memória e ficção na correspondência do escritor joão antônio

16
Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio Resumo O escritor João Antônio sempre fez questão de, em entrevistas ou textos autobiográficos, aliar sua produção lite- rária à sua história de vida. Este é também um aspecto encon- trado em sua correspondência trocada com o amigo de longa data Jácomo Mandatto. São mais de três décadas de troca de cartas, cujo montante acaba por configurar-se quase como um livro de memórias. Palavras-chave João Antônio; cartas, literatura brasileira. Abstract Either in interviews or biographical texts, the writer João Antônio always wanted to associate his literary produc- tion with his life history. This is also an aspect found in the correspondence exchanged between João Antonio and his old friend Jácomo Mandatto. It lasted more than three decades and its amount represents almost a memoir book. Keywords João Antonio; letters; Brazilian literature.

Upload: others

Post on 28-Oct-2021

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

Resumo O escritor João Antônio sempre fez questão de, em

entrevistas ou textos autobiográficos, aliar sua produção lite­

rária à sua história de vida. Este é também um aspecto encon­

trado em sua correspondência trocada com o amigo de longa

data Jácomo Mandatto. São mais de três décadas de troca de

cartas, cujo montante acaba por configurar-se quase como

um livro de memórias. Palavras-chave João Antônio; cartas,

literatura brasileira.

Abstract Either in interviews or biographical texts, the writer

João Antônio always wanted to associate his literary produc­

tion with his life history. This is also an aspect found in the

correspondence exchanged between João Antonio and his old

friend Jácomo Mandatto. It lasted more than three decades

and its amount represents almost a memoir book. Keywords

João Antonio; letters; Brazilian literature.

Page 2: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

Quando eu morrer; meus amigos de fé herdarão minhas cartas. Tomara fiquem ricos.

[João Antônio]

Vida e Obra Durante mais de trinta anos de profissão, o escritor João Antônio fez

da palavra a sua arma de combate. Refratário às divisões de gênero comumente

feitas pelos estudiosos da literatura, produziu textos que chamam a atenção por

seu caráter de hibridismo e inovação estética. Deu voz à “ralé”, à “arraia miúda”,

enfim, segundo ele próprio diria, àquela faixa que, a despeito de ser a maioria da

população brasileira, só era lembrada quando surrada pela polícia em manifesta­

ções reivindicatórias ou estádios de futebol.

Polígrafo, como o definem muitos estudiosos de sua obra, João Antônio construiu

uma carreira sólida na imprensa brasileira. Atuou no Jornal do Brasil, O Pasquim ,

Última Hora, O Estado de S. Paulo , na revista Realidade, assim como na imprensa

“nanica”, termo cunhado por ele para definir os pequenos órgãos de comunicação

que se espalharam pelo país a partir dos anos de 1960.

Desde seu livro de estreia, Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), o autor já dava a

tônica do que seria a sua produção literária. Ambientes e pessoas de sua infância,

adolescência e vida adulta, misturados a personagens de ficção, eis aí um dos

principais traços da obra de João Antônio. Em um polêmico manifesto, “Corpo-

a-corpo com a vida”, inserido em Malhação do Judas carioca (1975), ele desafia os

escritores brasileiros a falar da realidade do país, ou seja, do futebol, de umbanda,

das favelas, dos bordéis, dos meninos de rua etc. Entretanto, defende-se daqueles

que o viessem a acusar de panfletário: para ele, o escritor deveria ser um “ban­

dido falando de bandidos” e, assim, eliminado o espaço que separa um do outro,

não teríamos um panfleto, ou um retrato, mas a voz do próprio “bandido” sendo

a mola propulsora do texto.

Para que esse “corpo-a-corpo” pudesse ser travado com a vida, o contista defen­

dia que os escritores saíssem de suas poltronas e de seus escritórios confortáveis e

fossem para a “cena do crime”, ou seja, para as ruas, botequins etc. O escritor, con­

tudo, não deveria ser um mero observador dessa realidade nova para ele. Foi, en­

tão, marcada com o grifo da realidade que se fez a produção literária e jornalística

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. »357

Page 3: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

de João Antônio. Em entrevistas, sempre fez questão de associar a sua experiência

pessoal com a de muitas de suas personagens, deixando também sempre claro

que a matéria observada e vivida precisava ser transfigurada pelo trabalho estéti­

co, para se tranformar em literatura.

Essa aderência do autor ao universo narrado determinou a construção de um

imaginário que funcionou como uma espécie de faca de dois gumes para a sua

produção: ao mesmo tempo em que provocava certa curiosidade no público e na

crítica, o que tornava badalados seus livros, também ocasionou análises rasteiras,

que levavam em conta apenas os aspectos mais triviais de sua obra, não dando

conta de suas inovações formais.

