nos garante uma inscricao coeva. E pro-vavel que tivesse sido conclufdo em quatro anos, ja que na sua Torre deMenagem se conserva uma outra inscricao comemorativa da construcaodo castelo, datada de 24 de Fevereiro de 1298. Eo mesmo se diga deCastro Marim (n." 23), onde a porta junto da qual se gravou a respectiva .medida-padrao foi mandada erguer por D. Dinis em 1de Julho de 1279,conforme documenta uma outra inscricao coeva.As cronologias dos amuralhamentos urbanos onde encontramosmedidas-padrao nao se afastam muito das perspectivas reveladas peloscastelos. Em Vila Real (n." 5), a construcao da vila reguenga, instituidapor D. Afonso III, s6 seria concretizada em 1289, por mao de D. Dinis.A este monarca se costumam atribuir as muralhas. Em Marialva (n.? 10)o sistema de muralhas, com as suas quatro portas, e igualmente atribuidaao Rei Lavrador, tendo a sua importancia estrategica diminuido com aassinatura do tratado de A1canices. Em Sortelha (n." 14), as muralhas davila velha sao comummente atribufdas a D. Sancho II (responsavel pelo

    29 Gerhard N. Graf, Portugal Roman, vol. I, Zodiaque, Yonne, 1986, p. 307;Carlos Alberto Ferreira de Almeida, 0 Romdnico, vol. 3 da Hist6ria da Arte emPortugal, Lisboa, Alfa, 1988, p. 108.30 Carlos Alberto Ferreira de Almeida, 0 Romiinico, vol. 3 daHist6ria daArteem Portugal, Lisboa, Alfa, 1988, p. l l l.

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    segundo e decisivo esforco de povoamento) ou a D. Dinis. No Alentejo,as muralhas de Monsaraz (n.? 22) tern sido atribufdas a D. Afonso III ouaD. Dinis", embora 0seu urbanismo criado sugira mais a intervencao deD. Dinis ", As muralhas de Redondo (n.? 21) cornecaram a ser erguidasem 1319, em pleno reinado de D. Dinis, conforme nos garante uma ins-cricao coeva.Todos estes exemplos, que nos facultam elementos para datacao dasrespectivas medidas-padrao, apresentam uma nota vel coerencia crono-logica, apontando para os meados ou finais do seculo XIII, no que afinalsao corroborados pel a unica medida-padrao com datacao absoluta, a doSabugal, de 1250. 0 exemplo de Braga (n." 1), por estar visivelmentereaproveitado na Torre de Menagem do castelo da cidade, erguida porD. Fernando em 1375, da-nos, pelo contrario, urn terminus ad quem,devendo a sua Vara ser anterior a esse ano.o problema avoluma-se em relacao aos elementos avulsos ou rea-proveitados (Pinhel, Soure, Monforte), para os quais apenas as analogiastipol6gicas permitem entrever uma cronologfa medievica afim da dosrestantes exemplos.

    2 - Contributo para 0 Inventarlo das Medidas-Padrao MedievaisPortuguesas:Nota: 0 Inventario das Medidas-Padrao encontra-se organizadogeograficamente, partindo do Norte de Portugal para 0SuI, sendo emtodos os exemplos indicada a Localidade onde se regista apresenca demedidas-padrao (ou onde se conhece notfcia de terem existido), 0 seuactual Paradeiro, a identificacao daMedida, 0seu Comprimento no sis-

    tema metrico actual e urn pequeno Comentdrio, Para os casos ondeconhecemos referencias bibliograficas, elas sao indicadas em derradeirolugar. Os exemplos que julgamos ineditos nao apresentam qualquerindicacao.

    31 TiilioEspanca, lnventario Artistica de Portugal, vol. IX, Lisboa 1978,p. 358e ss..

    32 Cf. Jorge Gaspar, A morfoiogia urbana de padrao geometrico na IdadeMedia, Finisterra, vol. IV, n.? 8, Lisboa, Centro de Estudos Geograficos, 1969,pp.209-211.

