ministério da cultura, governo de minas gerais · se pudéssemos passar da história da música à...
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Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Banco Votorantim apresentam
PATROCÍNIO MÁSTER
PARA ASSISTIR, OUVIR E LERACOMPANHE a Filarmônica
PARA APRECIAR um concerto
P. 108
P. 112
P. 113
26 SETEMBRO
24 OUTUBRO
21 NOVEMBRO
19 DEZEMBRO
P. 71
P. 77
P. 85
P. 93
P. 106
FABIO MECHETTI, regenteTEO GHEORGHIU, pianoAbertura Leonora nº 2, op. 72a
Concerto para piano nº 6 em Ré maior, op. 61a
Sinfonia nº 6 em Fá maior, op. 68, "Pastoral"
FABIO MECHETTI, regenteROMMEL FERNANDES, violinoARA HARUTYUNYAN, violinoAbertura Leonora nº 3, op. 72b
Romance nº 1 em Sol maior, op. 40
Romance nº 2 em Fá maior, op. 50
Sinfonia nº 7 em Lá maior, op. 92
MARCOS ARAKAKI, regenteTRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, pianoA Vitória de Wellington, op. 91
Concerto para violino, violoncelo e piano em Dó maior, op. 56, "Tríplice"
Sinfonia nº 8 em Fá maior, op. 93
FABIO MECHETTI, regentePABLO ROSSI, pianoMARIANA ORTIZ, sopranoDENISE DE FREITAS, mezzo-sopranoFERNANDO PORTARI, tenorSTEPHEN BRONK, baixo-barítonoCORAL LÍRICO DE MINAS GERAISFantasia Coral, op. 80
Sinfonia nº 9 em ré menor, op. 125, "Coral"
POEMAS DA FANTASIA CORAL E DA SINFONIA Nº 9
P. 45
P. 39
P. 51
P. 57
P. 65
21 MARÇO
11 ABRIL
23 MAIO
20 JUNHO
15 AGOSTO
FABIO MECHETTI, regenteRONALDO ROLIM, pianoAbertura A Consagração da Casa, op. 124
Concerto para piano nº 1 em Dó maior, op. 15
Sinfonia nº 1 em Dó maior, op. 21
FABIO MECHETTI, regenteSONIA RUBINSKY, pianoA Grande Fuga em Si bemol maior, op. 133
Concerto para piano nº 2 em Si bemol maior, op. 19
Sinfonia nº 2 em Ré maior, op. 36
FABIO MECHETTI, regente NATASHA PAREMSKI, pianoAbertura Namensfeier, op. 115
Concerto para piano nº 3 em dó menor, op. 37
Sinfonia nº 3 em Mi bemol maior, op. 55, “Eroica”
ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidadoCRISTINA ORTIZ, pianoAs Criaturas de Prometeu, op. 43: Abertura
Concerto para piano nº 4 em Sol maior, op. 58
Sinfonia nº 4 em Si bemol maior, op. 60
FABIO MECHETTI, regenteJEAN-LOUIS STEUERMAN, pianoAbertura Leonora nº 1, op. 138
Concerto para piano nº 5 em Mi bemol maior, op. 73, "Imperador"
Sinfonia nº 5 em dó menor, op. 67
CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti
BEETHOVEN, do mito ao homem
OS CONCERTOS de Beethoven
AS SINFONIAS de Beethoven
Sábados, 18h P. 5
P. 12
P. 20
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FORA DE SÉRIE CAROS AMIGOS E AMIGAS
Há muito esperávamos ansiosos pela oportunidade de, pela primeira vez desde a criação da Filarmônica, ensaiarmos e tocarmos no mesmo espaço. Essa dinâmica é extremamente importante para se construir uma orquestra de excelência. Através desse continuado trabalho, consolidamos aspectos técnicos e expressivos que caracterizam todas as grandes orquestras.
Agora, com a abertura da Sala Minas Gerais, e com essa oportunidade única de maximizarmos nossos ensaios e apresentações, para que a Filarmônica possa corresponder ainda mais às expectativas e ao orgulho de nosso público, criamos uma série especial que irá focar exatamente na implementação desses aspectos. Junto a isso, oferecemos aos nossos ouvintes a oportunidade de vivenciar obras consagradas do repertório sinfônico que vêm, há séculos, impactando gerações e gerações de amantes da música.
Para o aperfeiçoamento técnico de uma orquestra (assim como para
quase qualquer outro instrumentista individual), nada melhor do que o repertório do período clássico. Esse repertório demanda precisão rítmica, uniformidade de articulação, atenção detalhada às dinâmicas, apego à estrutura da obra e fidelidade ao compositor. Foi com esse intuito que escolhemos começar a série Fora de Série explorando a magnífica obra de Ludwig van Beethoven. Com suas impressionantes sinfonias, aberturas, concertos, Beethoven foi talvez o primeiro compositor na história da música a ver a orquestra sinfônica como instrumento virtuoso, capaz de uma gama imensa de possibilidades expressivas. Ao construirmos uma série inteira baseada em sua obra, nossos músicos terão a oportunidade de conhecer melhor sua nova Sala e também a si mesmos.
Convidamos todos a participar desse descobrimento, paradoxalmente através de um repertório dos mais conhecidos e apreciados. Todos ganham: a Filarmônica, na sua busca contínua de qualidade, e o público, que certamente irá reviver as grandes emoções que a obra beethoveniana desperta em todos nós: do apelo à democracia expresso em sua Eroica, ao humanismo revelado nas eloquentes palavras de Schiller que Beethoven utilizou em sua Nona Sinfonia.
Bem-vindos.
CAROSamigos e amigas
FABIO MECHETTIDiretor Artístico e Regente Titular
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entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Realizou diversos concertos no México, Peru e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Na Europa regeu a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia e a Orquestra da Rádio e TV da Espanha. Dirigiu também a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia.
Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2015 dirigirá a Orquestra Sinfônica de Odense, também na Dinamarca.
No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre,
Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.
Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor.
Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI
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Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. Recentemente, tornou-se o primeiro brasileiro a ser convidado a dirigir uma orquestra asiática, sendo nomeado Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse, da Orquestra Sinfônica de Spokane e da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, sendo, agora, Regente Emérito destas duas últimas.
Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente.
Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus,
FABIO MECHETTIdiretor artístico e regente titular
FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI
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Bonn, Alemanha, 1770 – Viena, Áustria, 1827LUDWIG VAN BEETHOVEN
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do Testamento de Heiligenstadt, redigido em 1802: “falem mais alto, gritem, sou surdo (...). Por isso, perdoem-me, se me veem viver isolado, quando eu, com prazer, estaria no meio de vocês. Minha desgraça me é duplamente penosa porque, por ela, devo tornar-me ignorado; não terei mais estímulo
na companhia dos homens, não terei mais conversas inteligentes nem mútuos desabafos.”), não fosse isso, os amores de Beethoven passariam à margem de sua obra e de sua vida. Até mesmo a famosa Carta à Amada Imortal (que, ao que tudo indica, foi dirigida a Josefina von Brunswick) merece o devido desconto do exagero
FOTOS:BOHN
TESTAMENTOCASA
FUNERAL
Beethoven nasceu nesta casa,
hoje um museu dedicado a ele.
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Se pudéssemos passar da história da música à história dos homens – não à história política, nem mesmo à história das mentalidades, mas a uma “história dos exemplos humanos”, desses que a literatura de Dickens soube pintar com raro otimismo; se pudéssemos, pois, realizar esse movimento, diríamos, em primeiro lugar, que Ludwig van Beethoven foi um grande homem.
Sob uma perspectiva humana, ele foi exemplo de autossuperação e de entrega determinada ao cumprimento da missão da qual acreditava estar investido: a de ser, pela música, testemunha da humanidade. Por isso mesmo, ambas as coisas, em Beethoven, se confundem.
De sua infância infeliz e trágica, marcada pela brutalidade de um pai alcoólatra que dele quis fazer – sem sucesso, como pianista – um segundo Mozart; marcada, também, pelas responsabilidades que teve de assumir ainda muito jovem, em razão da decadência do pai e da perda da mãe, a quem amava profundamente e que via
sofrer pelos excessos do marido – de tudo isso Beethoven fez matéria para construir-se a si próprio e à sua música.
Os abusos da infância não o fizeram voltar-se contra o pai ou tomar ojeriza pela música, mas, ao contrário, fortaleceram em Beethoven o sentido da sua individualidade e, com isso, a consciência de que sua obra não deveria servir aos desejos e caprichos da aristocracia, nem mesmo às expectativas de um público habituado a apreciar somente o que tinha costume de ouvir. Sua música deveria ser testemunha dele próprio, como homem, como ser social e político, como indivíduo – com suas contradições e angústias. Assim, por testemunhar o homem, ela testemunharia, deste, a humanidade.
Já não se diga de seus infortúnios amorosos. Não parecem ter sido o fato mais determinante em sua obra, como, por exemplo, na obra de Schumann. Não fosse a trágica solidão em que voluntária ou involuntariamente se isolava (note-se, por exemplo, este trecho
DO MITO AO HOMEMBeethoven
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
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seus muitos cadernos de notas o atestam. Exemplo claro disso é Fidélio, sua única ópera. Muitas versões e um trabalho árduo de revisões e correções (inclusive do libreto) marcam a trajetória de sua elaboração, desde sua estreia em 1806 até sua publicação em 1826, sem mencionar o antes. Pode-se, erroneamente, atribuir essa laboriosidade à dificuldade de Beethoven em lidar com a linguagem vocal. Trata-se de uma inverdade: suas canções, a Nona Sinfonia, a Missa Solemnis o comprovam. Trata-se, sobretudo, do grande senso de responsabilidade que norteia o trabalho criativo do compositor. Cada obra sua nasce com a missão de ser mais que mero divertimento para outrem, mais que meras ideias musicais lançadas sobre uma estrutura formal já estabelecida. Cada obra de Beethoven nasce
com a responsabilidade de ser!... E, sendo, de mostrar, ao homem, o Homem. Talvez seja esse aspecto o que garanta a sempre tão veemente atualidade de sua música. A trágica consciência de um propósito voluntariamente abraçado terá ascendência direta e profunda sobre todas as gerações de compositores posteriores a Beethoven, em maior ou menor grau. Cite-se somente um exemplo: Johannes Brahms só concluiu a sua primeira sinfonia aos quarenta e três anos de idade, tendo levado vinte e um anos para compô-la! Igualmente, essa consciência e esse propósito se refletem na própria obra de Beethoven, se comparada à de seus contemporâneos: Mozart compôs vinte e sete concertos para piano; Beethoven, apenas cinco. Haydn compôs mais de uma centena de sinfonias; Mozart, quarenta e uma; Beethoven, apenas nove.
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
A pequena cidade de Bonn, às margens do rio Reno, onde
Beethoven nasceu e viveu até os 22 anos. (Imagem de Laurenz Janscha e J. Ziegler)
romântico que procurou pintar o retrato de um artista maldito e incompreendido.
Vindo de Bonn – cidade alemã, medíocre política e culturalmente à época – para, em 1792, estabelecer-se em Viena, o maior centro cultural e musical da Europa de então, Beethoven soube construir seu lugar entre vultos já lendários como os de Mozart e Haydn, cuja música era renomada internacionalmente. Com Mozart, a quem admirava profundamente, Beethoven havia travado contato em Viena, em 1787, ano da morte de sua mãe, motivo que o fez regressar a Bonn. Desse primeiro contato – Mozart trabalhava, então, em Don Giovanni – vieram, diz-se, palavras proféticas do prodígio de Salzburgo: “este jovem ainda vai dar o que falar”. No seu retorno definitivo a Viena, cinco anos depois – Mozart havia morrido em 1791–, Beethoven vem munido de uma carta de recomendação do conde Waldstein para estudar com Haydn.
A convivência com Haydn não foi nem longa nem proveitosa. Beethoven aprende muito mais no contato com a obra de Haydn do que de sua pedagogia. Conservará, entretanto, por toda a vida, profunda admiração pelo mestre, embora as relações entre ambos sejam de mera cordialidade e nunca de confiança. Mais longo
e mais proveitoso foi o contato com Salieri, com quem estudou de 1794 a 1800. A partir de então, começa a se firmar como compositor e instrumentista. Sua fama de grande improvisador ao piano já é notória. Sua ascensão é progressiva e ininterrupta. De uma obscura cidade do principado de Colônia, esse jovem de origem humilde soube se impor ao maior centro musical da Europa e se tornar lenda ainda em vida.
A maior tragédia de Beethoven foi, sem dúvida, a sua progressiva surdez. Os primeiros sinais aparecem ainda em 1798, ano de composição da sonata para piano op. 13 (a “Patética”). Ainda assim, mesmo com o agravamento do mal, que o levará à total perda de audição, Beethoven não sucumbe à fatalidade, nem se furta a manter-se firme em seu propósito de, pela música, testemunhar o homem. Sua surdez não explica sua obra, é certo, mas talvez a densidade de seu pensamento musical nunca chegasse a grau tão exponencial se, como nas palavras de Roland de Candé, “o silêncio exterior não lhe tivesse imposto a concentração de sua vontade numa música ideal”. Escreverá, por isso, Victor Hugo: “Esse surdo ouvia o infinito”.
Para Beethoven, compor nunca é uma tarefa ligeira ou fácil:
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
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Nesse campo, ele foi determinante para os gêneros mais significativos: sem falar das sonatas para piano, citem-se categoricamente seus quartetos de cordas, suas sonatas para violino e piano, suas sonatas para violoncelo e piano, seus trios com piano, para não mencionar as sinfonias. Destas, a última, pelo uso das vozes humanas, o que, dentre outros aspectos, transcende o conceito clássico.
Beethoven foi o grande surdo que a civilização ocidental fez entrar em sua mitologia. Paradoxalmente o último dos clássicos e o primeiro dos românticos, foi testemunha da fronteira entre duas eras. Seu papel histórico é capital: transcendendo o Classicismo, foi o norte e o farol do Romantismo, dando exemplo de todas as superações e ampliando de tal
maneira as formas tradicionais, que elas pareceriam eternas às gerações que o sucederam.
Beethoven foi o grande fantasma do Romantismo... E somente com Debussy e Stravinsky a música do Ocidente conseguiu, definitivamente, com grande deferência, afastar-se dele. Beethoven é o primeiro músico cuja atividade criadora foi assumida e não delegada e, cônscio disso, subverteu as relações entre a música e a sociedade, nas palavras de Roland de Candé, “desviando sua arte de seu destino aristocrático para se dirigir à humanidade inteira”.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Milhares de vienenses foram
se despedir de Beethoven em seu
funeral. (Aquarela de Franz Xaver Stöber)
Desde muito cedo Beethoven assume essa postura de grande responsabilidade diante do ofício de artista criador. Por isso a clássica tripartição das fases de Beethoven, proposta por F. J. Fétis e W. von Lenz, se mostra frágil. Nessa tripartição, a primeira fase, que iria de 1800 a 1802, mostra um Beethoven que ainda se atém à linguagem clássica, sob a ascendência de Haydn, embora já demonstre aspectos muito pessoais. Anterior a essa fase, porém, estão, por exemplo, três sonatas para piano, compostas entre 1782 e 1783 – portanto, não incluídas na série canônica das trinta e duas sonatas para piano –, que já ensaiam, dentre outras obras, a própria Sonata Patética, op. 13, a qual, por sua vez, em muitos aspectos distancia-se da linguagem genuinamente clássica.
A segunda fase iria de 1803 a 1815. Nela, notam-se certas investidas formais, alterando a forma sonata, a substituição do minueto pelo scherzo e uma série de experiências na linguagem pianística e na linguagem orquestral. Na última fase, que vai de 1815 a 1826, Beethoven, já completamente surdo, demonstra certa abstração e maior ruptura em relação às formas clássicas, criando obras às vezes de proporções monumentais, como a Grande Fuga, as sonatas op. 106 e 111, a Nona Sinfonia e a Missa Solemnis.
Sobre esta última obra cabe um breve comentário. Embora Beethoven faça frequentemente uso do contraponto e da fuga em obras de sua última fase (notem-se, por exemplo, o ciclo dos últimos quartetos de cordas e a sonata op. 110), há críticos que veem na Missa Solemnis uma releitura, consciente ou não, muito peculiar – muito beethoveniana – da grande polifonia franco-flamenga de Josquin des Prez e Ockeghem. Outros críticos, porém, associam essa obra à tradição polifônica pela exploração que o compositor aí faz do sentido de espacialidade. Associações à parte, é certo que Beethoven mais uma vez logra transcender a linguagem clássica, dessa vez propondo um olhar contemporâneo sobre o passado musical de que é herdeiro, reelaborando-o.
A tripartição das fases de Beethoven é, portanto, uma organização esquemática e cômoda, que agrupa a sua obra de forma didática. Mas, para um observador atento, há nela muitas contradições.
É de se mencionar ainda que, ao contrário de Mozart, a quem tanto admirava, e cujo gênio dramático-vocal se mostrava quase que em cada uma de suas inflexões, Beethoven encontra seu caminho mais genuíno de expressão na música instrumental.
FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Ilustração de Joh. Ne. Hoechle (1823).
Litogravura de Joh. P. Lyser (cerca de 1823).
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FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
violino (Beethoven criou também uma versão desse concerto para piano e orquestra), o Tríplice concerto – para violino, violoncelo e piano solistas e orquestra – e dois romances para violino e orquestra.
Sua opção preferencial pelos concertos para piano se explica pelo fato de ter sido o piano seu instrumento de predileção, através
do qual mais integralmente Beethoven se expressava.
Curiosamente, além de serem pouco numerosas, trata-se de obras compostas quando Beethoven era ainda relativamente jovem, entre os anos 1789 e 1810, isto é, dos dezenove aos quarenta anos de idade. Não se deve, com isso, inferir que ele não apreciasse
OS CONCERTOSde Beethoven
Na época de Beethoven, dois eram os espaços disponíveis em Viena para apresentações musicais públicas: os teatros, destinados às óperas; e as igrejas, que abriam suas portas para apresentações de obras sacras. Como não existissem salas de concerto, as apresentações públicas de música instrumental, chamadas de Academia, aconteciam, geralmente, em teatros, cassinos ou apartamentos particulares.
Nessas Academias, um gênero gozava de destaque, pelo seu caráter quase sempre espetacular: o concerto. O concerto é um tipo de composição surgida na Itália por volta da segunda metade do século XVII que consiste, grosso modo, em um diálogo musical entre um ou mais solistas e a orquestra. Os concertos eram a via perfeita de apresentação dos talentos de um músico, tanto como compositor e como intérprete. Se como compositor o concerto o ajudava a abrir as portas da fama, o sucesso adquirido como intérprete, a partir do concerto, lhe abria as portas dos salões aristocráticos, assim como efetivas possibilidades
de uma renda estável como professor de música, para os membros da alta sociedade.
A partir do século XVIII praticamente todo compositor soube valer-se das potencialidades artísticas e profissionais do concerto. Com Beethoven não foi diferente. Mas, se no início do século XIX a aristocracia ainda exercia uma grande influência na formação do gosto do público, a classe média, que constituía uma grande parcela da plateia, já vinha conseguindo fazer valer suas preferências. Beethoven era bem consciente das oscilações do público em Viena. Algumas de suas obras, tais como a Sinfonia Eroica, foram compostas tendo o autor em mente, em primeiro lugar, algum membro da aristocracia, que detinha, por algum tempo, os direitos de execução privada da obra. Quanto aos concertos, foram, de forma geral, compostos para o consumo da classe média.
