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METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA Série Número de aulas semanais 2 Apresentação da Disciplina A disciplina Metodologia do Ensino de História do curso de formação de docentes visa preparar os alunos para atuarem no ensino de História na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, se faz necessário explicitarmos a trajetória do ensino de História no sistema educacional brasileiro, bem como os pressupostos teóricos que norteiam a presente proposta. No Brasil, o conteúdo de história foi inserido no currículo do colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1838. Relegado aos anos finais dos ginásios, com número ínfimo de aulas, sem uma estrutura própria, consistia em um repositório de biografias de homens ilustres, de datas e batalhas. A História Tradicional, influenciada pelo pensamento positivista da historiografia européia, enfatizava a história da nação e tinha como objetivo criar uma identidade nacional homogênea em torno de um Estado politicamente organizado. O positivismo trouxe conseqüências a disciplina, que pretendia basear-se em suas leis. Os historiadores positivistas acumularam fatos políticos que podiam ser verificados e comprovados por meio de documentos oficiais produzidos pelo Estado. Desta forma, produziu-se uma história voltada aos estudos dos acontecimentos políticos, da genealogia das nações, evidenciando as “datas importantes”, “os grandes personagens”, os “heróis” da nação. Apesar da hegemonia acadêmica existente no século XIX, havia vozes discordantes. Entre essas vozes, destacamos Marx e Engels que desenvolveram um paradigma histórico onde as causas das mudanças históricas ocorrem no interior das estruturas socioeconômicas. Surge então, uma outra possibilidade para o ensino de História, fundamentado na concepção materialista da história, cerne do pensamento marxista. Este

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  • METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTRIA

    Srie Nmero de aulas semanais4 2

    Apresentao da Disciplina

    A disciplina Metodologia do Ensino de Histria do curso de formao de

    docentes visa preparar os alunos para atuarem no ensino de Histria na

    Educao Infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, se

    faz necessrio explicitarmos a trajetria do ensino de Histria no sistema

    educacional brasileiro, bem como os pressupostos tericos que norteiam a

    presente proposta.

    No Brasil, o contedo de histria foi inserido no currculo do colgio Pedro II, no

    Rio de Janeiro, em 1838. Relegado aos anos finais dos ginsios, com nmero

    nfimo de aulas, sem uma estrutura prpria, consistia em um repositrio de

    biografias de homens ilustres, de datas e batalhas.

    A Histria Tradicional, influenciada pelo pensamento positivista da historiografia

    europia, enfatizava a histria da nao e tinha como objetivo criar uma

    identidade nacional homognea em torno de um Estado politicamente

    organizado. O positivismo trouxe conseqncias a disciplina, que pretendia

    basear-se em suas leis. Os historiadores positivistas acumularam fatos

    polticos que podiam ser verificados e comprovados por meio de documentos

    oficiais produzidos pelo Estado.

    Desta forma, produziu-se uma histria voltada aos estudos dos acontecimentos

    polticos, da genealogia das naes, evidenciando as datas importantes, os

    grandes personagens, os heris da nao.

    Apesar da hegemonia acadmica existente no sculo XIX, havia vozes

    discordantes. Entre essas vozes, destacamos Marx e Engels que

    desenvolveram um paradigma histrico onde as causas das mudanas

    histricas ocorrem no interior das estruturas socioeconmicas.

    Surge ento, uma outra possibilidade para o ensino de Histria, fundamentado

    na concepo materialista da histria, cerne do pensamento marxista. Este

  • ensino pauta-se no trabalho como conceito fundamental e princpio organizador

    do currculo, e toma as relaes sociais e de produo como objeto de ensino.

    Na concepo da escola unitria defendida por Gramsci, com base em Marx, o

    trabalho constitui a principal categoria e torna-se elemento fundamental da

    formao profissionalizante, que no deve buscar atender estritamente as

    necessidades do mercado de trabalho, mas, ao contrrio, deve ser formativa,

    de uma cultura geral humanista. Trata-se de garantir, ao educando, uma viso

    geral, capaz de dar conta da complexidade das relaes sociais de produo

    da sociedade contempornea.

    Nesse sentido, a proposta curricular de Histria deve ter como funo principal

    a superao do saber meramente acumulativo, enciclopdico e fragmentado.

    O trabalho como princpio pedaggico do ensino de Histria, parte do

    pressuposto terico marxista, de que o trabalho humano, ao longo da histria,

    impulsionou o desenvolvimento e transformaes da existncia humana. Para

    Marx, o trabalho no apenas a fora produtiva, mas a essncia da atividade

    humana. O homem ao produzir as condies de sua existncia, produz a si

    mesmo, faz a histria e determinado pelas relaes sociais e de produo.

