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anlise da "mensagem" de fernando pessoa Sobre a Mensagem de Pessoa Por detrs de um grande projecto, h sempre, quer queiramos quer no, uma grande ambio. A Mensagem um destes casos. Antes de falarmos da sua estrutura potica, deveremos falar sua super-estrutura funcional. Ou seja, devemos esclarecer os motivos de Pessoa, quando a quis escrever. Mensagem um livro que projecta as ambies de Pessoa, numa anlise mais a frio do que seria um Imprio Eterno, depois do Imprio Terreno que Portugal tinha construido e perdido para a corrupo que permeia todas as coisas materiais. O reino da paz, segundo Pessoa, surgiria apenas depois da converso de cada homem, da sua transformao interior, como diz e bem Agostinho da Silva em Um Fernando Pessoa. De facto Mensagem um livro talvez mais importante do que os Lusadas, porque se menos eloquoente mais simblico, falando ao interior e no tanto ao exterior. Mensagem uma obra de anlise profunda do passado e deo futuro, mas nunca do presente, e isso um ponto essencial quando a lemos. O poema est dividido em trs partes: Braso, Mar Portugus e O Encoberto. Qual a razo desta diviso? J l iremos. Antes disso preciso esclarecer que o livro esta profusamente imerso em simbolismo rosa-cruciano e templrio, o prprio Pessoa que o diz num texto que escreve a propsito de Mensagem, aps ter sido premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional. Isto quer dizer principalmente uma coisa: um texto de fraternidade e de paz, porque a paz um conceito que permeia todas as ideias rosa-crucianas e templrias. Avesso a noes ditas socialistas, Pessoa, considera-se um liberal de formao, pelo que coloca como pilares a serem respeitadas: o individuo, a nao e a humanidade. Isto apenas para esclarecer como Pessoa pode ser um maon mesmo se apenas em teoria e escrever um livro de teor to aparentemente nacionalista. Quanto diviso do livro h que dizer o seguinte: O Braso, como primeira parte, representa em simbolo a nobreza na sua essncia. Essa nobreza age no passado na segunda parte, O Mar Portugus e no futuro na terceira, O Encoberto. Trs elocues em latim acompanham cada parte, no seu inicio. Bellum sine bello para a primeira: ou seja, Guerra sem Guerrear, potncia sem acto, como diz Agostinho da Silva, ou seja a parte que se mantm sempre eterna, como nobreza e carcter. Possesio Maris para a segunda, ou seja, a nobreza que toma e possui com um acto, mas que com esse acto no se esgota minimamente apenas uma posse do mar, o ter e no o ser. na terceira parte, na Pax in Excelsis, paz nas alturas, em que o homem se ultrapassa finalmente a si mesmo e se realiza plenamente no que sempre foi. O Braso, representa a luta (Os Campos) pelo sangue de cristo, ou as chagas (As Quinas). Fundando certo a luta na convico da importncia do mito porque com Ulisses que Pessoa inicia Os Castelos, como que dizendo que as coisas morrem e essncia em mito se renova, renasce. As quinas representam, em cada chaga, um mrtir. Estes mrtires como que dizem que foi incorporado no selo nacional o prprio sofrimento de Cristo em gente sua, seus governantes. O sofrimento, que pode ser comparado vontade de Deus emanada no sonho dos

homens em conquistar O Mar Portugus - revela-se numa histria que no esgota um povo, embora o defina. O que de magistral se acha na quimera dos Descobrimentos, enfim, a realizao do que vale a pena a busca e que o mar permanece sempre igual, ou seja, se pode ser possuido, no pode ser incorporado nos homens. Um povo que descobriu na tristeza ps-Descobrimentos que as riquezas apenas nos indicam um novo horizonte mais distante. Completo o Imprio Material o das Indias, de frica e do Brasil, resta ainda e sobretudo o Imprio Espiritual, o Quinto Imprio. Esse tempo do Encoberto, anuncia-se pelos simbolos e pelos avisos, usados mais como confirmao do que j se tinha dito antes, do que propriamente como novidade inesperada para o futuro de um povo escolhido. Houve j o desencantamento com o ouro e com as pedras preciosas, o desencantamento com o que de slido o mundo tem a oferecer s mos gananciosas dos homens. A saudade do portugus, ser no tanto de regresso a esses tempos de posse, mas antes o regresso a um tempo que, anunciado ainda no se realizou. uma saudade do futuro, como bem se l por exemplo em Antnio Vieira relembre-se que ele escreve A Histria do Futuro, h que compreender como o futuro aqui se entrelaa com o passado e vice-versa. Chamemos-lhe uma misso divina, ou apenas o fim de um percurso de cinco sculos, a Mensagem nada mais do que Portugal virado para a Europa, mas da sua orla, do seu Atlntico feito universalidade. Mensagem um livro com uma finalidade universalista, como se pode perceber pelo que foi dito antes. Um poema trinitrio, onde se propom uma sintese o cerne da nobreza; uma anttese a posse do mar; e uma sintese a futura civilizao intelectual. Resumo de oito sculos, no s poesia que exalta, mas sobretudo poesia que obscurece para iluminar, pelas regras dos alquimistas. Poesia que simboliza para compreender, que limita para expandir, que diminui para ampliar. De intuito regenerador de conscincias, Mensagem no achou, porventura, ainda o seu tempo ideal para florescer. Ou talvez esse tempo no exista, ou se pretenda inexistente porque tempo feito da oportunidade em cada um de ns. Seja como for, uma obra to simples quanto complexa, como todas as coisas verdadeiramente importantes. Para a entendermos, teremos obviamente de nos tornarmos como ela, de sermos portugueses no seu sebastianismo, portugueses na sua simbologia oculta. "mensagem" e "histria do futuro" de antnio vieira A Histria do Futuro, do Padre Antnio Vieira foi uma obra destinada a explanar como Portugal seria a fonte de onde nasceria o Quinto Imprio e de como esse Quinto Imprio seria um Imprio no de terras, mas um Imprio Espiritual. O titulo, explica-se se atentar que o autor pretendia ir buscar so passado o futuro inevitvel da raa lusitana de feitos passados se ergue um futuro por nascer ergo uma Histria do Futuro. Ponto central da ligao da Histria do Futuro com a Mensagem: O Sebastianismo. Depois de enunciado por Cames, que preconizava o Sebastio vivo, Vieira faz nascer o Sebastio-mito feito esperana e renascimento, o Encoberto. Pessoa colhe o testemunho de Vieira, para transformar um tema que permeia os Lusiadas e que se vai progressivamente fechando sobre si prprio, num hermetismo difcil de apreender por aqueles que no "iniciados" nele. Por isso, Pessoa chama a Vieira "O Gro Mestre da Ordem Templria de Portugal". Trata-se de uma ordem imaginria, de que Pessoa se