Fizemos essa introdução sobre as concepções literárias de João Antônio porque

são fundamentais para o entendimento do objeto de estudo que será apresentado

aqui, ou seja, parte de sua correspondência - aliás um dos gêneros textuais mais

praticados pelo autor.

Correspondências O que a leitura da obra de João Antônio permite entrever é

que ficção e realidade não são os lados opostos da mesma moeda; ao contrário,

em alguns momentos, uma pode servir de reflexo para a outra. Se na produção

literária temos a presença marcante de elementos factuais, na escrita de cartas

encontramos momentos em que o trabalho linguístico empregado permite que

aproximemos tais textos daqueles de natureza ficcional.

Antes de entrarmos propriamente na análise de suas cartas, vamos a uma breve

apresentação desses documentos. Trata-se de uma coleção de mensagens episto­

lares trocadas entre João Antônio e o amigo jornalista Jácomo Mandatto, m ora­

dor de Itapira, no interior do Estado de São Paulo.

Em 1962, João Antônio era um autor que se preparava para deixar o ineditis-

mo. Seu prim eiro livro, depois de ter os originais destruídos por um incêndio1

que atingiu a casa de seus pais, teve partes re-escritas e já havia sido aprovado

1 Alguns textos foram destruídos com pletam ente , enquanto outros, por já terem sido publicados em suple­

mentos literários, puderam ser recuperados mais facilmente pelo escritor. Para re-escrever os demais, João

Antônio afirma ter recorrido tam bém a amigos, a quem, eventualmente, havia enviado partes do livro.

358 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA,Telma Maciel da. Memória e ficção..

Page 4: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

para publicação por um a das principais editoras daquele mom ento, a C iv ili­

zação Brasileira. Nessa época, o escritor enviou “M eninão do caixote” para o

concurso de contos organizado pelo Centro Itapirense de Cultura e A rte , presi­

dido por Mandatto.

Premiado com a segunda colocação no certame, João Antônio foi convidado para

uma cerimônia que reuniria os vencedores. De início, aceitou o convite, mas de­

pois, por conta de outros compromissos, desculpa-se e acaba por não comparecer

à solenidade. É dessa forma que nasce a longa correspondência trocada entre ele

e Mandatto, diálogo que, com certos hiatos e também períodos de intensa troca

postal, duraria até meados da década de 1990, pouco tempo antes da morte do

contista de Leão-de-chácara.

É interessante salientar que a amizade nasce por conta da troca de cartas e não

o contrário. João Antônio e Jácomo Mandatto, antes de se encontrarem pessoal­

mente, correspondem-se por alguns anos. Ao longo da vida, tais encontros foram,

certamente, muito menores em quantidade do que o envio de cartas, que somam

cerca de trezentas, a maior parte remetida por João Antônio.

Às cartas, juntam-se também centenas de artigos de jornal de e sobre João Antô­

nio acumulados por Mandatto ao longo dos anos em que se correspondeu com

o escritor. Vale observar que todo este manancial de documentos foi sendo com ­

posto também por conta da correspondência, uma vez que grande parte dele foi

enviado pelo próprio hedonista, a fim de munir o amigo não só de material ne­

cessário para que ele divulgasse prontamente a publicação de seus livros, como

também para que se tornasse uma espécie de arquivo biográfico.

Em carta de i° de outubro de 1980, João Antônio faz algumas reflexões a respei­

to dos documentos que enviava a Mandatto e o “nomeia” seu biógrafo oficial:

“Como v. vem sendo de uma fidelidade draculesca nestes últimos vinte anos, fica

eleito meu biógrafo-ensaísta, etc. precocemente”. Não só a correspondência tro­

cada com Mandatto deveria servir de base para essa biografia; cartas a outros de

seus destinatários também deveriam ser recolhidas e publicadas.

Vê -se, assim, que João Antônio se relacionava com a sua correspondência de

m odo muito particular. De um lado, ela é espaço de experim entação linguís­

tica, que culm ina em um trabalho estético; sob essa perspectiva, algumas das

cartas (ou trechos delas) irm anam -se a textos literários de sua lavra. Por outro

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. »359

Page 5: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

lado, há também a assum ida estratégia de preservação da m em ória e constru­

ção de um im aginário, o que acaba por perm itir a leitura do conjunto como

uma espécie de autobiografia fragmentária, associada às estratégias discursivas

do diário íntimo.

