monografia cleia pedagogia 2011

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INTRODUÇÃO O homem ao viver produz história, constrói seu mundo e o reproduz através da cultura, sendo este o elemento que distingue os seres humanos dos animais. Cada música, dança, objeto, exterioriza a sua memória e identidade, mantendo viva a raiz de seu possuidor, bem como seus costumes e valores. Desse modo, a cultura significa o modo de vida de um povo e manifesta-se nos seus atos e nos seus artefatos. Ela varia no tempo e no espaço, no sentido em que quando as gerações e os grupos sociais se relacionam, amplia o acervo cultural ou os aspectos culturais. Em virtude dessas constantes modificações, atribuímos um caráter dinâmico e contínuo à cultura, já que não é dada de modo uniforme; tendo épocas de grandes desenvolvimentos, paradas e até retrocessos. Mas a cultura não é somente dinâmica, ela também é plural, não havendo uma uniformidade cultural; e o nosso país é grande exemplo disso, pois, cada região tem uma “cara” diferente, traços culturais únicos, e em uma mesma comunidade nos encantamos com a diversidade cultural ali existente. E este fato nos fez notar que com o distrito de Igara não é diferente, sua cultura é assistida a cada comemoração do Carnaval de Rua, do típico Forró Grito, dos festejos de São João, da apresentação da Banda de Pífanos, do Cortejo do Reisado, do tradicional Beiju, entre outras. Assim, desejamos neste estudo entender: Como os idosos do Reisado se identificam como integrantes de uma manifestação da cultura popular? E como a memória cultural faz parte desse importante processo? Esse trabalho de pesquisa traz como maior objetivo: Analisar como os idosos do Reisado se identificam como integrantes de uma manifestação da cultura popular. E como a memória cultural faz parte desse importante processo. Organizamos nosso trabalho em quatro capítulos que tratam de assuntos necessários à exploração do tema e ao desenvolvimento e conclusão da pesquisa. 10

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Pedagogia 2011

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Page 1: Monografia Cleia pedagogia 2011

INTRODUÇÃO

O homem ao viver produz história, constrói seu mundo e o reproduz através

da cultura, sendo este o elemento que distingue os seres humanos dos animais.

Cada música, dança, objeto, exterioriza a sua memória e identidade, mantendo viva

a raiz de seu possuidor, bem como seus costumes e valores. Desse modo, a cultura

significa o modo de vida de um povo e manifesta-se nos seus atos e nos seus

artefatos. Ela varia no tempo e no espaço, no sentido em que quando as gerações e

os grupos sociais se relacionam, amplia o acervo cultural ou os aspectos culturais.

Em virtude dessas constantes modificações, atribuímos um caráter dinâmico e

contínuo à cultura, já que não é dada de modo uniforme; tendo épocas de grandes

desenvolvimentos, paradas e até retrocessos.

Mas a cultura não é somente dinâmica, ela também é plural, não havendo

uma uniformidade cultural; e o nosso país é grande exemplo disso, pois, cada região

tem uma “cara” diferente, traços culturais únicos, e em uma mesma comunidade nos

encantamos com a diversidade cultural ali existente. E este fato nos fez notar que

com o distrito de Igara não é diferente, sua cultura é assistida a cada comemoração

do Carnaval de Rua, do típico Forró Grito, dos festejos de São João, da

apresentação da Banda de Pífanos, do Cortejo do Reisado, do tradicional Beiju,

entre outras.

Assim, desejamos neste estudo entender: Como os idosos do Reisado se

identificam como integrantes de uma manifestação da cultura popular? E como a

memória cultural faz parte desse importante processo?

Esse trabalho de pesquisa traz como maior objetivo: Analisar como os idosos

do Reisado se identificam como integrantes de uma manifestação da cultura

popular. E como a memória cultural faz parte desse importante processo.

Organizamos nosso trabalho em quatro capítulos que tratam de assuntos

necessários à exploração do tema e ao desenvolvimento e conclusão da pesquisa.

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Page 2: Monografia Cleia pedagogia 2011

No primeiro capítulo fazemos uma abordagem sobre o que é cultura, seus

diversos conceitos amplamente discutidos no campo antropológico, e a descrição

das manifestações culturais, dando destaque à origem destas, mostrando como são

conhecidas e apreciadas nacionalmente e no distrito de Igara.

No segundo capítulo são abordados os pressupostos teóricos do tema aqui

apontado, bem como também um histórico do Reisado.

No terceiro capítulo abordamos a metodologia e os instrumentos escolhidos

para a realização da pesquisa, sendo escolhida a pesquisa qualitativa. E como

instrumentos a entrevista semi-estruturada e o questionário fechado para traçar o

perfil dos sujeitos.

No quarto capítulo, apresentamos o resultado da pesquisa feita com os idosos

do Reisado, fazendo uma análise e interpretação sobre os dados coletados.

Por fim, a presente pesquisa traz as últimas reflexões sobre as categorias,

encontradas nos dados que foram analisados e interpretados.

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Page 3: Monografia Cleia pedagogia 2011

CAPÍTULO I

PROBLEMÁTICA

1.1 A Cultura no Brasil

A cultura é tão antiga quanto a raça humana, estando presente em cada

grupo social e definindo a identidade de cada ser. Sendo um tema amplamente

discutido nos tempos atuais, a cultura engloba os modos comuns e aprendidos da

vida transmitidos pelos indivíduos e grupos, em sociedade. Podemos afirmar que

cada grupo tem a sua própria cultura, descartando a possibilidade de unidade

cultural ou o uso da expressão identidade nacional.

Ocorre, porém, que não existe uma cultura brasileira homogênea, matriz dos nossos comportamentos e dos nossos discursos. Ao contrário: a admissão do seu caráter plural é um passo decisivo para compreendê-la como um “efeito de sentido”, resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço (BOSI, 2002, p.7).

O Brasil com a sua diversidade lingüística, raças, ritmos, cores, etc., é um

país rico, e totalmente heterogêneo culturalmente. Com manifestações particulares

como, por exemplo: No estado do Maranhão, as principais manifestações culturais

são o Bumba-meu-boi e o Tambor de Crioula. Em Pernambuco dentre as várias

manifestações destaca-se o carnaval movido a frevo. Já a Bahia é vista como o

cartão postal do país pelo carnaval de Salvador, os festejos juninos, a festa da

Independência da Bahia, lavagem do Bonfim, e muitas outras manifestações. E

podemos ainda citar inúmeras manifestações que são próprias de nossos estados

brasileiros e distrito federal.

Vemos então, que não existe uma cultural universal, pois um país está

dividido em vários estados e estes em cidades e povoados que também tem a sua

cultura local. Eliminando assim, a idéia de “cultura de verdade” ou a “alta cultura”

que seria organizada por uma elite, sendo superior a cultura popular que por sua vez

seria das classes subalternas.

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Page 4: Monografia Cleia pedagogia 2011

Enfim, é preciso recusar a hierarquização das expressões culturais e sua articulação em culturas subalternas e culturas dominantes. É necessária uma ou outra visão do processo cultural como um todo, (...). Recusar a subalternidade da cultura popular, recuperar sua importância fundamental é concebê-la a ocupar um lugar privilegiado de onde se pode pensar e ver criticamente, perspectiva analítica capaz de pensar em profundidade os principais nós e estrangulamentos da história do e da cultura brasileira em geral. A partir da cultura popular, é possível pensar um outro país, uma ou várias alternativas de Brasil. Isto porque a cultura popular brasileira é um estoque inesgotável de conhecimentos, sabedorias, tecnologias, maneiras de fazer, pensar e ver nossas relações sociais e , nessa exata medida, um lugar em que mais do que simplesmente criticar o modelo genocida e autodestrutivo de desenvolvimento, é possível resistir a ele com outras propostas de sentido do viver e de humanidade (SILVA, 2008, p.09).

Conhecendo assim, a cultura do povo será valorizada a história que construiu

a identidade de cada um e se mantém viva na memória sendo reforçada a cada

manifestação cultural, seja através das festas religiosas, contos populares ou

artefatos.

Em vista disso, a grande diversidade de culturas, nos mostra que o aceito

como uma boa conduta em um grupo não é aceito em outro grupo social. Sendo

cada realidade cultural o resultado de uma história particular, as características de

cada cultura serão distintas. Porém não deve haver entre termos valorativos como

superior e inferior.

Sabemos que a cultura está sujeita a variações, desde a observação que esta

se organiza, comporta e realiza dentro do ambiente físico, sofrendo influências

através de diferentes formas, como: crescimento, transmissão, difusão, fusão ou

estagnação. A mudança cultural ocorre por meio de qualquer um desses processos,

podendo ser de forma simples ou com mais resistência, dependendo da aceitação

do grupo. Assim, tem-se mudança quando:

Novos elementos são agregados ou os velhos aperfeiçoados por meio de invenções; novos elementos são tomados de empréstimo de outras sociedades; elementos culturais, inadequados ao meio ambiente, são abandonados ou substituídos; alguns elementos, por falta de transmissão de geração em geração se perdem (MARCONI; PRESOTTO, 1986, p.61).

Com base na observação histórica, percebemos que os povos estão fazendo

empréstimos culturais uns dos outros. Constituindo-se a difusão “um processo, na

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dinâmica cultural em que os elementos complexos culturais se difundem de uma

sociedade a outra” (MARCONI; PRESOTTO, 1986, p.63). A mesma ocorre de forma

recíproca com relações pacíficas entre os povos gerando a troca de pensamentos,

invenções, aceitação e integração dos novos elementos ao padrão existente do

grupo. Vale salientar que a assimilação de novos elementos pode vir a sofrer

reformulações, quanto ao seu significado e função.

Ainda, sobre a temática, discute-se o conceito de aculturação que “é a fusão

de duas culturas diferentes que entrando em contato contínuo originam mudanças

nos padrões da cultura de ambos os grupos” (MARCONI; PRESOTTO, 1986, p.64).

Com o passar do tempo esta fusão proporcionará a constituição de uma nova

sociedade e uma nova cultura.

Acrescenta-se ainda a esta discussão a endoculturação, “processo de

aprendizagem e educação em uma cultura desde a infância (...), processo que

estrutura o condicionamento da conduta, dando estabilidade à cultura” (MARCONI;

PRESOTTO, 1986, p.65). As crenças, o comportamento, os modos de vida são

adquiridos pelo indivíduo que a esta sociedade pertence, sendo que o indivíduo não

aprende toda a cultura, mas está condicionado a certos aspectos particulares da

transmissão de seu grupo.

Como vemos, a cultura se modifica, sofrendo influência interna e externa,

constituindo-se num processo dinâmico e contínuo. Porém, há grupos que têm

resistido a essas modificações buscando manter suas origens culturais através de

vários mecanismos, entre eles a realização de suas festas populares. Sobre isso,

Murray (2008), exemplifica:

Nas Américas, os maias, os astecas e os incas se manifestaram pela arte pré-colombiana. Os aborígenes americanos, assim como os nativos da Oceania e Ilhas do Pacífico, com seu estilo próprio de celebração, tinham em suas festas a legitimação da sua afirmação cultural. Na África produziam-se máscaras, esculturas, escarificações e pinturas para as festas rituais (p.97).

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Page 6: Monografia Cleia pedagogia 2011

Portanto, vemos que as festas têm um papel importante na vida do ser

humano, e independente de período histórico, ou de raça a sua função é a mesma,

representar a ação dos mitos na vida do homem, possibilitando uma vida mais

apropriada por meio do equilíbrio das forças antagônicas do caos e da ordem. A

esse respeito Silva (2008) salienta:

(...) em todas as épocas e em todas as regiões do planeta, as festas populares foram instrumentos fundamentais através dos quais os homens difundiram suas diversas expressões de cultura, isto é, seus conhecimentos, artefatos, técnicas, padrões de comportamento e atitudes (p.87-88).

E no Brasil não é diferente, a cada festa popular realizada nossa identidade é

reafirmada, seja através das festas, dos autos, dos folguedos ou dos bailados

populares. Cada uma com seus instrumentos, ritmos, cânticos, danças, figurinos e

adereços característicos reforçam a identidade cultural de seus participantes. Pois

como nos afirma Murray (2008):

No país da ginga, do drible de corpo, do molejo do samba, dos passos codificados do terreiro e da malícia do golpe de capoeira, podemos afirmar que as nossas festas populares são o símbolo máximo da nossa identidade nacional e espelho coreográfico da alma do povo. Peça-destaque do nosso patrimônio, onde sagrado e profano se unem e se completam, elas permitem uma leitura das características étnico-culturais de cada região do país, ao mesmo tempo em que sintetizam a natureza mestiça do brasileiro. (...) celebrados em forma de procissão, de romaria, de roda, de bloco ou de desfile, nossas festas traduzem nossa diversidade multicultural e multirracial, fazendo do Brasil o grande laboratório cultural da Idade Moderna (p.97-98).

Podemos afirmar que o nosso país se constitui num truísmo, onde o mesmo é

resultado da mestiçagem de três raças: a índia, a branca e a negra. Onde cada uma

com seus traços culturais próprios, misturam-se e nos dão como produto a cultura

brasileira rica em sua diversidade cultural. Complementando, Murray (2008) ainda

acrescenta:

O encontro das culturas indígena, européia e africana promoveu no Brasil um diversificado repertório de festas, (...). São os Autos de Natal, Auto dos Quilombos, Bom Jesus dos Navegantes, Círio de Nazaré, Corpus Christi, Divino Espírito Santo, Drama da Paixão, Festa do Bonfim, Folia de Reis, Festas Juninas, (...). Temos também os folguedos de espírito lúdico-onde se destacam Afoxés, Congadas, Maracatus, Caboclinhos, Tambor de Crioula, Marujadas, Vaquejadas, Bumba-meu-Boi, (...), e os bailados

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populares, como Marabaixo, Maculelê, Cateretê, Coco de Zambê, entre muitos outros. E, finalmente, o Carnaval, (...) (p.98).

