moodle: avaliação de usabilidade da criação de cursos web

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1 Moodle: Avaliação de Usabilidade da criação de cursos Web Moodle: Usability Evaluation of the creation of Web courses Roseane de Oliveira MARTINS 1 Elton Rubens Vieira da SILVA 2 Universidade de Pernambuco/UPE Resumo Este artigo apresenta a avaliação de Usabilidade do MOODLE a cerca das ferramentas básicas do processo de criar, organizar e configurar cursos na Web. Para coleta de dados foi aplicado um questionário, para avaliar a satisfação do usuário com relação ao sistema e as técnicas de avaliação de Usabilidade Ensaio de Interação e Verbalização Simultânea. Como forma de avaliar os problemas de interação encontrados foi usado o método de Avaliação Heurística. Durante a Avaliação Heurística, foram identificados e classificados problemas de usabilidade quanto ao seu grau de severidade, e foram sugeridas melhorias para a interface, através de wireframes, com o objetivo de auxiliar o entendimento das sugestões propostas. As avaliações realizadas têm a intenção de provocar uma reflexão a respeito da usabilidade das ferramentas tomadas para análise e fornecer subsídios para o seu aprimoramento. Palavras-chave: Moodle. Usabilidade. Avaliação heurística. Abstract This paper describes the usability evaluation of MOODLE, about the basic tools of the creating, organizing and setting process of courses on the Web. To collect the data used a questionnaire, to assess user satisfaction about the system and the evaluation technique Usability Interaction Test and Think Aloud. In order to evaluate the interaction problems found we used the Heuristic Evaluation Method. In the Heuristic Evaluation was identified and classified usability problems according to their degree of severity, so were suggested improvements to this interface, through wireframes, in order to aid the understanding of the proposed suggestions. The evaluations are intended to provoke a discussion about the usability of the tools taken for analysis and provide input to improve it. Keywords: Moodle. Usability. Heuristic Evaluation. 1 [email protected] 2 [email protected]

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Trabalho apresentado durante o 6º Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem – CONAHPA (2013) e publicado nos anais do evento.

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Moodle: Avaliação de Usabilidade da criação de cursos Web

Moodle: Usability Evaluation of the creation of Web courses

Roseane de Oliveira MARTINS1 Elton Rubens Vieira da SILVA2 Universidade de Pernambuco/UPE

Resumo Este artigo apresenta a avaliação de Usabilidade do MOODLE a cerca das ferramentas básicas do processo de criar, organizar e configurar cursos na Web. Para coleta de dados foi aplicado um questionário, para avaliar a satisfação do usuário com relação ao sistema e as técnicas de avaliação de Usabilidade Ensaio de Interação e Verbalização Simultânea. Como forma de avaliar os problemas de interação encontrados foi usado o método de Avaliação Heurística. Durante a Avaliação Heurística, foram identificados e classificados problemas de usabilidade quanto ao seu grau de severidade, e foram sugeridas melhorias para a interface, através de wireframes, com o objetivo de auxiliar o entendimento das sugestões propostas. As avaliações realizadas têm a intenção de provocar uma reflexão a respeito da usabilidade das ferramentas tomadas para análise e fornecer subsídios para o seu aprimoramento. Palavras-chave: Moodle. Usabilidade. Avaliação heurística. Abstract This paper describes the usability evaluation of MOODLE, about the basic tools of the creating, organizing and setting process of courses on the Web. To collect the data used a questionnaire, to assess user satisfaction about the system and the evaluation technique Usability Interaction Test and Think Aloud. In order to evaluate the interaction problems found we used the Heuristic Evaluation Method. In the Heuristic Evaluation was identified and classified usability problems according to their degree of severity, so were suggested improvements to this interface, through wireframes, in order to aid the understanding of the proposed suggestions. The evaluations are intended to provoke a discussion about the usability of the tools taken for analysis and provide input to improve it. Keywords: Moodle. Usability. Heuristic Evaluation.

[email protected] [email protected]

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1. Introdução

Na internet, atualmente, é possível encontrar várias ferramentas voltadas para questões

educacionais, tanto que o termo Web-based Education (WEB) foi cunhado. Na Web-based

Education usa-se a Internet como plataforma, este processamento é realizado em tempo real e

em escala mundial. Permite ao professor introduzir o aluno a uma rica variedade de texto,

links externos, áudios e vídeos para a sala de aula virtual (LYNCH; LYNCH, 2012). Nesta

modalidade de ensino, a interação é mediada também através de Tecnologias de Informação e

Comunicação (TICs) como uma estratégia de aumento das possibilidades de acesso à

educação, além de uma alternativa para a socialização dos conhecimentos a um maior número

de pessoas (SCHRÖEDER, 2009).

