monografia - mábio silvan

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA MONOGRAFIA Parâmetros comportamentais e desempenho econômico-financeiro na equideocultura MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA Garanhuns – PE Junho de 2010

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It was developed to monitor daily activities of the clinic, covering the nutrition management, reproductive and behavioral study of some donor mares, as well as collection and analysis of the notes bookkeeping animal sciences. Nutritional management is done according to the needs of mares during the physiological period. Special attention is given to reproductive management, as the clinic works with offerings biotechnology services, such as artificial insemination (AI) and embryo transfer (ET), which makes an indispensable frequent control and monitoring of the mares in order to obtain good fertilization rates and pregnancy confirmation after embryo implantation. As for the behavioral study, we observed that the behavior of mares statistically differed, for the parameters observed. At the clinic there is not a strict control of zootechnical bookkeeping entries, making it impossible to carry out an effective economic analysis.

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Page 1: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

MONOGRAFIA

Parâmetros comportamentais e desempenho econômico-financeiro

na equideocultura

MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA

Garanhuns – PE

Junho de 2010

Page 2: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA

PARÂMETROS COMPORTAMENTAIS E DESEMPENHO ECONÔMICO-

FINANCEIRO NA EQUIDEOCULTURA

Monografia apresentada à Comissão de

Estágios da UFRPE/UAG como parte dos

requisitos do Estágio Curricular Supervisionado

Obrigatório.

Área de conhecimento: Equideocultura

Orientador: Jorge Eduardo C. Lucena

Prof., M.Sc. – UFRPE/UAG

Supervisor: Ilana de Oliveira Batista

Médica Veterinária, M.Sc.

Garanhuns – PE

Junho de 2010

Page 3: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

MONOGRAFIA

Parâmetros comportamentais e desempenho econômico-financeiro na

equideocultura

MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA

Monografia aprovada em ___ / ___ / ______ .

_____________________________________________

Gustavo Ferrer Carneiro

Médico Veterinário, D.Sc. – UFRPE/UAG

_____________________________________________

Jalmir Pinheiro de Souza Júnior

Administrador, Bel. – UFRPE/UAG

_____________________________________________

Jorge Eduardo Cavalcante Lucena

Prof., M.Sc. – UFRPE/UAG

Orientador

Garanhuns – PE

Junho de 2010

Page 4: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

IDENTIFICAÇÃO

Nome do Aluno: Mábio Silvan José da Silva

Curso: Zootecnia

Tipo de estágio: Curricular Obrigatório

Área de conhecimento: Equideocultura

Instituição: Fazenda Canaã

Endereço: BR 232, Km 64 – Gravatá-PE

Setor: Clínica de reprodução eqüína

Supervisor(a): Ilana de Oliveira Batista

Função: Proprietária e Médica Veterinária da fazenda

Formação profissional: Médica Veterinária

Professor orientador: Jorge Eduardo Cavalcante Lucena

Período de realização: 01/01/2010 a 28/02/2010

Total de horas: 330 horas

Page 5: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

Aos meus pais, José e Marta, e aos meus

irmãos, por terem acreditado e investido em

minha educação durante todos esses anos de

minha vida, dedico.

Page 6: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me guiado em cada momento da minha vida rumo a essa

vitória, proporcionando fé e perseverança em minha vida;

Aos meus pais, José e Marta, pela deposição de confiança em minha vida

acadêmica e pelos esforços por eles enfrentados para a consolidação dos meus

objetivos;

Aos meus irmãos, Marcilvan e Mabiavan, pelo apoio e incentivo concedido

nos momentos de dúvidas e incertezas;

Aos meus padrinhos, Manoel e Ilton, por terem dado o primeiro passo por

mim para a inicialização da minha vida acadêmica;

Aos meus amigos, que nas horas difíceis estavam por perto para me confortar

e exaltar o ânimo;

À Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de

Garanhuns, pela oportunidade e apoio concedidos durante todo o curso,

concretizando a realização deste;

A todos os meus professores, especialmente ao meu orientador, Jorge

Lucena, por se fazerem presentes nos momentos de dificuldades e nos transmitir

seus conhecimentos, favorecendo a formação do meu eu profissional e pessoal;

A Fazenda Canaã, representada pela Drª Ilana, e a todos os funcionários, por

ter proporcionado o desenvolvimento deste trabalho e pelas instruções e conselhos

fornecidos;

A graduanda em Medicina Veterinária, Márcia Moraes e sua família, por toda

a atenção e auxílio prestados durante o período do estágio, se configurando como

mais que simples amigos;

Page 7: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

A todos os meus amigos da turma de zootecnia 2005/02, pela longa jornada

enfrentada com muita perseverança e solidariedade;

Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a

realização desse trabalho;

MUITO OBRIGADO!

Page 8: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

“Deus não quer que façamos as

coisas extraordinárias. Ele quer

apenas que façamos as coisas

simples extraordinariamente bem.”

Charles Gore

Page 9: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1 – Estrutura física da Fazenda Canaã. Visão geral (a); Piquete de

exercício (b); Baias individuais (c) e Baias coletivas (d) ......................... 19

Figura 2 – Visualização dos folículos ovarianos, o esquerdo medindo 29,6mm

de diâmetro ............................................................................................. 34

Figura 3 – Anatomia do aparelho reprodutivo da égua ............................................ 47

Figura 4 - Vista lateral do trato genital da égua ........................................................ 48

Figura 5 – Égua demonstrando comportamento de cio ............................................ 54

Figura 6 - Comportamento Dormindo Deitado (minutos/hora em 24 horas) de

éguas no Estro e no Diestro ..................................................................... 63

Figura 7 - Comportamento Dormindo em Decúbito Total (minutos/hora em

24 horas) de éguas no Estro e no Diestro ............................................... 64

Figura 8 - Comportamento Dormindo em Pé (minutos/hora em 24 horas) de

éguas no Estro e no Diestro ..................................................................... 65

Figura 9 – Comportamento alimentar (minutos/hora) de éguas no Estro e no Diestro

durante um período de 24 horas ........................................................... 66

Figura 10 – Comportamento médio de Ócio (minutos/hora) de éguas no Estro e no

Diestro durante um período de 24 horas ............................................... 66

Figura 11 – Éguas no piquete de exercício .............................................................. 67

Figura 12 – Égua externando o vício de escavar a baia .......................................... 68

Page 10: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

Página

Figura 13 - Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos

veterinários, 1997 a 2004, em milhões de reais e em milhões de

dólares .................................................................................................... 80

Page 11: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 - Composição química do concentrado (DuRancho) ................................. 31

Tabela 2 - Quantidade de micção (MIC), defecação (DEF), consumo de água (H2O),

em vezes por dia, quantidade de vícios (VIC) apresentados em éguas no

Estro e no Diestro .................................................................................. 61

Tabela 3 - Tempo gasto (%) no período de 24 horas conforme os parâmetros

analisados em éguas no Estro e no Diestro ....................................... 62

Tabela 4 - Movimentação econômica entre atividades de relevância para o

desenvolvimento do país .................................................................... 77

Tabela 5 - Resumo das contribuições dos diversos segmentos do Complexo

Agronegócio Cavalo no Brasil ............................................................. 78

Tabela 6 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no primeiro ano de

funcionamento ....................................................................................... 85

Tabela 7 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no segundo ano de

funcionamento .................................................................................... 87

Tabela 8 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no terceiro ano de funcionamento ..................................................................................... 89

Tabela 9 – Análise horizontal da clínica de reprodução eqüina durante os períodos avaliados ............................................................................................... 90

Tabela 10 - Indicadores de resultados econômico-financeiros dos custos de produção por período analisado ....................................................... 91

Page 12: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

SUMÁRIO

Página

Capítulo 1

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO ........................................ 14

RESUMO ........................................................................................................ 14

ABSTRACT ................................................................................................... 15

1.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 16

1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA .............................................. 18

1.3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 20

1.3.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE EQÜINOS ........................................................................................ 20

1.3.2. EXIGÊNCIA NUTRICIONAL DE ÉGUAS EM PERÍODO REPRODUTIVO .............................................................................. 24

1.3.2.1. Energia .............................................................................. 26

1.3.2.2. Proteínas ........................................................................... 28

1.4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................... 30

1.4.1. MANEJO NUTRICIONAL ................................................................ 30

1.4.2. MANEJO REPRODUTIVO............................................................... 32

1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 37

1.6. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 38

Capítulo 2

CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE ÉGUAS ESTABULADAS EM PERÍODOS REPRODUTIVOS DE ESTRO E DIESTRO ........................................................................................... 40

RESUMO ........................................................................................................ 40

ABSTRACT ................................................................................................... 41

Page 13: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

Página

2.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 42

2.2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 44

2.2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DAS ÉGUAS ......... 44

2.2.2. A REPRODUÇÃO EQÜINA ............................................................ 48

2.2.2.1. Ciclo Estral ........................................................................ 49

2.2.2.2. Comportamento Reprodutivo .......................................... 53

2.2.2.3. Biotécnicas na Reprodução Eqüina ................................ 55

2.2.2.3.1. Inseminação Artificial ........................................... 56

2.2.2.3.2. Transferência de Embriões ................................. 57

2.3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................. 59

2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 61

2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 69

2.6. REFERÊNCIAS SSS..S...SSSSSSSSSSSSSSSS.S.. 70

Capítulo 3

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA CLÍNICA DE

REPRODUÇÃO LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE GRAVATÁ - PE:

ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA .................................................................... 72

RESUMO ........................................................................................................ 72

ABSTRACT ................................................................................................... 73

3.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 74

3.2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 76

3.2.1. DEFININDO AGRONEGÓCIO ........................................................ 76

3.2.2. O AGRONEGÔCIO DA EQÜIDEOCULTURA NACIONAL ............ 76

3.2.3. O MERCADO DA REPRODUÇÃO EQÜINA .................................. 79

Page 14: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

Página

3.3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 81

3.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 85

3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 93

3.6. REFERÊNCIAS SSS.........SSSSSSSSSSSS.S.SSS.S.. 94

APÊNDICE A ......................................................................................................... 95

APÊNDICE B ....................................................................................................... 105

Page 15: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

14

Capítulo 1

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO

RESUMO

O Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) foi realizado na clínica de

reprodução: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã – Gravatá/PE) no período de

04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010. Durante esse período, desenvolveu-se o

acompanhamento das atividades diárias da clínica, abrangendo o manejo

nutricional, reprodutivo e o estudo comportamental de algumas éguas doadoras,

bem como a coleta e análise das anotações de escrituração zootécnica. O manejo

nutricional é feito de acordo com as necessidades das éguas no período fisiológico

no qual se encontram. Especial atenção é dada ao manejo reprodutivo, já que a

clínica trabalha com a oferta de serviços biotecnológicos, como a inseminação

artificial (IA) e a transferência de embriões (TE), o que torna indispensável um

frequente controle e acompanhamento das éguas a fim de se obter bons índices de

fertilização e confirmação da implantação embrionária. Quanto ao estudo

comportamental, observou-se que o comportamento das éguas diferiu

estatisticamente, para os parâmetros observados. Na clínica não há um rígido

controle das anotações de escrituração zootécnica, não sendo possível a realização

de uma eficiente análise econômica dessa. Esses dois últimos tópicos serão

discutidos mais detalhadamente nos próximos capítulos.

Palavras – chave: Clínica de reprodução, manejo nutricional, manejo reprodutivo.

Page 16: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

15

MANDATORY SUPERVISED INTERNSHIP

ABSTRACT

The Mandatory Supervised Internship (ESO) was performed at the clinic of

reproduction: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã – Gravatá/PE) from

January 4 to February 28, 2010. During this period, was developed to monitor daily

activities of the clinic, covering the nutrition management, reproductive and

behavioral study of some donor mares, as well as collection and analysis of the notes

bookkeeping animal sciences. Nutritional management is done according to the

needs of mares during the physiological period. Special attention is given to

reproductive management, as the clinic works with offerings biotechnology services,

such as artificial insemination (AI) and embryo transfer (ET), which makes an

indispensable frequent control and monitoring of the mares in order to obtain good

fertilization rates and pregnancy confirmation after embryo implantation. As for the

behavioral study, we observed that the behavior of mares statistically differed, for the

parameters observed. At the clinic there is not a strict control of zootechnical

bookkeeping entries, making it impossible to carry out an effective economic

analysis. These last two topics will be discussed in more detail in subsequent

chapters.

Key - words: Reproduction clinic, nutritional management, reproductive

management.

Page 17: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

16

1.1. INTRODUÇÃO

Desde a domesticação da espécie eqüina até a atualidade, desenvolveu-se

uma grande aproximação entre o homem e os cavalos, devido a grande elegância,

versatilidade e desempenho destes últimos, promovendo também a admiração dos

homens por esta fascinante espécie.

Os animais domesticados do gênero Equus (cavalos, pôneis, jumento e

mulas), por serem animais versáteis, vêm sendo utilizados pelo o homem para os

mais diversos propósitos, incluindo dentre eles a competição, recreação,

entretenimento, transporte, trabalho no meio rural e urbano, e atualmente, na

equoterapia. Algumas espécies de animais do gênero Equus, não domesticados são

mantidos em parques zoológicos ou são focos de tentativas de conservação da

espécie (NRC, 2007).

Na criação de cavalos, diferentemente da maioria das outras espécies de

produção, o produto final está baseado na qualidade dos indivíduos e não na

necessidade quantitativa do grupo. Contudo, um dos conceitos básicos de

melhoramento genético animal afirma que, quanto maior o número de indivíduos,

maior também será a capacidade de seleção. Com isso a maior eficiência do manejo

reprodutivo passa a ser fundamental para o sucesso da atividade (LUCENA, 2008).

No Brasil, que possui o 4º maior rebanho mundial, a importância econômica e

social da equideocultura é traduzida por uma movimentação financeira superior a R$

7,5 bilhões anualmente e pela geração de ocupação direta para cerca de 640.000

pessoas, estimando-se a geração de 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos

(LIMA et al., 2006)

Com as mudanças ambientais impostas aos eqüinos, percebe-se a

necessidade do desenvolvimento de artifícios que visem promover uma melhor

ambiência a esses animais, bem como a seleção de animais mais adaptados as

condições que lhe são impostas. Isso promoveu um implemento na evolução das

técnicas de manejo empregadas pelos criatórios.

De acordo com Lucena (2008) com o grande avanço obtido nas últimas

décadas na área de reprodução animal, a utilização de técnicas modernas, constitui-

se em parte fundamental no trabalho de melhoramento dos rebanhos. Biotécnicas

como a inseminação artificial e a transferência de embriões, tem contribuído na

Page 18: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

17

utilização de indivíduos inaptos a reproduzir naturalmente e também no aumento do

número de filhos gerados por garanhões e éguas a cada ano.

Assim, com o advento das biotécnicas da reprodução, os trabalhos de

seleção e melhoramento genético têm avançado muito com o consequente ganho

morfológico e funcional expressos em vários exemplares eqüinos.

Segundo Frape (2007) o sucesso das biotécnicas reprodutivas está

intimamente associado a uma correta prática de manejo nutricional, de forma que

animais que apresentam bom escore de condição corporal (ECC) apresentam uma

maior eficiência reprodutiva.

Objetivou-se com este trabalho fazer o acompanhamento das atividades

desenvolvidas diariamente na clínica de reprodução eqüina (Fazenda Canaã),

enfatizando o manejo nutricional e reprodutivo adotado, bem como por em prática os

conhecimentos adquiridos durante o curso.

Page 19: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

18

1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

O Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) foi desenvolvido no período de

04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010, na clínica de reprodução: Ilana Reprodução

Eqüina (Fazenda Canaã), localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE, estando o

município de Gravatá nas coordenadas 08º12’13’’ Sul e 35º33’54’’ Oeste de latitude

e longitude, respectivamente e a uma altitude de 447 metros (CPTEC, 2010). Com

uma extensão territorial de 513 km2 e uma população de 74.584 habitantes (IBGE,

2008), o município está localizado na mesorregião do agreste pernambucano e na

microrregião do vale do Ipojuca. Segundo dados do IBGE (2005) Gravatá apresenta

um Produto Interno Bruto (PIB) igual a R$245.201 mil e um PIB per capta de

R$3.458,00. Tendo um índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,654 (PNUD,

2000).

A clínica de reprodução funciona em uma fazenda arrendada (Fazenda

Canaã), e apresenta como estruturas físicas (Figura 1): casa sede, casa de

funcionário, depósito de ração, escritório, laboratório, farmácia, área de manejo

(brete de contenção, currais de apartação), 18 baias individuais, 8 baias coletivas

(onde era alocado as receptoras, comportando cerca de 5 animais por baia),

piquetes de exercícios para as éguas, reservatório de água, capineira e área de

fenação irrigadas.

A clínica trabalha exclusivamente com a venda dos serviços de reprodução,

utilizando as técnicas de inseminação artificial (IA) e transferência de embrião (TE).

Porém, antes de serem submetidas às técnicas reprodutivas, as éguas recebem um

manejo nutricional que lhe proporcione atingir um bom escore de condição corporal,

entrando no período reprodutivo de estro com boas condições fisiológicas

As éguas hospedadas na clínica são, em geral, provenientes de criatórios de

municípios vizinhos ou de criatórios de outros estados, sendo fêmeas doadoras e

receptoras de embrião.

As éguas locadas na clínica são pertencentes a terceiros, e encontram-se sob

regime de hospedagem, de forma que os criadores que contratam os serviços da

clínica levam as suas éguas (doadoras e receptoras) para serem submetidas às

biotécnicas reprodutivas, porém em alguns casos, quando os criadores não dispõem

de receptoras em sua propriedade, a clínica aluga suas receptoras. Essas

Page 20: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

19

receptoras pertencentes a clínica geralmente são compradas devido a grande

demanda por tal serviço de locação.

Figura 1 – Estrutura física da Fazenda Canaã. Visão geral (a); Piquete de exercício (b); Baias individuais (c) e Baias coletivas (d).

Fonte: Silva e Lima (2010).

Com a firmação do contrato dos serviços com a clínica, as éguas (doadoras e

receptoras) ao chegarem à clínica, são direcionadas para baias específicas,

alocando-se as doadoras em baias individuais e as receptoras em baias coletivas.

Essas éguas são submetidas às práticas de manejo da clínica e permanecem até 60

dias após a confirmação da gestação, que se dá por volta do 7º dia após a

transferência de embrião, com a utilização de ultra-sonografia. Os contratos firmados

pela clínica consistem, em sua maioria, de pacotes composto por uma doadora e

três receptoras, sendo cobrado mensalmente dos proprietários o valor das estadias

e dos serviços de reprodução.

a b

c d

Page 21: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

20

1.3. REVISÃO DE LITERATURA

1.3.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE EQÜINOS

A manutenção de vida requer que os animais obtenham os nutrientes

essenciais para os processos orgânicos através dos alimentos. Os animais podem

viver por um período de tempo sem alimento; em tal situação, os reservatórios

orgânicos de energia e finalmente os próprios tecidos são desdobrados e

metabolizados através de conversão bioquímica. Uma privação prolongada e

contínua de alimento, entretanto, resulta finalmente em morte devido a inanição

(REECE, 1996).