Essas manifestações culturais são a afirmação do que é o povo, seus

costumes, suas crenças. Tornando cada grupo único, com características próprias.

Situamos aqui, este estudo que toma como “lócus” de pesquisa o distrito de

Igara, pertencente ao município de Senhor do Bonfim. Comunidade rica por sua

diversidade cultural, onde podemos encontrar fortemente enraizados os costumes

de um povo que vem lutando para não ter sua história apagada. E através da Banda

de Pífano, Reisado, Carnaval de Rua, Queima do Judas, Forró Grito, Festejo de

Santo Antônio, Festejo de São João, Festejo de São Pedro, Guerra de Espada,

Desfile Cívico do Dia 07 de Setembro, Contos Populares, Rezadeiras, Candomblé, e

Artefatos (vassoura, beiju), estão sendo preservadas suas tradições.

No entanto, iremos nos deter especialmente ao estudo do Reisado,

manifestação cultural popular de Igara de grande relevância religiosa e de influência

portuguesa. Diante dessa abordagem nossa questão de pesquisa é: Como os idosos

do Reisado se identificam como integrantes de uma manifestação da cultura

popular? E como a memória cultural faz parte desse importante processo?

Objetivos da pesquisa:

• Analisar como os idosos do Reisado se identificam como integrantes de

uma manifestação da cultura popular. E como a memória cultural faz parte

desse importante processo.

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CAPÍTULO II

REISADO DE IGARA: IDENTIDADE E MEMÓRIA

No nosso quadro teórico, utilizamos como base quatro conceitos – chave:

cultura popular, memória cultural, identidade cultural, reisado.

2.1 Cultura Popular

O termo cultura é conceituado por alguns autores como sendo as crenças, a

arte, moral, lei, costumes, conhecimentos, as habilidades e hábitos adquiridos pelo

homem no ambiente em que vive. São os padrões de comportamento do homem, e

tudo aquilo que uma sociedade permite que seus indivíduos conheçam ou acreditem

para agir conforme as suas leis. Segundo Laraia (2003) no campo da Antropologia:

O termo cultura vem do verbo latino colere (cultivar, criar, cuidar) que originalmente era utilizado para o cultivo ou cuidado com a planta. No final do século XVIII, o termo germânico kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, já na França, civilization refere-se principalmente às realizações materiais de um povo (p.25).

Os antropólogos de maneira geral definem cultura como conceito básico

central de sua ciência, atribuindo a essa palavra o desenvolvimento de cada ser

humano por meio da educação, da instrução, sem, no entanto, atribuir juízo de valor

entre as culturas, pois, não consideram uma superior à outra, mas apenas

diferentes; dando à cultura um significado amplo que engloba os modos comuns e

aprendidos na vida, transmitidos, através das gerações. Assim, Burke (1989)

escreve que até o século XVIII:

O termo cultura tendia a referir-se à arte, literatura e música (...) hoje contudo seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros usam o termo “cultura” muito mais amplamente, para referir-se a quase

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tudo que pode ser aprendido em uma dada sociedade, como comer, beber, andar, falar, silenciar e assim por diante (p.25).

Assim, podemos abranger o termo cultura a todo o conjunto de obras

humanas, tendo sua origem na capacidade mental do homem e existia para o

homem, ela é uma tarefa social e não individual; não é adquirida apenas, ela é

também transmitida, mudada e acrescentada pela inovação ou descobertas das

experiências vividas pelo homem ao longo dos tempos.

Entende-se aqui por cultura os sistemas de significados, os valores, crenças, práticas e costumes; ética, estética, conhecimentos e técnicas, modos de viver e visões de mundo que orientam e dão sentido às existências individuais em coletividades humanas (VIANNA, 2008, p.119).

É a cultura também, que distingui o homem dos outros animais, pois, “(...) só

o animal humano é capaz de ação transformadora consciente, ou seja, é capaz de

agir intencionalmente (e não apenas instintivamente ou por reflexo condicionado) em

busca de uma mudança no ambiente que o favoreça” (CORTELLA, 2003, p.41).

Como nos faz ver Rios (2008): “Cria-se cultura porque as maneiras de atender às

necessidades não estão inscritas na natureza do homem, como acontece com os

animais” (p.32).

Cultura diz respeito à humanidade como um todo, e ao mesmo tempo a cada

um dos povos, nações, sociedades e grupos sociais. Sendo definida como ”mundo

transformado pelos homens” (RIOS, 2008, p.30). Ou ainda como afirma Cortella

(2003): “Esse meio ambiente humano, por nós produzido e no qual somos

produzidos, é a cultura” (p.39).

Não existe notícia de nenhum povo que não conheça cultura, pois a mesma é

resultado de uma capacidade inerente a qualquer humano e por todos nós realizada.

Antes de tudo, a cultura é ainda o espaço no qual o homem desenvolve-se na vida

social e histórica. Cortella (2003) ainda nos esclarece:

(...) é absurdo supor que alguém não tenha cultura; tal concepção, uma discriminação ideológica interpreta a noção de cultura apenas no seu aspecto intelectual mais refinado e não leva em conta a multiplicidade da produção humana coletivamente elaborada. Nós humanos somos, igualmente, um produto cultural; não há humano fora da Cultura, pois ela é o nosso ambiente e nela somos socialmente formados (com valores,

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crenças, regras, objetos, conhecimentos etc.) e historicamente determinados (com as condições e concepções da época na qual vivemos) (p.42).

Sendo a cultura elemento de produção humana, temos culturas de diversas

ordens, construídas através dos tempos por várias gerações e diferentes classes

sociais. No entanto, todas elas são autênticas e o que as diferenciam é o momento

histórico no qual foram produzidas. Não havendo espaço para um discurso de

cultura superior ou inferior, mas culturas diferentes. Como Rios (2008), enfatiza:

(...) cultura é, na verdade, tudo o que resulta da interferência dos homens no mundo que os cerca e do qual fazem parte. Ela é a resposta humana à provocação da natureza e é ditada não por esta, mas pelo próprio homem (...). Assim, não se pode falar em sujeitos cultos e não – cultos. Todos os homens são cultos, na medida em que participam de algum modo da criação cultural, estabelecem certas normas para sua ação, partilham valores e crenças (p.32-33).

Entendemos então, que todas as pessoas possuem cultura e que a mesma

apresenta-se de forma diferente em cada grupo, pois a mesma carrega

características próprias de seu povo.

Dessa forma, apresentamos um estudo sobre as principais acepções do

termo cultura e suas implicações. Bem como as diversas maneiras que a cultura

pode se classificar, são elas: material ou imaterial, real ou ideal. Para melhor

compreensão desses termos trazemos Marconi e Presotto (1986) que os define

como:

Cultura material consiste em coisas materiais, bens tangíveis, incluindo instrumentos, artefatos e outros objetos materiais, fruto da criação humana e resultante de determinada tecnologia. (...) Cultura imaterial refere-se a elementos intangíveis da cultura, que não tem substância material. Entre eles encontram-se as crenças, conhecimentos, aptidões, hábitos, significados, normas, valores. (...) Cultura real é aquela em que, concretamente, todos os membros de uma sociedade praticam ou pensam em suas atividades cotidianas. (...) Cultura ideal consiste em um conjunto de comportamentos que, embora expressos verbalmente como bons, perfeitos para o grupo, nem sempre são frequentemente praticados (p.46-47).

Dentro dessas classificações temos: conhecimentos, crenças, valores,

normas e símbolos, que são os elementos constituintes da cultura e que fazem parte

de nosso dia a dia. Portanto, a sociedade brasileira não tem uma “cultura” já

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Page 11: Monografia Cleia pedagogia 2011

determinada, pois, nada tem de homogêneo e uniforme. E sua forma complexa e

mutante resulta de interpretações da cultura erudita, da cultura popular e da cultura

de massas. Bosi (1986), assim conceitua esses termos:

Cultura de massa, indústria cultural, (...), uma realidade cultural imposta “de cima para baixo” (dos produtores para os consumidores). (...) Cultura popular, uma realidade cultural estruturada a partir de relações internas no coração da sociedade (...) sistema de idéias, imagens, atitudes, valores. (...) Cultura erudita, transmitida na escola e sancionada pelas instituições, (...), esquemas oficiais (p.63-64).

Em face dessa variedade de cultura, nos deteremos somente à “cultura”

popular que está intimamente ligada ao nosso objeto de estudo. A cultura popular

conhecida como a cultura criada pelo povo, que articula uma concepção do mundo e

da vida, sempre esteve presente em cada época da história mundial. Porém, no

Brasil os estudos sobre folclore e cultura popular iniciaram somente, na segunda

metade do século XIX, na busca da construção de uma identidade nacional.

Para contextualizar cultura popular que é um termo amplo, dado a muitas

definições e repleto de ambigüidades. Trazemos Gabriel (2008) que entende a

cultura popular, como:

Cultura dinâmica, presente no meio rural e urbano, que junta tradição e atualidade sempre em transformação, um encontro entre tempos e espaços, com essência de brasilidade, juntando o local com o global, o velho e novo, completando um com o poder do outro (p.77).

A cultura popular, quando entendida e resumida por alguns como folclore

perde muito em sua essência, pois ela vai além desse termo, sendo impossível dizer

onde começa e termina a mesma. A cultura popular abrange as festas populares, os

conhecimentos, técnicas, artefatos, enfim, tudo que o povo produz. E como afirma

Freire (2003):

Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz (...) (p.31).

Este movimento retrata a força de resistência e persistência da cultura brasileira

de nosso povo na busca de preservar sua riqueza cultural.

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2.2 Memória Cultural

O conjunto de conhecimentos da cultura é como se fosse uma memória

coletiva que reconstrói toda a experiência dos grupos ou sociedades e é essa

característica da cultura que permite que ela seja transmitida de geração a geração

através da transmissão de seus símbolos para seus descendentes. E como nos

mostra Meneses (2002):

(...) é a memória, mecanismo de retenção de informação, conhecimento, experiência, quer em nível individual, quer social e, por isso mesmo, é eixo de atribuições, que articula, categoriza os aspectos multiformes de realidade, dando-lhes lógica e inteligibilidade (p.183).

Ao lembrarmos de nossa infância, ou do dia em que passamos no vestibular,

da dor da despedida de um ente querido, do dia de nosso casamento, e/ou talvez

algo que nos esteja acontecendo, estamos na verdade fazendo uso da memória,

pois a mesma retém os fatos e idéias que adquirimos anteriormente. Para conceituar

memória, também trazemos Silva (2008) que diz:

A memória é um processo complexo e não se reduz a um simples ato mental. Ela passa pela percepção dos nossos sentidos, como também pelos nossos sonhos e ilusões e pode incluir tudo, desde uma sensação mental privada e espontânea, possivelmente muda, até uma cerimônia pública solenizada. Todavia, tanto num caso como noutro, os dados da nossa experiência cotidiana são as reservas, os estoques, a massa de elementos sobre os quais ela trabalha (p.85).

Diante de tais definições, entendemos que a memória é a capacidade

humana de guardar informações de sua vivência tanto individual como coletiva, ou

até mesmo de pensamentos que nem chegam a se concretizarem. Assim, a

memória está em constante trabalho, pois a mesma não se restringe somente a

acontecimentos do passado. Sobre isso, Meneses (2002) acrescenta:

Exilar a memória no passado é deixar de entendê-la como força viva do presente. Sem memória, não há presente humano, nem tampouco futuro. Em outras palavras: a memória gira em torno de um dado básico do fenômeno humano, a mudança. Se não houver memória, a mudança será

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sempre fator de alienação e desagregação, pois inexistiria uma plataforma de referência, e cada ato seria uma reação mecânica, uma resposta nova e solitária a cada momento, um mergulho do passado esvaziado para o vazio do futuro (p.185).

Não cabe, pois falar em história sem considerar o fundamental papel que a

memória ocupa em seu processo histórico. “É a memória que funciona como

instrumento biológico-cultural de identidade, conservação, desenvolvimento, que

torna legível o fluxo dos acontecimentos” (MENESES, 2002, p.185).

Como seres humanos, somos privilegiados, pois além de produzirmos cultura

o que nos distingue dos animais, também possuímos memória que é própria de

nossa raça, o que consiste na conservação da lembrança do passado ou da coisa

ausente. E como enfatiza Silva (2008):

Falar da memória é, antes de tudo, falar de uma faculdade humana. A faculdade de conservar estados de consciência pretéritos e tudo o que está relacionado a eles. Bem, a faculdade da memória é responsável por nossas lembranças. Certo, mas falar de lembranças é falar necessariamente de quem lembra. Ora, quem efetivamente recorda são os indivíduos. Portanto, toda memória humana é memória de alguém, de um indivíduo. Ela se refere, antes de tudo ao Eu, ao olhar que essa pessoa constrói a respeito de si mesma, da identidade, portanto, de quem efetivamente recorda (p.85).

Afirmamos assim, que a memória é do interesse de todos nós, pois estamos

vivos, aqui e agora, somos construtores de nossa história. E sem a memória nosso

passado é esquecido enfraquecendo a percepção de que é a atividade humana e

social que faz e pode refazer a sociedade. Observa-se, que “a memória, assim, mais

precisamente, diz respeito à história concebida não como o conhecimento do

homem no passado, mas como o conhecimento da dimensão temporal do homem”

(MENESES, 2002, p.185). Ou ainda como resume Rodrigues (1981): “Sem história,

não há memória” (p.47).

