monografia paulo pedagogia 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO: O que espera o aluno da EJA

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Pedagogia 2011

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Page 1: Monografia Paulo pedagogia 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIADEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA

RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA

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Senhor do Bonfim2011

PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA

RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA

Monografia apresentada como requisito parcial

para conclusão do curso de Licenciatura em

Pedagogia, Habilitação em Docência e Gestão

de Processos Educativos, pelo Departamento

de Educação – Campus VII, da Universidade

do Estado da Bahia.

Orientadora: Profª. Beatriz de Souza Barros.

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3

Senhor do Bonfim2011

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4

PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA

RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA

Aprovada em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

_______________________ _________________________

Prof. (a) Avaliador (a) Prof. (a) Avaliador (a)

____________________________________

Prof. (a) Orientador (a)

Page 5: Monografia Paulo pedagogia 2011

5

Dedico este trabalho a todos da minha família.

Page 6: Monografia Paulo pedagogia 2011

6

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força que motiva o meu caminhar;

Aos meus familiares, pelo apoio constante;

Aos professores, aos colegas;

Ao meu amigo José Augusto pelo suporte dado durante o decorrer deste trabalho;

A orientadora Beatriz de Souza Barros que colaborou muito para com a realização

deste trabalho;

Aos companheiros da turma, principalmente Jaine Moura e Rita Raimunda que tanto

me ajudaram nos momentos de desânimo;

A todos os professores, funcionários e colegas da Universidade do Estado da Bahia

– UNEB Campus VII, Senhor do Bonfim-BA.

Page 7: Monografia Paulo pedagogia 2011

7

“Há possibilidades para diferentes amanhãs. A luta não se reduz a retardar o que virá ou a assegurar a sua chegada; é preciso reinventar o mundo.”

Paulo Freire

Page 8: Monografia Paulo pedagogia 2011

8

RESUMO

Este estudo sintetiza os principais resultados de uma pesquisa realizada no Colégio Estadual Teixeira de Freitas em 2010, e tem por objetivo identificar quais as expectativas que os alunos trabalhadores da EJA tem em relação à escola, se atende às suas necessidades e se contribui significativamente para uma melhoria na qualidade de vida desses alunos. Para a realização deste trabalho utilizamos alguns conceitos – chave que nortearam esta pesquisa: Educação de jovens e adultos, Aluno-trabalhador e Escola. Os dados foram recolhidos de uma amostra representativa com 15 alunos da EJA, compreendidos entre 17 e 56 anos de idade. A metodologia foi desenvolvida numa abordagem qualitativa, seguida de entrevista semi-estruturada e um questionário fechado, que permitiu fazer um levantamento do diagnóstico do perfil da amostra coletada. Esta pesquisa serve como sinalizador e estímulo para que educadores e governo reflitam sobre estas questões, no sentido de rever a concretização dos seus objetivos educacionais e rever o papel da escola, direcionando-os para o efetivo atendimento a esses alunos que em sua maioria são trabalhadores.

Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Aluno-trabalhador e Escola.

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LISTA DE ABREVIATURAS

EJA – Educação de Jovens e Adultos.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases.

PNE – Plano Nacional de Educação.

MEC – Ministério da Educação e Cultura.

ONU – Organização das Nações Unidas.

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.

PNLD – Programa Nacional do Livro Didático.

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------11

CAPÍTULO I --------------------------------------------------------------------------------------13

PROBLEMÁTICA ----------------------------------------------------------------------------------- 13

CAPÍTULO II ------------------------------------------------------------------------------------ 17

FUNDAMENTAÇAÕ TEÓRICA ----------------------------------------------------------------- 17

2.1 EJA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS- ---------------------------------- 17

2.2 ALUNO TRABALHADOR -------------------------------------------------------------- 21

2.3 ESCOLA------------------------------------------------------------------------------------- 24

CAPÍTULO III ----------------------------------------------------------------------------------- 26

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ----------------------------------------------------- 26

3.1 TIPO DE PESQUISA---------------------------------------------------------------------- 26

3.2 LOCUS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------------- 27

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------- 28

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS---------------------------------------- 28

3.4.1 Questionário Fechado ------------------------------------------------------------------28

3.4.2. Entrevista Semi-estruturada -------------------------------------------------------- 29

CAPÍTULO IV ----------------------------------------------------------------------------------- 31

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ------------------------------------------- 31

Page 11: Monografia Paulo pedagogia 2011

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4.1 O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA------------------------------------------31

4.1.1Quanto ao gênero e faixa etária------------------------------------------------------- 31

4.1.2 Idade de ingresso na escola noturna--------------------------------------------------324.1.3 Idade de ingresso no mercado de trabalho------------------------------------------32

4.1.4 Renda familiar-------------------------------------------------------------------------------32

4.1.5 Situação enquanto trabalhador, funcional e carga horária de trabalho

durante o final de semana---------------------------------------------------------------33

4.1.6 Freqüência e assiduidade na escola -------------------------------------------------33

4.1.7 Motivo de faltar às aulas------------------------------------------------------------------34

4.1.8 Reprovação-------------------------------------------------------------------------------- 34

4.2 CONHECENDO AS EXPECTATIVAS DO ALUNO TRABALHADOR QUANTO

A ESCOLA------------------------------------------------------------------------------------------35

4.2.1 Relação escola X Vida pessoal e profissional --------------------------------------35

4.2.2 Escola e ascensão profissional---------------------------------------------------------36

4.2.3 A escola como espaço difícil de ser freqüentado-----------------------------------37

4.2.4 A escola como ambiente de formação e informação-----------------------------38

CONFIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------- 40

REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------ 43

APÊNDICES -------------------------------------------------------------------------------------------46

INTRODUÇÃO

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Este trabalho monográfico intitula-se Relação Escola X Trabalho: O que

espera o aluno da EJA (estudo de caso), derivado de um projeto de pesquisa que

teve como sujeitos os Alunos Trabalhadores do Ensino Noturno do Colégio Estadual

Teixeira de Freitas. Foram escolhidos 15 alunos da EJA - Educação de Jovens e

Adultos, de forma aleatória compreendidos com faixa etária entre 17 e 56 anos

durante o ano letivo de 2010.

O objetivo da pesquisa foi identificar Quais as expectativas que os alunos

trabalhadores da EJA têm em relação à escola, se atende as suas necessidades e

se contribui significativamente para uma melhoria na qualidade de vida desse aluno.

Atualmente a educação escolar está sendo bastante discutida, tanto no

próprio meio educativo, quanto no meio social, afinal está na educação uma das

maneiras mais viáveis de “desconstrução” de uma sociedade marcada pela busca

do poder e dominação para a “construção” de uma sociedade mais justa.

Diante da crescente demanda que a educação de jovens e adultos no período

noturno vem apresentando e das necessidades de alternativas para que o mesmo

se desenvolva mais eficazmente, esta pesquisa visa colaborar no sentido de refletir

sobre a problemática do aluno-trabalhador da Educação de Jovens e Adultos no

período noturno, bem como das constantes preocupações acerca do ingresso e

permanência deste no atual mercado de trabalho.

Depois de considerar essas reflexões, o nosso trabalho monográfico é

organizado da seguinte maneira:

No primeiro capítulo será abordada a problemática que é aprofundar o estudo

da situação real do aluno – trabalhador na escola pública de educação de jovens e

adultos, procurando, contribuir para uma melhor compreensão dessa modalidade no

contexto da relação trabalho e educação.

Page 13: Monografia Paulo pedagogia 2011

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No segundo capítulo, apresentamos as palavras-chaves da nossa pesquisa:

Educação de jovens e adultos, aluno-trabalhador e escola. Analisamos os diversos

aspectos a serem abordados nesta reflexão dentro da ótica de teóricos, para melhor

embasar a nossa pesquisa.

