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MEMÓRIA CULTURAL DE UMA PESQUISA EM EMISSORA PÚBLICA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EXTINÇÃO DAS
FUNDAÇÕES: o caso da TVE-RS1
CULTURAL MEMORY OF A PUBLIC BROADCASTER RESEARCH AND THE PUBLIC POLICIES FOR THE
EXTINCTION OF FOUNDATIONS: the case of TVE-RS
Ana Luiza Coiro Moraes2
Nádia Maria Weber Santos3
Resumo: O artigo se constitui em reflexão sobre os resultados do projeto de pesquisa “Memória e Patrimônio da Fundação Piratini: o acervo audiovisual da TVE”, financiado pela FAPERGS, e desenvolvido de setembro de 2014 a agosto de 2016. Fundamenta-se em autores que pensam a televisão como um meio de circulação de ideias e imagens sociais e de memória cultural, dentre eles Raymond Williams, Martín-Barbero, Aleida Assman e Michael Pollak. Dar seguimento a tal debate, neste momento histórico, é imprescindível para a memória cultural gaúcha, tendo em vista o rumo das políticas do governo do estado do Rio Grande do Sul no que diz respeito à sua televisão pública: a TVE. Palavras-Chave: Memória Cultural. Políticas Públicas. Televisão Pública. TVE. Abstract: The article is a reflection on the results of the research project "Memory and Heritage of the Piratini Foundation: the audiovisual collection of TVE", funded by FAPERGS, and developed from September 2014 to August 2016. It is based on authors who think Television as a means of circulating ideas and social images and cultural memory, among them Raymond Williams, Martín-Barbero, Aleida Assman and Michael Pollak. Following this debate, at this historical moment, is essential for the cultural memory of Rio Grande do Sul, in view of the direction of the policies of the state government of Rio Grande do Sul in relation to its public television: TVE. Keywords: Cultural Memory. Public Television. TVE.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho GT 3 - COMUNICAÇÃO PÚBLICA E INSTITUCIONAL do VII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VII COMPOLÍTICA), realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de 10 a 12 de maio de 2017. 2 Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero (SP), doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia. 3 Professora Colaboradora do Mestrado Profissional Memória e Acervos da Casa de Rio Barbosa (RJ). Pesquisadora do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq - Nível 2. Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado na Université Laval, Québec, Canadá.
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1. Introdução
Este trabalho insere-se nas reflexões sobre os resultados do projeto de
pesquisa “Memória e Patrimônio da Fundação Piratini: o acervo audiovisual da TVE”,
financiado pelo edital Pesquisador Gaúcho (PQG) 02-2014 da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), que se desenvolveu de
setembro de 2014 a agosto de 2016. Composto por uma equipe interdisciplinar
envolvendo as áreas da História, da Comunicação e da Arquivística, o projeto
examinou uma amostra de 116 no universo das13.500 fitas que compõem o Setor
de Arquivo da TVE. Os resultados dessa investigação encontram-se no livro
intitulado “TVs Públicas: memórias de arquivos audiovisuais” e nos dossiês por nós
organizados para as revistas Cadernos de Comunicação (UFSM) e Sessões do
Imaginário (PUCRS), produções que além de nossos resultados de pesquisa
também divulgaram trabalhos envolvendo televisões públicas do país. Além disso,
produzimos o documentário “TVE-RS: memórias de uma pesquisa em emissora
pública”, apresentamos trabalho sobre a pesquisa na mesa coordenada por nós no
V Seminário Internacional em Estudos Culturais, na Universidade de Aveiro, em
Portugal, e os bolsistas da pesquisa expuseram a pesquisa em painéis em diversas
feiras de iniciação científica. Nesses trabalhos, reportamo-nos a autores que
contextualizam a televisão como um meio de circulação de ideias e imagens sociais
e de memória cultural, dentre eles destacando-se Raymond Williams e Aleida
Assman.
Contudo, dar seguimento às reflexões sobre o acervo audiovisual da TVE em
termos epistemológicos — relacionando memória e televisão pública na dialética
entre tecnologia, usos culturais e sociais da história contemporânea do Rio Grande
do Sul — tornou-se um fator relevante e imprescindível para a perpetuação da
memória cultural da sociedade gaúcha, sobretudo se considerado o rumo das
políticas públicas relacionadas às televisões públicas, atualmente.
Neste sentido, o presente texto se soma a iniciativas como o Movimento para
Preservação da TVE/FM Cultura, o Eu quero a TV Cultura Viva!, a Frente em defesa
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da EBC e da Comunicação Pública, bem como alguns setores da imprensa, que se
juntam à resistência à transformação das televisões públicas em meras emissoras
governamentais e, acima de tudo, contra a sua extinção.