Nesse contexto, podemos afirmar que a memória dividi-se como: memória

coletiva e memória nacional. E para conceituar esses termos, trazemos Ortiz (2006)

que diz:

A memória coletiva é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente

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no seu cotidiano. O exemplo do candomblé e do folclore mostrou a necessidade de a tradição se manifestar enquanto vivência de um grupo social restrito; a memória nacional se situa em outro nível, ela se vincula à história e pertence ao domínio da ideologia (p.135).

Ortiz (2006) ainda nos propõe a distinção para os diferentes universos

simbólicos nos auxiliando a compreender as duas ordens de fenômenos que

estamos considerando.

A memória coletiva se aproxima do mito, e se manifesta portanto ritualmente. A memória nacional é da ordem da ideologia, ela é o produto de uma história social, não da ritualização da tradição. Enquanto história ela se projeta para o futuro e não se limita a uma reprodução do passado considerado como sagrado (p.135).

Vemos então, que a história dos seres humanos é ordenada pelos universos

simbólicos. Onde o passado dos homens estabelece a “memória” sendo

compartilhada pelos indivíduos que compõem a coletividade; já em relação ao futuro

os símbolos definem uma rede de referências para a projeção das ações individuais.

Vale salientar que “a memória coletiva dos grupos populares é particularizada, ao

passo que a memória nacional é universal. Por isso o nacional não pode se

constituir como o prolongamento dos valores populares, mas sim como um discurso

de segunda ordem” (ORTIZ, 2006, p.137).

Diante disso, percebemos que a memória nacional não é propriedade

particularizada de nenhum grupo social. No entanto, sobre a memória coletiva Silva

(2008) afirma que:

(...) toda memória se estrutura em identidades de grupo: recordamos a nossa infância como membros a partir de experiências numa vida em família, o nosso bairro como vizinhos em uma dada comunidade, a nossa vida profissional em torno de relações estabelecidas no escritório, na fábrica ou no sindicato (p.86).

Portanto, a memória coletiva possui uma existência concreta, manifestando-

se imediatamente enquanto vivência. O que nos permite focar de agora em diante

somente a memória coletiva por ser portadora da memória popular onde

encontramos as manifestações culturais do povo.

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Quanto à memória popular, Ortiz (2006) afirma: “A memória popular (seria

mais correto colocar no plural) deve, portanto se transformar em vivência, pois

somente desta forma fica assegurada a sua permanência através das

representações teatrais” (p. 135). Representações essas da cultura popular que é

heterogênea, onde as diferentes manifestações folclóricas como Reisados, São

João, Carnaval; não partilham um mesmo traço em comum, tampouco se inserem

no interior de um sistema único. Como afirma Ortiz (2006):

A cultura popular é plural, e seria talvez mais adequado falarmos em culturas populares. No entanto, se tomarmos como ponto de partida cada evento folclórico em particular (um reisado, uma congada), a comparação com os cultos afro-brasileiros é legítima. A memória de um fato folclórico existe enquanto tradição, e se encarna no grupo social que a suporta. É através das sucessivas apresentações teatrais que ela é realimentada. Isto significa que os grupos folclóricos encenam uma peça de enredo único que constitui sua memória coletiva; a tradição é mantida pelo esforço de celebrações sucessivas, como no caso dos ritos afro-brasileiros (p.135).

E como bem salienta Brandão (1981) ao estudar os congados do ciclo de São

Benedito, “este saber popular não existe fora das pessoas, mas entre elas” (p.54).

Nos grupos folclóricos é possível percebermos os diferentes papéis que os atores

sociais desempenham nas manifestações culturais. Assim, quando o problema do

esquecimento surge, geralmente está vinculado às dificuldades de se manter a

coesão do grupo. Pois quando um mestre morre pode ocorrer à desestruturação de

toda uma rede de trabalho ritual, visto que desaparecera um ator de destaque no

teatro popular. É nesse momento que a memória popular mostra a sua essência,

mantém viva a história, os ritos no meio que os possui através da vivência de seus

representantes.

2.3 Identidade Cultural

Em diferentes épocas, e sob diferentes aspectos, a problemática da

identidade cultural vem se perpetuando; sendo imprescindível compreendermos a

identidade, seu processo de afirmação e construção. Segundo Ortiz (2006): “(...) a

identidade é uma entidade abstrata sem existência real, muito embora fosse

indispensável como ponto de referência” (p.137). Ou ainda, como afirma Meneses

(2002):

24

Page 16: Monografia Cleia pedagogia 2011

O conceito de identidade implica semelhança a si próprio, formulada como condição de vida psíquica e social. Nessa linha, está muito mais próximo dos processos de re-conhecimento do que de conhecimento. A busca de uma identidade se alia mal a conteúdos novos, pois o novo constitui uma ameaça, sempre. Ao contrário, ela se alimenta do ritmo, que é repetição; portanto, segurança. Trata-se, em suma, de atitude conservadora, que privilegia o reforço em detrimento da mudança (p.182).

Todos nós como seres humanos e consequentemente agentes de cultura,

trazemos histórias e saberes que não foi a escola, nem a mídia, que nos ensinaram.

Mas, cada um que convive conosco contribui para a formação desse conhecimento

que cria e alimenta a nossa identidade. Como exemplifica Marconi e Presotto (1986):

Os adultos, em uma sociedade, com sua conduta já definida, representam o modelo com o qual as crianças vão identificar-se e cujo comportamento vão imitar. Conformam-se ao que a sociedade define como melhor para o preenchimento das necessidades pessoais e culturais e para sua melhor adaptação (p.196).

Então, a identidade é construída através da observação e vivência com outras

pessoas, pois dessa forma, ocorre também a identificação com o comportamento do

outro e assimilação. Nesse sentido Gabriel (2008) afirma que: “As pessoas sentem-

se identificadas umas com as outras e, ao mesmo tempo, distintas das demais.

Assim a identidade e a alteridade (referente ao que é do outro), a similaridade e a

diversidade marcam o sentimento de pertencer ao todo” (p.76).

Para Woodword (2007): “As identidades são fabricadas por meio da marcação

da diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas

simbólicos de representação quanto por meio de formas de exclusão social” (p.39).

Ou seja, a construção da identidade do sujeito também está marcada por diferentes

formas de determinação, onde são opostos, ou se pertence ou não pertence, ou é

ou não é parte daquele “grupo” étnico, cultural ou social. Sobre a identidade cultural,

Gabriel (2008) enfatiza:

A identidade cultural se relaciona a aspectos de nossas identidades que surgem do “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e, sobretudo, nacionais. Alguns estudiosos afirmam que, de alguma maneira, pensamos nesta identidade como parte de nossa natureza essencial, que nos faz sentir indivíduos de uma sociedade, grupo, estado ou nação (p.76).

25

Page 17: Monografia Cleia pedagogia 2011

A identidade assim como a cultura é produzida pelo homem através de sua

vivência. Desde o nascimento fazemos parte de um determinado grupo social com

sua religião, costumes e valores, e à medida que crescemos neste meio os

assimilamos. Essas e outras características que adquirimos irão contribuir

fortemente para construção de nossa identidade. Da mesma forma, acontece com a

identidade cultural, pois a mesma se forma espelhando-se na cultura predominante

do grupo a que pertencemos. Assim afirmamos que tão diversa quanto à cultura é a

identidade cultural, eliminando suposições de uma identidade padrão e/ou superior.

Nesse sentido Ortiz (2006) salienta:

(...) creio que é o momento de reconhecermos que toda identidade é uma construção simbólica (a meu ver necessária), o que elimina portanto as dúvidas sobre a veracidade ou a falsidade do que é produzido. Dito de outra forma, não existe uma identidade autêntica, mas uma pluralidade de identidades, construídas por diferentes grupos sociais em diferentes momentos históricos (p.8).

Vemos então, que não há uma identidade verdadeira ou falsa, superior ou

inferior; mas sim, identidades diferentes, próprias a cada indivíduo, grupo ou

nacionalidade. Pois cada indivíduo possui uma identidade cultural que foi construída

ao longo de sua vida tornando-o integrante de um determinado grupo. E à medida

que este sujeito assume plenamente, com orgulho, o seu papel neste grupo, ele está

afirmando sua identidade. Segundo Woodword (2007):

Ao afirmar uma determinada identidade, podemos buscar legitimá-la por referência a um suposto e autêntico passado-possivelmente um passado glorioso, mas, de qualquer forma, um passado que parece “real” - que poderia validar a identidade que reivindicamos (p.27).

Woodword (2007) ainda acrescenta: “Isso não significa negar que a

identidade tenha um passado, mas reconhecer que, ao reivindicá-la, nós a

reconstruirmos e que, além disso, o passado sofre uma constante transformação”

(p.28). Está aí a importância de conhecermos nossa identidade e nos

reconhecermos como agentes culturais buscando manter nossa história, apesar das

transformações que ocorrem com o tempo.

Vivemos na globalização que busca homogeneizar as imagens, estilos e

lugares, a fim de valorizar o que é do outro na desvalorização do que nos pertence.

26

Page 18: Monografia Cleia pedagogia 2011

Tal postura global tem alienado as identidades de suas origens, histórias, etc.;

dificultando saber quem somos se não formos ensinados em casa e em nosso grupo

social os nossos próprios valores culturais. Meneses (2002) afirma que a identidade

também é um processo de construção social:

A antropologia e a sociologia, por sua vez, informam-nos de que a identidade quer pessoal, quer social, é sempre socialmente atribuída, socialmente mantida e também só se transforma socialmente (...). Isto é, não se pode ser humano por si só, por representação própria: os valores, significações, papéis que me atribuo necessitam de legitimidade social, de confirmação por parte de meus semelhantes (...). Dentro dessa ótica, é fácil entender que o processo de identificação e um processo de construção de imagem; por isso terreno propício a manipulações (p.183).

Dessa forma, o suporte fundamental da identidade é a memória, pois juntas

buscam registrar o que se constitui como verdadeiro para o homem e/ou sociedade.

Sejam através de ritos culturais, artefatos, contos populares, etc.

2.4 Reisado

O Reisado também conhecido como Terno de Reis, Festas de Santos Reis,

Folia de Reis, entre outros, comemora o nascimento de Jesus Cristo, que encena a

visita de Reis Magos à Belém para adorar o menino-Deus. Como se encontra

registrado no Evangelho de Mateus 2:1-2, 11 (1993):

Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra (O Novo Testamento p.3).

Com relação à quantidade de reis, seus nomes e outras informações

particulares, o texto bíblico não nos dá, a saber. No entanto, ao longo dos séculos

surgem inúmeras reinterpretações sobre os reis magos.

Conhecida, em sua forma mais popular, como a “Adoração dos Reis Magos”, essa passagem da Escritura Sagrada é fonte de inspiração para as mais variadas manifestações nas letras e nas artes, contribuindo para o

27

Page 19: Monografia Cleia pedagogia 2011

desenvolvimento de tradições populares as mais diversas (SILVA, 2006, p.11).

E através do inscrito bíblico a cristandade encontra inspiração para sua

adoração ao menino Jesus, personagem central da fé cristã. Fato que motivou a

Igreja Católica a se interessar mais por este relato bíblico de poucas informações e

realizar especulações sobre os magos, como quantidade e seus nomes. Como nos

faz ver Torres, Cavalcante (2008):

A propósito, o título de Reis, atribuído aos Magos do Oriente, foi devido a Cesário [São Cesário], Bispo de Arles, França, no século VI. No século seguinte, o Papa Leão I assegurou, em seus “Sermões” sobre a celebração da Epifania, que os Reis Magos eram em número de três. Todavia, seus nomes somente mais tarde foram estabelecidos (p.200).

A Folia de Reis é uma festa de origem portuguesa, de características não só

religiosa, mas também festiva, onde a “Igreja” e seus fiéis buscam reviver o

momento de visitação e entrega de donativos ao recém nascido. A esse respeito

Silva (2006) ainda nos esclarece que:

As origens das Folias de Reis são portuguesas e datam de 1323. A jornada dos reis Magos do Oriente Baltazar, Melchior e Gaspar – está presente no evangelho de Mateus e relata que os magos “partiram de suas terras guiados pela luz de uma estrela resplandecente, chegaram à gruta, em Belém, na Judéia, para adorar o filho de Deus que havia nascido, ofertando-lhe régios presentes: Ouro, Incenso e Mirra” (p.13).

A adoração dos Magos se incorporou em manifestações da cultura popular,

saindo das fronteiras de Portugal e perpetuando-se por vários lugares. Nesse

momento a “Igreja” incorporou o roteiro dos Reis Magos, fazendo deste um dos

principais temas para dramatização e instrumento de ensino e propagação da fé

cristã. Como nos mostra Torres, Cavalcante (2008):

As tradições populares do ciclo natalino eram comuns em toda a Europa Cristã, em países como França, Itália, Alemanha, Portugal e Espanha. (...) Representações de rituais litúrgicos relativos aos Magos, que, a princípio, eram realizados no interior das igrejas, foram, pouco a pouco, popularizando-se, transportados para espaços abertos - praças e ruas. Assim surgiram os cortejos, vinculados aos templos religiosos das cidades, que encenavam a temática dos Magos, bem como grupos peditórios, no âmbito dos povoados rurais que, de casa em casa, levavam a mensagem do nascimento de Jesus Cristo. Atualmente, alguns países europeus ainda mantêm essas tradições milenares (p.200).

