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Modelação da evolução da costa do Furadouro (Aveiro) Diogo Filipe da Silva Fonseca Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo Júri Presidente: Professor Doutor Jorge Miguel Silveira Filipe Mascarenhas Proença Orientador: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Vogal: Doutora Filipa Simões de Brito Ferreira de Oliveira Setembro de 2015

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Modelação da evolução da costa do Furadouro (Aveiro)

Diogo Filipe da Silva Fonseca

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo

Júri

Presidente: Professor Doutor Jorge Miguel Silveira Filipe Mascarenhas Proença Orientador: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira

Vogal: Doutora Filipa Simões de Brito Ferreira de Oliveira

Setembro de 2015

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I

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e ao meu irmão.

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III

RESUMO

O avanço do mar em relação às praias é cada vez mais uma realidade na costa oeste Portuguesa

sendo um assunto que requer, hoje em dia, uma especial atenção, na medida em que põe em

risco a perda de território vital, muitas vezes junto a aglomerados urbanos, com consequências

ambientais e económicas para as zonas afectadas.

A acção energética do mar aliada à crescente ocupação urbana, bem como as alterações

climáticas constituem os principais problemas litorais que afectam as zonas costeiras. Deste

modo torna-se cada vez mais importante o conhecimento sobre a evolução da linha de costa a

fim de se preverem possíveis cenários futuros. Por esse motivo a modelação numérica assume

um papel importante na previsão de cenários de evolução, utilizando para o efeito o software

Littoral Processes FM através da interface gráfica MIKE Zero.

Assim, nesta dissertação, após se identificarem os parâmetros que intervêm na erosão costeira

e de se obterem os dados necessários à construção do modelo matemático, tais como o clima e

agitação marítimo, os dados topográficos e batimétricos e posições de linha de costa em três

momentos distintos, simularam-se vários cenários de evolução de linha de costa e de protecção

costeira para a zona do Furadouro (Aveiro). São investigados cenários de evolução com a

introdução de esporões e quebramares destacados e o cenário de evolução que prevê a

evolução da linha de costa sem a introdução de nenhuma obra de engenharia costeira.

Palavras – chave: Evolução da linha de costa; Furadouro; Littoral Processes FM; Erosão

costeira; Protecção costeira.

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V

ABSTRACT

The sea rising over beaches has gradually become a reality of the Portuguese west coast,

requiring a particular attention, as it puts at risk the loss of vital territory, which is often located

near urban areas, whose consequences would be both environmental and economical related.

The sea energy combined with the growing urban areas near the sea, and climate changes are

the main littoral problems affecting coastal areas. Thus, it has become more and more important

to study the evolution of the coastline in order to predict possible future scenarios. For this reason,

numerical modelling has an important role in predicting evolution scenarios, using for this purpose

the Littoral Processes FM software through the graphical interface MIKE Zero.

In this thesis, after identifying the parameters involved in coastal erosion and obtained the data

needed to build the mathematical model, such the wave climate, topographic and bathymetric

data, and coastline positions in three different dates, several scenarios of coastline evolution and

coastal protection, were simulated, for the zone of Furadouro (Aveiro). Moreover, several

evolution scenarios were taken into account such as the introduction of groins and detached

breakwaters, as well as an evolution scenario that predicts the coastline evolution without any

coastal engineering work.

Key - words: Coastline Evolution; Furadouro; Littoral Processes FM; Coastal erosion; Coastline

protection.

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VII

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero deixar uma palavra muito sentida de agradecimento ao Professor Doutor

António Trigo Teixeira, por todo o acompanhamento, disponibilidade e acima de tudo por todo o

apoio dado nos momentos mais difíceis. O seu conhecimento tornou-se preponderante para

concluir este trabalho.

À Doutora Ann Jeanette Skou, Engenheira Sénior do Danish Hydraulic Institute (DHI), por todos

os esclarecimentos e sugestões em relação ao software utilizado e acima de tudo pela enorme

paciência e compreensão.

À Doutora Filipa Oliveira, investigadora do LNEC, pelos esclarecimentos fornecidos,

preponderantes para o avanço na construção do modelo computacional.

Ao Instituto Hidrográfico Português e ao Instituto Geográfico Português, pelo fornecimento dos

dados relativos ao clima de agitação marítimo e à cartografia utilizada.

Agradeço aos meus companheiros de caminhada do Técnico, pela amizade, apoio e

companheirismo sentido ao longo destes anos. Um especial agradecimento ao Eddy e à Isabel

que foram pedras muito presentes durante a elaboração desta dissertação, sempre disponíveis

para ouvir os desabafos que um trabalho deste tipo proporciona.

A todos aqueles que comigo criaram a Casa do Pilar, na pessoa do Eng. Hugo Correia, porque

é no recanto do lar que procuramos a estabilidade necessária para o dia-a-dia.

Aos meus Amigos de todo o sempre, aqueles que fazem parte de uma história, da história da

minha vida. Sem vocês o meu sorriso seria bem menos constante.

À CPMEC, por seres mais do que uma comissão e seres também uma família para mim.

O maior dos agradecimentos vai para os meus pais e especialmente para o meu irmão por serem

modelos de coragem, pelo seu apoio, incentivo e amor incondicional ajudando na superação de

todos os problemas ao longo desta caminhada. Por eles, sinto uma dívida de gratidão eterna e

por isso, a eles dedico este trabalho!

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IX

ÍNDICE Dedicatória ..................................................................................................................................... I

Resumo ......................................................................................................................................... III

Abstract ......................................................................................................................................... V

Agradecimentos .......................................................................................................................... VII

Índice de Figuras .......................................................................................................................... XI

Índice de Tabelas ........................................................................................................................ XIII

Lista de Abreviaturas ................................................................................................................... XV

1 Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1 Organização da dissertação .......................................................................................... 2

2 Fundamentação Teórica ........................................................................................................ 3

2.1 Hidrodinâmica costeira ................................................................................................. 3

2.1.1 Fenómenos Litorais ............................................................................................... 3

2.1.2 Fenómenos de transformação da onda ................................................................ 4

2.2 Definição de linha de costa ........................................................................................... 8

2.3 Transporte sedimentar .................................................................................................. 9

2.3.1 Potencial de transporte longitudinal ................................................................... 10

2.3.2 Caudais de transporte sedimentar ...................................................................... 11

2.3.3 Modelos de transporte litoral ............................................................................. 12

3 Software LITPACK by Danish Hydraulic Institute (DHI) ........................................................ 15

3.1 Considerações gerais ................................................................................................... 15

3.2 Littoral Processes FM .................................................................................................. 16

3.2.1 Transport in point ................................................................................................ 17

3.2.2 Littoral Drift ......................................................................................................... 20

3.2.3 Littoral Drift Table Generation ............................................................................ 21

3.2.4 Coastline Evolution .............................................................................................. 22

4 Caso de Estudo: Maceda – Furadouro – Torreira. Análise de dados e preparação do

modelo. ....................................................................................................................................... 25

4.1 Zona do projecto ......................................................................................................... 25

4.1.1 Áreas constituintes .............................................................................................. 29

4.2 Dados topográficos e batimétricos ............................................................................. 31

4.2.1 Dados Batimétricos ............................................................................................. 31

4.2.2 Dados Topográficos ............................................................................................. 32

4.2.3 Dados Topo-Batimétricos .................................................................................... 33

4.3 Clima de agitação marítima......................................................................................... 36

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X

4.3.1 Dados da ondulação ao largo .............................................................................. 36

4.3.2 Propagação do clima de agitação marítima ........................................................ 39

4.4 Maré astronómica ....................................................................................................... 45

4.5 Obras de engenharia costeira ..................................................................................... 46

4.6 Sedimentologia............................................................................................................ 49

5 Modelo Littoral Processes FM: Calibração e validação ....................................................... 51

5.1 Calibração do modelo ................................................................................................. 51

5.1.1 Definição dos perfis transversais......................................................................... 51

5.1.2 Sedimentologia e características do fundo ......................................................... 53

5.1.3 Condições de fronteira lateral. ............................................................................ 53

5.1.4 Permeabilidade das obras marítimas .................................................................. 54

5.1.5 Resultados da calibração ..................................................................................... 55

5.2 Validação do modelo ................................................................................................... 56

5.2.1 Resultados da validação ...................................................................................... 57

6 Simulação da evolução da linha de costa em vários cenários ............................................ 59

6.1 Simulação até à presente data. ................................................................................... 59

6.2 Cenário Do Nothing ..................................................................................................... 60

6.3 Cenário de Protecção com Campo de Esporões – a proposta da Hidrotécnica

Portuguesa .............................................................................................................................. 63

6.3.1 Plano de obras ..................................................................................................... 63

6.3.2 Simulação do cenário de protecção .................................................................... 64

6.4 Cenário de Protecção com Quebramar Destacado ..................................................... 67

6.4.1 Cenário A: um quebramar destacado junto ao esporão do Furadouro Norte .... 67

6.4.2 Cenário B: um quebramar destacado junto ao esporão do Furadouro Sul ........ 70

6.4.3 Cenário C: um quebramar destacado alinhado com o esporão do Furadouro

Norte, com prolongamento do esporão do Furadouro Sul ................................................. 73

7 Considerações finais ............................................................................................................ 77

Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 81

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XI

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Representação esquemática de fenómenos de alteração da propagação da

agitação marítima. Adaptado de Coelho (2005). .......................................................................... 5

Figura 2.2 – Tipos de rebentação das ondas. Adaptado de US Army Corps of Engineers (1984). 7

Figura 2.3 – Caracterização genérica do efeito do défice sedimentar na propagação da erosão e

na evolução da linha de costa, desde uma situação de equilíbrio dinâmico, até uma situação de

equilíbrio estático (Pereira & Coelho, 2013). .............................................................................. 10

Figura 2.4 – Convenção adoptada para os sentidos do caudal resultante. ................................ 11

Figura 2.5 – Classificação de modelos numéricos em escalas temporais e espaciais. Adaptado

de Hanson & Kraus (1989)........................................................................................................... 12

Figura 2.6 – Movimentação da linha de costa segundo o modelo de linha (Coastal Wiki, 2014).

..................................................................................................................................................... 13

Figura 2.7 – Esquema representativo do cálculo da linha de costa através de modelos de linha

(Hanson & Kraus, 1989)............................................................................................................... 14

Figura 3.1 – Módulos do software LITPACK e as suas principais funções. Adaptado de DHI

(2014b). ....................................................................................................................................... 16

Figura 3.2 – Integração dos módulos do modelo Littoral Processes FM (DHI, 2014c). ............... 17

Figura 3.3 – Cálculo do transporte sedimentar e velocidade longo de um dado perfil. Adaptado

de DHI (2014b). ........................................................................................................................... 21

Figura 3.4 – Definição da altura activa de um perfil transversal. Adaptado de DHI (2014a). ..... 22

Figura 3.5 – Desenvolvimento junto a estruturas costeiras ao longo de 30 anos. (DHI, 2014b).23

Figura 4.1 – Área de estudo e esporões limitadores da zona – Maceda e Torreira-Murtosa.

Adaptado de (Google, 2010). ...................................................................................................... 25

Figura 4.2 – Transporte litoral sedimentar na costa noroeste portuguesa. (Gomes et al.,1981)

..................................................................................................................................................... 26

Figura 4.3 – Distribuição temporal de relatos de risco costeiro, desde 1850. (Pereira & Coelho,

2011). .......................................................................................................................................... 27

Figura 4.4 – Ocorrências relacionadas com vulnerabilidade e risco, registadas desde 1850, nas

praias do trecho costeiro Espinho – Mira. Adaptado de Pereira & Coelho (2013). .................... 28

Figura 4.5 – Classificação de vulnerabilidade, exposição e risco na área de estudo. Adaptado de

Pereira & Coelho (2013). ............................................................................................................. 29

Figura 4.6 – Trechos sedimentares costeiros na zona de estudo. .............................................. 30

Figura 4.7 – Carta Náutica Caminha a Aveiro e área de interesse neste estudo. Adaptado de

Instituto Hidrográfico (1999). ...................................................................................................... 32

Figura 4.8 – Trabalho desenvolvido em ArcMap 10.2.2 (esri, 2015). a) Modelo Digital Terrestre;

b) Imagem raster com curvas de nível. ....................................................................................... 35

Figura 4.9 – Localização da bóia ondógrafo de Leixões, adaptado de (Google, 2013) e

características da bóia ondógrafo de Leixões (Instituto Hidrográfico, 2015a). .......................... 36

Figura 4.10 – Frequência de distribuição da altura significativa de onda (Hm0). ....................... 37

Figura 4.11 – Frequência de distribuição do período de pico (Tp) .............................................. 38

Figura 4.12 – Frequência de distribuição da direcção incidente da onda (θ). ............................ 38

Figura 4.13 – Distribuição conjunta dos parâmetros Hs – θ do clima de agitação marítima ao

largo. ........................................................................................................................................... 39

Figura 4.14 – Batimetria gerada para a propagação da ondulação do largo para a costa. ........ 40

Figura 4.15 – Perfis transversais utilizados com a batimetria da zona de estudo. ..................... 41

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XII

Figura 4.16 – Distribuição conjunta dos parâmetros Hs – θ do clima de agitação marítima ao

largo. a) Perfil 1; b) Perfil 2; c) Perfil 3; d) Perfil 4; e) Perfil 5; f) Perfil 6. .................................... 43

Figura 4.17 – Comparação da altura de onda obtida na simulação de propagação da onda para

os 6 perfis definidos, para os primeiros 25 dias de simulação.................................................... 44

Figura 4.18 – Níveis de maré e planos de referência adoptados pelo Instituto Hidrográfico

(Instituto Hidrográfico, 2015b). .................................................................................................. 45

Figura 4.19 – Registo de maré astronómica do dia 27/12/2011 das 18h00 às 21h00 do dia

31/12/2011, obtido pelo software WXTide32. ........................................................................... 46

Figura 4.20 – Obras costeiras existentes na zona de estudo, datadas de 1996. ........................ 46

Figura 4.21 – Esporão de Maceda. Visita ao local (5/9/2015). ................................................... 47

Figura 4.22 – Esporão do Furadouro Norte. Visita ao local (5/9/2015). ..................................... 47

Figura 4.23 – Furadouro. Visita ao local (5/9/2015). a) Esporão do Furadouro Norte e Defesa

Frontal Aderente do Furadouro Centro b) Esporão do Furadouro Sul. ....................................... 48

Figura 4.24 – Esporão da Torreira. Visita ao local (5/9/2015). ................................................... 48

Figura 5.1 – Perfis transversais ao longo do trecho em análise. ................................................. 51

Figura 5.2 – Perfis transversais obtidos dos perfis transversais gerados através do Mesh

Generator. ................................................................................................................................... 52

Figura 5.3 – Perfil transversal 1, gerado através do Mesh Generator. ....................................... 53

Figura 5.4 – Posição da linha de costa obtida no processo de calibração. ................................. 55

Figura 5.5 – Velocidade da corrente e altura de onda, para o perfil transversal 1, obtido na fase

de calibração do modelo. ............................................................................................................ 56

Figura 5.6 – Linha de costa obtida na validação do modelo ....................................................... 57

Figura 6.1 – Linha de costa para a simulação até à data presente (1/1/2016). .......................... 59

Figura 6.2 – Cenário Do Nothing. Posições de linha de costa obtidas de 10 em 10 anos. .......... 62

Figura 6.3 – Posição da linha de costa em 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário Do Nothing. ... 62

Figura 6.4 – Cenário de protecção com campo de esporões. Posições da linha de costa obtidas

de 10 em 10 anos. ....................................................................................................................... 66

Figura 6.5 – Posição da linha de costa em 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário de Protecção

com campo de esporões. ............................................................................................................ 66

Figura 6.6 – Cenário A de protecção com quebra-mar destacado. ............................................ 67

Figura 6.7 – Cenário A de protecção com quebramar destacado. Posição da linha de costa

obtida de 10 em 10 anos. ............................................................................................................ 69

Figura 6.8 – Posição da linha de costa a 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário A e para o Cenário

Do Nothing. ................................................................................................................................. 69

Figura 6.9 – Localização do quebramar destacado simulado no Cenário B de Protecção com

Quebramar Destacados............................................................................................................... 70

Figura 6.10 – Resultados da simulação do Cenário B – Protecção com 3 Quebramar Destacados

..................................................................................................................................................... 72

Figura 6.11 – Comparação entre a linha de costa de 1/1/2016 a 1/1/2046 para o cenário B de

protecção com quebramar destacado e o cenário Do Nothing. ................................................. 72

Figura 6.12 – Cenário C: quebramar destacado alinhado com os esporões do Furadouro. ....... 73

Figura 6.13 – Cenário C. Posições de linha de costa obtidas de 10 em 10 anos. ........................ 75

Figura 6.14 – Posição de linha de costa a 1/1/2016 e 1/1/2056, para o cenário C, cenário de

prolongamento do esporão do Furadouro Norte e cenário de protecção com quebramar

destacado no Furadouro Centro. ................................................................................................ 75

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XIII

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 – Características das ondas, segundo a teoria linear. Adaptado de US Army Corps of

Engineers, (1984). ......................................................................................................................... 4

Tabela 3.1 – Informação necessária e obtida do módulo Transport in Point. ............................ 19

Tabela 3.2 – Informação necessária e obtida na execução do módulo Littoral Drift. ................ 20

Tabela 4.1 – Unidades de Litoral abordadas no caso de estudo. Adaptado de SNIRLit (2014). . 27

Tabela 4.2 – Taxas médias anuais de variação da posição da linha de costa (em metros/ano),

entre Maceda e Torreira. Recuo assinalado com sinal negativo e acreção com sinal positivo.

Adaptado de Pereira & Coelho (2011). ....................................................................................... 28

Tabela 4.3 – Trechos sedimentares costeiros. ............................................................................ 30

Tabela 4.4 – Definição das coordenadas de trabalho. Adaptado de Direcção-Geral do Território

(2013b). ....................................................................................................................................... 31

Tabela 4.5 – Características da Carta Náutica Caminha a Aveiro (Instituto Hidrográfico, 1999).