É o caso da TVE, que com a rádio FM Cultura faz parte da Fundação Piratini e
foi enquadrada no pacote de “redução do Estado” enviado pelo Governador do Rio
Grande do Sul à Assembleia Legislativa, indicando a extinção de oito fundações
estaduais. Em 21.12.2016, por 28 a 24 votos, o governo estadual conseguiu aprovar
a extinção das fundações Piratini, Zoobotânica, de Economia e Estatística (FEE) e
de Recursos Humanos (FDRH), da Metroplan, da Cientec, Instituto Gaúcho de
Tradição e Folclore (FIGTF) e da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
(Fepagro).
Dessa forma, o engajamento desta pesquisa na contestação a políticas
públicas que julgam relevante a televisão pública gaúcha a ponto de financiar a
pesquisa ao acervo da TVE, por nós levada a cabo, para em seguida encaminhar a
proposta de extinção da emissora, significa manter-se coerente aos objetivos do
nosso projeto, que visava contribuir para a preservação da TVE, para o uso
socialmente compartilhado enquanto memória imagética e representação identitária
da emissora e do Rio Grande do Sul, atentando à sua constituição como patrimônio
cultural da sociedade gaúcha.
Para tanto, neste artigo articulamos aos autores que já vem norteando a
pesquisa as reflexões de Ortiz (1994, 2012, 2013) e Rubim (2007, 2010), lançando
mão dos conceitos de ausências, autoritarismos e instabilidades para, com os dados
de nossa pesquisa empírica ao arquivo audiovisual da TVE, examinar as políticas
culturais (ou econômicas) implicadas no processo de extinção da Fundação Piratini.
2. Cultura: identidade e políticas públicas
Raymond Williams (2007) percebe que a contemporaneidade oferece três
concepções à palavra cultura: no sentido de processo de aprimoramento mental,
como modos de vida e como práticas de atividade intelectual e artística: a música, a
literatura, a escultura, etc. O autor chama a atenção para a primazia deste último
significado, pois a ele está ligado o fato de haver ministérios da cultura que atendem,
prioritariamente, as artes. Contudo, Williams (1958) afirma, no ensaio com
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descrições quase literárias Culture is ordinary, que a palavra de ordem é “a cultura é
ordinária”. Por meio dela, confronta preconceitos e elitismos, no sentido de substituir
a ideia de cultura como algo a ser “cultivado”, como na arte, pela qualificação
“ordinária”, que tanto pode ser tomada como “comum ou padronizada”, explica
Williams (2007, p. 302-303), indicando um conjunto generalizado que diz respeito às
massas, ao povo, como pode apontar para pessoas “não educadas”, “não
instruídas”. Localizando os princípios fundadores do projeto dos cultural studies
ingleses, Schwarz (2000, p. 47) resume o caráter desbravador dos caminhos da
produção intelectual de Williams:
A identificação explícita das culturas vivas como um objeto distinto de estudo, o reconhecimento da autonomia e complexidade das formas simbólicas por direito próprio, a crença de que as classes populares possuiriam as suas próprias formas culturais merecedoras deste nome, recusando todas as denúncias, por parte da cultura de elite, de barbárie das classes mais baixas, e a insistência em que o estudo da cultura não deveria estar confinado a uma única disciplina, mas era necessariamente inter ou mesmo antidisciplinar —, tudo isso teve como resultado uma modesta revolução intelectual.
Também nessa direção, registra Ortiz (1985), os estudos pioneiros sobre
cultura popular no Brasil compartilhavam como objetivos principais: a) estabelecer a
ideia da nacionalidade brasileira como resultado da cruza entre negros, brancos e
índios; b) proporcionar aos intelectuais ligados à temática da cultura popular um
recurso simbólico através do qual fosse possível tomar consciência e expressar a
situação periférica do país.
Em outro texto, o autor indica dois princípios a embasar qualquer debate
sobre identidade nacional: nação e cultura. A ideia de nação está vinculada à
emergência de um tipo de formação histórica e territorial determinada. A cultura, no
entanto, ao associar-se à problemática do nacional, adquire uma dimensão
agregadora. Se os membros de uma população territorial estiverem separados
geograficamente, pela classe social, por serem urbanos ou camponeses ou por
linhagens étnicas diversas na sua formação, “um mesmo conjunto deve envolvê-los
para que façam parte de uma unidade comum. A cultura é a consciência coletiva
que vincula os indivíduos uns aos outros” (ORTIZ, 2013, p. 612).
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Deste amálgama resultam as representações identitárias brasileiras e a elas
se ligam não apenas o resgate da cultura popular e das origens étnicas que
compõem a nossa população, mas também, e fortemente, as apropriações do
Estado, em diferentes momentos históricos, no sentido de cunhar conceitos de
identidade nacional e neles embasar suas políticas culturais.