Os cavalos são, por natureza, animais herbívoros, não ruminantes, adaptados

no meio ambiente ao consumo de alimentos com grandes quantidades de fibra,

apresentando a habilidade de selecionar os alimentos, sendo, segundo Braga (2006)

capazes de processar grandes quantidades de forragens para atender a sua

demanda de nutrientes. Contudo, muitos cavalos são manejados em estábulos,

sendo submetidos a alimentação com forragens e concentrados durante grande

parte de suas vidas (HILL, 2007). Os criatórios modernos, visando maximizar o

crescimento e a produtividade, lançam mão de dietas com alta proporção de

alimentos concentrados (BRAGA, 2006).

A anatomia do trato gastrointestinal do eqüino se caracteriza por um

estômago reduzido e um intestino grosso muito desenvolvido, sendo a digestão dos

eqüinos, segundo Meyer (1995) citado por Braga (2006), dividida em duas partes:

uma pré-cecal, cuja ação predominante é a enzimática; e uma pós-ileal, onde

predomina a digestão microbiana. De acordo com Cunha (1991) citado por Braga

(2006) a digestão pré-cecal é similar a dos animais monogástricos em geral, porém

os eqüinos não apresentam a produção de α-amilase salivar, e a pós-ileal, à dos

ruminantes, embora a ação microbiana e a absorção de nutrientes não sejam tão

eficientes como nos ruminantes, já que o ceco se localiza após o intestino delgado,

ou seja, a digestão enzimática e as zonas de intensa absorção intestinal.

A digestão nos eqüinos possui características marcantes como: eficiente

mastigação, rápida taxa de passagem gástrica, intensa digestão enzimática no

Page 22: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

21

intestino delgado e prolongada ação microbiana no intestino grosso (WOLTER,

1975, citado por BRAGA, 2006).

A função do sistema digestório é reduzir os nutrientes no alimento a

compostos moleculares que são pequenos o suficiente para serem absorvidos e

utilizados para energia e para construção de outros compostos que serão

incorporados ao tecido do corpo (FRANDSON et al., 2005).

O conhecimento dos compartimentos do trato gastrointestinal (TGI) é

importante para se conhecer os processos digestivos dos animais. Esses

compartimentos são a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado, o

intestino grosso, o reto e as glândulas acessórias (glândulas salivares, fígado e

pâncreas) (REECE, 1996).

A boca dos eqüinos apresenta os lábios, a língua e os dentes perfeitamente

adaptados para a preensão, ingestão e alteração da forma física do alimento para

aquela própria para propulsão através do trato gastrointestinal (TGI), em um estado

que facilite a mistura com os sucos digestivos. O lábio superior é forte, móvel e

sensível e é usado durante o pastejo para colocar a forragem entre os dentes e no

processo de ingestão de água é usado como um funil, através do qual a água é

sugada. A língua dos eqüinos atua no direcionamento do material ingerido para os

molares e pré-molares para ser triturado. Os eqüinos apresentam tanto os dentes

incisivos da arcada superior com o da inferior, sendo que a presença dos incisivos

superiores e inferiores possibilitam um pastar próximo do solo, bem como uma

mastigação mais intensa e uniforme, sendo que o processo de mastigação ocorre

tanto por movimentos laterais como verticais da mandíbula (FRAPE, 2007).

A faringe é a passagem comum para alimento e ar, caudal às cavidades orais

e nasais, revestidas por membrana mucosa e circundadas por músculos. A faringe

pode ser arbitrariamente dividida em partes nasal (nasofaringe), oral (orofaringe) e

laríngea (laringofaringe), denominadas dessa forma por sua associação com essas

regiões (FRANDSON et al., 2005). A faringe abre para a boca e para as cavidades

nasais, trompas de Eustáquio, laringe e esôfago. Durante a passagem através da

faringe, o alimento é impedido de entrar na laringe e cavidades nasais devido a um

reflexo e fatores mecânicos associados à deglutição (REECE, 1996).

O esôfago é um tubo muscular que se estende da faringe para o estômago. O

esôfago está normalmente colado na extremidade faringiana pela atividade tônica do

esfíncter cranioesofagiano. Ele se mantém colado na abertura do estômago (o

cárdia), não devido a um esfíncter anatômico, mas devido a um fechamento

Page 23: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

22

funcional resultante do ângulo de penetração para o interior do estômago. O

transporte de alimentos e água para o estômago ocorre através de ondas de

contrações da parede muscular (REECE, 1996).

Segundo Frape (2007) a entrada para o estômago é guardada por uma

válvula muscular poderosa chamada esfíncter cárdico. Embora um cavalo possa se

sentir nauseado, raramente vomita, em parte pelo funcionamento dessa válvula. Isso

também tem consequências importantes. Apesar da pressão abdominal extrema, o

esfíncter cárdico é relutante em relaxar de forma a permitir a regurgitação de

alimento e gás. Nas raras ocasiões em que o vômito ocorre, a ingesta geralmente

sai pela narina, em razão da existência de um palato mole longo. Tal evento pode

indicar um estômago rompido.

O estômago do eqüino adulto é um órgão pequeno, seu volume ocupa cerca

de 10% do TGI. A maior parte da digesta é retida no estômago por um tempo

comparativamente curto, mas esse órgão raramente fica vazio e uma porção

significativa da digesta pode permanecer nele por duas a seis horas. Uma parte da

digesta passa para o duodeno logo após o inicio da ingestão de alimentos, quando

ingesta fresca adentra no estômago. A expulsão para o duodeno é aparentemente

suspensa assim que a ingestão para. Quando o cavalo bebe, uma grande proporção

da água passa pela curvatura da parede do estômago, de forma que a mistura com

a digesta e a diluição dos sucos digestórios sejam evitadas (FRANDSON et al.,

2005).

O estômago dos eqüinos é diferente do dos outros monogástricos, pois além

da força considerável dos esfíncteres cárdico e pilórico, quase metade da superfície

da mucosa é recoberta por epitélio escamoso, ao invés de glandular. A mucosa

glandular é dividida em regiões das glândulas do fundo e pilórica (FRAPE, 2007).

O intestino delgado de um eqüino de 450 kg possui um comprimento de

aproximadamente 21 metros, correspondendo a cerca de 30% do TGI (CUNHA,

1991 citado por BRAGA, 2006), através do qual o transito da digesta é bem rápido,

com uma parte aparecendo no ceco dentro de 45 minutos após uma refeição. A

maior parte da digesta se move no intestino delgado a uma taxa de 30 cm/min,

permanecendo, em média de 2 a 3 horas, estando a motilidade do intestino delgado

sob controle tanto nervoso como hormonal (CUNNINGHAM, 2004).

No intestino delgado ocorre a digestão e absorção de carboidratos não

estruturais (CNE) e gorduras da dieta. Os CNE são absorvidos na forma de glicose e

de outros açúcares simples, sendo que os que alcançam ao seco e intestino grosso

Page 24: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

23

são digeridos por microrganismos e transformados em ácidos graxos voláteis,

absorvidos e usados como fonte de energia pelo animal (CUNHA, 1991 citado por

BRAGA, 2006). As proteínas são digeridas e absorvidas principalmente no intestino

delgado, que segundo Wolter (1975) citado por Braga (2006) a digestão pré-cecal

das proteínas é cerca de 10 a 100 vezes mais ativa do que no ceco, alcançando

pelo menos 60 a 70% da proteína alimentar, independente das proporções entre

concentrado e volumoso na ração.

O intestino grosso consiste no ceco, um saco cego, e no cólon (colo), que

compreende as partes ascendente, transversa e descendente. O cólon descendente

termina no reto e no canal anal.

O eqüino possui o maior e mais complexo intestino grosso de todos os

animais domésticos (FRANDSON et al., 2005), com cerca de 60 a 62% do TGI. Os

nutrientes que não foram digeridos no estômago e no intestino delgado sofrem, de

forma prolongada, a ação fermentativa de uma flora muito intensa e ativa.

Em contraste ao intestino delgado, as paredes do intestino grosso contêm

apenas glândulas secretoras de muco, isto é, não fornecem enzimas digestivas.

Entretanto, altas atividades de fosfatase alcalina, conhecida por estar associada com

grande ação digestiva e absortiva, são encontradas no intestino grosso do cavalo

(FRAPE, 2007).

Os principais microrganismos presentes no intestino grosso são bactérias,

protozoários e fungos (JUILLIAND, 1992 citado por POND et al., 1995) e são

similares aqueles presentes no rúmen (ARGENZIO, 1990 citado por POND et al.,

1995).

Como resultado do processo de fermentação microbiana ocorre a produção

de dióxido de carbono, metano e ácidos graxos voláteis (AGVs), primariamente

acetato, propionato e butirato. Os AGVs podem fornecer até um quarto da energia

requerida pelo eqüino. A fermentação também resulta na produção de metano,

porém em quantidades inferior a 3% do total de energia consumida (PAGAN e

HINTZ, 1986 citado por POND et al., 1995).

As bactérias presentes no intestino grosso também produzem proteínas e

vitaminas hidrossolúveis, mas a utilização desses produtos pelos eqüinos não é tão

expressiva porque a absorção a partir dessa parte do TGI não é tão eficiente

(NRC,1989 citado por NRC, 2007).

Os eqüinos não utilizam a fibra dos alimentos tão eficientemente quanto os

bovinos porque apresenta uma taxa de passagem mais rápida da digesta. Assim, a

Page 25: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

24

microflora do intestino grosso dos eqüinos não tem tanto tempo para a fermentação

do material quanto à microflora do rúmen (POND, 1995).

Segundo relato de Uden e Van Soest (1982) citado por Braga (2006), pelo

fato da digestão e absorção de carboidratos solúveis e da proteína ocorrer antes do

intestino grosso, pouco substrato além do material fibroso atinge o ceco dos

eqüinos, podendo prejudicar a população de microrganismos, diminuindo assim o

aproveitamento dos carboidratos estruturais.

O reto ou ânus é a junção da porção terminal do TGI com a pele. Ele se fecha

por meio de um esfíncter muscular compreendido de fibras musculares lisas e

estriadas (REECE, 1996).

As glândulas salivares, fígado e pâncreas fornecem secreções para o trato

digestório e favorecem a digestão no interior do lúmen. Essas secreções são

associadas àquelas produzidas pelas glândulas do estômago e intestino e incluem

eletrólitos, água, enzimas digestivas e sais biliares. Esta combinação de secreções

causa a degeneração das substâncias da dieta no interior do lúmen, de forma que

as novas substâncias possam interagir com as enzimas epiteliais (REECE, 1996).

1.3.2. EXIGÊNCIA NUTRICIONAL DE ÉGUAS EM PERÍODO REPRODUTIVO

Nos animais reprodutores, igualmente aos animais em crescimento, existe

uma interação entre a nutrição e a produção. A reprodução determina um

incremento nas necessidades de nutrientes dos animais, caso contrário, o aporte de

nutrientes aos animais pode afetar os processos reprodutivos (McDONALD et al.,

1999).

A influência da alimentação sobre a reprodução se inicia no começo da vida

dos animais, já que o plano nutricional dos animais jovens pode afetar a idade que

atingem a puberdade. Nos animais adultos, a má nutrição pode reduzir a produção

de óvulos, bem como espermatozóides, no caso dos machos, de modo que as

fêmeas não concebem ou produzem menos cria que o normal. Durante a gestação

as fêmeas têm necessidades especificas de nutrientes para sua manutenção e

crescimento do feto ou fetos (McDONALD et al., 1999).

Segundo McDonald et al. (1999) a quantidade de nutrientes necessários a

produção de óvulos e espermatozóides em mamíferos é pequena e tem pouca

Page 26: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

25

importância, porém, deve-se atentar para as fases posteriores da reprodução, a

partir do momento que se inicia o desenvolvimento fetal. Entretanto, Meyer (1998)

citado por Frape (2007) afirma que o consumo energético é importante para a

ovulação e desenvolvimento embrionário, porém menos importante para o

crescimento fetal. Um suprimento energético excessivo pode favorecer gêmeos, ao

passo que a restrição antes do parto pode induzir o nascimento prematuro. Por outro

lado a restrição parece ser importante somente com a extrema subnutrição da égua.

As éguas com escore de condição corporal (ECC) de apenas 3 a 3,5 (máximo: 10)

durante o período anovulatório (outono e inverno) experimentaram anestro mais

longo e profundo do que as de boas condições corpóreas, o que caracteriza o

anestro nutricional. Essa resposta foi acompanhada por menores concentrações

plasmática de leptina, de fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) e de

prolactina (GENTRY et al., 2002 citado por FRAPE, 2007). Trabalho subsequente

desse grupo indicou que existe uma interação entre a secreção de leptina e a

secreção dos hormônios insulina, hormônio tireoideano (T3) e hormônio do

crescimento (CARTMILL et al., 2003 citado por FRAPE, 2007). Assim as

concentrações séricas de leptina são positivamente correlacionadas ao escore

corporal, mas não relacionadas ao nível de consumo alimentar (BUFF et al., 2002

citado por FRAPE, 2007).

Éguas matrizes com ECC alto, de 7 ou 9, não apresentam redução ou

aumento da eficiência reprodutiva (CAVINDER et al., 2005 citado por ALMEIDA e

GODOI, 2007).

Durante a gestação se deve atentar para dois fatores principais:

primeiramente prover nutrientes para o desenvolvimento fetal e das membranas

fetais; e o outro fator é prover nutrientes para a formação de reservas de nutrientes

no corpo do animal, para que essa venha a proporcionar um aporte de nutriente

endógeno para a produção de leite durante a fase de lactação, pós-parto (PERRY et

al., 1999).

De acordo com Frape (2007) no período de gestação, no caso em que as

dietas forem grosseiramente desbalanceadas em termos de proteínas e minerais,

especialmente cálcio (Ca) e fósforo (P), o potro será adversamente afetado ao

nascimento, resultando também em reduzida produção de leite e infertilidade. Um

consumo marginal de Ca retarda o crescimento fetal e a condição de iodo (I) e

selênio (Se) tem efeitos consideráveis na fertilidade da égua e viabilidade do potro,

bem como a deficiência extrema e crônica de vitamina A pode prejudicar o

Page 27: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

26

desenvolvimento embrionário e o ciclo ovariano (MEYER, 1998, citado por FRAPE,

2007).

Muitos nutrientes podem influenciar a taxa de concepção. Por exemplo,

deficiência de vitamina A e E pode causar esterilidade. Não há evidências de quanto

deve ser o aumento da concentração de proteínas, minerais ou vitaminas em

relação os valores recomendadas para mantença, para se obter aumentos

significativos na taxa de concepção (POND et al., 1995)

1.3.2.1. Energia

O consumo de energia e a condição corporal se mostram serem fatores

importantes, influenciando na taxa de concepção (POND et al., 1995).

De acordo com FRAPE (2007) ainda não são possíveis afirmações definitivas

sobre os requerimentos de energia e proteína para as éguas em reprodução por

duas razões:

1. Uma égua bem alimentada tem reservas consideráveis de energia e proteína

às quais pode recorrer durante a gestação se o consumo diário cair abaixo

dos níveis recomendados.

2. Uma redução no consumo geralmente parece induzir economias no

metabolismo, de forma que as deficiências são parcialmente compensadas.

Durante a gestação, a energia pode ser usada para a mantença da égua,

deposição fetal e do tecido placentário, hipertrofia do útero, desenvolvimento

mamário e mantença do feto, placenta, mamas e tecido uterino adicional (NRC,

2007).

Segundo Allen et al., (2002) e Whitehead et al., (2004) citados por Almeida e

Godoi (2007) no parto, o peso da placenta juntamente com os fluídos é de 4 kg para

uma égua de 500 kg de peso vivo (PV). O pouco crescimento do útero e tecido

placentário na metade da gestação indica que esses só começam a se desenvolver

significativamente no segundo trimestre da gestação (GITHER, 1992 citado por

ALMEIDA e GODOI, 2007).

Page 28: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

27

A taxa de crescimento do tecido não fetal (útero e placenta) em uma égua de

500 kg de PV é estimado em 45 g/dia (0,09 g/kg de PV materno/dia) dos 150 aos

330 dias de gestação. Os dados de desenvolvimento fetal foram obtidos em estudos

com potros que foram abortados ou natimortos a partir do 150º dia de gestação, com

os quais foram desenvolvidas as seguintes equações (MEYER e AHLSWEDE, 1978;

PLATT, 1978; GIUSSANI et al., 2005 citados por NRC, 2007):

• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 0,5321X – 87,996 (R2 = 0,855)

• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 2,456 + 0,0015X2 – 0,2198X

(R2 = 0,874)

• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 0,8875e 0,0144X (R2 = 0,903)

• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 1 x 10-7 X3,5512 (R2 = 0,929)

Onde: X é os dias de gestação.

O tecido fetal e não fetal associado com a gestação são mais

metabolicamente ativo que outros tecidos maternal e com um elevado custo de

mantença, estimado em 66,6 Kcal de energia digestível (ED)/kg PV (FOLDEN et al.,

2000a; citado por ALMEIDA e GODOI, 2007). Segundo o NRC (1989) citado por

NRC (2007), o custo energético da deposição de tecido foi estimado usando as

suposições que a eficiência de utilização da ED para a deposição de tecido durante

a gestação é de 60% e que cada unidade de ganho foi de 20% de proteína e 3% de

lipídeo.

Segundo o NRC (2007) os resultados estimados de consumo de ED em égua

com peso vivo variando de 400 a 600 kg são ligeiramente maiores que o sugerido

pelo NRC (1989) que foi calculado com 11%, 13%, e 20% de aumento em relação a

mantença no 9º, 10º e 11º mês de gestação, respectivamente. Assim a exigência de

energia para as éguas gestantes é de aproximadamente 5 a 8% a mais que o

recomendado pelo NRC (1989), sugerindo-se que há um aumento no consumo de

ED acima da mantença mesmo no início da gestação.

Para se estimar a exigência de energia digestível de mantença (EDm) são

recomendadas as seguintes equações (NRC, 1989, citado por NRC, 2007):

• Para eqüinos com PV até 600 kg:

EDm (kcal/dia) = 1,4 + (0,03 x PV)

Page 29: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

28

• Para eqüinos com PV superior a 600 kg:

EDm (kcal/dia) = 1,82 + (0,0383 x PV) – (0,000015 x PV2)

Assim, considerando os parâmetros de acréscimo nas fases do 9º, 10º e 11º

mês de gestação e um reajuste de 8% a mais, tem-se as seguintes equações:

• Éguas até o 8º mês de gestação:

ED = EDm + (EDm * 0,08)

• Éguas no 9º mês de gestação:

ED = (EDm * 1,1) + (EDm * 1,1 * 0,08)

• Éguas no 10º mês de gestação:

ED = (EDm * 1,13) + (EDm * 1,13 * 0,08)

• Éguas no 11º mês de gestação:

ED = (EDm * 1,2) + (EDm * 1,2 * 0,08)

1.3.2.2. Proteínas

Os requerimentos de proteínas por éguas gestantes têm recebido pouca

atenção. Éguas gestantes alimentadas com 1,86 g de proteína bruta (PB)/kg de

PV/dia não apresentaram efeitos negativos (BOYER et al., 1999 citado por NRC,

2007); entretanto, éguas gestantes que foram alimentadas com menos que 2,0 g

PB/kg PV/dia (1.000 g PB/dia para uma égua com 500 kg de PV) perderam peso e

houve aumento na incidência de danos ao feto prematuro, enquanto éguas

alimentadas com 2,0 g ou mais de PB/kg PV/dia (1.400 g PB/dia para uma égua com

500 kg de PV) não apresentaram esses problemas (NRC, 2007).