considera um iniciado - como que dizendo, iniciado nos mistrio do significado de um Sebastianismo radicalmente diferente daquele presente n'Os Lusiadas. No entanto, se para Vieira, o cristianismo no incompativel, pelo contrrio era necessrio ao Sebastianismo, para Pessoa no assim. Pessoa um neo-pago, que cr mais nas foras dos homens do que nas foras dos deuses, e que refuta Jesus por no ser uma figura nacional, mas estrangeira. Jesus como logos, meio para uma religio que comea nos homens (Sebastio) e acaba nos homens.

A Mensagem1 ParteIII As Quinas Quinta / D. Sebastio, Rei de PortugalLouco, sim, louco, porque quis grandeza Qual a Sorte a no d. No coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal est Ficou meu ser que houve, no o que h. Minha loucura, outros que me a tomem Com o que nela ia. Sem a loucura que o homem Mais que a besta sadia, Cadver adiado que procria?

2 ParteXI. A ltima NauLevando a bordo El-Rei D. Sebastio, E erguendo, como um nome, alto o pendo Do Imprio, Foi-se a ltima nau, ao sol aziago Erma, e entre choros de nsia e de presgio Mistrio. No voltou mais. A que ilha indescoberta Aportou? Voltar da sorte incerta Que teve?

Deus guarda o corpo e a forma do futuro, Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro E breve. Ah, quanto mais ao povo a alma falta, Mais a minha alma atlntica se exalta E entorna, E em mim, num mar que no tem tempo ou 'spao, Vejo entre a cerrao teu vulto bao Que torna. No sei a hora, mas sei que h a hora, Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Mistrio. Surges ao sol em mim, e a nvoa finda: A mesma, e trazes o pendo ainda Do Imprio.

3 ParteI Os Smbolos Primeiro / D. Sebastio'Sperai! Ca no areal e na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa Em sonhos que so Deus. Que importa o areal e a morte e a desventura Se com Deus me guardei? O que eu me sonhei que eterno dura, Esse que regressarei.

I Os Smbolos Terceiro / O DesejadoOnde quer que, entre sombras e dizeres, Jazas, remoto, sente-se sonhado, E ergue-te do fundo de no-seres Para teu novo fado! Vem, Galaaz com ptria, erguer de novo, Mas j no auge da suprema prova, A alma penitente do teu povo Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gldio ungido, Excalibur do Fim, em jeito tal Que sua Luz ao mundo dividido Revele o Santo Gral!

III Os Tempos 5 NevoeiroNem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor bao da terra Que Portugal a entristecerBrilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-ftuo encerra. Ningum sabe que coisa quer. Ningum conhece que alma tem, Nem o que mal nem o que bem. (Que nsia distante perto chora?) Tudo incerto e derradeiro. Tudo disperso, nada inteiro. Portugal, hoje s nevoeiro... a Hora!

Anlise interna

As Quinas Quinta / D. Sebastio, Rei de Portugal Primeira / Segunda estrofeLouco por querer mais, procurar para alm da sorte. Mas foi maior do que ele a sua vontade, por isso sucumbiu no areal (de frica), ficando l o seu corpo, mas no a sua memria, o seu mito.

XI. A Ultima Nau Primeira estrofe

A nau em que D. Sebastio foi para Alccer-Quibir, viu-se pela ltima vez, alto um pendo (bandeira, sinal), era o pendo do Imprio material. Quando a nau desapareceu no horizonte, contra o sol que morria, no entanto em terra havia temores da expedio e contra ela. Ficou desaparecida, como no mistrio da morte do Rei.

Segunda estrofeDesapareceu D. Sebastio e com ele o velho Imprio Material, em que ilha misteriosa. Deus quem desenha o futuro dos homens, revela -se apenas no mistrio. No sonho escuro e breve.

Terceira estrofeQuanto mais a decadncia toma conta de Portugal, mais se exalta pelos exemplos do passado, o seu nacionalismo mtico enche-o num plano que no terrestre, mas infinito, no mar e v o vulto de D. Sebastio, e que ele quer retornar.

Quarta estrofeNo sabe quando ser a hora mas tem a certeza que vai acontecer, mesmo que demore. Quando ele a v, em revelao, a luz que invade e a mesma luz, a mesma nau, com o pendo.

I Os Smbolos Primeiro / D. Sebastio Primeira estrofeD. Sebastio pede tempo. Depois cai no areal. A morte a hora adversa que Deus concede aos seus, um intervalo em que a alma est imersa em sonhos que so Deus.

Segunda estrofeFala na morte no areal de Marrocos. A alma do Rei D. Sebastio est guardada, quem a guarda Deus, e a memria do Rei feita j Mito, esse regressar ou seja, El-Rei j noutro corpo.

Terceiro / O Desejado Primeira estrofeMesmo que a memria de D. Sebastio ande por entre sombras e rumores, ela pode ser reavivada novamente pelo sonho. Erguendo-se do facto de no existir, para novamente gerar vida.

Segunda estrofeVem, cavaleiro nobre da nao, erguer de novo o pas, agora em altura de grande dificuldade, para renovar a alma dos Portugueses. Com o exemplo e a liderana da tua imagem e smbolo.

Terceira estrofeMestre da Paz, ergue a tua memria de guerreiro de Deus, o teu direito divino, a tua verdade. Para que a luz que alimenta o teu mito caia no mundo dividido.

