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Página 1 de 11 MIGRAÇÕES, IDENTIDADES CULTURAIS E ETNICIDADE As migrações na sociedade actual As migrações são deslocações, temporárias ou permanentes, da população entre dois espaços geográficos. Essas deslocações podem ocorrer: dentro do mesmo país; entre países diferentes, neste caso designando-se por emigração o movimento de saída da população e por imigração movimento de entrada. As causas das migrações são muito variadas sendo as mais comuns de natureza económica, isto é, os indivíduos deslocam-se à procura trabalho, de melhores condições de vida, etc. Neste tipo de migrações, enquadram-se os movimentos de população dentro do mesmo país das zonas rurais empobrecidas para a zonas urbanas ou dos países mais pobres para os mais ricos. As migrações não são um fenómeno recente, pois têm sido uma constante ao longo da história. Por exemplo, a formação dos Estados Unidos (a partir do século XIX) resultou de uma vaga sucessiva de migrações com várias origens, primeiro europeus, depois asiáticos e hispânicos. A partir da Segunda Guerra Mundial, em especial nas duas últimas décadas do século passado, as migrações intensificaram-se em todo o mundo, como resultado do desenvolvimento económico. As disparidades de níveis de desenvolvimento que se verificam a nível mundial dão origem a movimentos migratórios. O diferencial de bem-estar entre países ricos e pobres, quer a nível salarial quer a nível de acessibilidade aos bens coletivos (educação, saúde, habitação, etc.), tem vindo a induzir de forma continuada esta pressão migratória. O processo migratório também tem vindo a ser acelerado pelo contexto de globalização que carateriza as sociedades atuais, pois a rápida circulação de informação e a institucionalização de redes de tráfico e de transporte de migrantes facilitam a deslocação das populações. A persistência das desigualdades de desenvolvimento, num contexto de globalização, poderia levar, numa situação limite, ao Disponível na Internet: http://sigarra.up.pt/flup/pt/noticias_geral.ver_noticia?P_NR=25582 Movimentos migratórios para a Europa, no início do século XX Disponível na Internet: http://www.coladaweb.com/geografia/migracoes-internacionais

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MIGRAÇÕES, IDENTIDADES CULTURAIS E ETNICIDADE

As migrações na sociedade actual

As migrações são deslocações, temporárias ou permanentes, da população entre dois espaços

geográficos. Essas deslocações podem ocorrer:

dentro do mesmo país;

entre países diferentes, neste caso designando-se por emigração o movimento de saída da

população e por imigração movimento de entrada.

As causas das migrações são muito variadas sendo as mais comuns de natureza económica, isto é, os

indivíduos deslocam-se à procura trabalho, de

melhores condições de vida, etc. Neste tipo de

migrações, enquadram-se os movimentos de

população dentro do mesmo país das zonas

rurais empobrecidas para a zonas urbanas ou

dos países mais pobres para os mais ricos.

As migrações não são um fenómeno

recente, pois têm sido uma constante ao longo

da história. Por exemplo, a formação dos

Estados Unidos (a partir do século XIX) resultou

de uma vaga sucessiva de migrações com

várias origens, primeiro europeus, depois

asiáticos e hispânicos.

A partir da Segunda Guerra Mundial, em especial nas duas últimas décadas do século passado, as

migrações intensificaram-se em todo o mundo, como resultado do desenvolvimento económico.

As disparidades de níveis de desenvolvimento que se verificam a nível mundial dão origem a

movimentos migratórios. O diferencial de bem-estar entre países ricos e pobres, quer a nível salarial

quer a nível de acessibilidade aos bens coletivos

(educação, saúde, habitação, etc.), tem vindo a

induzir de forma continuada esta pressão

migratória.

O processo migratório também tem vindo a

ser acelerado pelo contexto de globalização que

carateriza as sociedades atuais, pois a rápida

circulação de informação e a institucionalização

de redes de tráfico e de transporte de migrantes

facilitam a deslocação das populações.