Justamente rastreando o itinerário das políticas culturais brasileiras, Rubim
(2007, 2014) elege três de seus aspectos, que se revelam como potentes categorias
analíticas: ausências, autoritarismos e instabilidades.
Ausências
As ausências, segundo o autor, remontam ao período colonial brasileiro,
quando inexistiam políticas culturais e as facetas do obscurantismo brasileiro nesta
área se faziam notar de diversas formas, especialmente frente à comparação com o
espaço colonial hispano-americano, onde, entre 1538 e 1812, foram criadas trinta
universidades.
O menosprezo e a perseguição das culturas indígenas e africanas; o bloqueio das culturas ocidentais, em especial aquelas na época progressistas, como a francesa, com: a proibição de instalação de imprensas, o controle da circulação de livros, e a inexistência de ensino superior e universidades (RUBIM, 2014, p.12).
A independência da coroa portuguesa não produziu significativas alterações
neste panorama, e, segundo Rubim (2007), as iniciativas de D. Pedro II, como a
criação de Institutos Históricos e Geográficos, o mecenato e suas incursões na
fotografia foram atitudes pessoalizadas, que não se configuraram como políticas
culturais. Do mesmo modo, na República, as ausências no plano da cultura só são
interrompidas esporadicamente.
Do mesmo modo, o momento privilegiado do desenvolvimento da cultura no Brasil, acontecido entre os anos “democráticos” de 1945 a 1964, não foi caracterizado por uma maior intervenção do Estado na área da cultura. O uso, em 1953, da expressão cultura para designar secundariamente um ministério, Educação e Cultura, e a criação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), além de outras medidas menores, não sugerem nenhuma mutação essencial a esta persistente ausência de políticas culturais no Brasil (RUBIM, 2014, p.12).
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Na “Nova República”, a lei Sarney e as posteriores leis de incentivo à cultura,
através de isenção fiscal, subtraem o poder de decisão do Estado. Apesar de os
recursos serem majoritariamente públicos (as isenções fiscais), o poder de escolha
sobre a veiculação cultural fica em mãos da iniciativa privada. Outra perversa
modalidade de ausência, em que o Estado só se faz presente como fonte de
financiamento e as deliberações, escolhas e prioridades são das empresas e suas
gerências de marketing, é apontada por Rubim (2014) no governo de Fernando
Henrique Cardoso, quando sob a gestão do Ministro da Cultura Francisco Weffort as
leis de incentivo – Rouanet e do Audiovisual – substituem as políticas estatais e o
mercado se apropria do papel do Estado.
Autoritarismos
Com relação aos autoritarismos, a constatação é de que as políticas culturais
foram mais sistemáticas e o Estado, em períodos autoritários, interrompe a tradição
de ausência e assume papel ativo (RUBIM, 2014). As relações entre cultura e os
autoritarismos de Estado no Brasil se consolidam na ditadura do Estado Novo, nos
anos 1930, num momento em que sequer se registra a presença de uma cultura
popular de massa, que somente na década de 1940 passaria a ser notada (ORTIZ,
1994).
[...] com o advento do Estado Novo, o aparelho estatal encontra-se associado à expansão da rede das instituições culturais (criação do Serviço Nacional de Teatro), à criação de cursos de ensino superior, e também à elaboração de uma ideologia da cultura brasileira, A revista Cultura e Política foi, em 1941-1945, um órgão ideológico do Estado, no mesmo período em que o DIP exerceu suas funções de censura (ORTIZ, 2012, p. 80).
O governo de Getúlio Vargas, quando Gustavo Capanema era ministro da
cultura, de fato inaugurou a atuação sistemática e organizada do Estado brasileiro
na cultura. Rubim (2014, p. 30) lista como políticas públicas para a cultura, naquele
período postas em prática:
Dentre outros procedimentos, tem-se a criação de legislações para o cinema, a radiodifusão, as artes, as profissões culturais etc e a constituição de inúmeros organismos culturais, tais como: Superintendência de Educação Musical e Artística; Instituto Nacional de Cinema Educativo (1936); Serviço de Radiodifusão Educativa (1936); Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937); Serviço Nacional de Teatro (1937);
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Instituto Nacional do Livro (1937) e Conselho Nacional de Cultura (1938) (RUBIM, 2014, p. 13).
Contudo, foi no período da ditadura militar (1964/1985) que se deu um
significativo acréscimo de políticas públicas voltadas à cultura. Fase em que o
autoritarismo atingiu o seu ápice, os atos governamentais foram marcados,
incialmente pela extinção de políticas da época de Goulart. Assim, atividades
culturais e pedagógicas foram consideradas subversivas e extintas, dentre elas:
Comissão de Cultura Popular, Programa Nacional de Alfabetização, Conselho
Consultivo do Serviço Nacional de Teatro, etc. (ORTIZ, 2012).