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    N .O 1

    Localidade: BRAGA (freg., cone. e dist. de Braga)Paradeiro: Torre de Menagem do Castelo de BragaMedida: Vara

    Comprimento: c. 110 emComentario: Medida-padrao gravada na horizontal, na 13.a fiada desilhares acima da sapata da Torre de Menagem doCastelo de Braga, na fachada oposta a entrada principaLOcupa dois silhares de granito. A elevada cota dificultaa sua medicao rigorosa. Deve estar deslocada do seulocal de origem, sendo 0resultado do reaproveitamentode silhares. Quando para ali foi deslocada perdeu,certamente, a sua funcao de medida-padrao.

    N .O 2Localidade: GUIMARAES (freg. e cone. de Guimaraes, dist. deBraga)Paradeiro: Colegiada de GuimaraesMedida: Meia VaraComprimento: 55 emComentario: Medida gravada verticalmente nos silhares da ombreira

    esquerda do portal de aces so ao claustro da Colegiadade Guimaraes, hoje voltado a Rua Alfredo Guimaraes,junto da medievica Rua dos Mercadores. Ocupa doissilhares.

    Localidade: PORTO (freg., cone, e dist. do Porto)

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    Paradeiro: Se do Porto

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    Medida: A) Meia BracaB) Meia VaraComprimento: A) 92 ernB) 55 emComentario: Medidas gravadas horizontal mente no primeiro con-traforte a direita do portal ocidental da Se do Porto,

    hoje algo delidas pela erosao e pelas reformas posteriores.Estiveram temporariamente encobertas pelas obrasbarrocas na fachada da Se. Manuel Real identifica amedida B como os tres palmos, deduzindo que 0palmono Porto teria 18,3 em. Pensamos tratar-se antes daMeia-Vara.Bibl.: Armando de Mattos, Medidas Padr6es, Douro Litoral,l ." serie, vol. VII, Porto, 1943, p. 32; Mario JorgeBarroca, As Escavacoes de Mendes Correia na Cividade

    (1932) e as Origens da cidade do Porto,Arqueologia,n," 10, Porto, 1984, nota 7; Manuel Luis Real, Ineditosde Arqueologia Medieval Portuense, Arqueologia,n." 10, Porto, 1984, p. 36-37.

    Localidade: TELOES (freg. de Teloes, cone. de Amarante, dist. doPorto)

    Paradeiro:Medida: DesconhecidaComprimento: DesconhecidoComentario: Medida referida por A. Mattos, que estaria gravada nagalile da igreja paroquial de Teloes, e que nao conse-guimos encontrar. Supomos ter sido destrufda. 0 autornao refere 0seu valor metrico.Bibl.: Armando de Mattos, Medidas Padroes, Douro Litoral,La serie, vol. VII, Porto, 1943, p. 32.

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    N .D 5Localidade: VILA REAL (freg., cone. e dist. de Vila Real)Paradeiro:Medida: DesconhecidaComprimento: DesconhecidoComentario: Medidas outrora gravadas no arco da porta principaldas muralhas de Vila Real, entretanto demolidas,referidas por Teixeira Girao e citadas por Costa Loboe por A. C. Pires de Lima, sem indicacoes dos seusvalores metricos ou das suas designacoes.Bibl.: Teixeira Girao, Memories sobre os pesos e medidas,p. 14, citado por A. de Sousa Silva Costa Lobo, His-toria da Sociedade em Portugal no Seculo XV, 1903,

    p. 258, nota 1 (ed. facsimilada, Lisboa, 1984), e tam-bern por Augusto Cesar Pires de Lima, Medidas Gra-vadas nos Muros, Douro Litoral, 2.a Serie, vol. III,Porto, 1945, p. 49.

    N . D 6

    Localidade: LAVANDEIRA (freg. da Lavandeira, conc. de Carrazedade Ansiaes, dist. de Braganca)Paradeiro:Medida: A) VaraB) CovadoComprimento: A) -B)-Comentario: Medidas outrora gravadas no exterior da Igreja deS. Joao do Castelo, no castelo da Lavandeira, em silharda capela-mor, e hoje destruidas. Na impossibilidadede serem medidas, as suas dimensoes podem ser

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    deduzidas a partir das respectivas designacoes: cercade 110 em para a primeira e 66 ern para a segunda.Bib!.: Grande Enciclopedia Portuguesa-Brasileira, s.v.