A persistência das desigualdades de

desenvolvimento, num contexto de globalização,

poderia levar, numa situação limite, ao

Disponível na Internet:

http://sigarra.up.pt/flup/pt/noticias_geral.ver_noticia?P_NR=25582

Movimentos migratórios para a Europa, no início do

século XX

Disponível na Internet:

http://www.coladaweb.com/geografia/migracoes-internacionais

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estabelecimento de fluxos permanentes entre países, o que acarretaria consequências negativas para os

países de acolhimento (ao nível de emprego e do consumo).

Neste sentido, as forças políticas destes países não defendem uma política de “porta aberta”, ou

seja, os Estados definem políticas migratórias mais ou menos restritivas, de modo a poderem controlar

as entradas e as permanências de imigrantes no seu território.

As migrações e as decisões de migrar deixam de estar apenas

dependentes de fatores de repulsão (causas que no país de

origem levam os indivíduos a emigrar) e de fatores de atração

(condições dos países de destino atrativas para os imigrantes).

Com efeito, nessas decisões também pesam as políticas

migratórias dos países de acolhimento.

A integração dos migrantes

As migrações têm consequências quer nas sociedades de

origem quer nas de

destino dos

migrantes.

Nas sociedades de

origem, as principais

consequências são o

envelhecimento da

população, dado que,

geralmente, os

emigrantes são

população jovem e em

idade ativa, e a

entrada de remessas

enviadas pelos emigrantes, que podem atingir volumes

consideráveis.

Relativamente aos países de acolhimento, o principal problema que se coloca é o da integração dos

imigrantes. Essa integração pode ser analisada a

dois níveis:

. Inserção no mercado de trabalho;

. Integração cultural.

A nível do mercado de trabalho, os

imigrantes, geralmente, ocupam os postos de

trabalho menos qualificados e mais precários, em

termos de contrato, ou mesmo do setor informal

(atividades não regulamentadas pelo Estado),

“Quando um imigrante se confronta

com uma nova sociedade, emergem

duas questões básicas: é importante

manter a minha identidade cultural? É

importante manter relações culturais

com outros grupos da sociedade de

acolhimento? As respostas configuram

quatro modalidades de relações

culturais: integração, assimilação,

separação e marginalização.

A integração é uma estratégia que

consiste em manter aspetos importantes

da identidade cultural de origem e ao

mesmo tempo desenvolver relações com

a sociedade de acolhimento e adotar

comportamentos e valores dessa

sociedade. A separação indica um

fechamento na cultura de origem. A

assimilação, pelo contrário, indica uma

abertura à cultura de acolhimento em

detrimento da cultura de origem. A

marginalização é o resultado de um

processo de negação da própria cultura

e de não integração na cultura da

maioria, muitas vezes por rejeição da

própria maioria.”

Vala, J., Processos identitários e gestão

da diversidade, I Congresso - Imigração

em Portugal,

Lisboa, ACIME, 2004 (adaptado).

Europa fortaleza, pouco disponível para receber migrantes

Disponível na Internet:

http://www.migracoesporto.org/index_ficheiros/Page3814.htm

Manifestação em defesa dos direitos dos

imigrantes, S. Francisco, USA, 1910

Disponível na Internet:

http://www.fogcityjournal.com/wordpress/1898/t

housands-protest-arizona-immigration-law-in-san-

francisco/

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situação que os torna mais vulneráveis ao desemprego. Para os imigrantes que não estão legalizados, e

situação ainda é mais grave, pois não cumprem os seus deveres de cidadania, isto é, não pagam

impostos e não lhes estão garantidos os direitos económicos e sociais dado não estarem inseridos no

mercado de trabalho legal formal.

Quanto à integração cultural, as dificuldades também são grandes. O desconhecimento da língua

funciona, desde logo, como uma primeira barreira à integração. Por outro lado, as comunidades

imigrantes têm geralmente modos de vida e identidades culturais diferentes dos da sociedade de

acolhimento.

A vivência numa sociedade com

uma cultura diferente coloca ao

imigrante problemas de identidade

que resultam da tensão permanente

entre:

. a conservação das especificidades

da sua cultura de origem (língua,

religião, hábitos, tradições, etc.);

. o processo de aculturação a que

inevitavelmente está sujeito, se

quer integrar-se e usufruir das

vantagens que daí podem advir.