..................................................................................................................................................... 31

Tabela 4.6 – Características dos dados topográficos (INAG/IGeoE, 1996, 2001). ...................... 33

Tabela 4.7 – Dados LiDAR. Características dos dados topo-batimétricos (Direcção-Geral do

Território & SNIG, 2014). ............................................................................................................. 34

Tabela 4.8 – Características do sistema de referência PT-TM06/ETRS89 (Direcção-Geral do

Território, 2013c). ....................................................................................................................... 34

Tabela 4.9 – Parâmetros de transformação de Bursa–Wolf do sistema PT-TM06/ETRS89 para o

sistema Hayford Gauss Datum 73. (Direcção-Geral do Território, 2013a). ................................ 35

Tabela 4.10 – Categorização da série original de ondas. Adaptado de Di Bona (2013).............. 36

Tabela 4.11 – Perfis transversais utilizados na simulação de propagação da onda. .................. 40

Tabela 4.12 – Estatística dos parâmetros hidrodinâmicos obtidos na simulação da propagação

da onda. ....................................................................................................................................... 42

Tabela 4.13 – Coordenadas de localização das obras costeiras existentes na zona de estudo. . 49

Tabela 5.1 – Perfis transversais utilizados no módulo de transporte litoral............................... 52

Tabela 5.2 – Obras costeiras na zona de estudo. ........................................................................ 54

Tabela 6.1 – Deriva litoral para o período de simulação (1996-2016). ....................................... 60

Tabela 6.2 – Cenário de Protecção com campo de esporões. Localização das obras simuladas no

estudo da Hidrotécnica Portuguesa. ........................................................................................... 64

Tabela 6.3 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Norte. .................................. 68

Tabela 6.4 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Sul. ....................................... 70

Tabela 6.5 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Centro. ................................. 74

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XV

LISTA DE ABREVIATURAS

𝐶𝑔𝑏 Velocidade de grupo da onda na zona de rebentação (m/s)

𝐸𝑏 Energia da onda na linha de rebentação (J)

𝐻0′ Altura da onda em águas profundas na ausência de refracção (m)

𝐻𝑏 Altura de onda na rebentação (m)

𝐾𝑟 Coeficiente de refracção (-)

𝐾𝑠 Coeficiente de empolamento (-)

𝐿0 Comprimento de onda em águas profundas (m)

𝐿𝐵 Comprimento do quebramar destacado (m)

𝑄𝐿 Caudal sólido resultante do sentido: direita – esquerda (m3/s)

𝑄𝑅 Caudal sólido resultante do sentido: esquerda – direita (m3/s)

𝑄𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠 Caudal sólido total que atravessa uma secção transversal, num

determinado período de tempo (m3/s)

𝑄𝑛𝑒𝑡 Saldo do caudal sólido que atravessa uma secção transversal, num

determinado período de tempo (m3/s)

𝑈𝑓 Velocidade de arrastamento instantânea (m/s)

𝑋𝐵 Distância do quebramar destacado à linha de costa (m)

𝑏0 Espaçamento entre raios de onda em águas profundas (m)

𝑐0 Celeridade da onda em águas profundas (m/s)

𝑐𝑔 Velocidade de grupo (m/s)

𝑐𝑠 Concentração de sedimentos (g/L)

𝑑50 Diâmetro nominal mediano dos sedimentos (m)

𝑑𝐵 Altura média da berma acima do NMM ou cota de berma (m)

𝑑𝐶 Profundidade de fecho (m)

𝑑𝑏 Profundidade de água na zona de rebentação (m)

𝑑𝑠 Diâmetro nominal genérico de uma partícula (m)

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XVI

𝑑𝑠 Limite espacial da simulação / medição (s)

𝑘𝑁 Rugosidade de Nikuradse (m)

𝑘𝑏 Índice de rebentação (-)

𝑞𝑏 Caudal sólido transportado por arrastamento (m3/s/m)

𝑞𝑏1 Caudal sólido transportado por arrastamento, na direcção do escoamento

(m3/s/m)

𝑞𝑏2 Caudal sólido transportado por arrastamento, na direcção perpendicular

ao escoamento (m3/s/m)

𝑞𝑠 Caudal sólido transportado em suspensão (m3/s/m)

𝑞𝑡 Caudal sólido total (m3/s/m)

𝑡𝑠 Tempo de simulação / medição (s)

𝛼𝑏 Ângulo de rebentação da onda, em relação à linha de costa (º)

𝜃′𝑓 Parametro de Shileds determinado para um fundo plano (-)

𝜃𝑐 Parâmetro crítico de Shields (-)

𝜃𝑓 Parâmetro instantâneo de Shields (-)

𝜙𝑏 Parâmetro adimensional de transporte de (-)

𝜙𝑏1 Parâmetro adimensional de transporte de fundo na direcção do

escoamento (-)

𝜙𝑏2 Parâmetro adimensional de transporte de fundo na direcção perpendicular

ao escoamento (-)

x Número de Iribarren (-)

휀𝑠 Coeficiente de difusão de sedimentos para escoamentos turbulentos

(m2/s)

𝜐 Viscosidade cinemática (m2/s)

𝐸 Coeficiente de transferência de quantidade de movimento (-)

𝐻 Altura de onda (m)

𝐿 Comprimento de onda (m)

𝑃𝑙 Potencial de transporte longitudinal (m3/s)

𝑇 Período da onda (s)

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XVII

𝑏 Espaçamento entre raios de onda (m)

𝑐 Celeridade da onda (m/s)

𝑑 Profundidade de água (m)

𝑔 Aceleração da gravidade (m/s2)

𝑞 Caudal respeitante às fontes e sumidouros (m3/s/m)

𝑠 Densidade relativa do material de fundo (-)

𝑤 Velocidade de sedimentação das partículas (m/s)

𝑥 Coordenada longitudinal (m)

𝑦 Posição da linha de costa em relação à linha de base (m)

𝑧 Coordenada espacial vertical (m)

𝛽 Declive do fundo (-)

𝛿 Declividade da onda (-)

𝜂 Nível de superfície livre da onda (m)

𝜃 Ângulo de incidência da onda (⁰)

𝜌 Massa volúmica da água (kg/m3)

𝜑 Direcção instantânea do escoamento (-)

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1

1 INTRODUÇÃO

“Mar pode engolir quase 100 metros da costa de Aveiro”, retirado do jornal Expresso de 9 de

Novembro de 2012.

Portugal é um país com bastante tradição marítima e muito enraizado com a vivência junto à

costa tendo por isso, hoje em dia, razões a todos os níveis (políticos, económicos, sociais e

científicos) para considerar o mar como um sector prioritário. A costa noroeste Portuguesa é hoje

um centro turístico muito importante devido às suas condições para a prática balnear e pela sua

riqueza ambiental e económica, beneficiando de uma extensa linha costeira, sendo por isso uma

mais-valia a sua preservação. A problemática da erosão costeira vem pôr em causa essa

preservação uma vez que surge associada à destruição de património, criando por vezes, um

sentimento de insegurança.

É conhecido o sentimento de que o mar, ao longo do tempo, vai ganhando terreno em relação

às praias, estando a preservação da costa portuguesa cada vez mais em foco devido aos

impactos causados por tal destruição.

Essa preservação depende, em primeiro lugar, do conhecimento dos factores que influenciam a

evolução da linha de costa a médio e longo prazo. Ainda que esta apresente uma variação natural

devido ao carácter de sazonalidade das ondas, ventos e marés (fenómeno sem importância

significativa face à realidade dos problemas), a erosão costeira tem como principais origens a

construção de obras de engenharia costeira, as dragagens, o défice de fornecimento sedimentar

por parte das bacias hidrográficas, a retenção dos sedimentos em barragens, as alterações

climáticas – que conduzem a um significativo e progressivo aumento do nível médio do mar – e

o forte clima de agitação marítimo.

Os problemas litorais relacionados com a evolução costeira, a curto e longo prazo –

consequências de fenómenos efémeros ou permanentes no tempo – são cada vez mais objecto

de estudo por parte dos investigadores, dadas as características únicas da orla costeira, bem

como pela crescente ocupação urbana junto à faixa litoral.

Como instrumento de auxílio na investigação desta temática, a modelação numérica assume um

importante papel no estudo da erosão costeira, na medida em que a relação entre a velocidade

de resposta dos modelos matemáticos e a sua fiabilidade, ainda que associada a muitas

limitações, transforma a modelação numérica numa poderosa ferramenta de previsão, gestão e

apoio à decisão da zona costeira.

Apesar de toda a costa oeste portuguesa ser fortemente fustigada por eventos climáticos, a zona

do Furadouro, constituída principalmente por praias arenosas, tem sido uma das mais atingidas

pelo fenómeno da erosão. Por esse motivo, definiu-se o trecho: Maceda – Furadouro – Torreira,

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2

como objecto de estudo, a fim de compreender os fenómenos litorais e propor soluções de

protecção com obras de engenharia costeira com o objectivo de atenuar a tendência de erosão

verificada.

Deste modo, promove-se a análise da evolução da posição da linha de costa da zona do

Furadouro, para diferentes cenários de previsão. A investigação será baseada em 3 cenários: o

cenário Do Nothing, no qual nenhuma intervenção é feita na zona costeira a nível de obras de

protecção; o cenário de protecção com campo de esporões previsto pela empresa Hidrotécnica

Portuguesa no seu estudo de 1981; e o cenário de protecção com recurso a quebramares

destacados.

“Não prever, é já lamentar.” Leonardo da Vinci

1.1 Organização da dissertação

Esta dissertação encontra-se organizada em 7 capítulos, sendo o primeiro respeitante à

introdução, enquadramento e objectivos deste trabalho, para além desta descrição da

organização da dissertação.

O segundo capítulo é respeitante à fundamentação teórica, nomeadamente os princípios teóricos

básicos à compreensão desta dissertação. Este capítulo compreende três subcapítulos

fundamentais para o estudo da evolução da linha de costa: o estudo da onda e da hidrodinâmica

costeira, o estudo da linha de costa e da sua evolução e, por último, a compreensão do transporte

sedimentar e a sua dinâmica.

O capítulo 3, respeitante ao software utilizado nesta dissertação, aborda o modelo computacional

utilizado, Littoral Processes FM, as suas componentes e os módulos usados.

No quarto capítulo apresenta-se o caso de estudo e a análise dos dados necessários à

construção do modelo numérico, nomeadamente os dados de batimetria, topografia, os dados

do clima de agitação marítima, marés e dados referentes aos sedimentos.

O capítulo 5 apresenta o processo de preparação, calibração e validação do modelo numérico.

São apresentados todos os parâmetros introduzidos para a sua calibração e, através de posições

conhecidas da linha de costa, em dois momentos temporais distintos, procede-se à validação do

modelo.

O sexto capítulo é referente às simulações e aos resultados obtidos para vários cenários de

simulação. A análise de resultados e comparação é também abordada neste capítulo.

Por último, no sétimo capítulo são apresentadas as principais conclusões do trabalho realizado,

bem como são enumeradas sugestões para trabalhos futuros que permitam melhorar os

resultados e as conclusões obtidas nesta dissertação.

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3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo apresentam-se os principais conteúdos teóricos necessários à compreensão

deste trabalho sendo que a informação será apresentada de uma forma sucinta e objectiva. A

primeira parte compreende o estudo da onda e da hidrodinâmica costeira, seguido do estudo da

linha de costa e da sua evolução. Por último apresenta-se a informação relativa ao transporte

sedimentar e à sua dinâmica.

2.1 Hidrodinâmica costeira

A hidrodinâmica costeira refere-se à parte dos processos costeiros relacionados com a

propagação, transformação e dissipação da onda, alterações de níveis de água, marés e

correntes no sistema. A propagação da onda, do largo para a costa, requer a consideração de

vários fenómenos de alteração dos parâmetros da onda como o empolamento, a refracção, a

rebentação, etc. Esta propagação é, hoje em dia, efectuada com recurso a modelos matemáticos

tais como SWAN ou MIKE que exigem a introdução de um conjunto de dados de entrada como

espectros de energia e de frequência e permitem a obtenção de parâmetros como a altura

significativa, o período da onda e a sua direcção média incidente.

2.1.1 Fenómenos Litorais

Uma onda genérica é caracterizada pela sua altura, a altura de onda, 𝐻, definida pela distância

vertical duma cava à crista imediatamente posterior; pelo comprimento de onda, 𝐿, definido pela

distância horizontal entre duas cristas ou duas cavas consecutivas; e pelo período da onda, 𝑇,

definido pelo intervalo de tempo que compreende a passagem de duas cristas consecutivas por

um dado ponto fixo.

A velocidade de propagação de uma onda é definida pela celeridade da onda, 𝑐. Esta traduz a

velocidade com que se propaga a forma da onda e é dada pela seguinte equação.

𝑐 =𝐿

𝑇

(2.1)

A relação entre a celeridade e o comprimento de onda, com a profundidade do local pode ser

traduzida, de acordo com a teoria linear, pela seguinte equação (US Army Corps of Engineers,

1984):

𝑐 = √𝑔𝐿

2𝜋tanh (

2𝜋𝑑

𝐿)

(2.2)

Onde 𝑑, define a profundidade de água e 𝑔, a aceleração da gravidade.

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Ao quociente entre a altura de onda, 𝐻, e o comprimento de onda, 𝐿, designa-se declividade da

onda, 𝛿. Tem um papel importante no fenómeno da rebentação e define-se por:

𝛿 =𝐻

𝐿

(2.3)

A teoria linear de onda constitui uma teoria bastante complexa e, na Tabela 2.1, adaptada de US

Army Corps of Engineers (1984), apresentam-se, sumarizadas as suas características. Esta

teoria é apresentada para o caso de águas profundas, águas de transição e águas pouco

profundas, onde 𝜂 representa o nível de superfície livre da água, 𝑐0 a celeridade da onda em

águas profundas, 𝐿0 o comprimento de onda em águas profundas e 𝑐𝑔 a velocidade de grupo.

Tabela 2.1 – Características das ondas, segundo a teoria linear. Adaptado de US Army Corps of Engineers, (1984).

Águas pouco

profundas 𝐝

𝐋<

𝟏

𝟐𝟓

Águas de transição 𝟏

𝟐𝟓<

𝐝

𝐋<

𝟏

𝟐

Águas profundas

𝐝

𝐋>

𝟏

𝟐

Superfície livre da onda 𝜂 =

𝐻

2𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜂 =𝐻

2cos [

2𝜋

𝐿−

2𝜋

𝑇] =

𝐻

2𝑐𝑜𝑠𝜃 𝜂 =

𝐻

2𝑐𝑜𝑠𝜃

Celeridade da onda 𝑐 =

𝐿

𝑇= √𝑔𝑑

𝑐 =𝐿

𝑇=

𝑔𝑇

2𝜋tanh (

2𝜋𝑑

𝐿) 𝑐 = 𝑐0 =

𝐿

𝑇=

𝑔𝑇

2𝜋

Comprimento de onda 𝐿 = 𝑇√𝑔𝑑 = 𝑐𝑇

𝐿 =𝑔𝑇2

2𝜋tanh (

2𝜋𝑑

𝐿)

𝐿 = 𝐿0 =𝑔𝑇2

2𝜋= 𝑐0𝑇

Velocidade de grupo 𝑐𝑔 = 𝑐 = √𝑔𝑑 𝑐𝑔 = 𝑛 𝑐 =1

2[1 +

4𝜋𝑑𝐿

sinh (4𝜋𝑑

𝐿)

] 𝑐 𝑐𝑔 =1

2𝑐 =

𝑔𝑇

4𝜋

2.1.2 Fenómenos de transformação da onda

A propagação da agitação marítima do largo para a costa é influenciada por diversos fenómenos.

Por um lado, pode assumir-se que as características da agitação ao largo são muito semelhantes

ao longo de uma grande extensão. No entanto estas características junto à costa assumem

condições muito próprias, na medida em que são influenciadas pelo fundo (com características

únicas em cada local) e por fronteiras sólidas como praias e obras de engenharia costeira

(Coelho, 2005).

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5

De todos os fenómenos responsáveis pela transformação das características das ondas

salientam-se a difracção, a refracção, a reflexão, o empolamento, o espraiamento/refluxo e a

rebentação. A informação obtida sobre os fenómenos supra mencionados provém de U.S. Army

Corps of Engineers (2002) e alguns destes fenómenos encontram-se exemplificados na Figura

2.1.

Figura 2.1 – Representação esquemática de fenómenos de alteração da propagação da agitação marítima. Adaptado de Coelho (2005).

O fenómeno de empolamento da onda ocorre na aproximação da onda à costa, na medida em

que, quando a profundidade é cerca de metade do comprimento de onda em águas profundas,

começa a interacção da onda com o fundo. A altura da onda aumenta, o comprimento da onda

e a celeridade diminuem e assume-se que o período da onda se mantém constante.

O coeficiente de empolamento, 𝐾𝑠, referente à alteração na altura de onda é definido como:

𝐾𝑠 =𝐻

𝐻0′

(2.4)

Onde 𝐻 representa a altura da onda e 𝐻0′ a altura da onda em águas profundas na ausência de

refracção.

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6

A refracção é o processo que se define como a mudança de direcção das ondas por interacção

com o fundo. Quando estas se propagam com uma determinada obliquidade em relação à

batimetria, devido à variação da celeridade com a profundidade, sofrem refracção, tendendo as

cristas a ficar paralelas às batimétricas. Esta alteração na direcção de propagação da onda

representa-se pelo coeficiente de refracção, 𝐾𝑟, definido por:

𝐾𝑟 = √𝑏0

𝑏

(2.5)

Onde 𝑏0 e 𝑏 são o espaçamento entre raios de onda em águas profundas e no local junto à costa,

respectivamente.

A difracção resulta no processo de interacção onda-estrutura, associada à transferência lateral

de energia ao longo da crista da onda. Essa transferência ocorre no sentido da zona abrigada

pela estrutura, proveniente da zona exposta directamente à ondulação, manifestando-se pelo

movimento das frentes de onda curvas, centradas no extremo da estrutura (APRH, 2007).

A reflexão define-se como a mudança de direcção da onda quando esta interage com um

obstáculo. Segundo o ângulo de reflexão, a onda, ao embater, transfere energia para o obstáculo,

perdendo capacidade energética e reflectindo outra parte dessa energia. A quantidade de

energia dissipada relaciona-se com a capacidade reflectora do obstáculo e com as suas

características físicas tais como a rugosidade, a inclinação ou a porosidade. Nos casos em que

toda a energia é directamente reflectida pelo obstáculo, o fenómeno designa-se por reflexão total,

enquanto nos casos em que existe dissipação de energia designa-se de reflexão parcial (APRH,

2007).

O espraiamento é o fenómeno que ocorre após a rebentação da ondulação e caracteriza-se por

um movimento ascendente da água através da praia. Este fenómeno é influenciado pela

capacidade de reflexão das ondas, nomeadamente através da porosidade, rugosidade e

permeabilidade das praias. Naturalmente, o espraiamento é acompanhado, de seguida, do

movimento descendente da água junto à face da praia, designando-se este fenómeno por refluxo

(APRH, 2007).

A onda, na sua propagação em direcção à costa, ao interagir com o fundo, devido à elevada

concentração de energia, instabiliza progressivamente originando o processo de rebentação. A

rebentação define-se como um processo bastante turbulento e com grande dissipação de

energia, em que é atingido o valor de declividade limite da onda. Quanto ao fenómeno de

rebentação, pode classificar-se os tipos de rebentação consoante a forma como as ondas

rebentam junto à costa. Deste modo, a rebentação classifica-se como: rebentação progressiva

(spilling), rebentação mergulhante (plunging), rebentação de fundo (surging) e rebentação

colapsante (collapsing) (US Army Corps of Engineers, 1984).

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7

Os tipos de rebentação podem ser observados na Figura 2.2.

Figura 2.2 – Tipos de rebentação das ondas. Adaptado de US Army Corps of Engineers (1984).

A forma como as ondas rebentam, resultando assim nos tipos de rebentação supra mencionados,

encontram-se associadas a dois factores: a declividade da onda e o declive de fundo das praias.

Deste modo, a rebentação e os seus tipos podem definir-se de acordo o surf similarity parameter,

ou número de Iribarren, x, da seguinte forma proposta por Battjes (1974):

Rebentação progressiva: x < 0.4

Rebentação mergulhante: 0.4 < x < 2.3

Rebentação de fundo: 2.3 < x < 3.2

Rebentação colapsante: x> 3.2

O número de Iribarren, x, é determinado pela seguinte equação (APRH, 2007):

𝜉 =𝛽

√𝐻𝑏

𝐿0

(2.6)

Em que 𝛽 representa o declive de fundo da praia, 𝐻𝑏 é a altura de onda na rebentação e 𝐿0 é o

comprimento de onda em águas profundas.

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2.2 Definição de linha de costa

“As designações de litoral, costa, faixa costeira, faixa litoral, orla costeira, zona costeira, zona

litoral, área/região costeira são utilizadas de um modo indiferenciado por especialistas de

diferentes áreas para referir porções do território de dimensões variáveis, na interface entre a

Terra e o Oceano.” (Ministério do Ambiente do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento

Regional (MAOTDR), 2007). Os conceitos e definições das zonas junto à costa padecem de um

consenso generalizado por parte da comunidade científica tornando-se necessário estabelecer

uma premissa sobre os termos a utilizar para que estes sejam abordados de uma forma coerente

e correcta.