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Page 20: Monografia Cleia pedagogia 2011

O Reisado e conhecido como um espetáculo popular com danças, músicas e

personagens diversos em que se comemora o natal e os reis magos, cuja ribalta é a

praça pública, a rua. Onde toda a população tem a oportunidade de olhar e

acompanhar o cortejo. E sobre esta manifestação popular, Passarelli (2003) vem

definir o Reisado como:

(...) são as manifestações folclóricas natalinas, coreográfico-musicais, baseadas direta ou indiretamente nos costumes ibéricos do Ciclo do Natal, tendo ou não preservado o fundo religioso e independente da existência de um entrecho dramático, de peças teatralizadas, figuras de entremeio ou simulacros guerreiros (p.1).

No Brasil, essa manifestação popular chega somente anos depois, com

caráter mais religioso do que festivo, sendo introduzida no Brasil colônia pelos

portugueses com intuito de educar e catequizar a população que aqui vivia. Como

podemos acompanhar sua trajetória:

No período colonial, os colonizadores, em conjunto com os missionários jesuítas que aportaram ao Brasil, vindos com o primeiro Governador Geral Tomé de Souza, em 1559 e em anos seguintes, trouxeram essas tradições da Península Ibérica. Estes utilizavam autos litúrgicos com a temática dos Reis Magos, sob a forma de canto, dança e encenação, no processo de catequese e ensino, tanto dos nativos indígenas como dos próprios colonos portugueses (reinóis) e, posteriormente, dos escravos negros (SILVA, 2006, p.67).

Como sabemos, os colonizadores eram católicos e trouxeram suas crenças

enraizadas em suas identidades e nas pessoas dos catequistas e jesuítas. Já com

relação a maioria dos colonizados eles não somente tomaram para si essa religião

como também a incorporaram em suas manifestações culturais populares, como

vemos até hoje através do Reisado e outras tradições. Complementando, Silva

(2006) ainda esclarece:

O catequista José de Anchieta, considerado por muitos precursor das letras brasileiras, formado na escola de Gil Vicente, compôs, ensaiou e representou sua peça teatral inicial, “Pregação Universal”, reintitulada “Na Festa de Natal”, na Igreja dos Jesuítas, em São Paulo de Piratininga (atual cidade de São Paulo), no Natal de 1561, no Ano Novo e no dia de Reis de 1562. Este é o primeiro registro de um Auto encenado no Brasil que, com adaptações diversas, foi repetido por toda a costa brasileira, em aldeamentos jesuíticos como São Lourenço [Niterói] e São Vicente [São Paulo], Reis Magos [Espírito Santo], entre outros (p.67).

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Page 21: Monografia Cleia pedagogia 2011

O Reisado logo ganhou espaço em todo o Brasil, sendo visto em vários

estados. “Na segunda década do século XVIII, Nuno Marques Pereira em seu

compêndio Narrativo do Peregrino da América, registra a presença de Grupos de

Reis peditórios na Bahia” (TORRES, CAVALCANTE, 2008, p.201). E ainda sobre a

expansão e variação dessa manifestação Torres e Cavalcante (2008) acrescentam:

Tudo indica que, no início da colonização, juntos aos núcleos de povoamentos mais consolidados (Salvador/vilas próximas do Recôncavo, Olinda e, pouco depois Recife, já sob o domínio holandês, Rio de Janeiro/Niterói e São Vicente/São Paulo de Piratininga) moldaram-se as formas iniciais das tradições de Reis no Brasil. Presépios, Lapinhas e Pastoris, seguindo-se de outras representações folclóricas derivadas, Reisados, Rancho de Reis, Terno de Reis (versão baiana), Guerreiros, etc. (p.201).

Mudanças ocorreram nessa tradição popular, pois, inicialmente resumia-se ao

termo de ciclo natalino e a adoração dos Reis Magos no interior das igrejas. Mas aos

poucos devido o fluxo imigratório de colonos vindos do norte de Portugal, essa

cultura portuguesa misturando-se com os elementos da cultura negra e indígena deu

origem a novos termos e manifestações culturais com traços brasileiros. No entanto,

com o surgimento de grupos particulares em alguns países surgiu também “excesso

de profanização”, o que levou a Igreja reprovar tais posturas e impedir a entrada

destes no interior das Igrejas.

Na década de 1980, com a vinda do Papa João Paulo II a Santo Domingo (América Central), houve, contudo, uma mudança dessa postura eclesial. A partir daí, a Igreja Católica, através do processo de inculturação, abriu novamente suas portas a essas manifestações populares, reaproximando-se, assim, de seus seguidores, dando novo impulso às Festas dessas tradições de Reis (TORRES, CAVALCANTE, 2008, p.202).

A partir de então, essa manifestação voltou ao interior das igrejas ganhando

também as ruas através dos cortejos. No entanto, ainda hoje ela é realizada não

somente por cristãos com espírito de adoração, mas também pelo povo em geral

com espírito de diversão, misturando-se assim, sagrado e profano. Sendo conhecida

atualmente como:

(...) as Folias/Companhias/Embaixadas de Reis, o Terno de Reis (baiano e sulino), Pastor, Tiração de Reis, o Presépio, as Pastorinhas, os Pastoris, o Bumba-meu-boi do Nordeste brasileiro oriental, o Boi-de-Mamão, o Boi de Reis, o Reis de Bois, o Cavalo-Marinho, a Companhia de Pastores, as Reiadas, Reis de Careta e tantas outras manifestações, cobrindo

30

Page 22: Monografia Cleia pedagogia 2011

praticamente todo o território brasileiro (TORRES, CAVALCANTE, 2008, p.203).

As Folias de Reis são conhecidas e realizadas em muitos países, englobando

o Brasil que com sua grandeza territorial comporta não só essa manifestação em

seu sentido original como também suas variações, com músicas, personagens e

termos diversos. E diante de tantas definições conceituais e da falta de unanimidade

da mesma, Passarelli (2003) afirma:

A verdadeira riqueza do folclore brasileiro está na variedade inclassificável, no sincretismo, nos fenômenos de transposição, interpretação e influências folclóricas, nas múltiplas variantes, em toda a criatividade, plasticidade, presença de espírito e dinâmica com que o povo os cria, recria, adapta, extingue, ressuscita (p.1).

As festas de comemoração de Reis geralmente acontecem no período de 24

de dezembro a 06 de janeiro, sendo mais marcante no dia 06 de janeiro em que se

comemora tradicionalmente o Dia de Reis. Quando os participantes dos Reisados

acreditam ser continuadores dos reis magos que vieram do Oriente para visitar o

menino Jesus, em Belém, e saem de casa em casa para saudar os seus moradores.

(...) o ritual é sempre muito bonito e composto de “etapas” ou “fases”, que podem variar de acordo coma região, mas com poucas alterações: chegada/abrição de portas; saudação aos donos da casa, louvação ao presépio, despedida e, dependendo da manifestação, apresentação cantada/recitada e/ou dançada dos palhaços (e seus congêneres regionais). Podem ainda apresentar “cantos circunstanciais”, com temas diversos. O teor dos versos cantados é normalmente de natureza bíblica (TORRES, CAVALCANTE, 2008, p.206).

Como vemos algumas características podem variar de cidade para cidade,

mas a essência é a mesma, rememorar a viagem dos Reis Magos, adorar ao

Menino Jesus e fazer louvações aos donos das casas onde dançam, Os músicos

tocam foles, pandeiro, tambor e zabumba, enquanto os dançarinos usam em sua

coreografia de corrupios, gingados, galopes e pisa-mansinho. Os personagens são

diversos, porém os mais comuns são: rei, rainha, três reis magos, secretário, guias e

contra guias, mestra, mestre e contramestre, Mateus, palhaço, embaixadores,

embaixatrizes, governador, estrela, sol, lua, anjo, índio Peri e sereia.

31

Page 23: Monografia Cleia pedagogia 2011

O Reisado se constitui como uma forma de seus participantes buscarem sua

identidade cultural e ao mesmo tempo preservarem a mesma, transmitindo de

geração para geração.

32

Page 24: Monografia Cleia pedagogia 2011

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Esta pesquisa que tem como tema: “Manifestação cultural popular igarense

entre a tradição e a tradução: Um olhar sobre o reisado” foi efetivada pala

abordagem qualitativa de pesquisa, por envolver o contato, a troca de informações e

a integração entre pesquisador e pesquisado na busca do conhecimento e da

reflexão, sendo capaz de superar os limites das análises meramente quantitativas.

3.1 Pesquisa Qualitativa

Ao construir a trilha metodológica deste trabalho, optou-se pela pesquisa

qualitativa, uma vez que a mesma oferece ao pesquisador, possibilidades de

compreensão, interação, aprendizagem ou conhecimento do espaço pesquisado,

além de possibilitar uma aproximidade do outro e também do social, trabalhando-se

assim as dimensões humanísticas e democráticas, pois segundo Bogdan e Biklen

(1982), “a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador

com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do

trabalho intensivo de campo” (apud LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.11).

A este respeito Bogdan e Biklen (1982) ainda nos esclarecem que:

A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes (apud LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.13).

Dessa forma, uma das características da pesquisa qualitativa é investigar os

significados que os envolvidos dão ao assunto pesquisado, levando em conta seu

cotidiano para melhor compreensão do fato na sociedade.

33

Page 25: Monografia Cleia pedagogia 2011

3.2 Sujeitos da Pesquisa

Os participantes da pesquisa foram 16 pessoas, sendo 02 do sexo masculino,

e 14 do sexo feminino, idosas, idôneas, envolvidas no Reisado do distrito em estudo,

conhecedoras da origem e do processo de transformação pelo qual este passou e

atualmente passa, devido a influências contemporâneas e como a partir daí se

organiza e expressa. É importante colocar que todos moram na zona urbana de

Igara.

3.3 Lócus da Pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida em Igara, distrito que fica situado a 9 km do

município de Senhor do Bonfim. O que justificou essa escolha foi a diversidade de

manifestações culturais populares presente no distrito, especificamente o Reisado

que ainda hoje tem mobilizado a população à sua realização.

3.4 Instrumentos de Coleta de Dados

Para atingir o objetivo proposto: Analisar como os idosos do Reisado se

identificam como integrantes de uma manifestação da cultura popular. E como a

memória cultural faz parte desse importante processo. Foram utilizados os seguintes

instrumentos de coleta de dados: a entrevista semi-estruturada e o questionário

fechado.

34

Page 26: Monografia Cleia pedagogia 2011

3.4.1 A entrevista

A entrevista é uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os

tipos de pesquisa utilizados nas ciências sociais. A qual desempenha importante

papel não apenas nas atividades científicas como em muitas outras atividades

humanas. A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela

possibilita saber o que as pessoas pensam, suas idéias, crenças, sentimentos,

opiniões, maneiras de atuar, conduta ou comportamento do passado, presente e

futuro. Como bem salientam Ludke e André (1986):

(...) ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os variados tópicos. Uma entrevista bem – feita pode permitir o tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais (p.34).

Segundo Barbosa (2000), existem três tipos de entrevista: a estruturada que

obedece uma ordem rígida de questões das quais não se pode desviar; a aberta em

que há liberdade de percurso, e é constituída apenas por uma questão onde o

entrevistado fala livremente; e a semi-estruturada que é mais flexível, pois fica entre

esses dois extremos, pois mesmo possuindo questões norteadoras, podem surgir

outras questões durante a entrevista.

Por sua vez, a entrevista escolhida para a pesquisa desta temática, é a semi-

estruturada, a qual pode ser feita por meio de gravação direta ou anotação, a

mesma “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado

rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”

(LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.34). A partir dessa análise acreditamos que este

instrumento permitirá maior acesso as informações de relevância à pesquisa.

Para a veracidade desse estudo, foi realizada a gravação dos depoimentos

dos sujeitos envolvidos diretamente na manifestação cultural do Reisado, com o

intuito de registrar integralmente suas falas, assegurando material rico e fidedigno

para análise.

35

Page 27: Monografia Cleia pedagogia 2011

3.4.2 O questionário

Outro instrumento utilizado foi o questionário fechado, contando com 07

questões com perguntas fechadas. Este instrumento foi aplicado por facilitar traçar o

perfil dos sujeitos pesquisados e nos possibilitar compreender a realidade dos

mesmos dentro do contexto cultural. O questionário é “(....) uma técnica útil para

obtenção de informação acerca do que a pessoa sabe, crê ou espera, sente ou

deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem como a respeito de suas explicações ou

razões para quaisquer das coisas precedentes” (SELLTIZ, 1987 apud GIL, 1991,

p.90).

Marconi e Lakatos (1996) definem o questionário como “(...) um instrumento

de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem

ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (p.88). Assim, a

opção pelo questionário foi feita por ser uma forma de alcançar respostas com maior

objetividade e rapidez além de proporcionar uma uniformidade na avaliação das

informações obtidas, o que, acreditasse ser uma de suas principais qualidades.

Diante dos dados oriundos das entrevistas e questionários, utilizamos a

técnica de análise de dados e interpretação dos resultados, focalizando as

informações e confrontando-as com o material teórico utilizado neste estudo.

36

Page 28: Monografia Cleia pedagogia 2011

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Esta pesquisa foi realizada com participantes idosos do Reisado, sendo

utilizado como instrumento de coleta de dados o questionário fechado e a entrevista

semi-estruturada. A partir desses instrumentos tivemos conhecimento de como

esses idosos se sentem em ser integrantes do Reisado, e a importância da memória

para a manifestação cultural popular, o que converge para a questão da pesquisa.