Entre essas dualidades, as estratégias de integração dos imigrantes podem assumir os graus

extremos de assimilação ou de marginalização.

A sociedade de acolhimento também pode desenvolver atitudes diferenciadas em relação aos

imigrantes que podem ser de integração, assimilação, segregação, exclusão, individualização.

A diversidade étnica das sociedades atuais

Os movimentos migratórios têm contribuído

para o aparecimento, nas sociedades de

acolhimento, de grupos, geralmente minoritários,

que se diferenciam pelas suas caraterísticas

culturais, raciais, religiosas, linguísticas, etc. -

minorias étnicas. Esta diversidade étnica está bem

patente nas sociedades europeias, incluindo a

portuguesa.

Muitas vezes, as minorias étnicas apresentam

caraterísticas culturais bastante diferentes das da

sociedade de acolhimento, assumindo os seus

membros essa diferença e sendo vistos pelos

outros da mesma forma. Neste caso, pode falar-se

Manifestação em favor da tolerância face aos

emigrantes, Oslo, 2011

Disponível na Internet:

http://www.bloomberg.com/news/articles/2011-07-27/norway-atrocity-

may-fail-to-erode-nordic-anti-immigration-parties-support

Ciganos deixam acampamento em Lyon, France, na sequência de

expulsão ditada pelas autoridades, 2012

Disponível na Internet: http://oglobo.globo.com/mundo/hollande-desfaz-

acampamentos-paga-para-ciganos-deixarem-pais-5748670

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existência de etnicidade.

A etnicidade designa os modos de vida e as práticas culturais que distinguem os membros de um

grupo dos restantes. Quer isto dizer que a etnicidade uma característica dos grupos de imigrantes,

quando estes grupos mantêm, suas identidades culturais e formas de ação coletivas próprias. A

etnicidade torna-se, assim, uma fonte de identidade para alguns grupos de imigrantes, estando na base

de algumas situações de conflito que atravessam as sociedades atuais. Também se poderá referir que

estes grupos de imigrantes constituem subculturas, na medida em que são segmentos da população

cujos traços culturais são distintos dos da sociedade envolvente.

Etnocentrismo cultural

Como vimos, existe uma pluralidade de padrões culturais que variam no tempo e no espaço. Deste

modo, muitas vezes, os padrões de outros grupos ou sociedades podem parecer-nos e estranhos. Por

exemplo, quando vemos filmes na

televisão sobre outras sociedades,

começamos por achar incompreensível a

língua que falam, mas também podemos

encontrar aspetos da vida quotidiana,

hábitos alimentares e formas de vestir

completamente diferentes dos da

sociedade portuguesa - multiculturalismo

das sociedades atuais.

A situação torna-se mais difícil quando

entramos em contacto direto com outras

culturas, podendo, muitas vezes,

produzir-se choques culturais, quando os

valores das “outras” culturas são muito diferentes dos nossos padrões culturais. Estes choques culturais

resultam do facto de termos tendência para julgar os padrões das outras culturas com base nos da

nossa, levando-nos a não aceitar ou a aceitar dificilmente esses padrões diferentes dos nossos. Por

exemplo, a existência de monogamia nas sociedades ocidentais, pode levar à rejeição de outros tipos de

comportamento poligâmico caraterísticos de

outras culturas, como a muçulmana.

Ora, o etnocentrismo cultural consiste

precisamente em não julgar negativamente as

outras culturas tomando como padrão os nossos

modelos culturais. Quando assumem esta

conduta, os indivíduos estão a sobrevalorizar a sua

cultura, considerando inferior a dos outros.

Nas sociedades atuais, onde a diversidade

cultural é muito grande, o etnocentrismo cultural

tem dado origem a fenómenos exacerbados de

A cultura muçulmana está cada vez mais presente na Europa.