Segundo Van Niekerk e Van Niekerk (1997c) citado por NRC (2007) éguas

apresentando deficiência significativa de proteínas na dieta demoraram mais a iniciar

o processo de ovulação após o período anovulatório que éguas alimentadas com

dietas com grande concentração protéica. O retardamento das éguas ao retorno da

atividade cíclica ocorre possivelmente devido as baixas concentrações de

Page 30: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

29

progesterona observado em todas as éguas do grupo com alimentação deficiente

em proteína. A progesterona é produzida pelo corpo lúteo, o qual é decisivo para a

manutenção da gestação (VAN NIEKERK e VAN NIEKERK, 1998 citado por NRC,

2007). Holtan e Hunt (1983) citado por NRC (2007) observaram uma relação linear

entre a proteína da dieta e concentração de progesterona. O estudo não descreveu

o consumo, mas a alimentação com concentrações de PB de 8,6, 11,4 e 17,2% e

encontrou resultados de 6,5, 7,9 e 10,3 ng/ml de progesterona, respectivamente.

Segundo Lewis (2000) a deficiência moderada de proteínas durante a gestação e a

lactação (8,6 e 11,2% de proteínas contra os 11 e 13% exigidos, respectivamente)

não tem nenhum efeito na concentração plasmática de hormônio luteinizante (LH)

das éguas. Consequentemente parece que o efeito principal de uma deficiência de

proteínas nas éguas é uma falha de ovulação.

As exigências de proteína para éguas gestantes podem ser estimadas pelas

seguintes equações (NRC, 2007):

• Início da gestação (até o 4º mês):

Exigência de PB = PV x 1,26 g PB/kg PV/dia

• Do 5º mês de gestação até o parto:

Exigência de PB = (PV x 1,26 g PB/kg PV/dia) + ((GPF/0,5)/0,79)

Onde: GPF é o ganho de peso do feto em kg;

0,5 representa o fator de eficiência;

0,79 representam a digestibilidade da proteína.

Para se obter a exigência do aminoácido lisina, que se apresenta deficiente

em éguas gestantes, multiplica-se a exigência de PB por 4,3%.

Page 31: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

30

1.4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

1.4.1. MANEJO NUTRICIONAL

A obtenção de bons índices reprodutivos está associada a boas práticas de

manejo nutricional, de forma que animais bem alimentados apresentam uma maior

eficiência reprodutiva, viabilizando a utilização das biotécnicas reprodutivas, que em

geral apresenta altos custos. Assim para um correto manejo nutricional dos eqüinos,

faz-se necessário o conhecimento das particularidades anatômicas e fisiológicas do

seu trato gastrointestinal (TGI).

Os animais recebidos pela clínica, geralmente chegavam com condições de

escore corporal (EC), para a reprodução, baixo. Essas condições eram mais

evidentes nas éguas locadas como receptoras, já que são animais de menor valor

zootécnico, portanto recebiam menor atenção de seus proprietários, quando

comparada as doadoras. Devido a esse fato, as receptoras passavam por um

período de recuperação, sendo fornecido um aporte nutricional maior para que

chegassem ao EC desejado, e então ter início os processos reprodutivos. Isso

atrasava o cronograma reprodutivo de atividade da clínica, bem como gerava um

maior custo por receptora locada, o qual não era repassado ao criador.

O manejo nutricional adotado tinha como função melhorar o EC das éguas

debilitadas nutricionalmente e manter o EC das que se apresentavam em bom

estado nutricional (EC ≥ 5 e ≤ 8), porém em alguns casos, quando apresentavam EC

superiores, diminuía-se a quantidade de ração fornecida, diminuindo-se a

quantidade do alimento concentrado.

A ração dos animais era composta de dois alimentos volumosos: capim

elefante picado (Pennisetum purpureum Schum) e feno de tífton-85 (Cynodon

dactylon (L.) Pers.) e um alimento concentrado (“ração industrializada” DuRancho –

Tabela 1), sendo a ração distribuída em quatro refeições diárias, o que melhora a

eficiência alimentar. Segundo Andriguetto (2002) com a alimentação abundante que

é realizada naturalmente pelos eqüinos, ocorre um esvaziamento do estômago de 6

a 8 vezes por dia, em conseqüência desta passagem relativamente rápida dos

alimentos pelo estômago, associada a um pH não muito baixo, a digestão gástrica

Page 32: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

31

nos eqüinos não é tão eficaz quanto aquela dos onívoros e carnívoros, apesar de

apresentar uma composição semelhante.

Tabela 1 – Composição química do concentrado (DuRancho)

O arraçoamento para as éguas doadoras era feito da seguinte forma: as

07:00h (capim elefante picado mais ração concentrada); 11:00h (capim elefante

picado mais ração concentrada); 13:00h (feno de tífton-85 -); 17:00h (capim elefante

picado mais ração concentrada).

Para as éguas receptoras os horários de arraçoamento eram o mesmo,

porém a quantidade de ração concentrada fornecida aos animais era diferente,

considerado as sua exigência. As 13:00h o arraçoamento das receptoras era com

capim elefante picado em substituição ao feno como ocorria na alimentação das

doadoras.

Como mencionado anteriormente, a quantidade de ração concentrada era

ofertada em função do EC em que as éguas se encontravam, de forma que, a

quantidade de ração era aumentada ou diminuída a fim de levar os animais a um

bom ECC. O fornecimento de volumoso ocorria de forma a satisfazer as

necessidades dos animais sem haver muita sobra, evitando assim a fermentação

Umidade 13

PB % 12 EE % 2,5 FB % 10 FDA % 10 MM % 10 Ca % 2 P % 0,6 Metionina (mg) 2,1 Lisina (mg) 4,8 Mn (mg) 29,9 Zn (mg) 48 Fe (mg) 14,83 Cu (mg) 12 Co (mg) 0,23 I (mg) 0,72 Se (mg) 0,36 Vit. A (UI) 8000 Vit. E (UI) 80 Vit. D (UI) 32000

Page 33: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

32

microbiana, o que pode levar as éguas a apresentarem distúrbios digestivos, uma

vez que os eqüinos são mais exigentes e sensíveis às alterações de manejo

alimentar e ambiental, bem como a qualidade do alimento. Antes de cada

arraçoamento os cochos eram limpos de forma a retirar as sobras da refeição

anterior.

As éguas recebiam suplementação mineral e água a vontade, sendo feito a

higienização dos cochos bebedouros em dias alternados.

1.4.2. MANEJO REPRODUTIVO

Como a clínica trabalha com a aplicação de técnicas reprodutivas de

inseminação artificial e transferência de embriões, um rígido controle do estado

fisiológico dos animais fazia-se necessário, sendo prática diária o acompanhamento

do estágio de desenvolvimento folicular das éguas. Esse acompanhamento era feito

pela veterinária responsável, a doutora Ilana de Oliveira Batista, por palpação retal e

uso de ultra-sonografia, de forma que, de acordo com a necessidade de indução do

cio ou sincronização determinava-se os tratamentos hormonais para cada égua.

A palpação retal é um procedimento de alta valia para avaliação do sistema

reprodutor da égua, pois se ao exame a cérvix se apresentar longa, firme e tubular

significa que os níveis de progesterona estão altos e a égua está gestante, do

contrário, a mesma se apresentará macia e pequena indicando estro ou anestro. No

útero deve-se verificar se existe gestação. Se não, deve-se avaliar o tônus uterino.

No estro ele estará macio e com pouco tônus diferentemente do diestro, onde o

útero estará com o tônus bem aumentado e de forma tubular. Nos ovários deve-se

avaliar o tamanho, consistência e a presença de estruturas (folículo ou corpo lúteo)

(JÚNIOR, 2008).

As categorias de éguas alojadas eram doadoras e receptoras. As doadoras

são animais de genética superior selecionados para a característica desejada. De

acordo com Squires e Seidel (1995) algumas características devem ser

consideradas na seleção de éguas doadoras utilizadas em programas de

transferência, incluindo o preço do procedimento, histórico reprodutivo da égua, o

garanhão ou sêmen usado, tamanho das crias, valor potencial da cria e o número de

prenhez. Geralmente a cria deve apresentar o dobro do custo com a transferência

Page 34: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

33

de embriões, porém em alguns casos os clientes relevam esse custo. O ideal

segundo Jacob (2007) seria fêmeas adultas provadas, apresentando ciclos estrais

regulares, com boa conformação do trato reprodutivo, sem histórico de problemas

reprodutivos, livres de endo e ectoparasitas, com vacinas em dia e com boa

condição corporal.

As receptoras são animais de baixo valor zootécnico, porém que atendam

requisitos como apresentar um bom escore corporal, ter fertilidade conhecida, idade

entre 3 e 10 anos, conformação corporal compatível com a doadora, apresentar boa

habilidade materna, ter boa índole e ser de fácil manejo (SQUIRES e SEIDEL,

1995).

Diariamente as éguas eram rufiadas nas primeiras horas do dia e ao

entardecer, de forma que, se detectado a expressão dos comportamentos

característicos do estro ou cio, as respectivas éguas que expressaram eram

encaminhadas para o brete de contenção individual, onde se fazia a palpação e

acompanhamento do desenvolvimento folicular, via aparelho de ultra sonografia.

Quando as éguas se apresentavam em estro prolongado ou em condições que se

objetivava induzir a ovulação, fazia-se a administração de hormônio a base de

gonadotrofina coriônica humana (hCG) – VETECOR - para induzir um pico artificial

do tipo LH, levando a égua a iniciar o processo recrutamento, crescimento folicular e

ovulação. Segundo Pickett et al. (1989) a utilização de hCG é preferida em relação

aos demais hormônios indutores da ovulação - hormônio liberador de

gonadotrofinas(GnRH) e prostaglandinas (PGF2α) - por apresentar uma boa resposta

e com apenas uma administração.

No momento em que o folículo estava com um diâmetro aproximado de 30

mm (Figura 2), diâmetro pouco menor que a média encontrada em éguas Crioulas

por Winter (2007) nos folículos um dia antes da ovulação (40,1mm) dos quais 90,1%

ovularam 24 horas após, fazia-se nesse mesmo dia a inseminação das éguas

doadoras de forma a aumentar a possibilidade de ocorrer a fecundação.

O sêmen utilizado na propriedade era proveniente de centrais de coleta, o que

facilitava a aquisição desses nas datas necessárias, já que as centrais obedecem a

um cronograma de coleta de sêmen de seus garanhões. Assim, tinha-se sêmen

refrigerado na data exata da inseminação. O uso de sêmen refrigerado tem crescido

nos últimos anos, principalmente após o desenvolvimento do Equitainer®, bem como

dos modelosMSP®-1 e 2, no Brasil , que são equipamentos idealizados para o

transporte de sêmen. Os referidos equipamentos permitem realizar resfriamento

Page 35: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

34

progressivo e fisiológico do sêmen, proporcionando aumento na sua longevidade

fora do trato genital feminino de até 72 horas, com adequada capacidade fecundante

(GONÇALVES et al., 2008).

Figura 2 – Visualização dos folículos ovarianos, o esquerdo medindo 29,6mm de diâmetro.

Fonte: Winter (2007).

O aumento da longevidade de conservação do sêmen refrigerado consiste na

diminuição do metabolismo espermático, pois segundo Nunes; Zuccari; Costa e

Silva (2006) quando os espermatozóides são mantidos a 5oC, apenas 10% de seu

metabolismo é necessário para sua sobrevivência quando comparado à preservação

a 38oC. Assim, uma atenção especial deve ser dada a temperatura do sêmen, bem

como ao processo de refrigeração desses, já que a depender desses fatores as

células espermáticas podem sofrer um choque térmico, o que segundo Squires e

Seidel (1995) ocorre devido a danos estruturais diretos, como a ruptura das

membranas plasmáticas, ou indiretos, por alterações das funções celulares.

Segundo Moran et al. (1992) ao se resfriar o sêmen de 37°C a 5°C, a taxa de

refrigeração deve ser controlada, principalmente entre 19°C e 8°C, intervalo este em

que pode ocorrer o choque térmico, pois de acordo com Stryer (1992) nessa faixa de

temperatura os lipídios componentes da membrana plasmática dos espermatozóides

estão passando pela fase de transição, indo do estado fluído para o gel.

Page 36: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

35

Amann e Graham (1993) abordam a necessidade de se utilizar taxas de

refrigeração lentas, não superiores a -0,05°C/min, entre 19 e 8°C, já que esta é a

fase crítica de ocorrência das lesões nas membranas espermáticas. Esses autores

afirmam ainda que o processo de refrigeração também afeta as funções

enzimáticas, bem como as proteínas, já que essas têm suas atividades reduzidas

quando em temperaturas baixas.

O aumento da longevidade dos espermatozóides, submetidos a refrigeração,

se dá pela redução da utilização das reservas de adenosina-trifosfato (ATP), desde

que protegido as membranas celulares e as funções espermáticas durante a

refrigeração até o momento da inseminação (VARNER et al., 1989).

Alguns produtores, responsáveis pela escolha do sêmen, levavam para a

clínica os garanhões escolhidos para fazer a cobertura natural de suas éguas,

retornando após para os seus criatórios.

Depois de inseminadas, as doadoras retornavam para suas baias e sete dias

após, tempo sugerido por Squires e Seidel (1995), fazia-se o processo de coleta dos

embriões, utilizando-se para isso a lavagem uterina, higienizando primeiramente a

genitália externa a fim de evitar contaminações e após introduzindo um cateter de

Foley através da vagina, sendo manipulado com a mão enluvada, até ultrapassar a

cérvix e sua extremidade está posicionado no corpo do útero. Como meio para o

lavado, utilizava-se soro Ringer lactato, num total de 3 litros por égua, o qual era

dividido em três lavados, sendo realizados concomitantemente com a manipulação

uterina via retal. O líquido drenado passava por um filtro com malha de 75 mm

(Encon: immunosystems incorporate, ME, USA) apropriado para reter o embrião.

Após aproximadamente 20 ml do líquido (líquido do filtro) era colocado e uma placa

de petri estéril descartável (placa de petri 100x15), onde se fazia a observação

embrião, através da lupa.

Nesse momento as receptoras, já previamente tratadas e em estágio

fisiológico do útero adequado a receber o embrião (indução do cio de forma a

ovularem de 2 a 3 dias após a doadora, apresentando no momento da inovulação

boas condições progesteronica para a manutenção da gestação) eram inovuladas e

submetidas a administração de progesterona, objetivando manter os níveis

adequado desse hormônio, aumentando a possibilidade de sucesso da gestação.

A égua possui características diferenciadas, em relação aos demais animais

domésticos, quanto a produção de progesterona, apresentando outra fonte desse

hormônio que não o corpo lúteo principal. A égua parece ser a única entre as

Page 37: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

36

espécies domésticas em que a placenta é uma fonte de hormônio protéico que age

semelhante ao hormônio hipofisário, o hormônio luteinizante (FRANDSON et al.,

2005). A secreção de gonadotrofina coriônica eqüina (eCG) começa após cerca de

um mês de gestação e continua até cerca de quatro meses de gestação. Durante

esse período, ocorre desenvolvimento folicular no ovário da égua prenhe e a eCG

promove a luteinização desses folículos. Esses corpos lúteos acessórios são fontes

secundárias de progesterona.

Segundo Frandson et al. (2005) a progesterona possui várias ações que são

essenciais para manter a prenhez normal. Estas incluem enviar retroalimentação

negativa ao hipotálamo para inibir qualquer ciclo estral adicional, inibir o músculo liso

do útero para permitir a fixação e o desenvolvimento do feto e ajudar na manutenção

da contratilidade da cérvix para proteger o ambiente uterino.

Após a coleta de embriões era administrado prostaglandina (10 mg de

Lutalyse) nas éguas doadoras para assegurar um rápido retorno dessas ao estro.

Coletado os embriões das doadoras e inovulados nas receptoras, as éguas

eram levadas para as suas respectivas baias, sendo feito o diagnóstico da

implantação embrionária, nas receptoras, após uma semana (em média de 12 dias

após a cobertura ou inseminação). Segundo Hafez e Hafez (2004) o diagnóstico de

prenhez eqüina por ultra-sonografia via transretal pode ser feito 9 dias após a

cobertura ou inseminação, obtendo-se uma precisão de 100%.

As doadoras eram submetidas a um novo tratamento de indução do cio,

quando se pretendia a coleta de mais embriões, ou eram levadas pelos seus

proprietários quando confirmado a implantação do embrião na sua respectiva

receptora. Tanto as doadoras quanto as receptoras, geralmente deixavam a clínica

após 60 dias da inovulação, período crítico para a manutenção da gestação.

Page 38: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

37

1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização do estágio supervisionado obrigatório permitiu visualizar na

prática todo o conteúdo abordado em sala de aula durante o curso, de forma que se

pode observar, no manejo adotado pela clínica, os erros e acertos, os quais foram

compreendidos de forma a encontrar alternativas de correção. Assim, teve-se uma

visão geral de todo o manejo reprodutivo e nutricional adotado para os eqüinos,

visualizando a importância do emprego de um correto manejo para o sucesso das

práticas reprodutivas realizadas na clínica de reprodução.

Page 39: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

38

1.6. REFERÊNCIAS

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Page 41: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

40

Capítulo 2

CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE ÉGUAS ESTABULADAS EM PERÍODOS REPRODUTIVOS DE ESTRO E DIESTRO

RESUMO

Objetivou-se com o presente trabalho avaliar a expressão das características

comportamentais de éguas em período de estro e diestro, estabuladas submetidas a

técnicas de inseminação artificial (IA) e transferência de embriões (TE) em uma

clínica de reprodução eqüina. Utilizou-se seis éguas doadoras das raças Mangalarga

Marchador, Quarto de Milha e Campolina, com idades entre 3 e 12 anos e pesos

entre 490 a 740 kg. Essas estavam estabuladas em baias individuais de dimensão 4

x 4 metros, tendo acesso a um piquete de exercício durante algumas horas do dia.

As éguas foram observadas por um período de 24 horas, anotando a cada dez

minutos as atividades e o tempo gasto por cada animal nessas atividades, nas fases

de estro e diestro, analisando os parâmetros comportamentais de: frequência de

micção (MIC), freqüência de defecação (DEF), tempo em ócio (O), tempo gasto com

se alimentando (ALI), frequência de consumo de água (H2O), tempo caminhando

(CAM), tempo dormindo em pé (DP), tempo dormindo deitado (DD), tempo dormindo

em decúbito total (DDT) e presença de vícios (VIC). Não se observou grandes

diferenças entre os comportamentos externados pelas éguas nos diferentes

períodos, diferindo estatisticamente (P<0,05), apenas a MIC e DD, que foi maior em

éguas no estro.

Palavras - chave: Comportamento eqüino, reprodução eqüina, transferência de

embriões.