O Moodle é um sistema para a produção de cursos à distância baseado na Web

desenvolvido para dar suporte a atividades baseadas na teoria sócio construtivista. Foi

desenvolvido com a tecnologia LMS3, utilizada principalmente num contexto de e-learning4

ou b-learning5, sendo atualmente o mais utilizado na maioria das instituições de ensino são

46.913 sites em 200 países, incluindo o Brasil (CÔNSOLO, 2012).

Na Educação à Distância (EaD), a relação professor-aluno, os meios usados para

veicular a informação entre essas duas partes devem ter atenção especial entre os

administradores do ambiente. Assim, a interface torna-se um dos elementos mais importantes

nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), por ser a parte de um sistema

computacional com a qual uma pessoa entra em contato físico, perceptivo ou conceitual

(MORAN, 1981). A interação entre homem e ambiente virtual precisa permitir a utilização

das ferramentas da maneira mais natural possível, mesmo àquelas que não são familiarizados

com o ambiente. Criar designs adequados a cada área de conhecimento e assunto a ser

tratado, apontar os limites do ambiente para os administradores e indicar caminhos ou

alternativas para ultrapassá-los (SIMÃO, 2009, p.85) são características indispensáveis para

que o estudante alcance os resultados educacionais esperados, diante a utilização de um AVA.

O Moodle oferece grande variedade de funções e atividades, contudo uma boa usabilidade

dessas funções fará com que a interação professor-aluno ocorra eficientemente.

Nesse contexto, o presente artigo pretende responder a seguinte questão: Qual o nível

de Usabilidade das ferramentas básicas do processo de criar e organizar uma sala virtual no

MOODLE, utilizando o seu ambiente na Web. Estudando a reação de novos usuários no

3 LSM - Learning Management System, em português: Sistema de Gestão da Aprendizagem. 4 A aprendizagem no e-learning está baseada na experiência vivenciada pelos alunos durante o processo de aprendizagem através da interação social, pois o fundamental para essa modalidade de ensino não é a tecnologia mais a forma de ensinar (LIMA; CAPITÃO, 2003). 5 O b-learning faz uso de tecnologias fundamentado no ensino Just-In-Time utilizando tutoriais como ferramentas de apoio para a aprendizagem (LITTLEJOHN; PEGLER, 2007).

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ambiente, buscando impressões livres de qualquer condicionamento. Este artigo está

estruturado da seguinte forma: A Seção 2 apresenta a revisão da literatura com conceitos

sobre Usabilidade de Software, Educação à Distância, Ambientes Virtuais de Aprendizagem e

Interação Humano-Computador (IHC). A Seção 3 contém a metodologia utilizada para a

avaliação de Usabilidade do Moodle. A Seção 4 apresenta os resultados da análise dos dados

dos participantes e da avaliação de Usabilidade realizada. Por fim, a Seção 5 descreve as

considerações finais e as contribuições da pesquisa.

2. Revisão da Literatura

O processo de criar e organizar um curso a distância via Web envolve a prática de

utilizar recursos tecnológicos desenvolvidos em mídia on-line como fóruns, animações,

avaliações, exercícios interativos, blogs, links e materiais para impressão. As considerações

mais importantes na criação de cursos on-line são a legibilidade, capacidade de utilização e

complexidade da informação (MOORE; KEARSLEY, 2011).

Para desenvolver a Educação à Distância com suporte Ambientes Virtuais e Interativos

de Aprendizagem torna-se necessário à preparação de profissionais para desenvolver recursos

tecnológicos (softwares) condizentes com as necessidades educacionais (ALMEIDA, 2003).

É essencial que o AVA agrade e estimule o usuário, permita uma interação o mais amigável

possível e se mostre flexível o bastante para adaptar-se aos diversos perfis de usuários. Os

cursos criados para Web devem ser fáceis de navegar. Se bem projetada, à interface pode se

tornar uma fonte de motivação e, ainda dependendo de suas características, uma grande

ferramenta para o usuário. Contudo, a mesma interface pode se transformar em fator decisivo

para a rejeição do sistema (FERREIRA; NUNES, 2011). Uma característica importante das

interfaces em AVAs é a navegação. O termo tem sido utilizado com relação ao movimento

dos usuários em sistemas de informação analógicos e digitais. Navegação consiste em um

processo de movimentação entre nós de um espaço informacional utilizando links ou

ferramentas de auxílio à navegação. Uma boa estrutura navegacional auxilia na evolução da

usabilidade de um ambiente virtual (PADOVANI; MOURA, 2008).