O terceiro capítulo trata dos procedimentos metodológicos, mostrando os

caminhos trilhados para o desenvolvimento da pesquisa. Na busca de uma

profundidade maior na análise do problema levantado por este estudo, lançou – se

mão da investigação, através de questionário e entrevista direcionados à alunos da

escola pública da Educação de Jovens e Adultos buscando – se verificar como os

aspectos evidenciados neste trabalho, estão sendo concretizados no dia - a - dia.

O quarto capítulo apresenta reflexões e dados a cerca da realidade do ensino

noturno na Educação de Jovens e Adultos, buscando discutir a idéia dentro e fora da

escola, inclusive, percebendo o papel que esta tem na sociedade, pois não se

compreende um processo de construção da verdadeira cidadania, sem o

correspondente desenvolvimento cultural, educacional, político, econômico e social.

Partindo dos resultados alcançados elaboramos as considerações finais deste

trabalho, apresentando reflexões dos resultados obtidos. A partir desta abordagem

evidenciamos de maneira mais concreta as dificuldades e facilidades que os alunos

trabalhadores pesquisados demonstram com as significações e percepções da

realidade vivida na escola e no trabalho.

Page 14: Monografia Paulo pedagogia 2011

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CAPÍTULO I

PROBLEMÁTICA

A Educação é um processo que está vinculado a uma concepção de

conhecimentos, de saber e de cultura. É papel da educação, em especial a

educação de adultos, oferecer aos educandos uma escola produtiva,

contextualizada, competente e crítica, que dê aos indivíduos as possibilidades de

transformação da realidade em que estão inseridos; uma escola que realmente

atenda as necessidades dos alunos.

Falar em educação no Brasil implica em falar sobre a qualidade de ensino

escolar que está sendo desenvolvido neste espaço formal de educação, bem como

nas modalidades de ensino oferecidas aos alunos que buscam uma educação

específica para suas necessidades.

Uma dessas modalidades é a educação de jovens e adultos que garante o

acesso a escola aos que a ela não tiveram na idade própria. A EJA emerge, pois ,

como uma opção para o problema do analfabetismo e do baixo nível de

escolarização dos adultos. Neste contexto, buscamos no histórico as soluções

apontadas para o problema do aluno adulto carente de escolaridade, pressupondo

que este olhar para o passado possa servir de elemento básico para a compreensão

das medidas atuais, nos indicando que nos aspectos pedagógicos precisamos

entender a fundo a expressão “Educação de Adultos”. Segundo Rocco (1979) a

educação de adultos é:

Um processo de transformação, voltado para indivíduos de 15 anos ou mais. Esta idade é o marco de referencia na separação entre a chamada “idade infantil” da “idade adulta”. Tanto é assim que – seja no plano nacional, estabelecido pela legislação federal do ensino seja no internacional, via recomendações da UNESCO – é precisamente este o momento cronológico tomado como base para a verificação do cumprimento ou não da escolaridade mínima. (ROCCO;1979, P.9).

Page 15: Monografia Paulo pedagogia 2011

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Um dos objetivos da educação de adultos (LDB, 1996) é capacitar os sujeitos

e prepará-los para serem inseridos no contexto da sociedade, e aprimorar as

condições de vida. Esta aprendizagem através da escolarização, também conduz e

prepara esses indivíduos para o exercício de uma atividade profissional, provocando

uma mudança sócio-cultural e econômica em sua vida.

Para atender aos objetivos que a educação de adultos se propõe segundo o

Plano Nacional de Educação (iniciação no ensino de ler, escrever e contar) a escola

necessita estar devidamente preparada em sua estrutura pedagógica, uma vez que

a educação de adultos é complexa em sua essência, pois atende uma parcela da

população que exige cuidados especiais na hora de aprender. Um dos objetivos

segundo o PNE é a elaboração global do nível de escolaridade da população bem

como a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e a

permanência com sucesso na educação pública

Esta complexidade abrange tanto o campo pedagógico como o político-social.

Justamente por isso a busca por respostas é pertinente e aumenta nossa

responsabilidade e compromisso, quando queremos, de fato mudar nossa realidade

enquanto profissionais. Entendemos que este processo é destinado a superar a

carência escolar daqueles que não acompanharam o processo comum de

escolarização e Implica também em aprimoramento ou especialização para esse

adulto, uma vez que o mesmo já traz uma bagagem de conhecimentos.

É importante considerar o aluno trabalhador como sujeito do processo de

ensino-aprendizagem, possibilitando assim a reflexão crítica sobre a realidade,

levando-o a participar de projetos de transformação da sociedade. Compete à

escola, procurar condições viáveis para que o aluno-trabalhador a ela tenha acesso

e permaneça com sucesso, resgatando a auto-estima e a vontade de construir

conhecimento.

Para se falar do aluno-trabalhador, deve-se inicialmente, falar da importância

da educação e da escola em sua vida. Segundo Sacristán e Gómez (2000)

educação é um processo de desenvolvimento do indivíduo a fim de que ele possa

atuar em uma sociedade pronta para a busca da aceitação dos objetivos coletivos.

Page 16: Monografia Paulo pedagogia 2011

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Para isso, a escola deve considerar esse aluno, consciente das suas possibilidades

e limitações, e capaz de compreender a realidade do mundo que o cerca.

O aluno da EJA, esse adulto trabalhador, vive uma realidade diferente dos

outros alunos, ele chega à escola, cansado e muitas vezes mal alimentado o que

vem limitar o seu potencial, pois tem menos tempo ou quase nenhum de se preparar

para as avaliações e fazer as atividades extra-classe. Geralmente ele dorme tarde,

acorda cedo, alimenta-se mal, trabalha mais de oito horas por dia e já chega à

escola em precárias condições físicas e intelectuais. Carvalho (2000) nos diz que:

São muitas as justificativas para o aluno que freqüenta a escola à noite: falta de apoio familiar, necessidade de trabalho para contribuir para o orçamento doméstico, com uma má alimentação, desatenção por parte dos professores quando os alunos não demonstram o perfil idealizado, o aluno do ensino noturno trabalha durante todo o dia e cansado não tem um bom rendimento escolar ou não tem tempo de estudar e acaba abandonando por sua vez a escola. (CARVALHO, 2000; p. 14).

Frente a tantos problemas é um aluno que merece atenção especial por parte

da escola e dos educadores, ressaltando que a mesma tem o dever de discutir o

sentido que o aluno-trabalhador vê na educação, pois os mesmos buscam na escola

além da realização pessoal, a realização profissional, percebendo assim as

oportunidades para o acesso ou a permanência no mercado de trabalho.

A contribuição de Freire (1980) para a educação de jovens e adultos foi

fundamental para trazer reflexão neste processo tão importante para formação

humana, segundo ele “caminhando na direção de uma educação democrática e

libertadora”, comprometida com a realidade social, econômica e cultural dos menos

favorecidos, e a escola como instituição pública, deve cumprir o seu papel de

promotora de desenvolvimento integral dos educandos.

.

Por sua vez a escola precisa conhecer ainda o contexto concreto em que os

alunos estão envolvidos, a realidade que os cerca, para assim poder ajudá-los

melhor, abrir e indicar caminhos e não servir como um obstáculo. O currículo precisa

contemplar a realidade do aluno. É muito comum as escolas trabalharem com EJA

Page 17: Monografia Paulo pedagogia 2011

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através de currículos utilizados no ensino considerado regular. De acordo com

Hernandez (1998):

É possível organizar um currículo escolar não por disciplinas e sim por temas, nos quais os estudantes se sintam envolvidos, aprendam a pesquisar (propor perguntas problemática), procurar fontes de informação que ofereçam possíveis respostas, selecioná-las, ordená-las, interpretá-las e tornar público o processo seguido. (HERNANDEZ, 1998; p. 42).