III Os Tempos Quinto Nevoeiro Primeira estrofeNem governante nem leis, nem tempos de paz ou de conflito, podem definir a verdade o presente triste. Portugal, pas pobre, sem esperana e entristecido. Vida exterior sem luz intensa, sem fogo de paixo e vontade, como surge nos materiais em decomposio.

Segunda estrofeOs portugueses no sabem o que verdadeiramente querem, no conhecem a sua alma. Tudo em Portugal parcial, no h vontade de erguer, n ada. Portugal no presente como o nevoeiro.

Terceira estrofe o momento de surgir o Quinto Imprio, a Nova Vida.

Anlise ExternaDiviso mtricaNin/gum/ sa/be/ que/ coi/sa /quer. Nin/gum/ co/nhe/ce /que al/ma/ tem, Nem /o/ que / mal/ nem/ o/ que / bem. (Que n/sia/ dis/tan/te/ per/to/ cho/ra?) Tu/do /in/cer/to e/ de/rra/dei/ro. Tu/do / dis/per/so,/ na/da in/tei/ro. / Por/tu/gal,/ ho/je s/ ne/vo/eiro...

Mtrica e RitmoTem sete versos (stima), cada versos e composto por oito s labas mtricas

(octossilbicos), esquema rimtico: ABBCDDD com rima solta, emparelhada.

Recursos estilsticosA MensagemPleonasmo ex: mim minha certeza: Hiprbole ex: choros de nsia Personificao ex: alma atlntica Anfora ex: E entorna, E em mim Invocao ex ; Demore-a Deus Sindoque ex: Surges ao sol em mim, e a nvoa finda: Comparao ex; Nem o que mal nem o que bem. Hiprbato ex: Mas j no auge da suprema prova

Analise morfossinttica Ningum sabe que coisa quer.

Analise sintcticaNingum sabe Orao subordinante que coisa quer Orao subordinada integrante 1 Orao Ningum sujeito indeterminado Sabe predicado 2 Orao Sujeito - subentendido

que coisa quer. Complemento Directo da orao subordinante quer - predicado coisa - Complemento Directo

Analise morfolgicaNingum pronome indefenido sabe forma do verbo Saber no presente do indicativo 3 pessoa do singular que pronome relativo coisa substantivo comum abstracto, feminino grau normal singular quer forma do verbo Querer no presente do indicativo 3 pessoa do singular

A MensagemA Mensagem uma obra composta por trs partes, Braso, Mar Portugus e Encoberto, cada uma destas partes subdivididas em noutras: Braso 5 partes; Mar Portugus 1 parte com 12 poemas e o Encoberto 3 partes. Esta diviso tem um simbolismo e tem como base o facto das profecias se realizarem trs vezes, ainda que de modo diferente e em tempos distintos. Corresponde evoluo do imprio portugus que tal como o ciclo da vida, passa por trs fases: Braso nascimento/fundadores; Mar Portugus vida/realizao e O Encoberto morte/ressurreio. Na primeira parte, o Braso: o princpio da nacionalidade em que fundadores e antepassados criaram a ptria. Em o Ulisses, o smbolo da renovao dos mitos: Ulisses de facto no existiu mas bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao penetrar na realidade, faz o milagre de tornar a vida mundana insignificante. irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou no existncia histrica, Sem existir nos bastou/Por no ter vindo foi vindo/E nos criou .. O que importa o que elas representam. Da serem figuras incorpreas, que servem para ilustrar o ideal de ser portugus. Em D. Dinis, smbolo da importncia da poesia na construo do Mundo. Pessoa v D. Dinis como o rei capaz de antever o futuro e interpreta isso atravs das suas aces. Ele plantou o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da voz da terra ansiando pelo mar, ou seja, do

desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade. Em D. Sebastio, rei de Portugal, smbolo da loucura audaciosa e aventureira, Sem a loucura que o homem/ Mais que a besta sadia,/ Cadver adiado que procria?. Ora, D. Sebastio, apesar de ter falhado o empreendimento pico, foi em frente, e morreu por uma ideia de grandeza, e essa a ideia que deve persistir, mesmo aps sua morte, Ficou meu ser que houve, no o que h./Minha loucura, outros que a tomem/Com o que nela ia.. Na segunda parte, o Mar Portugus a realizao atravs do mar em que heris com uma grande misso de descobrir foram construtores do grande destino da Nao. Em O Infante, smbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele rene todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermedirio entre os homens e Deus, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.. Em Mar Portugus, smbolo do sofrimento por qu e passaram todos os portugueses: a construo de uma supra-nao, de uma Nao mtica implica o sacrifcio do povo, mar salgado, quanto do teu sal/So lgrimas de Portugal!. Em O Mostrengo, smbolo dos obstculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram que enfrentar para realizar o seu sonho: revoltado por algum usurpar os seus domnios, O Mostrengo uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de completarem o seu destino, Quem que ousou entrar/Nas minhas cavernas que no desvendo, /Meus tectos negros do fim do mundo?. Na terceira parte, O Encoberto, a morte ou fim das energias latentes o novo ciclo que se anuncia que trar a regenerao e instaurar um novo tempo. Em O Quinto Imprio, smbolo da inquietao necessria ao progresso, assim como o sonho: no se pode ficar sentado espera que as coisas aconteam; h que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro; h que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se , Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem um sonho, no erguer da asa.../Triste de quem feliz!. O Quinto Imprio de Pessoa a mstica certeza do vir a ser pela lio do ter sido, o Portugal -esprito, vivente de cultura e esperana, tanto mais forte quanto a hora da decadncia a estimula. Em Nevoeiro, smbolo da nossa confuso, do estado catico em que nos encontramos, tanto espiritual e emocional como mentalmente: algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltarmos a ser o que ramos, (Que nsia distante perto chora?), mas no temos os meios, Nem rei nem lei, nem paz nem guerra.... Com a Mensagem, Fernando Pessoa pretende dar a conhecer aos portugueses os feitos dos seus antepassados e a conquista do Quinto imprio.