Neste ponto, chegamos ao cerne deste trabalho, uma vez que memória e cons­

trução literária em João Antônio são questões bastante imbricadas. Como vimos

anteriormente, a sua prosa de ficção acolhe fatos e, principalmente, pessoas reais,

ganhando um matiz literário não exatamente pela inventividade ficcional, mas

sobretudo pelo engenhoso trabalho com as palavras e, ainda, pelo tratamento

dado às personagens, que assumem as rédeas da história, como se o escritor por

trás delas nem sequer existisse.

A memória construída como literatura O escritor português Virgílio Ferreira,

no livro de memórias Conta-Corrente i, afirma: “O meu diário está nas centenas

de cartas aos amigos” 2 Esta frase, a nosso ver, pode também ser aplicada a João

Antônio. Suas inúmeras cartas acabam constituindo um diário, cujos textos me-

morialísticos encontram-se espalhados entre diversos interlocutores e que, agora,

começam a ser sistematizados.3 Sabemos que o diário, a autobiografia, o romance

autobiográfico, o autorretrato e a epistolografia são gêneros de natureza diferen­

ciada no conjunto das “escritas de si” Entretanto, na coleção de cartas trocadas

entre João Antônio e Jácomo Mandatto, estes gêneros em dados momentos se en-

trecruzam, uma vez que o discurso vai se moldando de acordo com as estratégias

textuais dos interlocutores.

Maria Luiza Ritzel Remédios, ao tratar da dificuldade de diferenciação entre al­

guns gêneros da “escrita de si”, assevera:

2 Apud SOUZA, Luana Soares de. "O eu desconstruído em Conta-corrente, de Virgílio Ferreira". In: REMÉDIOS,

Maria Luiza Ritzel (Org.). Literatura confessional: autobiografia e ficcionalidade. Porto Alegre: Mercado Aberto,

1997, p. 133-

3 Duas coletâneas de cartas do autor foram organizadas em 2005. São elas: ANTÔNIO, João. Cartas aos amigos

Caio Porfírio Carneiro e Fábio Lucas. GIORDANO, Cláudio (Org.). Cotia: Ateliê Editorial, 2005; SEVERIANO, Mylton.

Paixão de João Antônio. São Paulo: Casa Amarela, 2005.

360 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA, Telma Maciel da. Memória e ficção..

Page 6: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

Considerando a frágil delimitação entre romance autobiográfico e autobiografia e

observando que essa última pode ser considerada como ato literário e, daí, ficcional,

observa-se quão difícil se torna também delimitar, na literatura confessional, as fron­

teiras entre autobiografia e diário íntimo, ou entre autobiografia e autorretrato, ou

ainda entre autobiografia e memórias.4

O que nos leva a pensar a correspondência entre João Antônio e Jácomo Mandatto

como algo situado entre o diário íntimo e a autobiografia é que ela apresenta

características tanto de uma quanto de outra expressão memorialística, dando

significado, na prática, à própria dificuldade de delimitação dos gêneros testemu­

nhais acima verificada pela ensaísta.

Aqui, a escrita introspectiva do diário e aquela que busca um interlocutor para

a narrativa de suas memórias aproximam-se - isso se pensarmos o conjunto da

correspondência - da produção da carta, a qual descarta a possibilidade de outros

leitores, além do interlocutor imediato.

Um exemplo paradigm ático de como se dá o processo de aproxim ação de gê­

neros discursivos pode ser observado na carta de João Antônio enviada em

1963 a mais de um de seus correspondentes, e que mais de duas décadas depois

foi publicada, no livro Abraçado ao m eu rancor, como um conto. Trata-se de

“Uma força”, o qual tendo sofrido pequenas alterações em sua form a original

(mensagem epistolar) para ganhar o estatuto de ficção, não perdeu a essência

daquilo que “ inform ava” na carta. Esta, pela form a, em nada difere de uma

carta comum; contudo, tanto o conteúdo quanto o trabalho empregado na lin ­

guagem causam certa estranheza numa prim eira leitura, pois apresentam um

trabalho linguístico bastante apurado. A todo momento a linguagem chama

mais atenção para si própria do que para o enredo, o que nos remete àquele

efeito de estranhamento que, segundo Jakobson, diferencia a linguagem literá­

ria das outras.

Assim João Antônio inicia a carta:

4 REMÉDIOS, Maria Luiza Ritzel. Literatura confessional: espaço autobiográfico. In: REMÉDIOS, Maria Luiza Ritzel

(Org.) Literatura Confessional: autobiografia e ficcionalidade. Ed. cit., p. 13.

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. *361

Page 7: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

São Paulo, 25 de março de 1963

Jácomo Mandatto, meu faixa:

Deu-se ontem e de repente e se eu quisesse imitar Clarice Lispector, diria: era um

cágado de domingo.

Aconteceu-me um cágado.