Page 42: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

41

BEHAVIORAL CHARACTERISTICS MARES STABLES IN REPRODUCTIVE PERIOD OF ESTRUS AND DIESTROUS

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the behavioral characteristics of

mares in estrus and diestrus period, housed subjected to techniques of artificial

insemination (AI) and embryo transfer (ET) in an equine reproductive clinic. We used

six donor mares Mangalarga Marchador Quarter Horse and Campolina, aged

between 3 and 12 years and weighing between 490-740 kg. They were housed in

individual barn size 4 x 4 meters, having access to a paddock for a few hours of

exercise a day. The mares were observed for a period of 24 hours, noting every ten

minutes the activities and time spent by each animal in these activities at the stages

of estrus and diestrus, analyzing the behavioral parameters: frequency of urination

(MIC), frequency of defecation (DEF), resting time (O), time spent feeding (ALI),

frequency of consumption of water (H2O), walking time (CAM), time asleep standing

up (DP), time sleeping lying down (DD) total time asleep in the supine position (DDT)

and presence of defects (VIC). There was no differences between the external

behavior by mares in different periods, differing (P<0,05) only MIC and DD, which

was higher in mares in estrus.

Key - words: Equine behavior, equine reproduction, embryo transfer.

Page 43: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

42

2.1. INTRODUÇÃO

Historicamente, o cavalo faz parte da vida do homem há 5.000 anos. Quando

este montou pela primeira vez, não havia ninguém para lhe servir de modelo,

devendo ter aprendido a partir de suas próprias observações. Assim, fez-se

necessário estudar o cavalo, ou seja, entender o seu comportamento físico-mental

(RIBEIRO, 1989 citado por OLIVEIRA, 2008), o que também se justifica, segundo

Rezende et al. (2006b) pela retirada do cavalo do campo, onde estes eram trazidos

para cidade, que a priori oferecia espaço para sua colocação em piquetes, com

ampla área para se movimentar e pastar. Entretanto, como o espaço reservado para

esse animal foi ficando cada vez menor, o mesmo foi obrigado a viver em

confinamento em pequenas baias, acarretando modificações em seu

comportamento, diante da necessidade de adaptação a esse ambiente reduzido.

Consequentemente duas características da vida do cavalo que vive em um ambiente

natural estão ausentes quando estabulados: a vida em grupo e o tempo de pastejo o

que pode afetar no comportamento animal (REZENDE et al., 2006b).

Com a expansão no estudo da etologia, nos últimos anos, graças às novas

metodologias empregadas nos processos de observação e de etogramas

específicos montados principalmente entre os animais domésticos, a etnozootecnia

tem demonstrado com grande relevo, que desde os tempos da domesticação das

espécies o advento do aprisionamento dos animais alteraria para sempre questões

do comportamento da estrutura social ao comportamento reprodutivo destas

espécies em função da melhor produtividade entre outros amplamente estudados

(TRAVASSOS e CAJU, 2005).

Distúrbios emocionais ou psicológicos produzidos pelo confinamento

prolongado, em oposição à ocorrência de fenômenos fisiológicos ou orgânicos são

freqüentes. Sendo que os problemas de comportamento mais comumente

encontrados nos eqüinos podem ser divididos em três categorias: vícios,

agressividade e distúrbios sexuais, no qual os dois primeiros ocorrem principalmente

em animais estabulados e o terceiro presente em animais, na sua maioria,

independente do sistema de criação (McCALL, 1993; LEWIS, 2000).

O uso de metodologias científicas aliado ao conhecimento histórico ou

Etnozootécnico tem permitido informações à produção animal que vão desde

questões de hábitos alimentares, hábitos pastajo, conduta social e reprodutiva que

Page 44: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

43

vão sendo incorporados nos manejos específicos de cada espécie no dia-a-dia das

propriedades rurais. Dentre os animais domésticos o Equus caballus tem tido um

destaque mundial em estudos de comportamento, talvez, por ser a única espécie

que promove a perfeita interação do trinômio homem/animal/ambiente

(TRAVASSOS e CAJU, 2005).

Devido a baixa quantidade de trabalhos abordando o comportamento

reprodutivo de eqüinos estabulados, objetivou-se com esse trabalho, analisar os

aspectos comportamentais de éguas estabuladas em períodos de estro e diestro.

Page 45: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

44

2.2. REVISÃO DE LITERATURA

O comportamento dos animais tem importante papel na reprodução, afetando

tanto o sucesso do acasalamento, quanto a sobrevivência da prole. Padrões

comportamentais estão associados à corte e cópula, ao nascimento, ao cuidado

materno, e as tentativas de amamentação do filhote recém nascido. Esses padrões

comportamentais têm sido abandonados pela domesticação, e restringido ou

modificados pelas condições impostas de acordo com as necessidades do

empreendimento zootécnico. Tais necessidades incluem confinamento em piquetes,

currais ou baias; segregação sexual; coberturas controladas; partos por cesariana;

desmame forçado; proximidade imposta com outros indivíduos e a inevitável

presença de humanos, cães e maquinaria (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

2.2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DAS ÉGUAS

As funções reprodutivas da fêmea são a produção de óvulos e a provisão de

um ambiente adequado para o crescimento e nutrição do feto que se desenvolve

após a fertilização de um óvulo maduro por um espermatozóide. Os resultados das

condições anteriores são o nascimento, num momento apropriado, e a continuação

da função nutricional através da lactação (REECE, 1996).

O sistema reprodutivo das éguas consiste de dois ovários, dois ovidutos,

útero, vagina e vulva (Figura 3).

Os ovários são glândulas pares que contribuem com o desenvolvimento dos

oócitos e produção de hormônios. Cada ovário é localizado caudal ao rim direito e

esquerdo, respectivamente, e suspenso à parede dorsal do abdômen por uma flexão

do peritônio, o mesovário (Figura 4). O mesovário é parte do ligamento largo; um

termo que se refere ao suspensor dos ovidutos (mesossalpinge) e útero

(mesométrio). O ovário equino apresenta uma estrutura em forma semelhante ao

feijão (forma de rim), e sua disposição pendular proporciona facilidade na

manipulação por palpação retal (REECE, 1996). Segundo Hafez e Hafez (2004) o

processo de ovulação (liberação do óvulo maduro) ocorre, nos ovários das éguas,

Page 46: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

45

através da fossa de ovulação (uma reentrância), ao contrário do que ocorre em

muitas outras espécies.

Segundo Reece (1996) o ovário possui um córtex externo e uma medula

interna. A medula é mais vascular, enquanto a maior parte do córtex consiste de

tecido conjuntivo, o qual forma o estroma (tecido de sustentação do ovário). A

camada mais externa do córtex é uma cápsula densa de tecido conjuntivo,

conhecida como túnica albugínea. Devido a densidade do estroma, os ovários

parecem firmes quando palpados (PICKETT et al. 1989). A forma mais precoce do

óvulo, os folículos primordiais, e óvulos em vários estágios de desenvolvimentos

estão intercalados no córtex. Durante a vida fetal a superfície externa do ovário está

coberta pelo epitélio germinativo. Enquanto o feto se desenvolve, os óvulos

primordiais diferenciam-se do epitélio germinativo e migram para o interior da

substância do córtex ovariano. Os óvulos primordiais continuam a se desenvolver no

ovário fetal pelas divisões mitóticas; grande número é produzido durante esse

momento. O desenvolvimento progride até a prófase da primeira divisão meiótica e

então se paralisa nesse estágio.

Segundo Dukes (2006) ao nascimento, cada óvulo primordial coleciona ao

seu redor uma camada de células do epitélio germinal e são conhecidas como

células da granulosa. O oócito, rodeado por uma camada simples de células da

granulosa, é chamado de folículo primordial. A atresia (degeneração) dos folículos

primordiais continua até a puberdade e ao longo da vida reprodutiva da fêmea. No

final da vida reprodutiva da fêmea somente uns poucos folículos primordiais se

mantêm nos ovários, degenerando-se posteriormente. Conforme o estágio de

desenvolvimento dos folículos, estes podem ser classificados como folículo

primordial, folículo primário, secundário, terciário, e folículo de Graaf, sendo que

esse último, na égua, alcança um tamanho de 3 a 6 cm (REECE, 1996).

Os ovidutos ou tubas uterinas são um par de tubos enovelados que

conduzem os óvulos dos ovários para o respectivo corno do útero. As tubas servem

como local de fertilização pelo espermatozóide do óvulo liberado. A porção da

trompa adjacente ao seu respectivo ovário expande-se para formar o infundíbulo e

as fímbrias que se projetam de sua extremidade livre. As fimbrias auxiliam no

direcionamento do óvulo para o interior do infundíbulo no momento da ovulação

(FRANDSON et al., 2005).

Segundo Dukes (2006) o lúmen dos ovidutos é revestido por células

secretoras e ciliadas. Essas células fornecem ambiente para os óvulos e transporte

Page 47: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

46

para os espermatozóides. No interior das paredes das tubas uterinas está localizada

a musculatura lisa, tanto longitudinal quanto circular, as quais auxiliam no transporte

de óvulos e esperma através de suas contrações. A cobertura serosa das trompas

uterinas é conhecida como mesossalpinge, que é uma continuação do mesovário e

parte do ligamento largo (que fornece sustentação para a genitália interna).

O útero fornece um local para o desenvolvimento do feto, se houver a

fertilização. O útero consiste de um corpo, uma cérvice (colo ou cérvix) e dois

cornos. A cérvix é uma estrutura semelhante a um esfíncter, que se projeta

caudalmente na vagina, onde esta é composta por saliências que, na égua, são

características as dobras da mucosa e as alças que se projetam para dentro da

vagina (HAFEZ e HAFEZ, 2004). A cérvix é a porção mais curta com cerca de 6 cm,

porém, as proporções são variáveis de espécie para espécie, sendo a espécie

equina a que apresenta o maior corpo do útero, em relação a extensão dos cornos

(FRANDSON et al., 2005).

Como muitos outros órgãos cavitários internos, a parede uterina consiste em

um revestimento de membrana mucosa, uma camada intermediária de músculo liso

e uma camada serosa externa de peritônio. O útero está bilateralmente suspenso da

parede do corpo pelo mesométrio. O mesométrio, o mesossalpinge e o mesovário

constituem coletivamente o ligamento largo (FRANDSON et al., 2005).

A estrutura uterina consiste em três túnicas: a serosa (perimétrio) que está

aderida a túnica muscular (miométrio) no qual apresenta duas camadas, um extrato

externo fino de fibras longitudinais e uma espessa camada interna de fibras

circulares, estando entre elas uma camada de tecido conjuntivo. A túnica mucosa

(endométrio) repousa diretamente na túnica muscular, de coloração vermelho-

marrom, exceto no colo, onde é pálida. Está coberta por uma camada única de

células colunares altas, com numerosas glândulas uterinas longas (GETTY, 1986).

A vagina é o segmento que representa o órgão copulatório da fêmea, o qual

vai do óstio uterino externo até o óstio uretral externo. Na égua, o lúmen da vagina

diminui na região cranial pela projeção do colo uterino, que forma o fórnice vaginal

(KONIG e LIEBICH, 2004).

Segundo Lucena (2008) a vulva nos eqüinos é singular, possuindo, dois

grandes lábios e o clitóris. A comissura dorsal pontiaguda e com no máximo 4 cm

acima do assoalho pélvico e a comissura ventral arredondada, uma inversão do

arranjo usual. Em geral é larga ventralmente ao assoalho pélvico e a abertura (12 a

5 cm) deve apresentar-se fechada. As alterações no tamanho da vulva estão sobre

Page 48: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

47

influência hormonal, apresentando-se mais estreita e com maior tonicidade quando

sob efeito da progesterona e mais relaxada quando sob efeito da de estrógenos

(DYCE, 1990 citado por LUCENA, 2008)

A vulva é formada de ambos os lados pelos lábios vulvares, que se unem

conjuntamente nos ângulos dorsal e ventral. O ângulo dorsal é arredondado, e o

ventral é agudo. Somente na égua ocorre o contrário devido a presença do clitóris. O

clitóris está alojado na fossa clitoridiana do vestíbulo da vagina. Esta depressão, que

corresponde ao prepúcio nos machos, pode alojar agentes infecciosos na égua

(KONIG e LIEBICH, 2004). De acordo com McKinnon (1992) citado por Lucena

(2008) os lábios vulvares devem estar firmes e selando a entrada do canal vaginal,

funcionando como a primeira barreira física entre o ambiente externo e o útero. Para

que esta proteção seja eficaz, faz-se necessário que os mesmos estejam

verticalmente posicionados ao eixo crânio-caudal com no máximo 10º de inclinação.

Por várias razões esse fechamento se torna menos eficaz, podendo haver

contaminação principalmente pelo ar, urina e pelas fezes, da região vaginal e do

endométrio, podendo levar a um caso de vaginite, cervicite, endometrite e até

esterilização da égua.

Figura 3 - Anatomia do aparelho reprodutivo da égua.

Fonte: Júnior (2008).

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48

Figura 4 - Vista lateral do trato genital da égua.

Fonte: Júnior (2008).

2.2.2. A REPRODUÇÃO EQÜINA

Dentre os animais domésticos a égua é a que está sujeita a maior

variabilidade no ciclo reprodutivo, de forma que algumas éguas parecem ser

verdadeiramente poliéstrica; podendo ficar prenhes em qualquer época do ano.

Entretanto, a maioria são poliéstricas estacionais de dias longos, comportamento

observado em éguas que são alimentadas a pasto, onde se reproduzem apenas no

verão e permanecem em anestro no inverno, porém aquelas bem alimentadas e

estabuladas tendem a ciclar o ano todo, estando, portanto, o período de início da

estação reprodutiva fértil, intimamente associado ao manejo a que os animais são

submetidos (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

A variação no ciclo reprodutivo das éguas ocorre pela ação do fotoperíodo,

onde, segundo Lincoln et al. (2003) citado Winter (2007) o fotoperiodismo, em

mamíferos, depende da maneira como a glândula pineal traduz o fotoperíodo em um

sinal modulado pelos pulsos de melatonina nos ciclos de 24 horas (ritmo circadiano)

e também, de como a duração da melatonina é decodificada nos tecidos (sensíveis

à melatonina) que controlam aspectos específicos no comportamento e fisiologia

Page 50: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

49

sazonal. No eqüino, o ritmo circanual da reprodução é primariamente regulado pelas

mudanças no fotoperíodo (NAGY et al., 2000 citado WINTER (2007). Este sinal

ambiental é traduzido em um sinal endócrino onde a substância melatonina,

responsável pela inibição da secreção do GnRH pelo hipotálamo, é secretada

durante a fase de escuridão (escotofase).

Segundo Hafez e Hafez (2004) a variação no fotoperíodo pode ser o sinal

ambiental mais importante e que orienta o eixo hipófise-gônada, uma vez que

tratamentos com fotoperíodo artificial estimulam o desenvolvimento folicular e o

início da estação de monta. Sendo que o padrão de secreção de LH da égua é

influenciado pelo fotoperíodo.

2.2.2.1. Ciclo Estral

Segundo Hafez e Hafez (2004) o ciclo reprodutivo relaciona-se com vários

fenômenos: puberdade, maturidade sexual, estação de monta, ciclo estral, atividade

sexual pós-parto e envelhecimento. Esses componentes são regulados por fatores

ambientais, genéticos, fisiológicos, hormonais e psicossociais.

Durante a fase pré-natal e neonatal a secreção das gonadotrofinas FSH

(Hormônios Folículo Estimulante) e LH (hormônio luteinizante) e seu fator liberador

hipotalâmico, hormônio LHRH, inicia-se durante a vida fetal, sendo essa secreção

regredida temporariamente antes do nascimento, de forma a permanecerem baixos,

os níveis de tais hormônios, até o inicio da puberdade. Nesse momento ocorre um

aumento na secreção de gonadotrofinas, o que resulta na eliminação do controle

inibidor do sistema nervoso central quando o desenvolvimento corpóreo atinge

progressivamente um nível compatível com a reprodução (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Estando o animal fisiologicamente apto a reprodução, ou seja, atingiu

maturidade sexual, e estando em boas condições de manejo, iniciam-se os ciclos

reprodutivos, os quais para a produção das células germinativas se fazem

necessário a influência de fatores estimulantes ou inibidores como: alimentação,

calor, luz, trauma físico, dor e presença do macho, quando em se tratando das

fêmeas, os quais atuam inicialmente no complexo hipófise-glândula pituitária,

estimulando a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o qual, por

sua vez, provoca a liberação de hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizantes

Page 51: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

50

(LH), que atuam diretamente nas gônadas (ovários e testículos). As atuações

desses hormônios estimulam as gônadas a produzirem hormônios esteróides

(produzidos primariamente nos ovários e nos testículos, mas também podem ser

produzidos pelas glândulas adrenais e placenta). De acordo com Hafez e Hafez

(2004) os ovários produzem dois hormônios esteróides (estradiol e progesterona) e

um protéico (relaxina), os quais são caracterizados da seguinte forma:

• Estradiol - é o estrógeno primário, sendo que a estrona e o estriol

representam outros estrógenos metabolicamente ativos. Todos os estrógenos

ovarianos são produzidos a partir de precursores androgênicos, sendo que

dentre todos os esteróides, os estrógenos tem a mais ampla gama de funções

fisiológicas, tais como: atuam no sistema nervoso central induzindo o

comportamento de cio na fêmea; atuam no útero aumentando tanto a

amplitude quanto a freqüência das contrações, potencializando os efeitos da

ocitocina e prostaglandinas; atua no desenvolvimento físico das

características sexuais secundárias femininas; estimulam o crescimento dos

ductos e desenvolvem as glândulas mamárias, além de exercem efeitos de

retroalimentação tanto negativos quanto positivos no controle da liberação de

LH e FSH através do hipotálamo.

• Progesterona - é o progestágeno natural de maior prevalência, sendo

secretada pelas células luteínicas do corpo lúteo, pela placenta e pelas

glândulas adrenais. Sua secreção é estimulada primariamente pelo LH, de

forma que em éguas a produção placentária de gonadotrofina coriônica

eqüina (eCG) estimula o crescimento folicular, por desempenhar atuação

biológica semelhante ao FSH e LH, porém predominantemente ao FSH.

Assim ocorre o desenvolvimento dos corpos lúteos acessórios, que são

responsáveis pela produção de progesterona para a manutenção da prenhez

em éguas. Segundo Frandson et al. (2005) a progesterona desempenha

funções como: fazer retroalimentação negativa com hipotálamo para inibir

qualquer ciclo estral adicional; inibir o músculo liso do útero para permitir a

fixação e o desenvolvimento do feto e ajudar na manutenção da contratilidade

da cérvix para proteger o ambiente uterino. Segundo Hafez e Hafez (2004) a

progesterona atua ainda auxiliando no desenvolvimento do tecido secretor da

glândula mamária e sinergisticamente com os estrógenos na indução do

comportamento de cio.

Page 52: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

51

• Relaxina - é um hormônio polipeptídico que é secretado primariamente pelo

corpo lúteo durante a gestação, atuando na dilatação da cérvix e da vagina

antes do parto, além de inibir as contrações uterinas e auxiliar no crescimento

das glândulas mamárias quando administrada em conjunto com o estradiol.