França, 2014

Disponível na Internet: http://www.ultimosacontecimentos.com.br/ultimas-

noticias/a-islamizacao-da-europa-sera-algo-irreversivel.html

Emigrantes tentam chegar à Europa, de barco, 2014

Disponível na Internet:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150419_tragedia_medi

terraneo_ue_rm

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rejeição social, como racismo (forma de preconceito e de segregação social baseada em diferenças

raciais ou étnicas e a xenofobia (aversão e discriminação de estrangeiros).

A diversidade étnica da sociedade portuguesa

Na década de 60 do século xx, apenas

residiam em Portugal 29 428 estrangeiros,

principalmente de nacionalidade espanhola e

brasileira. Esta situação não se alterou

substancialmente até ao 25 de Abril de 1974.

Após essa data, o processo de

descolonização aumentou os fluxos

imigratórios dos novos países africanos

lusófonos em direção a Portugal, o que fez

com que a população imigrante passasse a ser

constituída maioritariamente por cidadãos

das ex-colónias portuguesas.

Na década de 80, o ritmo de crescimento da população estrangeira abrandou, passando a

predominar os cidadãos brasileiros, mas mantendo-se um elevado fluxo de imigrantes originários de

Cabo Verde.

Em 1986, Portugal aderiu à Comunidade Europeia, e os reflexos dessa adesão são visíveis na

economia portuguesa, pois,

durante o período que vai desde

1986 até 1991, a economia

portuguesa obteve resultados

globais francamente positivos.

Estas transformações

económicas tiveram reflexos nos

perfis da população imigrante, já

que, a par da entrada de mão de

obra pouco qualificada composta

essencialmente por imigrantes

africanos, também entraram

imigrantes, nacionais de países

europeus e brasileiros, altamente qualificados.

Durante a década de 90, o fluxo imigratório tornou a acelerar, constatando-se um novo fenómeno, o

da entrada de imigrantes nacionais de países com os quais Portugal não tinha mantido “laços

económicos ou históricos privilegiados”, como, por exemplo, os países do Leste e do Centro da Europa.

Este aumento de influxo poderá ser explicado, em parte, pelo facto de os portugueses terem optado

por emigrar, deixando “lugares vagos para os imigrantes”, e pelos processos de legalizações

extraordinários que ocorreram durante a década de 90 (1992 e 1996).

Manifestação de emigrantes, Lisboa, 2009

Disponível na Internet: http://www.esquerda.net/content/ps-dividido-sobre-

redu%C3%A7%C3%A3o-de-quota-de-imigrantes

Manifestação de emigrantes, Lisboa, 2008

Disponível na Internet: http://www.esquerda.net/content/manifesta%C3%A7%C3%A3o-contra-

xenofobia-juntou-dois-mil-imigrantes

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Também se alteraram alguns padrões de inserção dos imigrantes no mercado de trabalho, tendo-se

reduzido o número de profissionais qualificados e aumentado o emprego na construção civil e obras

públicas

(trabalhadores não

qualificados), bem

como o emprego nos

serviços pessoais e

domésticos.

Entre 1999 e 2001,

os fluxos imigratórios

disparam,

essencialmente, os de

nacionais dos países

do Leste europeu. O

facto de Portugal

integrar a União Europeia e o espaço de Schengen poderá ter tido influência neste aumento do fluxo

imigratório. Mas esse crescimento também se deveu às motivações económicas (diferenças de salários e

de nível de vida), à existência de redes fortemente organizadas na Europa de Leste de angariação de

emigrantes (máfias) e à promulgação do Decreto n.º 4 de 2001, que permitia a regularização dos

imigrantes, desde que tivessem um contrato de trabalho.

No início do século XXI, sobrepondo-se à imigração africana, os fluxos com origem nos países da

Europa de Leste contribuíram para o crescimento da população estrangeira total a residir em Portugal.

A partir de 2003, o mercado de trabalho português perdeu capacidade de atração de mão de obra

estrangeira. O Ritmo de crescimento do número de cidadãos estrangeiros diminuiu, passando a dever-se

essencialmente aos processos de reagrupamento familiar e não tanto às migrações por motivos

económicos.