O documento Bases para a Gestão Integrada da Zona Costeira Nacional (Ministério do Ambiente

do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR), 2007) tenta,

efectivamente, uniformizar os conceitos, propondo a seguinte definição, que será utilizada nesta

dissertação:

Litoral – termo geral que descreve porções do território que são influenciadas directa e

indirectamente pela proximidade do mar;

Zona costeira – porção de território influenciada directa e indirectamente, em termos biofísicos,

pelo mar (ondas, marés, ventos, biota ou salinidade) e que pode ter, para o lado de terra, largura

tipicamente de ordem quilométrica e se estende, do lado do mar, até ao limite da plataforma

continental;

Orla costeira – porção do território onde o mar exerce directamente a sua acção, coadjuvado

pela acção eólica, e que tipicamente se estende, para o lado de terra, por centenas de metros e,

para o lado do mar, até à batimétrica dos 30 m (englobando a profundidade de fecho);

Linha de costa – fronteira entre a terra e o mar, materializada pela intercepção do nível médio

do mar com a zona terrestre.

Surge ainda a necessidade de escrutinar a discussão sobre a variação da linha de costa tendo

em conta, tal como refere Dias et al. (1994): “o período analisado, a época do ano, o método de

análise, a extensão do período analisado, a escala e pormenor da análise e da extensão e a

variabilidade do troço costeiro em análise”.

Globalmente pode-se afirmar que a costa litoral, e consequentemente a posição da linha de

costa, são influenciadas por factores de ordem física e de ordem humana. No que respeita aos

factores de ordem físicos destaca-se o tipo de costa, os sedimentos que a constituem e o seu

relevo, como também a alteração das características dos agentes erosivos – clima de agitação

marítimo e a subida do nível médio das águas do mar.

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9

Por outro lado, ao longo do século XX o abastecimento sedimentar ao litoral reduziu-se

progressivamente, porém de forma drástica, devido ao impacto de diversas actividades

antrópicas. Entre estas destacam-se a construção de barragens, a exploração de inertes, as

dragagens e as obras de engenharia costeira (Dias, 2004).

2.3 Transporte sedimentar

Ao longo da costa a carga sólida, por acção das ondas e correntes, é transportada

longitudinalmente e transversalmente causando nas praias erosão/acreção e flutuações,

respectivamente. O fenómeno de erosão não contempla as modificações sazonais que se

verificam nos perfis de praia. Ainda assim o balanço sedimentar ao longo da costa é bastante

variável.

O transporte sedimentar em ambiente marítimo é somente conseguido se as forças

hidrodinâmicas intervenientes forem capazes de iniciar o movimento das partículas sobre o leito

do mar. Dois dos critérios que definem o início do movimento incipiente de uma partícula são: o

critério da velocidade média critica e o critério da tensão crítica de arrastamento. Quando são

atingidos os valores críticos destes critérios, as partículas iniciam o seu movimento e,

consequentemente, o transporte sedimentar. Neste caso as forças hidrodinâmicas intervenientes

são a força de arrasto hidrodinâmico e a força de sustentação hidrodinâmica (Cardoso, 1998).

Segundo Cardoso (1998), as condições de movimento incipiente estão associadas ao equilíbrio

que actua sobre as partículas. Quando o fundo é constituído por material não coesivo, o peso

submerso das partículas, que se deslocam isoladamente, é a principal força resistente ao

escoamento.

Ao registar-se um défice de fornecimento de sedimentos às praias, aliado a uma constante

capacidade de transporte dos mesmos por acção das ondas e correntes, verifica-se um

desequilíbrio no balanço sedimentar, originando erosão. Esta faz com que as praias tendam a

encontrar uma nova posição de equilíbrio (Figura 2.3). Devido a um menor volume de sedimentos

a transportar para sotamar os efeitos da erosão são propagados para sul (Pereira & Coelho,

2011).

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10

Figura 2.3 – Caracterização genérica do efeito do défice sedimentar na propagação da erosão e na evolução da linha de costa, desde uma situação de equilíbrio dinâmico, até uma situação de equilíbrio estático (Pereira & Coelho, 2013).

2.3.1 Potencial de transporte longitudinal

De acordo com o U.S. Army Corps of Engineers (2002), o potencial de transporte longitudinal

relaciona-se com as componentes de energia da onda responsável pelo transporte longitudinal.

O potencial de transporte longitudinal é descrito pela equação seguinte:

𝑃𝑙 = (𝐸𝐶𝑔)𝑏

𝑠𝑖𝑛𝛼𝑏𝑐𝑜𝑠𝛼𝑏 (2.7)

Onde 𝐸𝑏 representa a energia da onda na linha de rebentação e é dada por:

𝐸𝑏 =𝜌𝑔𝐻𝑏

2

8

(2.8)

E Cgb é a velocidade de grupo da onda na linha de rebentação e é dada por:

𝐶𝑔𝑏 = √𝑔𝑑𝑏 = (𝑔𝐻𝑏

𝑘𝑏

)

12

(2.9)

Onde 𝐻𝑏 representa a altura de onda na rebentação, 𝑑𝑏 a profundidade de água na rebentação

e 𝑘𝑏 é o índice de rebentação Hb /db. O termo (𝐸𝐶𝑔)𝑏representa o fluxo energético da onda, por

unidade de comprimento de crista, avaliado na zona de rebentação e 𝛼𝑏 é o ângulo de

rebentação da onda em relação à linha de costa.

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11

2.3.2 Caudais de transporte sedimentar

O transporte da matéria aluvionar é gerado, principalmente, pelo efeito entre as ondas e as

correntes tendo em conta todos os fenómenos que condicionam e caracterizam a agitação

marítima como a rebentação, a refracção, a difracção, o empolamento, o espraiamento, entre

outros. As correntes provocadas pela ondulação, por serem mais condicionantes face às

correntes de maré ou correntes provocadas por variações de densidades na coluna liquida,

constituem o principal agente de transporte sedimentar.

O transporte sedimentar, identificado como erosão ou acreção sedimentar, pode ser avaliado por

simples formas que relacionam o transporte de fundo e o transporte na forma suspensa através

de modelos de transporte sedimentar. A onda na rebentação induz correntes longitudinais ao

longo da costa que são facilmente verificadas através dos fenómenos de erosão ou acreção

sedimentar junto a estruturas e obras marítimas (Plecha et al., 2009).

A quantificação do caudal sedimentar transportado longitudinalmente é feita segundo a direcção

perpendicular à linha de costa, geralmente pela medição do caudal que passa num perfil

transversal. Tratando-se de um caudal é expresso em m3/ano. O balanço entre o caudal de

sedimentos transportado segundo direcções paralelas à linha de costa (para barlamar e

sotamar), a longo prazo, num dado perfil transversal de praia define-se como saldo do caudal

sólido, designado por 𝑄𝑛𝑒𝑡.

𝑄𝑛𝑒𝑡 = 𝑄𝑅 + 𝑄𝐿 (2.10)

Onde, 𝑄𝑅 designa o caudal do sentido: esquerda – direita e 𝑄𝐿 representa o caudal do sentido:

direita - esquerda;

O resultado da soma de caudais de sentidos opostos apresenta o sentido dominante e a taxa de

transporte verificada. A direcção e sentido destas grandezas são convencionados considerando

um observador em terra a olhar para o mar e são apresentados na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Convenção adoptada para os sentidos do caudal resultante.

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12

O caudal anual total, designado por 𝑄𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠, traduz a quantidade total de sedimentos que

atravessa uma determinada secção transversal da linha de costa, num certo período de tempo,

independentemente do sentido de transporte, representando assim um volume total de

sedimentos que se expressa em m3/ano e traduz-se pela expressão seguinte:

2.3.3 Modelos de transporte litoral

De modo a determinar o transporte sedimentar numa dada zona definem-se modelos de

transporte litoral com características distintas de forma a ajustarem-se a cada área de estudo.

Os modelos matemáticos de transporte sedimentar classificam-se, de acordo com Hanson &

Kraus (1989) de acordo com a escala temporal e espacial da zona a tratar, sugerindo o diagrama

da Figura 2.5, onde se encontra assinalado o presente caso de estudo.

Segundo o autor anteriormente mencionado, classificam-se os modelos de transporte como

modelos de linha, modelos de n-linhas, modelos tridimensionais e modelos analíticos.

Figura 2.5 – Classificação de modelos numéricos em escalas temporais e espaciais. Adaptado de Hanson & Kraus (1989).

Nesta dissertação o modelo numérico utilizado é o modelo de linha dada a facilidade de se

adaptar a simulações com escalas espaciais e temporais extensas com um relativamente baixo

esforço computacional (quando comparado com outros modelos). Os modelos de linhas

consideram que, numa determinada praia, o perfil transversal se encontra em equilíbrio, havendo

apenas oscilações a nível do transporte sedimentar longitudinal fazendo mover o perfil

paralelamente a si mesmo (Figura 2.6).

𝑄𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠 = 𝑄𝑅 + |𝑄𝐿| (2.12)

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13

Figura 2.6 – Movimentação da linha de costa segundo o modelo de linha (Coastal Wiki, 2014).

Os limites do perfil transversal e a sua movimentação paralelamente a si mesmo são definidos

recorrendo à definição de cota de berma e de profundidade de fecho. A cota da berma, 𝑑𝐵, define-

se como o limite do lado da plataforma terrestre, geralmente associada a cota mais alta junto à

linha de água, enquanto que a profundidade de fecho, 𝑑𝑐, se define como o limite do lado da

plataforma marinha, para lá do local onde as variações do perfil de praia se deixam de verificar,

isto é, deixa de existir movimentação sedimentar. A Figura 2.7 apresenta as grandezas

envolvidas nos modelos de linha.

Assim, define-se deste modo os pressupostos a ter em conta com a utilização de modelos de

linha:

O transporte sedimentar é provocado por correntes induzidas por ondas na rebentação;

O perfil de praia não se altera;

Uma linha determina a posição da linha de costa;

Apenas se tem em conta o transporte longitudinal;

O transporte de sedimentos dá-se até à profundidade de fecho, 𝑑𝐶, para lá da qual o fundo permanece imóvel;

A taxa de transporte longitudinal depende principalmente do ângulo de incidência da onda, 𝛼𝑏, e da altura de onda na rebentação, 𝐻𝑏.

Seguindo o pressuposto que o perfil de praia se move paralelamente a si mesmo até à

profundidade de fecho, a equação da continuidade dos sedimentos, num trecho de comprimento

infinitamente pequeno, 𝑑𝑥, da linha de costa, pode ser formulada da seguinte forma:

𝑑𝑦

𝑑𝑡+ (

𝑑𝑄𝑙

𝑑𝑥+ 𝑞) /(𝑑𝑏 + 𝑑𝑐) = 0

(2.13)

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14

Onde 𝑦 é a posição da linha de costa, 𝑥 é a coordenada longitudinal, 𝑡, representa o tempo, 𝑑𝑏,

é a altura média da berma acima do nível médio da água, 𝑑𝑐, representa a profundidade de fecho,

𝑄𝑙, é a taxa de transporte longitudinal de sedimentos e, 𝑞, representam as fontes e sumidouros

de sedimentos ao longo da costa.

Figura 2.7 – Esquema representativo do cálculo da linha de costa através de modelos de linha (Hanson & Kraus, 1989).

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3 SOFTWARE LITPACK BY DANISH HYDRAULIC INSTITUTE (DHI)

O presente capítulo tem como objectivo a apresentação do software LITPACK (Littoral

Processes And Coastline Kinetics), dos seus componentes e módulos, em particular do sistema

Littoral Processes FM, desenvolvidos pelo DHI Water & Environment. A informação utilizada

neste capítulo refere-se aos manuais desenvolvidos pela DHI para modelação de sistemas

litorais e processos costeiros. (DHI, 2014b, 2014c, 2014d).

Cada sistema possui uma interface gráfica para facilitar a aplicação do modelo e a sua

visualização. Sendo o LITPACK / Littoral Processes FM um pacote de software integrado, a sua

interface, pertencente também à DHI, designa-se de MIKE Zero.

3.1 Considerações gerais

O LITPACK é um software profissional de engenharia destinado à modelação do transporte de

sedimentos não coesivos provocado por ondas e correntes. Aliado à capacidade de cálculo da

deriva litoral sedimentar numa determinada zona, este software permite o estudo da evolução da

linha de costa ao longo de praias quase-uniformes, constituindo um modelo numérico capaz de

modelar a maioria dos processos existentes nas zonas perto da costa.

Na sua constituição integra módulos individuais capazes de simular processos costeiros

específicos, permitindo uma modelação mais complexa respondendo com maior certeza aos

problemas analisados. A Figura 3.1 apresenta um resumo dos módulos do LITPACK. Os módulos

presentes no software LITPACK são os seguintes:

STP – Aplicado ao transporte sedimentar, em ondas e correntes, de sedimentos não coesivos;

LITDRIFT – Cálculo da deriva sedimentar litoral devido a ondas e correntes;

LITLINE – Evolução da linha de costa;

LITTREN – Evolução sedimentar de canal/escavação, no caso de desequilíbrio sedimentar;

LITPROF – Desenvolvimento do perfil transversal de praia, devido ao transporte sedimentar.

Integrado no software LITPACK, surge o Littoral Processes FM, ferramenta que reúne a maioria

dos módulos e das funcionalidades do LITPACK com uma interface user-friendly, que permite ao

utilizador um melhor tratamento dos dados e análise dos resultados. Na elaboração desta

dissertação apenas se utilizaram os módulos STP, LITDRIFT e LITLINE por forma a prever a

evolução da linha de costa num determinado trecho costeiro.

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16

Figura 3.1 – Módulos do software LITPACK e as suas principais funções. Adaptado de DHI (2014b).

3.2 Littoral Processes FM

Littoral Processes FM é um sistema de modelação integrado que combina um modelo

hidrodinâmico a um modelo de transporte sedimentar, capaz de simular um conjunto de cenários

de ondas e correntes ao longo de linhas de costa lineares ou quase lineares. Este sistema simula,

tal como o software LITPACK, o transporte de sedimentos não coesivos ao longo de linhas de

costa quási-estacionárias, utilizando para tal uma abordagem de modelos de linha.

O sistema Littoral Processes FM contém quatro módulos de cálculo, formando, em conjunto, um

modelo matemático complexo.

1. Transport in point;

2. Littoral Drift;

3. Littoral Dift Table Generation;

4. Coastline Evolution.

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17

A Figura 3.2 apresenta a integração e o encadeamento dos módulos que constituem o Littoral

Processes FM.

Figura 3.2 – Integração dos módulos do modelo Littoral Processes FM (DHI, 2014c).

3.2.1 Transport in point

Este módulo é o responsável pelo cálculo do transporte de sedimentos não coesivos em vários

pontos utilizando para tal um modelo de Transporte Sedimentar Quási Tridimensional (STPQ3D

– Sediment Transport Quasi Three-Dimensional). Este modelo calcula, instantaneamente, o

transporte sedimentar em duas direcções horizontais num ponto (as componentes x e y),

resolvendo a equação de difusão sedimentar vertical devido à acção de ondas e correntes, numa

variedade de períodos de onda.

Este módulo tem ainda em conta a arbitrariedade dos ângulos de incidência de ondas e

correntes, a configuração e o material de fundo, o declive do mesmo e as condições de

rebentação das ondas.

O cálculo do transporte sedimentar de fundo e em suspensão é calculado separadamente sendo

a soma dos respectivos valores o transporte sedimentar total, traduzido pela seguinte equação:

𝑞𝑡 = 𝑞𝑏 + 𝑞𝑠 (3.1)

Onde 𝑞𝑡 é o caudal sedimentar total, 𝑞𝑏, representa o transporte sólido por arrastamento e 𝑞𝑠 o

transporte sólido em suspensão.

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18

No módulo Littoral Processes FM é usado o modelo de transporte sólido por arrastamento

proposto por Engelund & Fredsøe, (1976) em que este é calculado em função do parâmetro

instantâneo de Shields, apresentado na sua forma adimensional, 𝜃𝑓:

𝜃𝑓 =𝑈𝑓

2

(𝑠 − 1)𝑔𝑑

(3.2)

Onde 𝑈𝑓 é a velocidade de arrastamento instantânea, 𝑠 é a densidade relativa do material de

fundo.

Através de uma abordagem determinística, define-se o parâmetro adimensional de transporte de

fundo, Φb.

Φb = 5𝑝 (√𝜃𝑓′ − 0.7√𝜃𝑐)

(3.3)

Onde 𝜃𝑓′é o parâmetro de Shields determinado para um fundo plano, 𝜃𝑐 é o parâmetro critico de

Shields, e 𝑝, é determinado pela equação (3.4) onde 𝛽 representa o declive de fundo.

𝑝 = [1 + (

𝜋6

𝛽

𝜃′ − 𝜃𝑐

)

4

]

−0.25

(3.4)

A partir do parâmetro adimensional de transporte de fundo, Φb, as seguintes quantidades

direccionais podem ser calculadas sendo que Φb1e Φb2representam parâmetros de transporte

por arrastamento nas direcções do escoamento e normal ao escoamento, respectivamente.

Φb1 =1

𝑇∫ Φb

𝑇

0

(𝑡) cos(𝜑(𝑡)) 𝑑𝑡 (3.5)

Φb2 =1

𝑇∫ Φb

𝑇

0

(𝑡) sin(𝜑(𝑡)) 𝑑𝑡 (3.6)

Onde 𝜑(𝑡) representa a direcção instantânea do escoamento.

Assim, calculam-se, respectivamente, o caudal sedimentar de fundo na direcção do escoamento,

qb1, e normal à direcção do escoamento, qb2.

qb1 = Φb1 √(𝑠 − 1)𝑔𝑑503

(3.7)

qb2 = Φb2 √(𝑠 − 1)𝑔𝑑503

(3.8)

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19

A soma destas duas grandezas traduz o caudal total sedimentar por arrastamento para a área

de estudo.

qb = qb1 + qb2 (3.9)

A variação temporal da concentração vertical de sedimentos suspensos é calculada através da

equação da difusão vertical proposta por Fredsøe et al. (1985), recorrendo ao conceito de

concentração de sedimentos, 𝑐𝑠, calculado pela equação de difusão vertical em regime

turbulento:

𝜕𝑐𝑠

𝜕𝑡=

𝜕

𝜕𝑧[𝜖𝑠

𝜕𝑐𝑠

𝜕𝑧] + 𝑤

𝜕𝑐𝑠

𝜕𝑧

(3.10)

Onde 𝜖𝑠 é o coeficiente de difusão de sedimentos para escoamentos turbulentos e 𝑤, a

velocidade de queda das partículas.

O transporte sedimentar em suspensão é então calculado como o produto da velocidade

instantânea do escoamento e a concentração instantânea de sedimentos:

𝑞𝑠 =1

𝑡𝑠

∫ ∫ (𝑢𝑐𝑠)𝑑𝑠

0

𝑑𝑧𝑡𝑠

0

𝑑𝑡 (3.11)

Onde 𝑢 representa a velocidade do escoamento e 𝑡𝑠 e 𝑑𝑠 os extremos de integração,

respectivamente o tempo de simulação e o limite espacial da simulação.

Apresenta-se de seguida, na Tabela 3.1, o resumo da informação necessária para executar o

módulo Transport in Point e a informação que poderá ser obtida do mesmo.

Tabela 3.1 – Informação necessária e obtida do módulo Transport in Point.