Eu andava nas minhas marchas por aí e como me houvessem esquentado a cabeça

com aporrinhações domésticas e rusgas profissionais, dinheiro que deveria haver mais,

apresentações e cuidados de que não cuido, eu andava por aí.

Acabei, como sempre, pelos subúrbios mais distantes. Lá, Jácomo, longe-longe das

minhas chateações.

Uma carta semelhante a essa foi enviada à poetisa Ilka Brunhilde Laurito. Nela

observa-se apenas a mudança de interlocutor e de outros dados pontuais. Esse

fato suscita a reflexão sobre a natureza da correspondência de João Antônio. Ao

enviar exatamente a mesma missiva para amigos diferentes, o escritor acaba por

anular o princípio de que a correspondência é o diálogo entre duas pessoas, ou

seja, de que uma carta é escrita para um interlocutor particular, sendo os demais

leitores descartados desse processo.

Aqui, tal qual num texto autobiográfico, João Antônio quer narrar a sua história

para mais de um interlocutor. Envia, então, o texto como se fosse uma carta co­

mum em que conta uma história também comum. Dessa forma, o interlocutor é

importante apenas no ambiente da correspondência, uma vez que na forma conto

este acabou sendo suprimido: já não se fazia necessário, afinal todos eram interlo­

cutores em potencial. Assim, é possível observar que, se retirarmos aquele a quem

o discurso se destina, teremos um texto que se aproxima bastante de uma prosa

introspectiva, como aquela que se observa no diário íntimo.

Nesse ponto, mais uma vez, chegamos à questão da carta enquanto suporte lite­

rário. Além dessas características mais formais com relação ao cruzamento de gê­

neros da escrita de si, há ainda o aspecto estético que se coloca bastante premente

nessa carta. Já no trecho citado, podemos observar um diálogo com o conto “Uma

galinha” (Laços de fam ília), de Clarice Lispector, por meio do uso da expressão

362 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA, Telma Maciel da. Memória e ficção...

Page 8: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

“cágado de domingo”, que no texto da autora aparece como “galinha de domingo”

logo na frase que abre a narrativa.5

Sobre a possibilidade de uma carta apresentar traços de literariedade, Sophia An-

gelides sinaliza:

Embora numa carta a descrição de uma paisagem, o relato de um acontecimento, de uma

vivência, a expressão de um sentimento tenham o cunho de veracidade, da não-ficção, por­

que seu sujeito-de-enunciação é histórico, o material linguístico é submetido ao crivo alta­

mente seletivo do escritor, que recria a sua experiência pessoal. A este propósito, Jakobson

lembra, oportunamente, que o ator, ao retirar a máscara, mostra sua maquilagem.6

Na carta em questão, nem sequer sabemos se a história do cágado realmente

aconteceu. A este respeito, Jácomo e João Antônio falam ainda outras duas vezes

em cartas futuras: como o amigo pergunta sobre o réptil, João Antônio responde

que ele havia fugido. O assunto só volta à tona mais de vinte anos depois, quando

o texto é publicado no jornal O Estado de S. Paulo e, em seguida, na coletânea do

escritor. Portanto, nos estudos de epistolografia sobrepõe-se à “verdade do fatos”

o interesse pelo “registro” em si, como ensina Ângela de Castro Gomes:

está descartada a priori qualquer possibilidade de saber “o que realmente aconteceu”

(a verdade dos fatos), pois não é essa a perspectiva do registro feito. O que passa a impor­

tar para o historiador é exatamente a ótica assumida pelo registro e como seu autor diz

que viu, sentiu e experimentou, retrospectivamente, em relação ao acontecimento.7

Uma das leituras possíveis para a carta-conto de João Antônio é, segundo pensa­

mos, a de que se trata de um texto metalinguístico. Sob essa perspectiva, o escritor

5 Na carta dirigida a llka Brunhilde Laurito, em 25 de março de 1963, Jo ã o Antônio escreve: "Deu-se ontem

e de repente e se eu quisesse imitar Clarice Lispector, diria: era um cá g a d o de domingo". In: LAURITO, llka

Brunhilde. Jo ã o Antônio, o inédito. Remate de Males (Campinas), 19. Universidade Estadual de Campinas -

Instituto de Estudos da Linguagem. Revista do D epartam ento de Teoria Literária, 1999.