Das obras acabadas de Beethoven, restaram-nos, para solistas e orquestra, apenas cinco concertos para piano, um concerto para
FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
Beethoven também era admirado como pianista de interpretação enérgica. Na imagem, fortepiano presenteado por Thomas Broadwood, importante fabricante da época.
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encontramos um Beethoven no início de seus anos de maturidade. Aqui o domínio da forma e a liberdade do criador são evidentes. O século XVIII ficou para trás e poder-se-ia dizer que, em 1803, Beethoven inaugura o século XIX.
No ano de 1806 Beethoven compõe dois importantes concertos: o Concerto para piano nº 4 e o Concerto para violino (o arranjo, para piano e orquestra, feito pelo próprio Beethoven, data da mesma época, e veio a se denominar Concerto para
piano op. 61a). Trata-se de duas obras-primas que se encontram entre as mais importantes do gênero em todos os tempos. Embora extremamente virtuosísticos, o equilíbrio entre solista e orquestra encontra seu ponto alto com estes dois concertos. A estreia do Concerto para piano nº 4, em 22 de dezembro de 1808, marca a despedida de Beethoven dos palcos como solista. Sua surdez já se encontrava bem avançada.
O Concerto para piano nº 5, em Mi bemol, composto em 1810, é seu último concerto. Completamente surdo, Beethoven jamais o executará em público. Aos quarenta anos de idade Beethoven nos presenteia com o mais grandioso, mais imaginativo e mais original de seus concertos. Uma música composta para toda a humanidade. Uma vida dedicada a enriquecer o mundo com uma beleza da qual ele já não pode mais desfrutar.
FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
Três dias após a morte de Beethoven, Hoechle ilustrou seu estúdio, em sua casa, no Schwarzspanierhaus. (Historical Museum, Viena)
o gênero, ou que tenha deixado de apreciá-lo com a idade.
É bom lembrar que Beethoven ficou surdo relativamente cedo, havendo suas aparições como solista, por essa razão, se tornado cada vez mais escassas. Os esforços do compositor se voltaram então para os gêneros em que o exibicionismo dos solistas cedia lugar ao conteúdo expressivo da obra, tais como a sinfonia e a música de câmara, de modo especial o quarteto de cordas. A música tornava-se mais importante do que o intérprete que a executava.
Os dois primeiros concertos para piano foram compostos como veículo para o jovem compositor apresentar-se como pianista virtuoso, tanto em Bonn quanto, mais tarde, em Viena. O Concerto para piano nº 2 foi composto em 1789, aos dezenove anos de idade, e o Concerto para piano nº 1 em 1797, aos vinte e sete anos –, sendo que a numeração refere-se à data da publicação. É evidente a influência de Haydn e Mozart em seus primeiros concertos, tanto na forma como nos papéis destinados
pelo compositor, respectivamente, ao solista e à orquestra.
Os dois romances para violino e orquestra (1798 e 1802) serviram a Beethoven como uma importante preparação para o Concerto para violino. Os romances também possuem numeração invertida, assim como no caso dos dois primeiros concertos para piano.
A partir do terceiro concerto para piano (1801) a voz interior, muito pessoal, de Beethoven começou a se fazer presente. Embora se trate, ainda, de uma obra dos chamados anos de juventude, as inovações desse concerto fizeram dele um modelo para o gênero, graças ao equilíbrio formal e à associação entre o virtuosismo do solista, que passa a ser o protagonista da cena, e o papel da orquestra, que, com seu sinfonismo exuberante, deixa de ser um mero acompanhador para assumir um papel de destaque no discurso musical.
Com o Concerto Tríplice (1803), obra contemporânea à Sinfonia Eroica, à Sonata Kreutzer e à Sonata Waldstein,
FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
26 27AS SINFONIAS
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FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
à época, causou espanto – alguns críticos o condenavam pela inclusão de uma banda no domínio orquestral.
A grande novidade orquestral de Beethoven, sobretudo a partir da Terceira Sinfonia, constitui-se no uso de maciços blocos sonoros, realizados através da separação dos timbres. Movimentando-os, o compositor manipula com precisão seus ataques, a densidade, a potência, os contrastes
entre eles, ciente de sua eficácia sobre os ouvintes.
Foi principalmente na busca da expansão do conteúdo espiritual e emocional de suas obras que Beethoven ampliou a arquitetura formal da sinfonia. A própria natureza do pensamento composicional do compositor tornou quase inevitável sua excelência no gênero, permitindo-lhe explorar
Beethoven compondo a Sinfonia Pastoral.
(Autor desconhecido. Publicado no
Almanach der Musikgesellschaft,
1834)
AS SINFONIASde Beethoven
FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
As sinfonias de Beethoven figuram hoje entre as obras mais consagradas pelo público de concertos. Entretanto, a maioria dos ouvintes contemporâneos do compositor reagiu com assombro e incompreensão às suas inovações – as primeiras críticas julgaram-nas intermináveis e fatigantes! De fato, essas sinfonias, concebidas em grandes dimensões, exigiam do público uma concentração sem precedentes. As nove sinfonias só se impuseram no repertório a partir de meados do século XIX, até ocuparem definitivamente um espaço ímpar no cânone da música sinfônica. Elas iluminaram as anteriores realizações de Haydn e Mozart como limites da perfeição clássica e, transcendendo corajosamente tais modelos, criaram nova referência musical, com novos padrões formais e inusitado poder emocional.
Entretanto, de maneira geral, Beethoven não alterou substancialmente a forma básica do gênero; apenas a Sexta Sinfonia (com seus títulos descritivos) e a Nona (com elementos de uma verdadeira
cantata) diferem significativamente do modelo de Haydn. Planejadas para o grande público, as sinfonias não eram obras tão adequadas à experimentação formal quanto os gêneros mais intimistas das sonatas para piano e dos quartetos de cordas, em que o compositor exercitou mais largamente sua liberdade em todos os parâmetros da composição. Quanto ao formato da orquestra, por exemplo, ele manteve o estabelecido pelas últimas sinfonias de Haydn. Excepcionalmente, Beethoven usa trombones, como nas Sinfonias números 5, 6 e 7; na Eroica, acrescentou uma trompa; no final da Quinta emprega o flautim e o contrafagote; na Nona, eleva para quatro o número de trompas e amplia a percussão com o uso da então chamada música turca – triângulo, pratos e bumbo, somados aos dois tímpanos habituais. O pensamento orquestral de Beethoven excedeu os recursos dos instrumentos da época e sofreu desvantagens, por exemplo, no emprego das trompas e dos trompetes. Ao contrário, seu uso do fagote e dos tímpanos mostrou-se particularmente original. O tratamento beethoveniano dos sopros, considerado excessivo
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lógica motriz que continuamente impulsiona a música, construindo a totalidade da obra como expressão completa e única. Essa coerência interna, perceptível em cada uma das sinfonias, desde a Primeira até a Nona, acentua-se ainda mais pela ligação direta entre alguns movimentos (os dois últimos da sinfonia 5 e os três últimos da 6).
Os movimentos lentos mantêm, nas sinfonias de Beethoven, o caráter essencialmente melódico, mas se adaptam formalmente a uma função bem determinada pelo contexto da obra – daí, portanto, serem tão diferenciados (ou mesmo suprimidos). A visionária e trágica Marcha fúnebre, Adagio assai da Terceira, talvez seja o movimento lento mais célebre de todas as sinfonias. Na Quinta, o Andante con
moto é um conjunto de variações ligadas por misteriosas passagens modulantes. A “Cena às margens do riacho”, Andante molto mosso da Pastoral, abre espaço a algumas intenções descritivas e intervenções imitativas (o próprio Beethoven menciona na partitura o canto dos pássaros: a flauta se faz de rouxinol, o oboé imita a codorniz e o clarinete, o cuco). As duas sinfonias seguintes não possuem movimentos lentos: o Allegretto da Sétima, com caráter de marcha, mantém em primeiro plano o interesse rítmico que domina toda a sinfonia. O Allegretto scherzando da Oitava, deliciosamente divertido, traz um acompanhamento mecânico para a saltitante melodia, provável homenagem a Mälzel, inventor do metrônomo. Finalmente, o Adagio molto e cantabile, terceiro movimento
FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
Theater an der Wien, onde foram
apresentadas muitas obras de
Beethoven. (Gravura contemporânea)
ao máximo as possibilidades expressivas da música puramente instrumental. E é interessante observar que, sob esse aspecto, o talento beethoveniano diferia radicalmente das características da personalidade deseu ídolo Mozart, autor eminentemente teatral e vocal em qualquer gênero que abordasse. O músico de Bonn, em pleno século XVIII, imbuído de um conceito já romântico, empenhou-se em demonstrar que as formas puramente instrumentais seriam capazes de exprimir ideais e sentimentos profundos.
Quanto ao número de movimentos, Beethoven seguiu o modelo das sinfonias londrinas de Haydn (apenas a Pastoral tem cinco movimentos, com os últimos três encadeados sem interrupção). Outra herança haydniana são os prelúdios lentos, que, utilizados anteriormente em sonatas para piano do próprio Beethoven, iniciam as Sinfonias números 1, 2, 4 e 7. A Terceira usa apenas dois acordes introdutórios. As Sinfonias 5 e 6 não têm introdução, e a Nona se inicia com dezesseis compassos que preparam nebulosamente a súbita explosão da primeira ideia.
Os primeiros movimentos das sinfonias de Beethoven estão escritos na forma de sonata clássica (com exceção da Nona, que apresenta
um discurso onde a exposição dos temas e o desenvolvimento se apresentam em conjunto). Nesses primeiros movimentos, o pensamento instrumental do compositor interfere principalmente na articulação das duas ideias constituintes da forma. Haydn frequentemente os relacionava, derivando o segundo do primeiro. Beethoven, ao contrário, valorizou a diferenciação entre o caráter dos dois temas principais pelo contraste rítmico, instrumental e pela distância das relações tonais entre eles. Explorando o conflito das ideias antagônicas contidas em dois temas opostos, o compositor transforma seus desenvolvimentos em um processo dialético de grande tensão. Os movimentos tornam-se assim necessariamente longos – a Eroica é muito mais longa e mais complexa do que qualquer sinfonia composta antes dela, com o imenso primeiro movimento repleto de material temático e extraordinária amplitude tonal. No final de cada primeiro movimento, a coda beethoveniana ganha proporções de um segundo desenvolvimento, ressaltando a última aparição do tema vitorioso com insistentes afirmações tonais (a Quinta, por exemplo, apresenta uma série bombástica de redundantes acordes de tônica).
Na sequência das várias seções dos outros andamentos, há uma
FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
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FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
em sua reflexão sobre a função pública e o poder instrutivo da Arte para a sociedade e os indivíduos, conduzindo-os a níveis mais elevados de comportamento e convivência.
Depois do sucesso da estreia da Nona Sinfonia – com sua conclamação urgente e circunstancial pela fraternidade entre os homens –, o compositor, do alto de sua glória, dispôs-se ainda a mudar seus códigos. Retorna às técnicas contrapontísticas bachianas, estuda a música renascentista e a harmonia modal. Serenamente, desvencilhava-se da tendência ao retórico, libertava-se dos efeitos fáceis e buscava sua voz mais íntima e atemporal. Derradeiras obras-primas de Beethoven, os últimos quartetos e sonatas para piano pareceram incompreensíveis para seus contemporâneos e só a modernidade revelou-lhes toda a grandeza.
Após Beethoven, os sinfonistas românticos se viram diante de um desafio. Em uma direção, Mendelssohn, Schumann e Brahms adaptaram a sinfonia
à expressão mais intimista do Romantismo – reduzindo as proporções dos movimentos intermediários, tomaram como modelo principalmente a Quarta e a Oitava. Em outra vertente, Berlioz e Liszt, muito influenciados pela Sexta, adotaram os programas extramusicais para os poemas sinfônicos. A última grande sinfonia de Schubert, escrita sob o impacto da Nona de Beethoven, aponta para o futuro e possui atributos comuns às obras posteriores de César Franck (1822-1890), Anton Bruckner (1824-1896) e Gustav Mahler (1860-1911), valorizando a tendência para a unidade cíclica e disposição formal em amplos espaços harmônicos. Mesmo para os compositores contemporâneos, que adotam processos diametralmente opostos aos de Beethoven, suas nove sinfonias permanecem imprescindíveis.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
da Nona, tem uma forma comum aos últimos quartetos do compositor – consiste em um lied de profundidade e intensidade inigualáveis, formado pela alternância de dois temas, suas variações e interlúdios.
O movimento de dança dentro da sinfonia sofre uma sensível modificação em Beethoven. O inevitável minueto das antigas sinfonias lhe parecia socialmente obsoleto e bem acanhado musicalmente. O compositor o substitui então pelo Scherzo, mantendo a mesma estrutura, ou seja, com o Trio intermediário e o retorno da capo, mas com conteúdo diferente – agitado, fantástico, impetuoso, livre – e de dimensões maiores. Beethoven usou pouco o termo scherzo, mesmo para definir movimentos que claramente são scherzi. Nas sinfonias usou-o apenas na Segunda e na Terceira, normalmente limitando-se à indicação do tempo.
O último movimento adquire, nas sinfonias de Beethoven, notável importância, como ponto culminante da construção musical. Com exceção
dos finais da Primeira e da Quarta sinfonias (que se inscrevem na tradição vienense) e o da Sexta (com seus títulos descritivos), os restantes possuem uma tensão e um clímax incontestáveis.
Em 1824, em Viena, com a estreia da Nona Sinfonia, Beethoven assinalava para o grande público mais uma transformação em sua obra, após solitário e prolongado silêncio de quase uma década – comentava-se que, surdo e mergulhado em problemas pessoais, ele se tornara incapaz de compor. Durante o concerto, realizado no dia 7 de maio, o compositor ficou no palco, seguindo a partitura, enquanto o maestro Ignaz Umlauf regia a orquestra. Ao final da sinfonia, Beethoven permaneceu imóvel; a cantora Caroline Unger tomou-o pelo braço e virou-o de frente para o público, para que ele pudesse ver com que entusiasmo era aplaudido.
Musicar o poema de Schiller era um antigo sonho do compositor. A leitura das Cartas sobre a educação estética do homem fora decisiva
FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
Início do manuscrito do Testamento de Heiligenstadt. Em um de seus retiros de
verão, Beethoven, desesperado com a surdez crescente, escreveu uma carta sofrida aos
dois irmãos, mas nunca a entregou.
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21 DEMARÇO
1
FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
FABIO MECHETTI, regenteRONALDO ROLIM, piano
ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA, OP. 124
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15
Allegro con brio Largo Rondo: Allegro scherzando
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21
Adagio molto – Allegro con brioAndante cantabile con moto Menuetto – Allegro molto e vivaceAdagio – Allegro molto
PROGRAMA
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FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA,
OP. 1241822 | 11 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes,
3 trombones, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15
1798 | 36 minFlauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21
1799/1800 | 23 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
A Abertura A Consagração da Casa integrava
a música de cena que Beethoven compôs
para a peça teatral homônima do escritor
Carl Meisl, apresentada nas festividades de
reinauguração do Teatro de Viena, em outubro de 1822. É a
última das onze Aberturas de Beethoven, contemporânea de
obras severas e de grande fôlego, como a Missa Solemnis,
a Nona Sinfonia, as Variações Diabelli e as três derradeiras
Sonatas para piano. A ocasião festiva exigia, evidentemente,
uma música mais leve. Beethoven tomou então como modelo
a forma barroca das ouvertures de Haendel, compositor
que muito admirava, para compor uma introdução lenta
e majestosa (com seus característicos ritmos pontuados,
à francesa), seguida de um Allegro (dominado por uma
engenhosa fuga dupla). Independente de sua gênese, a
Abertura manteve-se no repertório e foi reapresentada em
maio de 1824, no concerto de estreia da Nona Sinfonia.
Três anos depois, morria o compositor, aos 56 anos.
Beethoven fixara-se em Viena aos 22 anos e, inicialmente,
foi como pianista que ele se afirmou frente à sociedade
vienense. Algumas obras dessa fase apresentam o jovem
compositor buscando a admiração do público e de seus
patronos. Os dois primeiros concertos para piano se incluem
nesse propósito (e logo seriam julgados “ultrapassados”
pelo próprio compositor). A publicação, em 1801, inverteu-
lhes a ordem – o Concerto em Dó maior nº 1 foi o segundo
concluído, e sua partitura já apresenta inegáveis detalhes
beethovenianos.
No Allegro con brio inicial, a longa introdução orquestral expõe
os dois temas principais, sobre os quais o piano desenha
Com uma “especial capacidade de
comover através de suas interpretações”
(El Norte, Monterrey, México), o brasileiro
Ronaldo Rolim vem se firmando como
um dos músicos mais completos de
sua geração. Laureado em concursos
no Brasil e exterior, recentemente
ganhou o 1º lugar no Bösendorfer
International Piano Competition e o 2º
lugar no Concurso Internacional de Piano
República de San Marino.
Ronaldo se apresenta em recitais e
concertos no Brasil, Estados Unidos,
México, Coreia do Sul, Portugal,
Espanha, Inglaterra, Holanda, Suíça,
Itália e Áustria, em salas como
Carnegie Hall, Steinway Hall, Seoul
Arts Cente, Thêatre de Vevey, Friedberg
Hall, além das mais importantes salas
brasileiras. É solista convidado de
diversas orquestras, como a Sinfônica
Brasileira, Filarmônica de Minas Gerais, Sinfônica de
Campinas, Sinfônica da USP e Sinfonia Cultura; na Europa,
Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, Orchestra Sinfonica
della Repubblica de San Marino e da Orquestra do Norte
(Portugal); nos Estados Unidos, sinfônicas de Phoenix,
Pontiac e Peabody. Um ávido camerista, é fundador do
Trio Appassionata e com o grupo gravou compositores dos
Estados Unidos (Odradek Records). Ronaldo é convidado de
festivais como Folle Journée, Accademia Musicale Chigiana,
Ravinia Festival e Holland Music Sessions.
Nascido em 1986 em Votorantim, São Paulo, Ronaldo Rolim
iniciou seus estudos musicais com a mãe, Miriam Correa, e
fez sua primeira apresentação pública aos quatro anos.
Bolsista integral da Fundação Magda Tagliaferro de São Paulo,
foi aluno de Zilda Cândida dos Santos e Armando Fava Filho.
Após vencer os concursos Nelson Freire e Magda Tagliaferro,
estudou com Flavio Varani na Oakland University, Estados
Unidos. Foi premiado como Outstanding Student in Piano
Performance pela universidade e também pela Detroit Mu
Phi Epsilon Music Association. No Peabody Conservatory de
Baltimore foi admitido na classe de Benjamin Pasternack e
completou Bacharelado e Mestrado em Piano Performance e
o Artist Diploma. No conservatório, recebeu o Pauline Favin
Memorial Award in Piano, o 1º Lugar no Harrison Winter
Piano Concerto Competition, a Douglas and Hilda Goodwin
Scholarship for Chamber Music e o Presser Award. Ronaldo
vem estudando com alguns dos mais distintos músicos da
atualidade, como Leon Fleisher, Richard Goode, Menahem
Pressler, Jeremy Denk e Lilya Zilberstein. Em 2014, foi um dos
poucos pianistas selecionados para o programa de Doutorado
da Yale School of Music, onde estuda com Boris Berman.
FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
FOTO
YI W
ANG
RONALDO ROLIM
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FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
de 38 compassos conclui o movimento
com insistente afirmação tonal.
O Andante cantabile con moto também
tem forma sonata, com dois temas
principais. O primeiro recebe um
tratamento quase fugato – apresentado
pelos segundos violinos e imitado
primeiramente pelas violas e violoncelos,
depois pelos fagotes e contrabaixos. O
segundo tema caracteriza-se pelas notas
repetidas e pontuadas, intercaladas com
pausas. Durante todo o movimento é dado
um papel de destaque para os tímpanos.
O Menuetto: allegro molto e vivace,
certamente o movimento mais
original da sinfonia, é, de fato, o
primeiro dos característicos scherzi
sinfônicos beethovenianos. O tempo
é bem mais rápido do que o de um
minueto tradicional e seu tema possui
um formidável impulso ascendente,
cujo dinamismo contamina todo o
andamento. O Trio central é igualmente
original, com belos blocos de acordes
nas madeiras e passagens de notas
rápidas nos violinos.
O Finale inicia-se de maneira engenhosa:
o Adagio de seis compassos apresenta
uma série de partidas em falso dos
primeiros violinos – trata-se de uma
escala de Dó maior, retomada cinco
vezes, a cada vez ganhando um grau –
até formar a escala completa. Essa dá
acesso ao primeiro tema do Allegro molto,
de contagiante alegria, com suas notas
em staccato. O segundo tema, em Sol
maior, tem um caráter mais dançante.
O desenvolvimento fundamenta-se,
sobretudo, em fragmentos do primeiro
tema. A coda, com um ritmo de marcha,
destaca as trompas e os clarinetes e
conduz a um final luminoso.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
ornamentos em terças ascendentes e
descendentes. O movimento central,
Largo, é um lied dominado inteiramente
pelo solista. O piano se responsabiliza
pela condução melódica, pelos períodos
de transição e pela ornamentação.
A orquestração valoriza o clarinete
solo, pontuando um clima delicado e
intimista. O final, Allegro scherzando,
é um rondó formado pelo refrão e duas
coplas. Possui surpreendente entusiasmo
rítmico, certa rudeza de ataques e
contratempos, concluindo a partitura em
clima de humor e alegria.
Beethoven tocou o Concerto nº 1 no
Teatro Imperial de Viena, a 2 de abril
de 1800; no mesmo programa, regeu
a estreia de sua primeira sinfonia.
Tinha então trinta anos e, mesmo
reconhecendo sua dívida enorme para
com Haydn e Mozart, não se via
apenas como um talentoso imitador.
A Sinfonia nº 1 revela um artista
inquieto, em busca de seus próprios
ideais. Uma introdução, Adagio molto,
abre a partitura com inesperado acorde
dissonante (sétima da dominante de
Fá maior). Esse começo em tonalidade
incorreta foi considerado muito audacioso
e reprovado pela crítica da época. A
indecisão tonal dos acordes iniciais
persiste por quatro compassos,
mascarando a tonalidade principal, até
que uma escala descendente das cordas
conduz ao primeiro tema do Allegro con
brio. Apresentado pelos primeiros
violinos no registro grave, esse tema,
com seu ritmo enérgico, lembra o
começo da Sinfonia Júpiter de Mozart.
O segundo tema (Sol maior) tem caráter
melódico e é formado por um diálogo do
oboé com a flauta, sobre arpejos das
cordas. Há um momento mais reflexivo,
quando o fagote desce à tonalidade
menor, servindo de base para um
contraponto triste desenhado pelo oboé.
Mas a alegria do primeiro tema reaparece
e empresta seus elementos para as
passagens imitativas que constroem o
desenvolvimento. Uma vigorosa coda
FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
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2
FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
FABIO MECHETTI, regenteSONIA RUBINSKY, piano
A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133
CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 19
Allegro con brio AdagioRondo: Molto Allegro
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36
Adagio molto – Allegro moltoLarghettoScherzoAllegro molto
PROGRAMA
11 DEABRIL
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FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133
1825 | 16 min
Cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR,
OP. 19 1795, revisões 1798 e 1801 | 29 min
Flauta, 2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36
1802 | 34 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
F oi apenas a partir de 1798 – ano de composição
da Sonata Patética e em que aparecem os
primeiros sinais de sua progressiva surdez
– que Beethoven voltou decididamente sua
atenção para os quartetos de cordas. Esse fato não é difícil
de explicar: ao chegar pela segunda vez a Viena, para
estudar com Haydn, este já havia composto uma série muito
importante de obras do gênero e preparava outras três séries
de quartetos, lançadas em 1791 e 1793, antes mesmo de
Beethoven começar a compor os seis quartetos op. 18. Além
disso, havia também o legado de Mozart a enfrentar.
É compreensível, portanto, que Beethoven tivesse priorizado
outros gêneros. No entanto, trabalhou desde 1790 em
exercícios de composição usando aquela formação
camerística. O fato de que quase todos esses exercícios
lidem com a linguagem contrapontística também não é de se
estranhar. Mostra-nos Nicholas Marston que “para o quarteto,
como veículo, a importância de uma técnica contrapontística
fluente, a capacidade de contrastar e combinar muitas vozes
polifônicas, necessita pouca explicação” (Barry Cooper).
Daí, talvez, a presença da fuga em diversos movimentos dos
quartetos de Beethoven. Para citar apenas alguns exemplos,
o movimento final do op. 59 nº 3, o primeiro movimento do
op. 131 e, é claro, a Grande Fuga.
Para, porém, falar desta obra monumental, é preciso lembrar
as investidas criativas que Beethoven já realizara nos
quartetos op. 59 (intitulados Razumovsky porque dedicados
ao Conde Andrei Razumovsky, diplomata russo residente em
Viena e mecenas de Beethoven). Neles, Beethoven exibe
um aprofundamento de seu estilo, ampliando as dimensões
FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
Elogiada por Arthur Rubinstein e
Murray Perahia, Sonia começou sua
carreira no Brasil, seu país natal.
Estudou sete anos em Israel, na
Rubin Academy, e posteriormente em
Nova York, cidade onde, em 1984,
recebeu o 1º Prêmio do concurso Artists
International de New York e o título de
Doctor of Musical Arts pela Juilliard
School. Atualmente, reside em Paris.
Recitalista nas grandes salas de
concerto nova-iorquinas, como
Carnegie Hall, Weill Recital Hall,
Alice Tully Hall, Merkin Hall e Miller
Theatre, Sonia Rubinsky tem se
apresentado nos Estados Unidos, Israel,
Europa e Brasil. Solicitada como solista
de orquestra, já se apresentou com a
Osesp, Orquestra de St. Luke’s, OSB,
Sinfônica de Jerusalém, Filarmônica
de Minas Gerais, entre outras.
Sonia Rubinsky foi vencedora do
Grammy Latino 2009 de Melhor
Álbum de Música Clássica com o
oitavo volume da integral da obra para
piano de Heitor Villa-Lobos, selo Naxos
(1994/2007, Estados Unidos, Canadá,
França). Mais de dez anos de pesquisa,
em estreita colaboração com o Museu
Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, fazem
dessa integral a mais completa jamais
gravada, incluindo várias peças inéditas
e a mais premiada – o primeiro volume
foi nomeado para o Grammy Awards, e o quinto foi Editor’s
Choice da revista Gramophone.
Sua discografia solo inclui obras de Mozart, Scarlatti, Debussy,
Messiaen, Mendelssohn (Canções sem Palavras, integral). Foi
dedicatária de várias obras, entre elas as Cartas Celestes XII
(2000) e a Sonata para Violoncelo e Piano (2004), ambas de
Almeida Prado, sendo a última junto com Antonio Meneses.
Por três vezes recebeu o Prêmio Carlos Gomes – em 2006
na categoria Pianista do Ano e, em 2009 e 2012, como
Instrumentista do Ano.
Nomeada por Murray Perahia como artista residente no
Edward Aldwell Center, em Jerusalém, ministra regularmente
masterclasses neste centro. Também atua no Jerusalem
Music Center, a pedido do maestro Perahia, desenvolvendo
cursos de Análise para Performers.
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GUY
VIV
IEN
SONIA RUBINSKY
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com a Nona Sinfonia, é o exemplo
mais impactante da abstração e da
transcendência que Beethoven atinge
em sua última fase.
Bem diferentes são a Segunda
Sinfonia e o Segundo concerto para
piano. Ambos revelam nitidamente a
personalidade musical de Beethoven,
mas mostram-no ainda um tanto
intimidado pelos padrões clássicos,
formal, estrutural, timbrística e
tematicamente. Ambas as obras são
características de sua primeira fase.
A Sinfonia, entretanto, já mostra
claramente o afastamento de
Beethoven da ascendência de Haydn.
É tida como uma das últimas obras
desse período. Notam-se nela, por
isso, algumas particularidades:
Beethoven já substitui, aí, o minueto
clássico pelo scherzo. “Plena de ideias
novas, originais e poderosas” é como
a descreve em 1804 um crítico do
Musikalische Zeitung de Leipzig. Talvez
por isso mesmo ela tenha sido um
choque em sua estreia, antecipando a
Heroica, que haveria de vir.
A obra foi terminada no verão de 1802,
durante a estada de Beethoven em
Heiligenstadt. Em outubro do mesmo
ano, ele escreve o patético Testamento,
que comprova a consciência trágica da
sua ainda incipiente surdez. A Segunda
Sinfonia foi estreada em cinco de abril
de 1803 no teatro An der Wien.
O Segundo Concerto para Piano
foi composto entre 1787 e 1789,
sete anos, pois, antes do início
da composição do primeiro, mas
publicado depois deste. Por isso,
Beethoven e a posteridade o
consideraram o segundo. Ele foi
crucial para afirmar Beethoven em
Viena como instrumentista e como
compositor: sua estreia se deu em
29 de março de 1795, no
Burgtheater, tendo o autor como
solista. Escrito nos moldes clássicos,
bem à maneira dos concertos de
Mozart, a obra, no entanto, já revela
os contrastes e certos aspectos
dramáticos que marcarão o
Beethoven da fase seguinte.
Embora estreado em Viena, apenas
o último movimento (em que revela
forte ascendência de Haydn) foi
composto nessa cidade. Os dois
primeiros datam de quando Beethoven
ainda residia em Bonn. A cadência
do primeiro movimento – de grande
virtuosismo – foi composta bem
depois do concerto propriamente
dito: em caráter e estilo, ela já revela
um Beethoven de fases posteriores,
anunciando aquilo que assombraria
o mundo.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
de cada um dos movimentos e
trabalhando muitas vezes o quarteto de
cordas em uma concepção sinfônica.
Pode-se considerar a série dos seis
últimos quartetos de Beethoven como
um dos mais genuínos exemplos da
linguagem de sua última fase. Neles,
a preocupação com a fuga e com a
variação (no caso da Grande Fuga,
a presença de ambas as técnicas), o
contraste de atmosferas e andamentos
muito distintos em um mesmo
movimento e, ainda, a exploração
de texturas instrumentais até então
inusitadas revelam um Beethoven tão
abstrato que essas obras lhe valeram
severas críticas: considerava-se que o
grande Beethoven estava perdendo
o seu estilo.
Nesse grupo, há nitidamente o
compartilhamento de material temático
entre as obras: notem-se, por exemplo,
as semelhanças entre os temas
e motivos do primeiro e último
movimentos do op. 131, do primeiro
movimento do op. 132 e da própria
Grande Fuga. Por isso, é de se
considerar que Beethoven tenha
concebido toda a série com uma
unidade subjacente.
A Grande Fuga foi composta
inicialmente como movimento final do
quarteto op. 130, segundo da série.
Mais tarde, após a primeira execução
da obra, o compositor substituiu-a
por outro movimento, por razões não
esclarecidas. O fato é que, mesmo
sem ela, o quarteto já tem proporções
monumentais. Por isso é improvável
que a razão tenha sido a indiferença do
público diante de sua estreia. Dizem
as más línguas, porém, que Beethoven
cogitou publicá-la separadamente,
na forma original ou em versão
para piano a quatro mãos, a fim de
angariar uma renda extra. Qualquer
que tenha sido o motivo, a peça foi
desvinculada do quarteto (embora
hoje algumas execuções voltem a
incluí-la) e transformada em obra
separada... que se sustenta por si só.
A concepção orquestral no trabalho de
seus quartetos de cordas, inaugurada
com os Razumovsky, aparece, aqui, em
grau exponencial. Por isso, é legítima
a proposta de executá-la com uma
formação orquestral completa.
Composta em 1825, A Grande Fuga
foi publicada separadamente em
1827, dois meses após a morte de
Beethoven, tanto em versão para
quarteto de cordas quanto para
piano a quatro mãos. Estreada em
1826, em Viena, como movimento
final do quarteto op. 130, ela não
voltou a ser executada até 1853, em
Paris. Obra de grande complexidade,
repleta de contrastes e que revela um
trabalho contrapontístico e temático
de habilidade rara e técnica muito
avançada, talvez mesmo em confronto
FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
50 51
3
FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
FABIO MECHETTI, regenteNATASHA PAREMSKI, piano
ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115
CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37
Allegro con brio LargoRondo: Allegro
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55, “EROICA”Allegro con brioMarcia funebre: Adagio assaiScherzo: Allegro vivaceFinale: Allegro molto
PROGRAMA
23 DEMAIO
52 53
FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115
1814/1815 | 12 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37
1799/1803 | 35 min2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55,
“EROICA”1802/1804 | 45 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 3 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
A Abertura Zur Namensfeier (Para o Dia do
Onomástico) foi composta entre os anos 1814
e 1815. A estreia se deu em Viena, em 1815,
provavelmente no concerto de caridade do
dia 25 de dezembro, na Redoutensaal, quando Beethoven
apresentou, também, a cantata Meeresstille und glückliche
Fahrt (Mar calmo e viagem feliz) e o oratório Christus am
Oelberge (Cristo no Monte das Oliveiras). A tradição de se
comemorar o dia do onomástico era prática corrente nos
países de tradição católica, nos séculos XVIII e XIX. Assim,
sabemos por uma nota de Beethoven, na partitura original,
que a obra era inicialmente destinada a ser executada no
dia 4 de outubro daquele ano (1814), dia de São Francisco
de Assis, "na noite do onomástico de nosso Imperador”. O
Imperador era Francisco I da Áustria, pai da jovem princesa
Leopoldina, futura esposa de D. Pedro I e futura Imperatriz
do Brasil. Mas a composição não ficara pronta a tempo de
servir à comemoração.
A Abertura, em Dó maior, após brevíssima introdução marcial
e festiva, é construída em fortes contrastes entre a célula
rítmica dominante e suaves e curtos motivos melódicos,
ligados por grandes crescendos e diminuendos, linhas
ascendentes e descendentes.
Composto entre 1799 e 1803, o Concerto para piano e
orquestra nº 3, em dó menor, foi estreado em Viena, no
Theater an der Wien, no dia 5 de abril de 1803, tendo o
próprio compositor como solista. Trata-se de uma das poucas
peças da primeira fase de Beethoven – os anos de juventude
– a gozar de uma aceitação ampla por parte tanto dos
músicos como do grande público. Provavelmente não apenas
FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
FOTO
AND
REA
JOYN
T NATASHA PAREMSKI
Com performances marcantes e
dinâmicas, a pianista de 26 anos
Natasha Paremski revela um virtuosismo
impressionante e habilidades
interpretativas vorazes. Em temporada
recente, sua gravação de obras de
Tchaikovsky e Rachmaninov com a
Royal Philharmonic Orchestra e o maestro
Fabien Gabel foi saudada como uma
"performance eletrizante e poderosa"
(The Herald). Seu álbum solo, lançado
anteriormente, estreou em nono lugar
na parada Billboard Classical Tradicional.
Natasha já tocou com muitas das
principais orquestras da América do
Norte, incluindo a Sinfônica de Dallas,
a Filarmônica e a Orquestra de Câmara
de Los Angeles, as sinfônicas de
San Francisco, San Diego, Toronto,
Baltimore, Houston, Nashville, Virginia,
Oregon e do Colorado, Orquestra de
Minnesota e Orquestra NAC em Ottawa. Realizou turnês na
Europa com a Filarmônica Real, Sinfônica Bournemouth,
Tonkünstler de Viena, Nacional Real Escocesa, orquestras de
Bretagne e de Nancy, Filarmônica Real de Liverpool, Tonhalle
Orchester em Zurique e Filarmônica de Moscou, com maestros
como Peter Oundjian, Andres Orozco-Estrada, Jeffrey Kahane,
James Gaffigan, Dmitri Yablonski, Tomas Netopil, JoAnn
Falletta, Yuri Botnari, Fabien Gabel, Andrew Litton. Também
viajou com Gidon Kremer e a Kremerata Baltica e tocou com a
Sinfônica Nacional de Taiwan. Entre outras salas, fez recitais
no Wigmore Hall de Londres, o Auditorium du Louvre, Schloss
Elmau, Seattle Meany Hall, Teatro Lensic em Santa Fé, Teatro
Colón de Buenos Aires, Musashino Performing Arts Center em
Tóquio, além dos mais importantes festivais.
Seu repertório na nova música é crescente. Por sugestão do
compositor, interpretou o Concerto para Piano de John Corigliano
com a Sinfônica do Colorado; tem executado peças de Fred
Hersch e estreou sonata escrita para ela por Gabriel Kahane.
Nascida em Moscou, Natasha mora nos Estados Unidos
desde criança. Iniciou seus estudos de piano aos quatro
anos com Nina Malikova na Escola de Música Andreyev,
em Moscou. Estudou no Conservatório de Música de San
Francisco e no Mannes College of Music, onde formou-se
com Pavlina Dokovska.
Estreou aos nove anos com a El Camino Youth Symphony, na
Califórnia; aos quinze apresentou-se com a Filarmônica de
Los Angeles e gravou dois discos (Bel Air) com a Filarmônica
de Moscou, sob condução de Dmitry Yablonsky e participação
de Anton Rubinstein. Aos dezoito anos recebeu o prêmio
Gilmore Young Artists, seguindo-se o Montblanc Prix, o
Orpheum Stiftung e Jovem Artista do Ano da Fundação
Classical Recording.
54 55
ativo e crítico, o contrário do público
habitual da época. Com isso, a música
deixa de ser apenas música e passa a
ser, também, objeto de reflexão.
Composta entre 1802 e início de 1804,
a primeira apresentação pública se deu
no dia 7 de abril de 1805, no Theater
an der Wien, em Viena, sob a regência
do compositor, no concerto beneficente
organizado pelo violinista Franz Clement.
A obra já havia sido apresentada
numerosas vezes em concertos
privados, especialmente naqueles
organizados pelo Príncipe Franz Joseph
von Lobkowitz em seu palácio.