A idéia de base comum do currículo está presente no artigo 38 da LDB,

sugerindo a educação de jovens e adultos como reparadora. Nesse artigo atribui a

Educação de Jovens e Adultos a função de restaurar o direito de todos à educação

escolar de qualidade, possibilitando a todos, sem discriminação, acesso a um bem

real, social e simbolicamente importante. A reparação é a oportunidade concreta de

jovens e adultos estarem na escola e uma alternativa viável em função das

especificidades socioculturais desses segmentos para os quais se espera que a EJA

necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio, a fim de criar situações

pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.

Diante dos diversos aspectos apresentados acima, torna-se importante

discutir sobre a postura do aluno da EJA, em relação à escola e a responsabilidade

da escola frente aos desafios de inseri-los no mundo globalizado. Assim surgiu a

seguinte questão da pesquisa: Qual a expectativa do aluno trabalhador com relação

a escola?

O estudo teve como objetivo identificar quais as expectativas que os alunos

trabalhadores da EJA do Colégio Estadual Teixeira de Freitas tem em relação à

escola.

Page 18: Monografia Paulo pedagogia 2011

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CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os aportes teóricos apresentados neste capítulo para melhor embasar nossa

pesquisa conforme apresentados no capítulo I, nos levaram a fazer uma reflexão em

torno dos nossos conceitos-chave, que são: EJA, Aluno-trabalhador e Escola.

2.1 EJA - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A educação de jovens e adultos teve varias denominações, sendo as mais

freqüentes: educação supletiva ou ensino supletivo, bem como educação

compensatória ou educação suplementar. No decorrer dos anos diversos autores

entram num consenso quanto ao seu objetivo, que é o de compensar uma situação

de carência, suprir a falta de algo, desenvolver a construção do conhecimento que

não foi adquirido na infância, promover o ensino fundamental para inserção sócio-

político, sócio-econômica e educacional (MEC/SEF, 1998).

Uma breve retrospectiva histórica sobre a Educação de Jovens e Adultos no

Brasil tem como finalidade contextualizar o percurso sócio-histórico-evolutivo desta

modalidade de ensino (EJA).

Na história da educação do Brasil, a educação básica de adultos surgiu a

partir da década de 30, quando finalmente começa a consolidar um sistema público

de educação elementar no país. Nesse período, a sociedade brasileira passava por

grandes transformações, associadas ao processo de industrialização e concentração

populacional em centros urbanos (RIBEIRO, et. al, 1998).

A necessidade de mão de obra qualificada foi uma marca deste período,

segundo CUNHA (1999), com o desenvolvimento industrial, no início do século XX,

inicia-se um processo lento, mas crescente, de valorização da educação de adultos,

a valorização da língua falada e escrita para fins de domínio das técnicas de

Page 19: Monografia Paulo pedagogia 2011

19

produção. Essa preocupação era voltada para alfabetizar somente os trabalhadores,

não atingindo toda população.

A Educação de Jovens e Adultos no sistema educacional brasileiro teve seu

reconhecimento oficializado e legitimado na Constituição de 1934 “que pela primeira

vez, em caráter nacional” considerou a educação “como direito de todos e (que ela)

deve ser ministrada pela família e pelos poderes públicos” (art. 149) (SOARES,

2002, p. 50).

Em 1947, o governo lançou a 1ª Campanha de Educação de Adultos,

propondo: alfabetização dos adultos analfabetos do país em três meses,

oferecimento de um curso primário em duas etapas de sete meses, a capacitação

profissional e o desenvolvimento comunitário. (CUNHA, 1999).

De acordo com SOARES (1996), essa 1ª Campanha foi lançada por dois

motivos: o primeiro era o momento pós-guerra que vivia o mundo, que fez com que a

ONU fizesse uma série de recomendações aos países, entre estas, a de um olhar

específico para a educação de adultos. O segundo motivo foi o fim do Estado Novo,

que trazia um processo de redemocratização, que gerava a necessidade de

ampliação do contingente de eleitores no país.

SOARES (1996) diz que ao final da década de 50 e início da década de 60,

iniciou-se, então, uma intensa mobilização da sociedade civil em torno das reformas

de base, o que contribuiu para a mudança das iniciativas públicas de educação de

adultos.

Em 1964 surge o MOBRAL, que visava alfabetizar os adultos principalmente

na zona rural, extinto no ano de 1985. Com a redemocratização do país, surge a

Fundação Educar até o ano de 1990 quando foi por sua vez também extinta.

Na década de 70, ocorre, a expansão do MOBRAL, em termos territoriais e de

continuidade, iniciando-se uma proposta de educação integrada, que objetivava a

conclusão do antigo curso primário.

Page 20: Monografia Paulo pedagogia 2011

20

Por vários motivos a criação de instituições como o MOBRAL e a FUNDAÇÃO

EDUCAR, não conseguiram estabelecer uma educação diferenciada e eficiente para

Jovens e Adultos, e sua extinção não causou grandes perdas para os alunos desta

modalidade de ensino, no entanto o fechamento das mesmas acabou por deixar um

vazio onde antes havia uma esperança.

No final da década de 50 e inicio da década de 60 surge uma nova visão

sobre o problema do analfabetismo, junto à consolidação de uma nova pedagogia de

alfabetização de adultos, que tinha como principal referência Paulo Freire.

As idéias de Freire (1989) propunham uma maior comunicação entre o

educador e o educando e uma adequação do método às características das classes

populares. Seu método revolucionou as bases da educação populares e para ele, a

educação e alfabetização se confundem. Alfabetização é o domínio de técnicas para

escrever e ler em termos conscientes e resulta numa postura atuante do homem

sobre seu contexto.

Com o exílio de Freire em 1964 após o golpe militar, as idéias de

alfabetização popular foram deixadas de lado e o governo prioriza um movimento de

assistencialismo e conservadorismo no campo educacional, impossibilitando a

manifestação das classes operarias e colocando a educação a serviço de ditadura

militar.

No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 5692/71, incluiu em

seu conteúdo um capitulo especial para tratar da educação de Jovens e Adultos.

Dentro do capitulo IV da LDB o artigo 25 estabelece:

Art25 - O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a atender, desde a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a formação profissional definida em lei específica até o estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e a atualização de conhecimentos. (LDB:1971).

Aprovada em 1971, esta lei dedicou pela primeira vez na história da educação

brasileira uma página a educação de adultos. Nela o ensino supletivo estava apto a

encontrar soluções que se ajustassem à realidade escolar e às mudanças ocorridas

Page 21: Monografia Paulo pedagogia 2011

21

numa sociedade capitalista, na perspectiva de oferecer aos jovens e adultos, que

não tiveram acesso à escola uma oportunidade de adquirirem um nível de

escolaridade que lhes permitisse uma melhor condição social e econômica.

Apesar das muitas nomenclaturas que a educação de jovens e adultos teve

no decorrer dos anos, muito pouco foi feito de fato. No ano de 2008 pela primeira

vez na história do país o PNLD foi estendido ao EJA, para resolver um problema de

grandes proporções como a falta de escolarização básica para grande maioria da

população de jovens e adultos. Segundo Timothy Ireland (Diretor do Departamento

de Educação de Jovens e Adultos) “foi o reconhecimento oficial da importância

dada, hoje, a educação de jovens e adultos”.

Diante desse contexto, observamos que a educação de Jovens e Adultos ao

longo de sua trajetória vem sendo concebida e institucionalizada, em consonância

com a realidade sociocultural, política e econômica do país. Percebemos também

que está realidade tende a mudar com a própria consciência de mundo que a

educação pode levar para os alunos e pela qual Freire tanto lutou. Segundo Freire

(1989):

Por isso a alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador. Está é a razão pela qual procuramos um método capaz de fazer instrumento também do educando e não só do educador e que identificasse, o conteúdo da aprendizagem com o processo de aprendizagem. ( FREIRE:1989, pg.72).