    Carrazeda de Ansiaes, vol. V, p. 1004.

    x- 7Localidade: RESENDE (freg. e cone. de Resende, dist. de Viseu)Paradeiro: Igreja Paroquial de ResendeMedida: VaraComprimento: 109 cmComentario: Na fachada principal da Igreja Matriz de Resende, a

    direita do portal, entre varies silhares reaproveitados,alguns com restos de inscricoes medievais, encontra--se gravada na horizontal uma medida-padrao corres-pondente a Vara. Trata-se do exemplar mais imper-feito que conseguimos identificar, com uma assinalavelsinuosidade. Sobre esta medida-padrao pode-se lerparte de uma inscricao de provavel conteiido funerario:.,. VO ERMIG(i)us

    A terminacao -US foi gravada na forma do caracterfs-tico sfmbolo de abreviatura estilizado em sinal angulososemelhante a urn 7. Num outro silhar junto desteencontra-se 0 infcio desta inscricao:GON(:AL ...

    A sua li

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    N.o8Localidade: S. MARTINHO DE MOUROS (freg. de S. Martinhode Mouros, cone. Resende, dist. de Viseu)Paradeiro: Igreja Paroquial de S. Martinho de MourosMedida: A) Vara

    B) CovadoComprimento: A) 107,5 emB) 66 cmComentario: Medidas gravadas horizontalmente na fachada ocidentalda igreja paroquial de S. Martinho de Mouros, na pri-meira fiada de silhares acima da sapata do templo e aesquerda do portal principal. Cada medida ocupa 0seusilhar. Associada a Vara, junto da sua zona terminaldireita, encontra-se uma curta inscricao, hoje de diffcil

    1eitura:1/ PADRAO (?)

    Mantemos, no entanto, algumas diividas quanta a estaproposta de leitura.Bibl.: Armando de Mattos, Medidas Padroes, Douro Litoral,I." serie, vol. VII, Porto, 1943, p. 32; Joaquim Caetano

    Pinto, Resende. Monografia do seu Concelho, Braga,1982, p. 358.

    N.09Localidade: PENEDONO (freg. e cone. de Penedono, dist. deViseu)

    Paradeiro: Afloramento junto da porta do castelo de PenedonoMedida: Meio Covado (?)Comprimento: 33 em

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    Comentario: Gravada no afloramento granftico junto do portal deacesso ao castelo de Penedono, imediatamente antesdos degraus e a direita, uma possivel medida-padraocorrespondente ao Meio-Covado.

    N .O 10Localidade: MARIAL VA (freg. de Marialva, cone. de Meda, dist.

    daGuarda)Paradeiro: Porta Ocidental das muralhas de MarialvaMedida: A) Vara

    B) CovadoC) Palmo

    Comprimento: A) 110 emB) 66 emC) 26 em (valor actual)

    Comentario: Medidas ja referidas por Alexandre Herculano nosseus apontamentos de viagem de 1853-1854, gravadasna ombreira esquerda da porta principal das muralhasde Marialva. Herculano refere ainda a presenca doAlquiez, hoje nao visfvel, A medida do Palmo foiadulterada posteriormente, tendo sido destruido 0seulimite inferior, razao porque actualmente mede 26 em,quando deveria medir cerca de 22 ern. Foram gravadasna vertical, na seccao interna da ombreira, abrigadassob 0 arco da porta, com 0Covado it esquerda, a Varaao centro e 0Palmo a direita.

    Bibl.: Pedro de Azevedo, Apontamentos de viagem deHerculano pelo Pais em 1853 e 1854, Arch ivo His toricoPortugues, vol. IX, Lisboa, 1911, p. 418.

    N .O 11Localidade: CASTELO RODRIGO (freg. Castelo Rodrigo, cone.de Figueira de Castelo Rodrigo, dist. da Guarda)

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    Paradeiro: Casa particularMedida: DesconhecidaComprimento: 32 cm (maximo sobrevivente)Comentario: Silhar reaproveitado no muro de casa particular junto

    da entrada do castelo de Castelo Rodrigo, onde restaparte de uma medida-padrao, actualmente com 32 emde comprimento. As suas caracteristicas nao deixamlugar a diividas, apresentando 0campo linear rebaixado,de seccao quadrangular, cuidadosamente delimitadona extremidade sobrevivente.