Mensagem 44 Poemas 19 1. Parte Braso I Os campos 1. O dos Castelos 2. O das Quinas II Os Castelos 1. Ulisses 2. Viriato 3. O Conde D. Henrique 4. D. Tareja 5. D. Afonso Henriques 6. D. Dinis 7(I). D. Joo o Primeiro 7(II). D. Filipa de Lencastre III Quinas 1. D. Duarte, Rei de Portugal 2. D. Fernando, Inf. de Portugal 3. D. Pedro, Reg. de Portugal 4. D. Joo, Infante de Portugal 5. D. Sebastio, Rei de Portugal IV A Coroa Nuno lvares Pereira V O Timbre A Cabea do grifo: O Infante D. Henrique Uma Asa do Grifo: D. Joo o Segundo 12 2. parte Mar Portugus I O Infante II Horizonte III Padro IV O Mostrengo V Epitafio de Bartolomeu Dias VI Os Colombos VII Ocidente VIII Ferno de Magalhes IX Ascenso de Vasco da Gama X Mar Portugus XI - A Ultima Nau XII: Prece 13 3. Parte O Encoberto I Os Smbolos 1. D. Sebastio 2. O Quinto Imprio 3. O Desejado 4. As Ilhas Afortunadas 5. O Encoberto II Os Avisos 1. O Bandarra 2. Antnio Vieira 3. 'Screvo meu livro beiramgoa. III Os Tempos 1. Noite 2. Tormenta 3. Calma 4. Antemanh 5. Nevoeiro

A Outra Asa do Grifo: Afonso de Albuquerque Origem da nossa nacionalidade, destacando-se figuras mticas (Ulisses ) e histricas ( D. Dinis , D. Sebastio, Rei de Portugal, o sonhador, o lutador) Apogeu dos Portugueses conseguido pelas descobertas: O Infante O Mostrengo Mar Portugus Fim das energias, simbolizado pelo nevoeiro que envolve Portugal. Vinca-se o mito sebastianista com a figura do Encoberto. Esperana e impacincia do poeta na vinda do Messias, para a construo do Quinto Imprio (Quando o Rei? Quando a Hora? Screvo meu libro beira-mgoa ) Vida Morte Ressurreio

Nascimento

A HistriaA MensagemNa obra A Mensagem, Fernando Pessoa escreve Histria de um povo portugus herico e um Rei, que apesar de Mito, constitui o Quinto Imprio, o Imprio Espiritual emergente. A primeira parte da obra, designada por BRASO, expe a situao e Localizao de Portugal na Europa na poca dos Descobrimentos (construo do Imp rio portugus) A Europa jaz, posta nos cotovelos:/De Oriente a Ocidente jaz, fitando,/E toldam-lhe romnticos cabelos/Olhos gregos, lembrando. /O cotovelo esquerdo recuado;/O direito em ngulo disposto./Aquele diz Itlia onde pousado;/Este diz Inglaterra onde, afastado,/A mo sustenta, em que se apoia o rosto./Fita, com olhar esfngico e fatal,/O Ocidente, futuro do passado./O rosto com que fita Portugal. (Os Castelos Os Campos), h uma comparao entre o mapa fsico da Europa com figura feminin a humana, conta a situao de apoio

de Inglaterra para com Portugal e, revela a importncia de Portugal, como sendo rosto da Europa smbolo de humanidade, sonho e mistrio. Nesta Parte I, h referncia ao mito de Ulisses, ligado a nossa capital Lisboa, pois apesar de ele ser um mito, tornou-se um smbolo de incentivo para lusitanos. Pessoa foi ao mtico Ulisses pois no o quis apagar, ao contrrio do que fez Cames aos deuses clssicos e s suas lendas; pelo contrrio, apesar de lenda, deu-lhe o nome de fundador de Portugal e da Europa, O mito o nada que tudo./O mesmo sol que abre os cus/ um mito brilhante e mudo/O corpo morto de Deus,/Vivo e desnudo./Este, que aqui aportou,/Foi por no ser existindo./Sem existir nos bastou./Por no ter vindo foi vi ndo/E nos criou./Assim a lenda se escorre/A entrar na realidade,/E a fecund-la decorre./Em baixo, a vida, metade/De nada, morre. (Ulisses Os Castelos). Tal como em Os Lusadas, Pessoa refere, tambm, a histria do bravo Viriato. No poema de Pessoa, este descreve-o como destro guerreiro, sofrendo na pele e no corao as injrias da Roma famosa, vencedor invencvel no sujeito humilhao que Roma atormentara ao comandante Pirro, o que atacou Roma com um exrcito de elefantes, atravessando os Alpes (nota-se a ironia do termo primor), Se a alma que sente e faz conhece/S porque lembra o que esqueceu,/Vivemos, raa, porque houvesse/Memria em ns do instinto teu./Nao porque reencarnaste,/Povo porque ressuscitou/Ou tu, ou o de que eras a haste /Assim se Portugal formou. /Teu ser como aquela fria/Luz que precede a madrugada,/E j o ir a haver o dia/Na antemanh, confuso nada. (Viriato Os Castelos). Fernando Pessoa tambm escreve sobre Conde D. Henrique, fala do facto de este se ter visto desorientado perante o enorme problema que era consolidar Condado Portucalense perante os Mouros (e por ter sido o primeiro a principiar os Descobrimentos), bem como de D. Afonso Henriques, como sendo a Fora, o Exemplo e a nossa bno, Todo comeo involuntrio./Deus o agente,/O heri a si assiste, vrio/E inconsciente./ espada em tuas mos achada/Teu olhar desce./Que farei eu com esta espada?(O Conde D. Henrique Os Castelos), Pai, foste cavaleiro./Hoje a viglia nossa./D-nos o exemplo inteiro/E a tua inteira fora!/D, contra a hora em que, errada,/Novos infiis venam,/A bno como espada,/A espada como bno! (D. Afonso Henriques Os Castelos). Em A Mensagem, D. Dinis salientado como O Poeta, O Lavrador, O Rei, O Elogio cultura como sendo o caminho para o to ambicionado Quinto Imprio. O poema D. Dinis um Cantar de Amigo e profetiza a epopeia martima, Na