Trata-se de um período de “mutação brutal na conformação da cultura no
Brasil”, afirma Rubim (2014, p. 14). E, para esse fim, de um lado havia extinções de
atividades culturais, perseguições que determinaram a prisão ou o exílio ou, no
mínimo, sujeitavam à censura intelectuais, artistas e criadores culturais, e, de outro,
a criação de um aparato de órgãos que visavam legislar o plano de cultura da
ditadura, como se vê na Tabela 1, que abrange o período de 1965 a 1979.
ANO ÓRGÃOS ATIVIDADES
1965 Embratel Brasil se associa ao sistema INTELSAT
1966 Conselho Federal de Cultura Conselho Nacional de Turismo Embratur Instituto Nacional de Cinema
Definição de uma política nacional de Turismo
1967 Ministério de Telecomunicações
Criação do Sistema Nacional de Turismo I Encontro Oficial de Turismo
1968 I Reunião dos Conselhos Estaduais de Cultura
1969 Embrafilme
1970 Reforma administrativa do MEC, cria-se o Departamento de Assuntos Culturais (DAC), órgãos para execução de uma política cultural.
1972 Telebrás I Congresso da Indústria Cinematográfica Brasileira Embratel completa o Sistema Básico de Microondas que possibilita a Integração nacional por TV TV a cores
1973 O DAC lança o 1º Plano de Ação Cultural (de ação limitada)
1975 Funarte Extinguem-se o INC e Nacional de
Cultura e ampliam-se as
Publicação do primeiro Plano Nacional de Cultura Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro
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atribuições da Embrafilme Centro Nacional de Referência
Cultural
I Encontro Nacional dos Dirigentes de Museus
1976 Concine Radiobrás
I Encontro Nacional de Cultura
1979 DAC se transforma em Secretaria de Assuntos Culturais
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Fundação Pró-Memória
I Seminário Nacional de Artes Cênicas I Encontro Nacional de Artistas Plásticos Profissionais
Tabela 1 - Órgãos Criados na ditadura militar (até 1979)
Fonte: Ortiz, 2012, p.86
Por fim, no contexto dos autoritarismos ainda, ressaltando que a TVE faz
parte desta história, Finger et al. (2016) situam no período da ditadura militar a
criação das chamadas televisões educativas, pelas quais foram criadas as
televisões públicas brasileiras:
No Brasil, as Televisões Educativas foram criadas inicialmente para atender a um programa de ensino nacional que fracassou. Em 1964, o MEC reivindicou ao Ministério das Comunicações três canais de televisão de caráter educativo. A programação era constituída por programas educacionais de nível médio nas áreas de linguagem, moral e cívica, conhecimentos gerais, matemática e de ciências. O modelo implantado durante a ditadura militar, além de ineficiente, era extremamente oneroso para o estado (TORVES apud FINGER et al., p.131).
O fato de se tratar de uma medida que envolvia os meios de comunicação,
mas de cunho pedagógico, comprova que a ditadura militar não dirigia a eles
qualquer política cultural. “O rádio e a televisão foram sempre menosprezados pelo
Ministério da Cultura”, diz Rubim (2014, p. 15). Ainda que hegemônicos no consumo
cultural da população brasileira, desde o Estado Novo (rádio) e passando pela
ditadura militar (televisão), e apesar do uso que desses meios fizeram Getúlio
Vargas, que falava à população pelo programa Hora do Brasil, por ele criado em
1938, e o ditador general Emílio Garrastazu Médici, que em 1973 participou da
primeira transmissão de televisão em cores no Brasil, na Festa da Uva, em Caxias
do Sul, o fato é que não houve propriamente políticas públicas culturais voltadas aos
meios de comunicação.
Instabilidades
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A soma dos dois aspectos anteriormente caracterizados, ausência e
autoritarismo, produz, segundo Rubim (2007, 2014), instabilidades, a terceira
tradição que ele observa na tradição das políticas culturais no país.
Muitas das instituições culturais criadas têm forte instabilidade institucional derivada de um complexo conjunto de fatores: fragilidade; ausência de políticas mais persistentes; descontinuidades administrativas; desleixo; agressões de situações autoritárias etc. O governo Vargas cria instituições, mas destrói experiências políticas e culturais relevantes como a vivida por Mário de Andrade no Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1935-1938). A ditadura militar fecha em 1964 o ISEB, os Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes e o Movimento de Cultura Popular, onde aparece Paulo Freire. O afã neoliberal de Collor desmonta, como um bárbaro, quase todas as instituições culturais do país. Isto apenas para citar alguns momentos dramáticos (RUBIM, 2014, p. 15).