Hormônios gonadotróficos e esteróides são vital no controle cíclico padrão do

desenvolvimento folicular ovariano, essencialmente para a fertilidade. Estrógenos

em particular estão diretamente relacionados a fertilidade e infertilidade em

mamíferos, pois são responsáveis por manter uma foliculogênese normal, além de

manter as características e controlar o desenvolvimento das células somática

ovarianas das fêmeas (GASTAL, 2009)

Nas fêmeas, o hormônio FSH é responsável por fornecer o estímulo para o

crescimento folicular, já o LH proporciona a maturação final do folículo pré-

ovulatório, a indução da ovulação, e o início da formação dos corpos lúteos (primário

e secundário). Os corpos lúteos produzem progesterona até o 14º ao 15º dia pós-

ovulação, com pico no 6º dia. Após a cobertura ou inseminação, os espermatozóides

são transportados, pelo útero, até a junção útero-tubárica-istmo, onde se

potencializam para encontrar o ovócito, realizar a fusão, finalizando com a

fecundação e formação do zigoto. No início da gestação, o zigoto entra no útero e é

envolvido por uma cápsula de função imunoprotetora, antiluteínica, e após 20 a 21

dias, inicia-se o processo de estabelecimento da placentação alanto-coriônica

(SILVA et al., 1998).

Segundo Frandson et al. (2005) o ciclo estral pode ser divido em várias fases

com base nas modificações comportamentais ou modificações estruturais na

genitália interna e externa:

• Proestro – primeira fase do ciclo estral - é a fase de formação, onde durante

esta, o folículo ovariano, sob influência do FSH e do LH, aumenta de tamanho

e começa a secretar estrogênios, começando, geralmente, um ou dois dias

após a regressão do corpo lúteo do ciclo prévio.

• Estro – período de receptividade sexual - é primariamente iniciado pela

elevação nos estrogênios dos folículos maduros logo antes da ovulação. Na

maioria das espécies domésticas, ocorre ovulação um dia ou dois após o

início do estro comportamental, porém, segundo Hafez e Hafez (2004) na

Page 53: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

52

espécie eqüina, a ovulação está mais relacionada com o final do que com o

início do estro.

• Metaestro – o fim da receptividade sexual marca o início do metaestro, a fase

pós-ovulatória dominada pela função do corpo lúteo. Durante este período, os

estrogênios séricos diminuem e a progesterona aumenta. Um corpo lúteo

completamente desenvolvido possui influência notável sobre o útero. O

revestimento endometrial do útero fica mais espesso, as glândulas uterinas

aumentam e os músculos uterinos exibem desenvolvimento aumentado.

Segundo Reece (1996) a genitália externa retorna a seu estado antes do

estro à medida que os estrogênios plasmáticos diminuem.

• Diestro – período de atividade luteínica madura, que se inicia cerca de 4

(quatro) dias após a ovulação e termina com a regressão do corpo lúteo.

• Anestro – Animais com longos períodos entre ciclos ou animais poliéstricos

que interrompem o ciclo entram em um longo período de inatividade

denominado anestro. Durante o anestro, as tubas uterinas, o útero e a vagina

encolhem e permanecem pequenos até a próxima estação de procriação.

O ciclo ovulatório da égua apresenta uma duração média de 21 dias,

consistindo de 14 dias de diestro (fase luteínica) e 7 dias de estro, período em que a

ela se encontra sexualmente receptiva (a duração de estro varia tanto entre éguas

quanto entre ciclos estrais em uma mesma égua). A secreção ovulatória de LH, em

éguas, é prolongada, apresentando aumento gradual dos níveis de LH ao longo do

cio e atingindo o pico no dia seguinte a ovulação, não existindo um aumento abrupto

na secreção de LH antes da ovulação. A elevação de FSH (Hormônio Folículo

Estimulante) ocorre aproximadamente a cada 10 dias de intervalo, no meio do cio e

após a ovulação (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Segundo McKinnon et al. (1988), na espécie eqüina a ovulação está mais

relacionada com o final do que com o início do estro, pois as ovulações ocorrem, em

sua maioria, no terceiro, quarto ou quinto dia do estro, de 24 a 48 horas antes do

final do comportamento de estro.

Em éguas que estão ciclando normalmente, ocorrem duas ondas de FSH,

uma 20 e outra 11 dias antes da próxima ovulação, sendo que tanto a concentração

de LH quanto a de FSH aumentam próximo a ovulação. A elevação no meio do

diestro pode ser importante para um subsequente desenvolvimento dos folículos

destinados a ovular, de 10 a 13 dias mais tarde (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Page 54: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

53

A égua é única entre as fêmeas domésticas com um cio ovulatório num curto

período após o parto (Blanchard e VARNER, 1993; GINTER, 1992 citado por

WINTER, 2007). Este primeiro cio, comumente chamado de cio do potro, ocorre

entre o quarto e o décimo oitavo dia pós-parto (ROSSDALE e RICKETTS, 1980

citado por WINTER, 2007). O aumento dos níveis de FSH surge logo antes do parto

e o rápido preenchimento de reservas de LH pituitário e periférico no período de pós-

parto é responsável pela ocorrência do cio do potro (BLANCHARD e VARNER,

1993; GINTER, 1992; NAGY et al., 1998 citado por WINTER, 2007).

2.2.2.2. Comportamento Reprodutivo

O comportamento dos animais tem importante papel na reprodução, afetando

tanto o sucesso de acasalamento, quanto a sobrevivência da prole.

Vários padrões de corte, demonstração, atividades motoras e posturas são

direcionados à união dos gametas masculinos e femininos para garantir a

fertilização, prenhez e propagação das espécies. A coordenação de padrões

motores que levam à inseminação da fêmea tem sido adquirida pela evolução de

uma série ordenada de respostas a estímulos específicos. A expressão dos

comportamentos sexuais é influenciada por hormônios presentes na circulação, e

modificações no comportamento trazem mudanças na secreção desses hormônios,

afetando os comportamentos subsequentes (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

O comportamento sexual das fêmeas são mais expressos na fase de estro ou

cio, sendo que nessa fase a vulva aumentada de volume e fica edemaciada, os

lábios vulvares ficam frouxos e se abrem facilmente para exame. A vulva fica

avermelhada ou alaranjada, úmida e brilhante, coberta por uma fina camada de

muco transparente. A mucosa vaginal é altamente vascularizada e um muco aquoso

pode se acumular na vagina. A égua assume a posição característica de micção. A

cauda fica levantada, a urina é expelida em pequenas quantidades e o clitóris é

exposto através de contrações rítmicas e prolongada (Figura 5), seu trato genital

esta preparado para aceitar e transportar os espermatozóides ocorrendo a ovulação,

em média, 24 a 48 horas antes do final do cio (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Page 55: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

54

Figura 5 – Égua demonstrando comportamento de cio.

Fonte: Ricardo Agrícola.

Quando abordada e estimulada por um macho, a égua assume postura de

cópula (lordose), ocorre o afastamento dos membros posteriores, a pelve é inclinada

e a cauda desviada. Além disso, everte o clitóris e elimina pequenas quantidades de

urina (DUKES, 2006). Segundo Silva et al. (1998) outros sinais característicos como

orelhas eretas, cauda levantada, micção freqüente e retroversão do clitóris podem

ser observados, sendo estes sinais característicos de estro intensificados no período

que antecede a ovulação, momento ideal para a cobertura. Nesse momento a égua

já apresenta receptividade sexual, pois tem em sua corrente sanguínea a circulação

de estrógenos derivados dos antros foliculares (REECE, 1996).

Após a ovulação, final do estro e início do diestro, a égua não se interessa

pelo macho e, em contato com um garanhão, ela pode aumentar a sua

agressividade, suas orelhas murcham, escoiceia e morde, podendo recolher a cauda

entre as pernas, porém, estes sinais também podem acontecer no início do estro

(MILLS e NANKERVIS, 2005).

Segundo Hafez e Hafez (2004) os padrões e a intensidade dos

comportamentos sexuais são afetados pela genética, pela fisiologia e pelos fatores

Page 56: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

55

ambientais, sendo este mais pronunciado no macho que na fêmea, bem como pela

experiência prévia.

Existem éguas que, ocasionalmente, não apresentam sinais evidentes de

comportamento estral (cio silencioso), mesmo que os níveis hormonais circulantes

estejam normais e sejam francamente receptivas. Estima-se que isso ocorra em 7%

dos casos (WARING, 1983 citado por MILLS e NANKERVIS, 2005), e entende-se

que o problema tem origem central, em partes do cérebro que controla o

aparecimento de sinais do estro, sugerindo que fatores externos participam, em

grande parte, na forma do comportamento cíclico normal das éguas.

Alguns animais podem expressar comportamento sexual atípico, podendo ser

ocasionados pela homossexualidade, hipersexualidade, hiposexualidade e o

comportamento auto-erótico. Sendo que a homossexualidade consiste no

comportamento sexual entre machos ou fêmeas, particularmente durante a

puberdade e quando são alojados juntos ainda jovens; a hipersexualidade nos

machos consiste no aumento na excitação sexual, na frequência copulatória e em

tentativas de cópula com machos e fêmeas da mesma espécie ou espécie diferente;

a hiposexualidade é caracterizada por anormalidades no padrão ejaculatório, de

forma que alguns machos podem falhar na ejaculação apesar da protusão da

ereção, enquanto outros não conseguem montar ou deixam de exibir desejo sexual

por vários períodos de tempo; o comportamento auto-erótico se refere à auto-

estimulação das respostas sexuais, que nos machos é chamada de masturbação.

Essas síndromes podem ser devidas a fatores genéticos, a distúrbios no sistema

endócrino ou nervoso ou a manejo inadequado (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

2.2.2.3. Biotécnicas na Reprodução Eqüina

A manutenção de práticas eficiente de manejo reprodutivo pode contribuir

para elevar os rendimentos dentro dos criatórios, assim como a utilização de

práticas de biotecnologias, como a inseminação artificial e a transferência de

embriões. O uso de biotécnicas aplicadas a reprodução eqüina vem sendo cada vez

mais difundido entre os criatórios brasileiros, principalmente devido a redução do

custo de muitas dessas técnicas e com a maior capacitação de profissionais ligados

a reprodução eqüina (MANSO FILHO et al.,2008).

Page 57: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

56

Segundo Gonçalves et al. (2008) a biotecnologia da reprodução compreende

todas as técnicas utilizadas como ferramentas para aumentar a eficiência

reprodutiva dos animais. O uso de biotécnicas reprodutivas permite aumentar a

eficiência reprodutiva dos animais, já que permite um melhor aproveitamento e

disseminação de material genético superior, gerando aumentos significativos na taxa

de melhoramento genético e reduzindo o tempo para que esse ocorra (HAFEZ e

HAFEZ, 2004).

As principais biotécnicas reprodutivas mais utilizadas são descritas a seguir.

2.2.2.3.1. Inseminação Artificial

A inseminação artificial (IA) é a técnica singular mais importante desenvolvida

para o melhoramento genético dos animais, já que poucos reprodutores

selecionados produzem sêmen suficiente para inseminar milhares de fêmeas

anualmente (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Dentre as biotécnicas aplicadas a reprodução, a inseminação artificial (IA) foi

a que mais se mostrou economicamente viável e de fácil implementação em todas

as espécies domésticas. Embora o uso da IA em equinos tenha a citação mais

antiga, datando de 1322, essa técnica não acompanhou a evolução científica na

mesma intensidade quanto a outras espécies. Independentemente da intensidade de

uso da IA, o seu sucesso, no que se refere a índices de fertilidade, depende de

fatores intrínsecos do garanhão (qualidade do sêmen: morfologia, motilidade,

concentração e total de espermatozóides viáveis depositados no trato genital

feminino durante a IA), de fatores ligados à égua (idade e categoria reprodutiva) e do

manejo (sincronização de cio e momento da IA em relação ao momento de

ovulação) exercendo o homem uma influência marcante (GONÇALVES et al., 2008).

Para a prática da IA, apenas equipamentos estéreis, atóxicos e descartáveis

devem ser usados. Todas as inseminações devem ser executadas com técnicas de

contaminação mínima: com a égua devidamente contida, com a cauda enfaixada e

elevada e a área entre a base da cauda e a comissura ventral da vulva muito bem

esfregada, lavada e secada. O sêmen contido em uma seringa é depositado dentro

do corpo uterino anterior por uma pipeta estéril de inseminação de 22 polegadas. O

técnico deve usar uma luva esterilizada ou de plástico, limpa, protegendo desde o

Page 58: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

57

ombro, quando estiver passando a pipeta através da cérvix para o corpo uterino,

onde o sêmen será depositado (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

2.2.2.3.2. Transferência de Embriões

O uso da transferência de embriões (TE) em eqüinos tem aumentado nas

últimas décadas, sendo o Brasil um dos países que mais utiliza esta técnica em todo

o mundo. Apesar do inegável benefício da aplicação da transferência de embriões

para a eqüideocultura, a técnica ainda possui algumas limitações. Além do fato de

ocorrer, via de regra, somente uma ovulação por ciclo, resultando na recuperação de

no máximo um embrião por coleta, a estacionalidade reprodutiva da espécie limita

ainda mais o número de embriões obtidos por ano (PERES et al., 2006).

Segundo Hafez e Hafez (2004) a sincronização do ciclo estral é o primeiro

passo da TE, sendo que as éguas podem ser sincronizadas com a utilização de

progestágeno (Altrenogest) ou prostaglandinas (PGF2α):

1. Altrenogest – A administração de Altrenogest, via oral, nas éguas durante 15

dias induz o cio cerca de 3 dias após a remoção do progestágeno. A

fertilidade em éguas sincronizadas é semelhante àquela obtida para

controles, e uma fertilidade satisfatória pode ser obtida pelo acasalamento em

dias alternados durante o cio.

2. Prostaglandina – Éguas em diestro responderão a uma única injeção de

prostaglandina exibindo cio dentro de 3 a 5 dias. Em um grupo de éguas

ciclando ao acaso, o cio pode ser sincronizado com um regime de duas doses

de PGF2α e duas doses de gonadotrofina coriônica humana (hCG), sendo o

protocolo de tratamento: injetar PGF2α (dia 1), hCG (dia 7 ou 8), PGF2α (dia

15) e hCG (dia 21 ou 22). O cio é sincronizado dentro de um período de 2 a 4

dias e a fertilidade é normal.

As principais vantagens da TE, de acordo com Gonçalves et al. (2008), são:

• Obter potros de éguas problemáticas, mais velhas;

• Aumentar a produção de éguas geneticamente superiores;

Page 59: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

58

• Obter produtos de éguas que se encontram em performance, sem a

necessidade de parar as atividades em razão da gestação e/ou lactação;

• Obter produtos de potras com dois anos de idade sem alterar seu

desenvolvimento.

A colheita do embrião, segundo Gonçalves et al. (2008), é feita por meio da

introdução de um cateter através da vagina e da cérvix com um balão inflável que é

mantido dentro do útero. Através desse cateter, 1 a 2L de meio tamponado é

infundido no útero da égua. Esse fluido é então drenado para um filtro. O

procedimento é então repetido de uma a três vezes, totalizando uma média de 3 a

6L, dependendo do tamanho do útero. O embrião é identificado e qualificado

morfologicamente. A transferência pode ser feita por dois métodos: cirúrgico e não

cirúrgico. O método não cirúrgico é o mais utilizado em razão da facilidade, sendo

semelhante a inseminação artificial. Coloca-se o embrião em uma pipeta de

inseminação, transferindo-o para o corpo do útero. A receptora deverá estar

devidamente sincronizada com a doadora, para que as condições do útero sejam

semelhantes. Um completo exame ginecológico é comumente realizado, sendo

selecionadas receptoras jovens e sadias para que possam levar a gestação a termo

sem problemas. Este procedimento depende inteiramente da disponibilidade de uma

fonte de embrião de boa qualidade e de um ambiente uterino apropriado na

receptora no momento da transferência (sincronia) (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

A taxa de prenhez após a TE é grandemente influenciada pelas condições e

pela preparação das receptoras. Um animal que não é apto para o serviço natural

não pode ser usado para a TE. Fêmeas selecionadas para serem receptoras devem

ser boas reprodutoras, com um trato genital livre de infecção, ciclo estral de duração

normal e em boa condição corporal. Outro fator importante para obtenção de

resultados ótimos de prenhez é a sincronização entre o estágio de desenvolvimento

do embrião e o trato reprodutivo da receptora (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Page 60: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

59

2.3. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida durante o período do Estágio Supervisionado

Obrigatório (04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010), na clínica de reprodução: Ilana

Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã), localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE.

Utilizaram-se 6 éguas doadoras das raças Mangalarga Marchador, Quarto de Milha

e Campolina, em períodos de estro e diestro, em um delineamento inteiramente

casualizado (DIC), tendo as éguas idades e pesos variando entre 3 e 12 anos e 490

a 740 kg, respectivamente. As idades dos animais foram baseadas na cronologia

dentária e os pesos foram estimados através da equação:

• Peso (kg) = PT3 x 80

Onde: PT = Perímetro Torácico

As éguas estavam alojadas em baias individuais, medindo 4,00 x 4,00 m, com

cama de maravalha, apresentando um engradado de madeira como delimitador da

frente da baia, o que permitia a comunicação dessas éguas com as vizinhas. Elas

tinham acesso a um piquete de exercício, com uma área aproximada de 2000m2,

topografia plana e cercas de madeira, durante uma parte do dia, sendo agrupadas

em dois lotes, onde um era direcionado ao piquete de exercício no período da

manhã (7:00 às 11:00 horas) e o outro no período da tarde (13:00 às 17:00 horas).

A camada suja da cama era removida diariamente e colocado uma fina

camada de reposição, sendo que quando notado a necessidade de troca, toda a

cama era substituída por uma nova. Essa troca da cama era feito no momento em

que as éguas estavam no piquete de exercício.

O acompanhamento das éguas para estudo do comportamento tinha como

parâmetro de início da observação, o acompanhamento do desenvolvimento

folicular, o qual quando atingia um diâmetro médio de 30 mm, observado com

aparelho de ultra-sonografia, iniciava-se a observação do estro. Após sete a oito

dias da observação do estro, fazia-se a observação do diestro. As éguas foram

observadas por um período de 24 horas (das 7:30h às 7:30h do dia seguinte), tanto

no estro (folículo apresentando diâmetro médio de 30 mm) como no diestro, de

forma que as observações eram anotadas a cada dez minutos, em planilhas

Page 61: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

60

previamente elaboradas (ver Apêndice A), sendo discriminado o tempo que o animal

passava desempenhando os parâmetros avaliados.

Durante o período noturno uma lâmpada incandescente de 60 Watts era

acesa para permitir uma melhor visualização dos comportamentos expressados

pelas éguas.

Os parâmetros comportamentais avaliados foram: freqüência de micção

(MIC), freqüência de defecação (DEF), tempo em ócio (O), tempo gasto se

alimentando (ALI), Frequência de consumo de água (H2O), tempo caminhando

(CAM), tempo dormindo em pé (DP), tempo dormindo deitado (DD), tempo dormindo

em decúbito total (DDT) e presença de vícios (VIC).

O tempo em ócio é o período em que o animal se encontra acordado e em pé,

porém estagnado. Esse parâmetro é importante para determinar a agitação e/ou

inquietação do animal no ambiente ao qual está submetido.

Para a observação desses parâmetros, os observadores se posicionavam a

uma distância de 2 metros das baias das éguas observadas e junto a cerca, quando

a essas estavam no piquete de exercício. Era observada uma égua por vez.