    N .D 12Localidade: PINHEL (freg. e cone. de Pinhel, dist. da Guarda)Paradeiro: Biblioteca Municipal de PinhelMedida: CovadoComprimento: 66 emComentario: Fuste de coluna avulso, hoje depositado junto da

    entrada da Biblioteca Municipal de Pinhel, onde foigravado 0covado, Desconhecemos a sua proveniencia,A medida foi gravada na vertical, ao longo do corpo docolunelo.

    N .D 13Localidade: MOREIRA DE REI (freg. de Moreira de Rei, cone. deTrancoso, dist. da Guarda)Paradeiro: Igreja de St. a Marinha, Moreira de ReiMedida: A) Covado

    B) Palmo

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    Comprimento: A) 66 ernB) 22-23 emComentario: Nos dois colunelos que hoje sobrevivem in situ noportal ocidental da Igreja de St. aMarinha, no centro deMoreira de Rei, encontram-se gravados 0covado e 0palmo. Alexandre Herculano, nos apontamentos dasua viagem de 1853-1854, registava a existencia de

    quatro medidas: Vara, Covado, Palmo e Alquiez. Soa-res Moreira, em 1931, referiu apenas a existencia doCovado, Meio Covado, e Quarta. E provavel que asmedidas ausentes estivessem gravadas nos dois colu-nelos perdidos, do lado esquerdo do portal. As medidassobreviventes foram gravadas verticalmente, arrancandodo limite inferior do fuste da coluna, junto do contactocom a base. No palmo (B), dado 0seu desgaste, torna--se diffcil determinar qual 0seu exacto valor original.

    Bibl.: Pedro de Azevedo, Apontamentos de viagem de Her-culano pelo Pais em 1853 e 1854,Archivo HistoricoPortugues, vol. IX, Lisboa, 1911, p. 419; David BrunoSoares Moreira, Moreira de Rei, Ilustracdo Moderna,vol. 3, 1931, p. 261; Gerhard N. Graf, Portugal Roman,vol. I, Zodiaque, Yonne, 1986, p. 96.

    N .O 14

    Localidade: SORTELHA (freg. de Sortelha, cone. de Sabugal, dist.daGuarda)Paradeiro: Porta das muralhas de SortelhaMedida: A) Vara

    B) CovadoComprimento: A) 109 em

    B) 67emComentario: No pano de muralha imediatamente a direita da portaOeste das muralhas de Sortelha, conhecida vulgarmentecomo Porta do Sol, na face voltada ao exterior, gravadas

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    horizontalmente, encontram-se a Vara e 0C6vado. Aspessoas mais idosas de Sortelha ainda se recordam deutilizar as medidas para conferir as dimensoes dostecidos, identificando as duas medidas pelas suascorrectas designacoes.

    Bibl.: Pedro de Azevedo, Apontamentos de viagem deHerculano pelo Pais em 1853 e 1854, Arc h iv e H i sto ric oPortugues, vol. IX, Lisboa, 1911, p. 423.

    N .O 15Localidade: SABUGAL (freg. e cone. de Sabugal, dist. da Guarda)Paradeiro: Igreja da MisericordiaMedida: CovadoComprimento: 66,3 emComentario: Na face exterior da parede Norte da nave da Igreja daMisericordia de Sabugal, urn silhar reaproveitado,hoje em posicao horizontal, onde se encontra gravadoo Covado associado a inscricao e a sfrnbolos religiosos(duas cruzes romanicas insertas em circulos, gravadasnas duas extremidades da pedra), sublinhando alegitimidade e veracidade da medida. 0 silhar apresenta

    vestigios de ter sido mutilado ao longo de toda a suaface inferior, onde, atendendo a simetria da pecapoderia ter tido outra medida gravada. A inscricaoreparte-se por dois campos: urn, superior e de menoresdimensoes, onde se gravou texto curto e de diffcilleitura; outra, de maiores dimensoes, ao centro dosilhar, onde se Ie :l/:E:M2/ C C

    w w w3/ 2 X Xw4 / x VIII

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    ou seja: Era MCCLXXXVIII, A.D. 1250:o silhar, que hoje mede 144,5 em de comprimento e 37em de altura, destinava-se, originalmente, a estar navertical, como elucida a sua inscricao,Bibl.: Jose Antonio Ferreira de Almeida (dir. de), Tesouros

    Artisticos de Portugal, Lisboa, 1976, p. 489.