O primeiro movimento (Allegro con
brio) é grandioso em suas dimensões
e no material musical que porta. Nele,
as ideias temáticas são germinadas
uma a partir da outra, ao invés de se
encadearem por contraste ou
oposição. O segundo movimento
(Marcia funebre – adagio assai) é
dividido em duas seções. A primeira é
a marcha fúnebre propriamente dita,
enquanto a segunda, com seu caráter
fugato, é nobre e de uma intensidade
ímpar. O terceiro movimento (Allegro
vivace) é um Scherzo rápido e alegre.
O Finale (Allegro molto) é um
conjunto de variações sobre dois
temas: o primeiro, uma singela linha
melódica exposta pelos contrabaixos,
e o segundo, apresentado pelo
naipe das cordas, é uma melodia
de caráter popular.
Quando Beethoven recebeu a notícia
de que Napoleão havia coroado a si
próprio imperador, rasgou o
frontispício da Sinfonia, que continha
os dizeres “Intitulata Bonaparte”.
O subtítulo – Heroica – que hoje
conhecemos foi cunhado em 1806,
quando, na primeira edição, a
referência direta a Napoleão foi omitida
e a Sinfonia ganhou então o seguinte
epíteto: “Sinfonia eroica composta
per festeggiare il sovvenire di un
grand’uomo”. Os ideais revolucionários
que tinham estado por trás de sua
composição continuavam acesos.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
pela beleza evidente de seus temas,
mas também pelo fato de ser uma peça
chave que serve como referência para a
compreensão do conjunto de sua obra.
O Concerto para piano nº 3, único
escrito em modo menor, deixa para trás
o estilo mozartiano até então adotado
por Beethoven, ao mesmo tempo em
que aponta para os novos horizontes
que seriam ainda conquistados.
O primeiro movimento (Allegro con
brio) contém grande força dramática,
resultante dos meios expressivos que
o compositor utiliza na primeira ideia e
no contraste entre os temas. Inicia-se
com a exposição do primeiro tema,
pela orquestra. O segundo tema será
logo executado pelos clarinetes. O
piano apresenta o material antes ouvido
na orquestra. Após intenso diálogo
entre solista e orquestra, o piano
executa uma cadenza virtuosística e o
movimento termina majestosamente.
O piano inicia, sozinho, o segundo
movimento (Largo), para o qual
Beethoven escolhe com ousadia
inusitada a luminosa tonalidade de
Mi maior. Com extrema delicadeza, a
orquestra pontua seus temas aqui e ali.
Quando a música parece terminar em
pianissimo, Beethoven nos surpreende
com um ataque final. O tema principal
do terceiro movimento (Rondo – Allegro),
um tema agitado, é logo ouvido ao
piano. Após reapresentações e
desenvolvimentos temáticos, o
Concerto se encerra com uma das
codas mais brilhantes de todos os
concertos beethovenianos.
A Sinfonia nº 3, "Eroica", é um marco
fundamental de toda a produção
sinfônica do século XIX. Com ela
Beethoven altera não apenas o modo
como uma obra deveria ser apreendida,
como o público a quem ela se destina.
Se, antes, o gênero sinfônico servia de
entretenimento, dentro de um ambiente
aristocrático e, de certa forma,
controlado, com a Terceira Sinfonia
Beethoven compõe uma música que se
destina a toda a humanidade. Trata-se
da mais longa e mais complexa das
sinfonias até então compostas por
qualquer autor. Ao expandir os limites
do gênero, Beethoven acaba renovando
a linguagem sinfônica ao ponto de sua
nova sinfonia exigir um público mais
FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
56 57
4
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidadoCRISTINA ORTIZ, piano
AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA
CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58
Allegro moderato Andante con motoRondo: Vivace
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60
Adagio – Allegro vivace AdagioMenuetto: Allegro vivace – Trio: Un poco meno allegro Allegro ma non troppo
PROGRAMA
20 DEJUNHO
58 59
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
A musicalidade natural de Cristina Ortiz,
sua arte magistral e seu compromisso
com uma performance sempre refinada
garantiram-lhe um lugar entre os
pianistas mais respeitados do mundo.
Ao longo de sua extensa carreira, ela
se apresentou com as filarmônicas
de Berlim e Viena, com a Sinfônica
de Chicago e com as orquestras
Filarmônica e Real do Concertgebouw,
entre muitas outras. Ortiz colaborou
também com maestros como Neeme
Järvi, Mariss Jansons, Kurt Masur,
André Previn e David Zinman.
De posse de uma técnica notável e
um agudo senso de aventura musical,
particularmente evidente em seu amplo
repertório, Ortiz é uma artista popular
entre produtores e público de todo o
mundo. Trabalhou recentemente com
a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar,
a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Filarmônica
de Hong Kong, a Sinfónica del Principado de Asturias e com
a Staatstheater Kassel. Destaques em próximas temporadas
incluem estreias com as orquestras filarmônicas do Catar e
Nacional da Hungria, a Haydn Orchestra Bolzano and Trento,
a Orquestra Presidencial New West Symphony, bem como
recitais no Southbank Centre – na Série Internacional de
Piano – e também por todo o Reino Unido e França.
Cristina Ortiz gravou cerca de trinta álbuns com uma ampla
gama de repertório pelos selos EMI Classics, Decca, Collins
Classics, Intrada, Naxos e BIS. Sua mais recente gravação
para o selo Naxos, em parceria com o Fine Arts Quartet, é de
música de câmara de Saint-Saëns, sobre a qual The Observer
publicou: "Cristina Ortiz foi extraordinária na execução da
composição para piano do Quinteto em lá menor e no feroz
segundo movimento do Quarteto em si bemol maior". Seu
álbum anterior, de música de câmara por Franck, foi nomeado
Escolha do Editor da revista Gramophone. Sua gravação da
música de câmara de Fauré foi descrita pela mesma revista
como "simplesmente a melhor: uma versão sem rival, o ponto
forte do catálogo". Pela Naxos, Ortiz lançou a gravação de
peças solo para piano compostas por York Bowen.
Cristina Ortiz é também uma professora dedicada e
comprometida, dando aulas por todo o mundo.
Ela começou seus estudos em sua terra natal, Brasil, antes
de se mudar para Paris com uma bolsa de estudos, onde
trabalhou com Magda Tagliaferro. Depois de ganhar uma
medalha de ouro na terceira competição Van Cliburn, no Texas,
dedicou-se a completar um período de aulas sob a orientação
do lendário Rudolf Serkin no Curtis Institute of Music, na
Filadélfia, antes de escolher fixar residência em Londres.
FOTO
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CRISTINA ORTIZ
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
Nascido em São Paulo, Roberto Tibiriçá
recebeu orientações de Guiomar
Novaes, Magda Tagliaferro, Dinorah de
Carvalho, Nelson Freire, Gilberto Tinetti
e Peter Feuchwanger. Foi discípulo do
maestro Eleazar de Carvalho.
Duas vezes vencedor do concurso
Jovens Regentes da Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo, foi maestro
convidado da orquestra por dezoito anos.
Foi regente assistente no Teatro Nacional
de São Carlos, em Lisboa, Portugal, e
em 1994 tornou-se diretor artístico da
Orquestra Sinfônica Brasileira. Também
foi diretor artístico e regente titular da
Orquestra Petrobras Pró Música e diretor
artístico da Sinfônica Heliópolis/Instituto
Baccarelli, cujo patrono é o maestro
Zubin Mehta. Ocupou ainda os cargos
de regente titular e diretor artístico da
Sinfônica de Campinas e da Filarmônica
de São Bernardo do Campo, regente titular da Sinfônica de
Minas Gerais e da Ossodre, de Montevidéu, Uruguai.
No Rio de Janeiro, onde realizou várias primeiras audições,
foi eleito pela crítica Músico do Ano de 1995. Na Orquestra
Petrobras Pró Música (hoje Petrobras Sinfônica) teve elogiadas
iniciativas para divulgação e estímulo à música brasileira,
como concertos com repertório de compositores nacionais
contemporâneos e concursos para jovens solistas, jovens
regentes e jovens compositores. Com a orquestra, Tibiriçá
gravou dois CDs de obras brasileiras, sendo um deles – com
peças de Villa-Lobos e Hekel Tavares e Arnaldo Cohen ao
piano – considerado um dos melhores de 2003. Dirigida por
Tibiriçá, a orquestra recebeu duas vezes o Prêmio Carlos
Gomes de Melhor Conjunto Orquestral.
A convite da própria artista, participou do Festival Martha
Argerich, em Buenos Aires, no Teatro Colón, regendo Martha e,
em outra ocasião, a Filarmônica de Buenos Aires com o pianista
Nelson Freire. Há alguns anos é convidado para o Festival
Villa-Lobos, na Venezuela, regendo concertos com a Orquestra
Simón Bolívar. Entre muitos outros artistas, trabalhou também
com Barry Douglas, Lilyan Zilberstein, Sergio Tiempo, Joshua
Bell, Shlomo Mintz, Stefan Jackiw, Erik Schumann, Frederieke
Saeijs, David Aaron Carpenter, Gabriela Montero, Antonio
Meneses, Mikhail Rudy, Jean-Louis Steuerman, Boris Belkin,
Dmitry Sitkovetsky, Mariana Ortiz, Geza Hosszu-Legocky.
Desde 2003 Tibiriçá ocupa a Cadeira nº 5 da Academia
Brasileira de Música. Conquistou o Prêmio Carlos Gomes
duas vezes como Melhor Regente Sinfônico e o Prêmio da
Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
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DIV
ULGA
ÇÃO
ROBERTOTIBIRIÇÁ
60 61
piano reduzem a agressividade das
cordas. No final, a voz da orquestra se
resume a uma lembrança em pianissimo
e o solista tem a última palavra.
Sem interrupção, passa-se ao terceiro
movimento, Rondo vivace, que
começa em Dó maior. A orquestra, a
princípio cautelosa, apresenta o tema.
O piano logo o adota, demonstrando
que todas as oposições anteriores
foram suplantadas. Piano e orquestra
formam um todo cheio de contrastes
e o virtuosismo do solista se insere no
contexto sinfônico. O movimento lembra
às vezes uma marcha, característica
que se acentua pelo uso dos trompetes
e dos tímpanos.
No mesmo ano do Concerto op. 58,
Beethoven compôs a Sinfonia nº 4, que
tem um clima otimista, completamente
diverso do espírito dramático da Eroica
e da Quinta. Ela reflete sentimentos
intimistas, com um aparato discreto.
Entretanto, suas inovações e maestria
desmentem qualquer afirmativa de ser
uma sinfonia menor.
A longa introdução, Adagio, começa
com flauta, clarinetes, fagotes e
trompas sustentando, em oitavas,
a nota tônica Si bemol, enquanto
as cordas desenvolvem figurações
tateantes, como que inseguras da
tonalidade. Os primeiros violinos
prosseguem em pizzicato e toda a
passagem produz um efeito curioso,
entrecortado, ofegante, até chegar
ao tutti com um acorde de sétima
da dominante. Só então a orquestra
liberta o Allegro vivace, cujos principais
motivos são constituídos de fragmentos
retirados da própria introdução. O
primeiro tema é uma melodia saltitante
exposta no staccato dos primeiros
violinos. O segundo tema é apresentado
pela flauta, oboé e fagote com um
desenho de terças descendentes que
logo se reafirma em delicioso diálogo
canônico entre o clarinete e o fagote.
Antes da reexposição do tema principal,
há uma notável passagem de transição
– inacreditáveis e longínquos rufos
dos tímpanos mantêm, durante vários
compassos, um longo trêmulo, sempre
em pianíssimo.
O belíssimo segundo movimento, Adagio,
possui o caráter de um longo lied,
com melodias amplas e flexíveis.
A figura rítmica apresentada no
primeiro compasso pelos segundos
violinos servirá de fundo para todo o
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
B eethoven escreveu a música para o balé As
Criaturas de Prometeu, de Salvatore Viganò,
entre a composição de suas duas primeiras
sinfonias. A música de cena, por princípio,
deveria ser mais fácil do que a destinada às salas de
concerto, e o Prometeu mostra Beethoven explorando efeitos
orquestrais que jamais apareceriam em suas sinfonias.
Porém, mais tarde, ele usaria material do balé nas Variações
para piano op. 35 e no Finale da Sinfonia Eroica. A Abertura
op. 43 é construída com um exuberante Allegro, precedido
de pequena introdução.
No percurso entre o balé Prometeu e o Concerto para piano
nº 4, Beethoven deixará de ser um jovem compositor
talentoso para se impor como grande mestre inovador.
O Concerto op. 58, em Sol maior, abre um novo capítulo na
história desse gênero.
O Allegro moderato é notável por começar somente com o
piano, a descoberto. Sua serena frase inicial determina o
caráter expressivo de todo o movimento. Inúmeras ideias
secundárias aparecem; as modulações levam a distantes
regiões harmônicas; a estrutura sincopada dos dois temas
é explorada à exaustão – mas a arte de Beethoven sempre
encontra o melhor caminho; e o primeiro movimento, apesar da
variedade de seus elementos, permanece essencialmente lírico.
No segundo movimento, Andante con moto, em mi menor,
Beethoven estabelece um impressionante diálogo entre as
cordas e o piano. Inicialmente, a orquestra domina, impondo
um discurso áspero e resoluto; o solista responde tímido e
submisso. Gradualmente, entretanto, as frases delicadas do
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA
1801 | 5 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58
1805/1806 | 34 minFlauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60
1806 | 33 min
Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas,
2 trompetes, tímpanos, cordas.
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EUG
ÊNIO
SÁV
IO
movimento. Reaparecerá em diversos
instrumentos, tratada em ostinato
por todas as estantes. Sobre ela, o
primeiro tema é exposto em cantabile
pelos primeiros violinos. O segundo
tema será apresentado pelo clarinete.
A coda recorda o tema principal na
suavidade das madeiras. Após um
fortíssimo orquestral sucede um
repentino silêncio... E os tímpanos em
pianíssimo fazem ouvir, pela última vez,
a mesma figuração inicial das violas.
Um crescendo conduz ao tutti de dois
acordes conclusivos.
O Allegro vivace é um duplo scherzo (A)
em que o Trio (B) também se repete,
seguindo a forma A, B, A, B, A.
O tema do scherzo constrói-se
sobre acordes quebrados e cria uma
interessante ambiguidade rítmica,
pois o habitual compasso ternário é
aqui frequentemente deslocado por
um acento binário. O tema do trio,
Un poco meno allegro, evoca uma
dança campestre.
O quarto movimento, Allegro ma non
troppo, mostra um bom humor irresistível
desde o torvelinho sinuoso do arabesco
inicial. O primeiro tema, enunciado pelos
violinos, é retomado pelas madeiras. O
oboé apresenta em Fá maior o segundo
tema, dolce, bastante haydniano. Mas
todos os engenhosos pormenores do
desenvolvimento são puro Beethoven.
Na coda, o tema inicial é retomado
pelos primeiros violinos, em seguida
entregue ao fagote, depois aos segundos
violinos e às violas. Essas mudanças
instrumentais da linha melódica são
retidas por fermatas que seguram sua
marcha, tornando-a cada vez mais
lenta. Subitamente, o tema retoma
sua vivacidade habitual e as vigorosas
cadências em tutti fecham a sinfonia.
FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
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5
FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
FABIO MECHETTI, regenteJEAN-LOUIS STEUERMAN, piano
PROGRAMA
15 DEAGOSTO
ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138
CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 73, “IMPERADOR”Allegro Adagio un poco mossoRondo: Allegro
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 67
Allegro con brio Andante con motoAllegro Allegro
66 67
ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138
1804/1805 | 9 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR,
OP. 73, “IMPERADOR” 1809 | 38 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 671804/1808 | 31 min
Piccolo, 2 flautas, 2 oboés,
2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote,
2 trompas, 2 trompetes,
3 trombones, tímpanos, cordas.
A Abertura Leonora nº 1 é uma das quatro aberturas
independentes que Beethoven compôs para
Fidélio, sua única ópera. Concluída em setembro
de 1805, a ópera, em sua primeira versão, foi
estreada com a abertura hoje conhecida como Leonora nº 2. Em
dezembro do mesmo ano Beethoven revisou Fidélio e compôs
uma nova abertura, hoje conhecida como Leonora nº 3. A
abertura conhecida como Leonora nº 1 foi composta no outono
de 1807, provavelmente para uma apresentação da ópera em
Praga, que acabou não acontecendo. A quarta e última abertura,
hoje conhecida como Fidélio, só ficaria pronta em 1814. Leonora
nº 1 ficou esquecida desde então e veio à luz apenas no leilão
dos bens de Beethoven, após sua morte. Por não possuir muita
relação com o material temático da ópera, ela se encaixa bem
na concepção beethoveniana de que a Abertura deveria preparar
o público para o acontecimento, ao invés de impedir a surpresa
da trama. Sua estreia se deu em 7 de fevereiro de 1828, onze
meses após a morte do compositor.
O Concerto para piano e orquestra nº 5 em Mi bemol maior foi
composto nos anos 1808/1811. Teve sua estreia no dia 28 de
novembro de 1811 pela orquestra da Gewandhaus de Leipzig,
sob a regência de Johann Philipp Christian Schulz. O pianista
Friedrich Schneider foi o solista, uma vez que a surdez do
compositor encontrava-se já bem avançada. Beethoven, que
nunca nutriu simpatia por imperadores, jamais atribuiu ao seu
Concerto o subtítulo “Imperador”. O primeiro a utilizá-lo foi,
provavelmente, seu editor em Londres, o pianista de origem
alemã Johann Baptist Cramer.
No Quinto Concerto o piano é frequentemente mais um
colaborador, com grandes passagens de caráter improvisatório,
FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTOFORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
Jean-Louis Steuerman ganhou
grande reconhecimento como solista
e recitalista internacional depois de
conquistar, em 1972, o segundo lugar
no Concurso Johann Sebastian Bach,
em Leipzig.
Steuerman se apresentou como
solista com a London Symphony, sob
regência de Claudio Abbado, com a
Royal Philharmonic sob a batuta de
Lord Menuhin e Vladimir Ashkenazy.
Com este último, tocou o Concerto
de Britten no Festival de Atenas.
Jean-Louis debutou nos Concertos
Promenade BBC em 1985 com grande
sucesso de crítica tocando o Concerto
em ré menor de Bach com a Polish
Chamber Orchestra. Apresentou-se
também com a English Chamber, Hallé,
Royal Liverpool Philharmonic, City of
Birmingham Symphony Orchestra e a
Bournemouth Sinfonietta.
Jean-Louis tem se apresentado junto
à Orquestra Gewandhaus de Leipzig
com Kurt Masur, Basel Symphony com
Heinz Holliger, Helsinki Philharmonic
(Tippett Piano Concerto), Zurich
Tonhalle, Berlin Symphony, Nouvel
Orchestre Philharmonique, a Orchestra
Sinfonica di Milano, Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo, Petrobras Sinfônica,
Sinfônica Brasileira, Dallas Symphony, Seattle Symphony,
Baltimore Symphony e Indianapolis Symphony Orchestra.
Jean-Louis Steuerman fez grandes turnês na Europa,
América do Norte e Japão, apresentando-se nas principais
séries de recitais. Como camerista, tem tocado com alguns
dos mais renomados músicos internacionais.