A própria institucionalização do setor da cultura nos governos demonstra
instabilidade, já que esteve primeiramente circunscrito ao Ministério de Educação e
Saúde (1930) e apenas em 1953 passou constar como parte do nome próprio:
Ministério de Educação e Cultura. Passa a ter um ministério exclusivo para si, o
Ministério da Cultura, somente em 1985, decorrente da pressão de intelectuais,
artistas e de secretários estaduais de cultura, sobretudo os de oposição à ditadura
(RUBIM, 2014). A continuidade do Ministério nos governos democráticos também é
prova da instabilidade a que a cultura sempre esteve sujeita no que diz respeito a
políticas de legitimação governamental ao setor.
A sua problemática implantação nos governos Sarney, Collor e Itamar é um dos exemplos mais contundentes desta tradição de instabilidade da área cultural. O Ministério da Cultura é criado em 1985; desmantelado por Collor e transformado em secretaria em 1990; novamente recriado em 1993 por Itamar Franco. A área cultural, além destas idas e vindas do ministério em seus primeiros anos, teve uns inacreditáveis dez dirigentes responsáveis pelos órgãos nacionais de cultura em nove anos (1985-1994): cinco ministros (José Aparecido, Aloísio Pimenta, Celso Furtado, Hugo Napoleão e novamente José Aparecido) nos cinco anos de Sarney (1985-1990); dois secretários (Ipojuca Pontes e Sérgio Paulo Rouanet) no período Collor (1990-1992) e três ministros (Antonio Houaiss, Jerônimo Moscardo, Luiz Roberto Nascimento de Silva) no governo Itamar Franco (1992-1995). A permanência média de menos de um dirigente por ano, com certeza, criou uma instabilidade institucional bastante grave, em especial para um organismo que estava em processo de instalação (RUBIM, 2014, p. 16).
Além disso, como fatores de instabilidade do próprio Ministério da Cultura,
Rubim (2007, 2014) aponta as verbas sempre reduzidas (0,14% do orçamento da
União na era FHC), a quantidade e a distribuição geográfica dos equipamentos
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culturais, a quantidade e a qualidade dos servidores do setor, e, por fim, a
(in)existência de políticas públicas e/ou de Estado (e não políticas sazonais de
governos, mais das vezes a serviço de outros interesses, que não os de um órgão
verdadeiramente a serviço da cultura.
A história da TVERS, desde a sua criação, está sujeita a conjunturas de
ausências, autoritarismos e instabilidades. Começa em 1961, quando a Secretaria
de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, na ausência de políticas
centrais para a cultura, mobilizou-se para ter uma emissora de televisão educativa. E
o que se iniciava sob o governo de João Goulart, que assumiu a presidência vaga
pela renúncia de Jânio Quadros em setembro de 1961, e isso por conta da
Campanha da Legalidade deflagrada pelo Governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, a fim de garantir o direito previsto na Constituição de 1946 de que na falta
do Presidente, assumiria o Vice-Presidente; apenas se instituiu em 21 de junho de
1968, data em que foi outorgada a concessão para o funcionamento da TVE, pelo
Decreto n° 62.822, já sob o autoritarismo dos militares, alguns meses antes do Ato
Institucional nº 5, quando recrudesceu a ditadura.
A compra dos equipamentos levou mais de um ano para ser aprovada. Em
1971, outro ministério entra em ação, o Ministério das Comunicações, e o faz no
sentido de não aprovar o prédio construído para a emissora no Bairro Jardim
Botânico, em Porto Alegre. Tais instabilidades foram determinantes para que a
emissora só começasse a funcionar efetivamente depois de firmado um convênio
entre o Governo do Estado e a Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul,
instalando-se na Faculdade de Comunicação Social, em 29 de março de 1974, sob o
governo de Sinval Guazzelli, da ARENA (Aliança Renovadora Nacional, partido da
situação durante a ditadura militar), eleito indiretamente por autorização do Ato
Institucional nº 3.
A emissora, então conhecida como Centro de Televisão Educativa, produzia
programas educativos, culturais e instrucionais. Nova situação de instabilidade foi
um incêndio, que aconteceu nas instalações da Famecos, o que levou a TVE para a
sede da antiga TV Piratini, no morro Santa Teresa (Porto Alegre), onde até hoje
funciona, agora com a sua extinção votada por 21 deputados estaduais, que dessa
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forma se aliam a políticas que são de ordem econômica, e não culturais. Em 1989,
foi inaugurada a FM Cultura, emissora de rádio que também faz parte da Fundação
Piratini, igualmente em extinção, portanto.
Assim, se em 2011 a missão da Fundação Piratini, gestora das emissoras
públicas de televisão e rádio do Estado do Rio Grande do Sul, TVE e FM Cultura,
sob governo com alguns compromissos com a esquerda (Tarso Genro) era:
[...] promover comunicação democrática e que propicie o acesso à informação, educação e cultura, estimulando a reflexão crítica da realidade. Além disso, sua programação tem o compromisso de incentivar a participação social, refletindo sua diversidade, expressões e seus anseios. O maior objetivo da Fundação é oferecer à população gaúcha uma comunicação cidadã e de qualidade (FUNDAÇÃO PIRATINI, 2011).