    N .O 16Localidade: MONSANTO (freg. de Monsanto, cone. de Idanha-a-

    -Nova, dist. de Castelo Branco)Paradeiro: Igreja de S. Miguel, Castelo de MonsantoMedida: Covado

    Comprimento: 66,5 emComentario: No colunelo esquerdo do Portal ocidental da Igreja de

    S. Miguel, erguida no sope do Castelo de Monsanto, nazona extra-muros, encontra-se gravada na vertical umamedida correspondente ao Covado, 0 fuste do coluneloe constitufdo por tres tambores. A medida arranca doseu limite inferior e termina no infcio do terceirotambor.Bibl.: Maria Manuela de Campos Milheiro, Monsanto. Historic

    e Arqueologia, s/l, 1982, p. 103.

    N .O 17Localidade: SOURE (freg. e cone. de Soure, dist. de Coimbra)Paradeiro: Igreja de St." Maria de Finisterra, Castelo de SoureMedida: VaraComprimento: 109,3 ern

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    Comentario:

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    Fuste de coluna, em marmore, aparecido durante asescavacoes arqueol6gicas realizadas na Igreja de S."Maria de Finisterra, junto do castelo de Soure. Apresentaduas medidas-padrao gravadas: uma, mais antiga, emparte mutilada por uma segunda gravada em epoca algoposterior. A medida mais antiga, que parte do colarinhoda coluna, podera nunca ter sido acabada. Mede, na suaextensao visivel, 85 ern, Centrada com a coluna esobrepondo-se em parte a esta medida, foi gravada umaoutra, em epoca posterior, com 109,3 em de comprimentoe apresentando as caracteristicas comuns das medidas-padrao. Nao sabemos se se trata de urn caso de correccaode medida-padrao, hip6tese que nos parece algo remotase atendermos a que a primeira medida (85 em) erabastante menor que a que the sucedeu (109,3 em). Acoluna devia pertencer a urn alpendre da igreja, ja quetodas as medidas-padrao se localizavam em espacosexteriores, por forma a facilitar a sua utilizacao. Naparte inferior do fuste encontra-se gravada uma pequenaestrela de cinco pontas. 0 fuste conserva-se hoje noespaco da antiga igreja de St." Maria de Finisterra,apoiado em suporte metalico.

    Localidade: CASTELO DE VIDE (freg. e cone. de Castelo de Vide,dist. de Portalegre).

    Paradeiro: ?Medida: ?Comprimento: ?Comentario: Temos informacoes de que em Castelo de Vide existira

    uma medida-padrao, Nao a conseguimos localizar eignoramos as suas dimensoes,

    N .O 19Localidade: MONFORTE (freg. e cone. de Monforte, dist. de

    Portalegre)

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    Paradeiro: Igreja da MadalenaMedida: A) Meia BracaB) Meia VaraComprimento: A) 91,5 ern

    B) 55 emComentario: Medidas padrao gravadas verticalmente em coluna,hoje embutida no pilar SuI do alpendre da igreja daMadalena, em Monforte.

    N.o20Localidade: ALANDROAL (freg. e cone. de Alandroal, dist. de

    Evora)Paradeiro: Porta do castelo do AlandroalMedida: VaraComprimento: 110 emComentario: Medida padrao gravada verticalmente na ombreira

    direita da porta do castelo de Alandroal voltada aolargo de S. Joao de Deus (e axialmente oposta a PortaLegal). Os silhares sao em marmore.

    N .O 21Localidade: REDONDO (freg. e cone. de Redondo, dist. de Evora)Paradeiro: Porta do Sol das muralhas de RedondoMedida: A) VaraB) Meia Vara (?)Comprimento: A) 110 emB) 56 em

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    Comentario: Na ombreira direita da Porta do Sol das muralhas deRedondo, na face voltada ao exterior, as duas medidasda vila, gravadas verticalmente.