Para organização deste capítulo, apresentamos os seguintes momentos: o

perfil dos sujeitos pesquisados do Reisado – formado através da análise dos

questionários; as categorias – os idosos do Reisado, suas identidades e memórias

na manifestação cultural popular, contêm a análise e interpretação geral da

entrevista.

4.1 O Perfil dos Sujeitos

As informações abaixo são resultado da análise dos questionários com o

objetivo de traçar o perfil dos 16 idosos entrevistados.

4.1.1 Gênero e faixa etária

Com relação ao gênero, 12,5% do total são do sexo masculino e 87,5%

feminino. Desta forma, vemos que os participantes da pesquisa, em sua maioria, são

do sexo feminino. Reforçando concepções e idéias do passado e atualidade, que

afirmam ser de responsabilidade da mulher a educação e religião da família/filhos.

Como mostra o gráfico.

37

Page 29: Monografia Cleia pedagogia 2011

87%

13%

Mas c ulino

F eminino

Figura 1 Percentual referente ao gênero.

A cerca da faixa etária 6,25% têm entre 40 e 50 anos, 18,75% entre 50 e 60

anos, e 75% acima de 60 anos. Assim os dados obtidos conforme o gráfico abaixo

confirma que os participantes do Reisado consistem em sua maioria dos sujeitos

que estão na faixa etária acima de 60 anos o que nos levou a perceber que por

possuírem mais experiência de vida presenciaram mais Ternos e puderam contribuir

melhor para este trabalho através de sua memória. Veja o gráfico a seguir.

6%

19%

75%

40- 50 anos

50- 60 anos

A c ima de 60anos

Figura 2 Percentual referente à faixa etária.

38

Page 30: Monografia Cleia pedagogia 2011

4.1.2 Estado civil e filhos

No aspecto estado civil, 12,5% são solteiros, 50% casados, e 37,5% viúvos.

Como podemos observar, 50% dos entrevistados são casados, enquanto o número

de viúvos também é grande e nos leva a entender que estes se constituem nos mais

idosos. Como nos mostra o gráfico.

12%

50%

38% S olteiro

C as ado

V iúvo

Figura 3 Percentual referente ao estado civil.

Em relação a filhos foi coletado o seguinte: 6,25% não têm filhos, 18,75%

possui entre 01 ou 03 filhos, 31,25% entre 03 ou 05 filhos, e 43,75% acima de 05

filhos. Observa-se através das respostas do questionário que quase todos os idosos

possuem filhos, o que nos mostra que esses idosos têm contribuído para

preservação e transmissão dos Ternos, seja através de seu exemplo e/ou ensino.

Veja o gráfico.

6%

19%

31%

44%Não têm filhos

01- 03 filhos

03- 05 filhos

A c ima de 05 filhos

Figura 4 Percentual referente a filhos.

39

Page 31: Monografia Cleia pedagogia 2011

4.1.3 Com relação ao nível de escolaridade

25%

13%62%

Analfabeto

Alfabetiz ado

E ns ino fundamental

Figura 5 Percentual referente ao nível de escolaridade.

Do total de entrevistados 25% são analfabetos, enquanto 12,5% são

alfabetizados, e 62,5% possuem o ensino fundamental. Podemos então considerar,

que os resultados obtidos, com relação ao nível de escolaridade, demonstram um

bom resultado, visto que estamos nos referindo a idosos e no passado o ensino

público e/ou privado não eram tão abrangentes tanto em nível territorial, financeiro,

etc. como possuímos hoje. Como nos mostra o gráfico.

4.1.4 Com relação à religião

6%6%

38%

50%

E vangélico

C atólic o, es pírita epraticante docandombléC atólic o e praticantedo c andomblé

C atólic o

Figura 6 Percentual referente à religião.

40

Page 32: Monografia Cleia pedagogia 2011

A religião dos entrevistados é caracterizada a partir dos seguintes dados:

6,25% são evangélicos, 6,25% consideram-se católicos, espíritas e praticantes do

candomblé, 37,5% se consideram católicos e praticantes do candomblé, e 50% são

católicos. Este resultado foi de grande relevância, pois nos possibilitou conhecer os

diferentes grupos de Ternos realizados por essas religiões, como também vermos a

maneira que o sincretismo atua no Reisado. Veja o gráfico.

4.1.5 Quanto à naturalidade

100% Igara

Figura 7 Percentual referente à naturalidade.

Tratando-se de naturalidade 100% dos idosos da pesquisa são naturais de

Igara. Ao serem indagados sobre sua naturalidade as respostas foram em sua

totalidade, afirmando que são naturais do distrito de Igara e demonstrando orgulho

por serem igarenses. Assim, a naturalidade também foi um fator de grande

relevância para nos ajudar a conhecer a história dos Reis nesse distrito, pois os

idosos cresceram em um ambiente em que viam e ouviam sobre o Terno. Como nos

mostra o gráfico.

41

Page 33: Monografia Cleia pedagogia 2011

4.2 Síntese dos Dados do Questionário Fechado

A análise do questionário nos possibilitou conhecer os sujeitos da pesquisa

em seus aspectos sociais, facilitando assim traçarmos o perfil dos idosos do

Reisado. Os dados obtidos nos revelaram também as condições em que estes

idosos vivem. Dentre as muitas informações coletadas, destacamos as seguintes:

A maior parte (87,5%) é do sexo feminino e que, também a maioria (75%) tem

acima de 60 anos.

A metade dos entrevistados (50%) é composta de casados, enquanto 43,75%

possuem acima de 05 filhos.

Tratando-se de nível de escolaridade, é bom, pois 62,5% dos idosos possuem

ensino fundamental, com relação a religião é de predominância católica, onde 50%

são católicos e 43,75% além de terem outra religião também se consideram

católicos nos permitindo ver a presença do sincretismo.

A cerca de naturalidade, 100% das pessoas entrevistadas são do distrito de

Igara.

Baseando-se nos dados acima, podemos afirmar que os sujeitos envolvidos

com o Reisado, são em sua maioria os católicos mais idosos e do sexo feminino.

4.3 As Categorias

Apresentamos a seguir os resultados das entrevistas que nos mostram como

os idosos do Reisado se identificam como integrantes de uma manifestação da

cultura popular. E como a memória cultural faz parte desse importante processo.

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Page 34: Monografia Cleia pedagogia 2011

4.3.1 O terno da cigana sai à rua, pra visitar a lapinha de Belém

Em relação à definição do Reisado percebemos que 100% dos entrevistados

possuem conceitos pessoais que demonstram sua identificação e carinho com essa

manifestação. Eis a fala de alguns idosos:

“O Reisado é uma festa que eu gosto muito, que festeja os santos Reis, que faz em 06 de janeiro com as roupas caracterizadas e saem nas ruas com os cânticos” (I4) 1.

“É um folclore, uma festa religiosa muito bonita, que fala muito sobre o nascimento de Jesus, o tempo de Jesus” (I1).

“O Reisado é coisa boa, vem do nascimento de Cristo, Ele nasceu na manjedoura e os reis foram pra visitá-lo e por isso o Reisado” (I2).

“É uma animação dos reis antigos. Uma tradição que já veio dos antepassados” (I6).

“Pra mim o Reis é uma coisa muito boa, porque a gente tem aquele divertimento, uma coisa que serve pra gente, pra se divertir, e uma coisa também que já ficou feita pra gente já ter aquilo pra participar, é uma coisa que é já do começo do mundo já veio isso pra gente ter um divertimento” (I11).

As respostas apresentadas nos mostram o sentimento de pertencimento dos

participantes do Reisado, bem como o conhecimento dos mesmos em relação à

origem dessa manifestação. Como nos faz ver Cascudo (2002):

Reisado. É denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e dia de Reis (6 de janeiro). (...) O auto popular profano-religioso, pertencente ao ciclo natalino, é formado por grupos de músicos, cantadores e dançadores que vão de porta em porta anunciar a chegada do Messias e homenagear os três Reis Magos. O Reisado é conhecido também com os nomes de Reis, Folia de Reis, Boi de Reis, e o enredo é sempre a Natividade, os Reis Magos e os pastores a caminho de Belém (p.581).

O Reisado é comemorado no dia 06 de janeiro, quando a população em sua

maioria religiosa une-se para festejar os Reis. Como nos mostra Cascudo (2002) o

1 Utilizaremos a letra I seguido de número atribuído ao idoso entrevistado, seguido do algarismo arábico (1, 2, 3...).

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Page 35: Monografia Cleia pedagogia 2011

Terno de Reis acontece “geralmente entre 20 de dezembro e 6 de janeiro,

comemorando o nascimento de Cristo e cantando em louvor do Deus Menino”

(p.675). Em Igara as comemorações iniciavam-se no dia 06 de dezembro e iam até

06 de janeiro, quando o cortejo maior acontecia. Porém, hoje a festa de Reis não

acontece mais em todo esse período, com o tempo ele se perdeu um pouco sendo

celebrado somente uma vez que geralmente acontece no dia 06 de janeiro (Dia de

Reis), ou então em qualquer outro dia deste mês, mas sempre após o dia 06.

Em Igara, apesar de o Reisado ser praticado por muitos, o ano em que foi

realizado pela primeira vez neste distrito ainda é desconhecido, onde nenhum dos

idosos soube nos falar a data de seu surgimento. Sobre sua origem no distrito de

Igara, somente alguns entrevistados (os mais idosos), tem conhecimento e puderam

nos dar essa informação. Como mostram essas falas:

“O povo antigo armaram as lapinhas nas casas e começaram a cantar nas casas. Cantavam nas lapinhas durante 30 dias e depois faziam o Reis no dia 06 de janeiro, cantando, aplaudindo o nascimento de Cristo. Não sei lhe dizer quando começou, porque quando eu me entendi já cresci cantando os Reis por que eu já tenho 76 anos então tem uns 100 anos, porque o povo foi descobrindo e cantando” (I2).

“A gente começou assim, a gente fazia as lapinhas nas casas, se combinava quem fazia as lapinhas as moças e rapazes, e no dia 06 de janeiro fazia o terno. Arrumava as lapinhas dia 06 de dezembro e ia até 06 de janeiro, cantava o mês todinho, no natal, e no dia 07 de janeiro desarmava as lapinhas” (I4).

“Começou com as mulheres mais antigas a Zulmira, Ambrosina, Alvina, Ana Ricardina minha bisavó, faziam uma lapinha em dezembro comemorando o nascimento do Deus Menino, aí elas terminavam em janeiro e formavam o Reis em 06 de janeiro para comemorar, começar o ano com a festa dos Reis, chamava-se terno. Elas procuravam as pessoas e faziam a festa, e saiam na rua e iam comemorar na porta da igreja louvando as doutrinas delas. Depois da igreja voltavam cantando na rua, muita gente acompanhava com as velas e lanternas acesas” (I6).

“A primeira que botou o Reisado eu não cheguei a conhecer mais ouvi falar que foi uma Ambrosina, depois da Ambrosina conheci a minha avó Dona Neném, minha avó botava Reis aí eu ajudava ela. Começou assim, armavam as lapinhas no final de novembro e a gente passava o mês de dezembro todinho cantando, toda a noite a gente reunia as amigas e ia cantar as lapinhas, em toda a casa que tinha lapinha. Em janeiro no dia 06 tinha o Reis e da casa de cada organizador saía um, no dia 07 de janeiro elas desarmavam as lapinhas” (I7).

Percebemos em todos os depoimentos que as lapinhas foram citadas

constituindo-se como elemento histórico e fundamental para o Reisado. Como

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Page 36: Monografia Cleia pedagogia 2011

vemos em Cascudo (2002) “O Dia de Reis marca, especialmente no norte, o final do

ciclo do Natal, terminando as Lapinhas e os Pastoris com a “queima”, e os autos

tradicionais, a Folia de Reis, (...), exibem-se pela última vez” (p.580). Tal relato nos

mostra a semelhança desta com a que era realizada em Igara, visto que ambas

marcam o início do ciclo natalino com adoração ao Deus Menino e aos Reis Magos,

encerrando esse período com o Reisado no dia de Reis (06 de janeiro).

Notamos que há unanimidade nas falas dos idosos no que se refere à origem

dos Ternos através das lapinhas, bem como revelando a Zulmira, Ambrosina, Alvina,

Ana Ricardina, como pioneiras dessa manifestação no distrito. O Reisado de Igara é

muito antigo, onde a maioria de seus componentes já faleceu e os demais não

sabem exatamente o ano em que tudo começou, mas mesmo assim, essa

manifestação tem resistido e continua a ser realizada baseando-se na memória dos

mais velhos que contém os registros da festa de Reis como sua origem,

personagens, músicas, etc.

4.3.2 Deus vos salve casa santa, onde Deus fez a morada

Tradicionalmente, essa manifestação acontece nas ruas de Igara, onde

envolve toda a comunidade, que em sua maioria é de católicos e praticantes do

candomblé nessa comemoração religiosa de origem cristã. O percurso realizado

pelo cortejo do Reisado difere entre religiões, mas tem um ponto em comum, a

saudação na porta da igreja católica, fator que mostra claramente o sincretismo. “Os

rituais religiosos partem da porta das igrejas e locais sagrados, pretendem ordenar o

mundo de acordo com os valores que são ali representados com os mais básicos”

(RIBEIRO, 1994, p.136). Vejamos na fala do idoso 5-católico e na fala do idoso 9-

católico e praticante do candomblé como acontece o cortejo desses grupos.