Isso significava “afirmar a cultura como um direito”, o que Chauí considera que
“é opor-se à política neoliberal, que abandona a garantia dos direitos,
transformando-os em serviços vendidos e comprados no mercado e, portanto, em
privilégios de classe (CHAUÍ, 2008, p.66).
3. Arquivo e memória
Para Ortiz (2012, p. 139) a procura de um conceito de "identidade brasileira"
ou de "memória brasileira", que traduza uma essência verdadeira é um falso
problema: “A questão que se coloca não é de se saber se a identidade ou a memória
nacional apreendem ou não os ‘verdadeiros’ valores brasileiros”. Para o autor, o que
se deveria perguntar é: “quem é o artífice desta identidade e desta memória que se
querem nacionais? A que grupos sociais elas se vinculam e a que interesses elas
servem? ”
Por isso, ao examinarmos o arquivo audiovisual da TVE, reportamo-nos a
Assmann (2011, p. 25-26), para quem um arquivo não é somente um repositório de
documentos do passado, mas também “um lugar onde o passado é construído e
produzido”, construção, esta, codeterminada por interesses sociais, culturais,
políticos e também pelos meios de comunicação e pelas técnicas de registros. Ela
considera o arquivo como um testemunho mesmo do passado e um armazenador
coletivo de conhecimentos.
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Porém, é na arte, que se ocupa cada vez mais da memória, que a autora
aponta para um foco importante: “a memória artística não funciona como
armazenador, mas estimula os armazenadores, ao tematizar os processos de
lembrar e esquecer”. (ASSMANN, 2011, p. 26). Essa afirmativa se torna importante
no diálogo com nossa fonte, onde a memória de 40 anos de cultura em nosso
Estado se faz presente nas fitas da TVE, que surgem como um repositório de
“memória potencial ou pré-condição material para memórias culturais futuras” Isso
porque, o arquivo “contém embutida em si uma memória funcional na forma de
memória de armazenamento, que é designada pelo nome de “herança cultural” e
que é também entregue aos cuidados dos arquivistas, imbuídos na tarefa de
protegê-la contra possíveis catástrofes naturais ou culturais”. (ASSMANN, 2011,
p.369).
Nessa senda, compreendemos o papel dos poucos arquivistas da TVE (na
verdade, um arquivista, um jornalista e um funcionário administrativo) e suas
preocupações com a falta de recursos para suas tarefas de conservação e
salvaguarda do material sob sua guarda.
Além disso, é preciso trazer ao rol de preocupações que suscita a TVE o
público ao qual se destina a grade de programação. Para Williams (2011), sob a
égide do capitalismo, a televisão faz parte de um aparato tecnológico que a partir
das estradas de ferro e da iluminação pública, passando pelos jornais e pelo rádio,
se encontra a serviço de um modo de vida que supõe mobilidade, mas, ao mesmo
tempo, está centrado no âmbito do privado, no interior dos lares. Neste sentido,
pensamos que a extinção da emissora pública de televisão não atinge apenas
funcionários, acervo e memória cultural, ela acarreta, também, uma violência
simbólica contra os receptores.
4. Considerações finais: o que a pesquisa na TVE nos diz sobre as políticas públicas de um governo neoliberal
O projeto de pesquisa “Memória e Patrimônio da Fundação Piratini: o acervo
audiovisual da TVE-RS” foi contemplado pelo edital PQG (Pesquisador Gaúcho) 02-
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2014 da FAPERGS, o que resultou em ganho em escopo de realização, bem como
em qualidade – podendo encampar estudantes de Iniciação Científica e mestrandos
em Memória Social e Bens Culturais4.
Através da Lei Estadual nº 4.920, de 31 de dezembro de 1964 (já na ditadura
militar), foi autorizada a instituição da FAPERGS. Órgão do Governo do Estado do
Rio Grande do Sul, a FAPERGS se declara “o principal agente na articulação e
fomento de processos de desenvolvimento científico tecnológico e inovação”.
(FAPEGS, 2010). No site da agência de fomento à pesquisa, lemos:
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) tem a finalidade de fomentar a pesquisa em todas as áreas do conhecimento. É sua atribuição: promover a inovação tecnológica do setor produtivo, o intercâmbio e a divulgação científica, tecnológica e cultural; estimular a formação de recursos humanos, o fortalecimento e a expansão da infraestrutura de pesquisa no Estado (FAPERGS, 2010).