Suas gravações para a Philips Classics incluem a obra para
piano solo de Scriabin, a obra completa de Mendelssohn
para piano com a Moscow Chamber Orchestra, os concertos
para piano de Bach com a Chamber Orchestra of Europe e as
Seis Partitas de Bach, gravação que lhe rendeu o prestigioso
Diapason d'Or.
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SHE
ILA
ROCK
JEAN-LOUISSTEUERMAN
68 69
Beethoven confere ao primeiro movimento,
mas também à Sinfonia como um todo,
uma extraordinária unidade.
O segundo movimento (Andante con
moto), escrito em forma de variação
dupla, ou seja, dois temas variados
alternadamente, apresenta seu primeiro
tema, lírico, nas violas e violoncelos.
O segundo tema, marcial, é apresentado
em seguida pelos clarinetes, fagotes,
primeiros e segundos violinos.
O terceiro movimento (Allegro) é um
scherzo. A primeira seção (Scherzo)
inicia-se com o primeiro tema, em
pianissimo, nos violoncelos e
contrabaixos. O segundo, enérgico,
apresentado primeiramente nas
trompas, em fortissimo, é derivado do
motivo de quatro notas que inicia a
sinfonia. A seção central (Trio) possui
apenas um tema, inicialmente
apresentado nos violoncelos e
contrabaixos e imitado por toda a
orquestra. Quando a primeira seção
(Scherzo) é reapresentada, os temas
são executados delicadamente nas
cordas em pizzicato, com algumas
intervenções das madeiras. Uma
transição nos conduz, sem interrupção,
ao movimento seguinte.
Para o Finale grandioso (Allegro)
Beethoven acrescentou um flautim,
um contrafagote e três trombones à
orquestra. O primeiro tema, majestoso,
abre o movimento, executado por toda a
orquestra. O segundo, lírico, porém
ainda vigoroso, é apresentado pelas cordas
e madeiras. Após o desenvolvimento
de trechos já apresentados ressurge,
inesperadamente, o segundo tema do
Scherzo, delicadamente executado
pelas madeiras e cordas em pizzicato.
Beethoven encerra a Quinta Sinfonia com
uma coda grandiosa.
FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
Viena em gravura de Franz Karl Zoller
(cerca de 1795).
do que propriamente solista, apesar
da escrita altamente virtuosística. No
início do primeiro movimento (Allegro),
o piano interrompe a orquestra, por
três vezes, para executar uma breve
cadência. Apesar da grandiosidade
desse primeiro movimento, as
passagens do piano são muitas vezes
extremamente leves. No segundo
movimento (Adagio un poco mosso),
de um lirismo ímpar, piano e orquestra
travam um dos mais belos diálogos da
história da música, naquele que Berlioz
dizia ser o maior modelo de integração
entre piano e orquestra. Sem intervalo
algum, entramos no terceiro movimento
(Allegro), um rondó, com caráter ao
mesmo tempo incisivo e gracioso, onde
a sonoridade do piano oferece algumas
antecipações surpreendentes de
Chopin. Por toda a obra destaca-se o
contraste entre o heroísmo da orquestra
e a delicadeza do piano.
Embora os muitos esboços da Quinta
Sinfonia datem já do início de 1804,
Beethoven trabalhou assiduamente na
obra apenas em 1807 e terminou a
composição no início de 1808. Foi
executada, pela primeira vez, no dia
22 de dezembro de 1808, no Theater
an der Wien, por um grupo de
músicos recrutados para a ocasião,
sob a regência do próprio Beethoven.
Nesse célebre concerto em que foram
estreadas várias obras importantes e
longas, Beethoven ainda sentou-se ao
piano para uma série de improvisações.
O primeiro movimento da Quinta
Sinfonia, Allegro con brio, extremamente
vigoroso, inicia-se com uma breve
introdução, em que ouvimos, pela
primeira vez, o tão famoso motivo de
quatro notas. O primeiro tema, nas
cordas, é elaborado a partir desse
motivo, que será ouvido por toda a
sinfonia (no primeiro movimento ele é
repetido mais de duzentas vezes). O
segundo tema, expresso pelos primeiros
violinos e repetido no clarinete e na
flauta, tem caráter doce e resignado.
FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
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6
FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
FABIO MECHETTI, regenteTEO GHEORGHIU, piano
PROGRAMA
26 DESETEMBRO
ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a
CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a
Allegro ma non troppoLarghettoRondo
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL” Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande
O DESPERTAR DOS SENTIMENTOS ALEGRES COM A CHEGADA AO CAMPO
Szene am Bach CENA À BEIRA DO RIACHO
Lustiges Zusammensein der Landleute A ALEGRE REUNIÃO DOS CAMPONESES
Gewitter, Sturm TEMPESTADE
Hirtengesang – Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm CANTO DOS PASTORES – SENTIMENTOS DE ALEGRIA E GRATIDÃO DEPOIS DA TEMPESTADE
Allegro ma non troppo
Allegro
Allegro
Allegretto
Andante molto mosso
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ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a
1804/1805 | 13 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes,
3 trombones, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a
1806 para violino
1807 transcrição para piano | 42 minFlauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL”
1808 | 39 min
Piccolo, 2 flautas, 2 oboés,
2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas,
2 trompetes, 2 trombones,
tímpanos, cordas.
F oi por causa da recepção apática do público na
estreia de seu concerto para violino, que, a
pedido de Muzio Clementi, Beethoven fez, dele,
uma versão para piano e orquestra, publicada no
mesmo ano que a versão para violino (1808) como Concerto
para piano nº 6, opus 61a. Por isso, não se pode falar dessa
versão sem primeiro falar-se sobre a concepção original da obra.
O Concerto op. 61, para violino e orquestra, data de uma
fase em que, por um lado, são geradas obras decisivas
da linguagem beethoveniana (as sinfonias de três a oito, a
Appassionata, os dois últimos concertos para piano) e, por
outro, Beethoven sofre crises pessoais e o avanço inexorável
da surdez. A gênese desse concerto não foi menos trabalhosa
que o mais de toda a sua obra: ainda em Bonn, Beethoven
já se aventurara em tentativas de compor um concerto para
violino, mas não é senão em 1806 que ele conclui e estreia o
concerto em ré maior, que vem a ser impresso definitivamente
em 1808. Não tendo causado escândalo nem entusiasmo,
mas havendo provocado algumas recriminações em relação
ao tamanho do primeiro movimento, a obra teve poucas
execuções nas décadas seguintes e só foi ressuscitada
efetivamente em 1844, quando o então jovem violinista
Joseph Joachim o interpreta sob a batuta de Mendelssohn.
No entanto, a despeito do frio acolhimento inicial, a obra
encerra, entre outros aspectos, algumas ousadias
experimentais que revelam algo da originalidade inventiva
de Beethoven e de sua vinculação ideológica à mentalidade
romântica: uma postura de liberdade, que não nega a sua
herança clássica, mas que faz dela fermento para a livre
expressão individual. Exemplo disso é o início inusitado do
FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
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TEOGHEORGHIU
Destinatário do prêmio Beethoven-Ring
do Beethovenfest de Bonn em 2010,
Teo Gheorghiu inclui em seus planos
futuros performances das obras de
Rachmaninov com Musikkollegium
Winterthur no Tonhalle, em Zurique,
e de Beethoven com a Royal
Philharmonic Orchestra no Royal
Albert Hall de Londres, bem como
com a Orquesta Sinfónica de Bilbao
e a Orquesta Sinfónica del Principado
de Asturias. Inclui também música de
câmara no Meisterzyklus Bern, recitais
na América do Sul e em Taiwan e o
lançamento de seu segundo disco pela
Sony (Liszt e Schubert).
Na última temporada, Teo se apresentou
no Festival de Lucerna e teve estreias
no Louvre e no Festival Dvorák, em
Praga. Apresentou-se com a Orquestra
Sinfônica Tchaikovsky da Rádio de
Moscou (com Vladimir Fedoseyev) e com a Sinfônica de
Evergreen (Gernot Schmalfuss). Também gravou o álbum
Piano Quintet Dvorák com o Carmina Quartet (Sony).
O pianista já se apresentou com as sinfônicas de Tóquio
e de Pittsburgh, com a Luzerner Sinfonieorchester, com a
Orchestra della Svizzera Italiana, Sinfonieorchester Basel,
Berner Sinfonieorchester, Philharmonie der Nationen, State
Hermitage Orchestra, Brandenburgisches Staatsorchester
Frankfurt, orquestras de câmara de Zurique e de Genebra
e orquestras Nacional Dinamarquesa e de Câmara Inglesa.
Esteve no Wigmore Hall de Londres e Barbican, no Verbier e
nos festivais Mecklenburg-Vorpommern e Ohrid.
Desde sua estreia no Tonhalle Zürich, tem participado de
concertos de Mozart, Beethoven, Chopin, Rachmaninoff e Bach,
trabalhando com maestros como James Gaffigan, Howard
Griffiths, Arild Remmereit, Justus Frantz, Christopher Warren-
Green, Carolyn Kuan, Mario Venzago e Muhai Tang. Em recitais
esteve em Milão, Istambul, Bad Kissingen, Berna, Basileia e
Santiago. Seu primeiro CD pelo selo Deutsche Grammophon
tem concertos de Schumann e Beethoven, em parceria com o
Musikkollegium Winterthur e condução de Douglas Boyd.
Nascido em Zurique em 1992, Teo Gheorghiu foi pupilo de
William Fong na Escola Purcell de Londres. Passou a estudar
no Instituto Curtis, na Filadélfia, com Gary Graffman, e
atualmente estuda na Royal Academy of Music, em Londres.
Em 2004, foi primeiro lugar no Concurso de Piano San Marino
International e, no ano seguinte, primeiro prêmio no Concurso
Internacional de Piano Franz Liszt, em Weimar, Alemanha.
Teo Gheorghiu também é um ator talentoso. Em 2006,
contracenou com Bruno Ganz no papel-título de Vitus,
premiado filme de Fredi Murer que conta a história de um
jovem prodígio do piano.
FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
74 75
Não se deve, porém, associar esse
conceito ao de música programática. A
rigor, não há um texto ou um programa
literário que explicite o desenrolar
musical. A música da Pastoral não narra
qualquer história. O próprio Beethoven
afirma que “a descrição é inútil” e faz
estampar à testa da partitura a indicação
de que a música, aí, era “mais expressão
de sentimentos do que pintura”. Tal
afirmação vincula Beethoven declarada e
conscientemente à ideologia romântica,
e faz reconhecer que a arte musical
só pode referir-se ao mundo enquanto
existência sonora. As impressões
campestres são, na Pastoral, impressões
do próprio compositor, que as transfigura
e elabora em realidades musicais. Não
há, na Pastoral, descrição. Há, isso sim,
evocações pessoais processadas e
elaboradas conscientemente e finalmente
sublimadas em linguagem musical.
Beethoven nunca se dedicou com afinco
ao gênero lírico. A submissão das ideias
musicais a um libretto seria insustentável
para um gênio criador tão vigoroso quanto
o seu. Estreada em 1805, a ópera Fidélio
passou, após suas primeiras récitas, por
várias revisões e alterações até que
chegasse à versão definitiva, tal como a
conhecemos. Isso revela a laboriosidade
angustiosa que sempre perpassa o
processo criador de Beethoven. Sintoma
desse duro processo da gênese de Fidélio
é o fato de Beethoven ter composto
não apenas uma, mas quatro aberturas
para a ópera. Composta em primeiro
lugar, Leonora nº 1 não foi executada na
estreia e, sim, Leonora nº 2, que foge
grandemente ao modelo tradicional das
aberturas de ópera até então utilizado e
que, por isso mesmo, não foi bem recebida
pelo público. Fidélio, ou Leonora nº 4,
composta para as récitas de 1814, é
mantida como a abertura oficial da ópera.
Das diversas tentativas de reintegrar à
ópera essas quatro obras sinfônicas, não
deixa de ser curiosa a de Gustav Mahler
que, quando diretor artístico da Ópera de
Viena, utilizou-as todas, em uma única
récita de Fidélio. No entanto, também
introduzida por Mahler, a prática mais
comum, pelo menos até a metade do
século XX, era inserir Leonora nº 3 entre as
duas cenas do segundo ato. Estreada no
mesmo ano de sua composição, Leonora
nº 2 é um grande testemunho da liberdade,
audácia e inventividade beethovenianas.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
primeiro movimento, aberto com a
intervenção nua de cinco batidas de
tímpano. Hoje peça importante da
literatura violinística, o Concerto op. 61
pode não estar entre as obras mais
emblemáticas do monumento
beethoveniano, mas é expressão genuína
de sua inventividade e de sua linguagem.
A versão para piano tem um aspecto
interessante. Beethoven compôs, para
ela, novas cadências. A do primeiro
movimento, maior em tamanho e de
aspecto bastante virtuosístico, faz o
piano solista dialogar com os tímpanos
da orquestra. Mais tarde, essa cadência
retornou ao violino, em transcrições de
importantes instrumentistas como Max
Rostal e Eugène Ysaÿe. Não se sabe
ao certo quando a versão para piano
foi executada pela primeira vez, mas,
segundo Hans-Werner Küthen, que faz
o prefácio da edição de 2005, pela
editora Henle, ela não foi executada
durante a vida de Beethoven.
É dessa mesma época a Sinfonia
Pastoral. Em 1808 Beethoven oferece
ao público vienense um concerto
extraordinário, em que, além de várias
outras estreias importantes, apresenta
suas Quinta e Sexta sinfonias. O
público se mostra mais uma vez
apático, certamente por não reconhecer
o gênero de prazer a que estava
habituado. Essa reação do público
demonstra claramente a adoção de
uma nova postura estética em
Beethoven, que o desvincula do
continuísmo clássico e cria laços
estreitos com a ideologia romântica,
especialmente no que concerne ao
direito quase revolucionário de uma
expressão individual: a expressão de
um gênio criador, consciente de sua
missão diante de um status quo que
precisa ser modificado.
A Sexta Sinfonia, op. 68, foi composta
entre os anos de 1806 e 1808, mas já
se encontram esboços dessa obra em
blocos de notas que datam de 1802.
O próprio título da sinfonia deu a
Beethoven certo trabalho: pensou chamá-
la inicialmente “Sinfonia Característica,
ou Lembranças da Vida Campestre”.
Imaginou depois chamá-la “Sinfonia
Pastorella”, mas optou finalmente pelo
nome que conhecemos hoje: Sinfonia
Pastoral. Experiência única em
Beethoven, o conceito dessa sinfonia
funda-se no movimento de se tentar
utilizar a música dita pura para expressar
realidades e conteúdos extramusicais.
FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
77
7
FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
FABIO MECHETTI, regenteROMMEL FERNANDES, violinoARA HARUTYUNYAN, violino
ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b
ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40
ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92
Poco sostenuto – VivaceAllegrettoPresto, assai meno prestoAllegro con brio
PROGRAMA
24 DEOUTUBRO
Rommel Fernandes
Ara Harutyunyan
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FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
Ara Harutyunyan nasceu em uma
família de músicos em Yerevan, na
Armênia, onde começou a estudar
violino aos oito anos. Ao longo de sua
carreira venceu várias competições
nacionais e internacionais, participou
de muitos festivais e masterclasses
e apresentou-se como solista e
músico de câmara na Armênia,
Rússia, Geórgia, Quirguistão, Suíça,
Líbano, Síria e Estados Unidos.
Recentemente venceu o Jacoby
Soloist Competition da Universidade
de Wyoming e foi nomeado finalista
nacional do MTNA Young Artist
String Competition, ambas nos
Estados Unidos.
Harutyunyan obteve Bacharelado e Mestrado no
Conservatório Estadual Yerevan Komitas. Estudou durante
um ano na Suíça, na Universidade de Artes de Zurique,
com o professor Rudolf Koelman. Foi membro do Quarteto
de Cordas Yerevan e violinista da Orquestra Filarmônica
da Armênia.
Em 2011, transferiu-se para os Estados Unidos. Foi aluno
de John Fadial na Universidade de Wyoming, onde recebeu
seu certificado de Performance em Violino em 2013.
Como solista, músico de câmara e spalla da orquestra
da Universidade, realizou muitos concertos nos Estados
Unidos; lecionou violino como membro do String Project da
instituição. Harutyunyan foi spalla assistente da Orquestra
Sinfônica de Cheyenne durante um ano, antes de se mudar
para o Brasil, em 2014, para assumir o cargo de spalla
assistente da Filarmônica de Minas Gerais.
ARA HARUTYUNYANFO
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UGÊN
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ÁVIO
FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
Rommel Fernandes é spalla associado
da Orquestra Filarmônica de Minas
Gerais e mantém intensa atividade
como recitalista e músico de câmara.
Foi solista frente a diversas orquestras,
incluindo a Filarmônica de Minas Gerais,
a Osesp (como vencedor do concurso
Jovens Solistas), Orquestra Unisinos,
Orquestra de Câmara da Unesp, Advent
Chamber Orchestra (ao lado de Jacques
Israelievitch, ex-spalla da Sinfônica
de Toronto) e Northwestern University
Chamber Orchestra. Elogiado pela
crítica por sua "execução soberba e
musicalidade aristocrática", bem como
por sua "releitura vibrante, modernista,
porém elegante" do repertório tradicional,
destaca-se ainda como intérprete de
música contemporânea, atuando com os
grupos Oficina Música Viva e Sonante
21. Em anos recentes, realizou primeiras
audições mundiais de obras de Douglas
Boyce (Floruit Egregiis, para violino e cello) e Silvio Ferraz
(Partita II, para violino solo), além de estreias brasileiras de
obras de Pierre Boulez (Anthèmes I, para violino solo) e Mario
Mary (Aarhus, para violino e eletrônica), entre outros.
Mestre e doutor em Música com Honors pela Northwestern
University, Estados Unidos, na classe de Gerardo Ribeiro,
Rommel frequentou também o Lucerne Festival Academy,
Suíça, e o Tanglewood Music Center (TMC), onde estudou
música de câmara com membros dos quartetos de cordas
American, Cleveland, Concord, Juilliard e Muir. Foi spalla da
Orquestra do TMC sob regência de Bernard Haitink e James
Levine. Ainda nos EUA, foi músico convidado das sinfônicas
de Boston (em Tanglewood) e Chicago (na série MusicNOW
de música contemporânea), apresentou-se em transmissões
ao vivo pela rádio WFMT, colaborou com o grupo Fifth House
Ensemble e fez parte do corpo docente da North Park
University. Como membro da Chicago Civic Orchestra, trabalhou
com Charles Dutoit, Christoph Eschenbach, Daniel Barenboim,
Gidon Kremer, Lorin Maazel, Pierre Boulez e Pinchas Zukerman.
Natural de Maria da Fé, MG, Rommel iniciou seus estudos
musicais no Conservatório Estadual de Pouso Alegre e obteve
o Bacharelado em Violino pelo Instituto de Artes da Unesp,
como aluno de Ayrton Pinto. Em São Paulo foi membro da
Orquestra Experimental de Repertório e spalla da Orquestra
de Câmara da Unesp. Recebeu também orientação dos
violinistas Alberto Jaffé, Almita Vamos, Andrés Cárdenes,
Jerrold Rubenstein, Joseph Silverstein, Kurt Sassmanshaus,
Leon Spierer, Leonard Felberg, Malcolm Lowe, Marcello
Guerchfeld, Pamela Frank, Ruggiero Ricci, Sidney Harth e
Viktor Danchenko.