“O cortejo acontece nas ruas do distrito principalmente as mais iluminadas, sai da casa da pessoa que organiza, ou de um salão onde ensaia, passa na igreja e salda na porta com o canto: Deus vos salve casa santa, onde Deus fez a morada... E da igreja a gente saí pelas ruas cantando, aí a gente arruma uma casa para cantar no final, e lá com as portas fechadas a gente canta: Ô senhor dono da casa, abre a porta queremos entrar, nós

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Page 37: Monografia Cleia pedagogia 2011

viemos de tão longe somente para saldar... Depois é que o dono abre as portas e a gente canta: O dono da casa ele é bom ele dá, garrafa de vinho doce de araçá... Todos entram na casa e o dono dá um lanche, refrigerante, suco. A gente é que escolhe a casa e lá termina” (I5).

“Nós, nós somos assim, porque todo o ano a gente vai para um lugar diferente, então nós saímos de lá da casa dela da organizadora, vamos para a porta da igreja lá a gente canta, aí da igreja a gente pega o ônibus e vai para o lugar que a gente marcou o Reis. Nós já fomos para a Tapuia, para a Barriga Mole, para a Andorinha, para o Sítio, para o Valente, para o Clube do Gildo aqui na Igara, e outros lugares. E a gente já vai direto para uma casa, não vai de casa em casa não. A gente sai da casa aqui, e se for perto a gente vai a pé, se não a gente marca com todos, pega um ônibus e todo mundo trajado, vestido aí vai. Chega lá canta o Reis na porta e a casa já está preparada para a gente quando chegar, aí a gente entra, canta, dança a noite toda” (I9).

Cascudo (2002) aponta em seus estudos, sobre o Terno de Reis, o roteiro

que este realiza:

(...) percorrem as ruas das cidades, os sítios e fazendas (...). Faz parte desse roteiro a visita às casas, de acordo com um andamento previamente determinado, que consta de chegada, pedido de licença (para entrar), agradecimento (pela esmola ou comida recebida) e despedida (p.675).

Desta forma, notamos que o Terno citado por Cascudo (2002) também difere

dos citados pelos idosos 5 e 9 pois enquanto estes dois seguem o percurso somente

em parte, o que Cascudo (2002) nos traz abrange o roteiro de ambos. Embora os

percursos desses grupos sejam diferentes, eles acontecem anualmente com a

mesma finalidade, festejar os Santos Reis. Sobre os instrumentos musicais

utilizados nessa manifestação Cascudo (2002) nos diz:

O terno de Reis, também chamado Folia de Reis, Santos Reis, é acompanhado por sanfona, rabeca, caixa. No Nordeste incluem-se os pífaros e o triângulo. No Rio Grande do Sul, ao som da viola de dez ou doze cordas, da rabeca, da gaita (acordeão) e do tambor, (...) (p. 675).

Assim, notamos que os instrumentos usados variam de região para região. E

em Igara não é diferente os músicos tocam os instrumentos que são típicos de

nossa terra como: timbau, caixa, tambor, pandeiro, violão, sanfona, triângulo,

zabumba, reque-reque, entre outros. As músicas cantadas são diversas falam da

ciganinha, da estrela, de Jesus, dos reis magos, da casa de Deus, do sertanejo, etc.

Através das entrevistas com os idosos, notamos que dos 16 entrevistados apenas

um ainda guarda algumas músicas escritas, sendo que os demais têm as músicas

somente em sua memória.

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Page 38: Monografia Cleia pedagogia 2011

Notamos também a utilização de algumas músicas diferentes entre os grupos

de Ternos, mas para o momento de saída, saudação na igreja, abrição de porta são

as mesmas. Para cada momento no Reisado há uma música específica, para sair da

casa da pessoa que organiza canta: O terno da cigana sai à rua, pra visitar a lapinha

de Belém, o pessoal na janela está dizendo, olha o terno da cigana como vem... Ao

chegar à porta da igreja canta: Deus vos salve casa santa, onde Deus fez a morada,

entre o cálice e a água benta e a hóstia consagrada... Ao sair da porta da igreja: É

uma hora vamo-nos embora, é o terno da cigana que já vai ganhar vitória...

Na rua cantam-se várias músicas como: Acorda, acorda sertanejo vem ver o

clarão da lua é o terno da cigana que saiu hoje na rua... Olha o clarão da nova

estrela na estrada de Belém, vamos adorar o Deus Menino que nasceu para o nosso

bem... Desperta povo que habita desperta povo que está agora aurora desperta por

um nobre brilhar... Estou cansada de andar na areia, estou cansada de na areia

andar a procura de uma cigana que saiu a passear... Ao chegar a casa onde é

finalizado o terno com as portas fechadas canta-se: Meu senhor dono da casa abre

a porta queremos entrar, nós viemos de tão longe somente para saldar... Depois de

a porta estar aberta segue a música: Me abre essa porta ascende o candeeiro, o

dono da casa tem muito dinheiro, o dono da casa ele é bom ele dá garrafa de vinho

e doce de araçá... No interior da casa cantam-se outras músicas, e na saída para

finalizar tem a música: No dia seis de janeiro que as ciganas vão cantar, bate palma

e pede bis, já foi noite de natal...

Como vemos a música é um elemento sempre presente nos Reis, e de

fundamental importância nas quais cada personagem encontra sua homenagem e

cada participante sua história. Como salienta Ribeiro (1994) “A expressividade

popular é sobretudo social e criadora de igualdade: o canto manifesta a fala grupal,

cheia de poesia e alegria, em contraste com a comunicação cotidiana, em que se é

obrigado a ouvir calado e obedientemente” (p.135).

Sobre a composição das músicas, trazemos o idoso 4 que representa 15 dos

entrevistados, e o idoso 6 que foi o único que soube falar sobre quem as compôs.

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Page 39: Monografia Cleia pedagogia 2011

“A gente não sabe quem inventou as músicas, porque quando a gente se entendeu já existiam e cantavam aqueles versos” (I4).

“Quem inventava as músicas, era a Anália que hoje vive em São Paulo irmã da Paulina, a Paulina que já faleceu, e a Definha que também já faleceu” (I6).

O Reisado que é uma manifestação com muitas músicas é formado por

pessoas de toda a faixa etária enquadrando nesta os seus personagens. Assim, as

crianças saem de três Marias e de anjos; as moças de lua, estrela, bailarinas e

camponesas; os rapazes de sol, três reis magos, pastores e ciganos; e os adultos

em geral saem de ciganas, cigana do Egito, cigana mineira, cigana natural, rainha,

rei e dançarinas. Esses são os personagens mais comuns e em sua maioria citados

por católicos que demonstraram serem mais conservadores, porém na fala do idoso

9 que não somente é católico como também é praticante do candomblé notamos a

presença de figuras diferentes e a abertura para inovações, visando o crescimento

da manifestação. Eis a fala do idoso:

“Tem as dançarinas, tem a Maria Bonita, o Lampião, as ciganas, os cangaceiros, a lua, a estrela, o sol, os anjos, o rei, a rainha. A gente quanto mais figuras quer colocar para crescer mais a gente coloca e o Reis cresce mais ainda, aí também vai do gosto da gente, né? Se às vezes a gente quer que cresça mais o Reis, a gente vai modificando mais coisa multiplicando os personagens” (I9).

As figuras são variadas, e a disposição dos participantes também varia de

Reisado para Reisado. Em todas as representações os lugares de destaque são

destinados ao rei, a rainha, ao sol, a lua e a estrela. As roupas dos participantes são

ricamente enfeitadas com babados de papel crepom, flores, espelhos e muita areia

prateada.

4.3.3 Meu senhor dono da casa abre a porta queremos entrar

No que se refere à sexta pergunta, “Desde quando você participa do

Reisado? De quando você começou a participar do reisado até hoje, houve alguma

mudança no mesmo? E o que contribuiu para essa mudança?” Destacamos dois

grupos que são representados com as falas a seguir:

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Page 40: Monografia Cleia pedagogia 2011

“Foi o terno que foi para Bonfim e eu participei, foi em 1966 foi o primeiro, o ano em que eu me casei. Houve mudança sim, nos personagens que eram moças e rapazes e hoje são mais crianças e adolescentes porque os outros não querem mais. Acho que é o tempo hoje, pois eles pensam de outro jeito e a televisão contribui para isso, o povo era mais são, santo. Hoje o povo não quer mais, misturam o santo com profano, muitos vão para mangar” (I1).

E em outro momento, como forma de desabafo o idoso 1 torna a dizer:

“É hoje está tudo diferente, antes era só cristã, muito bonito, sagrado. Mas agora também estão fazendo outros, o do (...) e o da (...) e saem aí, mas é diferente não é como eles fazem, eles colocam soldados e os personagens que não tem, e misturam as coisas o candomblé no meio, mas não pode não é assim” (I1).

“Desde criança. Agora a gente já não faz como era antes, precisa de material o povo não quer mexer no bolso, quer ir atrás do prefeito, antes a gente colocava a mão no bolso só precisava dizer como era a roupa. A falta de participação. Agora a gente só chama as pessoas quando sai da igreja e na rua improvisado sem as roupas de terno, forma um grupo e vai a casa onde tem um presépio e canta. Não sei por que não vão, a gente chama e colocam dificuldades são adultos, crianças. E também precisamos de pessoas de responsabilidade para fazer, só vão quando é assim com roupa comum. E os jovens não valorizam os conhecimentos do passado, e agora com tanto conhecimento é internet, televisão aí eles acham que são os donos da verdade” (I5).

“Eu era nova, eu estou com 79 anos e já vou fazer 80 anos agora em outubro e desde quando eu era moça já participava. Era de 12 anos acima que a gente participava, era uma velha que colocava as lapinhas e chamava a gente e a gente participava. Não tem mudança, a mesma coisa. Vamos para as caatingas, entra nas casas” (I3).

“Eu comecei a participar com uns 40 anos e quando eu era mais nova eu não ligava muito não, mas depois que eu fiquei assim mais velha foi que eu me influí, mas quando eu era mais nova eu não me influí muito não. Eu acho a mesma coisa, mesmo jeito, para mim né, o mesmo jeitinho não tem diferença nenhuma” (I9).

Os idosos 1 e 5 representam o primeiro grupo que mostra tristeza e

indignação ao afirmar que o Reisado sofreu mudanças ao longo dos anos.

Apontando também os fatores que influenciaram tais mudanças percebemos que a

participação das pessoas nessa manifestação popular vem diminuindo a cada ano,

mas um grupo pequeno de participantes insiste em continuar essa tradição que para

eles é muito forte e esforçam-se para fazer sua continuidade. Percebemos também,

que esse grupo composto de católicos e evangélicos sabendo que o reisado foi

introduzido no Brasil através do catolicismo e que por este sempre foi realizado, não

considera como legítimo o Reisado que é feito por católicos, espíritas e praticantes

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Page 41: Monografia Cleia pedagogia 2011

do candomblé. Visto que o grupo um considera essa manifestação como sua, e os

demais grupos onde a presença do sincretismo é mais forte como sendo invasores.

O segundo grupo representado pelos idosos 3 e 9 é formado por católicos,

espíritas e praticantes do candomblé que novamente nos mostra a presença do

sincretismo, pois sendo o Reisado uma manifestação católica já é realizada por

outras religiões. Diferente do grupo anterior, este não atribui nenhuma mudança ao

Reisado, e não age com indiferença com o Reisado realizado por outro grupo

religioso, mostrando-se mais forte, conquistando a cada ano um maior número de

participantes, pois hoje já são dois grupos de Reisados diferentes que saem as ruas

de Igara dirigidos apenas por pessoas deste segundo grupo.

Vale salientar que os componentes do segundo grupo não atribuem mudança

ao Reisado, no entanto, sua própria religião mudou, pois sendo estes praticantes do

candomblé, não realizavam a festa de Reis, mas nos últimos anos eles incorporaram

essa manifestação do catolicismo de forma que já sentem a mesma como parte de

sua identidade. Sobre esse processo de sincretismo do candomblé Ortiz (2006) vem

nos esclarecer:

O candomblé tende a manter uma tradição fixada nos tempos passados. Esta dimensão de preservação da tradição se manifesta na sua estrutura de culto assim como na ênfase que se dá à transmissão oral do conhecimento. (...) Não se pode, porém, pensar o processo de rememorização como sendo estático, a tradição nunca é mantida integralmente. O estudo dos cultos afro-brasileiros mostra a existência dos fenômenos de aculturação e sincretismo que indicam precisamente o aspecto das mutações culturais. (...) A memória coletiva africana retém da hagiografia católica aqueles elementos que têm alguma analogia com os orixás sincretizados. (...) Tem-se assim que a memória coletiva se preserva inclusive no momento em que dinamicamente o sincretismo se estabelece (p.132-133).

Pode-se dizer que o sincretismo acontece não somente no candomblé como

também nas demais religiões, quando percebemos a presença da festa, da reza, o

festivo e o religioso manifestando-se na alma humana. Podemos dizer também que

o catolicismo é predominante no reisado, pois mesmo com aparente

enfraquecimento dos Reis dirigidos por o primeiro grupo formado por católicos, os

componentes do segundo grupo além de se declararem como tendo outra religião

também se declaram católicos, constituindo assim a maioria.

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Page 42: Monografia Cleia pedagogia 2011

O brasileiro é um povo católico. Isto também faz parte da identidade brasileira, apesar de o catolicismo não ser brasileiro. Vale, entrementes, a afirmação de que o brasileiro é católico, e o é estruturalmente para além da fé católica institucionalizada. Tal catolicismo quase pode ser confundido com o espírito de religiosidade do brasileiro (RIBEIRO, 1994, p. 57).