noite escreve um seu Cantar de Amigo/O plantador de naus a haver,/E ouve um silncio mrmuro consigo:/ o rumor dos pinhais que, co mo um trigo/De Imprio, ondulam sem se poder ver./Arroio, esse cantar, jovem e puro,/Busca o oceano por achar;/E a fala dos pinhais, marulho obscuro,/ o som presente desse mar futuro,/ a voz da terra ansiando pelo mar. (D. Dinis Os Castelos). Em D. Joo, o primeiro, Pessoa mostra que D. Joo e sua esposa D. Filipa de Lencastre foram a origem da gerao de Avis (infantes) e D. Joo foi Mestre sem saber, defensor do Templo sagrado da Ptria e a eterna chama de Portugal, O homem e a hora so um s/Quando Deus faz e a histria feita./O mais carne, cujo p/A terra espreita./Mestre, sem o saber, do Templo/Que Portugal foi feito ser,/Que houveste a glria e deste o exemplo/De o defender, /Teu nome, eleito em sua fama,/, na ara da nossa alma interna,/A que repele, eterna chama,/A sombra eterna. (D. Joo, o primeiro Os Castelos), Que enigma havia em teu seio/Que s gnios concebia?/Que arcanjo teus sonhos veio/Velar, maternos, um dia? /Volve a ns teu rosto srio,/Princesa do Santo Gral,/Humano ventre do Imprio, /Madrinha de Portugal! (D. Filipa de Lencastre Os Castelos). H uma referencia a D. Duarte, O Eloquente, homem de letras, deixou de lado guerra e dedicou-se cultura e cumpriu de corpo e alma o destino da governao, Meu dever fez-me, como Deus ao mundo./A regra de ser Rei almou meu ser,/Em dia e letra escrupuloso e fundo. /Firme em minha tristeza, tal vivi./Cumpri contra o Destino o meu dever./Inutilmente? No, porque o cumpri. (D. Duarte, rei de Portugal As Quinas). No poema D. Fernando, o infante de Portugal, o tema a honra/dever, desgraa/priso, aceitao do martrio e f, Deu-me Deus o seu gldio porque eu faa/A sua santa guerra./Sagrou-me seu em honra e em desgraa,/s horas em que um frio vento passa/Por sobre a fria terra. /Ps-me as mos sobre os ombros e doirou-me/A fronte com o olhar;/E esta febre de Alm, que me consome,/E este querer grandeza so seu nome/Dentro em mim a vibrar. /E eu vou, e a luz do gldio ergui do d/Em minha face calma./Cheio de Deus, no temo o que vir,/Pois, venha o que vier, nunca ser/Maior do que a minha alma. (D. Fernando, o infante de Portugal As Quinas). Pessoa, nesta primeira parte, fala de D. Sebastio, fazendo um elogio loucura, como sendo esse o nico caminho para o Quinto Imprio. D. Sebastio representa o mito que esperana, que a ambio, que loucura, pois sem loucura/sonho/paixo, no valeria viver,Louco, sim, louco, porque quis grandeza/Qual a Sorte a no d./No coube em mim minha certeza;/Por isso

onde o areal est/Ficou meu ser que houve, no o que h./Minha loucura, outros que me a tomem/Com o que nela ia./Sem a loucura que o homem/Mais que a besta sadia,/Cadver adiado que procria? (D. Sebastio, rei de Portugal As Quinas). Ao terminar a Parte I, Pessoa mostra que Portugal tinha uma marca nobre, um Braso, uma Histria, um mito, uma cultura e um sonho, logo, estavam prontos para ir para o Mar Portugus. Na Parte II, MAR PORTUGUS, no poema Ascenso de Vasco da Gama, h um louvor ao povo portugus, nomeadamente a Vasco da Gama, personalidade to distinta na nossa Histria, Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra/Suspendem de repente o dio da sua guerra/E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos cus/Surge um silncio, e vai, da nvoa ondeando os vus/Primeiro um movimento e depois um assombro/Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,/E ao longe o rastro ruge em nuvens e clares./ Em baixo, onde a terra , o pastor gela, e a flauta/Cai-lhe, e em xtase v, luz de mil troves,/O cu abrir o abismo alma do Argonauta. (Ascenso de Vasco da Gama). Nesta segunda parte, o poema mais clebre, o que condensa a (futura) glria dos Lusitanos que marcar para sempre a Histria dos portugueses: ao sangue, as lgrimas das mes e mulheres, o medo, a esperana, o mar salgado e a coragem, aqui no h glria nem derrota, apenas o inicio do caminho doloroso, mar salgado, quanto do teu sal/So lgrimas de Portugal!/Por te cruzarmos, quantas mes choraram,/Quantos filhos em vo rezaram!/Quantas noivas ficaram por casar/Para que fosses nosso, mar!/Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se a alma no pequena./Quem quer passar alm do Bojador/Tem que passar alm da dor./Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/Mas nele que espelhou o cu. (Mar Portugus). Na Parte III, O ENCOBERTO, Fernando Pessoa mostra a situao de um Portugal bem diferente do do incio da obra, revela-se uma nao mais imperfeita, em crise poltica, em crise de idade, em crises de valores. O poema Nevoeiro, um cumprimento com dois contedos/sentidos: escurido e noite, esperana e sonho (ligados lenda do regresso de D. Sebastio numa manh de Nevoeiro). O pas est mal, mas h esperana, e esta a Hora! para voltar ao inicio, ao Braso, glria, comeando o Quinto Imprio, Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,/Define com perfil e ser/Este fulgor bao da terra/Que Portugal a entristecer/Brilho sem luz e sem arder,/Como o que o fogo -ftuo encerra./ Ningum sabe que coisa quer./Ningum conhece que alma tem,/Numa o que mal numa o que

bem/.(Que nsia distante perto chora?)/Tudo incerto e derradeiro./Tudo disperso, nada inteiro./ Portugal, hoje s nevoeiro... / a hora!/ Valete, Fratres. (Nevoeiro).