Usabilidade é um atributo de qualidade que avalia a facilidade de utilização de

interfaces pelos usuários (NILSEN, 2003). Segundo a norma ISO 9241:11 (1998) a

Usabilidade pode ser especificada ou medida de acordo facilidade de aprendizado, facilidade

de memorização e baixa taxa de erros durante a manipulação do sistema. Essas condições

básicas são importantes para todos os tipos de usuários de um ambiente virtual, dos usuários

antigos àqueles que farão o primeiro contato com o sistema. Para a avaliação da adequação,

eficácia e qualidade dos sistemas é utilizada uma avaliação de Usabilidade.

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A avaliação de usabilidade caracteriza-se por utilizar diferentes técnicas voltadas em

sua maioria para a avaliação da ergonomia dos sistemas interativos, entre as quais destaca-se

o padrão normativo ISO 9241-11 (1998), “Requisitos Ergonômicos para Trabalho de

Escritórios com Computadores Parte 11 – Orientações sobre Usabilidade” e os

pesquisadores:Ben Shneiderman (1986), “Oito regras de ouro do design de diálogo”; Donald

Norman (1988), “Princípios de orientação”; Jakob Nielsen (1993), “Heurísticas de

usabilidade”; Bruce Tognazzini (1987), “Guidelines de Interface humana” e Christien Bastien

e Dominique Scapin (1993), “Critérios ergonômicos para avaliação de interfaces humano-

computador”.

3. Metodologia

A estratégia metodológica dessa pesquisa foi dividida em três fases (Figura1). Cada

fase desenvolvida para entender e estudar todos os aspectos relacionados às questões de

pesquisa.

Figura 1: Etapas da Metodologia

Em primeiro lugar, a revisão da literatura foi realizada para tornar-se a base de o

estudo. Após o estudo teórico, e identificação do problema, foi definido o universo da

pesquisa. O público-alvo consistiu em professores graduados ou em graduação em andamento

que desejam montar cursos em salas MOODLE disponíveis gratuitamente na Web. Como

instrumento de coleta de dados utilizou-se um roteiro com a técnica de avaliação de

Usabilidade Ensaio de Interação6 e a aplicação de um Questionário. Para a aplicação das

ferramentas de coleta de dados foi selecionada uma amostra de cinco professores, número

defendido por Nielsen (1990) como suficiente para encontrar 80% dos problemas usabilidade

de uma interface. O questionário teve como objetivo coletar dados sobre o perfil do usuário e

impressões sobre a interface que passaram despercebidos durante o Ensaio de Interação. A

classificação dos dados consistiu em duas etapas: caracterização do usuário e Usabilidade do 6 Um Ensaio de Interação consiste em uma simulação de uso do sistema da qual participam pessoas representativas de seu público-alvo onde são apresentadas algumas tarefas para o usuário realizá-las (CYBIS, 2000).

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Moodle. Nessa fase buscou-se averiguar o nível de experiência dos participantes da pesquisa

com relação ao uso do Moodle.

Para análise e classificação dos dados obtidos com o Ensaio de Interação foram

utilizados dois procedimentos: gravação da interação do usuário com o sistema usando um

software de captura de tela do computador e o método Verbalização Simultânea abordada por

Cybis (2000). Método que consiste em solicitar aos usuários que além de executarem a tarefa,

também comentem o que estão pensando enquanto a executam. Os comentários feitos pelos

participantes foram anotados para que posteriormente fossem analisados. Após a realização

do Ensaio de Interação e aplicação do questionário com os participantes, foi realizada a

Avaliação Heurística das funcionalidades do Moodle tomadas para análise, baseando-se nos

conceitos teóricos defendidos por Nielsen (2001). Para os problemas de usabilidade

encontrados foram sugeridas melhorias para sua interface através de wireframes7 e

intervenções projetuais em determinadas telas do sistema.

3. Resultados

3.1 Ensaio de Interação

Este processo de avaliação teve início quando foram apresentados aos 5 participantes

da pesquisa os principais recursos (cenários) do MOODLE8. Em seguida foram apresentadas

as tarefas a serem realizadas, sendo elas: a) Criar um curso; b) Inserir um usuário dentro do

curso criado, c) Ativar edição (torna possível a edição do bloco ou item); d) Acrescentar a

atividade Fórum no curso criado, ou seja, as funções mais básicas do AVA. A síntese dos

resultados obtidos com o Ensaio de Interação pode ser observada nas tabelas a seguir:

Tabela 1: Porcentagem de tarefas realizadas com sucesso

Tarefa Tarefas completadas com sucesso

Criar um curso 100 %

Inserir usuário no curso criado 80%

Ativar edição 100 %

Acrescentar a atividade Fórum 80 %

7 Wireframe é um rascunho de uma tela específica que posiciona a informação e a navegação, incluindo-se aí agrupamento, ordem e hierarquia do conteúdo (MEMORIA, 2005). 8Sala virtual previamente criada e disponível em: http://educacaoeadupe.freewebclass.com/course/view.php?id=2

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Apesar da simplicidade das tarefas estipuladas para essa fase da avaliação, a tabela 1

demonstra que duas atividades requeridas não foram completadas. Dos cinco usuários, apenas

1, representando 20% do total não realizou as tarefas correspondentes a inserir usuário e

acrescentar a atividade Fórum no sistema.

Lembrando que o não cumprimento de qualquer uma dessas tarefas implicaria na

ineficiência na gerência de um curso através do ambiente virtual. A Figura 2 mostra o tempo

total que cada usuário levou para completar as tarefas. Por serem as ferramentas mais básicas

do sistema, esperava-se a rápida execução das tarefas.

Porém, foi registrado usuários que levaram mais de 60 minutos para a execução das

atividades. Para o tempo cronometrado individualmente dos 5 usuários foi verificado que

primeiro levou 80 min para a realização das tarefas, o segundo 60 min, o terceiro 14 min, o

quarto 15 min e o quinto 34 min. Foi observado que mesmo sendo solicitados aos usuários

que executassem apenas as tarefas do roteiro, esses exploraram todos os recursos, links,

janelas e afins de cada tarefa.

Mesmo considerando o viés dessa exploração, é importante lembrar que esses recursos

fazem parte do sistema, e por isso não deve ser discriminado no processo de avaliação da

usabilidade do MOODLE.

0

20

40

60

80

100

1 2 3 4 5

Minutos

Figura 2: Tempo total (em minutos) para execução das tarefas.

Paralelo ao ensaio de interação foi executado também o método de Verbalização

Simultânea. Através do qual os usuários expuseram suas impressões em relação ao sistema,

em tempo real. Durante a execução dos métodos, 4 usuários apresentaram dificuldades em

identificar o objetivo de algumas ferramentas, como: no processo de acrescentar uma tarefa

solicitada, os usuários não conseguiram identificar quais campos dos formulários são de

preenchimento obrigatório, pois a legenda que faz tal identificação só é mostrada no final do

formulário o que não permite uma rápida visualização de quais campos são obrigatórios.

Percebeu-se que o processo de recorrer ao menu ajuda dos sistema (identificada pelo

ícone de uma interrogação que é disponibilizada em todos os campos de cada formulário e

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nas seções do site) gerou certa insatisfação para 2 usuários, já que muitas vezes a informação

fornecida pelo sistema não foi clara o suficiente.

Com os dados obtidos nessa avaliação conclui-se ainda que a maior dificuldade

encontrada pelos 5 usuários foi a falta de compreensão dos significado das nomenclaturas e

termos técnicos do sistema.

Tais problemas apontados pelos usuários tiveram influência direta nos resultados

demonstrados na tabela 1 e na Figura 2. A tabela 2 apresenta as tarefas realizadas conforme

os problemas de interação do sistema encontrados durante o Ensaio de Interação,

demonstrado o tipo de problema evidenciado pelos usuários em cada uma das atividades

solicitadas.

Tabela 2: Tarefas realizadas relacionadas com os problemas de interação do MOODLE.

Tarefa Problema

Criar um curso Atribuição de significado

Inserir usuário no curso criado Atribuição de significado/ Navegação

Ativar edição (tornar possível a edição do bloco ou item)

Incompreensão de como usar

Acrescentar a atividade Fórum (para a realização desta tarefa a edição precisa estar ativada)

Atribuição de significado/ Navegação

3.2 Questionário

Após o Ensaio de Interação foi aplicado o Questionário. Com relação à Usabilidade,

procurou-se conhecer o grau de satisfação dos 5 usuários com relação ao sistema e coletar

informações sobre a sua experiência durante o processo de criar e organizar um curso no

MOODLE.

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0 1 2 3 4 5 6

Nomenclaturas

Legibilidade das letras

Realces (ícones, cores, etc.)