    Vale ressaltar que o trabalho tomado como categoria essencial que explica

    no s o mundo e a sociedade do passado e do presente, mas permite ao

    homem uma prtica transformadora e o desafio de construir uma sociedade

    fundada em novos princpios e valores.

    Tendo estabelecido o trabalho como princpio pedaggico para a compreenso

    da sociedade, torna-se fundamental, ao lado disso, entender a noo de que a

    histria se movimenta devido s contradies, aos antagonismos e conflitos

    que esto na base da sociedade porque so fruto da ao dos prprios

    homens.

    Nas ltimas dcadas a contribuio mais significativa da produo

    historiogrfica marxista vem de historiadores ingleses que lanaram-se ao

    estudo de uma histria vinda de baixo, preocupada com a histria operria e

    a cultura popular. Revelaram e fizeram falar a histria de homens e mulheres

    trabalhadores, sujeitos que por muito tempo estiveram excludos da produo

    historiogrfica.

    Uma nova perspectiva para o ensino de Histria no pode ficar limitada a uma

    concepo que destaque apenas as classes dominantes, mas sim, objetivar

  • uma noo mais ampla, onde as classes populares sejam tambm inseridas

    em suas anlises. H necessidade da escola reencontrar as memrias

    perdidas da histria, resgatar o cotidiano, a memria de homens comuns que

    foram deixados margem da histria.

    O professor, ao tomar as experincias vividas pelas pessoas comuns como

    objeto de ensino da histria, romper com contedos tradicionalmente

    selecionados que pouco sentido fazem ao educando, bem como precisar de

    metodologias de ensino adequadas para o trabalho em sala de aula.

    Objetivos Gerais

    Explicitar os fundamentos tericos que norteiam o ensino de Histria, numa

    concepo materialista.

    Apresentar o pensamento educacional sobre o ensino de Histria nas diversas

    tendncias pedaggicas da educao brasileira.

    Conscientizar os alunos da importncia do desenvolvimento da temporalidade

    na criana como condio indispensvel para compreender o processo

    histrico.

    Analisar o Currculo Bsico para a Escola Pblica do Estado do Paran

    observando os Pressupostos Tericos, Encaminhamento Metodolgico,

    Contedos e Avaliao do ensino de Histria nas sries iniciais do Ensino

    Fundamental.

    Desenvolver o senso crtico nos alunos, capacitando-os a proceder a anlise

    crtica de materiais e livros didticos da disciplina de Histria, bem como a

    seleo de atividades.

    Desenvolver metodologias que estejam em consonncia com a presente

    proposta, articulando os contedos trabalhados com o Estgio Supervisionado,

    onde os alunos podero aplicar os conceitos apreendidos.

    Contedos por Semestre

    1 SEMESTRE

  • Histria e memria social: as finalidades do ensino de Histria na sociedade

    brasileira contempornea:

    Concepo de Histria;

    histrico do ensino no Brasil;

    os Estudos Sociais: fundamentos, implantao e experincias no Brasil;

    o ensino de Histria no quadro das tendncias histricas da educao

    brasileira;

    novas tendncias.

    A transposio didtica da histria e a construo da compreenso e

    explicao histrica

    Teorias crticas da aprendizagem: construtivismo e sociointeracionismo

    Ensinar Histria: o que, como, quando.

    O papel do professor no ensino de Histria.

    Relao entre a construo da noo de tempo e espao e leitura do mundo

    pela criana:

    Temporalidade: tempo vivido, percebido e concebido;

    desenvolvimento da noo de tempo e espao na criana;

    durao, permanncia, continuidade e mudana;

    relao passado/presente no pensamento histrico: aqui / hoje, hoje / em outro

    lugar e aqui / ontem.

    2 SEMESTRE

    Trabalho com as fontes histricas:

    Textos de pocas;

    mapas histricos;

    Constituio do Brasil;

    meios de comunicao;

    poemas e letras de msica;

  • pesquisa, entrevista e outras fontes;

    possibilidades histricas do meio.

    Objetivos e contedos programticos de Histria nos anos iniciais do Ensino

    Fundamental:

    Objetivos do ensino de Histria no Ensino Fundamental;

    propostas curriculares para o ensino de Histria

    contedos bsicos para o ensino de Histria nas sries iniciais do Ensino

    Fundamental no Estado do Paran;

    eixos temticos: Trabalho, Sociedade, Cotidiano e Imaginrio

    planejamento, seleo e avaliao em histria;

    o que ensinar: objetivos essenciais (assuntos significativos);

    planejamento nas sries iniciais do Ensino Fundamental;

    avaliao em histria.