Informação de entrada Informação de saída

Altura de água e declive do fundo;

Propriedades das ondas: altura significativa,

período e ângulo de incidência;

Velocidade e direcção das correntes;

Propriedades dos sedimentos: tamanho, curva

granulométrica e velocidade de queda;

Os valores médios, ao longo do tempo, do

parâmetro eddy viscosity, velocidade,

concentração e transporte sedimentar em

suspensão;

Caudal sólido transportado em suspensão e por

arrastamento;

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20

3.2.2 Littoral Drift

Este módulo é responsável pelo cálculo do transporte sedimentar longitudinal ao longo de um ou

mais perfis transversais. Permite uma descrição determinística da distribuição longitudinal de

sedimentos ao longo da costa bem como do balanço sedimentar causado por um ou mais

eventos climatológicos. Constitui uma poderosa ferramenta de análise do balanço sedimentar,

parâmetro de elevada importância para o estudo da morfologia da costa.

Este módulo consiste na combinação de um modelo hidrodinâmico, que calcula a propagação

da onda ao longo da costa, e um modelo de transporte sedimentar (modelo análogo ao usado

no módulo Transport in Point) que calcula o transporte sedimentar longitudinal usando os

resultados provenientes do modelo hidrodinâmico. O módulo Littoral Drift simula a distribuição

da altura de onda e correntes longitudinais para um perfil de costa definido tendo em conta ondas

regulares e irregulares, o nível médio de água, ondas de maré, a tensão tangencial entre o vento

e a superfície de água, os fenómenos de refracção, empolamento e rebentação e a distribuição

não uniforme de sedimentos.

O modelo hidrodinâmico aplica a equação da conservação da quantidade do movimento,

paralelamente à linha de costa, determinando a velocidade longitudinal ao longo do perfil,

estando o parâmetro 𝜏𝑏, relacionado com a velocidade da seguinte forma proposta por Fredsøe

et al. (1985):

𝜏𝑏 = −𝑑

𝑑𝑦[𝜌𝐸𝑑

𝑑𝑢

𝑑𝑦]

(3.12)

Onde 𝜏𝑏 representa a rugosidade de fundo, 𝜌, a densidade da água e 𝐸, o coeficiente de

transferência de quantidade de movimento.

Na Tabela 3.2 apresenta-se a informação necessária e a informação obtida da execução do

módulo Littoral Drift.

Tabela 3.2 – Informação necessária e obtida na execução do módulo Littoral Drift.

Informação necessária Informação obtida

Batimetria dos perfis transversais ao longo da

zona em estudo;

Rugosidade e tamanho dos grãos para cada

perfil;

Altura quadrática média da onda, período e

ângulo de incidência da onda;

Nível do mar e velocidade das correntes de maré;

Distribuição do transporte sedimentar nos perfis

transversais definidos;

Nível da superfície livre, altura de onda e

correntes longitudinais;

Deriva sedimentar anual.

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21

A Figura 3.3 apresenta um exemplo dos resultados obtidos através do módulo Littoral Drift, em

que, à esquerda, é possível observar o transporte sedimentar verificado ao longo de um perfil

longitudinal e, à direita, a correspondente velocidade da corrente longitudinal obtida.

Figura 3.3 – Cálculo do transporte sedimentar e velocidade longo de um dado perfil. Adaptado de DHI (2014b).

3.2.3 Littoral Drift Table Generation

A utilização do módulo Coastline Evolution encontra-se condicionada pela geração de tabelas de

transporte sedimentar. De forma a reduzir o tempo de simulação da evolução costeira, as taxas

de transporte sedimentar são interpoladas das tabelas de transporte sedimentar geradas por

este módulo. Com o Littoral Drift Table Generation as tabelas de transporte sedimentar são

criadas replicando as taxas de transporte sedimentar obtidas, por aplicação das condições

hidrodinâmicas.

As tabelas são compostas por inúmeras taxas de transporte, para cada um dos eventos

climatológicos simulados no Littoral Drift. Os resultados obtidos nas tabelas de transporte

sedimentar consistem num número de ficheiros de quatro tipos, contendo informação sedimentar

tal como a taxa total de sedimentos para as diferentes secções transversais, a distribuição da

taxa de transporte sedimentar ao longo dos perfis e a posição dessa mesma distribuição.

Deste modo, a cada passo de cálculo, o módulo Coastline Evolution irá procurar nas tabelas de

transporte geradas a informação sedimentar correspondente a cada ponto, na malha de cálculo,

não tendo de inferir essa informação do módulo de deriva litoral, optimizando tempo de cálculo.

De referir ainda que a informação relativa ao clima de agitação marítima, ao largo, junto à costa

e na zona de rebentação encontra-se também nestas tabelas, bem como a informação relativa

aos perfis transversais definidos.

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22

3.2.4 Coastline Evolution

Este módulo constitui a tarefa final no processo de simulação de evolução de linha de costa dado

que calcula as movimentações da posição da linha de costa em relação a uma linha de base. O

módulo representa um modelo de linha em que se assume que os perfis transversais se mantem

inalterados, existindo apenas uma translação dos mesmos, resultado de erosão ou acreção

sedimentar.

Baseado nos resultados obtidos através do Littoral Drift, este módulo de evolução costeira simula

a resposta da costa a gradientes de transporte sedimentar longitudinal ao longo da mesma. O

módulo permite calcular a evolução da linha de costa através da resolução da equação da

continuidade dos sedimentos na zona litoral. De forma a avaliar a influência das mesmas, permite

também a introdução de estruturas e obras marítimas, fontes e sumidouros sedimentares. A

evolução da linha de costa pode também ser calculada através da deriva sedimentar com base

numa série temporal de eventos, oferecendo a capacidade de estudar a evolução da linha de

costa durante as estações de Inverno e de Verão ou após monções climáticas.

A equação principal para a evolução da linha de costa corresponde à equação da continuidade

para o volume sedimentar apresentada de seguida:

𝑑𝑦

𝑑𝑡= (

𝑑𝑄𝑙

𝑑𝑥+ 𝑞) /(𝑑𝑏 + 𝑑𝑐)

(3.13)

Onde 𝑦 é a posição da linha de costa, 𝑥 é a coordenada longitudinal, 𝑡, representa o tempo, 𝑑𝑏,

é a altura média da berma acima do nível médio da água, 𝑑𝑐, representa a profundidade de fecho,

𝑄𝑙, é a taxa de transporte longitudinal de sedimentos e, 𝑞, representa as fontes e sumidouros de

sedimentos ao longo da costa.

Figura 3.4 – Definição da altura activa de um perfil transversal. Adaptado de DHI (2014a).

As mudanças nas condições de transporte devido a obras de engenharia costeira podem

facilmente ser ultrapassadas através da introdução apropriada de condições de fronteira. Antes

de bloquearem o transporte sedimentar, as obras costeiras mudam as relações de transporte

junto da mesma, sendo necessário alterar essas relações perto da estrutura. A Figura 3.5

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23

apresenta um exemplo de resultado obtido através do módulo de evolução costeiro,

nomeadamente com a introdução de obras costeiras.

Figura 3.5 – Desenvolvimento junto a estruturas costeiras ao longo de 30 anos. (DHI, 2014b).

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25

4 CASO DE ESTUDO: MACEDA – FURADOURO – TORREIRA. ANÁLISE DE

DADOS E PREPARAÇÃO DO MODELO.

Este capítulo apresenta, na primeira parte, uma breve descrição sobre o caso de estudo e a

análise histórica dos acontecimentos na área de interesse. Na segunda parte, este capítulo tem

como objectivo a identificação e processamento de todos os dados necessários ao modelo

matemático. Apresentam-se os dados de entrada, essenciais para a construção do modelo,

sendo que a informação sobre o clima de agitação marítima, topografia, batimetria e posição da

linha de costa em três momentos distintos, constituem os principais dados de entrada para a

criação do modelo computacional.

4.1 Zona do projecto

A área de estudo encontra-se localizada na costa noroeste de Portugal Continental, a norte da

Ria de Aveiro e apresenta uma linha de costa situada entre o esporão de Maceda e o esporão

da Torreira/Murtosa, numa extensão linear de 19,33 km (Figura 4.1). Nesta análise dá-se

especial atenção à zona do Furadouro, local que, ao longo do tempo, tem vindo a apresentar

níveis de elevada erosão. A praia do Furadouro situa-se no concelho de Ovar, distrito de Aveiro,

e é apontada há muitos anos como uma zona em que se evidencia o deficiente planeamento da

orla costeira.

Figura 4.1 – Área de estudo e esporões limitadores da zona – Maceda e Torreira-Murtosa. Adaptado de (Google, 2010).

No que respeita ao processo erosivo na zona do Furadouro, as primeiras notícias reportam à

década de sessenta do século XIX, tornando-se particularmente violento na parte final desse

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26

mesmo século. Contudo, verificou-se que a costa, embora com flutuações inter-anuais, entrou

em nova fase regressiva entre 1930 e 1950. Sobre os agentes causadores desse processo

afirma-se que a as causas meteorológicas, isto é, a alteração do clima de agitação marítimo ou

do regime de precipitações, possam estar na origem de tal fenómeno ainda que, quanto a essas

causas muito se possa conjecturar mas pouco se possa provar. (Hidrotécnica Portuguesa, 1981).

A zona em estudo, bem como ao longo de toda a costa noroeste portuguesa, é atingida por

ondulação com direcção predominante de Noroeste, o que, aliado ao défice de abastecimento

de sedimentos, provoca o recuo da linha de costa. (Figura 4.2).

Figura 4.2 – Transporte litoral sedimentar na costa noroeste portuguesa. (Gomes et al.,1981)

Segundo o Sistema Nacional de Informação dos Recursos do Litoral (SNIRLit, 2014), a zona em

estudo engloba os troços 5 e 6 das denominadas Unidades de Litoral e, a nível sedimentar, os

troços em análise são constituídos por areias médias e grosseiras, na sua parte emersa, e areias

médias a finas, na parte submersa.

A zona em estudo é constituída por uma costa aberta, com praias arenosas extensas

subdivididas por estruturas de engenharia costeira, criando, em geral, praias em “espiral”,

conceito que designa a forma entre pontas naturais salientes que definem um alinhamento não

concordante com o da onda dominante (SNIRLit, 2014).

O resumo das características das Unidades Litorais 5 e 6 encontra-se apresentado na Tabela

4.1.

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27

Tabela 4.1 – Unidades de Litoral abordadas no caso de estudo. Adaptado de SNIRLit (2014).

Unidade de Litoral

Tipo de Sedimentos

Balanço Sedimentar

Evolução e Transporte

Sedimentar e Geomorfologia

Estruturas existentes

Emersos Submersos

Troço 5: Espinho – Furadouro

Areia Grosseira a Média

Areia Média a Fina

Negativo a equilíbrio

Acentuado recuo da linha de costa;

Elevado condicionamento

pelas estruturas de defesa costeira;

Esporão de Maceda

Troço 6: Furadouro – Barra de

Aveiro

Areia Grosseira a Média

Areia Média a Fina

Positivo

Alternância entre áreas de acreção e

erosão;

Risco de dano pontual,

nomeadamente no Furadouro;

Paredão Praia do Furadouro (Norte);

Esporão 1 Praia do Furadouro;

Defesa Frontal 1 Praia do Furadouro;

Esporão 2 Praia do Furadouro;

Defesa Frontal 2 Praia do Furadouro;

Paredão Torreira – Murtosa;

Esporão Torreira – Murtosa.

Ao longo dos anos, os troços costeiros da zona do Furadouro têm sido afectados por inundações

e erosão provocada pela acção do mar, o que conduz a uma vulnerabilidade considerável do

troço costeiro(Pereira & Coelho, 2011). Através da análise da Figura 4.3 é possível observar que,

desde 1851, no trecho costeiro Espinho – Mira, o número de eventos causadores de destruição

aumentou significativamente, com cerca de 60 relatos registados no período de 2001 a 2011.

Figura 4.3 – Distribuição temporal de relatos de risco costeiro, desde 1850. (Pereira & Coelho, 2011).

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28

Como se pode observar na Figura 4.4 a maioria das ocorrências relacionadas com o recuo da

linha de costa, identificadas desde 1850, ocorrem no Furadouro. Deste modo, registam-se 43

ocorrências devido à acção energética do mar no Furadouro, tornando este local o mais afectado

de toda a área de estudo. Por outro lado, o troço Furadouro – Praia da Torreira não apresenta

ocorrências de recuo de linha de costa, sendo apenas registados casos de galgamento e

destruição do cordão dunar, facto que torna este trecho mais estável.

Figura 4.4 – Ocorrências relacionadas com vulnerabilidade e risco, registadas desde 1850, nas praias do trecho costeiro Espinho – Mira. Adaptado de Pereira & Coelho (2013).

O trecho costeiro Espinho – Barra de Aveiro, constituído principalmente por praias arenosas de

cotas baixas e com um extenso cordão dunar, manifesta ao longo do tempo sérios problemas de

erosão costeira tendo como consequência o recuo da posição da linha de costa. Aliado à

conjugação da acção do mar com o défice generalizado de sedimentos, o trecho costeiro

assume-se como um dos mais dinâmicos de Portugal (Pereira & Coelho, 2013).

A Tabela 4.2 apresenta os valores correspondentes às taxas de recuo da linha de costa, na zona

de estudo, registados numa escala temporal extensa (1954 – 1992).Verifica-se que o fenómeno

erosivo na zona em estudo, desde meados do século XX, tem sido uma constante, destacando-

se a taxa de recuo da linha de costa, verificada para o Furadouro entre 1984 e 1990, de 8m/ano.

Tabela 4.2 – Taxas médias anuais de variação da posição da linha de costa (em metros/ano), entre Maceda e Torreira. Recuo assinalado com sinal negativo e acreção com sinal positivo. Adaptado de Pereira & Coelho (2011).

Praia 1954/80 1984/1990 1978/92

Maceda - -3.0 m -4.6 m

Furadouro -2.8 m -8.0 m -

Torreira 0.7 m -4.0 m -

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29

No estudo recente (Pereira & Coelho, 2013) mapeou-se o risco das zonas costeiras por acção

energética do mar apresentando, na Figura 4.5, o mapa de risco obtido para a zona de estudo.

Figura 4.5 – Classificação de vulnerabilidade, exposição e risco na área de estudo. Adaptado de Pereira & Coelho (2013).

Segundo os autores do estudo anteriormente mencionado, a classificação do risco associado a

uma zona costeira combina: os efeitos da vulnerabilidade dos territórios às acções energéticas

do mar, de acordo com as características da costa e a sua dinâmica; e a exposição da zona

costeira, de acordo com a sua densidade populacional, actividade económica, património

histórico e ecologia.

Assim, observa-se que toda a área de estudo se encontra classificada como de alta

vulnerabilidade, muito devido ao forte processo erosivo e à perda significativa de território

costeiro. Em contraponto, quanto ao critério de exposição considera-se a zona como de baixa

exposição, uma vez que apresenta uma muito baixa densidade populacional e actividades

económicas classificadas como de muito baixa a moderada. Deste modo, a área de estudo, ainda

que com fraca densidade populacional, porém com uma forte tendência erosiva é considerada,

segundo os autores, como sendo de risco médio.

4.1.1 Áreas constituintes

Dada a extensão linear em análise, de 19.33km, de forma a melhorar a compreensão de todo o

trecho, optou-se pela subdivisão do mesmo, semelhante ao sugerido no estudo do (CEHIDRO,

1998), em trechos com características semelhantes do ponto de vista sedimentar e

geomorfológico. Em resultado identificaram-se 3 trechos sedimentares costeiros, apresentados

na Tabela 4.3.

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30

Esta abordagem permite facilitar a quantificação do caudal sedimentar em cada um dos trechos

e, consequentemente inferir o transporte sedimentar para toda a extensão em análise, já que,

como é referido no estudo atrás mencionado, o fenómeno da erosão costeira está intimamente

associado com o caudal sólido litoral e o trânsito sedimentar.

De seguida apresenta-se a informação sedimentar, geomorfológica e das estruturas existentes

nos 3 trechos sedimentares, podendo ser observados na Figura 4.6.

Tabela 4.3 – Trechos sedimentares costeiros.

Trecho 1 De Maceda ao Furadouro ≈ 8 km

Trecho 2 Furadouro ao Torrão do Lameiro ≈ 6 km

Trecho 3 Do Torrão do Lameiro á Torreira ≈ 5 km

Caracterizada por uma baixa cota e características sedimentares arenosas com bastante floresta

na sua envolvência, no trecho 1: de Maceda ao Furadouro, ao nível da linha de costa as

evoluções têm ocorrido muito rapidamente, visto que, imediatamente a sul do esporão de

Maceda, de 1975 a 1996, a comparação entre dois levantamentos verifica um recuo na ordem

dos 190 m ainda que, ao longo do tempo, a taxa de recuo vá diminuindo regularmente, o que é

consistente com a hipótese do segmento costeiro se encontrar em rotação face ao esporão do

Furadouro.

Do Furadouro ao Torrão do Lameiro (trecho 2), o fenómeno de erosão é bastante acentuado,

intensificando o seu efeito na zona imediatamente a sotamar do esporão sul do Furadouro, efeito

que suporta a hipótese deste segmento se encontrar em rotação em torno do esporão da

Torreira.

Por último, do Torrão do Lameiro à Torreira (trecho 3), verifica-se uma rotação em torno do

esporão da Torreira ainda que com diminuição da taxa de erosão, de norte para sul. A evolução

da linha de costa na Torreira (1975 a 1996) mostra que a posição da linha de costa não difere

significativamente até uma distância de, aproximadamente 3 km a norte do esporão da Torreira,

onde a influência deste ainda se faz sentir, estando este segmento em equilíbrio estático.

Figura 4.6 – Trechos sedimentares costeiros na zona de estudo.

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31

4.2 Dados topográficos e batimétricos

De forma a uniformizar todos os dados topo-batimétricos considera-se como sistema de

coordenadas de trabalho o sistema HAYFORD GAUSS DATUM 73 – IPCC. As características

do sistema de coordenadas de trabalho apresentam-se na Tabela 4.4.

Tabela 4.4 – Definição das coordenadas de trabalho. Adaptado de Direcção-Geral do Território (2013b).

Designação Hayford Gauss Datum 73 – IPCC

Ponto origem das coordenadas

geodésicas:

Vértice Geodésico Melriça TF4 (Observações Astronómicas

de 1964)

Elipsóide de referência:

Hayford (ou

Internacional

1924)

Semi-eixo maior: a = 6 378 388 m

Achatamento: f = 1/297

Projecção cartográfica: Transversa de Mercator

Latitude da origem das coordenadas

retangulares: 39º 40' 00'' N

Longitude da origem das coordenadas

retangulares: 08º 07' 54'',862 W

Falsa origem das coordenadas

retangulares:

Em M (distância à Meridiana): +180,598 m

Em P (distância à Perpendicular): -86,990 m

Coeficiente de redução de escala no

meridiano central: 1,0

4.2.1 Dados Batimétricos

A informação relativa à batimetria da zona de estudo foi retirada da Carta da Série Costeira

“Caminha a Aveiro”, doravante designada Carta Náutica, fornecida pelo Instituto Hidrográfico da

Marinha Portuguesa. A Tabela 4.5 apresenta as principais características desta carta.

Tabela 4.5 – Características da Carta Náutica Caminha a Aveiro (Instituto Hidrográfico, 1999).

Nome Fonte Data Principais características

“Caminha a

Aveiro”

Instituto Hidrográfico da

Marinha Portuguesa

Julho,

1999

Escala: 1:150 000;

Projecção de Mercator;

Elipsóide Internacional – Datum

Europeu (1950);

Representação de batimetria: dos

-2000m aos -10m;

Equidistância natural das curvas

de nível: 10m.