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EUG
ÊNIO
SÁV
IO
ROMMEL FERNANDES
80 81
predominância do elemento rítmico,
a Sétima Sinfonia se assemelha à
Quinta. Entretanto, há entre elas
uma diferença estrutural. Na Sinfonia
nº 5, a força e a unidade advêm da
recorrência da mesma célula rítmica
em todos os movimentos; na Sétima, ao
contrário, cada andamento é modelado
e diferenciado por um padrão rítmico
próprio. A estratificação de uma
figura rítmica persistente, facilmente
perceptível em cada parte, define o
perfil da Sinfonia como um todo.
A Sinfonia op. 92 inicia-se com
importante introdução de 62
compassos, Poco sostenuto. O acorde
da tônica Lá maior ressoa em forte e
curto tutti orquestral, contrastando com
a entrada do oboé solo. O processo se
repetirá com os ataques da orquestra
no terceiro, no quinto e no sétimo
compassos e, entre os acordes, o canto
será confiado cada vez a um novo
timbre (primeiro uma trompa, à qual se
junta uma flauta, depois os violinos).
A modulação para Dó maior traz um
novo motivo, dolce, exposto pelo oboé,
com caráter de rústico cortejo pastoril.
A introdução termina com a nota
pedal Mi que, hesitando em valores
cada vez mais longos, recebe o novo
ritmo do Vivace. Este é apresentado
pelas madeiras e só toma uma forma
melódica no quinto compasso, com
as flautas. O desenvolvimento, com
mudanças incessantes de tonalidade,
apresenta uma espécie de luta entre
as cordas e as madeiras, sobre a
simples célula rítmica inicial. A seguir,
há uma bela passagem com uma
variante do primeiro tema, em fugato.
Na reexposição, compassos de silêncio
quebram a continuidade rítmica. Na
coda, um surpreendente pedal das
violas e cordas graves move-se por 22
compassos sobre um mesmo desenho.
(Carl Maria von Weber, referindo-
se a essa extraordinária passagem,
sugeriu que Beethoven fosse internado
no manicômio municipal!). Com um
lento crescendo, o ritmo invencível
do movimento se reanima até o
resplandecente Lá maior final.
O Allegretto, com seu ritmo de
caminhada lenta (dáctilo: uma
semínima, duas colcheias – espondaico:
duas semínimas) é o movimento mais
célebre da Sinfonia. Quanto à forma,
explora a oposição de dois temas, em
lá menor e em Lá maior. O melancólico
primeiro tema aparece nos violinos e se
enriquece com um contrassujeito dos
FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
A Abertura Leonora nº 3 foi composta para
uma reapresentação da ópera Fidélio, em
1806. Inicia-se com um Adagio, rico em
modulações, que introduz o Allegro seguinte,
em forma de sonata bitemática. O desenvolvimento inclui
material referente às peripécias do drama, como a ária do
prisioneiro Florestan e os toques imponentes dos trompetes
que lhe anunciam a liberdade. Mas a Abertura possui
autonomia – seu estilo sinfônico e a realização concisa e
equilibrada garantiram-lhe, com justiça, a permanência nas
salas de concerto.
Os dois Romances para violino e orquestra foram publicados
em 1802. O primeiro, em Sol maior (provável movimento
lento concebido para o inacabado Concerto Wo05), foi
composto em 1802. Seu tema principal, em Andante lento,
tem caráter pastoral e o desenvolvimento constrói um
diálogo permanente entre o solista e a orquestra O segundo
Romance, Adagio cantabile, foi escrito em 1798. A forma
alterna o lirismo do tema, em Fá maior, com a energia do
motivo secundário, em fá menor. O final reintroduz o tema
principal e conclui a peça com uma longa coda.
No dia 8 de dezembro de 1813, Beethoven realizou na
Universidade de Viena a primeira audição da Sétima Sinfonia.
A pedido do público, o segundo movimento foi bisado. Tal
sucesso teve um significado especial para o compositor, pois,
ao eleger o ritmo como elemento dominante da Sinfonia,
Beethoven o idealizou como fator socializante, capaz de
moldar os sentimentos coletivos (coincidentemente, a estreia
ocorreu por ocasião de um concerto beneficente para os
inválidos das guerras napoleônicas). Sob o aspecto da
FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b
1805/1806 | 14 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes,
3 trombones, tímpanos, cordas.
ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40
1802 | 8 minFlauta, 2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50
1798 | 9 min
Flauta, 2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas
SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92
1811/1812 | 34 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
82 83
rápido em semicolcheias, acentuadas
pela orquestra no tempo fraco do
compasso. O segundo tema, também
apresentado pelos violinos, contém
a indicação de piano; mas logo a
orquestra lhe responde com um
violento acorde dissonante. Com
esses dois temas, o Allegro con brio
se constrói dentro da forma sonata. A
quadratura rigidamente simétrica dos
períodos e das frases dá ao movimento
uma solidez incomparável e serve de
suporte para a sensação de irresistível
ímpeto tão característico dos finais
de Beethoven.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
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violoncelos. O segundo é apresentado
no clarinete e no fagote. Possui um
duplo acompanhamento – a suave
ondulação em tercinas dos violinos
e o pizzicato das cordas graves, que
repetem a primeira metade (dáctilo) da
célula rítmica fundamental.
O Presto é, de fato, um scherzo duplo.
Começa com vigoroso tutti e seu tema
contém dois motivos: o primeiro é
afirmativo, com acentos nos tempos
fortes. O segundo é leve e staccato.
No solene tema do Trio, Assai meno
presto, Beethoven relembra um canto de
peregrinos da Baixa Áustria.
O final, Allegro con brio, anuncia sua
violência rítmica com dois explosivos
acordes em fortissimo – dois trovões,
separados por um breve silêncio. Os
primeiros violinos lançam o tema
84 85
8
FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
MARCOS ARAKAKI, regenteTRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, piano
A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91
A BatalhaA Sinfonia de Vitória
CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ MAIOR, OP. 56, "TRÍPLICE"AllegroLargoRondo alla polacca
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93
Allegro vivace e con brioAllegretto scherzandoTempo di menuettoAllegro vivace
PROGRAMA
21 DENOVEMBRO
86 87
O Trio Ceresio é composto por três
artistas de renome internacional,
apaixonados por levar repertórios para
trio ao público de todo o mundo. O
violinista Anthony Flint e o violoncelista
Johann Sebastian Paetsch, ambos
intérpretes experientes do gênero,
conceberam a ideia de um grupo
enquanto estavam em suas casas às
margens do Lago Lugano – conhecido
tradicionalmente como Ceresio. Logo
depois, se uniram à famosa pianista
suíça Sylviane Deferne, e a combinação
entre o talento e a qualidade artística
ímpar do Trio tem garantido um sucesso
instantâneo, tanto entre promotores de
eventos quanto com o público.
Concertos realizados na Itália durante o
festival de verão Verona, em Cremona e
na Suíça, nos festivais de Schubertiade,
Fribourg e na Suíça romanda foram
aclamados pela crítica especializada.
Depois de uma série de concertos de
sucesso em Lugano, o Trio Ceresio foi
convidado para gravar composições
para trio de Arensky e Beethoven para a
Rádio Svizzera italiana.
Atividades recentes incluíram uma
produção para a TV suíça TSI
apresentando composições de
Shostakovich e Dvorák e uma
performance do Concerto Triplo de
Beethoven no Japão. Para comemorar o bicentenário de Felix
Mendelssohn, o grupo gravou três obras de trio para piano
deste compositor sob o selo Doron, incluindo uma primeira
gravação de seu trabalho de 1822. Um novo lançamento
pela Doron inclui composições para trios de Shostakovich,
Beethoven e Arensky.
Trio Ceresio continua a causar um impacto impressionante
no cenário musical, proporcionando uma experiência
inesquecível onde quer que se apresente. Como o Corriere del
Ticino, da Suíça, comentou: "... por trás de sua performance,
supõe-se haver uma longa preparação, de outra forma não se
poderia explicar o conjunto maravilhoso, a precisão e atenção
aos mínimos detalhes. Há um maravilhoso equilíbrio entre as
vozes, sem nunca renunciar à liberdade e à responsabilidade
que se atribui a grandes músicos".
TRIO CERESIOFO
TO D
IVUL
GAÇÃ
O
FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBROFORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
Marcos Arakaki é o Regente Associado da
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e
tem colaborado com a Filarmônica desde a
Temporada 2011.
Arakaki tem dirigido importantes
orquestras no Brasil e no exterior. Dentre
elas a Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo, a Orquestra Sinfônica
Brasileira, as sinfônicas de Minas Gerais,
do Paraná, da Paraíba, de Campinas e da
Universidade de São Paulo, a Petrobras
Sinfônica, Orquestra do Teatro Nacional
Claudio Santoro, a Orquestra Experimental
de Repertório, a Camerata Fukuda, a
Orquestra Filarmônica de Buenos Aires,
Orquestra Filarmônica da Universidade
Nacional Autônoma do México,
Sinfônica de Xalapa (México), a Kharkov
Philharmonic (Ucrânia) e a Bohuslav
Martinu Philharmonic (República Tcheca).
Sua trajetória artística é marcada por
diversos prêmios. Vencedor do 1º Concurso
Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes, promovido pela
Orquestra Petrobras Sinfônica (2001), e do 1º Prêmio Camargo
Guarnieri, realizado pelo Festival Internacional de Campos do
Jordão (2009), Arakaki também foi finalista do 1º Concurso Latino-
americano de Regência Orquestral da Osesp (2005) e semifinalista
no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na Cidade do
México (2007).
Em 2005, foi o principal regente da Orquestra Sinfônica de
Ribeirão Preto. Entre 2007 e 2010, trabalhou como titular da
Orquestra Sinfônica da Paraíba e assistente da Orquestra Sinfônica
Brasileira. Como regente titular, Arakaki promoveu a reestruturação
da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre os anos de 2008 e
2010, recebendo grande reconhecimento da crítica especializada e
do público na cidade do Rio de Janeiro.
Gravou em 2010 a trilha sonora do filme Nosso Lar, composta por
Philip Glass, juntamente com a Orquestra Sinfônica Brasileira.
Arakaki já fez a estreia mundial de mais 40 obras para orquestra.
Paralelamente, tem desenvolvido atividades como coordenador
pedagógico, professor e palestrante em diversos projetos culturais
e em importantes instituições, como Música na Estrada, Casa
do Saber do Rio de Janeiro, Universidade Federal da Paraíba e
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Marcos Arakaki é bacharel em Música pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp, 1998), concluindo seu mestrado em Regência
Orquestral pela Universidade de Massachusetts em 2004, com
apoio da Fundação Vitae. Participou de masterclasses com os
maestros Kurt Masur, Charles Dutoit, Alan Hazendine, Kirk Trevor,
Dante Anzolini, John Neschling, Roberto Minczuk, Roberto Tibiriçá,
Nelson Nirenberg e Lanfranco Marcelletti. Em 2005 participou do
Aspen Music Festival and School, tendo aulas com David Zinman na
American Academy of Conducting at Aspen, nos Estados Unidos.
Desde 2013, Arakaki também é professor de Regência na
Universidade Federal da Paraíba e Regente Titular da Orquestra
Sinfônica da mesma instituição.
FOTO
RAF
AEL
MOT
TA MARCOSARAKAKI
88 89
que os solistas foram Sra. Müller,
Sr. Matthäi e Sr. Dozzauer. A primeira
apresentação em Viena se deu em
maio do mesmo ano, na Augartensaal,
provavelmente com os mesmos solistas.
O Concerto Tríplice tem um caráter
camerístico e, consequentemente,
intimista, o que faz dele um concerto
inusitado para a época, especialmente
se levamos em conta o fato de ter sido
composto por Beethoven no mesmo
ano de duas obras grandiosas, a
Sinfonia Eroica e a Sonata Waldstein.
Embora não apresente, ao contrário
dessas outras obras, passagens
individuais de dificuldade extrema, a
execução do Concerto Tríplice requer
grande concentração por parte dos
solistas, maestro e orquestra. A
expressividade dos temas e o fino
equilíbrio entre os solistas são a
chave desse belíssimo concerto. O
primeiro movimento (Allegro) inicia-se
calmamente. Apenas aos poucos os
temas são apresentados. O segundo
movimento (Largo) é bem tranquilo
e funciona como uma espécie de
introdução ao Finale. Este, um Rondo
alla polaca, atacado após o segundo
movimento, sem interrupção, é uma
polonaise de caráter aristocrático.
Embora os primeiros esboços da
Sinfonia nº 8 datem de 1811, foi
apenas a partir de maio do ano seguinte
que Beethoven pôde realmente se
dedicar à obra. No final de setembro
a composição já estava pronta e em
outubro Beethoven confeccionava
a partitura definitiva. A estreia se
daria dois anos mais tarde, em 27 de
fevereiro de 1814, em um concerto em
Viena regido pelo próprio compositor.
Sob vários aspectos, a Sinfonia nº 8
nos remete às sinfonias de Haydn,
especialmente à Sinfonia nº 101
(“O relógio”): por suas dimensões,
no colorido e, principalmente,
pelo tratamento temático. O
primeiro movimento (Allegro vivace
e con brio) é, curiosamente, em
compasso ternário, assim como
a Sinfonia nº 101 de Haydn (em
Beethoven, apenas as Sinfonias
números 2 e 3 têm o primeiro
movimento em ternário). A forma
com que Beethoven expõe as seções
é extremamente clara: o início da
obra marca o início do primeiro
tema, e um compasso de silêncio
marca a entrada do segundo tema. O
movimento termina, inesperadamente,
em pianissimo.
FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
B eethoven compôs a Abertura A Vitória de
Wellington a pedido de Johann Nepomuk
Mälzel (1772-1838, inventor do metrônomo e
amigo de Beethoven), para celebrar a vitória
das tropas chefiadas pelo Duque de Wellington sobre as
tropas napoleônicas, em 21 de junho de 1813, na cidade
de Vitória, Espanha. A composição se deu no verão de
1813, originalmente para o Panharmonikon, então a mais
recente invenção de Mälzel, que consistia em uma máquina
enorme e uma espécie de teclado, capaz de reproduzir,
mecanicamente, os sons de quarenta e dois instrumentos.
No início do outono Beethoven orquestrou a Abertura.
A Vitória de Wellington requer um grande efetivo orquestral,
além de tiros de canhão e fuzil (atualmente substituídos por
dispositivos eletrônicos disparados pelo percussionista).
A primeira seção (A Batalha) apresenta as forças francesas
e inglesas e descreve a batalha. A segunda seção
(A Sinfonia de Vitória), que busca enaltecer as forças
inglesas, é amplamente baseada no hino britânico
God save the King. Graças ao sentimento patriótico que
tomou conta da Áustria na época, a estreia, em Viena, no dia
8 de dezembro de 1813, foi um sucesso estrondoso e teve
não apenas Beethoven na regência, como Schuppanzigh nos
primeiros violinos, Salieri, Sphor e Hummel na percussão.
O Concerto Tríplice foi composto nos anos 1803/1804.
Dedicado ao príncipe Lobkowitz, teve sua primeira publicação
em julho de 1807, em Viena, pelo Bureau des Arts et
d’Industrie, e sua primeira apresentação ocorreu apenas em
abril de 1808, em Leipzig. Segundo uma crítica publicada
no Allgemeine musikalische Zeitung, de 27 de abril, sabemos
FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91
1813 | 14 min
Piccolo, 2 flautas, 2 oboés,
2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas,
6 trompetes, 3 trombones,
tímpanos, percussão, cordas.
CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ
MAIOR, OP. 56, “TRÍPLICE” 1804 | 36 min
Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93
1812 | 25 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
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AND
RÉ F
OSSA
TI
Muito já se disse que o segundo
movimento (Allegretto scherzando) teria
sido escrito em homenagem a Johann
Nepomuk Mälzel, mas o certo é que o
tique-taque das madeiras e a leveza do
tema das cordas são quase uma citação
do segundo movimento da Sinfonia
nº 101 de Haydn. O terceiro movimento
é, curiosamente, um Minueto (Tempo
di Menuetto). Desde sua Sinfonia nº 2,
Beethoven substituíra o minueto, tão
comum em Haydn e Mozart, pelo
scherzo. E o quarto movimento (Allegro
vivace) mais parece uma brincadeira
musical à moda de Haydn. Nesse
movimento, após apresentar os dois
temas, Beethoven deixa clara cada
uma de suas reaparições, como que
desejando que o ouvinte não se perca ao
longo do caminho. Uma longa coda nos
leva a um final brilhante. Trata-se da
mais curta de suas sinfonias e, talvez,
a mais descompromissada de todas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
Ilustração de Josh. Dan. Boehm (cerca de 1820).
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9
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
PROGRAMAFABIO MECHETTI, regentePABLO ROSSI, pianoMARIANA ORTIZ, sopranoDENISE DE FREITAS, mezzo-sopranoFERNANDO PORTARI, tenorSTEPHEN BRONK, baixo-barítonoCORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS LINCOLN ANDRADE, regente
19 DEDEZEMBRO
FANTASIA CORAL, OP. 80
AdagioAllegroMeno allegroAdagio ma non tropoMarcia, assai vivaceAllegretto ma non tropo Presto
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL”Allegro ma non tropo, un poco maestosoMolto vivaceAdagio molto e cantabile – Andante moderatoFinale: Presto – Allegro assai
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JOSE
LUI
S FR
EITE
S
Considerada uma das melhores vozes
venezuelanas de sua geração, Mariana
Ortiz estudou canto no Conservatório de
Música do Estado de Aragua com Lola
Linares. Fez licenciatura em Educação
Musical na Universidade de Carabobo
e obteve um master degree em Canto
no Koninklijk Conservatorium Brussel,
Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento
foram feitos com os maestros Isabel
Palacios (Venezuela), Mirella Freni e
Vittorio Terranova, entre outros.
Entre os papéis que interpretou estão
Proserpina y Messagera, L’Orfeo
(Monteverdi); Mimí, La Bohème
(Puccini); Comtessa, Bodas de Figaro
(Mozart); Donna Anna, Don Giovanni
(Mozart); Mimi y Musetta, La Bohème
(Puccini); Micaela, Carmen (Bizet);
Violeta Valery, La Traviata (Verdi);
Gilda, Rigoletto (Verdi); Fiordiligi, Cosi
fan Tutte (Mozart); Salud, La Vida Breve (Falla); Poppea,
L’Incoronazzione di Poppea (Monteverdi). No gênero da
Zarzuela interpretou Lota em La Corte del Faraón, Aurora em
Las Leandras e a Duquesa Carolina em Luisa Fernanda, esta
última em uma coprodução entre o Teatro Teresa Carreño, o
Teatro Real de Madrid e a Fundação SaludArte, sob direção
de Pablo Mielgo.
Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn, Carmina
Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2 de Mahler e
a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou também Canções
Negras de Montsalvatge.
Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como o
Teatro Teresa Carreño, Thèatre des Champs Elysées (Paris),
Staatsoper (Berlim), Thèatre de la Monnaie (Bruxelas),
Royal Danish Opera de Dinamarca, Palácio das Artes (Belo
Horizonte), Hollywood Bowl (Los Angeles), cantando sob a
batuta de reconhecidos maestros, como Gustavo Dudamel,
Diego Matheuz, Christian Vásquez, Renè Jacobs, Simon
Rattle, Lars Ulrik Mortensens, Roberto Tibiriçá, Manuel
Hernández Silva, Andrés Orozco Estrada, José Luis Rodilla,
Rafael Frühbeck de Burgos, Helmuth Rilling, Evelino Pidò.
Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera Bolívar,
de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da revista
francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto, o
canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de
pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que
empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela, última
companheira do Libertador”.
MARIANA ORTIZ
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBROFORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
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RUD
I BOD
ANES
E
PABLOROSSI
Pablo Rossi é o vencedor do 1º Concurso
Nacional Nelson Freire para Novos
Talentos Brasileiros de 2003.
Conquistou seu primeiro prêmio aos
sete anos de idade, no IV Concurso
Jovens Intérpretes de Lages. Desde
então, venceu também o Concurso
Magda Tagliaferro 1998, o Encuentro
Internacional de Jóvenes Músicos,
em Córdoba, Argentina, 2001, e o
Concurso Internacional Ciutat de Carlet,
Espanha, 2002.
Rossi atuou como solista frente à
Orquestra de Câmara do Kremlin,
Orquestra Sinfônica de Kirov, Osesp,
Sinfônica Brasileira, Amazonas
Filarmônica, Orquestra Experimental de Repertório,
Orquestra Sinfônica da Bahia, sinfônicas do Paraná, do
Sergipe, de Ribeirão Preto. Nos últimos anos, Pablo Rossi
apresentou mais de vinte recitais nos Estados Unidos e em
vários países da Europa e da América Latina.
Gravou seu primeiro CD aos onze anos de idade, com obras
de Chopin, Bartók, Schumann, Tchaikovsky, Rachmaninoff,
Shostakovich e Nepomuceno. Em 2008 lançou o CD Pablo
Rossi – Live at Steinway Hall, com obras de Mozart, Villa-
Lobos, Prokofiev e Chopin – gravado ao vivo em Londres.
Pablo é bacharel e mestre pelo Conservatório Tchaikovsky
de Moscou, onde estudou com Elisso Virsaladze, com
patrocínio do Governo do Estado de Santa Catarina e do
empresário Roberto Baumgart.
Atualmente, Pablo vive em Bruxelas, Bélgica.
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JOSE
LUI
Z LA
MOS
A
Com uma carreira internacional em
franca ascensão, Fernando Portari
estreou em 2010 com grande sucesso
no mítico Teatro alla Scala de Milão
em Fausto de Gounod, ao lado de
Roberto Scandiuzzi. Recentemente
esteve ao lado de Anna Netrebko
na Staatsoper de Berlim na ópera
Manon de Massenet, sob a direção
do maestro Daniel Barenboim.
Apresentou-se nos teatros La Fenice
de Veneza, na Ópera de Roma, no
Teatro São Carlos de Lisboa, na
Deutsche Oper de Berlim, Comunale
de Bologna, Novaya Theater de
Moscou, Theatro Municipal de
São Paulo, Theatro Municipal do
Rio de Janeiro, Teatro Amazonas e
também em Tokyo, Helsinki e Varsóvia.
Portari atuou também em Anna Bolena com Mariella Devia
no Teatro Massimo de Palermo e em La Traviata, na Opera
de Hamburgo e em Colônia, Alemanha. Apresentou se em
La Boheme em Berlim e em Sevilha e representou Werther
no Teatro Bellini de Catania e em La Coruña.
Fernando Portari recebeu o Prêmio APCA (Associação
Paulista de Críticos de Arte) e por duas vezes o Prêmio
Carlos Gomes, tornando-se rapidamente nome presente nas
temporadas líricas em Manaus, São Paulo, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro e outros centros artísticos.
Em São Paulo interpretou a maioria de seus papéis:
Rodolfo, Romeo, Hoffmann, Nadir, Des Grieux, Ernesto,
Nemorino, Almaviva, Ramiro, Ottavio, Cassio, Fenton,
Rake, Edipo, Roderick Usher. Também em São Paulo
cantou as estreias mundiais das óperas A Tempestade,
de Ronaldo Miranda, sobre texto de Shakespeare, e Olga,
de Jorge Antunes, baseada na vida de Olga Benario.
FERNANDO PORTARI
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBROFORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
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HEL
OISA
BOR
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DENISEDE FREITAS
Denise é uma das mais importantes
artistas líricas do Brasil na atualidade.
Com voz de grande extensão e timbre
escuro, ela tem conquistado o público
e a crítica com intensas e sensíveis
atuações tanto no drama como na
comédia. "...Denise é uma das maiores
cantoras e maiores artistas do Brasil",
escreveu Arthur Nestrovski no jornal
Folha de São Paulo.
Em 2013 estreou com sucesso como
Azucena em Il Trovatore durante o
Festival de Ópera do Teatro da Paz,
cantou em A Valquíria (Fricka) no
Theatro Municipal do Rio de Janeiro e
O Ouro do Reno no Theatro Municipal
de São Paulo. Em 2012, brilhou
em O Crepúsculo dos Deuses como
Waltraute no Theatro Municipal de
São Paulo e recebeu o Prêmio Carlos
Gomes de melhor solista feminino
por suas interpretações em 2011 em A Valquíria e L’enfant
et les sortilèges (o Menino) no Theatro Municipal de São
Paulo, Nabucco, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e
Les Dialogues des Carmélites, como Irmã Marie, no Festival
Amazonas de Ópera.
Recentemente, apresentou uma série de concertos com a
ópera Yerma, de Villa-Lobos, em Berlim, Paris e Lisboa.
Conquistou o Prêmio Carlos Gomes nos anos 2004 e 2009,
neste último por suas atuações como Dalila (Sansão e Dalila) e o
Compositor (Ariadne auf Naxos), para o Municipal de São Paulo.
Seu repertório operístico inclui também Cherubino (Le Nozze
di Figaro), Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Hänsel
(Hänsel und Gretel), Siebel (Fausto), Orfeu (Orfeu e Eurídice),
Marquise de Berkenfield (La Fille du Régiment), Suzuki
(Madame Butterfly), Angelina (La Cenerentola), Rosina
(Il Barbiere di Siviglia), Laura (La Gioconda), Carmen
(Carmen), Adalgisa (Norma) e Charlotte (Werther).
Como concertista interpretou obras como El Amor Brujo de
Manuel de Falla; Das Lied von der Erde, Sinfonias números
2 e 3, Kindertotenlieder e Des Knaben Wunderhorn de
Mahler; Stabat Mater de Dvorák; Stabat Mater de Pergolesi;
Shéhérazade de Ravel; O Messias de Haendel; Magnificat de
Bach; Magnificat-Aleluia de Villa-Lobos; e Sinfonia nº 9 de
Beethoven. Seu CD Lembrança de Amor, com composições
de Osvaldo Lacerda e Eudóxia de Barros ao piano, recebeu,
em 2003, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos
de Arte) de Melhor CD do Ano.
Denise nasceu em São Paulo e teve como orientadora a
renomada cantora Lenice Prioli. Em Nova York, aperfeiçoou-
se com Catherine Green e Patricia McCaffrey e, na
França, com Sylvia Sass.
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FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
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DIV
ULGA
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STEPHEN BRONK
Nascido em Massachusetts, Estados
Unidos, Stephen Bronk formou-se em
Música e Canto no Conservatório de
Colônia, Alemanha, aperfeiçoando-se
com Herbert Mayer em Nova York.
Em mais de trinta anos de palco,
cantou com consagrados cantores,
como Dame Gwynneth Jones, Plácido
Domingo e Sherill Milnes, nos principais
teatros da Alemanha (Aachen, Bonn,
Bremen, Dortmund, Duesseldorf-
Duisburg, Frankfurt, Freiburg,
Hamburgo, Hannover, Karlsruhe,
Mannheim, Muenchen, Nuernberg e
Saarbruecken); no Grand Teatre del
Liceu em Barcelona, Espanha; nos
teatros de Nancy, Strasbourg e Lyon,
França; em Copenhagen, Dinamarca;
em Praga, República Tcheca; em St.
Gallen e Genebra, Suíça; nos festivais
de Salzburg, Áustria, e Savonlinna,
Finlândia; na Filadélfia e em Palm Beach, Estados Unidos;
em Taipei, Taiwan, e Xangai, China.
No Brasil, apresentou-se no Palácio das Artes, em Belo
Horizonte (Don Giovanni, Il Guarani, Carmen, Il Barbiere di
Siviglia, Turandot, O Castelo do Barba Azul, requiem de Brahms
e de Verdi); no Teatro Castro Mendes, Campinas (Don Giovanni),
no Teatro da Paz em Belém (A Flauta Mágica, Bug Jargal, Il
Barbiere di Sivigla, Carmen); no Teatro Amazonas em Manaus
(O Anel do Nibelungo, O Navio Fantasma, Lady Macbeth de
Mzensk); no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Carmen,
Requiem de Brahms, Te Deum de Bruckner e concertos); no
Theatro Municipal de São Paulo (Lohengrin, As Bodas de Fígaro,
A Flauta Mágica, O Castelo de Barba Azul, Rigoletto, Requiem
de Brahms e a Missa Solemnis de Beethoven); no Teatro São
Pedro, em São Paulo (The man who mistook his wife for a hat)
e no Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Seu repertório operístico inclui papéis principais em Mozart,
Beethoven, Weber, Bizet, Offenbach, Rossini, Gomes, Verdi,
Puccini, Strauss e todas as óperas de Wagner.
Com seu repertório de oratórios, missas e cantatas, de
Monteverdi à música moderna, apresentou-se com grandes
orquestras da Alemanha, Noruega, Holanda, Suíça e Brasil
(Osesp, OSMSP, OSB, OSMRJ, OPS, OSPA, OSMG, entre outras)
e gravou com as sinfônicas de WDR, NDR, MDR, SDR e SWF da
Alemanha, RAI italiana e NHK do Japão, cantando com maestros
como Kent Nagano, Krzysztof Penderecki, Helmuth Rilling,
Dennis Russell-Davies, Cláudio Cruz, Isaac Karabtchevsky, Ira
Levin, Jamil Maluf, John Neshling, José Maria Florêncio, Luis
Malheiro, Roberto Minczuk, Roberto Duarte e Silvio Viegas.
Ganhador do Prêmio Carlos Gomes 2006, como destaque
vocal masculino, Stephen Bronk é membro do ensemble da
Deutsche Oper Berlin desde 2008.
100 101
REGENTE
Lincoln Andrade
REGENTE ASSISTENTE
Lara Tanaka
SOPRANOS
Aline Amaral de Castro
Anelise Claussen
Annelise Cavalcanti
Cátia Neris
Clara Guzella
Clarisse Girotto
Conceição Nicolau
Daiana Melo
Érica Mendes
Gislene Ramos
Izabel Carmônia
Lilian Assumpção
Marta Nichthauser
Melina Peixoto *
Nabila Dandara
Penha Vasconcelos **
CONTRALTOS
Ana Carolina de Paula
Bruno Thadeu **
Carolina Rennó
Consuelo Varella
Déborah Burgarelli **
Enancy Gomes
Iaiá Drumond
Jennifer Imanishi **
Júnia Jáber
Kissya Andrade
Maria Helena Nunes *
Rosa Silveira
Talita Cotta
Tereza Cançado
Vanessa Piló
Vanya Soares
TENORES
André Felipe
Eduardo Cunha Melo
Evandro Silva
Carlos Átila
Hélcio Rodrigues
Igor Ferreira
Lúcio Martins
Marcelo Salomão
Márcio Bocca
Petrônio Duarte*
Rogério Francisco
Rubens do Carmo
Sandro Assumpção
Wagner Soares
Welington Nascimento
Wellington Vilaça
BAIXOS
Alex Schimith
André Fernando
Antônio Marcos Batista **
Carlos D’Elia
Cristiano Rocha **
Guilly Castro
Israel Balabram
Iuri Michailowsky
José Carlos Leal **
Judson Freitas
Leandro Braga
Rafael Capossi
Ramiro Souza e Silva **
Robson Lopes
Thiago Roussin **
Urbano Lima *
PIANISTA
Hélcio Vaz
GERENTE
Celme Valeiras
ARQUIVISTA
Robert Avelino
SECRETÁRIA
Carmem Magalhães
* chefe de naipe
** músico convidado
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PAU
LO L
ACER
DA
Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas
Gerais, corpo artístico da Fundação
Clóvis Salgado, é um dos raros grupos
corais que possuem programação
artística permanente e um repertório
diversificado, incluindo motetos, óperas,
oratórios e concertos sinfônico-corais.
Estiveram à frente do Coral os maestros
Luiz Aguiar, Marcos Thadeu, Carlos
Alberto Pinto Fonseca, Angela Pinto
Coelho, Eliane Fajioli, Silvio Viegas,
Charles Roussin, Afrânio Lacerda e
Márcio Miranda Pontes. Seu atual regente
titular é o maestro Lincoln Andrade.
O grupo se apresenta em Belo Horizonte,
interior de Minas e em capitais
brasileiras com o objetivo de contribuir
para a democratização do acesso de
diversos públicos ao canto coral. As
apresentações têm entrada gratuita ou
preços populares. O Coral participa das
temporadas de óperas e concertos da
Fundação Clóvis Salgado, ao lado da
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais,
tendo se apresentado também com a
Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo e a Filarmônica de Minas Gerais.
O Coral Lírico desenvolve também diversos
projetos que incluem Concertos no Parque,
Lírico na Cidade e Concertos Didáticos,
em que o público pode conhecer e fruir
a música coral de qualidade e vivenciar
o contato com os artistas.
Lincoln Andrade
Lincoln Andrade possui doutorado em
Regência pela University of Kansas
e mestrado em Regência Coral pela
University of Wyoming, ambas nos
Estados Unidos. Em Wyoming também
foi professor assistente e ministrou
aulas de canto coral e regência coral.
Premiado nos Estados Unidos e na
Europa, o maestro foi diretor musical
do grupo Invoquei o Vocal, maestro
titular do Madrigal de Brasília e do
Coral Brasília. Ainda na capital federal,
foi professor e diretor da Escola de
Música de Brasília. Regeu concertos na
Alemanha, Argentina, Chile, Espanha,
Estados Unidos, França, Grécia, Hungria,
Paraguai, Polônia, Portugal e Turquia.
O maestro é produtor musical,
apresentador e entrevistador do
programa Conversa de Músico,
produzido e veiculado pela TV Senado.
Também é professor de regência e
coordenador da Orquestra Sinfônica
da Escola de Música da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ministra palestras sobre regência e
canto coral em festivais brasileiros.
Lincoln Andrade é regente titular do
Coral Lírico de Minas.
CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS
102 103
em Viena, no Theater am Kärntnertor,
com a Abertura A Consagração da
Casa, op. 124 e três partes da Missa
Solemnis (Kyrie, Credo e Agnus Dei).
Foi um evento emocionante, em
que Beethoven, após doze anos sem
subir ao palco, dividiu-o com Michael
Umlauf, que dirigiu a récita. Por esta,
e pela obra, Beethoven foi várias
vezes ovacionado!
A Fantasia para Piano, Coro e Orquestra,
no entanto, pertence à fase anterior.
Ela fora estreada naquele concerto
assombroso, em dezembro de 1808,
em que Beethoven fez executar, além
dela, nada menos que a Quinta e
Sexta sinfonias e o Quarto Concerto
para Piano, entre várias outras peças!
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
E Beethoven foi o solista, tanto no
Concerto quanto na Fantasia.
A própria ideia de associar o piano
solista à formação de coro e orquestra
já se mostra como grande ousadia e
verdadeira insubordinação aos padrões
clássicos: a obra, com isso, não se
submete à estrutura de um concerto,
nem aos procedimentos da música vocal
acompanhada. O solo de piano que
abre a obra evoca, de Beethoven, a sua
grande capacidade de improvisador, pois
diz a lenda que, na estreia da obra, ele
improvisou essa seção. A Fantasia foi
composta em pouco tempo, o que em
Beethoven é fato raro: a data da estreia
foi 22 de dezembro, e o compositor
a elaborou na segunda metade desse
Beethoven dedicou a Nona Sinfonia
ao rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III.
P oucas obras de Beethoven tiveram gênese tão
trabalhosa quanto a última das nove sinfonias.
Ao que parece, a ideia de pôr música na Ode à
Alegria de Schiller já aparece em 1792, poucos
anos após o grande poeta romântico ter publicado seus versos.
Em 1807 Beethoven concebe a Fantasia op. 80 para piano, coro
e orquestra, concluída no ano seguinte, a qual revela aspectos
que aparecem como uma espécie de ensaio para procedimentos
que serão utilizados na Nona. Em 1823, Beethoven já havia
composto os três primeiros movimentos da Sinfonia, e, ao final
desse mesmo ano, ganha corpo a ideia de concluí-la com o uso
de vozes humanas e o emprego do poema de Schiller.
O uso das vozes (coro e solistas) e as citações dos
movimentos anteriores, dentre outras ousadias estilísticas,
são procedimentos que, usados na Nona Sinfonia, ganharam
significado e importância especiais na música instrumental,
na música sinfônica e na música dramática do século XIX,
não exatamente na geração que sucede Beethoven, mas
numa geração posterior, da qual participam Mahler, Franck,
Bruckner e o próprio Wagner.
No entanto, a voz humana, na Nona, não aparece como veículo
expressivo de ideias poéticas: ela contribui para a realização
de uma ideia musical. A dialética que surge disso denota uma
tensão entre os procedimentos clássicos da forma sonata e a
insubmissão criadora da própria personalidade beethoveniana,
levada a um grau de abstração que a última fase de sua obra,
determinada pela surdez, conseguiu atingir.
Esse monumento da música ocidental só foi completado
em 1824. A Nona foi estreada em maio do mesmo ano
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
FANTASIA CORAL, OP. 801808 | 20 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL”
1822/1824 | 65 min
Piccolo, 2 flautas, 2 oboés,
2 clarinetes, 2 fagotes,
contrafagote, 4 trompas,
2 trompetes, 3 trombones,
tímpanos, cordas.
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FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBROFORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
mesmo mês. Por isso, devido ao pouco
tempo de ensaio, durante a primeira
récita parece ter havido um incidente,
em meio à execução, que fez com que
ela fosse retomada do começo.
A autoria do texto cantado na Fantasia
Coral é incerta: segundo Carl Czerny,
ele foi escrito por Christoph Kuffner.
De acordo, porém, com Gustav
Nottebohm, é de autoria de Georg
Friedrich Treitschke, que trabalhou com
Beethoven no texto final de Fidélio.
A Fantasia Coral talvez tenha sido a
maior transgressão de Beethoven em
relação aos padrões clássicos e suas
estruturas. Por isso mesmo, é exemplar
no sentido de mostrar a mentalidade
insubmissa desse surdo que mudou os
rumos da história da música.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
Imagem do século XIX retrata Beethoven
na primeira apresentação da
Nona Sinfonia.