Os dados não paramétricos, obtidos após a observação dos animais, foram

submetidos a análise estatística e comparados pelo teste t a 5% de probabilidade,

utilizando-se o programa computacional R versão 2.7.0 (2008)

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61

2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados analisados, observa-se que para os parâmetros

defecação (DEF) (Tabela 2) e alimentação (ALI) (Tabela 3) não houve diferença

estatística (P<0,05) entre éguas em período de estro e diestro, o que, apesar das

éguas em estro demonstrarem comportamento mais ativo (HAFEZ e HAFEZ, 2004),

esse comportamento não foi observado, possivelmente devido a esses animais,

quando estabulados, ficarem condicionados ao manejo que lhe é aplicado (FRAPE,

2007), pois segundo Voith (1975) citado por Travassos (2005) o aprendizado do

cavalo se dá através da repetição dos estímulos ou exercícios e que estes estímulos

o influenciaram por toda a sua vida. É um processo de troca que tem como resultado

um animal com comportamento estável em seu ambiente. É um modelo de como o

animal se adapta ao meio.

Tabela 2 – Quantidade de micção (MIC), defecação (DEF), consumo de água (H2O), em vezes por dia, quantidade de vícios (VIC) apresentados em éguas no Estro e no Diestro

FATORES Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Animal 5 Animal 6 MÉDIA

ESTRO

MIC (X/dia) 18 14 13 10 12 15 13,66A

DEF (X/dia) 6 12 12 15 11 8 10,66A

H2O (X/dia) 8 14 7 8 13 11 10,16A

VIC (quantidade) 2 0 0 0 0 0 0,33A

DIESTRO

MIC (X/dia) 13 8 12 4 6 10 8,83B

DEF (X/dia) 8 10 18 11 11 13 11,83A

H2O (X/dia) 9 12 13 8 13 9 10,66A

VIC (quantidade) 2 0 0 1 0 0 0,50A

Letras diferentes entre as médias dos mesmos parâmetros no Estro e no Diestro diferem pelo teste t a 5% de probabilidade.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Observou-se que apenas os parâmetros micção (MIC) e dormindo deitado

(DD) diferiram estatisticamente (P<0,05) entre os tratamentos de estro e diestro,

sendo observado que em relação à micção, esta apresentou maior freqüência nas

éguas em estro (Tabela 2), corroborando com Hafez e Hafez (2004), que afirma que

éguas no cio tendem a urinar frequentemente na presença do garanhão,

Page 63: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

62

caracterizando o comportamento natural de cio. O mesmo geralmente não acontece

nas éguas em diestro, pois, elevadas concentrações de progesterona através de

mecanismos fisiológicos inibe a produção e liberação de estrógenos (estradiol) que,

quando em concentrações elevadas, é o hormônio responsável pelo comportamento

de cio.

O parâmetro DD foi mais freqüente nas éguas em estro (Tabela 3), este

variou de 117,07 minutos (8,13% de 24 horas) no estro para 54,72 minutos (3,80%

de 24 horas) no diestro. Esse comportamento ocorreu, possivelmente, devido as

éguas em estro tenderem a apresentar uma maior inquietação durante o dia,

chegando ao fim do dia com um maior desgaste físico, tendo então que dormir, já

que o sono é essencial para o descanso e funcionamento normal do animal durante

as horas que passam acordados (HOUPT, 1991 citado por MILLS e NANKERVIS,

2005). Rezende et al. (2006a) estudando o comportamento de cavalos estabulados

do exército brasileiro em Brasília encontrou para o parâmetro DD em cavalos

Mestiços, Puro Sangue Inglês, Lusitano e Brasileiro de Hipismo, valores de 45,50;

6,62; 0,00 e 16,41minutos por dia, para cada raça, respectivamente.

Tabela 3 - Tempo gasto (%) no período de 24 horas conforme os parâmetros analisados em éguas no Estro e no Diestro

FATORES Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Animal 5 Animal 6 MÉDIA

ESTRO

O (%) 39,66 34,76 30,97 44,89 25,9 35,6 35,29A

ALI (%) 28,87 36,99 32,29 37,77 41,87 34,9 35,44A

CAM (%) 3,57 1,75 4,52 3,04 6,04 2,5 3,57A

DP (%) 15,14 13,01 29,02 3,66 17,57 10,41 14,80A

DD (%) 9,88 9,86 1,67 8,77 8,61 9,99 8,13A

DDT (%) 2,87 3,64 1,53 1,86 0 6,59 2,74A

DIESTRO

O (%) 46,57 31,75 31,24 32,58 24,52 46,53 35,53A

ALI (%) 33,81 46,98 41,31 38,42 39,99 39,3 39,96A

CAM (%) 0,37 1,6 6,34 2,04 4,43 2,85 2,93A

DP (%) 12,46 13,91 14,69 20,89 19,04 10,62 15,26A

DD (%) 1,42 5,39 3,93 5,4 5,97 0,69 3,80B

DDT (%) 5,37 0,36 2,48 0,66 6,04 0 2,48A

Letras diferentes entre as médias dos mesmos parâmetros no Estro e no Diestro diferem pelo teste t a 5% de probabilidade. O – ócio; ALI – alimentação; CAM – caminhando; DP – dormindo em pé; DD – dormindo deitado; DDT – dormindo em decúbito total.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Page 64: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

63

Segundo Cintra (2003) o eqüino gasta entre 6 e 8 horas por dia dormindo.

Comportamento semelhante foi observado, pois o total de horas que as éguas

passaram dormindo (DP + DD + DDT) foi de 6:16 horas e 5:16 horas para período

de estro e diestro, respectivamente.

O sono profundo ocorre quando o animal está dormindo em decúbito total

(DDT), e é comumente observado em animais jovens. Nos animais observados

houve uma maior incidência desse tipo de comportamento no grupo em estro. Da

mesma forma ocorreu com o sono médio (quando o animal está dormindo deitado –

DD), porém diferindo não apenas numericamente, mas também estatisticamente

(P<0,05), sendo o grupo do diestro os que apresentaram uma menor incidência

desse comportamento, como já discutido anteriormente (Tabela 3). Quanto ao sono

superficial, esse se apresentou numericamente maior nas éguas em estro. Os

valores observados para o tempo gasto das éguas em estro dormindo,

possivelmente ocorreu devido a uma maior atividade desses animais durante o dia,

se analisado os dados apenas numericamente.

Os comportamentos dormindo deitado (DD) e dormindo em decúbito total

(DDT) ocorreram sempre no período noturno (Figura 6 e Figura 7), sendo o horário

que as éguas apresentaram este comportamento, em torno das 20 horas às 04

horas do dia seguinte, externando uma grande frequência no ato de deitar e levantar

durante esse período noturno, o que corrobora com Resende et al. (2006b), que

afirma que os eqüinos são animais essencialmente noturnos, um instinto herdado de

cavalos selvagens que, por serem presas na natureza, só se sentiam seguros, à

noite, quando estavam deitados.

Figura 6 - Comportamento Dormindo Deitado (minutos/hora em 24 horas) de

éguas no Estro e no Diestro.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Page 65: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

64

Para o parâmetro dormindo em decúbito total (DDT) entre as fases do ciclo

estral estudas foi de 39,45 e 35,71 minutos por dia no estro e diestro,

respectivamente (Figura 7). Observando-se que as éguas apresentaram esse

comportamento de forma mais acentuada no horário de 01 as 04 horas da manhã.

Figura 7 - Comportamento Dormindo em Decúbito Total (minutos/hora em 24 horas) de éguas no Estro e no Diestro.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Observou-se que apesar das égua apresentarem o comportamento de dormir

em pé (DP) durante o dia, a maior frequencia desse ocorreu durante a noite (Figura

8). Os valores encontrados para este comportamento foi 213,12 (14,8% de 24 horas)

para as éguas em estro e 219,74 (15,26% de 24 horas) minutos por dia para as

éguas em diestro. Segundo Resende et al. (2006a) o tempo gasto dormindo em pé,

por cavalos das raças Mestiços, Puro Sangue Inglês, Lusitano e Brasileiro de

Hipismo, foi de 45,21; 71,56; 98,49 e 40,32 minutos por dia, respectivamente.

Page 66: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

65

Figura 8 - Comportamento Dormindo em Pé (minutos/hora em 24 horas) de éguas

no Estro e no Diestro.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Analisado o comportamento alimentar, observou-se que as éguas no período

de estro apresentaram frequência e tempo com a alimentação elevada (Figura 9),

conforme esperado, já que os eqüinos apresentam estômago relativamente

pequeno, representando cerca de 10% do TGI (FRAPE, 2007), sendo necessário,

para um melhor aproveitamento, que os animais tenham a sua ração dividida em

várias refeições. O pico de tempo gasto com a alimentação ocorreu as 17:00 horas,

horário em que era fornecido a última refeição do dia. O alimento dessa refeição

permanecia no cocho durante toda a noite, de forma que com o passar das horas,

com a alimentação das éguas, a quantidade de alimento era diminuída, e

consequentemente a frequência e tempo de alimentação. Ao se aproximar do

horário da próxima refeição, as 07:00 horas, os animais começavam a buscar mais

frequentemente o cocho para se alimentar. Percebe-se ainda, ao analisar a Figura 9,

que o tempo gasto com a alimentação diminuiu, possivelmente pelo fato citado

anteriormente, da quantidade de alimento, bem como, por ser o horário em que os

animais dormem.

A frequência e o tempo de alimentação das éguas em fase de diestro

apresentaram comportamento similar ao observado nas éguas em estro (Figura 9),

porém com uma menor amplitude de variação, o que se deve a uma menor agitação,

já que éguas nessa fase não apresentam a ansiedade pela busca do garanhão, bem

como não aceitam mais a monta, apresentando-se mais calma que éguas no

período do estro (HAFEZ e HAFEZ, 2004).

Page 67: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

66

Segundo Mills e Nankervis (2005) o confinamento restringe a alimentação dos

eqüinos e, além disso, estes podem desenvolver estereotipias.

Figura 9 – Comportamento alimentar (minutos/hora) de éguas no Estro e no Diestro

durante um período de 24 horas.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Após a alimentação os animais tendem a entrar em ócio (Figura 10), pois o

foco metabólico é direcionado para a digestão dos alimentos ingeridos, assim,

observa-se um comportamento quase que antagônico entre o tempo e frequência de

alimentação e ócio, quando comparado a Figura 9 e a Figura 10.

Figura 10 – Comportamento médio de Ócio (minutos/hora) de éguas no Estro e no

Diestro durante um período de 24 horas.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Page 68: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

67

O tempo que as éguas em diestro passaram em ócio não sofreu grandes

variações de amplitudes (Figura 10), quanto o observado nas éguas em estro

durante o período de observação, comportando-se de forma mais uniforme, dentro

de uma faixa de máximo e mínimo, porém apresentando um pico pouco antes do

momento que antecede a refeição da manhã.

Normalmente é esperado que animais estabulados apresentem o

comportamento de ócio de forma mais acentuada, devido as limitações de espaço

para desenvolverem alguma atividade, fato esse observado quando as éguas eram

liberadas no piquete de exercício. Quando no piquete de exercício as éguas

apresentavam menor tempo em ócio, passando maior parte do tempo em

movimento (Figura 11). Dessa forma, pode-se afirmar que o tempo dos animais em

ócio pode variar de acordo com o espaço onde estão alocados, de forma que

animais criados em regime extensivo, possivelmente, apresentam um gasto de

tempo maior com exercício, ficando menor tempo em ócio.

Figura 11 – Éguas no piquete de exercício.

Fonte: Silva e Lima (2010).

O confinamento excessivo, a falta de companhia, o manejo alimentar

inadequado levam os animais a uma frustração profunda e ao tédio, levando-os a

expressarem alguns distúrbios de estabulagem (CINTRA, 2003).

Dentre as éguas observadas, verificou-se que duas delas apresentavam

distúrbios comportamentais, sendo que uma delas apresentava o vício de escavar a

baia durante várias vezes no decorrer do dia (Figura 12). Esse comportamento,

segundo Cintra (2003) é comum em animais próximo ao momento do fornecimento

da alimentação, seja por inquietação, ou para chamar a atenção do tratador. Assim,

como esse comportamento não ocorria apenas próximo aos horários de

Page 69: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

68

arraçoamento, poderia ser afirmado que é por motivos de solidão e confinamento

excessivo. Porém, essa égua estava com um ferimento na sua perna direita, o que

pode ser um indício do comportamento externado, já que ela era submetida a alguns

tratamentos durante o dia, e assim queria chamar a atenção dos tratadores.

Figura 12 – Égua externando o vício de escavar a baia.

Fonte: Silva e Lima (2010).

Outra égua apresentava dois vícios orais, sendo um deles o de morder a

madeira, o que segundo Cintra (2003) é um dos vícios mais comum, podendo ser

um comportamento normal, já que não ocorria de forma compulsiva e repetitiva.

Outro vício expressado por essa mesma égua, observado com maior intensidade de

acontecimento no período do estro, foi a aerofagia, que consiste no animal engolir

ar. Esse comportamento observado corrobora com Cintra (2003), que afirma que

esse vício apresenta uma maior incidência em eqüinos hiperativos e nervosos, tendo

como prováveis causas o tédio, a frustração e o confinamento excessivo, de forma

que o animal pode permanecer com o vício mesmo quando eliminada a causa.

Algumas medidas podem ser tomadas visando sanar o problema, que na

maioria dos casos não causa incomodo ao animal, mas muito mais a quem está ao

seu redor. Dentre as medidas, além de eliminar a causa do problema, recomenda-se

o uso de coleiras de couro, com ou sem uma parte metálica, colocada ao redor da

garganta do animal. Porém, esse método não é eficaz em 100% dos casos (MILLS e

NANKERVIS, 2005). Em alguns animais um tratamento homeopático pode dar

resultado.

Page 70: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

69

2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer as características comportamentais dos animais é de fundamental

importância para o desenvolvimento de técnicas de manejo que visem minimizar os

impactos psíquicos, e consequentemente o estresse dos animais estabulados,

mantendo-os de forma a demonstrarem um comportamento semelhante aos

observados, quando no ambiente natural ou criados em regime extensivo.

Dentre os parâmetros avaliados a micção (MIC) e dormindo deitado (DD)

diferiram estatisticamente (P<0,05) entre as éguas em estro e diestro, ocorrendo

com maiores frequências nas éguas em estro, por estarem sobre a ação dos

estrógenos (estradiol), hormônio que atua na expressão do comportamento de cio e

consequentemente acarretando um maior número de micção das éguas. A maior

frequência do comportamento dormindo deitado (DD) em éguas no estro se deve ao

maior cansaço, após o término do dia, das éguas nesse período, por estarem em

uma fase de grande atividade hormonal e reprodutiva e assim necessitando de um

maior período de descanso.

As éguas submetidas ao confinamento não expressaram, de forma esperada,

as diferenças comportamentais possíveis entre as fases reprodutivas de estro e

diestro, porém as diferenças observadas são indícios de um comportamento bem

diferenciado, entre os animais nessas duas fases reprodutivas, quando em ambiente

que lhes permitam expressar seu comportamento natural, uma vez que, animais

estabulados, na maioria dos casos, são privados de externarem seu comportamento

natural, sendo moldados a uma nova realidade de habitat.

Um comportamento mais característico das fases reprodutivas pode ser

observado, com maior frequência, nos momentos em que as éguas estavam no

piquete de exercício.

Page 71: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

70

2.6. REFERÊNCIAS

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Page 72: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

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Page 73: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

72

Capítulo 3

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA CLÍNICA DE REPRODUÇÃO LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE GRAVATÁ - PE: ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA

RESUMO

Pouco se conhece a respeito das receitas geradas pelo setor eqüestre no

Brasil, devido a complexidade que engloba o agronegócio do cavalo, já que o

produto final é intangível, não sendo possível mensurar como os demais, por se

tratar de valor fenotípico e genético. Devido aos poucos estudos econômicos

desenvolvidos a respeito do setor de vendas de serviços de biotécnicas

reprodutivas, objetivou-se fazer uma análise econômico-financeira com os dados

pertencentes a uma clínica de reprodução eqüina situada em Gravatá – PE. Os

parâmetros analisados foram: análise I – análise baseada no índice de avaliação do

fluxo de caixa (análise vertical, análise horizontal e índice de lucratividade) e Análise

II, baseada nos resultados financeiros (margem bruta, margem líquida e lucro). Os

dados foram analisados com auxílio das ferramentas financeiras do programa

computacional Microsoft Office Excel 2007. Obtendo-se respostas favoráveis quanto

à viabilidade econômica de funcionamento da clínica durante o período analisado,

com índice de lucratividade (IL) de 1,10. Nos dois anos iniciais a atividade

apresentou valores positivos de fluxo de caixa, sendo de R$ 27.868,70 e R$

46.925,58, para os anos de 2007 e 2008, respectivamente. O valor de lucro obtido

também foi positivo nesse período, sendo, respectivamente, de R$ 15.813,91 e R$

36.232,23, para os anos de 2007 e 2008. Observou-se fluxo de caixa e lucro

negativos para no ano de 2009, sendo de R$ -7.563,33 e R$ -16.552,44,

respectivamente.

Palavras - chave: Agronegócio do cavalo, clínica de reprodução, viabilidade

econômica, índice de lucratividade.

Page 74: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

73

ECONOMIC AND FINANCIAL ANALYSIS IN REPRODUCTION CLINIC PLACED IN THE CITY OF GRAVATÁ - PE: ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA

ABSTRACT

Little is known about incoming generated by the equestrian industry in Brazil,

due to complexity that includes the horse agribussiness, as the final product is

intangible, is not possible to measure as the others, because it is genetic and

phenotypic value. Due to the limited economic studies developed about the sales

service sector of reproductive biotechnologies, aimed to make an economic and

financial analysis with the data belonging to an equine reproduction clinic placed in

Gravatá - PE. The parameters analyzed were: analysis I - analysis based on

evaluation index of cash flow (vertical analysis, horizontal analysis and profitability

index) and Analysis II, based on financial performance (gross margin, net margin and

gain). Data were analyzed with the aid of the financial tools of the software Microsoft

Office Excel 2007, getting favorable responses regarding the economic feasibility of

operating the clinic during the period analyzed, with profitability index (LI) of 1.10. In

the first two years the activity showed positive values of cash flow, with R$ 27,868.70

and R$ 46,925.58 for the years 2007 and 2008, respectively. The amount of lucre

was also positive in that period, respectively, with R$ 15,813.91 and R$ 36,232.23 for

the years 2007 and 2008. It was observed cash flow and lucre negatives for the year

2009, with R$ -7,563.33 and R$ -16,552.44, respectively.

Key - words: Horse Agribusiness, reproduction clinic, economic viability, profitability

índex.

Page 75: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

74

3.1. INTRODUÇÃO

Com a evolução da sócio-economia, sobretudo com os avanços tecnológicos,

a fisionomia das propriedades rurais mudou totalmente, sobretudo nos últimos 50

anos. A população começou a sair do meio rural e dirigir-se para as cidades,

passando, nesse período, de 20% para 70% a taxa de pessoas residentes no meio

urbano (no caso do Brasil). O avanço tecnológico foi intenso, provocando saltos nos

índices de produtividade (ARAÚJO, 2007).

Assim, a necessidade de modernização, nos diversos setores da economia

rural no final do século XX, trouxe mudanças profundas às atividades do campo.

Sendo a eqüideocultura, um dos elos da cadeia pecuária com menor experiência na

“arte” de gerar lucro (LUCENA, 2008). Para muitos, a indústria do cavalo está

relacionada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade do brasileiro da

classe média (LIMA et al., 2006), sendo que grande parte dos produtores de eqüinos

brasileiros tinham a atividade como hobby, até meados da última década do século

passado. Com mudanças bastante significativas num período de tempo

relativamente curto, o setor eqüestre ainda busca a melhor forma de equilíbrio

sustentável (LUCENA, 2008).