Relativamente à área de interesse, o limite ao largo corresponde, aproximadamente, aos 100m

de profundidade, a fim de cobrir a zona onde se encontra instalada a bóia ondógrafo de Leixões

(profundidade de 83m). Por outro lado, o limite junto à zona de rebentação corresponde à

batimétrica dos 10 metros. Na Figura 4.7 evidencia-se a área de interesse na Carta Náutica.

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32

Figura 4.7 – Carta Náutica Caminha a Aveiro e área de interesse neste estudo. Adaptado de Instituto Hidrográfico (1999).

A Carta Náutica está definida no sistema de coordenadas European Datum 1950, sendo portanto,

necessária a sua conversão para o sistema de coordenadas de trabalho. Devido à inexistência

de parâmetros de transformação de Bursa-Wolf por parte da Direcção Geral do Território, a

mesma foi efectuada com recurso ao software Transcoord Pro V2.0 (Direcção-Geral do Território,

2014) que tem como modelo de transformação o método das bases.

Este método transforma as coordenadas do sistema por interpolação dos pontos distribuídos

numa grelha regular que, por sua vez, é também calculada por interpolação espacial a partir de

pontos com coordenadas conhecidas em ambos os sistemas.

Quanto às referências altimétricas, a Carta Náutica utiliza como nível de referência o Zero

Hidrográfico (≈ -2m ZT). Atendendo que a topografia disponível pelo INAG/IGeoE tem como

referência o Zero Topográfico (ZT), foram somados +2m a todas as coordenadas da Carta

Náutica para uniformização dos dados disponíveis.

4.2.2 Dados Topográficos

A topografia local da zona de estudo, tal como a batimetria, é importante para a criação da malha

de cálculo. Os dados fornecidos pelo INAG/IGeoE foram gerados a partir de fotogrametria e

apresentam-se em formato dwg, para os anos de 1996 e 2001. A Tabela 4.6 sumariza as

principais características dos dados fornecidos.

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33

Tabela 4.6 – Características dos dados topográficos (INAG/IGeoE, 1996, 2001).

Denominação Fonte Data Principais características

INAG/IGeoE-

1996

“ESTEREOFOTO,

Levantamentos

Aerocartografados, Lda”

1996

Sistema de ortoprojecção digital;

Equidistância das curvas de nível:

2m;

Escala: 1:2000;

Sistema de coordenadas:

coordenadas rectangulares,

HAYFORD GAUSS DATUM 73

(HGD73_IPCC);

Marégrafo de Cascais;

INAG/IGeoE-

2001

“ARTOP, Aero Topográfica,

Lda” 2001

Sistema de ortoprojecção digital;

Equidistância das curvas de nível:

2m;

Escala: 1:2000;

Sistema de coordenadas:

coordenadas rectangulares,

HAYFORD GAUSS DATUM 73

(HGD73_IPCC);

Marégrafo de Cascais;

Estas coordenadas topográficas referem-se ao sistema HAYFORD GAUSS DATUM 73, não

sendo portanto necessária nenhuma uniformização dos dados, no âmbito deste trabalho. O único

processamento decorreu da análise visual dos dados, em dwg, e da remoção dos pontos fora da

zona de estudo e dos pontos sem informação topográfica relevante, diminuindo assim o tamanho

do ficheiro.

De notar que, nos dados INAG/IGeoE 2001 não foi tida em conta a linha que separa a água da

zona seca de praia (Linha de água) dado que essa informação induz em erro a posição efectiva

da linha de costa uma vez que a Linha de água representa apenas a zona limite de água na

altura em que o voo foi efectuado.

4.2.3 Dados Topo-Batimétricos

A zona activa de praia, considerada desde a profundidade dos 15 metros à curva de nível dos

+4m, constitui a grande dificuldade na definição da topo-batimetria local, nomeadamente na

definição do perfil activo de praia. Ao invés de se considerar um perfil de equilíbrio (teórico) para

a zona activa, optou-se pela utilização dos dados fornecidos pelo INAG-IGP, relativos a 2011, e

obtidos no documento Modelo Digital do Terreno das Zonas Costeiras de Portugal Continental

com resolução de 2 m (600 m mar, 400 m terra).

Este documento utiliza a tecnologia LiDAR (Light Detection And Ranging) para obtenção das

coordenadas do terreno, sendo uma ferramenta capaz de adquirir grandes volumes de dados de

grande resolução, a uma maior velocidade, quando comparada com outras tecnologias. Na

vertente da obtenção de coordenadas de pontos na superfície terrestre e para a geração de

Modelos Digitais de Superfície (MDS), o sistema LiDAR pode ser considerado como uma das

técnicas mais inovadoras na actualidade. Esta tecnologia combina o Sistema de Posicionamento

Global (GPS) e o sistema de Navegação Inercial (INS), sendo o princípio de base de utilização

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34

muito simples: é emitida uma pequena luz até à superfície e é medido o tempo que esse feixe

de luz demora a regressar, após reflexão, à fonte. (Bluesky International Limited, 2015).

Os dados fornecidos pelo INAG-IGP, doravante designados por Dados LiDAR são constituídos

por uma malha com espaçamento de dois metros, traduzindo-se num conjunto de 40 milhões de

pontos para a área de estudo (cotas entre os 10 metros, na zona submersa, e os 20 metros, na

zona emersa). A Tabela 4.7 sumariza as principais características referentes aos Dados LiDAR.

Tabela 4.7 – Dados LiDAR. Características dos dados topo-batimétricos (Direcção-Geral do Território & SNIG, 2014).

Designação “Dados LiDAR”

Nome Modelo Digital do Terreno das Zonas Costeiras de Portugal

Continental com resolução de 2 m (600 m mar, 400 m terra)

Sistema de Referencia PT-TM06/ETRS89 (European Terrestrial Reference System 1989)

Sistema de Referencia Vertical Datum Altimétrico de Cascais Helmert 38

Extensão geográfica W: -9.52, E: -6.19, S: 36.96, N: 42.15

Resolução espacial (m) 2

Identificador no data -999

Área sem informação (%) 5.7

Como é possível observar na tabela anterior, o sistema de coordenadas dos Dados LiDAR não

corresponde ao sistema de coordenadas de trabalho, sendo portanto necessário a conversão

dos dados para o sistema de referência HAYFORD GAUSS DATUM 73.

O ETRS89 é um sistema global de referência recomendado pela EUREF (European Reference

Frame, subcomissão da IAG - Associação Internacional de Geodesia) estabelecido através de

técnicas espaciais de observação e possui as seguintes características:

Tabela 4.8 – Características do sistema de referência PT-TM06/ETRS89 (Direcção-Geral do Território, 2013c).

Designação: PT-TM06/ETRS89

Elipsóide de referência: GRS80 Semi-eixo maior: a = 6 378 137 m

Achatamento: f = 1 / 298,257 222 101

Projecção cartográfica: Transversa de Mercator

Latitude da origem das coordenadas

rectangulares: 39º 40' 05'',73 N

Longitude da origem das

coordenadas rectangulares: 08º 07' 59'',19 W

Falsa origem das coordenadas

rectangulares:

Em M (distância à Meridiana): 0 m

Em P (distância à Perpendicular): 0 m

Coeficiente de redução de escala no

meridiano central: 1,0

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35

A conversão de coordenadas do sistema PT-TM06/ETRS89 para o sistema HAYFORD GAUSS

DATUM 73 teve por base uma Transformação de Bursa-Wolf, de acordo com os parâmetros

sugeridos pela Direcção Geral do Território (Tabela 4.9).

Tabela 4.9 – Parâmetros de transformação de Bursa–Wolf do sistema PT-TM06/ETRS89 para o sistema Hayford Gauss Datum 73. (Direcção-Geral do Território, 2013a).

Translações (m)

X -230.994

Y +102.591

Z +25.199

Rotações (’’)

X +0.633

Y -0.239

Z +0.900

Factor de Escala (ppm) +1.950

O processamento dos Dados LiDAR é uma etapa bastante importante devido ao impacto muito

significativo na geração da malha de cálculo do modelo matemático.Como tal, recorreu-se ao

software ArcMap 10.2.2 (esri, 2015) para produção um modelo digital de terreno que preservasse

a informação original dos Dados LiDAR, porém com uma menor densidade de pontos.

Este processo consiste, numa fase inicial, na criação de uma Rede Irregular Triangulada (TIN)

para a zona de estudo, convertendo, de seguida, essa informação em formato raster, isto é, em

matrizes de células. Esta matriz de células gerou-se por interpolação linear definindo como

distância máxima entre células o valor de 10m em reflexo da equidistância natural de curvas de

nível da informação disponível. De ressalvar que a perda de precisão causada pela interpolação

linear não é significativa pois a densidade de pontos é bastante acentuada à partida, o que faz

com que a interpolação linear crie variações suaves entre cada um dos pontos. A Figura 4.8

apresenta o resultado da conversão das coordenadas.

Figura 4.8 – Trabalho desenvolvido em ArcMap 10.2.2 (esri, 2015). a) Modelo Digital Terrestre; b) Imagem raster com curvas de nível.

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36

4.3 Clima de agitação marítima

4.3.1 Dados da ondulação ao largo

A onda representa o principal agente responsável pelo transporte dos sedimentos e pela

evolução da linha de costa. Os dados relativos à ondulação, cedidos pelo Instituto Hidrográfico

Português, representam os dados recolhidos pela bóia ondógrafo de Leixões, com as

características apresentadas na Figura 4.9.

Bóia ondógrafo de Leixões

Latitude 41º 19’ 00’’ N

Longitude: 8º 59’ 00’’ W

Profundidade: -83mZH;

Parâmetros recolhidos (Hs, Tp, θ);

Período de recolha de dados:

17/7/1996, 18:00 a 31/12/2011, 21:00

Figura 4.9 – Localização da bóia ondógrafo de Leixões, adaptado de (Google, 2013) e características da bóia ondógrafo de Leixões (Instituto Hidrográfico, 2015a).

A bóia ondógrafo de Leixões permite o fornecimento da informação relativa à altura significativa

de onda (𝐻𝑠), o período de pico da onda (𝑇𝑝) e a direcção incidente da onda (𝜃), calculada a

partir do Norte Verdadeiro. Os dados recolhidos da bóia ondógrafo de Leixões datam do intervalo

de 17/7/1996 às 18:00h a 31/12/2011 às 21:00h.

Tipicamente, os dados obtidos distam de um período fixo entre eles de 3horas. Porém, devido a

problemas de medição existem dados que não se encontram nesse período de 3 horas tornando

a série descontínua e irregular, sendo necessário um procedimento para uniformizar e

padronizar. Para o efeito utilizou-se a série de dados obtida por Di Bona (2013), em que se

categorizam os registos da série original em cinco tipos de registos (A,B,C,D,E) consoante a

forma apresentada pelos mesmos (Tabela 4.10).

Tabela 4.10 – Categorização da série original de ondas. Adaptado de Di Bona (2013).

Tipo de registo

Descrição do tipo de registo Nº de

registos

Tipo A Dados registados a cada três horas começando às 00h00m do

presente dia (03h00min) 33324

Tipo B Dados registados a cada três horas, mas com diferentes minutos

(03h min) 2514

Tipo C Dados registados em diferentes horas mas aos zero minutos

(hh 00min) 281

Tipo D Dados recolhidos com diferentes horas e diferentes minutos

(hh min) 3072

Tipo E Sem dados recolhidos a cada 3h00min 11838

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37

4.3.1.1 Análise estatística do clima de agitação marítimo

De maneira a compreender a tendência evolutiva do clima de agitação marítimo recorreu-se à

análise estatística de três parâmetros hidrodinâmicos: altura significativa de onda (𝐻𝑠), o período

de pico da onda (𝑇𝑝) e a direcção incidente da onda (𝜃).

Altura significativa de onda (𝐻𝑠)

A Figura 4.10 apresenta a distribuição da altura significativa de onda, organizada em 21 classes

de frequência. A maior gama de frequências ocorre no intervalo de alturas de ]1m;2m]. O valor

médio de altura significativa de onda é de 2.09m e os valores extremos, máximos e mínimos,

correspondem a 9.7m e 0.35m, respectivamente. Apesar do número reduzido de ondas com

altura de onda significativa superior a 6m e inferior a 0.5m, todas as ondas possuem a

capacidade de transportar sedimentos longitudinalmente, sendo esse transporte proporcional à

potência de 5/2 da altura de onda na rebentação – fórmula CERC – (US Army Corps of Engineers,

1984). Ainda assim, considera-se que o transporte longitudinal provocado por ondas com altura

significativa inferior a 1 metro é pouco significativo.

Figura 4.10 – Frequência de distribuição da altura significativa de onda (Hm0).

Período de pico (𝑇𝑝)

A distribuição do período de pico em 20 classes (Figura 4.11), apresenta como valores mais

frequentes os períodos de pico entre ]9s;12s]. A média da distribuição é de 11.04s, valor

característico da vaga (swell) verificada na região.

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38

Figura 4.11 – Frequência de distribuição do período de pico (Tp)

Nota: Esta distribuição resulta do método usado para suavização do espectro. Em alternativa

poderia ser utilizada uma gama de intervalos superiores ou usar o período médio da onda.

Direcção incidente da onda (𝜃)

Como apresentado na Figura 4.12 a maioria dos eventos ocorre para direcções incidentes no

intervalo ]280º;340º], sendo que a média da distribuição de direcção incidente é de 302.24º.

Figura 4.12 – Frequência de distribuição da direcção incidente da onda (θ).

A relação entre a direcção incidente da onda e a sua altura significativa pode ser observada na

Figura 4.13. A direcção incidente predominante é consistente com a direcção predominante de

chegada de ondulação na costa noroeste portuguesa – direcção noroeste. Cerca de 11% da

ondulação incidente apresenta uma altura significativa inferior a 1m, considerando esta

ondulação em regime calmo, isto é, não apresenta grande relevância no transporte sedimentar

longitudinal.

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39

Figura 4.13 – Distribuição conjunta dos parâmetros Hs – θ do clima de agitação marítima ao largo.

Note-se que a orientação da linha de costa apresentada no gráfico acima resulta de uma

estimativa da orientação da linha de costa ao longo da zona de estudo.

4.3.2 Propagação do clima de agitação marítima

A propagação das ondas do largo para a costa foi realizada através do software Littoral

Processes FM, executando o módulo Littoral Drift sem transporte sedimentar, sendo a ondulação

propagada da profundidade de 83mZH para a profundidade de 15mZH.

Este procedimento carece de algumas simplificações dado que o Littoral Processes FM não se

trata de um modelo específico de propagação de onda, tendo somente acoplado um modelo

hidrodinâmico passível de realizar essa propagação. As simplificações a ter em conta são as

seguintes:

A batimetria é paralela à linha de costa em cada perfil;

O período das ondas permanece constante ao longo da propagação;

O modelo durante a propagação considera somente os fenómenos de empolamento,

refracção e rebentação da onda. Esta propagação é feita de forma linear, não

representando a assimetria da onda;

A rugosidade do fundo é considerada constante ao longo da simulação;

A batimetria gerada, apresentada na Figura 4.14, teve como dados de entrada a Carta Náutica

(batimetria), os Dados LiDAR (topo-batimetria) e os dados INAG/IGeoE 1996 (dados

topográficos).

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40

Figura 4.14 – Batimetria gerada para a propagação da ondulação do largo para a costa.

Quanto às simplificações considera-se que, com a pequena excepção da zona central da malha

gerada, a batimetria de fundo é paralela à linha costa sendo portanto aceite esta simplificação.

Por outro lado, ao longo da propagação das ondas do largo para a costa, o período da onda é o

parâmetro hidrodinâmico que menos se altera, validando a simplificação de este se manter

constante.

Quanto aos fenómenos de alteração da propagação da onda, a refracção é de facto o fenómeno

que mais condiciona essa propagação até à zona de rebentação o que, por sua vez, constitui o

principal fenómeno responsável pelo fluxo de energia capaz de gerar transporte sedimentar.

Deste modo torna-se aceitável que estes sejam os únicos fenómenos de alteração da onda a

serem tidos em conta.

No decurso da utilização do software Littoral Proccess FM definiram-se seis perfis

perpendiculares à linha de costa, com uma extensão suficientemente grande, desde a praia até

a profundidades superiores a 83m. A Tabela 4.11 apresenta os perfis utilizados nesta simulação,

bem como a sua orientação em relação à linha de costa, o espaçamento da malha e o número

de pontos da mesma.

Tabela 4.11 – Perfis transversais utilizados na simulação de propagação da onda.

Perfil Easting (m) Northing (m) Orientação

[graus N] (º)

Espaçamento

da malha (m)

Nº de pontos

da malha (-)

Perfil 1 -76300 143500 99 500 65

Perfil 2 -77300 139700 100 500 65

Perfil 3 -77600 138000 100 500 65

Perfil 4 -78600 134000 102 500 65

Perfil 5 -79600 130000 102 500 65

Perfil 6 -80200 128000 102 500 65

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41

Na Figura 4.15 representam-se os perfis transversais na batimetria da zona de estudo.

Figura 4.15 – Perfis transversais utilizados com a batimetria da zona de estudo.

De referir que foram testadas algumas configurações alternativas para os perfis a considerar, de

forma a estes se manterem o mais perpendicular possível às curvas de nível, sendo a solução

proposta aquela que apresentou melhores resultados.

Uma vez que se pretende uma série de clima de agitação coincidente com a série original,

definiu-se um período de simulação do dia 17/07/1996, às 18:00h até 31/12/2011 às 21:00h, com

um passo de cálculo de 03:00h, totalizando um número de 45161 passos de cálculo.

Como resultado da propagação verifica-se que, à profundidade de 15m e para todos os perfis

definidos, os parâmetros hidrodinâmicos de altura de onda e direcção média incidente são

bastante semelhantes. A Figura 4.16 é esclarecedora disso mesmo, já que da análise às rosas-

dos-ventos dos climas de agitação para os 6 perfis ensaiados, verifica-se uma grande

semelhança quer na direcção incidente da onda quer na percentagem de ondas consideradas

calmas.

Por sua vez, na Figura 4.17 podemos comparar a altura de onda dos seis perfis para a

profundidade de 15m e nos primeiros 25 dias de simulação, concluindo que não existem

diferenças significativas entre os valores obtidos para a altura de onda.

De salientar que, ao longo de todo o período de simulação, foram detectadas algumas diferenças

nos valores obtidos para o Perfil 6, perfil mais a sul. Contudo, apesar das variações registadas

ocorrerem com alguma frequência, foi possível validar o procedimento, uma vez que o perfil em

causa se encontra no limite inferior da zona de estudo, não influenciando negativamente a

restante zona de estudo.

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42

Como tal, dada a uniformidade dos dados em questão é possível prosseguir o estudo assumindo

que o clima de agitação obtido para o Perfil 3 é representativo de toda a zona, conforme resulta

da análise estatística dos parâmetros hidrodinâmicos apresentada na Tabela 4.12.

Tabela 4.12 – Estatística dos parâmetros hidrodinâmicos obtidos na simulação da propagação da onda.