Freire foi um importante divisor de águas na EJA. Sua experiência pessoal

como alfabetizador trouxe grandes contribuições para o Brasil, e seus livros são até

hoje objeto de pesquisa para todos que querem compreender a dinâmica desta

modalidade de ensino como ferramenta de transformação social.

O mundo contemporâneo não tem mais espaço para pessoas que não sabem

ler e escrever ou possuem o mínimo de conhecimento exigido para que seja

absorvida pelo mercado de trabalho cada vez mais exigente e esta competência

deve estar contemplada na oferta de EJA a toda população, não apenas como

direito a escolarização básica, mas acima de tudo como resgate de cidadania.

Page 22: Monografia Paulo pedagogia 2011

22

2.2 ALUNO TRABALHADOR

O ingresso do trabalhador na escola emerge e ganha expressão cada vez

maior denotando idéia de que um mundo globalizado, tecnificado e em constante

transformação demanda profissionais que dominem os conhecimentos acumulados

em sua área de competência especifica, mas que também sejam capazes de

resgatar uma visão da totalidade, situação esta distante da realidade.

Para Aranha (2003), os trabalhadores adquirem conhecimentos no trabalho

que vão além das informações e habilidades propiciadas por cursos e treinamentos.

Há todo um processo cultural, interpessoal, social onde os trabalhadores, pela sua própria experiência no trabalho, vivência em diversos ambientes, relacionamento com diferentes pessoas, constroem e adquirem um conhecimento contínuo sobre o seu fazer. Conhecimento nem sempre codificável, mas extremamente significativo para o andamento do trabalho. Trata-se do que, na sociologia do trabalho e na área de formação profissional é denominado como conhecimento tácito.(ARANHA, 2003 p.105).

O aluno da EJA é aquele que já compreendeu como a escolarização é

importante, que ela é na verdade a grande responsável pela inclusão social dos

jovens e adultos que não tiveram acesso à escola em tempo hábil.

O aluno geralmente não dispõe na própria empresa de espaço educacional,

onde possa a vir estudar. O mesmo busca então esta formação acadêmica de forma

mais tradicional nos estabelecimentos de ensino comuns, que por sua vez não

possuem um currículo voltado para a classe trabalhadora. Esta busca de informação

e formação fica sob a responsabilidade de cada um, construindo um eixo necessário

ao desenvolvimento de suas atividades e na intenção de uma promoção.

O trabalhador procura sair dessa condição de submissão, buscando a escola

como um “caminho” viável para uma vida melhor, mais digna e cidadã. Faz-se

necessário, criar novas formas para aprender a se organizar, a reivindicar seus

diretos, a compreender as relações sociais e a função que desempenham. Arroyo

(2001) diz:

Page 23: Monografia Paulo pedagogia 2011

23

O capital, as relações de trabalho estão distantes da escola, das teorias pedagógicas, que aos educadores não é fácil perceber que a fábrica, e empresa, as relações de trabalho e produção invadiram a escola, enquanto nós ficávamos entretidos em aplicar testes de QI, de prontidão, em discutir taxonomias, bem como a função reprodutora dos aparelhos ideológicos do estado (...) a vinculação entre a escola popular, seus problemas e o mundo do trabalho e da produção é mais forte do que pensamos (p.49).

O homem em seu aspecto social, pode por meio do trabalho compreender a

realidade que o cerca, buscando construir uma nova sociedade. Para isso, os

mesmos precisam conquistar a liberdade cultural, intelectual e espiritual. Quando o

povo comum, especialmente os trabalhadores que exercem o direito de formação do

saber, da cultura e da identidade de classe, tem mais possibilidade de conquistar

seus direitos. Como nos fala Freire (1989): “Quando o homem compreende sua

realidade, pode levantar hipótese sobre o desafio dessa realidade e procurar

soluções. Assim pode transformá-la e com o seu trabalho pode criar um mundo

próprio” (p.30).

Os homens que buscam o conhecimento, que visam de modo mais eficiente

experiências libertadoras, vêm exercendo a função de transformar a si mesmo e a

realidade. Mas por mais que se queira não se consegue nada sozinho. Enquanto o

homem não caminhar junto, fazendo do diálogo e da convivência suas “armas” nada

de mudança ocorrerá. De acordo com Freire, (1987):

(...) o diálogo é uma espécie de postura necessária na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos. O diálogo é o momento em que os homens se encontram para refletir sobre a sua realidade tal como a fazem, a refazem (...) (p.122-123).

Já dizia Freire (1987, p.35) “a libertação, por isto, é um parto e um parto

doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e

pela superação da contradição opressor-oprimido, que é a libertação de todos”.

Pela educação é possível mudar o mundo, Freire acreditava nisto, insistia que

cada pessoa pode mudar seu futuro, basta querer. Quando a educação em idade

normal não é possível, buscar esta educação na fase adulta pode sim diminuir as

desigualdades sociais na medida em que ajuda o sujeito a perceber melhor sua

realidade e buscar mudanças.

Page 24: Monografia Paulo pedagogia 2011

24

Perceber esses jovens do ponto de vista da EJA revela uma condição marcada por profundas desigualdades sociais. Na escola de EJA estão os jovens reais, os jovens aos quais o sistema educacional tem dado as costas. Percebe-los significa a possibilidade de dar visibilidade a esse expressivo grupo que tem direito a educação e contribuir para a busca de uma resposta a uma realidade cada vez mais aguda e representativa de problemas que habitam s sistema educacional como um todo. (ANDRADE, 2004, P.45)

Segundo Fávero (2004, p.26), “Campanhas e movimento de massa não

resolverão o problema do analfabetismo da população jovem e adulta, pois esse

problema é gerado pela insuficiência e ausência da escolarização das crianças e

adolescentes, e questiona:” Diz-se ter sido praticamente universalizado o ensino

fundamental. Qual o ensino? Com qual qualidade? Concordamos com o auto, pois

mesmo diante dos avanços e conquistas na área educacional, prescritos na

constituição Brasileira, (Soares 2002,p.30), confirma também que o ensino

fundamental, o quadro sócio-educacional seletivo continua a produzir excluídos,

mantendo adolescentes, jovens e adultos sem escolaridade obrigatória completa.

Por existir tantas desigualdades sociais em relação à educação, o aluno

aprende apenas quando se torna sujeito da aprendizagem, pois o mesmo deve estar

sempre estimulado a exercer atividades voltadas para a liberdade de expressão,

constituindo um fator de formação da personalidade e mais alta relevância.

Diante do desejo e ousadia, do fortalecimento de cada trabalhador, de juntos

mudarem esse terrível e doloroso quadro de que “manda quem pode e obedece

quem tem juízo”, de se libertarem, de juntos poderem gozar de uma vida mais digna

e cidadã, essa que cada indivíduo tem direito, mas que muitos os ignoram.

O aluno da EJA tem uma característica especial, ele pode responder por seus

atos e palavras, além de assumir responsabilidades diante dos desafios da vida.

Quando chegam à escola, trazem muitos conhecimentos, que não são não

aproveitados pela escola, mas certamente são conhecimentos adquiridos na vida,

uma vida onde o trabalho ocupa lugar de grande importância e a escola, como

agente de formação e informação, torna-se uma alternativa viável de ampliação de

sua condição cidadã.

Page 25: Monografia Paulo pedagogia 2011

25

2.3 ESCOLA

A escola é um grande espaço social de convivência daqueles que

sistematicamente são desumanizados pelo trabalho, pelo isolamento e por suas

condições de existência. É também, um local de fala dos que não tem voz no dia-

dia; de participação daqueles acostumados a obedecer, de encontro dos

desencontrados, do saber das coisas do mundo dos que foram afastados da

possibilidade de parte deste conhecimento.