A contração da economia portuguesa a partir de 2008/2009 leva a uma diminuição da população

estrangeira em Portugal partir de 2010. Essa diminuição também resultou da aquisição da nacionalidade

portuguesa por um número crescente de cidadãos que preenchem os requisitos necessários exigidos na

Lei Orgânica n.º 2/2006 de 17 de abril.

Em 2013, de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2013 do SEF, “consolidou-se

a tendência de decréscimo do número de estrangeiros residentes em Portugal”. Em termos de

continentes, a Europa, a partir do ano de 2001, adquiriu primazia nos contingentes de estrangeiros com

presença documentada em Portugal (40,7% do total), muito devido à presença dos cidadãos dos países

de Leste, com particular destaque para a Ucrânia, ultrapassando a África, que durante várias décadas

permaneceu como a origem geográfica mais relevante devido aos cidadãos dos PALOP.

Por países, em 2013, manteve-se estrutura das nacionalidades mais representativas: o Brasil era o

país com a maior comunidade residente em Portugal, seguido de Cabo Verde e da Ucrânia.

O grande decréscimo dos imigrantes brasileiros pode ser explicado pela aquisição da nacionalidade

portuguesa, pela alteração dos fluxos migratórios e pelo impacto da atual crise económica no mercado

laboral.

In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível

na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20

Portugal.pdf

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O Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras também destaca o facto de, em 2013, a China ter

passado a ser a sexta

nacionalidade mais

relevante, com um

crescimento de 6,8%,

suplantando a Guiné-Bissau,

que cresceu 0,5%. Das

nacionalidades mais

representativas, a chinesa e

a guineense (Bissau) foram

as únicas que registaram um

aumento do número de

residentes.

Na sociedade portuguesa,

existe, assim, uma grande

diversidade étnica e cultural,

mais evidente em algumas

zonas, mas estendendo-se a todo o país.

Com efeito, mais de metade da população estrangeira residente em Portugal está concentrada na

região de Lisboa (51,6%). Esta elevada concentração de imigrantes na Área Metropolitana de Lisboa

resulta em grande parte das

primeiras vagas de imigração

africana. As vagas imigratórias mais

recentes apresentam padrões de

maior dispersão geográfica no

território português,

nomeadamente a imigração de

Leste, que se espalhou por todo o

país.

Esta diversidade étnica e

cultural manifesta-se de várias

formas. Por exemplo, nas zonas

urbanas, podemos encontrar

estabelecimentos de comércio

étnico onde se vendem produtos

alimentares e especiarias

tradicionais dos países de origem dos imigrantes, observar uma grande variedade de formas de

vestuário, experimentar comidas tradicionais de diferentes regiões do mundo, ouvir falar nas ruas

línguas que desconhecemos e uma grande variedade da música e podemos, ainda, ver outras formas de

expressão artística e cultural.

In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis

Disponível na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Im

igrantes%20em%20Portugal.pdf

In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis

Disponível na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20I

migrantes%20em%20Portugal.pdf

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Neste sentido, esta diversidade pode ser considerada um fator enriquecedor pelo facto de estar

associada a novas formas de encarar a realidade e a novos elementos culturais, como no caso da

música, da gastronomia ou mesmo da maneira de vestir.

Esse multiculturalismo também é visível nas escolas portuguesas, pois a maior parte delas é

frequentada por alunos estrangeiros, ou seja, atualmente, na escola, coexistem grupos culturalmente

heterogéneos.

A integração da população imigrante na economia portuguesa e os seus perfis sociodemográficos

Em linhas gerais, a população estrangeira com residência em Portugal apresenta as caraterísticas de

uma mão de obra pouco qualificada, apesar de um grupo de imigrantes, mais reduzido, desenvolver

atividades socialmente valorizadas (como médicos,

dentistas, cuidados de saúde, marketing, design e

outras).

A integração de algumas nacionalidades,

nomeadamente os imigrantes oriundos dos PALOP, é,

em larga medida, efetuada na economia subterrânea,

ou seja, no setor informal - atividades não

regulamentadas pelo Estado, predominantemente nos

setores da construção civil e das obras públicas.