Segundo Araújo (2007) o agronegócio é o segmento de maior valor em

termos mundiais, e sua importância relativa varia para cada país. Apesar do

segmento eqüídeo ocupar uma posição de destaque nos países desenvolvidos e em

muitos daqueles em desenvolvimento, ainda é pouco conhecida a sua configuração

no Brasil, particularmente no que se refere à sua contribuição na geração de renda e

de postos de trabalho (LIMA et al., 2006).

Na criação de cavalos, diferentemente da maioria das outras espécies de

produção, o produto final da cadeia está baseado na qualidade dos indivíduos, pois

existe uma grande correlação entre aparência geral do cavalo e seu valor

econômico. Com isso, a maior eficiência do manejo reprodutivo passa a ser

fundamental para o sucesso da atividade (LUCENA, 2008).

O uso das técnicas de transferência de embriões (TE) em eqüinos tem

crescido muito nos últimos anos, sendo os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina os

países que mais realizam a técnica no mundo (GOMES et al., 2009), Isso permitiu

que houvesse um grande avanço na seleção e melhoramento dos rebanhos

eqüinos, já que as biotécnicas reprodutivas, aqui relatando a inseminação artificial e

Page 76: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

75

a transferência de embriões, permitem a utilização reprodutiva de indivíduos de

genética superior inaptos a reproduzirem naturalmente, além de proporcionar,

segundo Lucena (2008), um aumento no número de filhos gerados por garanhões e

éguas a cada ano.

Nos diversos setores produtivos existe a necessidade da adoção de

processos organizacionais a fim de implementar a produtividade do setor, uma vez

que o processo organizacional consiste em um padrão de interação entre os

indivíduos da organização que leva ao surgimento de um modelo razoavelmente

definido de regras e comportamentos, sendo esses essenciais para a estabilização

do funcionamento de determinados indivíduos e grupos nas organizações

(GONÇALVES, 2000). Os processos organizacionais ou de integração

organizacional são centralizados na organização e viabilizam o funcionamento

coordenado dos vários subsistemas da organização em busca de seu desempenho

geral, garantindo o suporte adequado aos processos de negócio (GARVIN, 1998).

Os processos organizacionais dos diversos setores eqüestres ainda estão

muito aquém do desejado, por se cultuar a idéia que é um setor de público restrito,

atendendo aos interesses de uma pequena elite. Isso concretiza um grande entrave

no desenvolvimento de atividades eqüestres por parte dos brasileiros enquadrados

como de classe média. Assim, deve-se adotar uma postura de maior divulgação da

criação de cavalos para os mais diversificados objetivos, bem como, os processos,

custos e receitas geradas por tal atividade, a fim de permitir a demonstração da

importância econômica do “agronegócio cavalo”, bem como demonstrar a

necessidade de uma maior organização do segmento eqüídeo.

Até o presente momento, o dimensionamento da indústria do cavalo, incluindo

todas as atividades a ela relacionadas, não foi realizado em toda sua profundidade e

extensão (LIMA et al., 2006). Buscando contribuir com as pesquisas relacionadas ao

“agronegócio eqüino”, objetivou-se fazer uma análise econômica - financeira de uma

clínica de reprodução eqüina situada no município de Gravatá – PE.

Page 77: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

76

3.2. REVISÃO DE LITERATURA

3.2.1. DEFININDO AGRONEGÓCIO

O termo “agribusiness”, que originou o atual termo agronegócio, foi utilizado

pela primeira vez em outubro de 1955 por John H. Davis referindo-se à soma total

das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações

de produção nas unidades agrícolas e itens produzidos com eles. O termo engloba

todas as atividades existentes desde a produção e distribuição dos insumos

utilizados na atividade produtiva “dentro da porteira”, a própria atividade e até a

comercialização (o que inclui armazenamento, processamento e distribuição) dos

produtos e subprodutos originários da atividade agropecuária (LIMA et al.,2006).

O termo agronegócio foi traduzido para o francês como “filière”, que em

português significa cadeia, adquirindo uma conotação mais dinâmica, preocupada

com a evolução tecnológica e com uma visão sistêmica das relações entre os

diversos agentes econômicos. Associado ao conceito de agronegócio tem sido

utilizado com muita freqüência o conceito de cadeia de produção agroindustrial –

entendida como o conjunto de etapas consecutivas pelas quais os diversos insumos

passam e vão sendo transformados e transferidos, até a chegada do produto final ao

consumidor (GEPAI, 2007) – parte da premissa de que a produção de bens e

serviços pode ser representada como um sistema. Neste, os diversos agentes estão

interconectados por fluxos de materiais, de capital e de informação, com o objetivo

de suprir um mercado consumidor com os produtos do sistema. O funcionamento

geral deste sistema deixou de ser interpretado como um simples somatório de suas

partes componentes e passa a ser visto como resultado de complexas inter-relações

de um conjunto de partes intimamente relacionadas (LIMA et al., 2006).

3.2.2. O AGRONEGÓCIO DA EQÜIDEOCULTURA NACIONAL

A criação de cavalos e outros eqüídeos têm movimentado grandes somas no

Brasil, desde o final da década de 80 do século passado, todavia esses animais tem

Page 78: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

77

sido importantes para o desenvolvimento nacional desde o tempo do Brasil colônia.

Atualmente o Brasil conta com mais de 8,5 milhões de eqüídeos, sendo que desse

número os eqüinos representam cerca de 6 milhões de animais (MANSO FILHO,

2001 citado por MANSO FILHO et al., 2008)

Segundo Lima et al. (2006) os negócios que envolvem a criação e utilização

do cavalo ocupam uma posição de destaque nos países desenvolvidos e em muitos

daqueles em desenvolvimento, como o Brasil, se configurando como uma atividade

de considerável importância econômica para o país (Tabela 4). No entanto, pouco se

conhece sobre a configuração do Agronegócio Cavalo, particularmente, a sua

contribuição na geração de renda, a contribuição dos seus diversos segmentos e o

número gerado de postos de trabalho (Tabela 5). Mais grave, muitas vezes, a

imagem do setor é distorcida e carregada de preconceitos. Para muitos, a “indústria”

do cavalo está relacionada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade

do brasileiro médio (LIMA et al.2006).

Tabela 4 - Movimentação econômica entre atividades de relevância para o desenvolvimento do país

ATIVIDADE MOVIMENTAÇÃO ECONÔMICA (R$)

EMPREGOS DIRETOS

Complexo Cavalo 7,5 bilhões 642.520

Comércio Atacadista - 633.000

Correios - 105.300

Ind. Automotiva 39,6 bilhões 101.989

Aviação Civil 8,9 bilhões 30.000

EMBRAER 4,4 bilhões 16.500

Fonte: Adaptado de Medeiros (2008).

Page 79: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

78

Tabela 5 - Resumo das contribuições dos diversos segmentos do Complexo Agronegócio Cavalo no Brasil

nc = não calculado.

Fonte: Lima et al. (2006).

Page 80: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

79

3.2.3. O MERCADO DA REPRODUÇÃO EQÜINA

Atualmente muitos criatórios brasileiros de eqüinos estão aderindo a utilização

de biotecnologias na reprodução animal, pois o mercado eqüino trabalha cada vez

mais com animais de alto valor genético, principalmente os criatórios que não têm o

eqüino apenas como fonte de trabalho. Assim é evidente a crescente demanda por

serviços técnicos especializados na área reprodutiva, embora existam algumas

limitações que dificultam uma busca maciça de tais serviços.

Das limitações encontradas, a que está diretamente ligada aos interesses dos

criadores é o custo da tecnologia, pois a depender do método reprodutivo

empregado, pode-se ter um maior ou menor custo. A exemplo disso tem-se a

transferência de embriões, que demanda além da exigência de um técnico

especializado, de uma boa infra-estrutura do local onde os animais serão manejados

(JACOB, 2007), bem como exige cuidados especiais quanto ao manejo, nutrição,

sanidade, instalações e muitas vezes, visando um maior controle e homogeneização

dos resultados, é necessário a utilização de alguns medicamentos, principalmente

para o controle hormonal.

Segundo Gomes et al. (2009) o uso das técnicas de transferência de

embriões (TE) em eqüinos tem crescido muito nos últimos anos, sendo os Estados

Unidos, o Brasil e a Argentina os países que mais realizam a técnica no mundo.

Em Pernambuco, segundo Manso Filho et al. (2008) dentre os criadores e

expositores entrevistados durante a 66ª Exposição Nordestina de Animais e

Produtos Derivados, o número de criatórios que trabalham com a aplicação de um

manejo reprodutivo mais tecnificado é de aproximadamente 21,74%, utilizando em

seus criatórios práticas de inseminação artificial (IA) e transferência de embriões

(TE). Obteve-se ainda que, no que se refere as montas, aproximadamente 56% dos

criatórios utilizam a monta natural e 55% utilizam a monta em período de estação de

monta definida. Dos entrevistados, aproximadamente 87% fazem escrituração

zootécnica como forma de manter um registro dos acontecimentos e ocorrências nas

suas criações, permitindo um maior controle da propriedade, e se necessário, a

tomada de decisões de forma precisa.

No Brasil, de acordo com Lima et al. (2006) o rendimento anual de um médico

veterinário é de cerca de R$ 40.000,00. Considerando apenas os profissionais direta

e independentemente dedicados ao cavalo, estima-se que existem 500 médicos

Page 81: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

80

veterinários em atividade no País, os quais atuam prioritariamente no segmento da

medicina. Estes, ao exercerem a clínica com eqüinos, geram R$ 20 milhões para o

Agronegócio Cavalo.

Os segmentos de medicamentos veterinários e de rações movimentam juntos

R$ 107,5 milhões, apresentando um grande potencial de crescimento, pois se

estima que apenas 360 mil animais consomem ração industrializada e 250 mil

animais utilizam medicamentos veterinários. Além disso, muitos produtos

veterinários utilizados em eqüinos são registrados também para bovinos,

acarretando um subdimensionamento dos números (GUERRA E MEDEIROS, 2007).

O Brasil é o terceiro maior mercado de produtos veterinários, atrás apenas de

Estados Unidos e Japão (LIMA et al., 2006). Embora o mercado brasileiro tenha

apresentado um significativo crescimento nominal no período entre 1997 e 2004,

quando as vendas mais que dobraram, de R$ 923.629.719 para R$ 2.058.202.871,

em termos reais, o mercado não tem crescido. Pois de acordo com a evolução dos

valores quando convertidos em dólares, uma vez que os insumos e produtos

veterinários eqüinos são importados e comercializados em dólares, percebe-se que

nesse período houve uma queda média de 2,3% a.a., o que implica em um menor

investimento na aplicação de biotécnicas reprodutivas (por utilizarem medicamentos

veterinários – hormônios), atingindo um volume de faturamento equivalente a US$

706.522.679 em 2004 (Figura 13).

Figura 13 - Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos veterinários, 1997 a 2004, em milhões de reais e em milhões de dólares.

Fonte: SINDAN (2005) citado por Lima et al. (2006).

Page 82: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

81

3.3 MATERIAL E MÉTODOS

A análise econômica e de controle dos animais foi desenvolvida durante o

período do Estágio Supervisionado Obrigatório (04 de janeiro a 28 de fevereiro de

2010), na clínica de reprodução: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã),

localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE. Os dados econômico-financeiro e de

controle dos animais analisados eram pertencentes a clínica, e datavam de maio de

2007 a dezembro de 2009, sendo esse o período de implantação e início da venda

dos serviços de reprodução eqüina na fazenda Canaã, instituindo a clínica de

reprodução: Ilana Reprodução Eqüina, sob responsabilidade da médica veterinária

Drª Ilana da Oliveira Batista.

A fazenda Canaã, local onde funciona a clínica de reprodução, é arrendada,

tendo suas estruturas físicas usadas para os serviços da clínica, como para a

moradia dos arrendatários.

O controle administrativo da clínica é todo feito pela responsável, por meio

das anotações referentes a dados reprodutivos, feitas em agendas, onde constavam

os custos de produção, como: insumos, mão-de-obra dos funcionários,

medicamentos veterinários, aluguel da fazenda, etc., e do número de animais

pagantes locados na clínica durante o mês em estudo. Esses dados foram utilizados

para as análises econômico–financeiras da clínica.

Para o desenvolvimento desse trabalho, as análises econômico-financeiras

foram divididas em duas etapas: Análise I, baseada no índice de avaliação do fluxo

de caixa (análise vertical, análise horizontal e índice de lucratividade); Análise II,

baseada nos resultados financeiros (margem bruta, margem líquida e lucro).

Análise I – A análise vertical foi calculada conforme descrito por Correia Neto

(2009), e utilizou-se, para obtenção dos dados de receita bruta, o número de éguas

locadas na clínica, distinguindo-as em categorias (doadoras e receptoras), por

serem cobrados valores de hospedagem diferenciados para as categorias, sendo

um salário mínimo para as doadoras e meio salário mínimo para as receptoras.

Dessa forma, obteve-se a receita bruta através da seguinte equação:

(número de doadoras x salário mínimo x meses de permanência no ano) + (número

de receptoras x ½ salário mínimo x meses de permanência no ano)

Page 83: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

82

Durante os períodos analisados (2007, 2008 e 2009), verificou-se a presença

de animais não pagantes hospedados na clínica, sendo esses contabilizados como

abatimentos/descontos e subtraídos do valor da receita bruta, considerado a

categoria animal e o valor da referente ao tempo de hospedagem.

Os custos de produção com alimentação, mineralização, vermifugação,

medicamentos veterinários (utilizados para a reprodução), cama para as baias,

nitrogênio líquido (para a manutenção de sêmen congelado), combustível para as

máquinas e aluguel referente ao arrendamento da propriedade, foram calculados de

acordo com as anotações de custos, obtidos com a proprietária da clínica.

Os custos atribuídos a mão-de-obra foram obtidos através do valor do salário

mínimo no período em questão, acrescido dos encargos sociais e financeiros,

multiplicado pelo número de funcionário e período de trabalho (número de meses do

período). A clínica apresentava dois tipos de funcionários, os peões e o gerente,

sendo o salário do peão igual a um salário mínimo e do gerente igual a dois salários

mínimos. Para os encargos incidentes sobre a mão-de-obra, consideraram-se os

seguintes valores mensais: Provisão de férias - 11,11% am, Provisão de 13º salário -

8,33% am, FGTS - 8% am e INSS - 12% am.

A mão-de-obra médica veterinária da clínica era a da proprietária, sendo que

a quantidade de horas dedicadas ao trabalho na clínica ocorria de acordo com a

necessidade dos animais, sendo, portanto, considerado uma carga horária semanal

média de 25 horas. De acordo com esse parâmetro, calculou-se o valor médio do

custo da mão-de-obra da proprietária da clínica, adotando-se o salário do médico

veterinário equivalente a quatro salários mínimos por uma carga horária semanal de

40 horas.

As depreciações das máquinas e equipamentos da clínica foram calculadas,

considerando a duração do bem conforme descrito por Marion (2007), pelo método

da soma dos números naturais através da seguinte equação:

d.a. = t.d. (Vi-Vf)

Onde:

t.d. é a taxa de depreciação calculada em função do número de anos de

duração do bem a partir do ano em que a depreciação está sendo

calculada;

Page 84: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

83

S é a relação entre o tempo de duração e o ano base do cálculo da

depreciação.

Assim,

T.d. = número de anos de duração que o bem ainda terá S

S = T (T+1) 2

Por as anotações não detalharem os custos em fixos e variáveis de maneira

coerente com as práticas administrativas recomendadas por Vasconcellos e Garcia

(2004), em muitos meses não há registro de alguns dados como o custo de

manutenção das máquinas e dos equipamentos e custos de água, energia, etc.

Assim, para a obtenção desses custos, considerou-se uma taxa de 5% (cinco por

cento) do valor inicial das máquinas e equipamentos utilizados na clínica (Ver

Apêndice B), referentes ao custo de manutenção de máquinas e equipamentos e

15% (quinze por cento) do custo de produção, referente aos custos com água, luz e

demais despesas.

Os custos de oportunidade das máquinas e equipamentos foram calculados

pela a seguinte equação:

J = Vi + Vf x i

2

Onde:

J = Custo de oportunidade anual referente aos juros

Vi = Valor inicial

Vf = Valor final

i = Taxa de juro alternativo

Para a taxa de juro alternativo, no cálculo do custo de oportunidade, adotou-

se 0,55%.

Após análise vertical, fez-se a análise horizontal, conforme preconizado por

Correia Neto (2009), a fim de avaliar a evolução temporal da atividade (clínica de

reprodução), seguido pelo cálculo do índice de lucratividade (IL), para o qual,

considerou-se no ano 0 (zero) um fluxo de caixa livre descontado igual ao valor

Page 85: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

84

negativo da aquisição das máquinas e equipamentos, os quais foram adquiridos

antes do início da atividade, bem como uma taxa de juros igual a 12% ao ano. Para

o cálculo IL foi utilizada a seguinte equação (CORREIA NETO, 2009):

IL = Σ VP (FC POSITIVOS)

IΣ VP (FC NEGATIVOS)I

Onde: VP (FC POSITIVOS) - são os valores presentes dos fluxos de caixa

positivos;

VP (FC NEGATIVOS) - são os valores presentes dos fluxos de caixa

negativo, em módulo.

Análise II – A margem bruta, margem líquida e lucro foram calculados

conforme descrito por Brom e Balian (2007), utilizando-se as respectivas equações:

Margem Bruta = Renda Bruta - Custo Operacional Efetivo

Margem Líquida = Renda Bruta - Custo Operacional Total

Lucro = Renda Bruta - Custo Total

Sendo o Custo Operacional Efetivo (COE) composto pelo somatório dos

custos de alimentação, mineralização, vermifugação, medicamentos veterinários,

cama para as baias, nitrogênio líquido, combustível para as máquinas, aluguel da

propriedade, mão-de-obra (peões e gerente), manutenção de máquinas e

equipamentos e custos com água e energia.

O Custo Operacional Total (COT) é o COE mais os custos com a mão-de-

obra familiar (médica veterinária) e os custos de depreciação das máquinas e

equipamentos.

O Custo Total (CT) é o COT mais a remuneração (juros) sobre o capital

circulante e sobre o capital empatado (custo de oportunidade).

Todos os dados obtidos foram tabulados no programa computacional

Microsoft Office Excel 2007, sendo analisados com o auxílio das ferramentas

financeiras e estatísticas do mesmo, para os dados econômico-financeiros e de

controle dos animais, respectivamente.

Page 86: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

85

3.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o primeiro ano de funcionamento da clínica, observa-se que os

maiores custos foram com a alimentação dos animais, mão-de-obra e máquinas e

equipamentos (Tabela 6), o que ocorre devido a atividade estar no início, o que

demanda um maior investimento face ao lucro esperado, sendo esperado que esse

seja revertido nos anos subsequentes. O fluxo de caixa líquido da empresa se

apresentou bastante promissor para o porte da empresa (Tabela 6), uma vez que

essa ainda está se inserindo no mercado, demonstrando uma boa perspectiva

econômico-financeira para a clínica nos anos subsequentes.