Entende-se por escola a instituição social que concretiza as relações entre

educação, sociedade e cidadania sendo uma das principais agências responsáveis

pela formação das novas gerações. É um lugar de aprendizagem onde são

elaboradas as formas para desenvolver atitudes e valores e adquirir competências,

desempenhando um papel importante no processo de formação dos cidadãos,

preparando-os para viverem em uma sociedade de informação e do conhecimento.

Prepara o aluno para “futuramente”, disputar o mercado de trabalho e prover sua

subsistência. Ou seja, a escola “é uma instituição de cultura que deve socializar o

saber, ciência, a técnica e as artes produzidas socialmente, para que todos possam

ter acesso a esses bens culturais”. (ROMANELLI, 1992 Apud BARALDI, 1998, p.

68).

A escola também se expressa em organização, com cultura própria, objetivos,

funções e estruturas definidas. A mesma faz a mediação entres as demandas da

sociedade por cidadãos escolarizados e as necessidades de auto-realização das

pessoas.

Também a escola é uma das muitas instituições que de vem se ocupar de preparar o individuo para o exercício crítico da cidadania e é a que pode proporcionar essa preparação mais completa – dentro de uma visão em que o cidadão crítico é o indivíduo capaz de fazer a crítica da consciência e, sobretudo, aquele que domina o conhecimento daquilo que vai criticar. (BARALDI, 1998. P, 68).

Os alunos trabalhadores vêem na escola este espaço de convivência social,

local privilegiado no desenvolvimento da capacidade de relacionamento,

participação, local de reencontro com o mundo. A escola é o espaço onde têm a

Page 26: Monografia Paulo pedagogia 2011

26

oportunidade de se relacionarem com pessoas do seu meio social e de tentar

planejar um outro meio de vida. A atividade profissional exercida parece ser um fator

de motivação para a freqüência à escola, entendida como local de socialização.

Para Haddad (2001):

A escola é um espaço da vinculação de um conhecimento sobre a vida, que ultrapassa o limite restrito da questão profissional. E o conhecimento sobre as coisas do mundo, que pode contribuir para entender o que é veiculado pelos meios de comunicação, para compreensão da realidade desse cotidiano, para a segurança na fala dosa que nunca têm voz, para a segurança na ação dos que nunca participam. ( HADDAD 2001, P.169).

A escola tem a missão de oportunizar aos educandos um ensino de qualidade

voltado para a compreensão do real e intimamente ligado ao entendimento crítico da

realidade que o cerca. O desenvolvimento da consciência educativa na escola deve

passar por uma atitude firme e engajada de todos aqueles que dela fazem parte.

São muitos os desafios da escola EJA. Certamente desafios que perdurarão

por alguns anos, visto que, o mundo não pára e as necessidades com relação à

alfabetização de adultos é cada vez mais urgente e a forma como ela será feita

necessitará de mudanças com o intuito de acompanhar a evolução, a inserção das

tecnologias, o olhar do novo homem.

A valorização do conhecimento prévio e o reconhecimento dos alunos como

portadores de cultura e saberes são os primeiros passos para que a escola promova

no EJA uma educação que prime pela qualidade.

Page 27: Monografia Paulo pedagogia 2011

27

CAPÍTULO IIl

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Demo (2003) pontua que dimensão social da pesquisa e do pesquisador,

estão mergulhados naturalmente na corrente da vida em sociedade, com suas

competições, interesses e ambições, ao lado da legítima busca do conhecimento

científico.

Pensando no fazer ciências que dá valor à experiência para compreender o

comportamento humano e o comprometimento com sua realidade histórica, esta

pesquisa tem como objetivo identificar quais as expectativas que os alunos

trabalhadores da EJA tem em relação a escola. O alcance desse objetivo nos levou

a definir como ponto principal o paradigma qualitativo e optar pelas estratégias a

seguir:

3.1 TIPO DE PESQUISA

Para Alves (2003, p.41) a pesquisa “é um exame cuidadoso, metódico,

sistemático e em profundidade, visando descobrir dados, ampliar e verificar

informações existentes com o objetivo de acrescentar algo novo à realidade

investigada”.

O tipo de pesquisa utilizada foi a pesquisa qualitativa já que esta tem o

ambiente natural como uma fonte direta de dados e o pesquisador como o seu

principal instrumento. (BOGDAN e BIKLEN, 1982). Segundo os dois autores a

pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o

ambiente e a situação que está sendo investigada através do trabalho intensivo de

campo. Sobre a pesquisa qualitativa Giovazzo (2001) fala que:

Page 28: Monografia Paulo pedagogia 2011

28

A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada e não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente não emprega instrumental estatístico para análises de dados, seu foco de interesse é amplo e que dela faz parte a detenção de dados desc ritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo as perspectivas dos participantes da situação estudada (p.1).

A pesquisa qualitativa responde ainda às questões muito particulares. Ela se

preocupa, nas ciências sociais, com o nível de realidade que não pode ser

quantitativo, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, crenças,

valores e atitudes. Para Michalizy & Tomasini(2005):

A pesquisa qualitativa caracteriza-se pela interação entre os pesquisadores e o grupo social pesquisado, ocorrendo entre eles um certo envolvimento de modo cooperativo ou participativo e supõe o desenvolvimento de ações planejadas de caráter social (p.32).

Segundo Ludke e André (1986), é cada vez mais evidente o interesse que os

pesquisadores da área vêm demonstrando pelo o uso das metodologias qualitativas.

Como já foi citada a abordagem qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos,

por meio do contato do pesquisador com a situação estudada.

3.2 LÓCUS DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Teixeira de Freitas, na cidade de

Senhor do Bonfim–BA. É mantida pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia,

funciona nos três turnos. Tem uma clientela de 220 alunos e 30 professores, destes,

80 alunos são assistidos pela EJA, que só funciona no período noturno. O referido

colégio foi escolhido como lócus da pesquisa por oferecer o ensino fundamental

destinado a EJA – Educação de Jovens e Adultos.

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA

Page 29: Monografia Paulo pedagogia 2011

29

Os sujeitos de nossa pesquisa foram 15 alunos pertencentes as turmas do

ensino fundamental (aceleração l e II), do turno noturno. Foram escolhidos através

do auxilio de um professor da escola, que indicou uma amostra de 40 alunos

trabalhadores e, destes selecionamos aleatoriamente os 15 sujeitos. Escolhemos

estes sujeitos por preencherem os pré-requisitos necessários ao resultado da

pesquisa, ou seja, são trabalhadores estudantes que tem na EJA a oportunidade de

realizar conquistas e melhorar sua condição de trabalhador.

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

No processo de coletas de dados tivemos o cuidado de analisar todas as

possibilidades até percebermos quais instrumentos seriam mais adequados ou que

melhor serviriam para coleta dos dados de forma objetiva e segura. Assim, alguns

instrumentos foram apresentados como viáveis: questionário fechado e a entrevista

semi-estruturada.

3.4.1 Questionário Fechado: Utilizou-se em primeira instância um

questionário fechado, que oferecia um campo vasto de opções buscando traçar o

perfil de cada sujeito entrevistado. Marconi e Lakatos (1996), diz que: “perguntas

fechadas são aquelas que indicam três ou quatro opções de respostas ou se limitam

às respostas afirmativas ou negativas e já trazem espaços destinados da escolha”.

(p.131).

Desse modo utilizamos um instrumento para traçar o perfil sócio-econômico

dos sujeitos participantes da pesquisa e caracterizá-los de uma maneira mais segura

conhecendo as atividades do cotidiano dos mesmos e o contexto econômico e

cultural em que estão inseridos

A linguagem utilizada no questionário fechado deve ser simples e direta para

que o respondente compreenda com clareza o que está sendo perguntado.