6 ANGELIDES. Sophia. Carta e literatura:correspondência entreTchékhov e Górki. São Paulo: Edusp, 2002. p. 23.

7 GOMES, Ângela de Castro. "Escrita de si, escrita da história: a título de prólogo". In: GOMES, A.C. (org.). Escrita

de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, p. 15-

Teresa revista de Literatura Brasileira [8 19]; São Paulo, p. 356-371, 2008. .363

Page 9: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

estaria discutindo no texto o próprio fazer literário, tal qual o faz em “Afinação

da arte de chutar tampinhas” (Malagueta, Perus e Bacanaço), cujo narrador, em

meio à inadequação de sua vida, dedica-se a criar uma arte de chutar tampinhas

que encontra pela rua. Assim como as “tampinhas” podem ser vistas como metá­

foras para “palavras” e, portanto, os “chutes”, para a arte narrativa, cremos que o

cágado e a ternura que provoca no narrador também podem simbolizar o apego

do escritor pela literatura.

Assim, na solidão de homem desenhada na carta-conto, o narrador encontra na

palavra a sua companhia perfeita, porque “transcendental” :

havia e há entre nós um liame que se prende a coisas tremendamente transcendentais:

o calor que sofríamos na subida longa de Vila Ipojuca, aqueles nossos ares de solidão,

a chateação comum: a minha de homem, a dele de réptil semiterrestre. Sós e andari­

lhos, cágado e eu.

Nesse caso, a exemplo do conto “Afinação da arte de chutar tampinhas”, a palavra

e, por conseguinte, quem dela se enamora são também marginalizados, uma vez

que não se enquadram entre os valores dominantes em nossa sociedade. Naquele

conto, vemos o protagonista se esmerando em seus chutes, enquanto seu irmão

desfecha: “Você é um largado. Onde se viu essa agora!”8

Na carta, a família também aparece como elemento de incompreensão, afinal “ti­

veram medo do cágado. Ou quase” ; os familiares ainda se lembram de sugerir

um nome de imperador para batizar o humilde animal. A í surge mais uma vez

a afirmação da escolha do escritor (que nesse caso coincide com a do narrador)

pelas “criaturas e viventes que se mexam com humildade, que tenham tolerância,

humanas e boas como o cágado”. Ou seja, é possível pensar que, com isso, o autor

esteja negando a grandiloqüência de certo ramo literário, enquanto reafirma a

linguagem recriada a partir de suas vivências da rua.

No trecho a seguir - “Sei que ele próprio carrega a sua casa nele mesmo. Tolice pre­

tender a construção de uma casa aquática ou terrestre. Mas sou um egoísta, gostei

dele, quero que fique comigo. Que faça aquele silêncio seu de persistência e sabe-

8 ANTÔNIO, João. Malagueta, Perus e Bacanaço. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 42.

364« OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA,Telma Maciel da. Memória e ficção..

Page 10: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

doria”, talvez pudéssemos pensar que há uma certa resignação do escritor frente à

impossibilidade de traçar um caminho para suas criaturas, já que estas, alheias aos

desejos de seu criador, acabam por seguir o destino dado a elas pelos leitores.

Há, ainda, nesse excerto, algumas construções linguísticas dignas de nota. Quando

diz “quero que fique comigo”, notamos que o modo como utiliza os fonemas im ­

prime certa dureza à frase. Ouvimos quase um bater de pés, algo entre uma birra

e uma imposição. Entretanto, tal dureza é amenizada pela frase seguinte - “Que

faça aquele silêncio seu de persistência e sabedoria” em que a repetição de

fricativas provoca uma alteração cujo efeito é de leveza, algo como um deslizar, o

que está em total consonância com o silêncio invocado pelo narrador.

Vejamos, a seguir, o trecho em que explica o porquê de contar ou não os episó­

dios narrados:

Eu lhe conto essas coisas, Jácomo, da condição de um cágado e da minha condição,

porque você é Jácomo Mandatto, um sujeito bom e munido de antenas. Só a sujeitos

assim eu conto. Porque há coisas a dizer que estão muito além do arroz com feijão de

cada dia, da alta ou queda do dólar.

Nota-se que, para se estabelecer o diálogo, esse alguém colocado do outro lado

deve ser “munido de antenas” Isso equivale a dizer que o leitor precisa “entender”

ou estar disposto a entender as coisas “que estão muito além do arroz com feijão

de cada dia”. O narrador parece dizer-se consciente de que seu texto, provavel­

mente, será incompreendido, afinal poucos o lerão em profundidade.

Adiante, a relação estabelecida entre os cuidados que toma com o réptil e o traba­

lho de criação artística aparece ainda mais explícita:

Telefonei ao Butantã, tomei conselhos com amigos, indaguei, agora sei que meu cága­

do é um cágado e não é jabuti. Um cágado-de-pescoço-de-cobra.

E é, Jácomo, como se fosse um filho. Tem dado cada susto, Jácomo, é como se fosse

um amor.