O INE, na Revista de Estudos Demográficos, n.º 53,

de 2014, apresenta a seguinte caraterização sociode-

mográfica da população imigrante em Portugal:

. Os estrangeiros residentes em Portugal eram maio-

ritariamente mulheres.

. A idade média da população estrangeira era de 34,2 anos.

In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20Portugal.pdf

Estudantes chineses numa escola portuguesa

Disponível na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%

http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/chineses-tem-estatuto-de-

estranh_2311.html

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. O estado civil solteiro (cerca de 53%) predominava na população estrangeira.

. Verificava-se uma maior informalidade nas uniões conjugais desse grupo populacional relativamente

à população portuguesa.

. Os níveis de escolaridade da população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos), recenseada em 2011,

eram, de modo geral, mais elevados na população de nacionalidade estrangeira comparativamente

com a população portuguesa.

. Mais de 60% da população estrangeira era economicamente ativa.

. O trabalho constituía a sua principal fonte de rendimento, e trabalhador da limpeza era a sua

principal profissão. Restauração, construção e comércio a retalho eram as atividades económicas que

empregavam mais estrangeiros.

. A religião católica foi a mais assumida pelos estrangeiros residentes.

O estudo “Monitorizar a Integração de

Imigrantes em Portugal” realizado por Catarina

Oliveira e Natália Gomes” apresenta alguns

dados complementares sobre as caraterísticas do

fenómeno imigratório em Portugal, nos últimos

anos (adaptado):

“Os imigrantes contribuem positivamente

para a demografia portuguesa. O último

Recenseamento da População realizado pelo

Instituto Nacional de Estatística (Censos 2011) veio reafirmar o contributo positivo da população

estrangeira na demografia portuguesa. Nos últimos 10 anos a população cresceu 2% (206.061

indivíduos), sobretudo como consequência do saldo migratório (que explica 91% desse crescimento). Os

estrangeiros têm sido responsáveis não apenas pelo aumento de efetivos em idade ativa, mas

In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível na Internet:

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20Portugal.pdf

Comunidade chinesa em Portugal

Disponível na Internet:

http://observador.pt/2014/06/23/comunidade-chinesa-foi-que-mais-

aumentou-em-portugal-em-2013/

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também pelo incremento dos nascimentos em Portugal. A população de nacionalidade estrangeira

residente em Portugal é tendencialmente mais jovem que a população de nacionalidade portuguesa.

A população estrangeira residente em Portugal encontra-se sobretudo concentrada na região de

Lisboa. A percentagem de estrangeiros que se

concentra nesta unidade territorial corresponde a

51,6%. A elevada concentração de estrangeiros

na Região de Lisboa resulta em grande medida

das primeiras vagas de imigração provenientes

dos PALP. Ainda que as vagas imigratórias mais

recentes tenham sido importantes para diminuir

a sobre concentração nesta região (por

apresentarem padrões de maior dispersão

geográfica no território português), não

conseguiram retirar a importância relativa da

região de Lisboa que capta ainda mais de metade dos estrangeiros residentes no país.

Se é verdade que o número de estrangeiros em Portugal tem diminuído nos últimos anos, também

se nota que os perfis de imigração para Portugal estão a diversificar-se. As condições económicas

menos favoráveis do país a partir de 2008, mudaram o perfil de entradas de estrangeiros em Portugal.

Não apenas o fluxo global de entradas diminui (em especial entre 2008 e 2011, retomando com ligeiro

aumento a partir de 2012), como se verifica uma alteração nos perfis das entradas, com aumento de

alguns fluxos – caso dos estudantes, de investigadores e altamente qualificados e, de forma mais ténue,

de reformados – e diminuição de outros – entradas para o exercício de atividades subordinadas.

A população estrangeira não é um todo homogéneo quanto à sua inserção económica, verificando-

se três formas de incorporação no mercado de trabalho: (1) imigração laboral, personificada

principalmente pelos operários dos PALP, brasileiros e

do Leste europeu; (2) imigração profissional,

essencialmente representada por trabalhadores

oriundos da União Europeia e do continente

americano; e (3) imigração empresarial, destacam-se

os asiáticos, em especial os chineses.