Page 30: Monografia Paulo pedagogia 2011

30

Os questionários são perguntas feitas na mesma ordem, tem-se uma

vantagem óbvia padronizada ou estruturada, que é usada quando se visa à

obtenção dos resultados na pesquisa. Considera-se uma das técnicas usadas nas

pesquisas sociais, permitindo o desenvolvimento das idéias, sentimentos, opiniões,

condutas e expressões sobre o que aconteceu, acontece ou poderá acontecer

futuramente.

O questionário como sendo útil para obtenção de informação à cerca do que a

pessoa sabe,crê ou espera, sente ou deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem como o

respeito de suas explicações ou razões para qualquer das coisas precendendes.

(Saltez 1997).

Marconi e Lakatos (1996, p.88) Ainda definem o questionário como um

instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenadas de perguntas

que devem ser respondidas por inscrito e sem a presença de entrevistados.

Portanto, o questionário nos fornece as informações necessárias para o

esclarecimento das questões apresentadas no tema abordado.

3.4.2 Entrevista Semi-estruturada: Num segundo momento foi aplicada a

entrevista, um instrumento importante, pois através dela é possível a obtenção de

informações dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Tanto que Ludke e André (1986)

elegem a entrevista como estando em grande vantagem sobre as outras técnicas,

pois a mesma permite a captação imediata e corrente da informação desejada,

praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos.

Sobre sua importância Ludke e André ainda ressaltam que a entrevista

representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados afirmando;

Ela desempenha um importante papel nas atividades científicas, como em muitas outras atividades humanas. Na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. (Ludke e André, p.33).

Page 31: Monografia Paulo pedagogia 2011

31

A entrevista também pode ser considerada como prática discursiva, de forma

a entendê-la como ação, interação situada e contextualizada por meio da qual se

produzem os sentidos e se constroem versões da realidade (Ludke e André, 1986

p.34). Buscando ainda subsídios em Triviños (1987 p.134), ele afirma que a

entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas

pessoas, na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de

informações por parte do outro, o entrevistado.

A possibilidade dos sujeitos se expressarem oralmente nos permite

aprofundar, questionar e recolher uma diversidade de informações, pois segundo

Minayo (1994 p.57) “a entrevista não significa uma conversa despretensiosa e

neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos

autores, enquanto sujeito/objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada

realidade que está sendo focalizada”.

Procurou-se estabelecer um clima de estímulo e aceitação para com os

entrevistados, dando-lhes oportunidades de discorrer sobre o tema com base nas

informações por eles obtidas. Organizando um roteiro onde foram evidenciados

tópicos principais para com nosso assunto em questão.

Vale destacar a importância desse modelo de entrevista por ser muito

eficiente e por proporcionar uma reflexão ampla mediante a fala dos entrevistados

segundo o objetivo que o pesquisador deseja alcançar.

CAPÍTULO IV

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32

DISCUSSÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS

Neste capítulo, apresentaremos os dados coletados e os respectivos

resultados alcançados através dos conhecimentos de coleta de dados, norteados

pelo objetivo e pelo quadro teórico presentes na nossa problemática.

A partir desse contexto podemos obter informações reveladoras para a

pesquisa, procurando refletir e considerar aspectos importantes que dizem respeito

aos nossos questionamentos e objetivos de pesquisa e a realidade a qual os sujeitos

estão inseridos.

4.1 – O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Através da entrevista semi-estruturada e questionário fechado, foram

levantadas informações que puderam traçar o perfil de cada membro envolvido na

pesquisa. Na seqüência apresentaremos o perfil dos sujeitos onde serão designados

no decorrer da análise.

4.1.1 – Quanto ao gênero e faixa etária

Ao analisarmos o perfil dos sujeitos, identificamos uma predominância

feminina, 73% para mulheres e 27% para homens. Existem inúmeros motivos que

explicam esta realidade, um dos mais presentes é o fato da mulher abrir mão do

estudo para formar família cedo, e retornando a escola anos depois para concluí-lo,

muitas vezes para se responsabilizar por parte ou todo orçamento familiar.

Junto com esta responsabilidade vem uma nova concepção de educação e da

importância da mesma dentro do contexto social, já que é importante a

escolarização para uma inserção no mercado de trabalho.

A faixa etária de alunos da EJA vai dos 17 aos 56 anos. Esse fato está

objetivamente ligado ao acesso tardio à escola, com todo o acréscimo de

Page 33: Monografia Paulo pedagogia 2011

33

dificuldades que o aluno da EJA possui. A distribuição das idades é: 20% entre 26 e

30 anos, 20% responderam que tem entre 21 e 25 anos, 7% estão entre 18 e 21

anos e a maioria absoluta de 53% superior a 30 anos.

4.1.2 – Idade de ingresso na escola noturna

Em relação à idade de entrada na escola noturna, 20% entre 18 e 20 anos,

outros 13% dos 21 aos 25 anos, e 67% com mais de 30 anos.

Estes dados caracterizam e reforçam uma situação que tem raízes na divisão

de classes, no qual o aluno privilegiado pela sua classe social tem todas as

condições favoráveis de se dedicar exclusivamente à escola, concluindo seus

estudos dentro da faixa etária de 16 a 18 anos, considerando ideal pela escola e

pelos órgãos governamentais responsáveis pelo ensino.

4.1.3 – Idade de ingresso no mercado de trabalho

Na pergunta com qual idade iniciaram no mercado de trabalho, 13%

responderam que começaram a trabalhar com menos de 10 anos, outros 60%

responderam com idade entre 11 aos 14 anos, 20% entre os 15 aos 17 anos e 7%

dos alunos restantes, acima dos 17 anos. Esta realidade demonstra que o trabalho

ocupa um lugar fundamental na vida do aluno e isso prejudica o processo de

escolarização.

4.1.4 – Renda familiar

No quesito renda familiar, 13% ganham até três salários mínimos, 27%

ganham até dois salários mínimos e a maioria absoluta de 60% ganham um salário

mínimo, sendo demonstrado aqui o baixo nível de renda dos alunos do ensino

noturno.

Page 34: Monografia Paulo pedagogia 2011

34

4.1.5 – Situação enquanto trabalhador, funcional e carga horária de trabalho

durante o final de semana.

Com relação à situação do trabalhador, 67% responderam que possuem

trabalho próprio ou da família e 33% responderam que são empregados.

Os alunos da EJA em sua maioria são responsáveis pela família já

constituída. Isso explica a necessidade de trabalhar e procurar a escola para

melhorar a qualidade deste trabalho.

Os adultos que não conseguiram entrar no mercado de trabalho formal

buscam através da educação a oportunidade do primeiro emprego, assim a

educação de Jovens e Adultos está para atender uma classe especifica que já

responde por si e busca na escola uma resposta imediata aos seus anseios.

Na questão de registro de carteira profissional, somente 40% responderam

que possuem registro em carteira profissional e 60% disseram que não possuem

registro, evidenciando assim um alto índice de informalidade.

No quesito de trabalharem no final de semana, 67% responderam que sim e

33% responderam que não, demonstrando que a maioria exerce mais atividade

durante o final de semana, que acarretar problemas no lazer e principalmente para

com os seus estudos, pois o trabalho é um meio de sobrevivência, conhecimento e

manutenção para o aluno trabalhador.

4.1.6 – Freqüência e assiduidade na escola

Na questão sobre o atraso na chegada a escola, 73% responderam que não

chegavam atrasados, e 27% responderam que chegavam poucas vezes atrasados.

Com relação ao item freqüência escolar 20% responderam que faltam muitas

vezes, 60% faltam poucas vezes e 20% não faltam às aulas ficando caracterizado o

interesse do aluno trabalhador para com a escola.

Page 35: Monografia Paulo pedagogia 2011

35

Esse fato é bastante expressivo, pois podemos notar que o aluno da EJA,

compreende a importância da sua presença em sala de aula, ele sente que o espaço

de tempo utilizado para aulas é precioso, e deve ser utilizado da melhor maneira. É

o aluno que quer tirar o melhor proveito da educação.