    N.o22Localidade: MONSARAZ (freg. de Monsaraz, cone. de Reguengode Monsaraz, dist. de Evora)Paradeiro: Porta da Vila das muralhas de MonsarazMedida: A) VaraB) Meia Vara (?)Comprimento: A) 110 en

    B) 56 emComentario: Na ombreira direita da Porta da Vila das muralhas deMonsaraz, na face voltada ao interior, estao gravadasverticalmente as duas medidas padrao da vila.

    N.o 23Localidade: CASTRO MARIM (freg. e cone. de Castro Marim,dist. de Faro)Paradeiro: Porta do castelo de Castro MarimMedida: CovadoComprimento: 66,5 emComentario: Em silhares a esquerda da porta principal do castelo de

    Castro Marim, gravado horizontalmente, encontra-seo covado. Nos silhares imediatarnente abaixo, vestigiosde uma outra medida padrao, desaparecida com osrestauros da fortaleza, e de que sobrevive apenas a zonaterminal dire ita.

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    3 - Outras medidas-padrao, nao lineares, gravadas em muros:Ja tivemos oportunidade de referir que Alexandre Herculano, nosseus Apontamentos de Viagem, registara a existencia do Alquiez juntodas medidas-padrao de Marialva (n," 10) e de Moreira de Rei (n.? 13), hojedesaparecidas". 0 Alquiez era a antiga medida nao-Iinear utilizada nocomercio de solas de couro para a manufactura de sapatos. No Livro dasPosturas Antigas regista-se a dado pas so que... as que as dictas solas venderem que as vendam pella grandura e

    largura do alquiez da cidade ...,estabelecendo as penas para os infractores: pela primeira infraccao 300reais, pela segunda infraccao 500 reais, e pela terceira infraccao 500 reaise 8 dias de cadeia". Infelizmente nao conhecemos qualquer exemplo deAlquiez que tenha sobrevivido ate aos nossos dias. A sua configuracaodeveria, no entanto, ser semelhante aos sfrnbolos que encontramosgravados em diversas estelas discoides ou tampas de sepulturas tardias,onde se gravaram moldes de solas de sapatos como forma de identificara profissao do morto ",Outro exemplo de medida-padrao nao-Iinear diz respeito ao Corazil.Regista Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo que em documentos do mos-teiro de Salzedas, datados de 1466 e 1481, se esc1arecia que ... 0corazildeve ter duas costas da pa do porco ate a cabeca epezar 14arrateis ...36.No foral que D. Manuel I deu ao concelho de Sabugosa em 27 de Junhode 1514 regista-se:

    33 Pedro de Azevedo, Apontamentos de viagem de Herculano pelo Pais em1853 e 1854, Archive Hist6rico Portugues, vol. IX, Lisboa, 1911, respectivamentep. 418 e 419.34 Cf. Livro das Posturas Antigas, Leit. de Maria Teresa Campos Rodrigues,Lisboa, C.M.L., 1974, p. 135.35 Cf., entre outros, Jose Leite de Vasconcelos, Cabeceiras de Sepulturas,o Arche6logo Portugues, L a Serie, vol. XXII, Lisboa, 1917, p. 108 (estela doAlandroal); Jose Beleza Moreira, Cabeceiras de Sepultura do Museu de Torres Vedras,

    Torres Vedras 1982,n."5-R (p. 10)e n.?24-S (p. 14) (estelas deTorres Vedras); MarioJorge Barroca, Necr6poles e Sepulturas Medievais de Entre-Douro-e-Minho (SeculosVa XV), Porto, 1987, p. 346, n." 8 (tampa de sepultura do Museu Arqueologico deBarcelos).36 Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo, Eluciddrio das Palavras, Termos e

    Frases ..., vol. 2, Ed. Critica de Mario Fitiza, Porto, 1966, p. 133.