Perfil 1 2 3 4 5 6

Altura de onda (Hrms)

Min -1.00E-

30 -1.00E-

30 -1.00E-

30 -1.00E-

30 -1.00E-

30 -1.00E-

30

Máx 6.427 6.473 6.528 6.502 6.352 5.888

Média 1.960 1.964 1.964 1.973 1.973 1.966

Desvio Padrão

1.045 1.047 1.048 1.052 1.048 1.024

Direcção média

incidente da

onda (θ)

Min 2.853 3.456 3.532 4.146 3.979 3.954

Máx 358.733 358.773 358.783 358.812 358.789 358.785

Média 294.843 295.266 295.325 295.983 295.853 295.834

Desvio Padrão

16.717 16.767 16.812 16.745 16.630 16.614

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43

a) b) c)

d) e) f)

Figura 4.16 – Distribuição conjunta dos parâmetros Hs – θ do clima de agitação marítima ao largo. a) Perfil 1; b) Perfil 2; c) Perfil 3; d) Perfil 4; e) Perfil 5; f) Perfil 6.

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44

Figura 4.17 – Comparação da altura de onda obtida na simulação de propagação da onda para os 6 perfis definidos, para os primeiros 25 dias de simulação

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45

4.4 Maré astronómica

“Para se ter um conhecimento da maré com valor prático é necessário ter uma percepção correcta dos

níveis de referência. As previsões de maré efectuadas pelo Instituto Hidrográfico (IH) são referidas ao

nível do Zero Hidrográfico (ZH), que é o nível de referência utilizado na medição das sondas reduzidas

e das alturas da maré, situado perto do nível atingido pelas mais baixas baixa-mares. Porém, a

referência assumida em Portugal na determinação de cotas ou altitudes, é o Nível Médio Adoptado

(NMA) que corresponde ao nível médio do mar em Cascais, determinado a partir de mais de 50 anos

de dados maregráficos centrados em 1910” (Martins & Reis, 2007).

Os níveis de maré e planos de referência adoptados nesta dissertação correspondem aos sugeridos

pelo Instituto Hidrográfico Português e apresentam-se na Figura 4.18.

Figura 4.18 – Níveis de maré e planos de referência adoptados pelo Instituto Hidrográfico (Instituto Hidrográfico, 2015b).

Por observação da figura podemos verificar que o nível médio do mar, assinalado na figura como NM,

corresponde à posição que a superfície livre do mar teria na ausência dos efeitos da maré astronómica

e também dos efeitos meteorológicos (não abordados nesta dissertação).

A acção da agitação marítima encontra-se sempre associada, por sobreposição, aos efeitos da maré.

Na costa portuguesa, as marés astronómicas, com cerca de 4m de amplitude são do tipo semi-diurnas,

isto é, verifica-se a existência de duas baixas-mares e de duas praias-mares ao longo do dia.

Com recurso ao software WXTide32 (Hopper, 2007) foram retirados os valores de maré no período de

17/7/1996, às 18:00h até 31/12/2011 pelas 21:00h, com um passo de cálculo de 03:00h, totalizando

um número de registos igual a 45161, número igual ao número de eventos climáticos na série de ondas.

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46

A Figura 4.19 representa, a título exemplificativo, as marés obtidas para o período das 18:00h do dia

27/12/2011 às 21:00h do dia 31/12/2011.

Figura 4.19 – Registo de maré astronómica do dia 27/12/2011 das 18h00 às 21h00 do dia 31/12/2011, obtido pelo software WXTide32.

A análise estatística dos valores obtidos demonstram que a média de valores é de +2.001161m e a

amplitude de valores de maré astronómica se situa entre os +0.17m e os +3.89m. Valores das tabelas

de marés para o ano de 2006 (Instituto Hidrográfico, 2005) permitiram validar os dados obtidos pelo

software WXTide32, através da comparação de alguns valores dos níveis de maré.

4.5 Obras de engenharia costeira

Da pesquisa às obras de engenharia costeira existentes na área de estudo verifica-se a existência de

cinco esporões e de dois conjuntos de defesas frontais aderentes (CEHIDRO, 1998), identificados na

Figura 4.20.

Figura 4.20 – Obras costeiras existentes na zona de estudo, datadas de 1996.

É importante referir que ao longo da dissertação a representação das obras de engenharia costeira é

meramente ilustrativa da sua posição, não sendo as mesmas representadas com o seu real

comprimento e localização, devido à sua geometria variável e à ordem de grandeza das unidades

apresentadas nos gráficos.

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

Nív

el de m

aré

(m

)

Registo de maré astronómica (3 em 3 horas)

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47

Complementarmente, uma visita ao local permitiu a observação das obras de protecção costeira

estando apresentados, nas figuras seguintes, os esporões existentes. A visita ao local é datada de 5

de Setembro de 2015, entre as 16 horas e as 18 horas.

O esporão limitador da fronteira norte localiza-se em Maceda com cerca de 230 m de comprimento e

apresenta, a sotamar, a linha de costa junto ao seu enraizamento, estando o mar bastante próximo do

cordão dunar, sendo visíveis os efeitos da erosão sobre o mesmo. (Figura 4.21).

Figura 4.21 – Esporão de Maceda. Visita ao local (5/9/2015).

Os três esporões existentes no Furadouro datam de 1972-73 e o esporão a norte encontra-se,

actualmente, completamente soterrado em areia, sendo a sua utilidade de momento nula. A sul, o

esporão existente sofreu alterações na sua localização, tendo sido movido mais para sul.

A defesa frontal que une o enraizamento dos dois esporões começou a ser construída em 1959, unindo

hoje por completo ambas as estruturas e prolongando-se ainda mais para sul do segundo esporão. O

esporão do Furadouro Norte encontra-se junto ao limite da linha de água estando, à hora observada, a

cabeça do esporão a coincidir com a zona de rebentação das ondas. (Figura 4.22).

Figura 4.22 – Esporão do Furadouro Norte. Visita ao local (5/9/2015).

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48

A sotamar, o mar encontra-se junto à defesa frontal aderente do Furadouro Centro criando, mais a sul,

uma pequena extensão de praia a barlamar do esporão do Furadouro Sul (Figura 4.23).

Figura 4.23 – Furadouro. Visita ao local (5/9/2015). a) Esporão do Furadouro Norte e Defesa Frontal Aderente do Furadouro Centro b) Esporão do Furadouro Sul.

A primeira intervenção de engenharia costeira na Torreira data de 1974 com a construção de uma

pequena defesa frontal em enrocamento e, seis anos depois, com a construção de um esporão. Na

Figura 4.24, observa-se que o Esporão da Torreira se encontra parcialmente soterrado em areia,

existindo uma extensão de 15 m de praia, da cabeça do esporão até ao limite de espraiamento da onda.

Figura 4.24 – Esporão da Torreira. Visita ao local (5/9/2015).

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49

De seguida apresenta-se, na Tabela 4.13, a informação sobre as obras costeiras existentes na zona

de estudo. Note-se que as coordenadas apresentadas referem-se à zona do cabeço dos molhes, no

caso dos esporões.

Tabela 4.13 – Coordenadas de localização das obras costeiras existentes na zona de estudo.

Designação da Obra Easting (m) Northing (m)

Esporão de Maceda -44593.00 140395.00

Esporão do Furadouro Norte

-46050.00 133970.00

Esporão do Furadouro Sul

-46135.00 133407.00

Esporão da Torreira -49280.00 121103.00

Defesa frontal aderente Furadouro Centro

-45900.00 133916.00

-46000.00 133425.00

Defesa frontal aderente Furadouro Sul

-46000.00 133425.00

-46006.00 133209.00

Defesa frontal aderente Torreira

-49180.00 121103.00

-49100.00 121303.00

4.6 Sedimentologia

A análise das propriedades dos sedimentos é uma componente com bastante importância na temática

da evolução litoral, na medida em que influencia o transporte longitudinal dos próprios sedimentos. A

zona em estudo apresenta uma composição maioritariamente baseada em areias pouco graduadas,

sendo o valor do diâmetro nominal médio, 𝑑50, definido em 0,5 mm – conforme estudos anteriores

(Sena, 2010; Di Bona, 2013). A densidade relativa do material, 𝑠, foi definida em 2.65 tendo em conta

os valores de referência para a areia de quartzo e a porosidade do material definiu-se em 0.4.

A velocidade de queda das partículas, 𝑤, determinou-se de acordo com a fórmula de Rubey (1933),

em que, para uma partícula de diâmetro 𝑑𝑠, a sua velocidade de queda 𝑤 é dada por:

𝑤 = √𝑔(𝑠 − 1)𝑑𝑠 ((2

3+

36𝑣2

𝑔(𝑠 − 1)𝑑𝑠3

)

12

− (36𝑣2

𝑔(𝑠 − 1)𝑑𝑆3)

12

)

(4.1)

Onde 𝑠 é a densidade relativa dos sedimentos, 𝑔 é a aceleração da gravidade e 𝑣 é a viscosidade

cinemática dada pela equação:

𝑣 = (1.78 − 0.0570812𝑇𝑤 + 0.00106177𝑇𝑤2 − 8.27141 ∗ 10−6𝑇𝑤

3) ∗ 10−6 (4.2)

Em que 𝑇𝑤 representa a temperatura da água (considerada a 15ºC nesta dissertação).

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50

A velocidade de queda, 𝑤, fixou-se em 0.06 m/s.

A rugosidade de fundo traduz a resistência da passagem do escoamento numa determinada superfície

dificultando, assim, o transporte sedimentar. Esta rugosidade depende do tipo de fundo (com dunas,

rugas, etc.) e do tamanho dos sedimentos, sendo definida pela rugosidade de Nikuradse (𝑘𝑛). Para

casos em que não existe configuração de fundo este parâmetro pode ser estimada pela expressão de

Nielson (1979):

𝑘𝑛 = 2.5 𝑑50 (4.3)

Os valores de rugosidade do fundo, para todos os perfis transversais definidos são apresentados no

subcapítulo § 5.1.1.

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51

5 MODELO LITTORAL PROCESSES FM: CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO

Este capitulo tem como objectivo a compreensão do modelo numérico realizado através do software

Littoral Processes FM. A primeira parte apresenta o processo de calibração do modelo, nomeadamente

as considerações assumidas, as limitações e os parâmetros usados na construção do modelo

numérico, enquanto a segunda parte fornece informações sobre a validação do modelo.

5.1 Calibração do modelo

A fase de calibração do modelo tem como objectivo a obtenção da linha de costa em 2001, partindo da

linha de costa inicial de 1996, de forma a ajustar os parâmetros de cálculo introduzidos no modelo. O

passo de cálculo utilizado neste procedimento é de 3 horas, com início no dia 17/7/1996 às 18:00h.

5.1.1 Definição dos perfis transversais

No modelo computacional definem-se 5 perfis transversais, localizados como indica a Figura 5.1, e com

as características apresentadas na Tabela 5.1. Os perfis transversais permitem a definição de um

gradiente de transporte sedimentar ao longo do trecho em estudo, forçando o ajustamento da linha de

costa.

Para tal, os perfis transversais são definidos perpendicularmente à linha de costa, em igual número de

pontos na malha de cálculo e com a mesma equidistância entre si. Em complemento, o primeiro ponto

do perfil, ao largo, tem de se situar a uma profundidade de modo a não serem sentidos os efeitos da

corrente gerada pela agitação marítima. Por outro lado, os últimos dois pontos dos perfis junto à costa

têm de se encontrar secos, isto é, acima do nível de água.

Figura 5.1 – Perfis transversais ao longo do trecho em análise.

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52

Os perfis transversais foram gerados através do software Mesh Generator – MIKE Zero (DHI, 2012)

utilizando os dados topográficos e batimétricos apresentados anteriormente (subcapítulo § 4.2):

A informação da Carta Náutica define a batimetria até aos 10m de profundidade;

Os Dados LiDAR fornecem a informação entre os 10m e os 2m de profundidade;

A topografia, acima da curva de nível +2m, é obtida da informação do INAG/IGeoE 1996;

Entre as curvas de nível -2m e +2m é gerada a batimetria, através do software Mesh Generator.

Na Figura 5.2 apresentam-se os perfis transversais definidos para a zona de estudo referidos em

relação ao NMM.

Figura 5.2 – Perfis transversais obtidos dos perfis transversais gerados através do Mesh Generator.

Quanto aos perfis transversais obtidos verificam-se duas morfologias distintas relacionadas com a sua

localização ao longo da zona de estudo. Os Perfis 1 e 2, situados no Torrão do Lameiro e na Torreira,

respectivamente, apresentam uma configuração que, mais ao largo, revela uma batimetria inferior do

que em relação aos Perfis 3, 4 e 5, localizados no trecho Furadouro – Maceda. Na zona activa da praia

observa-se que a altura da berma pode variar entre os 4 e os 6 metros.

O software Littoral Processes FM tem como limitação a utilização de 5 perfis transversais na execução

do módulo de evolução de linha de costa. Dada a extensão do trecho em estudo não se consegue obter

um ajustamento preciso da linha de costa dificultando assim o processo de calibração. Na Tabela 5.1

apresentam-se as principais características dos perfis transversais definidos.

Tabela 5.1 – Perfis transversais utilizados no módulo de transporte litoral.

Easting

(m) Northing

(m)

Orientação

[graus N] (º)

Espaçamento da

malha (m)

Nº de pontos

da malha (-) Rugosidade de

fundo (m)

Perfil 1 -53950 121750 102 10 500 0.0001

Perfil 2 -51800 130000 100 10 500 0.001

Perfil 3 -50750 134000 101 10 500 0.01

Perfil 4 -49600 139500 101 10 500 0.0007

Perfil 5 -49250 141150 98 10 500 0.07

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53

Para cada passo de cálculo a batimetria é directamente retirada da malha de cálculo criada, não

existindo, portanto, um perfil batimétrico representativo de toda a zona. Na Figura 5.3 apresenta-se, a

título de exemplo, o perfil batimétrico do Perfil 1.

Figura 5.3 – Perfil transversal 1, gerado através do Mesh Generator.

5.1.2 Sedimentologia e características do fundo

Tal como referido no subcapítulo § 4.6, o diâmetro médio dos sedimentos, 𝑑50, foi definido em 0.5mm,

com uma velocidade de queda associada de 0.06 m.s-1. Para a cota de berma, 𝑑𝐵, considera-se a cota

mais alta da praia junto à costa, valor para o qual o perfil transversal se move, acima do NM.

De acordo com o estudo atrás mencionado (Di Bona, 2013), definiu-se o valor de 4 metros para a cota

de berma. Segundo Hanson & Kraus (1989) a profundidade de fecho, 𝑑𝐶 ,pode ser estimada como

sendo duas vezes a altura significativa máxima na área de interesse, adoptando o valor de 12m para a

profundidade de fecho.

Por sua vez, a porosidade, parâmetro que controla a deriva sedimentar foi estimada em 0.4. Neste caso

de estudo não se considerou o efeito de rugas no fundo do leito, tendo o parâmetro critico de Shields

o valor de 0.045.

5.1.3 Condições de fronteira lateral.

As condições de fronteira lateral são, geralmente, expressas em relação ao nível de quantidade de

sentimentos à entrada e à saída da zona de estudo.

No caso do Littoral Processes FM, esta quantidade pode ser controlada pela definição da rugosidade

de fundo em duas secções fundamentais: a secção a barlamar do esporão de Maceda – que limita a

entrada de sedimentos; e a secção a sotamar do esporão da Torreira – que define a quantidade de

sedimentos de saída.

Ao serem modificadas as rugosidades de fundo dos perfis são alteradas as capacidades de transporte

dessas zonas forçando, assim, a passagem de mais ou menos sedimentos. Deste modo, pode ser

controlada a deriva litoral ao longo da zona em análise, a fim de obter o ajustamento desejável para a

posição da linha de costa.

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54

De acordo com estudos anteriores (Teixeira, 2006; Henriques, 2007), o valor médio de sedimentos

medidos para a área de estudo é de um milhão de metros cúbicos de sedimentos por ano,

aproximadamente. Desta feita, para o Perfil 1, definiu-se uma rugosidade de 0.0001m, a fim de se

assegurar uma passagem anual de 1 090 000 m3. Junto a Maceda, o Perfil 5 controla a entrada de

sedimentos neste área, assumindo-se um valor de rugosidade igual a 0.07m para controlar a entrada

de sedimentos para num valor total de 358 000 m3/ano.

De notar que, com o objectivo de limitar a entrada de sedimentos no trecho em estudo, prologou-se o

comprimento do esporão de Maceda em 300 metros. Desta simplificação resulta uma grande

quantidade de sedimentos retidos no esporão de Maceda, o que origina a erosão no trecho em estudo.

5.1.4 Permeabilidade das obras marítimas

As obras marítimas não tem a capacidade de reter todos os sedimentos que lhe chegam, situação em

que é possível definir um comprimento de bypass – comprimento para o qual o esporão deixa de ser

totalmente eficiente. Neste cenário, o esporão passa a ter um comprimento aparente para o qual os

sedimentos são efectivamente bloqueados.

Durante a fase de calibração do modelo foram testadas muitas hipóteses quanto ao comprimento de

bypass das obras marítimas concluindo-se que, para além de existir um comprimento para o qual as

obras marítimas deixam de ser eficientes no bloqueio de sedimentos, essa influência na evolução

costeira é bastante significativa e não pode ser estimada apenas com dois registos da posição de linha

de costa – 2001 e 2011.

Deste modo, assumiu-se que as obras costeiras bloqueiam a passagem de todos os sedimentos

prevendo-se, como consequência, a saturação completa destas estruturas a barlamar – algo que, na

realidade, não se verificou.

Na Tabela 5.2 apresentam-se as obras costeiras presentes na simulação de calibração, bem como os

seus comprimentos.

Tabela 5.2 – Obras costeiras na zona de estudo.

Designação Easting (m) Northing (m) Comprimento (m)

Esporão de Maceda -44993.00 140500.00 215

Esporão do Furadouro Norte -46050.00 133970.00 135

Esporão do Furadouro Sul -46135.00 133407.00 140

Esporão da Torreira -49280.00 121103.00 120

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55

5.1.5 Resultados da calibração

Os resultados finais da calibração podem ser observados na Figura 5.4, verificando-se que a linha de

costa obtida é aproximada à linha de costa de 2001.

Figura 5.4 – Posição da linha de costa obtida no processo de calibração.

Numa análise mais detalhada da simulação pode concluir-se:

No trecho 1, de Maceda ao Furadouro, a linha de costa determinada apresenta pequenas

variações face à realidade em 2001, estando a maior diferença a barlamar do esporão do

Furadouro Norte – o que corresponde a uma situação de acreção junto ao esporão;

Junto às obras do Furadouro, a calibração apresenta resultados bastante aproximados com a

linha de costa de 2001, registando-se a rotação do trecho para ficar perpendicular à direcção

incidente da onda dominante;

A sotamar do esporão do Furadouro Sul regista-se uma erosão acentuada provocada pelo

défice de sedimentos bloqueados pelas estruturas do Furadouro;

Entre os quilómetros 6 e 13.6, do Furadouro ao Torrão do Lameiro, a simulação apresenta uma

variação na ordem dos 25 metros, com excepção da extensão entre o quilómetro 11 e o

quilómetro 13, em que se regista uma acentuada erosão;

No trecho 3, do Torrão do Lameiro à Torreira, a posição de linha de costa apresenta o mesmo

alinhamento e orientação da linha de costa de 2001, validando a calibração realizada;

No que respeita ao Perfil 3, em especial na zona próxima do Furadouro, o facto da rugosidade de fundo

definida para este troço ser consideravelmente baixa (0.01m) faz com que a previsão da quantidade de

sedimentos a atravessar esta área seja superior à real, aumentando, por essa via, a acreção registada.

Por outro lado, a impossibilidade da definição de um número superior de perfis transversais foi outra

das razões para a difícil calibração desta zona, situação que permitiria uma melhor quantificação dos

sedimentos transportados nesse trecho e a criação de gradientes de transporte mais suaves e

adaptados a cada zona.