4.1.7 – Motivo de faltar às aulas

Quando foram perguntados aos alunos os motivos de faltarem às aulas,

obtivemos: 33% por motivo de saúde, e 13% por compromisso social, e 53% por

compromisso de trabalho.

Portanto tal situação é incompatível com a realidade do aluno trabalhador,

que por sua condição sócio-econômica, necessita trabalhar para sobreviver, e a

escola para a maioria desses alunos, tem uma importância secundária, pois os

mesmos não têm tempo para estudar, além disso, a escola pública que ele freqüenta

muitas vezes não dispõe de infra-estrutura que lhe proporcione um estudo de

qualidade, e que o torne apto a competir no mercado de trabalho.

4.1.8 – Reprovação

Na pergunta se já tinha sido reprovado em algum ano letivo, 60%

responderam que sim, e 40% responderam que não, caracterizando o baixo índice

de aproveitamento desses alunos trabalhadores do ensino noturno, e isso

consequentemente, eleva o índice de evasão detectado no sistema escolar pela

dificuldade de conciliar estudo e trabalho.

Por sua vez a escola, não deve ser pensada como se estivesse autônoma e

independente da realidade histórica – social da qual é parte. Deve-se, portanto

dentro dessa realidade, levar em consideração o sistema social no qual se encontra

inserido o aluno que dela participa.

Page 36: Monografia Paulo pedagogia 2011

36

4.2 CONHECENDO AS EXPECTATIVAS DO ALUNO TRABALHADOR

QUANTO A ESCOLA

Apresentam-se a seguir os resultados alcançados a partir da interpretação

dos dados coletados. Agrupamos em quatro categorias que são: Relação escola X

vida pessoal e profissional, Escola e ascensão Profissional, A Escola como espaço

difícil de ser freqüentado. A Escola como ambiente de formação e informação.

: 4.2.1 Relação escola X Vida pessoal e profissional

Pensar na importância que o aluno-trabalhador tem sobre a escola é estar

atento ao que ele busca nela. Conforme as respostas dos mesmos, constatamos

que eles buscam através da escola um “caminho” viável para uma vida melhor.

“A escola é muito importante porque é um lugar que a gente aprende a ser

educado” (Aluno 1).

“É importante porque através dela adquirimos o conhecimento e esse é muito

importante para nós cidadãos”. (Aluno 7).

“Melhorar de vida e ter uma educação melhor para, ingressarmos no mercado

de trabalho” (Aluno 15).

Sacristan e Gomez (2000) nos advertem que:

A escola deve prover os indivíduos de conhecimento, idéias, habilidades e capacidades formais, mas também de disposições, atitudes e interesses, além disso, deve priorizar a socialização dos alunos, preparando-os para se incorporar no mundo do trabalho e na vida pública (p.36).

Diante das respostas dos alunos nota-se que a escola é importante para a

busca do conhecimento, através dela o indivíduo se emancipa, ao promover

Page 37: Monografia Paulo pedagogia 2011

37

mudanças no seu interior e na sociedade em que vive contribuindo para a

transformação social e se capacitando para o mercado de trabalho.

4.2.2 Escola e ascensão profissional

Nesta categoria os alunos trabalhadores apontaram os motivos que os

levaram a freqüentar a escola mesmo estando inseridos no mercado de trabalho.

“A competitividade do mercado de trabalho” (Aluno 6).

“Para alcançar um futuro melhor’’; (Aluno 8).

“Para ser um profissional habilitado e bem informado”; (Aluno 10).

Percebe-se que a opção pelos estudos emerge da necessidade do próprio

trabalho, tendo em visto que as mudanças do mundo globalizado exigem um

preparo constante dos indivíduos para garantir a sua condição de cidadania.

Os avanços tecnológicos ao tempo em que propiciam a melhoria da qualidade

dos serviços e produtos exigem dos trabalhadores uma formação capaz de permitir-

lhes usá-los de forma racional, pois como afirma Oliveira (2001).

“Deve-se, finalmente, lidar com os recursos tecnológicos da sociedade do conhecimento de forma critica, o que envolve o entendimento de que: a) esses recursos estão escritos nas relações capitalistas de produção, num contexto de redefinição da teoria do capital humano, que é reconceitualizado, nas novas organizações, como capital intelectual; b) esses recursos articulam-se com questões atuais de desempregos estrutural e subemprego; c) no entanto, o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico são forças matérias também na concretização de valores que se relacionam com os interesses dos excluídos, contradizendo os valores próprios da acumulação capitalista; d) em todo o contexto discutido, a educação assume o papel crucial na socialização do construção do conhecimento e da cultura podendo ultrapassar o caráter instrumental do conhecimento, tendo em vista a formação de cidadãos comprometidos com: a democracia, a igualdade e a inclusão social; a tolerância e o diálogo intercultural (p. 107).

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Os alunos trabalhadores buscam na escola um meio para o trabalho, visando

uma melhoria salarial, tornando-se um profissional habilitado para futuramente

atender as exigências do mercado devido à era informatizada e aos avanços

tecnológicos.

4.2.3 A escola como espaço difícil de ser freqüentado

A questão da freqüência à escola é um problema enfrentado pelos alunos

trabalhadores que tentam conciliar escola e trabalho.

O que quer dizer que existe interferência do horário do trabalho com o da

escola, apontado pelos alunos trabalhadores.

Os alunos-trabalhadores afirmam:

“Sim, tenho pouco tempo para estudar, sempre chego atrasado, o meu

trabalho é muito exaustivo. Sou gari ’. (Aluno 2).

“Só não chego atrasada quando saio cedo do trabalho, sou doméstica” (Aluno

3).

“Chego atrasado todos os dias, trabalho e moro na zona rural”. (Aluno 11).

De acordo com Gadotti (1997):

O trabalhador torna-se, ele próprio, uma mercadoria cujo valor depende apenas da magnitude do dinheiro - medida de valores pela qual ele é trocado. Essa magnitude é definida pela quantidade de trabalho socialmente necessário para reproduzi-lo (p.50).

Percebe-se que o aluno-trabalhador não tem tempo disponível para crescer

intelectualmente, tornando-se refém do sistema que lhe mantém preso devido à

necessidade de manter o emprego e garantir a sua sobrevivência. Prova disso é o

trabalho por turnos que não são fixos, ou seja, trabalha-se pela manhã, na semana

Page 39: Monografia Paulo pedagogia 2011

39

seguinte este mesmo trabalhador cumpre sua carga horária à tarde, na semana

seguinte tem que trabalhar à noite. Desta forma é difícil conciliar trabalho e estudo.

4.2.4 – A escola como ambiente de formação e informação

Nessa categoria os alunos trabalhadores apontaram diferentes aspectos de

como são adquiridos; e para que servem os conhecimentos obtidos na escola.

.

Eis abaixo algumas falas, de alguns alunos:

“Os conhecimentos adquiridos na escola são importantes porque nos fazem

crescer pessoalmente e profissionalmente”. (Aluno 2).

“Para desenvolver o meu desempenho no meu trabalho e na minha vida

profissional”. (Aluno 4).

“Para estar informado com o mundo globalizado, e nos tornarmos cultos em

conhecimentos gerais”. (Aluno 9).

Ao analisarmos as respostas dos alunos trabalhadores, notamos que o

aprendizado escolar é uma das principais características para a atualização de seus

conhecimentos, onde os mesmos poderão enfrentar um mundo globalizado. Como

nos fala Gadotti (1991):

(...) Através e na educação, os homens de uma época, de uma sociedade historicamente situada, se exprimem em relação àquilo que convém ser, que convém fazer e agem em conseqüência nela, é toda uma sociedade que se encontra empenhada, implicada. Na medida em que hoje em dia, a nossa sociedade está em crise, se interroga e hesita, a educação torna-se por sua vez, um lugar posto em questão, um lugar de tensão e de debate. Nesse sentido, ela se constitui num espaço político-pedagógico e de liberdade, portanto, onde os homens preocupados em se situar podem lutar por uma existência mais autêntica e uma sociedade mais justa (...) (p.21).