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    ... quaaesquer moradores nos ditos lugares foreiros sematarem porco macho hu gorazil - a saber cortado 0porcopew meyo e femdido tomase da meatade daquelie porco huupedaco comtra 0rabo domde tomam huu medida de couto e dalycorrem comtra as costas atee chegarem a segumda costacontando a mendinha e cortam per aquelle dereito da medidagramdee pequena a cordel dereito e aquello chamam gorazilla quail marcafica demarcada na parede da /greja do seu lugara que chamam Sam Mamede e per ella mandamos que todallas. da comarca se julgem.s",

    Viterbo, no seculo XVIII, ainda teve oportunidade de ver a referidamedida-padrao gravada no cunhal direito da Capela de S. Mamede(Sabugosa, Tondela), de que nos deu croquis com medidas em palmos".Infelizmente, com a reconstrucao do templo no seculo XIX, acabou porser destrufda'",Encontramos urn ultimo exemplo de medida-padrao nao-linearnuma pedra reaproveitada na parede sul da Capela- Mor da Igreja de Real(Castelo de Paiva), na qual Margarida Rosa Moreira de Pinho identificoua Congrua",

    37 Cf. Amadeu Ferraz de Carvalho, A Terra de Besteiros e 0Actual Concelhode Tondela (Esboco Hist6rico e Toponimico], 2.. Ed., Tondela, 1981, p. 264-265, doc.LII. Ao mesmo documento ja se referira Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo, Elucidariodas Palavras, Termos e Frases ... , vol. 2, Ed. Criticade Mario Fiiiza, Porto, 1966, p. 133.

    38 Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo, Elucidario das Palavras, Termos eFrases ..., vol. 2, Ed. Critic a de Mario Fiiiza, Porto, 1966, p. 133.

    39 Cf. Amadeu Ferraz de Carvalho, A Terra de Besteiros e 0Actual Concelhode Tondela (Esboco Hist6rico e Toponimico], 2.. Ed., Tonde1a, 1981, p. 49, nota 1.

    40 Cf. Margarida Rosa Moreira de Pinho, Elementos para a Hist6ria de Castelode Paiva, 2 .. ed., Castelo de Paiva, 1991, p. 39 e fot. junto a p. 88.

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    Nota Final:Ja depois de este trabalho ter dado entrada em tipografia tivemosoportunidade de identificar urn novo caso de medidas-padrao. Em AIgo-dres, aldeia a 4 km de Fomos de Algodres, nas colunas do lado esquerdodo portal ocidental da Igreja Paroquial estao gravados 0Covado (com 66em) e a Vara (com 109,5 em). Cada medida foi gravada no seu fuste decoluna, ambas arrancando da moldura superior. Trata-se, portanto, demais urn exemplo onde se associam estas duas medidas destinadas ao

    comercio de tecidos finos e comuns, que eleva 0mimero de medidas--padrao sobreviventes aqui inventariadas para 31 repartidas por 20 locaisdistintos. 0 predomfnio das Varas e Covados ve-se assim ligeiramenteampliado, com 67,74% dos casos inventariados. 0exemplo de Algodresvern apenas sublinhar 0facto de 0levantamento aqui apresentado nao serexaustivo mas tao somente urn ponto da situacao que, esperemos, sera embreve ampliado com novos exemplos.

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    ANEXO 1

    112 112 112Vara Braca Covado Vara Covado Palmo

    Localidade 110 cm 92 cm 66cm 55cm 33cm 22cm

    Braga *Guimaraes *Porto * *Teloes (I) ? ? ? ? ? ?Vila Real (I) ? ? ? ? ? ?Lavandeira,Ansiaes (I) * *Resende *S. Martinhode Mouros * *Penedono *Marialva * * *CasteloRodrigo (2) ? ? ? ? ? ?Pinhel *Moreira de Rei * *Sortelha * *Sabugal *Monsanto *Soure *Castelo de Vide ? ? ? ? ? ?Monforte * *Alandroal *Redondo * *Monsaraz * *Castro Marim *

    (1 ) Medida des tru ida .(2) Medida incompleta.

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    i - Coiegiada de Guimaraes (N. 2)2 - Marialva (N. 10)3 - Moreira de Rei (N. 13)4 - Sortelha (N. 14)

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    5 - SabugaJ (N," 15)6 - Monsanto (N,? 16)7 - Redondo (N," 21)8 - Monsaraz (N," 22)

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