A MensagemNa obra A Mensagem, alm dos mitos, lendas e sonhos, Pessoa tambm descreve episdios essenciais da nossa Histria, nomeadamente algumas conquistas e descobertas dos lusitanos, que contriburam para formao do Imprio Portugus e o to desejado Quinto Imprio. No Poema, Nuno lvares Pereira, Pessoa associa fama de D. Joo aurola que era Nuno lvares Pereira para Portugal, este era o Messias, o heri, a figura da Batalha de Aljubarrota, o santo singular, onde se rev a Ptria; este poema pode ser interpretado como uma glorificao terminada em prece (Ergue a luz da tua espada/Para a estrada se ver!), para que os portugueses sejam guiados por Nuno Pereira e sigam o seu Destino, para que sejam to vitoriosos quanto o Rei Artur e a sua espada sagrada, Que aurola te cerca?/ a espada que, volteando,/Faz que o ar alto perca/Seu azul negro e brando./Mas que espada que, erguida,/Faz esse halo no cu?/ Excalibur, a ungida,/Que o Rei Artur te deu./Sperana consumada,/S. Portugal em ser,/Ergue a luz da tua espada/Para a estrada se ver!. Fernando Pessoa abre a segunda parte da obra com uma viagem inicitica que permite a realizao do sonho (espiritual, cultural e fsico), com uma perspectiva de algo desconhecido, longe, nublado, fantasmagrico ( Nevoeiro), mas que o sonho, o desejo, a esperana, a vontade faz com que lutemos contra a neblina e sigamos em frente, com f, alma e sonho de realizao, como Diogo Co fez (Padro). Este lembrado por ter dado o primeiro passo para abrir o horizonte do sul e, assim, dobrar o Cabo Bojador, tor nando-se um momento de descoberta de um caminho martimo, de jbilo, de conhecimento do diferente, desconhecido, mar anterior a ns, teus medos/Tinham coral e praias e arvoredos./Desvendadas a noite e a cerrao,/As tormentas passadas e o mistrio,/Abria em flor o Longe, e o Sul sidrio/Splendia sobre as naus da iniciao./Linha severa da longnqua costa /Quando a nau se aproxima erguese a encosta/Em rvores onde o Longe nada tinha;/Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:/E, no desembarcar, h aves, flores,/Onde era s, de longe a abstracta linha. /O sonho ver as formas invisveis/Da distncia imprecisa, e, com sensveis/Movimentos da esprana e da vontade,/Buscar na linha fria do horizonte/A rvore, a praia, a flor, a ave, a fonte/Os beijos merecidos da

Verdade. (Horizonte); O esforo grande e o homem pequeno./Eu, Diogo Co, navegador, deixei/Este padro ao p do areal moreno/E para diante naveguei./A alma divina e a obra imperfeita./Este padro sinala ao vento e aos cus/Que, da obra ousada, minha a parte feita:/O por-fazer s com Deus./E ao imenso e possvel oceano/Ensinam estas Quinas, que aqui vs,/Que o mar com fim ser grego ou romano:/O mar sem fim portugus./E a Cruz ao alto diz que o que me h na alma/E faz a febre em mim de navegar/S encontrar de Deus na eterna calma/O porto sempre por achar. (Padro). Bartolomeu Dias o smbolo da passagem do Cabo das Tormentas (posterior Cabo da Boa Esperana), enfrentou o desconhecido e elaborou o novo atlas, uma vez que foi ele que dobrou o to pavoroso cabo, que nos deu acesso a um novo caminho, mais fcil, para um novo mundo. Assim, o assombrado Cabo foi desvendado e j ningum o temeu, Jaz aqui, na pequena praia extrema,O Capito do Fim. Dobrado o Assombro,O mar o mesmo: J ningum o tema!Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.( Epitfio de Bartolomeu Dias). Este cabo est ligado ao Mostrengo, o smbolo do poder de realizao e luta dos portugueses, O mostrengo que est no fim do mar/Na noite de breu ergueu-se a voar;/ roda da nau voou trs vezes,/Voou trs vezes a chiar,/E disse: Quem que ousou entrar/Nas minhas cavernas que no desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?/E o homem do leme disse, tremendo:/EI-Rei D. Joo Segundo!/ De quem so as velas onde me roo?/De quem as quilhas que vejo e ouo?/Disse o mostrengo, e rodou trs vezes,/Trs vezes rodou imundo e grosso,/Quem vem poder o que s eu posso,/Que moro onde nunca ningum me visse/E escorro os medos do mar sem fundo?/E o homem do leme tremeu, e disse:/EI-Rei D. Joo Segundo! Trs vezes do leme as mos ergueu,/Trs vezes ao leme as reprendeu,/E disse no fim de tremer trs vezes:/Aqui ao leme sou mais do que eu:/Sou um Povo que quer o mar que teu;/E mais que o mostrengo, que me a alma teme/E roda nas trevas do fim do mundo,/Manda a vontade que me ata ao leme,/De El-Rei D. Joo Segundo! (O Mostrengo).