É necessário, porém que se lance um novo olhar sobre esses alunos-

trabalhadores que buscam na escola a melhoria da sua formação. È importante que

Page 40: Monografia Paulo pedagogia 2011

40

haja uma preparação desse aluno, tanto para o trabalho quanto para o exercício da

cidadania, trabalhando valores, crenças e idéias de soberania, visando à formação

de sujeitos autônomos.

Diante de todas as respostas, observamos desta forma que todos aqueles

que procuram a escola têm pretensões e percebe-se que esta escola tem como

função garantir o acesso ao conjunto de informações, desarticulando a diversidade

real dos alunos-trabalhadores que buscam na escola suporte para a inclusão no

mundo do trabalho.

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41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou um estudo acerca de uma temática que tem sua

origem na complexa conjuntura sociopolítica e cultural, historicamente implantada

em nosso país, marcada por profundas desigualdades sociais herdadas desde o

regime colonial e imperial brasileiro e que ainda, lamentavelmente, persiste em

nossa sociedade contemporânea e globalizada que, a cada dia, diante das novas

tecnologias se torna mais evoluída sob esse aspecto, contudo, acentua-se a

incerteza de uma sociedade mais humana, menos violenta e igualitária.

Considerando aqui os aspectos abordados procuramos definir o

questionamento levantado na problemática, respaldado nos teóricos, pois através

deste estudo buscamos compreender a importância da escola para os alunos

trabalhadores, que buscam através da mesma realização pessoal e também

profissional, percebendo assim as oportunidades para o acesso ou a permanência

no mercado de trabalho.

Não temos a pretensão de apontar a solução definitiva, até porque nenhuma

pesquisa educacional se esgota em si mesma, mas contribui através dos dados e

sua interpretação para uma reflexão.

Todo o processo de construção deste trabalho envolveu diversas leituras,

tendo como base teóricos tais como: Arroyo, Freire, Gadotti, Soares, Fávero e

outros, dos quais este trabalho faz várias referências, foi de fundamental importância

para aprimorar e fundamentar o nosso trabalho.

A escola muitas vezes não atende as expectativas em termo de

profissionalização para o ingresso no mercado. Em termos de conhecimentos, os

alunos ainda reconhecem a importância da escola para a ampliação de sua

formação intelectual.

Page 42: Monografia Paulo pedagogia 2011

42

Portanto, focamos a importância de uma abordagem sobre a EJA, ou seja, na

perspectiva do aluno trabalhador, tendo como reflexão: porque retornam a escola

depois de alguns anos? Quais as suas expectativas em relação à mesma? Sendo

que a maioria dos nossos entrevistados apresenta os mesmos argumentos.

Constatando-se:

1- Retorno à escola para a busca de conhecimento;

2- Realização profissional;

3- Ascensão dentro do mercado de trabalho.

Também pudemos constatar algumas dificuldades:

1- Conciliar o horário de trabalho com o da escola;

2- Cansaço físico;

3- Deslocamento de casa para a escola.

Acreditamos que esta pesquisa é relevante, pois contribui para uma melhor

compreensão da realidade de EJA, mas, sobretudo, proporcionar caminhos ou

alternativas e, principalmente, aguçar os olhares sobre as práticas e políticas

públicas dirigidas a essa modalidade de ensino bem como se ofereça o mínimo de

qualidade ao público alvo em sua maioria, trabalhadores.

As divergências existirão, pois fazem parte do processo, porém exige de

todos a disposição de discutir publicamente a importância do aluno trabalhador com

relação a escola comprometida com a luta pelo reconhecimento e valorização,

,refletindo sobre os resultados obtidos onde evidenciamos as dificuldades e

facilidades que os alunos trabalhadores pesquisados demonstraram da realidade

vivida.

É urgente que construamos um arcabouço teórico-metodológico, isto é, um

saber técnico-profissional que resulte numa didática para o mundo do adulto.

Constatou-se que todas as lutas e anseios de uma população perpassam o

contexto escolar, indo além dele, exigindo que a escola, entidade responsável pela

Page 43: Monografia Paulo pedagogia 2011

43

sistematização do conhecimento, possa trabalhar para proporcionar a homens e

mulheres condições de melhor interagir e participar nas transformações tão

necessárias, pois, à volta e a permanência dos jovens e adultos à escola é, segundo

Paulo Freire, muito mais do que um ato político ou um ato de conhecimento:

constitui-se num fundador que provoca uma reflexão constante a respeito do seu

papel social, enquanto indivíduo inserido em um contexto social e criador desse

contexto.

Portanto a Educação de Jovens e Adultos deve possibilitar a todos, a

construção de uma nova história em igualdade de condições, de participação e não

simplesmente estar inserido nela.

Page 44: Monografia Paulo pedagogia 2011

44

REFERÊNCIAS

ALVES, Magda. Como escrever teses e monografia (um roteiro passo a passo) 5ª reimpressão: Rio de janeiro: Elsevier, 2003.

ANDRADE, Eliana Ribeiro. Os jovens da EJA e a EJA dos jovens. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de; PAIVA, Jane (Orgs.) Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

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APÊNDICES

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Page 48: Monografia Paulo pedagogia 2011

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Pró-Reitoria de ensino em graduação – PROGRAD

Departamento de Educação – DEDE Campus VII

Caro aluno:

Agradecemos a sua colaboração e manteremos sigilo quanto à autoria das

respostas.

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO FECHADO

01 – Sexo:

( ) masculino ( )Feminino

02 - Idade

( )Menos de quinze anos

( )de 15 a 17 anos

( )de 18 a 20 anos

( )de 21 a 25 anos

( )mais de trinta anos

03 – Quando entrou na escola noturna?

( )Menos de quinze anos de idade

( )de 15 a 17 anos de idade(

( )de 18 a 20 anos de idade

( )mais de 20 anos de idade

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04 – Quando começou a trabalhar?

( )com menos de 10 anos

( )com idade entre 11 e 14 anos

( )com idade entre15 e 17 anos

( )com idade superior a 17 anos

05 – Renda familiar:

( ) até um salário mínimo

( ) até dois salários mínimos

( ) até três salários mínimos

( ) mais de três salários mínimos

06 – Situação enquanto trabalhador (a):

( ) empregado

( )trabalho próprio ou da família

07 – Tem registro em carteira profissional?

( )sim ( )não

08 – Trabalha no fim de semana?

( ) sim ( ) não

09 – Chega atrasado (a) à escola?

( )não chego atrasado(a)

( ) poucas vezes chego atrasado (a)

( ) muitas vezes chego atrasado (a)

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( ) chego atrasado (a) todos os dias

10 – Freqüência escolar:

( ) não falto as aulas

( ) poucas vezes falto as aulas

( ) falto muito as aulas

11 – Quando falta as aulas ( se falta ), qual o principal motivo de tal falta?

( ) por motivo de saúde, por estar doente

( )por compromisso social

( ) por compromisso de trabalho

( ) porque não estou com os trabalhos prontos para entregar

12 – Já foi reprovado em algum ano letivo? ( ) sim ( ) não

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Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Pró-Reitoria de ensino em graduação – PROGRAD

Departamento de Educação – DEDE Campus VII

Caro aluno:

Agradecemos a sua colaboração e manteremos sigilo quanto à autoria das respostas.

APÊNDICE B - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1. Qual a importância da escola para você?

2. O que levou você a estudar?

3. A sua jornada de trabalho interfere no seu estudo? De que forma?

4. Para que serve os conhecimentos adquiridos na escola?