O Reisado desde sua origem em Igara era mais conhecido como “As

Lapinhas” e “Terno de Reis” atualmente só existe uma lapinha que é realizada pelos

católicos na casa onde se canta o Terno de Reis. Como nos mostra a fala do idoso

15:

“Hoje a gente vai assim mesmo com essas roupas, canta na lapinha da igreja e vai para a casa de alguém que tem lapinha, lá a gente canta, come pipoca o que derem e em seguida a gente fica cantando e lembrando os Ternos de antes, como era bom. Teve esse ano e agora está sendo assim” (I15).

Notamos assim, que à medida que o Reisado do segundo grupo cresce, o do

primeiro tem enfraquecido, pois dos vários Ternos que saíam no passado, resta

apenas um que foi citado acima pelo idoso 5. Como justificativa para essa

desintegração além dos fatores de mudança citados pelos idosos 1 e 5

anteriormente encontramos um outro na fala do idoso 1.

“Há dois anos não faço o Terno, um porque meu pai morreu, e o outro porque morreu a filha de outra organizadora. Mas se Deus quiser não vai morrer ninguém e no próximo ano eu faço” (I1).

O falecimento de parentes, participantes e/ou dirigentes do Reisado tem sido

mais uma causa do enfraquecimento dessa manifestação no distrito, sendo que hoje

há apenas três grupos de Reisado em Igara. Observamos assim, que a memória

cultural é atualizada na interação social, mas sem esses agentes culturais não há

memória e o Terno regride. Assim, na manifestação cultural popular os participantes

têm funções diferenciadas o que permite a manutenção da tradição, mas a ausência

de um desses componentes pode comprometer seu futuro. Como nos mostra Ortiz

(2006):

Isto implica considerar que a memória coletiva deve necessariamente estar vinculada a um grupo social determinado. É o grupo que celebra sua revificação, e o mecanismo de conservação do grupo está estreitamente associado à preservação da memória. A dispersão dos atores tem

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Page 43: Monografia Cleia pedagogia 2011

conseqüências drásticas e culmina no esquecimento das expressões culturais. Por outro lado, a memória coletiva só pode existir enquanto vivência, isto é, enquanto prática que se manifesta no cotidiano das pessoas (p.133).

Desta forma, reconhecemos que a memória cultural consiste em um grande

tesouro que poucos possuem, pois, das inúmeras lapinhas e Ternos de Reis restam

muitas saudades, saudades que transpareceram no carinho, na voz emocionada,

nos olhos brilhantes e nas tímidas lágrimas que surgiram em alguns rostos enquanto

falavam do passado. E em especial quando respondiam a sétima pergunta “Você

tem lembranças do Reisado em sua família? Tem fotos?”. Eis algumas falas:

“Eu tenho lembranças de meus irmãos que saiam no terno quando eram rapazes porque já convidavam para eles saírem todo ano. E já eu e as outras moças éramos sós para cantar porque eram as mulheres que cantavam. E eu gostava tanto do Dia de Reis quando era moça, e foi o dia em que minha filha morreu. Tenho não, nesse tempo não tinha retrato era um tempo muito atrasado. Eu vi um DVD de Reis que era igual o daquele tempo, eu chorei lembrando” (I4).

“Sim. Minha mãe falava que tinha, falava dos Reis. A Ambrosina mesmo, ela era paralítica e fazia o terno, armava a lapinha e escolhia os personagens ensaiava e alguém andava com ele na rua. Eu tinha uns 10 anos, mas eu me lembro bem nem tinha energia elétrica era escuro andavam com velas e lanternas. E já tinham pessoas que saiam assim moças, porque quando eu sai eu tinha uns 14 anos. A primeira vez que participei a roupa era de papel crepom verde e rosa, saia rosa e um bolerinho verde. Choveu e quando sai da casa para a rua já cheguei com a roupa toda molhada rasgando, me enrolaram com uma roupa e naquele dia eu nem saí mais. Não, naquele tempo nem tinha. Eu tinha só de minha filha de binóculo, mas nem sei onde anda” (I14).

“Eu tenho, eu me lembro muito é a mesma coisa que eu estar vendo tudo, tudinho. Minha bisavó dava Reis, minha avó Neném também dava Reis, eu a ajudava a fazer os enfeites, as roupas, ela tinha uma lapinha bonita, tão linda que quando ela armava o povo de Senhor do Bonfim vinha para visitar. Eu menina ficava ajudando ela, mas depois eu preferi uma também e meu avô que fazia os meus gostos comprou umas coisinhas e mandou eu fazer uma lapinha. Eu não tinha planta, então eu chegava na roça e tirava galhos de saia de comadre, são João e colocava nos jarros na minha lapinha. Quando foi um dia ela deu para ciumar disse que meu avô estava comprando isso e isso para mim, mas é porque eu fazia caprichado, bonito. Na lapinha eu colocava o arco, o céu, a igrejinha com três portas, Maria, José, e no dia 24 de dezembro colocava o Deus menino, todos os santos, jarro com flor, búzios, palha, muitos enfeites. Eu me lembro de tudo, minha cabeça é boa. Eu tinha foto mas era de binóculo, mas sumiu tudo” (I7).

Através dessas falas notamos a importância que a memória tem para os

participantes do Reisado, visto que “é a memória que funciona como instrumento

biológico-cultural de identidade, conservação, desenvolvimento, que torna legível o

fluxo dos acontecimentos” (ORTIZ, 2006, p.185). Para os idosos entrevistados,

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Page 44: Monografia Cleia pedagogia 2011

lembrar do reisado é reviver sua história, história que está presente somente em sua

memória, pois os binóculos já não existem mais e dos 16 entrevistados apenas 01

ainda tem fotos. Assim, a memória se constitui como o único recurso de preservação

dos Reis para muitos de seus participantes onde guardam com muito amor as

músicas, personagens, fantasias, etc.

4.3.4 No dia seis de janeiro que as ciganas vão cantar

O Reisado por já fazer parte da cultura de Igara há vários anos tem muitos

simpatizantes que em sua maioria já participaram e/ou participam dessa

manifestação. Onde os mesmos sentem-se felizes em festejar o Dia de Reis que

além de ser um evento em que podem demonstrar a sua fé, também é uma

diversão.

O festivo brasileiro é expressivo, seja no riso, seja na ironia, na erótica, na dança ou na oração. Mistura-se tudo. A expressividade da festa do povo explode no canto, na dança, nas roupas à fantasia e em outros recursos visuais. (...) A dança rompe a fadiga dos movimentos automatizados, retilíneos e solitários. Ela é a forma de estar junto, de romper a individuação de um corpo produtivo para dotar de manifestação interjetiva em um corpo total (RIBEIRO, 1994, p.135).

Vejamos algumas declarações com relação à oitava pergunta “Como se sente

em ser integrante de uma manifestação da cultura popular?”:

“Eu me sinto feliz porque aquelas horas que a gente está nos Reis está se divertindo mais, se distraindo, não está em depressão, está se distraindo” (I13).

“Muito bem, pois acho que estou dando um pouquinho de mim para as pessoas que não viram as lapinhas e os ternos, um pouquinho do que eu vi, do que eu vivi para os de hoje que não viram essas coisas. Principalmente a juventude que não viu nada de bom do que passou” (I8).

“Feliz. A coisa que eu mais gosto é a festa de Reis, dos Ternos tenho paixão. Nunca me esqueço do ano que eu não saí porque eu estava de papeira, o povo do Reis passava e eu olhando chorava” (I10).

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Page 45: Monografia Cleia pedagogia 2011

Nesse sentido, observamos que os idosos criaram uma valorização por o que

é seu de origem, suas raízes e os seus valores, gerando com isso sua própria

identidade como povo. Como nos faz ver Ribeiro (1994):

O festivo iguala os homens e é oportunidade de solidariedade, gratuidade. É a expressão de identidade do povo/massa, e o leva a misturar-se com o místico. Este gesto lúdico se expressa na roupa colorida, nas ornamentações, no clima e no ambiente global (p.135).

Também pudemos observar que todos os participantes do Reisado têm feito a

sua parte na preservação e divulgação dessa manifestação participando,

organizando e realizando os ternos, como também ensinando aos filhos, parentes e

comunidade como eram as cantigas, lapinhas e Ternos.

De acordo com os depoimentos colhidos, referente à décima pergunta “Qual a

contribuição do Reisado para a cultura local?” nota-se que há um consenso entre os

idosos a esse respeito, visto que 100% dos entrevistados crêem que o Reisado

contribui para diversão, fortalecimento da fé dos religiosos, construção da história e

cultura local, e preservação da cultura de Igara a cada Terno que acontece

anualmente. Através desses depoimentos percebemos que os participantes dos

Reis sabem bem que uma forma de preservá-lo é sua constante realização. E sobre

esse método de preservação presente em todas as culturas Ortiz (2006) exemplifica:

O candomblé, ao definir um espaço social sagrado, o terreiro, possibilita a encarnação da memória coletiva africana em determinados enclaves da sociedade brasileira. Neste sentido, a origem é recorrentemente relembrada e se atualiza através do ritual religioso. Os inúmeros ritos reproduzem as crenças e as práticas dos ancestrais negros (...) (p.131).

Continuando ainda com a décima pergunta “E qual a mensagem que os

participantes do Reisado desejam passar para a população igarense através dessa

manifestação?” destacamos o idoso 16 que representa as respostas de todos os

idosos. Como revela a fala a seguir:

“O Reisado é uma festa em que se comemora o nascimento do Deus menino e os santos reis, que já se tornou uma tradição e deve continuar. É uma festa muito bonita que acontece há muitos anos, não deixem morrer essa cultura” (I16).

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Page 46: Monografia Cleia pedagogia 2011

Assim, percebemos também o pertencimento e o significado que o Reisado

tem para seus componentes, bem como a preocupação dos mesmos em pensar que

o Reisado pode vir a acabar. Notamos que tal preocupação advém porque os idosos

não vêem o Reisado apenas como uma manifestação da cultura popular, mas

também como parte de sua história.

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Page 47: Monografia Cleia pedagogia 2011

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos esta pesquisa, é conveniente lembrarmos a etapa inicial,

quando objetivamos identificar e analisar como os idosos do Reisado se identificam

como integrantes de uma manifestação da cultura popular. E como a memória

cultural faz parte desse importante processo.

Utilizamos na busca dos nossos objetivos a pesquisa qualitativa. A entrevista

semi-estruturada e o questionário fechado foram os instrumentos aplicados com os

dezesseis idosos do Reisado. Diante dos dados oriundos das entrevistas e

questionários, utilizamos a técnica de análise de dados e interpretação dos

resultados, focalizando as informações e confrontando-as com o material teórico

utilizado neste estudo.

Esperamos que este trabalho seja uma fonte de dados para a comunidade

acadêmica e de Igara. Embora reconheçamos as limitações do trabalho

desenvolvido.

Pautada nos dados coletados e na fundamentação teórica dessa pesquisa,

constatamos em nossos estudos, que os idosos do Reisado se identificam como

conhecedores de uma cultura que não mais existe em sua totalidade, e ao mesmo

tempo privilegiados por possuírem uma memória histórica o que faz com que se

sintam responsáveis pela preservação e transmissão do Reisado.

O Reisado em Igara que iniciou com as lapinhas que eram armadas nas

casas se solidificou ao longo dos anos, e apesar de perder algumas características

de sua origem continua a ser realizado ainda hoje, sendo a maioria de seus

participantes do sexo feminino. No entanto percebemos que dos vários grupos de

Ternos que existiam no passado, atualmente há somente três, sendo um dirigido por

católicos e os demais por católicos e praticantes do candomblé, onde também

percebemos a presença do sincretismo. Foi constatado também segundo alguns

idosos que esses Ternos diferem entre si, não somente na religião de seus

participantes, como também em algumas músicas, personagens e trajeto.

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Page 48: Monografia Cleia pedagogia 2011

Diferenças essas que foram apontadas por o primeiro grupo citado acima, como

alguns dos motivos que descaracterizam os outros dois grupos.

O Terno de Reis é uma festa tradicional na qual se comemora os reis magos

e o nascimento de Jesus que ocorre no dia seis de janeiro (Dia de Reis) ou em

qualquer outro dia do mesmo mês, correspondendo a um processo vivo de

aprendizado, transmissão e recriação de saberes e fazeres. Percebemos nesse

sentido, que os idosos se vêem como os principais instrumentos de transmissão do

Reisado, pois os mesmos possuem experiências que foram adquiridas ao longo de

muitos anos. Os idosos em suas falas demonstram preocupação com relação ao

futuro dessa manifestação, visto que os jovens não se interessam tanto pelos ternos

e estão deixando-se influenciar pela mídia, esquecendo-se de sua cultura e sua

sustentação espiritual, correndo o risco dessa população se tornar descaracterizada

e sem raízes.

Outra importante constatação feita a partir dos nossos estudos é a de que a

memória é um dos principais instrumentos de armazenamento de informação e

preservação do Reisado, e visto que os idosos do Reisado sabem que a morte é

uma grande inimiga, pois os pioneiros do Reisado em Igara já se foram e eles

também estão sujeitos ao mesmo fim, para que essa manifestação não fique no

esquecimento eles atribuem a responsabilidade de continuidade aos jovens.

Depois de relatar como os idosos do Reisado se vêem sendo integrantes

dessa manifestação e a importância da memória cultural, podemos pensar nas

contribuições que esses dados podem dar para proporcionar reflexões sobre a

preservação do Reisado através da memória e sua continuidade, por meio das

novas gerações.