Um sentimento indefinido me une ao réptil cágado, um querer bem, um querer

tomar conta, fazer bem, não deixar faltar nada. Que é que sei...

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. «365

Page 11: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

É possível notar logo no início o trabalho que o narrador despende em busca

do termo correto para designar o animal. Depois de toda a pesquisa, afirma, por

meio da junção de cinco palavras, que este é “um cágado-de-pescoço-de-cobra”,

criando um efeito visual bastante curioso, fazendo do vocábulo construído a ima­

gem do próprio pescoço do animal.

Em “E é, Jácomo, como se fosse um filho. Tem dado cada susto” há algo da afir­

mação constante de que suas personagens seriam seus filhos. E adiante, “Jácomo,

é como se fosse um amor” cria um efeito análogo a este expresso anteriormente,

já que a literatura é sua grande paixão, tal qual diria metaforicamente em seu

único poema, “Choros - para Pintagol e Cuíca” : “a [mulher] que eu não tenho / é

quem requebra só pra mim / e quando acorda me entreolha e diz / se ainda dur­

mo, vida, ficaste mais linda”.9

Ao final da carta temos uma espécie de prece: “Peço ao Senhor das esferas, não ao

Deus fantasiado, esculpido ou rezado das igrejas, mas a um Deus de consciência

cósmica, eu peço, Jácomo. Só faz um dia... Mas que o cágado não morra antes de

mim”. Aqui talvez pudéssemos interpretar como um desejo de perenidade, de que

seus textos conseguissem sobreviver até muito depois de sua morte.

Outro elemento que merece ser citado - agora mais com relação à versão pu­

blicada em livro de contos - é que, em “Uma força”, João Antônio inseriu a per­

sonagem Aldônia, que figura como uma espécie de amor juvenil do narrador.

O interessante disso é que no conto “Afinação da arte de chutar tampinhas” temos

também uma Aldônia. Esta, entretanto, surge na cabeça do narrador, que aparenta

não ser mais tão jovem como o da outra narrativa, como uma lembrança ruim:

“Engraçado - Aldônia até hoje não presta”.10

Com relação ao imbricamento entre construção memorialística e literária, há

outros trechos da correspondência que são emblemáticos. Seja em seus textos

de caráter mais pessoal, como por exemplo em seu autorretrato, “De Malagueta,

Perus e Bacanaço”11 seja em sua literatura propriamente dita, vê-se certo esforço

9 ANTÔNIO, Jo ã o apudSEVERIANO, Mylton. Paixão de João Antônio. São Paulo: Casa Amarela, 2005, p. 89.

10 ANTÔNIO, João. Malagueta, Perus e Bacanaço. Ed. cit., p. 40.

11 Texto publicado em vários órgãos de imprensa à época da edição de Malagueta, Perus e Bacanaço; na edição

da obra feita pela editora Círculo do Livro, na década de oitenta, e, finalmente, na edição preparada pela

editora Cosac Naify, referenciada acima.

366 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA, Telma Maciel da. Memória e ficção..,

Page 12: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

por parte de João Antônio em ratificar o imaginário de escritor boêmio, com total

aderência às suas personagens. Este empenho foi quase totalmente recom pen­

sado, uma vez que poucos foram os analistas de sua obra que conseguiram falar

dela sem remeter, ainda que por derivação, à sua experiência de vida.

Se esse entrecruzamento entre vida e obra se dá tão fortemente na literatura joão-

antoniana a ponto de parte da crítica ter sido levada pelo canto da sereia, na cor­

respondência esse canto fica ainda mais forte. Nela, tudo é potencialmente verda­

deiro, uma vez que aquele é o espaço da confissão e dos desvelamentos do eu.

É aí, nesse espaço confessional, que João Antônio mais uma vez se recria, torna-se

persona e ficcionaliza a sua memória, com a diferença de que isso não se dá de

maneira retrospectiva, como quando um autor escreve a sua autobiografia e faz a

seleção ora consciente ora inconsciente daquilo que deseja que conste de seu me­

morial. Aqui, temos um autor que escreve suas memórias no calor da hora, pois

a consciência da posteridade o faz tornar-se persona, algo entre a pessoa real e as

suas diversas personagens literárias.

Em estudo anteriormente citado, Sophia Angelides trata dessa fusão “entre a per­

sonalidade literária e a humana” no escritor russo Máximo Górki. A autora anali­

sa uma carta e afirma que esta

é, sem dúvida, um documento, um depoimento, mas é sobretudo um trecho muito

gorkiano. Ao expor os sentimentos que Tio Vânia suscitou, volta-se para si mesmo,

exprimindo-se de maneira exuberante e emotiva, numa linguagem adornada de com­

parações, digressões e imagens, o que é característico de grande parte de sua obra

literária. Convém ainda lembrar que os escritos de Górki são marcados pelo elemento

autobiográfico. Daí decorre que parece haver, frequentemente, uma fusão muito dire­

ta entre a personalidade literária e a humana.12

Vejam os, pois, exem plos dessa fusão nas cartas de João Antônio a Mandatto.