A obra de Fernando Pessoa existe uma ligao entre o Acto e o Destino, o Acaso e a Vontade, uma vez que Portugal teve a ousadia e o conhecimento, a alma divina e o meio para enfrentar horizontes. Esta alma divina originou a ousadia para descobrir o mar sem fim em contraste com o mar limitado (Mediterrneo dos Gregos e Romanos), Com duas mos o Ato e o Destino /Desvendamos. No mesmo gesto, ao cu/Uma ergue o facho trmulo e divino/E a outra afasta o vu./Fosse a honra que haver ou a que havia/A mo que ao Ocidente o vu rasgou,/Foi alma a Cincia e corpo a Ousadia/Da mo que desvendou./Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal/A mo que ergueu o fac ho que luziu,/Foi Deus a alma e o corpo Portuga/lDa mo que o conduziu. (O Ocidente). Como no podia deixar de ser, o Sebastianismo dos tema centrais. A partida de El.Rei D. Sebastio provoca uma grande variedade de emoes e arca com o mistrio e o desejo de realizao do sonho/misso impossvel em prol do Imprio, bem como a conscincia dos perigos e das possveis iluses e incertezas. A conquista mais desejada ser o regressos deste Rei, que representa toda liberdade, f, unio, fora e certezas de que o povo precisa, ou seja, o Quinto Imprio, Levando a bordo El-Rei DE. Sebastio,/E erguendo, como um nome, alto o pendo/Do Imprio,/Foi -se a ltima nau, ao sol aziago/Erma, e entre choros de nsia e de pressago/Mistrio./ No voltou mais. A que ilha indescoberta/Aportou? Voltar da sorte incerta/Que teve?/Deus guarda o corpo e a forma do futuro,/Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro/E breve. Ah, quanto mais ao povo a alma falta,/Mais a minha alma atlntica se exalta/E entorna,/E em mim, num mar que no tem tempo ou espao/,Vejo entre a serrao teu vulto bao/Que torna. No sei a hora, mas sei que h a hora,/Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora/Mistrio./Surges ao sol em mim, e a nvoa finda:/A mesma, e trazes o pendo ainda/Do Imprio. (A ltima Nau).

Pensamentos do poetaA MensagemNo braso II, em Os Castelos, no poema Ulisses, na ltima estrofe, a passagem do nada ao tudo: a lenda vem (escorre) de cima; ao entrar na realidade, fecunda-a fazendo o milagre de tornar irrelevante a vida c de baixo, dita do mundo real, objectivo: Em baixo, a vida, metade/De nada,

morre. S readquire vida aquilo que o mito/nada tudo fecunda e o processo no do passado, mas intemporal de onde os tempos verbais de presente. irrelevante, parece dizer Pessoa desde este poema, que as figuras de que vai ocupar-se, os heris fundadores, tenham tido ou no existncia histrica o que importa que todos eles tenham funcionado com a fora do mito, que, no existindo, tudo. Em D. Dinis, Pessoa vai ver D. Dinis como o rei capaz de antever futuros, justamente porque poeta visionrio, em cujo cantar de amigo se fundem um rumor a fala dos pinhais e o mar futuro. Por isso ele visto como plantador de naus a haver, as naus/cantar de amigo, que desvendaro, no futuro que ele sonha, o oceano por achar (que a Europa e Portugal fitam, com olhar esfngico e fatal, como sabamos j). No poema, os pinhais plantados pelo rei poeta visionrio so um trigo de imprio e ondulam sem se poder ver (porque futuros s acessveis aos sonhadores); a fala dos pinhais , assim, o som presente desse mar futuro/ a voz da terra ansiando pelo mar. No Braso parte III, em as Quinas, no poema D. Fernando, Infante de PortugalUma vez recebida a marca divina o seu gldio num presente disfrico, definido como horas em que um frio vento passa/Por sobre a fria terra , as consequncias da aco divina sobre o Eu fazem-se sentir: doirou-me a fronte e a inquietao: febre de Alm, querer grandeza. Em D. Sebastio, Rei de Portugal, onde Fernando Pessoa diz: Sem a loucura que o homem/Mais que a besta sadia,/Cadver adiado que procria?,este final soberbo, que define a loucura, o sonho, como que distingue o homem da besta sadia, cadver adiado que procria, d o tom ltimo Mensagem pessoana: o louvor da loucura que distingue o homem do animal e o faz ir em frente, haja o que houver na busca da realizao do sonho. Na realidade, perante o poder mobilizador do sonho loucura, a morte no passa de contingncia fsica; tal divina loucura fonte de energia que leva o homem a ser mais do que , na sua contingncia fsica, feita de fraqueza, de bichos da terra e a morte muito pouco e no , de facto, o que pode

impedir que o sonho prossiga noutras mos. E a Histria, essa, resultar, v-loemos mais adiante, da vontade de Deus e do sonho do Homem. Em Mar Portugus, no poema O Infante, onde Pessoa nos diz: Quem te sagrou criou-te portugus./Do mar e ns em ti nos deu sinal./Cumpriu-se o Mar, e o Imprio se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!, esta quadra (terceira) representa, j, uma segunda parte, um momento de sntese e reflexo. Quem (Deus) te (homem) sagrou, sagrou-te portugus para reflectir o significado histrico: Do mar e ns em ti nos deu sinal e aqui retoma-se a ideia do sinal, signo, bandeira j presente no poema D. Fernando Cumpriuse o mar (resultado do sonho do Infante e da vontade divina). E, bruscamente, em corte repentino, a passagem para o presente e o Imprio se desfez j a tristeza, o nevoeiro a ensombrar os nossos dias. No horizonte, o desvendar da noite, do mistrio, o passar das tormentas, o descobrir, por detrs do Longe (metfora do Desconhecido), quase invisvel (s visvel aos sonhadores, sagrados por Deus), a Natureza mais luxuriante, no aproximar das naus l, na mtica ilha de Vnus ou nsua divina e a receber os beijos merecidos da Verdade. Heri, afinal, aquele que v o invisvel e o atinge, vencendo o desconhecido e os medos, e recebendo o prmio de uma ilha toda ela de sonho, talvez, mas, a Verdade. Em o Mostrengo, trata-se de retomar a alegoria presente no Adamastor (Cames) o Mostrengo que assusta e ameaa os navegadores (neste poema o homem do leme ao servio de D. Joo II) e que vencido pelo frgil bicho da terra to pequeno, que se diz vontade de um povo que quer o mar que o monstro diz ser seu. No poema Mar Portugus, na primeira estrofe, este poema apresenta o que de sofrimento custou, a quem ficava em terra. A conquista do mar, cujas guas salgadas so lgrimas de Portugal. Na segunda estrofe, o balano: ter mesmo valido a pena? Pessoa responde que sim, porque tudo vale a pena se a alma no pequena. Toda a vitria implica passar alm da dor. Em A ltima Nau, este poema mais um dos consagrados a D. Sebastio e ao sonho com que ele se foi, a bordo dA ltima nau a que no voltou mais, a que ningum sabe se atingiu uma ilha indescoberta ou se voltar algum dia. O sonho sonhado pelos seus marinheiros ficou interrompido, mas, diz o poeta, Deus, que guarda o corpo e a forma do futuro, pode project-lo, sonho escuro/e breve.