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FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
POEMA Friedrich von Schiller (1759 – 1805)TRADUÇÃO livre
SINFONIA Nº 9, OP. 125 ODE À ALEGRIA
Oh, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce voo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar
apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria, bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se, milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora.
FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
Com graça, charme e doçura soam
as harmonias de nossas vidas,
e do sentido da beleza geram
as flores que eternamente florescem.
Paz e alegria deslizam alegremente,
como o jogo alternado das ondas;
Tudo o que é bruto e hostil
transforma-se num sublime sentimento.
Quando a mágica da música reina
e as palavras sagradas são ditas,
O glorioso deve ser concebido,
Noite e tempestade se tornam luz.
Paz exterior e bênção interior
reinam para os afortunados.
O sol da primavera da arte
deixa a luz surgir de ambos.
Grandeza, que entrou no coração,
floresce como novo em toda sua beleza,
Quando um espírito levanta voo,
ecoa em resposta um coro de espíritos.
Então aceitem, ó belas almas,
alegremente os dons da bela arte:
Quando amor e força se juntam,
a graça de Deus recompensa os homens.
POEMA Cristoph Kuffner (1780 – 1846)TRADUÇÃO Amancio Cueto Junior
FANTASIA CORAL, OP. 80
108 109
FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
Sinfonia nº 8Filarmônica de Berlim – Claudio Abbado,
regente. Acesse: fil.mg/bsinf8
Sinfonia nº 9Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein,
regente. Acesse: fil.mg/bsinf9
ABERTURAS E OUTRAS OBRAS
A Consagração da CasaOrquestra do Teatro La Fenice –
Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/bcasa
Abertura Leonora nº 2Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard
Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bleonora2
Abertura Leonora nº 3Orquestra Gewandhaus de Leipzig –
Kurt Masur, regente. Acesse: fil.mg/bleonora3
As Criaturas de PrometeuAnima Eterna – Jos van Immerseel, regente.
Acesse: fil.mg/bprometeuji
Boston Symphony – Charles Munch, regente.
Acesse: fil.mg/bprometeucm
A Grande FugaOrquestra Sinfônica NDR de Hamburgo –
Christoph von Dohnányi, regente.
Acesse: fil.mg/bfuga
A Vitória de WellingtonOrquestra Sinfônica da Radio di Stoccarda –
Hermann Scherchen, regente.
Acesse: fil.mg/bwellington
Romance nº 1Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt
Masur, regente – Renaud Capuçon, violino.
Acesse: fil.mg/bromance1
Romance nº 2Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt
Masur, regente – Renaud Capuçon, violino.
Acesse: fil.ng/bromance2rc
Orquestra Filarmônica da Rádio Alemã
– Christoph Poppen, regente – Augustin
Hadelich, violino. Acesse: fil.mg/bromance2ah
Fantasia CoralFilarmônica de Viena – Leonard Bernstein,
regente. Acesse: fil.mg/bfcoral
ASSISTIRpara
CONCERTOS
Concerto nº 1Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein,
regência e piano. Acesse fil.mg/bconc1
Concerto nº 2Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard
Haitink, regente - Vladimir Ashkenazy, piano.
Acesse: fil.mg/bconc2
Concerto nº 3Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária –
Mariss Jansons, regente – Mitsuko Uchida,
piano. Acesse: fil.mg/bconc3
Concerto nº 4Filarmônica de Viena – Daniel Barenboim,
regência e piano. Acesse: fil.mg/bconc4
Concerto nº 5Orquestra Sinfônica de Jerusalém –
Alexander Schneider, regente – Arthur
Rubinstein, piano. Acesse: fil.mg/bconc5
Concerto nº 6Filarmônica Eslovaca – Kaspar Zehnder,
regente – Jingge Yan, piano.
Acesse: fil.mg/bconc6
Concerto TrípliceFilarmônica de Berlim – Daniel Bareinboim,
regência e piano – Itzhak Perlman, violino –
Yo-Yo Ma, violoncelo. Acesse: fil.mg/btriplice
SINFONIAS
DVD – Beethoven – Symphonies – Berliner
Philharmoniker – Claudio Abbado, regente –
EuroArts Music International GmbH,
Canadá – 2002
Sinfonia nº 1Orquestra Sinfônica de Chicago – Georg Solti,
regente. Acesse: fil.mg/bsinf1
Sinfonia nº 2Filarmônica de Berlim – Herbert von Karajan,
regente. Acesse: fil.mg/bsinf2
Sinfonia nº 3Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein,
regente. Acesse: fil.mg/bsinf3
Sinfonia nº 4Orquestra Real do Concertgebouw –
Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf4
Sinfonia nº 5Academia Nacional de Santa Cecília –
Claudio Abbado, regente. Acesse: fil.mg/bsinf5
Sinfonia nº 6Orquestra Real do Concertgebouw –
Bernard Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bsinf6
Sinfonia nº 7Orquestra Real do Concertgebouw –
Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf7
FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
110 111
LERpara
Barry Cooper (org.) – Beethoven, um
compêndio – Mauro Gama e Claudia
Martinelli Gama, tradução – Jorge Zahar –
1996
Emil Ludwig – Beethoven – Maria Vieira,
tradução – Aster – 1978
François-René Tranchefort – Guia da Música
Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
Friedrich Schiller – A educação estética
do homem – Iluminuras – 1995
Lewis Lockwood – Beethoven, a música
e a vida – Códex – 2004
Maynard Solomon – Beethoven, vida e obra –
Álvaro Cabral, tradução – Jorge Zahar – 1994
Roland de Candé – História Universal da
Música – vol. 1 e 2 – Eduardo Brandão,
tradução – Martins Fontes – 1994
Sergio Magnani – Expressão e Comunicação
na Linguagem da Música – UFMG – 1989
FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
Legendas das imagens
PÁGINAS 10 E 11
Assinatura de Beethoven, poucos dias antes de sua morte, sobre uma das primeiras páginas da Sonata para piano em fá menor, “Apassionata”. (Bibliothèque Nationale, Paris)
PÁGINAS 20 E 21
Trecho de um caderno de conversas que
Beethoven usava para se comunicar.
PÁGINAS 26 E 27
Manuscrito da Nona Sinfonia.
PÁGINA 38
Anúncio do primeiro concerto de Beethoven,
realizado em Colônia, em 26 de março de 1778.
PÁGINA 44
Primeira obra impressa de Beethoven,
Variações para cravo. Mannheim, 1782.
PÁGINA 50
Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 3,
op. 55, “Eroica”.
PÁGINA 56
Beethoven, por Christian Horneman (1802).
PÁGINA 64
Beethoven em gravura de Blasius Höfel (1814).
PÁGINA 70
Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 6,
op. 68, “Pastoral" (1808).
PÁGINA 76
Beethoven em pintura de Josef K. Stieler (1819/1820).
PÁGINA 84
Beethoven em ilustração de August v. Kloeber (1817/1818).
PÁGINA 92
Anúncio da estreia da Nona Sinfonia, em 7 de maio de 1924, informa a presença de Beethoven.
FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
OUVIRpara
CONCERTOS
CD Beethoven – Triple concerto; Brahms:
Double concerto – Berliner Philharmoniker
– Herbert von Karajan, regente – David
Oistrakh, violino – Mstislav Rostropovich,
violoncelo – Sviatoslav Richter, piano –
Warner Classics – 2012
CD Beethoven – The five piano concertos
– Chicago Symphony Orchestra – James
Levine, regente – Alfred Brendel, piano –
Phillips – 1997
CD Beethoven – Die Klavierkonzerte;
Choralfantasie op. 80 – Chor und
Symphonieorchester des bayerischen
Runfunks – Rafael Kubelik, regente –
Rudolf Serkin, piano
SINFONIAS
CD Beethoven – The Sympnonies –
Berliner Philarmoniker – Claudio Abbado –
Deutsch Grammophon 4775864 – 2000
CD Beethoven – The Complete Symphonies
and Selected Overtures – Arturo Toscanini –
NBC Symphony Orchestra – Music and
Arts – 2007
ABERTURAS E OUTRAS OBRAS
CD Beethoven – Ouvertüren [Leonora nº 1 e
Zur Namensfeier] – Berliner Philharmoniker,
Herbert von Karajan, regente – Deutsche
Grammophon – 1989
CD Beethoven – Egmont; Wellingtons
Sieg; Märsche – Berliner Philharmoniker –
Herbert von Karajan, regente – Deutsche
Grammophon – 1987
CD Beethoven – Complete Overtures –
Gewandhausorchester Leipzig – Kurt Mazur,
regente – Phillips Classics Productions, EUA
– 1993
CD Beethoven – The complete Overtures &
other Works – Gewandhausorchester Leipzig –
Academy of Saint Martin in the Fields – Kurt
Masur, Neville Marriner, regentes –
Phillips – 1994
CD Beethoven – The String Quartets; Grosse
Fugue – Guarneri Quartet – RCA – 2003
CD Beethoven – The Violin Romances – Royal
Concertgebouw Orchestra – Bernard Haitink,
regente – Henryk Szeryng, violino – Phillips
Classics Productions, EUA
112 113
PONTUALIDADE
Uma vez iniciado um concerto, qualquer
movimentação perturba a execução
da obra. Seja pontual e respeite o
fechamento das portas após o terceiro
sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair
antes do final da apresentação,
aguarde o término de uma peça.
CONVERSA
A experiência do concerto inclui o
encontro com outras pessoas. Aproveite
essa troca antes da apresentação e no
seu intervalo, mas nunca converse ou
faça comentários durante a execução
das obras. Lembre-se de que o
silêncio é o espaço da música.
APARELHOS CELULARES
Confira e não se esqueça, por favor,
de desligar o seu celular ou qualquer
outro aparelho sonoro.
FOTOS E GRAVAÇÕES EM ÁUDIO E VÍDEO
Não são permitidas durante o concerto.
TOSSE
Perturba a concentração dos músicos
e da plateia. Tente controlá-la com
a ajuda de um lenço ou pastilha.
APLAUSOS
Aplauda apenas no final das obras, que,
muitas vezes, se compõem de dois ou
mais movimentos. Veja no programa
o número de movimentos e fique de
olho na atitude e gestos do regente.
COMIDAS E BEBIDAS
Seu consumo não é permitido no
interior da sala de concertos.
CRIANÇAS
Caso esteja acompanhado por criança,
escolha assentos próximos aos corredores.
Assim, você consegue sair rapidamente
se ela se sentir desconfortável.
Para apreciarum concerto
FORA DE SÉRIE PARA APRECIAR UM CONCERTO
CONCERTOS PARA A JUVENTUDE
Realizados em manhãs de domingo,
são concertos dedicados aos jovens e
às famílias, buscando ampliar e formar
público para a música clássica. As
apresentações têm ingressos a
preços populares.
CLÁSSICOS NA PRAÇA
Realizados em praças da Região
Metropolitana de Belo Horizonte, os
concertos proporcionam momentos
de descontração e entretenimento,
buscando democratizar o acesso da
população em geral à música clássica.
CONCERTOS DIDÁTICOS
Concertos destinados a grupos de crianças
e jovens da rede escolar e a instituições
sociais, mediante inscrição prévia. Seu
formato busca apoiar o público em seus
primeiros passos na música clássica.
FESTIVAL TINTA FRESCA
Com o objetivo de fomentar a criação
musical entre compositores brasileiros e
gerar oportunidade para que suas obras
sejam apresentadas em concerto, este
Festival é sempre uma aventura musical
inédita. Como prêmio, o vencedor recebe
a encomenda de outra obra sinfônica
a ser estreada pela Filarmônica no
ano seguinte, realimentando o ciclo da
produção musical nos dias de hoje.
LABORATÓRIO DE REGÊNCIA
Atividade pioneira no Brasil, este
laboratório é uma oportunidade
para que jovens regentes brasileiros
possam praticar com uma orquestra
profissional. A cada ano, quinze
maestros, quatro efetivos e onze
ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e
ensaios com o regente Fabio Mechetti.
O concerto final é aberto ao público.
TURNÊS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
Com essas turnês, a Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais
busca colocar o estado de Minas
dentro do circuito nacional e
internacional da música clássica.
TURNÊS ESTADUAIS
As turnês estaduais levam a música
de concerto a diferentes cidades e
regiões de Minas Gerais, possibilitando
que o público do interior do Estado
tenha contato direto com música
sinfônica de excelência.
CONCERTOS DE CÂMARA
Realizados para estimular músicos
e público na apreciação da música
erudita para pequenos grupos. A
Filarmônica conta com grupos de
Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
Acompanhe a Filarmônica em outros concertos
FORA DE SÉRIE ACOMPANHE A FILARMÔNICA
114 115
Instituto Cultural Filarmônica
Conselho Administrativo
PRESIDENTE EMÉRITO
Jacques Schwartzman
PRESIDENTE
Roberto Mário Soares
CONSELHEIROS
Berenice Menegale
Bruno Volpini
Celina Szrvinsk
Fernando de Almeida
Ítalo Gaetani
Marco Antônio Pepino
Marcus Vinícius Salum
Mauricio Freire
Octávio Elísio
Paulo Brant
Sérgio Pena
Diretoria Executiva
DIRETOR PRESIDENTE
Diomar Silveira
DIRETOR ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRO
Estêvão Fiuza
DIRETORA DE COMUNICAÇÃO
Jacqueline Guimarães Ferreira
DIRETORA DE MARKETING E
PROJETOS
Zilka Caribé
DIRETOR DE OPERAÇÕES
Ivar Siewers
DIRETOR DE PRODUÇÃO
MUSICAL
Marcos Souza
Equipe Técnica
GERENTE DE COMUNICAÇÃO
Merrina Godinho Delgado
GERENTE DE PRODUÇÃO
MUSICAL
Claudia da Silva Guimarães
ASSESSORA DE
PROGRAMAÇÃO MUSICAL
Carolina Debrot
PRODUTORES
Geisa Andrade
Luis Otávio Rezende
Narren Felipe
ANALISTAS DE COMUNICAÇÃO
Andréa Mendes (Imprensa)
Marciana Toledo (Publicidade)
Mariana Garcia (Multimídia)
Renata Romeiro (Design gráfico)
ANALISTA DE MARKETING
DE RELACIONAMENTO
Mônica Moreira
ANALISTAS DE MARKETING
E PROJETOS
Itamara Kelly
Mariana Theodorica
ASSISTENTE DE
COMUNICAÇÃO
Renata Gibson
ASSISTENTES DE MARKETING
DE RELACIONAMENTO
Eularino Pereira
Rildo Lopez
Equipe Administrativa
GERENTE ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRA
Thais Boaventura
ANALISTAS ADMINISTRATIVOS
João Paulo de Oliveira
Paulo Baraldi
ANALISTA CONTÁBIL
Graziela Coelho
ANALISTA DE
RECURSOS HUMANOS
Quézia Macedo Silva
SECRETÁRIA EXECUTIVA
Flaviana Mendes
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Cristiane Reis
AUXILIARES
ADMINISTRATIVOS
Pedro Almeida
Vivian Figueiredo
RECEPCIONISTA
Lizonete Prates Siqueira
AUXILIARES DE
SERVIÇOS GERAIS
Ailda Conceição
Nayara Assis
MENSAGEIROS Jeferson Silva
Pablo Faria
MENOR APRENDIZ
Diego Soares
Sala Minas Gerais
GERENTE DE
INFRAESTRUTURA
Renato Bretas
TÉCNICO DE ILUMINAÇÃO
E ÁUDIO
Rafael Franca
ASSISTENTE OPERACIONAL
Rodrigo Brandão
FORA DE SÉRIE
Beethoven 2015
COORDENADORA
DA EDIÇÃO Merrina
Godinho Delgado
EDIÇÃO DE TEXTO
Berenice Menegale
DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti
REGENTE ASSOCIADO
Marcos Arakaki
* PRINCIPAL ** PRINCIPAL ASSOCIADO *** PRINCIPAL ASSISTENTE **** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
PRIMEIROS VIOLINOS
Anthony Flint – Spalla
Rommel Fernandes – Spalla
Associado
Ara Harutyunyan – Spalla
Assistente
Ana Zivkovic
Arthur Vieira Terto
Baptiste Rodrigues
Bojana Pantovic
Dante Bertolino
Hyu-Kyung Jung
Marcio Cecconello
Megumi Tokosumi
Rodrigo Bustamante
Rodrigo Monteiro Braga
Rodrigo de Oliveira
SEGUNDOS VIOLINOS
Frank Haemmer *
Leonidas Cáceres ***
Jovana Trifunovic
Leonardo Ottoni
Luka Milanovic
Marija Mihajlovic
Martha de Moura Pacífico
Mateus Freire
Radmila Bocev
Rodolfo Toffolo
Tiago Ellwanger
Valentina Gostilovitch
VIOLAS
João Carlos Ferreira *
Roberto Papi ***
Flávia Motta
Gerry Varona
Gilberto Paganini
Juan Castillo
Katarzyna Druzd
Luciano Gatelli
Marcelo Nébias
Nathan Medina
VIOLONCELOS
Elise Pittenger ****
Camila Pacífico
Camilla Ribeiro
Eduardo Swerts
Emilia Neves
Eneko Aizpurua Pablo
Lina Radovanovic
Robson Fonseca
CONTRABAIXOS
Colin Chatfield *
Nilson Bellotto ***
Brian Fountain
Marcelo Cunha
Pablo Guiñez
William Brichetto
FLAUTAS
Cássia Lima *
Renata Xavier ***
Alexandre Braga
Elena Suchkova
OBOÉS
Alexandre Barros *
Ravi Shankar ***
Israel Muniz
Moisés Pena
CLARINETES
Marcus Julius Lander *
Jonatas Bueno ***
Ney Campos Franco
Alexandre Silva
FAGOTES
Catherine Carignan *
Andrew Huntriss
Cláudio de Freitas
TROMPAS
Alma Maria Liebrecht *
Evgueni Gerassimov ***
Gustavo Garcia Trindade
José Francisco dos Santos
Lucas Filho
Fabio Ogata
TROMPETES
Marlon Humphreys *
Érico Fonseca **
Daniel Leal ***
Tássio Furtado
TROMBONES
Mark John Mulley *
Diego Ribeiro **
Wagner Mayer ***
Renato Lisboa
TUBA
Eleilton Cruz *
TÍMPANOS
Patricio Hernández Pradenas *
PERCUSSÃO
Rafael Alberto *
Daniel Lemos ***
Sérgio Aluotto
Werner Silveira
HARPA
Giselle Boeters *
TECLADOS
Ayumi Shigeta *
GERENTE
Jussan Fernandes
INSPETORA
Karolina Lima
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Débora Vieira
ARQUIVISTA
Sergio Almeida
ASSISTENTES
Ana Lúcia Kobayashi
Claudio Starlino
Jônatas Reis
SUPERVISOR DE MONTAGEM
Rodrigo Castro
MONTADORES
André Barbosa
Klênio Carvalho
Risbleiz Aguiar
APOIO INSTITUCIONAL
PATROCÍNIO MÁSTER
REALIZAÇÃO
DIVULGAÇÃO
INCENTIVOHOTEL OFICIAL
CA: 0
231-
001/
2013
Projeto executado por meio da Lei Estadual de Incentivo à
Cultura de Minas Gerais
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SALA MINAS GERAIS
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(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030
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