O nosso projeto de pesquisa é gestado quando a TVE-RS completou 40 anos,
em 2014, e este foi o mote para que contatássemos o presidente da Fundação
Piratini em exercício na época do governo petista de Tarso Genro (o jornalista e
professor universitário Pedro Osório), para realizar a pesquisa em seu acervo
audiovisual. Porém, se o Termo de Outorga e Aceitação de Auxílio da FAPERGS, foi
firmado em 4 de dezembro de 2014, foi somente em março de 2015, dois meses
depois de Ivo Sartori (PMDB) ter assumido o Governo do Estado, é que as verbas
do projeto começaram a ser creditadas. Até então, nosso temor era que o
governador alinhado com um modo neoliberal de administração suspendesse as
verbas destinadas a pesquisas, pois em nossos telefonemas à agência de fomento
recebíamos a resposta de que “não havia previsão de créditos, aguardavam-se os
direcionamentos do novo governo”. Contávamos com a ausência estatal, pois, afinal,
“política e socialmente, a economia neoliberal é o projeto de encolhimento do
espaço público e do alargamento do espaço privado”, afirma Chauí (2008, p. 75).
Mas, o que recebemos, como se verá a seguir, foram instabilidades.
Em nível acadêmico, nunca existiu um projeto desta monta e com este escopo
para trabalhar o acervo audiovisual da TVE. Vislumbrando esses documentos
4 O projeto se desenvolveu tendo como instituição original o Centro Universitário La Salle, em Canoas.
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audiovisuais como potenciais fontes históricas ainda intocadas por pesquisadores,
ao examinar o acervo, observamos que ali havia um tipo de produção cultural que
nos falaria sobre a história e a memória do Rio Grande do Sul, bem como sobre a
própria emissora pública (a primeira) de nosso Estado. O acervo data do início da
década de 1980, devido a incêndios nos dois prédios que abrigavam a emissora nos
anos 70 e início dos 80. Ele possui, hoje, em torno de 16 mil fitas em suportes
diversos de mídia: U-Matic, Super VHS, DVC Pro e DVD (entre outros, como as fitas
Quadruplex, que nem mais possuem equipamentos para visualização). Isso atesta,
certamente, as ausências dos mais variados governos e de seus projetos para a
cultura — ou a falta deles.
Ao traçarmos o objetivo geral do projeto, ou seja, ao “propor um diagnóstico da
situação do arquivo audiovisual da TVE, a partir do levantamento e da classificação
dos programas de televisão que historicamente constituíram as grades da emissora,
visando contribuir para a sua preservação, para o uso socialmente compartilhado
enquanto memória imagética e representação identitária da emissora e do Rio
Grande do Sul, e atentando à sua possível constituição como patrimônio cultural da
sociedade gaúcha”, sabíamos que não daríamos conta de examinar uma por uma
das 16 mil fitas que possui o acervo, mas o que não contávamos era com as outras
dificuldades, decorrentes, principalmente, da falta de recursos alocados a esse bem
cultural.
O espaço do arquivo em que se encontra o acervo de quase 16 mil fitas é
constituído de 2 salas: uma com equipamentos de visualização das fitas (de diversos
tipos de mídias) e 2 computadores, onde as fitas estão indexadas em um programa
próprio e os funcionários do arquivo procuram as imagens que os programadores e
técnicos da televisão pedem para sua programação diária; outra, fechada com porta
interna, onde estão alocadas em prateleiras todas as fitas da emissora. Estas salas
(uma dentro da outra) são pequenas e estão em condições muito precárias (poucos
móveis, poucos computadores e armário e, na sala das fitas, há infiltrações no teto,
podendo haver goteiras quando chove muito ou em temporais – como já houve no
meio da pesquisa, inundando a sala e ocasionando a perda de fitas e
consequentemente das imagens). Os equipamentos também estão em precárias
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condições, sendo que a máquina onde se visualiza as fitas U-Matics foi danificada
durante a pesquisa e não foi consertada até o seu final. Estas condições de
precariedade (pouquíssimos equipamentos, pouquíssimos funcionários e fitas em
mal estado de conservação) interferiram sobremaneira no andamento da pesquisa:
foi possível fazermos a coleta de dados somente em dois turnos da semana (quartas
e sextas pela manhã) e em horários bem reduzidos (das 9 às 11h da manhã). Estes
dias e horários nos foram estipulados pelo chefe do arquivo. Desta forma, embora
examinássemos as fitas inteiras, não foi possível examinar mais de 180 fitas do
montante durante o período do projeto estipulado para a coleta de dados (outras
variáveis como férias dos funcionários, estrago de equipamentos, entre outros
colaboraram para isto também).
As fitas da TVE estão em mídias diversas (U-Matic, Super VHS, DVC Pro e
DVD), como já foi dito, desde a década de 1980, com programações diversas; mas
também há muitas imagens brutas (ou seja, não utilizadas em programações da
emissora) e fitas com imagens editadas (nem sempre utilizadas em programações).