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56

Em termos gerais, a variação da linha de costa da simulação face ao levantamento do INAG/IGeoE

2001 pode ser explicada devido a dois pontos: o clima de agitação marítima e a incerteza na

quantificação dos caudais sedimentares.

Em primeiro lugar, no processo de preenchimento das falhas no clima de agitação marítimo realizado

por Di Bona (2013), 56.6% dos dados em falta dizem respeito à estação de Inverno e foram substituídos

por valores médios, sendo que, em teoria, as alturas de onda são superiores durante esta estação.

Em segundo lugar, o número reduzido de perfis transversais definidos origina uma grande incerteza e

variabilidade em relação aos caudais de transporte na zona de estudo. Neste sentido, uma pequena

variação dos gradientes de transporte definidos conduz a uma significativa alteração da posição da

linha de costa obtida na simulação, verificando-se grandes diferenças na comparação com os

levantamentos topográficos no INAG/IGeoE 2001.

A Figura 5.5 apresenta, para o período de calibração, os resultados obtidos no que respeita à altura de

onda, nível de água e à velocidade da corrente longitudinal provocada pela rebentação. Da análise a

esta figura conclui-se que a velocidade da corrente é o principal factor responsável pelo transporte dos

sedimentos (e consequente erosão costeira), uma vez que regista o valor de, aproximadamente, 1 m/s

na zona activa da praia.

Os valores apresentados dizem respeito ao Perfil 1 definido no subcapítulo § 5.1.1.

Figura 5.5 – Velocidade da corrente e altura de onda, para o perfil transversal 1, obtido na fase de calibração do modelo.

5.2 Validação do modelo

A validação do modelo computacional é feita através da execução do módulo de evolução costeira sem

a alteração de qualquer parâmetro utilizado na calibração, por forma a alcançar a posição da linha de

costa em 2011.

Para tal, o ponto inicial da simulação corresponde à posição da linha de costa em 2001, utilizando-se

um passo de cálculo de 3h, para um período de simulação de 10 anos.

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57

5.2.1 Resultados da validação

A Figura 5.6 apresenta os resultados obtidos no processo de validação do modelo matemático.

Figura 5.6 – Linha de costa obtida na validação do modelo

Nesta figura, pode observar-se que, de um modo geral, a linha de costa obtida apresenta uma tendência

semelhante à registada pelos Dados LiDAR, destacando-se os seguintes pontos:

A linha de costa obtida até ao quilómetro 13.6, junto da obra do Furadouro Sul, é bastante

aproximada à linha de costa do levantamento topográfico LiDAR 2011, podendo afirmar-se que,

para este trecho, o modelo matemático se encontra validado;

A tendência de aumento da erosão junto ao esporão do Furadouro Sul em relação ao restante

trecho Furadouro – Torreira mantém-se, sustentando a hipótese deste se encontrar em rotação

em relação ao esporão da Torreira;

No trecho Maceda – Furadouro regista-se a acreção da linha de costa, em virtude do facto do

modelo considerar a acumulação de sedimentos a barlamar do esporão do Furadouro Norte,

situação que levará à sua saturação. No entanto, prevê-se que esta tendência seja revertida

nos próximos anos de simulação, após a saturação total do esporão do Furadouro Norte e o

início da rotação em relação a essa mesma estrutura;

Do quilómetro 17 ao esporão de Maceda verifica-se o fenómeno de erosão a uma taxa de recuo

de 0.5m/ano, ainda assim inferior à taxa de recuo verificada através dos Dados LiDAR.

Apesar do fenómeno de acreção junto ao esporão do Furadouro Norte não ser consistente com os

Dados LiDAR considera-se validado o modelo matemático apresentado, assumindo as diferenças

observadas como uma limitação do software e utilizando a linha de costa observada no dia 1/1/2011

para as simulações de cenários futuros.

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59

6 SIMULAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA LINHA DE COSTA EM VÁRIOS CENÁRIOS

Este capítulo apresenta a evolução da linha de costa do trecho em estudo para os seguintes cenários

de simulação:

o cenário Do Nothing, em que a zona costeira não é alvo de nenhuma intervenção a nível de

obras de protecção costeira;

o cenário de Protecção com Campo de Esporões, proposto pela empresa Hidrotécnica

Portuguesa;

o cenário de Protecção com Quebramares Destacados.

Todos os parâmetros utilizados no modelo correspondem aos definidos na fase de calibração e

validação, não sendo os mesmos alterados nestas simulações.

Pelo facto do clima de agitação marítimo, fornecido pelo Instituto Hidrográfico, ser respeitante ao

período de 1996 a 2011 e, uma vez que as simulações futuras ultrapassam essa escala temporal,

assume-se que o clima de agitação marítimo é uma repetição da série facultada, estando o modelo

hidrodinâmico a ser executado no formato de looping. Esta simplificação assume que a série de

agitação marítima futura se manterá com características semelhantes à respeitante ao período de 1996

a 2011.

6.1 Simulação até à presente data.

Neste subcapítulo é simulada a linha de costa até ao dia 1/1/2016, assumida para esta dissertação

como sendo a data presente, a fim de não serem simulados cenários futuros partindo da posição de

linha de costa em 2011. Deste modo, executa-se o modelo numérico até esta data, assumindo que as

futuras intervenções a nível de obras de protecção costeira são introduzidas neste momento.

A Figura 6.1 apresenta o resultado da simulação até ao dia 1/1/2016, sendo especialmente relevante

por se tratar do ponto de partida para os cenários futuros.

Figura 6.1 – Linha de costa para a simulação até à data presente (1/1/2016).

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60

Na Tabela 6.1 apresentam-se os resultados da deriva litoral calculada através do módulo Littoral Drift,

para o período de simulação de 1996 a 2016 e que engloba a simulação de calibração, validação, e

simulação até à data presente.

Tabela 6.1 – Deriva litoral para o período de simulação (1996-2016).

Calibração, Validação e Simulação até à data presente (1996-2016)

Perfil nº Sedimentos acumulados no período de simulação

(m3)

Deriva sedimentar

anual (m3/ano)

Rugosidade de fundo (m)

1 2.12E+07 1.09E+06 0.0001

2 1.49E+07 7.65E+05 0.001

3 8.21E+06 4.22E+05 0.01

4 1.84E+07 9.45E+05 0.0007

5 6.96E+06 3.58E+05 0.07

Da análise dos dados verifica-se que os Perfis 1 e 4 apresentam uma deriva litoral na ordem de um

milhão de sedimentos por ano, em contrapartida com os restantes perfis que apresentam uma deriva

litoral substancialmente mais reduzida. Este facto deve-se à necessidade de se criar um gradiente de

transporte sedimentar tal que induza erosão/acreção em determinados trechos específicos.

6.2 Cenário Do Nothing

O objectivo desta simulação passa pela definição da posição de equilíbrio da linha de costa, numa

situação em que se replicam as condições do clima de agitação marítimo (1996-2011) e não se

contempla a alteração ou introdução de novas obras marítimas que levem à modificação da linha de

costa e da sua tendência de erosão/acreção.

Na Figura 6.2 e Figura 6.3 é apresentada a evolução da linha de costa de dez em dez anos até ao

limite temporal estabelecido (2056) e a comparação da linha de costa em 2016 e 2056,

respectivamente, verificando a tendência generalizada de erosão em toda a área de estudo.

De uma análise mais detalhada pode concluir-se que:

No trecho 1 (Maceda ao Furadouro) regista-se uma erosão acentuada entre os quilómetros 16

e 18, com uma taxa de erosão de 1,25 m/ano, validando a hipótese deste trecho estar em

rotação face o esporão do Furadouro Norte;

O trecho 2 (Furadouro ao Torrão do Lameiro) apresenta a maior taxa de erosão, na ordem dos

2,25 m/ano. Este fenómeno está directamente relacionado com o défice sedimentar existente

nesta zona e com a hipótese deste trecho se encontrar em rotação face ao esporão da Torreira,

dado que é corroborado pela diminuição da taxa de erosão no trecho 3 (Torrão do Lameiro à

Torreira) – tornando-o mais estável;

Na zona entre os esporões do Furadouro é de notar uma flutuação da posição da linha de costa

concordante com a tendência de erosão/acreção sentida nessa zona;

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61

A menor extensão do trecho 1 face aos trechos 2 e 3 faz com a rotação desse troço seja

efectuada a uma velocidade superior;

Nas simulações efectuadas até 1/1/2056 não é atingida a posição de equilíbrio na zona, uma

vez que os trechos continuam a apresentar elevadas taxas de erosão. Este desequilíbrio pode

ser justificado pela natural falta de fornecimento de sedimentos e pelo prolongamento, já

justificado, do comprimento do Esporão de Maceda;

À medida que a rotação dos trechos atinja valores aproximados aos do estudo do

CEHIDRO/INAG, (1998) – aproximadamente 20º N-S, a zona de estudo tende a encontrar a

posição de equilíbrio.

Em suma, o presente cenário permite estimar a perda de território para um período de 40 anos em

cerca de 960 200 m2, o equivalente a, aproximadamente 96 hectares e traduz uma perda de 19,7 % do

terreno costeiro da zona de estudo.

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62

Figura 6.2 – Cenário Do Nothing. Posições de linha de costa obtidas de 10 em 10 anos.

Figura 6.3 – Posição da linha de costa em 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário Do Nothing.

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63

6.3 Cenário de Protecção com Campo de Esporões – a proposta da

Hidrotécnica Portuguesa

Em Agosto de 1981, a empresa Hidrotécnica Portuguesa, Consultores para Estudos e Projectos (HP),

apresenta o estudo “Leixões-Cabo Mondego. Problemas Litorais” com dois objectivos principais:

compreender o transporte sedimentar e regime litoral no troço costeiro entre Leixões e o Cabo Mondego

e propor um plano geral de obras para controlar o problema da erosão costeira que começava, à data,

a alertar as autoridades responsáveis.

6.3.1 Plano de obras

No estudo acima mencionado estava prevista a construção de 19 obras marítimas no troço Espinho –

S. Jacinto, sendo que, na zona de estudo Maceda – Torreira, era prevista a construção de nove

esporões novos e o prolongamento de um esporão existente.

Em concreto, no trecho 1 (Maceda ao Furadouro) estava prevista a construção de três esporões com

um comprimento aproximado de 250 m e distanciados entre si de dois quilómetros. Delimitadas pelos

esporões de Maceda e do Furadouro Norte, estas obras previam a formação de praias em espiral

aceitando, no sentido do transporte sedimentar, uma erosão controlada junto ao esporão anterior e

uma acumulação de sedimentos junto ao esporão seguinte.

A adopção da praia em espiral no lugar do clássico campo de esporões permite reduzir em menos de

metade o número de obras de protecção costeira, razão que se afigura bastante significativa para

justificar a perda adicional de território litoral, tanto mais que, volta a frisar-se, essa perda é controlada

no espaço e no tempo.

Do Furadouro à Torreira (trechos 2 e 3), o estudo da Hidrotécnica Portuguesa previa a construção de

seis esporões com comprimentos e espaçamentos similares aos do trecho 1 – 250 m e dois

quilómetros, respectivamente. Tal como no estudo do (CEHIDRO, 1998) admite-se como orientação

de equilíbrio estático entre as praias da zona de estudo valores entre os 18º e 22º face à direcção N-S.

De ressalvar, que no Furadouro, à data do estudo da Hidrotécnica Portuguesa, o esporão mais a Norte

não estava soterrado não sendo, portando, tido em consideração para as simulações seguintes. Por

outro lado, o estudo contemplava a ampliação do esporão do Furadouro Sul na ordem das dezenas de

metros, algo que, devido à pouca significância, não foi tido em consideração.

Por último, as obras previstas junto ao Furadouro para salvaguardar o aglomerado urbano existente

distam entre si cerca de um quilómetro, ao invés dos dois quilómetros do campo de esporões, limitando

assim o troço erodível.

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64

6.3.2 Simulação do cenário de protecção

A Tabela 6.2 apresenta as localizações adoptadas para as obras consideradas nesta simulação, sendo

a sua localização indicada na Figura 6.4. A presente simulação tem início no dia 1/1/2016, data em que

se admite a construção do campo de esporões.

Para além do campo de esporões admite-se ainda a existência das defesas frontais aderentes definidas

no subcapítulo § 4.5 (Figura 4.20). Note-se que os pontos apresentados dizem respeito à cabeça dos

esporões.

Tabela 6.2 – Cenário de Protecção com campo de esporões. Localização das obras simuladas no estudo da Hidrotécnica Portuguesa.

Designação da Obra Easting (m) Northing (m)

Esporão de Maceda -44993.00 140500.00

Esporão do Furadouro Norte -46050.00 133970.00

Esporão do Furadouro Sul -46135.00 133407.00

Esporão da Torreira -49280.00 121103.00

Esporão E1.1 -44825.00 138500.00

Esporão E1.2 -45260.00 136500.00

Esporão E1.3 -45840.00 134500.00

Esporão E2.1 -46240.00 132500.00

Esporão E2.2 -46770.00 130500.00

Esporão E2.3 -47240.00 128500.00

Esporão E3.1 -47760.00 126500.00

Esporão E3.2 -48310.00 124500.00

Esporão E3.3 -48860.00 122500.00

A Figura 6.4 apresenta os resultados obtidos quanto à evolução da linha de costa, em períodos de 10

anos, até 1/1/2056 verificando-se, tal como previsto, a formação de praias em espiral.

Na zona do Furadouro, devido à localização dos esporões E1.3 e E2.1 a uma distância inferior em

relação aos já existentes, observa-se um maior abrigo da zona ao fenómeno de erosão, já que diminui

a extensão das zonas potencialmente erodíveis.

A maior acreção e, por sinal, a mais benéfica, verifica-se junto dos esporões E2.1 e E2.2, uma vez que

se situam numa zona que, tal como observado no Cenário Do Nothing, é bastante afectada pelo recuo

da linha de costa devido à rotação em relação ao esporão da Torreira. Esta acreção é acentuada devido

ao posicionamento mais adiantado destes esporões face aos restantes, decisão tomada pela

necessidade acrescida de recuperar território litoral.

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65

Com a introdução destas obras e do esporão E1.3 é possível garantir um maior abrigo no Furadouro

face à erosão costeira criando, ainda, cerca de 100 m de praia, na sua maior extensão a sul desta

localidade.

Junto ao esporão de Maceda, a evolução de linha de costa deve ser entendida com cautela, uma vez

que a configuração apresentada tem em conta o prolongamento de 300 metros desse esporão

(assumido na fase de calibração), não se traduzindo na real evolução do trecho. A sua configuração

tende a ser semelhante à verificada no trecho anterior.

Apesar da generalizada erosão ao longo da zona de estudo, é de notar que no trecho Torrão do Lameiro

– Torreira este fenómeno ocorre a uma taxa superior à verificada para os restantes trechos, atingindo

o seu valor máximo no trecho E3.2 – E3.3, com valores de recuo de 3,25m/ano.

Quanto à perda de território litoral, verifica-se que a solução de Protecção com Campo de Esporões

origina uma perda de cerca de 17,1% do território litoral da zona de estudo, o que corresponde a 85

hectares de praia – valor inferior ao do Cenário Do Nothing. Em comparação, a diferença entre ambos

os cenários cifra-se, maioritariamente, na acumulação de sedimentos verificada no trecho 1: Maceda –

Furadouro.

A estimativa de erosão / acreção não se deve cingir apenas ao volume de sedimentos erodidos ou

acumulados, mas também à zona em que esses fenómenos ocorrem. Tendo em consideração tal facto,

considera-se que o cenário de Protecção com Campo de Esporões oferece uma solução benéfica para

a mitigação da erosão na zona do Furadouro, ao invés do cenário Do Nothing em que o recuo da linha

de costa é acentuado por toda a zona de estudo.

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Figura 6.4 – Cenário de protecção com campo de esporões. Posições da linha de costa obtidas de 10 em 10 anos.

Figura 6.5 – Posição da linha de costa em 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário de Protecção com campo de esporões.

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6.4 Cenário de Protecção com Quebramar Destacado

Este cenário tem como objectivo o estudo da evolução da linha de costa com a introdução de

quebramares destacados ao longo da zona de estudo. Os quebramares destacados permitem não só

a criação de condições de abrigo (mais calmas), como também a criação de área útil de praia para fins

balneares.

À semelhança dos restantes cenários, as simulações começam no dia 1/1/2016, terminando quando

for atingida a posição de equilíbrio ou a formação do tômbolo junto ao quebramar destacado. As

seguintes subsecções apresentam as variantes simuladas para o cenário apresentado.

6.4.1 Cenário A: um quebramar destacado junto ao esporão do Furadouro Norte

Sendo o Furadouro a zona mais afectada da zona em estudo, optou-se pela definição de um cenário

de protecção que visa a construção de um quebramar destacado alinhado com o esporão do Furadouro

Norte e com desenvolvimento para norte (Figura 6.6).

Figura 6.6 – Cenário A de protecção com quebra-mar destacado.

O quebramar destacado encontra-se localizado, aproximadamente, ao longo da batimétrica dos 5 m

(NMM), com orientação paralela à linha de costa e um comprimento de 300 m – igual à distância desta

estrutura à linha de costa.

Tal como proposto pelo US Army Corps of Engineers (1984), esta relação entre o comprimento e a

distância do quebramar à linha de costa é aquela que promove a formação de tômbolos em quebramar

destacados.

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Ainda que não seja consensual entre a comunidade científica, a relação que conduz à formação de

tômbolos em quebramares destacados simples pode ser dada, segundo US Army Corps of Engineers

(1984), pela expressão (6.1), em que 𝐿𝐵 corresponde ao comprimento do quebramar destacado e 𝑋𝑐 à

distância do quebra-mar destacado à linha de costa:

𝐿𝐵/𝑋𝐶 ≥ 1.0 (6.1)

Na Tabela 6.3 apresenta-se a localização exacta do quebra-mar destacado do Furadouro Norte.

Tabela 6.3 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Norte.

Obra de engenharia costeira Start Easting

(m) Start Northing

(m) End Easting

(m) End Northing

(m)

Quebramar Destacado do Furadouro Norte -46325.00 134108.00 -46210.00 134367.00

A Figura 6.7 apresenta os resultados da simulação do Cenário A – Cenário de protecção com um

quebramar destacado alinhado com o esporão do Furadouro Norte.

Analisando o resultado obtido verifica-se que não ocorre a formação do tômbolo, sendo atingido o

quase-equilíbrio dinâmico junto à obra costeira, ao fim de 40 anos de simulação. No entanto, verifica-

se a formação de um saliente com cerca 180 m, na sua maior extensão, constituindo uma acreção à

taxa de 4,5 m/ano.

Complementarmente, observa-se que a erosão acentuada a sotamar do esporão do Furadouro Sul

(200 m) encontra-se directamente relacionada com a formação do saliente a norte do Furadouro, sendo

perfeitamente notório o seu acentuamento na primeira simulação intermédia, datada de 2026. Dado o

grande fluxo sedimentar em apenas 10 anos o saliente atinge uma posição de quase-equilíbrio aliado

a uma rotação que tende a assumir a perpendicularidade face à direcção da onda dominante.

Quanto à localização do quebramar destacado, conclui-se que a distância à linha de costa deve ser

inferior à utilizada na simulação a fim de proporcionar a formação do tômbolo, num período de

simulação bastante inferior ao testado neste cenário.

Quanto à orientação do quebra-mar destacado prevê-se que uma rotação do quebramar até atingir a

perpendicularidade face à agitação marítima, irá conduzir a uma maior acumulação de sedimentos e

uma formação mais rápida do tômbolo. A modificação da posição das obras de protecção costeira, bem

como o seu comprimento e critérios de dimensionamento constituem pontos de futura investigação

nesta área.