    Anlise crtica do material didtico:

    Ideologia do livro didtico;

    superando o livro didtico;

    anlise de livros e materiais didticos de Histria para as sries iniciais do

    Ensino Fundamental;

    Bibliografias comentadas de livros didticos de Histria.

    Encaminhamento Metodolgico

    Tendo como base uma nova perspectiva para o ensino, que estabelece o

    trabalho como princpio pedaggico, o professor deve procurar passar da

    reproduo, da exposio sistemtica do conhecimento compreenso

    histrica e lgica das experincias da humanidade. Isto significa realizar

    mudana de mentalidade, correo de hipteses cientficas, modificao de

    esquemas intelectuais e estimular a tenso contnua entre a aprendizagem e

    esprito crtico.

    Se o objetivo do ensino fazer o aluno compreender, apreender as formas de

    produo do conhecimento atravs dos contedos crticos da histria, a

  • adequao metodolgica far-se- tomando a realidade do aluno como ponto de

    partida e atravs desse saber, a ela retornar no sentido de conquistar a

    elevao do grau de compreenso da realidade por parte do aluno.

    Apenas a seleo de contedos crticos no iro garantir a mudana

    pretendida no ensino se o professor mantiver uma postura autoritria ou

    paternalista. necessrio que o professor explicite as regras que governam a

    produo do conhecimento histrico e crie espaos para que esse

    conhecimento possa ser trabalhado, e talvez, reelaborado em sala de aula,

    valorizando-se assim a atividade do pensamento crtico por parte dos alunos e

    rejeitando-se o enciclopedismo e a passividade.

    Critrios de Avaliao

    Partimos do pressuposto de que verificar no avaliar, pois o ato de verificar

    consiste simplesmente em coletar informaes, enquanto a ao avaliativa

    mais subjetiva, haja vista que compreende coleta, anlise e sntese dos dados,

    acrescida de atribuio de valor. Importante registrar que, por ser um processo

    contnuo, dever conduzir a retomada de caminhos, se necessrio. Desta

    forma, o professor utilizar-se- do resultado da avaliao no apenas para

    aferir notas, mas para reformular seu planejamento, adotando estratgias e

    procedimentos diversificados, visando superar as lacunas diagnosticadas.

    Evidenciamos que a expresso escrita (provas) o instrumento mais utilizado

    no processo avaliativo. Todavia, h que se considerar que apenas um

    instrumento no capaz de identificar o conhecimento adquirido pelo aluno,

    por isso o professor dever propiciar diversificadas oportunidades para que o

    aluno expresse seu conhecimento.

    A avaliao ser, portanto, diagnstica, formativa e somativa, acontecendo em

    todos os momentos do processo de ensino-aprendizagem, por meio de

    apresentao de trabalhos e mini-aulas, produo de materiais, exposies e

    seminrios (nos quais ser observado os aspectos scio-afetivos), provas

    objetivas com questes dissertativas ou em forma de teste, aula do erro, alm

    da auto-avaliao. A recuperao de estudos tambm permear o processo, no

  • sentido do resgate de contedos que no foram devidamente apropriados. A

    reavaliao outra oportunidade que ofertada no trmino do perodo letivo.

    No processo avaliativo os aspectos qualitativos prevalecero sobre os

    quantitativos. Contudo, devido a exigncia de nosso sistema educacional,

    haver aferio de notas ao final de cada semestre

    Referncias Bibliogrficas

    LIMA, Elvira Souza. Avaliao, educao e formao humana. Captulo 2

    Sala de Aula.

    LUCKESI, Cipriano C. Verificao ou avaliao: o que pratica a escola? Idias.

    V.8. So Paulo: FDE, 1991.

    NEMI, Ana Lcia Lana & MARTINS, Joo Carlos. Didtica da Histria: O

    tempo vivido. Uma outra histria? So Paulo: FTD, 1996.

    PARAN/SEED. Currculo Bsico para a Escola Pblica do Paran. Curitiba,

    1990.

    PARAN/SEED. Proposta Curricular da Disciplina Metodologia do Ensino de

    Histria. Curitiba, 1989.

    PARAN/SEED. Educao Profissional na Rede Pblica Estadual:

    Fundamentos Polticos e Pedaggicos Verso Preliminar. Curitiba, 2005.

    _______. Proposta Curricular da Disciplina Metodologia do Ensino de Histria.

    Faxinal do Cu, 2005.

    _______.Proposta Pedaggica Curricular do Curso de Formao de Docentes

    da Educao Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nvel mdio,

    na Modalidade Normal. Curitiba, 2006

  • PENTEADO, Helosa Dupas. Metodologia do Ensino de Histria e Geografia.

    So Paulo: Cortez, 1991.