Elas estão dispostas no arquivo, em geral, pelo tipo de mídia e pela data de sua
realização. Porém, sabemos, pelos funcionários do arquivo, que muitas delas são
gravações em cima de gravações, pois não há – de tempos em tempos – verbas
para a compra de novas mídias virgens, portanto as antigas são regravadas. Só
saber deste detalhe já é um resultado de pesquisa que mostra o pouco investimento
(ou investimentos não totalmente adequados) que os gestores (governo do Estado)
fazem neste veículo de memória da sociedade. Dado importante ao diagnóstico que
fizemos, portanto, trata das condições precárias do arquivo (e de seu acervo: há
apenas um equipamento para verificar cada mídia, sendo que o equipamento para
as fitas U-Matics estragou durante nossa pesquisa, inclusive arrebentando as fitas; a
sala onde estão armazenadas as fitas possui infiltrações no teto e quando chove, as
goteiras molham e danificam as fitas; há poucos funcionários (2 ou 3 e recentemente
uma delas, muito antiga, faleceu por câncer); há fitas mais antigas (por exemplo, as
quadruplex) que nem mais possuem equipamentos para a sua verificação, porém,
continuam na sala de arquivo empilhadas em um canto.
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Um dos objetivos específicos do projeto era fazer o levantamento detalhado do
conteúdo das fitas existentes no arquivo, classificando-as em relação a assuntos,
gêneros, subgêneros e formatos das grades de programação da TVE nestes 40
anos, e registrando-as em um banco de dados proposto pelos pesquisadores, que
poderá, todavia, ser incluído pela emissora no Sistema Gerenciador de Bancos de
Dados que lhe aprouver. Desta forma, a meta seria obter um diagnóstico do acervo
audiovisual da TVE em relação a seu conteúdo imagético, organizar o material e
formar um banco de dados. Infelizmente, este objetivo foi apenas parcialmente
satisfeito, pois foi feito o exame de apenas 180 fitas (Gráficos 1 e 2), devido a
limitações que indicam, reitere-se, ausências, autoritarismos e instabilidades.
Gráfico 1 – Dados quantitativos das fitas analisadas
FONTE - Francielle Garcia (bolsista de Iniciação Científica).
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Gráfico 2 – Fitas analisadas (tipos de mídia) na Pesquisa
Fonte: Francielle Garcia) (bolsista de Iniciação Científica).
Nossa colaboração imediata e concreta para este bem cultural audiovisual da
sociedade gaúcha foi a construção de grades de descrição e análise das fitas
examinadas (fichas – como as denominamos) pelos componentes da equipe
(professoras, mestranda arquivista e alunos de IC), onde foram relatadas todas as
características e os conteúdos das fichas. Estas fichas descritivas foram todas
entregues aos arquivistas da TVE-RS a fim de alimentarem o banco de dados dos
indexadores de fitas que eles possuem em um dos dois computadores do arquivo.
Com isto, não foi possível fazer um novo banco de dados, como era a proposta
inicial, mas sim alimentar o banco de dados já existente, que ficou mais rico com o
nosso exame das fitas e suas descrições.
No entanto, nada indica que em meio a um processo de extinção da Fundação
Piratini, que resultará ou no fechamento da TVE e da FM Cultura ou na
transformação das emissoras em meras propagadoras de mensagens estatais, o
nosso trabalho, financiado por uma agência de fomento à pesquisa estatal no
mesmo governo que quer extinguir a Fundação Piratini, possa contribuir, enquanto
diagnóstico que foi, com o aprimoramento das políticas públicas culturais no Estado
do Rio Grande do Sul. Pois, o que obtivemos da atual administração pública foi nada
4.300
5.000
4.250
33 83 0
Fitas UMATIC Fitas Super VHS Fitas DVD pro
Fitas do arquivo audiovisual TVE
Quantidade total Quantidade Analisada
4.300
5.000
4.250
33 83 0
Fitas UMATIC Fitas Super VHS Fitas DVD pro
Fitas do arquivo audiovisual TVE
Quantidade total Quantidade Analisada
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mais do que políticas econômicas neoliberais, que em sua sanha privatista gera
nada mais do instabilidades na área da cultura.
Referências
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CHAUÍ, M. Cultura e democracia. Crítica y emancipación: Revista latinoamericana de Ciencias Sociales. Año 1, no. 1 (jun. 2008- ). Buenos Aires: CLACSO, 2008. Disponível em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf. Acesso em 27 abr.2017.
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FINGER, C. et al. Projeto Tecna – TVE-RS: desafios da televisão pública na cultura digital. In SANTOS, N.M.W.; COIRO-MORAS, A.L. TVS Públicas: memórias de arquivos audiovisuais. São Leopoldo (RS): Oikós, 2016. P.130-144.
FUNDAÇÃO PIRATINI. Disponível em http://www.fundacaopiratini.rs.gov.br/?model=conteudo&menu=81. Acesso em 27 abr.2017.
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