A segmentação do mercado de trabalho português,

associando os estrangeiros às atividades manuais e

mais exigentes, e por vezes mais arriscadas, e a

algumas características dos trabalhadores imigrantes

(e.g. disponibilidade para trabalhar mais horas,

trabalhadores tendencialmente pouco informados

acerca dos seus direitos e deveres laborais em

Portugal, com conhecimentos limitados acerca dos

sistemas de segurança e saúde no trabalho) tem tido consequências na sinistralidade laboral dos

estrangeiros que se mostra superior à verificada para os trabalhadores portugueses.

Comunidade ucraniana em Fátima, Portugal

Disponível na Internet:

http://fatimacidade.blogs.sapo.pt/arquivo/Ucrania13AgoFM.html

Comunidade brasileira em Portugal

Disponível na Internet:

http://www.portaldeangola.com/2012/07/brasileiros-continuam-a-

ser-a-maior-comunidade-de-imigrantes-em-portugal/

Página 11 de 11

Verifica-se um desequilíbrio nas remunerações base médias entre os portugueses e os

estrangeiros. Os dados de 2012 dos Quadros de Pessoal mostram que, em média, os trabalhadores

estrangeiros têm remunerações 7% mais baixas que a generalidade dos trabalhadores do país.

Segundo dados do Eurostat, em 2012 Portugal era o terceiro país da União Europeia com a taxa de

desemprego mais elevada (15,9%), sendo apenas ultrapassado pela Grécia (24,3%) e Espanha (25,0%). O

desemprego não incide de igual forma nos diferentes grupos populacionais. As taxas de desemprego

dos estrangeiros são superiores às dos portugueses; e, por outro, a distância entre estes dois grupos

agravou-se substancialmente na última década - em 2001 verifica-se uma diferença de dois pontos

percentuais na taxa de desemprego dos portugueses e dos estrangeiros, passando para 6 pontos

percentuais em 2011.

Durante a última década o saldo financeiro da segurança social com os estrangeiros foi positivo.

Os estrangeiros mostram maior

percentagem de população nos níveis de

escolaridade mais elevados quando

comparados com os portugueses. Essa

tendência não é, contudo, uniforme para

todas as nacionalidades estrangeiras.

A distribuição dos trabalhadores

estrangeiros pelos grupos profissionais do

mercado de trabalho em Portugal não

reflete necessariamente as suas

qualificações. Verifica-se em Portugal o

fenómeno da sobre qualificação no

mercado de trabalho. Os estrangeiros qualificados em Portugal sem o reconhecimento das suas

qualificações representam um importante capital humano que não está a ser aproveitado no mercado

de trabalho.

A compreensão da língua do país de acolhimento é um requisito fundamental no processo de

integração de imigrantes, tendo por isso aumentado a oferta de cursos de aprendizagem da língua de

acolhimento um pouco por toda a Europa.

Nos últimos anos verifica-se um grande aumento do número de “novos cidadãos” portugueses

associado essencialmente a estrangeiros residentes em Portugal (mais de 90% das aquisições de

nacionalidade) e descendentes de imigrantes.

Na década passada aumentou a percentagem de estrangeiros elegíveis para votar por total de

residentes. Contudo, a percentagem de cidadãos estrangeiros recenseados em Portugal para votar por

total de estrangeiros residentes elegíveis para votar em eleições locais diminuiu (...), o que tanto pode

refletir o crescente desinteresse das populações estrangeiras no país para os seus direitos políticos ou

a sua perceção de falta de direitos políticos em Portugal.”

No essencial, o texto apresentado foi retirado de: Andrade, Anabela; Moinhos, Rosa (sd) Sociologia

12.º ano. Lisboa: Plátano Editora (adaptado)

Comunidade africana em Portugal

Disponível na Internet: http://www.jornalacores9.net/nacional/imigracao-e-

trafico-de-pessoas-sem-alteracoes-mas-com-novos-fenomenos/