O poeta, capaz ainda de sonhar futuros, consegue ver, diz, entre a serrao, o vulto bao do Rei que torna. Ele, poeta do presente, do sc. XX, sabe que h a hora (ainda que no saiba quando, exactamente) do regresso de D. Sebastio/ sonho por cumprir. Assim se repita o ciclo: Deus volte a querer e o homem volte a sonhar. para a que aponta o ltimo poema de Mar Portugus. No poema Prece, um poema em que se reflecte sobre o presente luz do passado. O passado foi a tormenta, a vontade, e deixou -nos, como herana, o mar universal e a saudade. O presente, esse, diz Pessoa, Senhor, a noite veio e a alma vil, mas diz tambm na segunda estrofe, h lugar para alguma esperana: mas a chama, que a vida em ns criou,/se ainda h vida, ainda no finda. Ela estar, porventura, oculta em cinzas, mas pode ser erguida pela mo do vento. Por isso, a prece: que Deus volte a querer dar o sopro, a aragem ou desgraa ou nsia , capaz de nos reerguer, para que outra vez conquistemos a Distncia/Do mar ou outra, mas que seja nossa!. Na terceira e ltima parte da mensagem O Encoberto I, na parte dOs Smbolos, no poema O Quinto Imprio, trata-se de um poema que afirma uma filosofia sobre o homem e o viver. Para o poeta, a nica coisa que faz sentido na vida o sonho Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem que um sonho, no erguer de asa,/Faa at mais rubra a brasa/Da lareira a abandonar. Ou seja: sem o sonho, capaz de remover montanhas, a vida triste, ainda que no conforto sensato do lar, Eras sobre eras se somem/No tempo que em eras vem./Ser descontente ser homem./Que as foras cegas se domem/Pela viso que a alma tem!. A histria faz-se de descontentes, e ser descontente, como diz, prprio do homem, capaz de ter como fora condutora a viso que a alma tem. Na terceira parte do O Encoberto, na parte de Os Tempos, no poema a Noite, Pessoa conta a histria nos dois primeiros momentos do poema e extrai a concluso no ltimo: os dois irmos (Gaspar e Miguel) so agora os irmos smbolos do nosso nome: o Poder e o Renome que so, j, passado. Compete nos a ns ir busc-los, libertando-nos desta vil/Nossa priso servil. S que, tal como outrora, o Rei no dera licena de partir ao terceiro dos irmos, tambm agora Deus no d licena que partamos. No ltimo poema dA Mensagem, o Nevoeiro, o poema aponta para um tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado por palavras e expresses de negatividade, caracterizando uma situao de crise a vrios nveis: poltico: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra; crise de identidade, tambm: este fulgor bao da terra/Que Portugal e entristecer/Brilho sem luz e sem

arder/Como o que o fogo -ftuo encerra; crise de valores morais, da alma: Ningum sabe que coisa quer,/Ningum conhece que alma tem,/Nem o que mal, nem o que bem. a Hora!, mas de qu? Pessoa no o diz, mas todo o livro o significa: a Hora de partir, de novamente conquistarmos a Distncia/Do mar ou outra, mas que seja nossa! (poema Prece), de assumirmos o sonho, cumprindo o nosso destino assim a Obra nascer de novo, como em Mar Portugus e poderemos viver a verdade/que morreu D. Sebastio.

ConclusoNo final deste trabalho chegamos concluso que A Mensagem no um poema nacional, uma verso moderna, espiritualista e proftica dos Lusadas. O que seria uma exaltao de valores nacionais converteu-se numa exortao renovadora e corajosa a D. Sebastio (vivo Lusadas ou como mito Mensagem). Os Lusadas foram dedicados a um povo guerreiro e a um Rei aventureiro, em A Mensagem, esse mesmo Rei est humilhado e despido de coisas humanas, por isso, consideramos que toda a Histria, toda alegria, toda emoo, toda aventura e toda glria descrita, em Os Lusadas constitui uma esperana e em A Mensagem, um sonho, uma utopia, Sem a loucura que o homem/mais que a besta sadia,/cadver adiado que procria?(Mensagem). Como Prado Coelho afirmou, Em contraste com o realismo dOs Lusadas ( ) a Mensagem reage pela altiva rejeio a um Real oco, absurdo, intolervel, propondo-nos em seu lugar a nica coisa que vale a pena: o imaginrio.

Alberto Caeiro ( O Mestre )

Caractersticas temticas Objectivismo; Sensacionismo; Antimetafsico (recusa do conhecimento das coisas); Pantesmo naturalista (adorao pela natureza).

Caractersticas estilsticas

Verso livre, mtrica irregular; Despreocupao a nvel fnico; Pobreza lexical ( linguagem simples, familiar); Adjectivao objectiva; Pontuao lgica; Predomnio do presente do indicativo; Frases simples; Predomnio da coordenao; Comparaes simples e raras metforas.

lvaro de Campos

Caractersticas temticas Decadentismo cansao, tdio, busca de novas sensaes ; Futurismo - corte com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vidamoderna. O vocabulrio onomatopaico pretende exaltar a modernidade;

Sensacionismo - corrente literria que considera a sensao como base de toda aarte;

Pessimismo ltima fase, vencidismo;

Caractersticas estilsticas Verso livre, em geral, muito longo; Assonncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliteraes (por vezes ousadas); Grafismos expressivos; Mistura de nveis de lngua; Enumeraes excessivas, exclamaes, interjeies, pontuao emotiva; Desvios sintcticos; Estrangeirismos, neologismos; Subordinao de fonemas; Construes nominais, infinitivas e gerundivas; Metforas ousadas, oxmeros, personificaes, hiprboles; Esttica no aristotlica na fase futurista.