Tabela 6 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no primeiro ano de funcionamento

VALOR(R$) AV (%)

RECEITA BRUTA 80.370,00 100

(-) Abatimentos/descontos 3.420,00 4,26

(=) RECEITA LÍQUIDA 76.950,00 95,74

(-) Custo de Produção:

Custo Operacional Efetivo - COE:

Alimentação (Capineira + Feno) 7.848,00 9,76

Alimentação (Concentrado) 3.753,95 4,67

Sal mineral 699,00 0,87

Vermífugos 728,00 0,91

Medicamentos veterinários (reprodução) 2.267,62 2,82

Cama para as baias 992,60 1,24

Nitrogênio 127,00 0,16

Gasolina para máquinas 52,00 0,06

Mão-de-obra (gerente) 0,00 0,00

Mão-de-obra (peões) 8.477,95 10,55

Aluguel da fazenda 6.000,00 7,47

Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 3,19

Água, Luz e demais despesas 7.974,27 9,92

TOTAL DO COE 41.481,30 51,61

Page 87: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

86

Custo Operacional Total - COT:

Custo Operacional Efetivo 41.481,30 51,61

Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 7.600,00 9,46

Depreciação - Roçadeira 373,40 0,46

- Carroça + arreios 308,75 0,38

- Carroça de mão 49,50 0,06

- Forrageira 140 0,17

- Motor forrageira 177,33 0,22

- Motor bomba 86,67 0,11

- Botijão de nitrogênio 420 0,52

- Brete de contenção 304 0,38

- Lupa 107,8 0,13

- Aparelho de ultra-sonografia 9.475,00 11,79

- Autoclave 363,67 0,45

- Estufa 107,83 0,13

TOTAL DO COT 60.995,25 75,89

Custo Total - CT:

Custo Operacional Total 60.995,25 75,89

Custo de oportunidade - Roçadeira 5,13 0,006

- Carroça + arreios 3,40 0,004

- Carroça de mão 0,54 0,001

- Forrageira 2,89 0,004

- Motor forrageira 3,66 0,005

- Motor bomba 1,79 0,002

- Botijão de nitrogênio 5,78 0,007

- Brete de contenção 4,18 0,005

- Lupa 1,48 0,002

- Aparelho de ultra-sonografia 104,23 0,130

- Autoclave 6,00 0,007

- Estufa 1,78 0,002

TOTAL DO CT 61.136,09 76,07

(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO 15.813,91 19,68

(+) Depreciação 11.913,95 14,82

(+) Custo de Oportunidade 140,85 0,18

(=) Fluxo de caixa líquido 27.868,70 34,68

Fonte: Silva (2010).

Quando observado o segundo ano de funcionamento da empresa em relação

ao primeiro, percebe-se que houve um aumento de 68,38% no fluxo de caixa líquido

(Tabela 7), o que se explica pelo fim da fase de investimento inicial e início do

retorno econômico-financeiro da atividade. Porém, devido ao maior número de

animais alojados nesse período (Ver Apêndice B), pode-se afirmar que a clínica

Page 88: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

87

apresentava uma capacidade potencial de movimentação financeira bem maior que

a observada.

Segundo Brom e Balian (2007) um fator que pode levar a esse sub-

aproveitamento do potencial produtivo de uma empresa é a falta de controle das

atividades, bem como a falta de planejamento dessas para os períodos seguintes.

Tabela 7 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no segundo ano de funcionamento

VALOR(R$) AV (%)

RECEITA BRUTA 188.900,00 100

(-) Abatimentos/descontos 10.375,00 5,49

(=) RECEITA LÍQUIDA 178.525,00 94,51

(-) Custo de Produção:

Custo Operacional Efetivo - COE:

Alimentação (Capineira + Feno) 20.257,30 10,72

Alimentação (Concentrado) 23.264,13 12,32

Sal mineral 1.294,72 0,69

Vermífugos 1.930,37 1,02

Medicamentos veterinários (reprodução) 4.550,55 2,41

Cama para as baias 2.773,00 1,47

Nitrogênio 449,00 0,24

Gasolina para máquinas 277,00 0,15

Mão-de-obra (gerente) 13.693,01 7,25

Mão-de-obra (peões) 20.539,51 10,87

Aluguel da fazenda 9.000,00 4,76

Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 1,36

Água, Luz e demais despesas 18.559,93 9,83

TOTAL DO COE 119.149,42 63,08

Custo Operacional Total - COT:

Custo Operacional Efetivo 119.149,42 63,08

Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 12.450,00 6,59

Depreciação - Roçadeira 331,91 0,18

- Carroça + arreios 264,64 0,14

- Carroça de mão 42,43 0,02

- Forrageira 130,00 0,07

- Motor forrageira 164,67 0,09

- Motor bomba 80,48 0,04

- Botijão de nitrogênio 373,33 0,20

- Brete de contenção 270,22 0,14

- Lupa 95,82 0,05

- Aparelho de ultra-sonografia 8.121,43 4,30

- Autoclave 330,61 0,18

- Estufa 98,03 0,05

TOTAL DO COT 141.902,98 75,12

Page 89: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

88

Custo Total - CT:

Custo Operacional Total 141.902,98 75,12

Custo de oportunidade - Roçadeira 14,38 0,008

- Carroça + arreios 9,34 0,005

- Carroça de mão 1,50 0,001

- Forrageira 8,28 0,004

- Motor forrageira 10,48 0,006

- Motor bomba 5,12 0,003

- Botijão de nitrogênio 16,17 0,009

- Brete de contenção 11,70 0,006

- Lupa 4,15 0,002

- Aparelho de ultra-sonografia 286,62 0,152

- Autoclave 17,00 0,009

- Estufa 5,04 0,003

TOTAL DO CT 142.292,77 75,33

(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO 36.232,23 19,18

(+) Depreciação 10.303,57 5,45

(+) Custo de Oportunidade 389,79 0,21

(=) Fluxo de caixa líquido 46.925,58 24,84

Fonte: Silva (2010).

Dentre as máquinas e equipamentos utilizados para os serviços na clínica, o

que mais onerou os custos de produção foi o aparelho de ultra-sonografia, por ser

um equipamento importado de ultima geração, exigindo, portanto, um alto valor de

manutenção e apresentando grande depreciação, quando comparado aos demais

(Tabela 7).

Observou-se, no terceiro período da atividade, que houve uma grande queda

no fluxo de caixa líquido da empresa, passando de R$ 46.925,58, no segundo

período, para R$ -7.563,33no terceiro período (Tabela 8), mesmo com a clínica já

sendo reconhecida no setor da reprodução eqüina a âmbito regional. Tal

acontecimento ocorreu devido inexistência de um controle administrativo adequado,

não havendo um planejamento das atividades da clínica para os anos seguintes, de

forma a encontrar alternativas para diminuir os custos mais representativos, que no

período em questão (terceiro ano) foram os custos com mão-de-obra e alimentação,

respondendo juntos por 64,53% dos custos totais da atividade.

A falta de um rigoroso processo de administração compreendendo as etapas

de planejamento, organização, controle e direção da atividade de uma empresa é a

principal causa do insucesso, uma vez que o maior desafio de uma empresa é

trabalhar com base em ocorrências futuras (BROM E BALIAN, 2007), assim, toda

Page 90: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

89

empresa deve analisar os seus atuais dados econômico-financeiros e com base

neles adotar medidas que visem aprimorar os processos produtivos da atividade.

Tabela 8 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no terceiro ano de funcionamento

VALOR(R$) AV (%)

RECEITA BRUTA 143.972,50 100

(-) Abatimentos/descontos 14.415,00 10,01

(=) RECEITA LÍQUIDA 129.557,50 89,99

(-) Custo de Produção:

Custo Operacional Efetivo - COE:

Alimentação (Capineira + Feno) 9.359,00 6,50

Alimentação (Concentrado) 23.779,67 16,52

Sal mineral 1.013,10 0,70

Vermífugos 1.481,94 1,03

Medicamentos veterinários (reprodução) 4.867,53 3,38

Cama para as baias 1.520,00 1,06

Nitrogênio 0,00 0,00

Gasolina para máquinas 333,00 0,23

Mão-de-obra (gerente) 15.282,62 10,61

Mão-de-obra (peões) 30.565,25 21,23

Aluguel da fazenda 12.000,00 8,33

Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 1,78

Água, Luz e demais despesas 19.057,82 13,24

TOTAL DO COE 121.820,83 84,61

Custo Operacional Total - COT:

Custo Operacional Efetivo 121.820,83 84,61

Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 15.300,00 10,63

Depreciação - Roçadeira 290,42 0,20

- Carroça + arreios 220,54 0,15

- Carroça de mão 35,36 0,02

- Forrageira 120,00 0,08

- Motor forrageira 152,00 0,11

- Motor bomba 74,29 0,05

- Botijão de nitrogênio 326,67 0,23

- Brete de contenção 236,44 0,16

- Lupa 83,84 0,06

- Aparelho de ultra-sonografia 6.767,86 4,70

- Autoclave 297,55 0,21

- Estufa 88,23 0,06

TOTAL DO COT 145.814,02 101,28

Page 91: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

90

Custo Total - CT:

Custo Operacional Total 145.814,02 101,28

Custo de oportunidade - Roçadeira 11,41 0,008

- Carroça + arreios 6,91 0,005

- Carroça de mão 1,11 0,001

- Forrageira 7,15 0,005

- Motor forrageira 9,06 0,006

- Motor bomba 4,43 0,003

- Botijão de nitrogênio 12,83 0,009

- Brete de contenção 9,29 0,006

- Lupa 3,29 0,002

- Aparelho de ultra-sonografia 212,17 0,147

- Autoclave 14,09 0,010

- Estufa 4,18 0,003

TOTAL DO CT 146.109,94 101,48

(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO -16.552,44 -11,50

(+) Depreciação 8.693,19 6,04

(+) Custo de Oportunidade 295,92 0,21

(=) Fluxo de caixa líquido -7.563,33 -5,25

Fonte: Silva (2010).

Analisando-se a tabela de avaliação horizontal, percebe-se que do início da

atividade ao segundo ano houve um aumento de 68,38% na variação acumulada,

bem como na variação periódica do fluxo de caixa da empresa (Tabela 9),

demonstrando um aumento na movimentação financeira da empresa, porém,

quando analisado a variação acumulada e a variação periódica para o terceiro ano,

nota-se que houve um decréscimo de -27,14% e -16,12%, respectivamente. Isso se

deve, possivelmente, ao fato já comentado, da falta de um melhor controle e

planejamento da atividade.

Tabela 9 – Análise horizontal da clínica de reprodução eqüina durante os períodos avaliados

PERÍODO (ANO) 1 2 3 (=) Fluxo de Caixa Líquido (R$) 27.868,70 46.925,58 -7.563,33 VARIAÇÃO ACUMULADA 100,00 168,38 -27,14 VARIAÇÃO PERIÓDICA 100,00 168,38 -16,12

Fonte: Silva (2010).

A pesar do brusco decréscimo na variação acumulada e na variação periódica

entre o segundo e o terceiro período, conforme observado na tabela da análise

horizontal (Tabela 9), o índice de lucratividade (IL) da empresa foi positivo para os

Page 92: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

91

três anos de funcionamento, sendo igual a 1,10, o que demonstra que a atividade

gerou lucro. Porém, se a empresa continuar a atividade sem a implementação de um

controle administrativo, passará a correr o risco de tomar prejuízos econômico-

financeiros no próximo ano da atividade (2010).

Com a aplicação da análise II desse estudo, observou-se que a todos os

períodos da atividade apresentaram uma margem bruta positiva (Tabela 10),

comportando similarmente aos valores encontrados na análise horizontal, onde

houve, entre os períodos, um acréscimo seguido de um decréscimo.

Tabela 10 - Indicadores de resultados econômico-financeiros dos custos de produção por período analisado

PERÍODO (ANO) 1 2 3

Margem Bruta 35.468,70 59.375,58 7.736,67 Margem Líquida 15.954,75 36.622,02 -16.256,52

Lucro 15.813,91 36.232,23 -16.552,44

Fonte: Silva (2010).

De acordo com a análise da margem bruta, o empreendimento é viável,

porém, tem-se que analisar conjuntamente os dados financeiros para que se

obtenham respostas mais confiáveis e precisas. Assim, ao observar a margem

líquida, percebe-se que os dois primeiros anos apresentaram valores positivos,

demonstrando um desempenho viável da atividade nesses, porém no terceiro ano a

margem líquida apresenta valores negativos (Tabela 10), indicando que o

proprietário deve tomar algumas decisões, a fim de evitar que a margem líquida

continue negativa nos anos seguintes, evitando assim o empobrecimento da

empresa ao longo dos anos de funcionamento. Uma margem líquida negativa em

períodos negativos gera o que denomina empobrecimento, pelo fato de ocasionar

real perda de valor monetário implícito em custos não contabilizados pela maior

parte das pequenas empresas rurais, que são depreciação de máquinas e

equipamentos e mão-de-obra famílias. Este último merece destaque por evidenciar

também a existência da fusão do binômio “pessoa física – pessoa jurídica”, ou seja,

quando não se separam adequadamente o que corresponde à pessoa física,

proprietária, e o que corresponde à pessoa jurídica, a empresa. Há, portanto, uma

evidência de que a gestão deste empreendimento adota tais procedimentos.

Quando se observa o histórico do lucro durante os três anos de

funcionamento da empresa, nota-se um comportamento similar ao comportamento

Page 93: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

92

da margem líquida, porém Isso acontece quando a margem líquida não consegue

cobrir a remuneração do capital. Dessa forma, não se deve abandonar a atividade,

apesar da perpetuação do lucro negativo tornar a atividade não-atrativa. Deve-se, no

entanto, buscar alternativas para positivar a margem líquida, o que

consequentemente irá positivar o lucro da empresa. Muitos proprietários, no entanto,

acabam por desistir da atividade em função da análise deste resultado em questão,

passando a considerar investir em atividades que a princípio pareçam ser mais

atrativas. O que precisa ficar claro, no entanto, é que, toda a atividade escolhida

deverá sempre levar em consideração a remuneração do capital investido como um

custo da atividade, que deve sim, ser trabalhado e minimizado através do melhor

desempenho mercadológico e redução de custos produtivos.

Page 94: MONOGRAFIA - Mábio Silvan

93

3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O segmento da reprodução eqüina se encontra em franca expansão em

nosso país, porém, para a implantação de clínicas de reprodução eqüina que

trabalham com regime de hospedagem, bem como outros tipos de empresas, deve-

se atentar às ferramentas administrativas como parâmetro de avaliação e

direcionamento da atividade.

A clínica de reprodução eqüina: Ilana Reprodução Eqüina não dispõe de uma

administração criteriosa, e devido a isso, observou-se que a empresa se impôs no

segmento da reprodução nos momentos iniciais de sua existência, se tornando

reconhecida a âmbito regional, conseguindo resultados econômico-financeiros

satisfatórios nos dois primeiros anos de funcionamento, porém, no terceiro ano, a

clínica apresentou uma redução no seu fluxo de caixa, bem como, demonstrou

redução do lucro, demonstrando a fragilidade administrativa. O que certamente

minimiza este impacto são fatores ligados à elasticidade demanda x oferta da

atividade na região, que é baixa.

Para obtenção de resultados econômico-financeiros positivos e crescentes

dentro de uma empresa é necessário planejamento, organização, direção e controle

da atividade desenvolvida, pois o uso dessas ferramentas permite a identificação do

problema em um determinado período e a sua solução para os períodos seguintes,

evitando resultados inesperados e/ou falência da empresa. É importante também a

adoção de anotações de custos extremamente rigorosas, que em conjunto com

escriturações zootécnicas vão sempre possibilitar planejamentos mais arrojados e

promissores para anos seguintes.

Apesar dos resultados obtidos com a análise econômica da clínica, percebe-

se a grande importância do segmento da reprodução eqüina, salientando, porém, a

necessidade de um rigoroso controle, tanto dos animais como do fluxo de caixa da

empresa, a fim de permitir uma análise minuciosa dos dados administrativos e

financeiros.

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3.6. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, M. J. Fundamentos de Agronegócios. 2ª ed. 2ª reimpr. São Paulo: Atlas,

2007.

BROM, L. G.; BALIAN, J. E. A. Análise de Investimentos e Capital de Giro: Conceitos e Aplicações. São Paulo: Saraiva, 2007.

CORREIA NETO, J. F. Elaboração e Avaliação de Projetos de Investimento: Considerando o Risco. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

GARVIN, D. The Processes of Organization and Management. Sloan Management Review, v. 39, n. 4, Summer 1998.

GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. Gestão Agroindustrial/ coordenador Mário Otávio Batalha. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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MEDEIROS, S. O Panorama da Eqüideocultura no Brasil. CNA/ENIPEC. Cuiabá – MT, 2008.

VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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APÊNDICE A

Planilha de Acompanhamento Animal

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Animal:_________________; Raça:__________________; Peso estimado:___________; Idade aproximada_________________

Horário EVENTOS OBSERVADOS

MIC DEF O ALI H2O CAM DP DD DDT VIC OBS

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07:40 – 07:50

07:50 – 08:00

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APÊNDICE B

Custos em uma Clínica de Reprodução Eqüina

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Custos

Custos operacionais para o funcionamento da clínica:

Alimentação animal (capineira + feno)

Alimentação animal (concentrado)

Sal mineral

Vermífugos

Medicamentos veterinários (reprodução)

Cama para as baias

Nitrogênio

Gasolina para máquinas

Mão-de-obra veterinária (25h/semana)

Custos fixos (Mês):

Aluguel = 1.000,00

4 Funcionários = 4 salário mínimo

1 Gerente = 2 salários mínimos

Encargos sociais e financeiros (incidente sobre o valor dos salários)

• Provisão de férias: 11,11% am

• Provisão de 13 salário: 8,33% am

• FGTS: 8% am

• INSS: 12% am

Máquinas e equipamentos:

1 Roçadeira Stihl (a gasolina) __________ R$ 1.867,00

2 Carroças de mão _______ 99,00 cada = R$ 198,00

1 Carroça com arreios _________________ R$ 1.235,00

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1 Forrageira _________________________ R$ 1.050,00

1 Motor forrageira _____________________ R$ 1.330,00

1 Motor bomba _______________________ R$ 650,00

1 Botijão de nitrogênio _________________ R$ 2.100,00

1 Brete de contenção __________________ R$ 1.520,00

1 Lupa ______________________________ R$ 539,00

1 Aprelho de ultra-sonografia ____________ R$ 37.900,00

1 Autoclave __________________________ R$ 2.182,00

1 Estufa _____________________________ R$ 647,00

Área média das instalações e quantidade de terra ocupada pela atividade:

Instalações = 4.560 m2

Área da atividade = 550.000 m2

Média de animais hospedados:

2007 (Abr – Set) = 9 doadoras e 5 receptoras = 14 animais

2007-2008 (Out – Mar) = 28 doadoras e 45 receptoras = 73 animais

2008 (Abr – Set) = 16 doadoras e 27 receptoras = 43 animais

2008 - 2009 (Out – Mar) = 22 doadoras e 30 receptoras = 52 animais

2009 (Abr – Set) = 5 doadoras e 28 receptoras = 33 animais

2009 (Out – Dez) = 9 doadoras e 24 receptoras = 33 animais

Receitas

1 salário mínimo por doadora hospedada

½ salário mínimo por receptora hospedada