Após a conclusão da pesquisa, concluímos que os objetivos foram

alcançados, pois identificamos e analisamos como os idosos do Reisado se

identificam como integrantes de uma manifestação da cultura popular. E como a

memória cultural faz parte desse importante processo. A pesquisa também

favoreceu ao nosso desenvolvimento pessoal-profissional-científico, pois

aprendemos a realizar uma pesquisa e durante o processo, ela nos proporcionou

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Page 49: Monografia Cleia pedagogia 2011

muitos novos conhecimentos sobre a cultura de Igara, uma vez que essa também é

nossa história cultural.

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Page 50: Monografia Cleia pedagogia 2011

REFERÊNCIAS

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60

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Page 53: Monografia Cleia pedagogia 2011

ANEXOS

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Page 54: Monografia Cleia pedagogia 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

NOME: _________________________________________________________

QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO

1. Seu sexo:

A. ( ) Feminino

B. ( ) Masculino

2. Qual seu estado civil?

A. ( ) Solteiro (a)

B. ( ) Casado (a)

C. ( ) Separado (a)

D. ( ) Viúvo (a)

3. Tem filhos?

A. ( ) Não

B. ( ) Entre 01 ou 03 filhos

C. ( ) Entre 03 ou 05 filhos

D. ( ) Acima de 05 filhos

4. Sua faixa etária:

A. ( ) Menos de 40 anos

B. ( ) Entre 40 e 50 anos

C. ( ) Entre 50 e 60 anos

D. ( ) Acima de 60 anos

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Page 55: Monografia Cleia pedagogia 2011

5. Seu nível de escolaridade:

A. ( ) Analfabeto (a)

B. ( ) Alfabetizado (a)

C. ( ) Ensino fundamental

D. ( ) Ensino médio

E. ( ) Nível superior

6. Sua religião:

A. ( ) Católico (a)

B. ( ) Evangélico (a)

C. ( ) Espírita

D. ( ) Praticante do candomblé

E. ( ) Outra

7. Você é natural de Igara?

A. ( ) Sim

B. ( ) Não

Obrigada pela sua cooperação!

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Page 56: Monografia Cleia pedagogia 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. O que é o Reisado? E em que data se comemora?

2. Qual foi a origem do Reisado aqui no distrito de Igara? E em que ano isso

aconteceu?

3. Quais são os personagens que aparecem no Reisado? E quem são os

participantes?

4. Quais são as músicas cantadas no cortejo do Reisado? E quais os

instrumentos musicais utilizados?

5. Qual o percurso realizado pelo cortejo do Reisado?

6. Desde quando você participa do Reisado? De quando você começou

a participar do Reisado até hoje, houve alguma mudança no mesmo? E o

que contribuiu para essa mudança?

7. Você tem lembranças do Reisado em sua família? Tem fotos?

8. Como se sente em ser integrante de uma manifestação da cultura popular?

9. Você tem contribuído para que o Reisado continue a ser praticado pelas

próximas gerações? Como?

10. Qual a contribuição do Reisado para a cultura local? E qual a mensagem que

os participantes do Reisado desejam passar para a população igarense através

dessa manifestação?

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Page 57: Monografia Cleia pedagogia 2011

MÚSICAS CANTADAS NOS REISADOS

Na saída da casa da pessoa que organiza para a rua

É uma hora vamo-nos embora é o terno da ciganinha que já vai ganhar

vitoria. Meu senhor meu Deus Menino tudo que eu pedir vos faça promete que eu

mora moça pra levar véu e grinalda. As ciganinhas de folia andam na rua de verdade

larga o mato lá longe para brincar na cidade. Quem é aquele que lá vem pela

estrada do meio é o terno da cigana vestidinho de vermelho.

Chegada na porta da igreja (versão um)

Deus vos salve casa santa onde Deus fez a morada, onde mora o cálice

bento e a hóstia consagrada. Seca, seca laranjeira onde o lírio deita a flor onde os

passarinhos cantam alegria do Senhor. Passarinho na Judéia veio à luz do rude

vinho onde foi formar seu ninho nas palhinhas de Jesus Sairão as três Marias de

noite para o luar as estrelas do Oriente que veio os três guardar. Os três reis quando

souberam que ao Messias era nascido montaram em seus camelos com prazer e

alegria. O primeiro trouxe ouro pra seu trono adorar, o segundo trouxe incenso para

seu trono incensar, o terceiro trouxe flor para seu trono enflorar. Abre as portas de

Belém para nós todos adorar este cravo e esta rosa que a Jesus veio ofertar.

Oferecemos esse Reis ao Senhor que esta na cruz ao Senhor Menino Deus pra

sempre homem Jesus.

Chegada na porta da igreja (versão dois)

Deus o salve casa santa aonde Deus fez a morada, entre o cálice e a água

benta e a hóstia consagrada. E o neném lá na Judéia ver a luz do letro rude a

encarnação da virtude trocando suas idéias, sairão as três Marias de noite para o

luar e a procura de Deus menino sem nunca poder achar. Foram dar com ele em

Roma revestido e num altar com o cálice de ouro na mão missa nova vai cantar,

missa nova, nova missa, missa de muita alegria, missa que nela se achou-se São

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Page 58: Monografia Cleia pedagogia 2011

José e Santa Maria. São José e Santa Maria eles foram pra Belém foram cantar o

santo Reis e eu irei cantar também.

Na porta da igreja

Desperta ó povo que habita, desperta ó povo que está, agora aurora desperta

por um nobre habitar. Sairão as três Marias de noite para o luar a procura de Deus

menino sem nunca poder achar. Foram dar com ele em Roma revestido no altar com

o cálice de ouro na mão missa nova vai cantar. Missa nova, nova missa, missa de

tanta alegria, missa que nela se achou-se São José e Santa Maria. São José e

Santa Maria diz que vão para Belém, diz que vão cantar um Reis e eu irei cantar

também.

Na saída da porta da igreja

Ciganinha do deserto vamos nós se despedir até o outro ano se nós resistir, a

ciganinha, a ciganinha singular.

Na rua

Nossa gente que eu cheguei agora pra fazer parte com a ciganinha, quem

não agüenta tira o corpo fora e deixa a poeira passar. Lá vai poeira, lá vai poeira a

ciganinha não pode subir ladeira.

Na rua

O terno da cigana sai à rua pra visitar a lapinha de Belém, o pessoal na janela

está dizendo olha o terno da cigana como vem. O terno da cigana sai à rua com seu

pandeiro e seu chapeuzinho na mão, o pessoal na janela está dizendo olha o terno

da cigana como vem.

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Page 59: Monografia Cleia pedagogia 2011

Na rua

Ô que mulher bonita, ô que mulher cheirosa pega a ciganinha o que noite

amorosa. Todos passam na avenida elegante toda prosa, sapatos brancos e o

vestido cor de rosa, as solteiras ficam tontas e as casadas invejosas, os homens

gritam logo salve, salve dona rosa, ai, ai, ai.

Na rua

Estou cansada de viver na areia, estou casada de na areia andar, a procura

de uma cigana que saiu a passear. Vamos minha cigana pra lapinha de Belém

adorar o Deus menino que nasceu para o nosso bem.

Na rua

Acorda, acorda sertanejo vem ver o clarão da lua é o terno da cigana que saiu

hoje na rua. Deus Menino é um cravo é o rei da fidalguia é o céu com as estrelas,

sol da terra, luz do dia. Deus Menino é um cravo, é uma flor de açucena saia fora e

venha ver como a noite está serena.

Na rua

Olha o clarão da nova estrela na estrada de Belém adorar o Deus Menino que

nasceu para o nosso bem. Quem é aquele que já vem pela estrada do meio é o

terno da cigana vestidinho de vermelho. Quem é aquele que já vem que de longe

vem brilhando é o terno da cigana que em flores vem pisando. Vocês todos já diziam

que este terno não saia ele hoje anda na rua com prazer e alegria. Deus Menino é

um cravo é ó rei da fidalguia é o céu com as estrelas, o sol da terra luz do dia. Deus

menino é alvinho, é alvinho como leite guarda meu canto no céu onde minha alma

se deita. Quando Deus andou no mundo deixou lapa descoberta deixou o Menino

Deus arrodeado de boneca.

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Page 60: Monografia Cleia pedagogia 2011

Chegando a casa que vai encerrar o Terno

Meu senhor dono da casa abre a porta queremos entrar, nós viemos de tão

longe somente para saldar. Nosso terno é bom, ele não anda à-toa, ele é muito

pobre, porém só tem é gente boa. Nosso tem, tem, tem tudo que queremos pra ele,

tem samba da moda, tem flores bonitas para noite bela. Nosso terno é bom, ele não

anda à-toa, ele é muito pobre porém só tem é gente boa.

Na porta da casa

Me abre essa porta ascende o candeeiro o dono da casa tem muito dinheiro,

o dono casa ele é bom ele dá garrafa de vinho e doce de araçá. Me abre essa porta

também o portão que eu quero olhar o que tem no fogão.

No interior da casa

Meu senhor dono da casa eu não vim lhe visitar, eu vim lhe pedir um a

esmola se vos me pudera dar. Somos nós o jardim das flores que saímos a passear

uma noite tão ditosa a Jesus sempre louvar.

Na saída da casa para finalizar

No dia seis de janeiro que as ciganas vão cantar bate palma e pede bis, bate

palma e pede bis, já foi noite de natal.

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Page 61: Monografia Cleia pedagogia 2011

MÚSICAS CANTADAS NAS LAPINHAS

Chegada na lapinha

Chegamos, chegamos em nosso jardim eu nunca vi flores tão belas assim. A

flor da laranja, o lírio cheirou, a Jesus com salve só pelo amor.

Na lapinha

Belém, Belém Maria mostrou e deu a luz a Jesus ó que virgem ficou. Canta ô

baiana de lá e de cá com linda verbena que cantou no mar, salve Deus e salve o

nosso coração que nos enche de coragem para nossa devoção, que nasceu Jesus

menino para nossa salvação ele nos oferece, oferece alguém, chega aqui, chega

aqui à ilusão, adorai.

Na lapinha

Os peixinhos no mar saltando alegres resplandece a hora e amanhece o dia.

Quem foi que nasceu noite de natal foi um Deus Menino para nos salvar.

Na lapinha

Eu sou uma borboleta vivo de ar e de luz, vivo no meio das flores com minhas

asinhas azuis, borboleta bonitinha saia fora no rosar vamos cantar docezinha vai ser

noite de natal. Eu sou uma borboleta vivo de ar e de tristeza vivo no meio das flores

com minhas asinhas vermelhas.

Na lapinha

Tenho cinco passarinhos todos cinco em gaiola bateu asas em campinas

todos cinco e foram embora. Um Deus Menino sendo senhor das alturas que vem

nascer entre as criaturas. Bateu asa e cantou o galo onde o salvador nasceu,

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Page 62: Monografia Cleia pedagogia 2011

cantam os anjos nas alturas quem louvou Jesus fui eu. Um Deus Menino sendo

senhor das alturas que vem nascer entre as criaturas.

Na lapinha

Bravo, bravo, bravo hoje é quem brilha feliz o Messias com Deus em

maravilha, a vinte e quatro de dezembro meia noite deu sinal que nasceu seu

bendito filho numa noite de natal. Bateu asa e cantou o galo que seu salvador

nasceu cantam os anjos nas alturas viva o Menino Deus.

Saída da lapinha

Voltamos, voltamos de nosso jardim, eu nunca vi flores tão belas assim. A flor

da laranja, o lírio cheirou, a Jesus com salve só pelo amor.

Para desarmar a lapinha

Minha lapinha é bonita acho que não vou desmanchar, desmancho com muita

saudade, guardo com muito cuidado. Peço ao Menino Deus que mim dê vida e

saúde que é para o outro ano eu tornar armar minha lapinha.

Versos ditos na lapinha

Quando Deus andou no mundo que disse a São Pedro assim, quem não quer

pobre na porta também não quereis a mim.

Quando Deus andou no mundo deixou lapinha descoberta, deixou o Menino

Deus arrodeado de boneca.

De onde vem Menino Deus arrodeado de luz? Ele foi formar seu ninho nas

palhinhas de Jesus.

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Page 63: Monografia Cleia pedagogia 2011

Música que canta entre um verso e outro

Todos contentes vamos aplaudir a Jesus que nasceu para nos remir, a Jesus

que nasceu.

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MÚSICAS ARQUIVADAS POR IDOSO

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Page 69: Monografia Cleia pedagogia 2011

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Page 70: Monografia Cleia pedagogia 2011

LOCALIZAÇÃO DOS PERSONAGENS NO REISADO ARQUIVADA POR IDOSO

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Page 71: Monografia Cleia pedagogia 2011

FOTOS DE REISADOS ARQUIVADAS POR IDOSO

Figuras do Reisado, de Igara. 1992. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

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Page 72: Monografia Cleia pedagogia 2011

Figuras do Reisado, de Igara. 1993. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

Figuras do Reisado, de Igara. 1994. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

Figuras do Reisado, de Igara. 1995. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

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Page 73: Monografia Cleia pedagogia 2011

Figuras do Reisado, de Igara. 1996. 1 fot., color. 9 cm x 10 cm.

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Page 74: Monografia Cleia pedagogia 2011

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 10 cm.

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 11 cm.

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Page 75: Monografia Cleia pedagogia 2011

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

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Page 76: Monografia Cleia pedagogia 2011

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

Figuras do Reisado, de Igara. 1997. 1 fot., color. 9 cm x 17 cm.

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