Em carta de 24 de maio de 1963, ele fala sobre sua solidão e sobre como a lite­

ratura o afeta:

12 ANGELIDES. Sophia. Op. cit., p. 25.

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. »367

Page 13: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

Eu deveria estar arrasado por dentro e não estou. A literatura, Jácomo, tem todas as

funções que você deseje determinar. Sobre mim, solitário e dracular Jácomo, este

fato extraordinário funciona inteiramente. Terapêutica, forma estranha de vingança

e reconstrução, cópula mental, namoro comigo mesmo, luz, fonte, martírio e insatis­

fação também. Seriam necessários muitos adjetivos, advérbios, substantivos e verbos

para esclarecer o que se passa comigo diante da literatura. Jácomo, ela me arranca

do caos. Puxa-me pelos cabelos, pelas pernas, pelas ventas. Como naquele diálogo

imenso (e de tão poucas palavras) que Emanuelle Riva repete: “Tu me matas. Tu me

consolas”. Assim. Como em “Hiroshima, mon amour” 13

Neste excerto, o tom inicial é de diálogo, mas já apresenta algo de ensaístico, pois

propõe uma reflexão sobre as funções da literatura. A seguir, um certo lirismo vai

contaminando o texto, até que, ao final, não conseguimos escapar à sensação de

ter lido um poema.

O uso de paradoxos, aliado a uma pontuação que se faz expressiva por meio do

recurso da gradação, permite ao leitor experimentar a sensação de integralidade

proposta pelo autor. Vamos, num crescendo, sendo inundados por aquele sentir

que, longe da linearidade, apresenta-se por meio de termos usualmente antitéti-

cos, mas que aqui são primordiais na construção do todo: “ Terapêutica, forma

estranha de vingança e reconstrução, cópula mental, namoro comigo mesmo, luz,

fonte, martírio e insatisfação também”. Nota-se ainda que o escritor não usou um

único verbo na construção desse período, o que faz com que este esteja totalmen­

te subordinado, tanto ao que o antecede quanto àquele que o sucede.

A seguir, ele desfecha: “Seriam necessários muitos adjetivos, advérbios, substan­

tivos e verbos para esclarecer o que se passa comigo diante da literatura”. Vemos

aí que o escritor emprega o verbo “ser” no futuro do pretérito, o que indica, em

certa medida, uma necessidade cuja perspectiva de resolução é pequena, já que

esta se encontra num tempo intermediário entre futuro e passado.

Por fim, João Antônio tenta novamente definir a sua relação com a literatura. Outra

vez, temos o jogo de paradoxos, pois ao mesmo tempo em que diz “ela me arranca

do caos”, o que remete a uma situação de calmaria, também afirma que a literatura

13 Carta de 24 maio 1963.

368 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA, Telma Maciel da. Memória e ficção..,

Page 14: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

o puxa “pelos cabelos, pelas pernas, pelas ventas” imagem que alude mais a uma

luta do que à tranquilidade expressa anteriormente. Ao final do excerto, notamos

que esses paradoxos são ainda mais reafirmados por meio de construções como

“diálogo imenso e (de tão poucas palavras)” e “Tu me matas. Tu me consolas”

Podemos ver nesse trecho um exemplo do tom ensaístico cultivado por João

Antônio em sua correspondência com Mandatto, uma vez que temos um texto

buscando teorizar sobre a função e os efeitos da literatura na vida do autor, sendo

que, em certa medida, este parece figurar ali também como símbolo dos aficiona­

dos por aquela arte e não simplesmente representando a si próprio.

Há ainda outro trecho dessa mesma missiva14 que vale ser citado. Trata-se de um

longo parágrafo em que o escritor descreve o processo de produção de um ro­

mance que vinha escrevendo sobre o universo da propaganda15:

Ah, Jácomo, mas há a imensa arraia miúda da propaganda se misturando aos ricos

da propaganda! Gloriosos e vitoriosos, canalhas e sorridentes, desfilarão os donos de

agências com suas residências na Avenida Nove de Julho, no Brooklin, suas ostenta­

ções. A miséria humana, a incomunicação, a solidão de um artista, as banhas dos di­

retores, a verminose eloquente que anda na cara dos meninos entregadores de coisas,

as briguinhas por causa de cinquenta mil réis. A exdruxularia passeando. Os melhores

cobradores são sempre péssimos pagadores. O sentimento de menos valia que envolve

o artista, sua errada verificação de uma falência que nada tem a ver com ele mesmo.