Ao analisar a Figura 6.8 observa-se que o balanço (criação/destruição) de território litoral é semelhante

entre a solução Do Nothing e a solução do Cenário A favorável em menos 1% para o Do Nothing.

Contudo, a extensão de praia criada no Cenário A revela-se de uma importância extrema na protecção

da localidade do Furadouro, promovendo a criação de um local abrigado para recriação balnear com

uma extensão bastante considerável.

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Figura 6.7 – Cenário A de protecção com quebramar destacado. Posição da linha de costa obtida de 10 em 10 anos.

Figura 6.8 – Posição da linha de costa a 1/1/2016 e 1/1/2056 para o cenário A e para o Cenário Do Nothing.

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6.4.2 Cenário B: um quebramar destacado junto ao esporão do Furadouro Sul

Partindo do pressuposto assumido para o Cenário A – introdução de obras costeiras no sentido de

protecção do aglomerado urbano (Furadouro) – e após analisar os resultados dessa simulação optou-

se pela localização do quebramar destacado numa das zonas que acusa uma elevada taxa de recuo

da linha de costa. Ou seja, o presente cenário de protecção considera um o quebramar destacado

alinhado com o esporão do Furadouro Sul (Figura 6.9).

Figura 6.9 – Localização do quebramar destacado simulado no Cenário B de Protecção com Quebramar Destacados

Tal como no Cenário A, o quebramar destacado com o comprimento aproximado de 350 m

(correspondente, também, à distância desta estrutura para a linha de costa) foi colocado junto da

batimétrica dos 5 m a fim de se promover a formação do tômbolo.

A razão para a definição desta solução prende-se com a perspectiva de diminuir a erosão no Furadouro

podendo, desta forma, abrigar esta área da agitação marítima e, em simultâneo, criar um extenso areal

numa zona que tem um potencial de recuo de linha de costa muito elevado – a zona a sotamar do

esporão do Furadouro Sul.

Na Tabela 6.4 apresenta-se a localização precisa do quebra-mar destacado do Furadouro Sul, sendo

os resultados obtidos para as simulações do Cenário B apresentados na Figura 6.10.

Tabela 6.4 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Sul.

Obra de engenharia costeira Start Easting

(m) Start Northing

(m) End Easting

(m) End Northing

(m)

Quebramar Destacado do Furadouro Sul -46360.00 133387.00 -46450.00 133120.00

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Da análise da Figura 6.10 verifica-se que a solução de protecção com quebramar destacado alinhado

com o esporão do Furadouro Sul apenas constitui uma mais-valia no sentido de mitigar o recuo da linha

de costa junto ao enraizamento do esporão do Furadouro Sul, não salvaguardando o Furadouro do

fenómeno de erosão.

Apesar de permitir uma acalmia no clima de agitação marítimo a sul do Furadouro, esta solução leva a

uma diminuição da taxa de recuo da linha de costa numa zona muito reduzida concluindo-se que, face

ao Cenário A, não se trata de uma solução interessante a nível de prevenção da erosão costeira.

Além do cenário acima indicado foram também investigadas outras localizações de quebramar

destacados a sotamar do Furadouro Sul, concluindo-se que a introdução destas estruturas para lá do

alinhamento do Furadouro Sul não constitui uma solução benéfica para o problema da erosão costeira,

já que promovem apenas a diminuição da taxa de erosão e não a acumulação de sedimentos na zona.

Dada a acalmia verificada na zona a sotamar do esporão do Furadouro Sul, uma intervenção no sentido

de alimentação artificial da praia poderia ter vantagens e benefícios, na medida em que se cria um

extenso areal numa zona de erosão abrigada dos climas de agitação mais violentos.

Note-se que para este cenário, dada a evolução dos resultados obtidos, a linha de costa foi somente

simulada até ao ano 2046.

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Figura 6.10 – Resultados da simulação do Cenário B – Protecção com 3 Quebramar Destacados

Figura 6.11 – Comparação entre a linha de costa de 1/1/2016 a 1/1/2046 para o cenário B de protecção com quebramar destacado e o cenário Do Nothing.

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6.4.3 Cenário C: um quebramar destacado alinhado com o esporão do

Furadouro Norte, com prolongamento do esporão do Furadouro Sul

Após a análise dos resultados obtidos para o Cenário B, decidiu-se pela simulação de evolução

da linha de costa assumindo a construção de um quebra-mar destacado alinhado com o esporão

do Furadouro Norte aliado ao prolongamento do esporão do Furadouro Sul.

Este cenário resulta da observação in loco da posição da linha de costa entre os esporões do

Furadouro Norte e do Furadouro Sul e da constatação de que a mesma se encontra no limite da

defesa frontal aderente do Furadouro Centro. Como tal, o principal objectivo deste cenário é a

acumulação de sedimentos na extensão de 500 m que separa os dois esporões do Furadouro.

No que respeita à construção do quebramar destacado, esta estrutura localiza-se ao longo da

batimétrica dos 5 m, tem um comprimento de 200 m e encontra-se alinhado com o esporão do

Furadouro Norte (a uma distância de 50 m) – ver Figura 6.12. Esta estrutura tem o objectivo de

acalmar o clima de agitação marítima entre os esporões do Furadouro e promover a acumulação

de sedimentos.

Quanto ao esporão do Furadouro Sul, este cenário preconiza um prolongamento de 100 m face

ao seu comprimento inicial, adoptando o mesmo alinhamento. Devido ao prolongamento deste

esporão prevê-se uma acumulação de sedimentos a barlamar, criando uma extensa praia entre

os esporões do Furadouro.

Figura 6.12 – Cenário C: quebramar destacado alinhado com os esporões do Furadouro.

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Na Tabela 6.5 apresentam-se as coordenadas da localização do quebra-mar destacado.

Tabela 6.5 – Localização do quebramar destacado do Furadouro Centro.

Obra de engenharia costeira Start Easting

(m) Start Northing

(m) End Easting

(m) End Northing

(m)

Quebramar Destacado do Furadouro Centro -46150.00 134000.00 -46200.00 133800.00

Na Figura 6.13 apresentam-se os resultados da simulação, destacando-se a criação de cerca de

100 m de praia na zona do Furadouro, o que se relaciona directamente com o prolongamento do

esporão do Furadouro Sul. De realçar que o avanço significativo da posição de linha de costa

ocorre nos primeiros 10 anos de simulação, uma vez que beneficia do fornecimento sedimentar,

a norte, e do gradiente de transporte favorável, a sul.

No trecho Furadouro – Torreira verifica-se que a tendência erosiva observada é semelhante à

verificada para o cenário Do Nothing, registando-se uma taxa de erosão de 3m/ano a sotamar

do esporão do Furadouro Sul, em virtude da diminuição da passagem de sedimentos.

A barlamar do Furadouro, o trecho 1 não apresenta alterações face ao cenário Do Nothing uma

vez que as modificações introduzidas apenas alteram a evolução da linha de costa a sotamar

das mesmas.

Quanto à influência da introdução do quebramar destacado alinhado com o esporão do

Furadouro Norte, conclui-se que o mesmo não contribui significativamente para a formação do

areal no Furadouro, ainda que se admita que a sua construção contribui para a acalmia dos

climas de agitação desta área (Figura 6.14).

Por outro lado, uma vez atingida a saturação do esporão do Furadouro Sul, a linha de costa

apresenta pequenas variações na zona do Furadouro, continuando o trecho a sotamar a

evidenciar a falta de fornecimento sedimentar e, em consequência, a apresentar tendências

erosivas.

É importante realçar que, com o avanço da posição da linha de costa no Furadouro, o esporão

do Furadouro Norte fica cada vez mais soterrado em areia, verificando-se a sua total inutilidade

na protecção costeira ao fim de 20 anos de simulação.

Em suma, conclui-se que a construção do quebramar destacado do Furadouro Centro não

beneficia significativamente a solução apresentada, já que o prolongamento do esporão do

Furadouro Sul é o principal responsável pelo avanço da linha de costa na zona do Furadouro. A

solução de protecção com o prolongamento do esporão do Furadouro Sul constitui então, das

soluções apresentadas, aquela que apresenta os melhores resultados no âmbito da protecção

costeira e acumulação de sedimentos na zona do Furadouro.

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Figura 6.13 – Cenário C. Posições de linha de costa obtidas de 10 em 10 anos.

Figura 6.14 – Posição de linha de costa a 1/1/2016 e 1/1/2056, para o cenário C, cenário de prolongamento do esporão do Furadouro Norte e cenário de protecção com quebramar destacado no Furadouro Centro.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A zona litoral constitui um recurso finito e insubstituível no nosso planeta, assumindo-se como uma das

zonas com mais potencialidades em todo o território terrestre. O objectivo principal deste estudo previu

uma análise, a médio e longo prazo, do desenvolvimento costeiro, na costa do Furadouro, usando para

tal, um modelo matemático de evolução de linha de costa.

A preparação de um modelo matemático deste tipo requer a introdução e análise de diversa informação,

tal como o clima de agitação marítima, a batimetria e a topografia da zona (inclui o conhecimento de

três posições de linha de costa distintas).

Em primeiro lugar, o clima de agitação marítima foi analisado através dos dados da bóia ondógrafo de

Leixões fornecidos pelo Instituto Hidrográfico Português obtendo-se, posteriormente e a partir dos

trabalhos realizados por Di Bona (2013), uma série continua e regular, com um passo de cálculo

constante e igual a 3 horas.

Por outro lado, os dados topográficos e batimétricos fornecidos pelo Instituto Geográfico Português e

pelo INAG/IGeoE permitiram constituir as duas posições de linha de costa necessárias à construção

do modelo, sendo as mesmas processadas e compatibilizadas através dos softwares Mesh Generator

e ArcMap 10.2.2. Neste processo, os Dados LiDAR assumiram grande relevância no processo de

definição da batimetria da área de estudo, uma vez que a compatibilização dos dados batimétricos e

topográficos se tornou mais precisa e rigorosa.

Após a recolha e análise da informação atrás mencionada, a calibração do modelo matemático parte

da posição de uma linha de costa conhecida, relativa a 17/7/1996, para se obter a posição da linha de

costa no dia 1/1/2001. Deste processo resulta a definição dos parâmetros hidrodinâmicos do modelo

matemático e, através da rugosidade dos perfis transversais definidos, das condições de fronteira

lateral.

Posteriormente, os parâmetros usados na calibração foram validados através da simulação da linha de

costa de 2001 a 2011 e da comparação do resultado obtido com a posição de linha de costa conhecida

(2011).

No processo de validação, a linha de costa obtida até ao quilómetro 13,6 (trecho 2 e 3) apresenta

bastante semelhança à linha de costa fornecida pelo LiDAR, validando-se esse trecho. Contudo, as

diferenças observadas no trecho 1 registam-se em virtude do facto do modelo considerar a acumulação

de sedimentos a barlamar do esporão do Furadouro Norte, o que conduz à sua saturação. Assumindo

as diferenças registadas para o trecho 1 (Maceda – Furadouro) considerou-se validado o modelo

matemático, utilizando a linha de costa obtida em 2011 para simulação de cenários futuros.

Finalizado o processo de validação do modelo matemático procedeu-se à simulação da linha de costa

até à data presente (1/1/2016), que corresponde ao ponto de partida de todos os cenários de evolução

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da linha de costa estudados: o cenário Do Nothing, o cenário de Protecção com Campo de Esporões e

o cenário de Protecção com Quebramares Destacados. Este resultado assume extrema importância

na medida em que todos os cenários de evolução da linha de costa são previstos partindo da posição

de linha de costa nesta data.

O cenário Do Nothing confirma a tendência de evolução costeira apresentada na fase de calibração e

validação, registando-se que a não intervenção na linha de costa da zona do Furadouro levará à

contínua erosão do trecho até à sua posição de equilíbrio estático. Neste contexto, a situação mais

gravosa encontra-se a barlamar do esporão do Furadouro Norte e a sotamar do esporão do Furadouro

Sul, uma vez que evidenciam os efeitos de rotação dos respectivos trechos em relação ao esporão do

Furadouro Norte e da Torreira, respectivamente.

Quanto ao cenário de protecção com campo de esporões, e de acordo com o estudo elaborado pela

Hidrotécnica Portuguesa, optou-se pela solução de esporões ao longo de toda a área de estudo. Com

efeito, comprova-se que, em certos troços, as praias “em espiral” são boas soluções para a mitigação

da erosão costeira, pese embora se verifique a perda de terreno a sotamar dos esporões a favor da

acumulação e ganho de terreno, a barlamar dos mesmos.

Da simulação deste cenário conclui-se que, na sua maioria, cada trecho criado entre os esporões (com

cerca de 2 quilómetros de espaçamento) atinge a sua posição de equilíbrio ao fim de 40 anos de

simulação, verificando-se também a estabilização da linha de costa.

Numa análise global, a criação do campo de esporões contribui para que se perca menos território

litoral face á solução Do Nothing (Figura 6.5). Detalhadamente, no trecho 3 – Torrão do Lameiro à

Torreira – apesar de esta solução promover uma mais rápida rotação em torno dos respectivos

esporões introduzidos (E3.1, E3.2, E.3.3), face à rotação que esse trecho tinha em relação ao esporão

da Torreira, esta solução permite a significativa acumulação de sedimentos no trecho 1 e 2, resultando

num saldo positivo.

Como tal, em trabalhos futuros seria interessante avaliar a evolução da posição da linha de costa obtida

pela adopção do plano da Hidrotécnica Portuguesa apenas até ao Torrão do Lameiro, não optando

pela construção dos esporões E3.1, E3.2 e E.3.3. De salvaguardar também que, apesar de

tecnicamente viável, esta solução deverá ser acompanhada de uma análise custo-benefício, dado que

se trata da construção de 9 obras de protecção costeira em cerca de 20km.

A solução de Protecção com Quebramares Destacados assume-se como uma solução bastante

interessante dado que promove a acumulação de sedimentos nas zonas mais afectadas pela erosão e

ainda cria zonas de recreio balnear bastante abrigadas dos climas de agitação marítimo, por vezes,

violentos.

A simulação de protecção com o quebramar destacado alinhado com o esporão do Furadouro Norte –

cenário A – permite observar que, na zona do Furadouro e no trecho 1 (Maceda ao Furadouro) o

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fenómeno de erosão é mitigado dando lugar, como seria de esperar, a um acentuar do recuo da linha

de costa a sotamar do esporão do Furadouro Sul, com recuos na ordem dos 200 metros.

A barlamar do esporão do Furadouro Norte observa-se que é criado um saliente com cerca de 180

metros, na sua maior extensão, beneficiando a zona com a elevada acumulação de sedimentos e

protegendo o Furadouro do fenómeno de erosão costeira.

Por fim, quanto a esta solução, seria interessante estudar a evolução da linha de costa assumindo a

construção do quebramar destacado alinhado com o esporão do Furadouro Norte e a construção dos

esporões E2.1 e E2.2 do plano da Hidrotécnica Portuguesa. Esta solução pretende visar a acumulação

de sedimentos a sul do Furadouro promovendo o avanço da linha de costa tanto a norte como a sul do

Furadouro.

O cenário B de protecção com quebramares destacados prevê a construção de um quebramar

destacado alinhado com o esporão do Furadouro Sul, com o objectivo de reduzir a erosão a sotamar

deste esporão, contribuindo para a acalmia do clima de agitação na zona e promovendo a acumulação

de sedimentos.

A análise aos resultados obtidos conclui que esta solução apenas atenua a erosão na zona não

promovendo a acumulação de sedimentos. Soluções análogas permitiram concluir que qualquer

solução de quebramares destacados alinhados com o esporão do Furadouro Sul e com o

desenvolvimento para sotamar deste, não produzem resultados interessantes ao nível de acumulação

de sedimentos.

No que respeita ao cenário C de protecção com quebramares destacados, conclui-se que o

prolongamento do esporão do Furadouro Norte em 100 metros constitui a obra condicionante para o

avanço da linha de costa entre os esporões do Furadouro, uma vez que a introdução do quebramar

destacado do Furadouro Centro não apresenta resultados significativos a nível de acumulação de

sedimentos. Ainda assim, assume-se que o quebramar destacado é importante na criação de uma zona

de prática balnear abrigada dos climas de agitação mais violentos, tendo importância na conservação

dos sedimentos da praia do Furadouro, no caso de um fenómeno efémero, como uma tempestade.

Uma estratégia de protecção costeira deve basear-se em estudos técnicos e económicos e apresentar

dois aspectos integrantes: um de prevenção e outro de controlo de erosão. A aceitação da perda de

território para o mar deve ser entendida de forma natural, uma vez que se trata de uma tendência da

costa portuguesa. A questão debate-se quando se trata de situações em que o impacto ambiental,

social e económico não comporta uma situação dessas. Neste caso, tanto a solução de protecção com

campo de esporões ou com quebramar destacados são soluções tecnicamente viáveis, permitindo a

acumulação de sedimentos, evitando assim a erosão costeira.

No caso português a solução para o problema da erosão costeira deveria passar por uma gestão mais

integrada e correcta da orla costeira, tanto ao nível da compreensão dos fenómenos litorais como ao

nível do planeamento urbano junto à costa. A aposta na investigação científica, a constante formação

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de pessoas nestes temas e a sensibilização das populações constituem ideias-chave para mitigar o

problema da erosão costeira. A aplicação na investigação científica e no desenvolvimento de

ferramentas mais capazes, de uma ínfima parte das verbas que são canalizadas para a protecção do

litoral, muitas vezes só aplicadas em cenários de urgência, permitiria aumentar o conhecimento dos

sistemas litorais e da influência das obras marítimas na evolução da linha de costa e adoptar soluções

de protecção mais correctas e, provavelmente, menos dispendiosas.

Nesta dissertação, as dificuldades encontradas deveram-se a questões técnicas, relacionadas com o

software Littoral Processes FM, e dificuldades nas propostas das soluções de protecção a apresentar.

O processo de calibração, processo que se revelou bastante moroso, constituiu a principal dificuldade

encontrada, uma vez que, devido à grande extensão do trecho em causa, apenas com 5 perfis

transversais torna-se bastante difícil definir as taxas de transporte correctas que se adaptem a cada

trecho criado. A incerteza da influência de cada parâmetro envolvido na modelação faz com que muitas

vezes não se conheça a real importância na sua definição. Também a variabilidade quanto ao clima de

agitação marítima e à posição das linhas de costa tornaram a análise dos resultados mais dificultada.

Em futuros trabalhos relacionados com evolução de linha de costa seria interessante, para além da

definição da solução tecnicamente viável, apoiar a solução com um estudo económico. De modo a

caracterizar de uma forma mais realista a evolução da linha de costa, devem ser realizados estudos

tendo em conta diversas variações climáticas, por exemplo climas de agitação extremos, e mais

cenários de evolução. Várias tipificações do clima de agitação marítima e sedimentologia permitem

uma análise global da influência destes parâmetros na evolução da linha de costa, enquanto mais

cenários de evolução permitem a definição de soluções de protecção sucessivamente mais adequadas,

para além de proporcionarem diferentes tipos de soluções no apoio à tomada de decisão.

A questão da erosão costeira não deve ser entendida como um fenómeno discreto, mas sim perceber

que qualquer modificação no transporte sedimentar de uma zona resultará em repercussões a sotamar

dessa modificação, dentro de uma célula sedimentar costeira. O estudo de evolução de linha de costa

ao longo de toda a costa portuguesa permitiria obter uma visão global do fenómeno, o que possibilitaria

a criação de um mapa de vulnerabilidade e de risco costeiro completo e credível, que possa referenciar

zonas em perigo a fim de serem canalizados os esforços e os fundos necessários para a solução

desses problemas.

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