O homem torcido, os canalhas sempre marchando para uma vitória. A modelo prosti­

tuída, os homens, as máquinas de escrever, o telefone. A menina do telefone. O pintor

de painéis lá está no ar, pendurado a uma corda, dando a vida a troco de... De pão. São

homens sem direito, sem eira nem beira. Um malandro diria:

- Esses caras aí estão numa merda que faz gosto.

Em princípio, tal qual no excerto anterior, temos um diálogo que passa a um m a­

tiz ensaístico, para, em seguida, adquirir um tom bastante poético. Nota-se que o

14 Carta de 24 maio 1963.

15 Trata-se de "Irmãos Raccatti Ltda." texto no qual o autor passou parte do ano de 1963 trabalhando, mas que

nunca ch eg o u a publicar.

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. «369

Page 15: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

parágrafo é construído basicamente pelo processo de enumeração, cuja pontua­

ção obedece a uma sequência bastante curiosa, já que não há quase a recorrência

de conjunções subordinativas ou coordenativas. Assim, têm-se basicamente pe­

ríodos assindéticos; construção que, segundo Jane Christina Pereira, por aproxi-

mar-se da linguagem oral, “possui um tom mais espontâneo, menos rigor lógico;

é mais ágil, sugere a simultaneidade ou a rápida sequência dos fatos”.16

É interessante observar aí também a caracterização dos personagens. Os chefes e

donos das agências, “canalhas e sorridentes”, são apresentados com grande des­

prezo, enquanto a “arraia miúda”, representada pelos “artistas” “modelo prosti­

tuída”, “pintor de painéis”, “menina do telefone”, “meninos entregadores de coisas”

etc., surge de forma a provocar forte sentimento de ternura no leitor. Temos, pois,

a mesma defesa que seria expressa posteriormente no ensaio “Corpo-a-corpo

com a vida” : a de que o escritor deve olhar à própria volta e colocar-se a serviço

dos sem eira nem beira.

Com relação ao aspecto geral do parágrafo, João Antônio conseguiu construir um

quadro em que o leitor é apresentado àquele universo narrado. É como se vísse­

mos uma cena, algo como uma peça de propaganda, cuja agilidade dramática nos

conquista. Isto se dá por conta daquele aspecto da união entre linguagem oral

e construção assindética das frases, discutido anteriormente, mas também por

meio do uso constante de verbos no presente do indicativo e no gerúndio.

O trecho final, “O pintor de painéis lá está no ar, pendurado a uma corda, dando

a vida a troco de... De pão”, é um exemplo cabal dessa construção. Nessa frase, o

contista parece erguer o braço e apontar para o pintor de painéis, pois a cena é

construída com vigor cinematográfico, impondo-nos a visão do trabalhador balan­

çando na corda que o sustenta. A propósito, o excerto apresenta os fonemas “d” e “p”

repetidos ostensivamente, o que produz um efeito de pêndulo proposto pela frase.

Nesses, como em outros trechos da correspondência joão-antoniana, o contista

fala de si por meio do outro. Aqui, temos uma categoria diferente de memória,

uma vez que o autor quase se esconde atrás de suas personagens. Entretanto, po­

de-se pensar que esta é uma forma de cortejar a eternidade, já que ele sabe que

16 PEREIRA, Jane Christina. A poesia de Malagueta, Perus e Bacanaço. Assis, 2006. Tese (Doutorado em Letras) -

Universidade Estadual Paulista, p. 105.

370 • OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de; SILVA,Telma Maciel da. Memória e ficção..

Page 16: Memória e ficção na correspondência do escritor João Antônio

deixar-se escrito é a única maneira de escapar à morte. Assim, João Antônio fala

de sua experiência no mundo da publicidade, mas faz dela uma história maior do

que suas vivências, faz dela uma experiência literária. Também a relação do es­

critor com a literatura é igualmente fonte para a construção estética, uma vez que

suas reflexões acerca do ofício literário são mediadas pelo trabalho linguístico

apurado, que nasce de sua profunda consciência da palavra.

Ana Maria Domingues de Oliveira é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo. Docente

na UNESP, cam pus de Assis, desde 1991, ali coordena o Acervo João Antônio. Autora do livro

Estudo crítico da bibliografia sobre Cecília Meireles.

Telma Maciel da Silva é doutoranda do programa de pós-graduação em Letras da UNESP de Assis,

bolsista da FAPESP. Participa da equipe de pesquisadores do Acervo João Antônio.

Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 356-371, 2008. «371