Facilidade de aprendizado

Número de etapas para real izar

uma tarefa

Ajuda do sistema

Avaliações Negativas Avaliações Positivas

Figura 3: Dados coletados sobre Usabilidade do MOODLE

Os dados apresentados na Figura 3 correspondem às questões sobre o processo criar e

organizar um curso no MOODLE. Quanto às nomenclaturas dadas às janelas, tópicos e botões

3 usuários afirmaram que essas não são de fácil compreensão, 4 usuários classificaram a

forma e tamanho das letras como fáceis de ler, 4 usuários afirmaram que as tarefas podem ser

executadas de maneira rápida e/ou lógica, 3 usuários garantiram que o número de etapas para

a realização de uma tarefa é pequena, 4 usuários alegaram que o sistema disponibiliza um

menu de ajuda caso tenha alguma dúvida e os 5 usuários afirmaram que os realces (ícones,

cores, etc.) disponíveis são suficientes.

3.3 Avaliação Heurística9

A avaliação heurística foi realizada com o objetivo de estudar a usabilidade das funções

e atividades realizadas durante o ensaio de interação. Proporcionando uma justificativa teórica

para os problemas encontrados pelos participantes da pesquisa, ao utilizarem funções básicas

do MOODLE, assim como investigar outros problemas na estruturação da interface. Este

método de avaliação é baseado no julgamento dos seus avaliadores. Nessa fase, percorreu-se

a interface do MOODLE, relacionado os princípios de usabilidade (heurísticas) aos problemas

detectados classificando-os conforme o grau de severidade. Durante a avaliação, foi

encontrado um total de seis problemas. A descrição dos problemas de Usabilidade

encontrados pode ser observada nas seções a seguir.

9 A Avaliação Heurística, desenvolvida por Nielsen e Molich (1990) é um método de inspeção sistemático de Usabilidade que tem como objetivo identificar problemas de interação com a interface, a esses problemas são atribuídos graus de severidade.

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Problema 1: Página inicial

A página inicial (Figura 4) não deixa claro o objetivo do site, este problema, de acordo

com as observações realizadas, corresponde a Heurística 1 – Visibilidade e Status do sistema,

classificado com grau de severidade 2 (problema de baixa prioridade - pode ser reparado). A

recomendação para esse problema é que seja apresentada ao usuário na página inicial uma

visão ampla da estratégia pedagógica do MOODLE e das suas funcionalidades.

Figura 4: Página inicial atual do MOODLE

Problema 2: Formulários

Nos formulários ao longo do site existem palavras e/ou frases de interpretação

ambígua, o usuário não consegue identificar com clareza a informação que se pede. Este

problema é relativo à Heurística 2 - Relacionamento entre a interface do sistema e o mundo

real, classificado com grau de severidade 3 - Grave (Problema de alta prioridade - deve ser

reparado).

Figura 5: Mensagem “Inserir valor” referente ao preenchimento de campo obrigatório

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Para solucionar este problema, faz-se necessária a substituição das palavras e/ou frases

que não fazem sentido para o usuário por nomenclaturas mais compreensíveis e

contextualizadas com sua realidade.

Problema 3: Tratamento de erro do sistema

Quando aparece um erro a descrição é mostrada em inglês, este problema faz referência

a duas heurísticas diferentes: Heurística 2 - Relacionamento entre a interface do sistema e o

mundo real classificado e Heurística 9 - Ajude os usuários a reconhecer, diagnosticar e

recuperar de erros, classificado como grau, ambos classificados com grau de severidade 3 -

Grave (Problema de alta prioridade - deve ser reparado). Aconselha-se que os erros, quando

ocorrerem seja traduzido para a língua nativa do usuário. No caso dessa avaliação,

recomenda-se a tradução dos erros para a língua portuguesa.

Figura 6: Mensagem de erro do MOODLE

Problema 4: Legenda de campos obrigatórios nos formulários

Nos formulários, a legenda que identifica os campos obrigatórios só é exibida no final

da página. Este problema faz referência à Heurística 1 - Visibilidade de Status do Sistema,

classificada com grau de severidade 2 - Simples (Problema de baixa prioridade - pode ser

reparado). Recomenda-se a possibilidade da legenda ser colocada em uma área mais visível

do site, como por exemplo, o topo da página.

Figura 7: Legenda de campos obrigatórios em um formulário no MOODLE

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Problema 5: Ajuda do sistema

O site não possui uma seção “Ajuda” na página inicial. A ajuda é identificada pelo

ícone de uma interrogação e é disponibilizada em todos os campos de cada formulário e seção

ao longo da plataforma (Figura 8). Este problema é relativo à Heurística 10 - Ajuda e

documentação, classificado com grau de severidade 4 - Catastrófico (Muito grave, deve ser

reparado de qualquer forma). Como recomendação, sugere-se que seja criada uma seção de

ajuda ou um FAQ na página inicial apresentando uma breve descrição de seus recursos para

que os usuários entendam quais são e como estes funcionam.

Figura 8: Ajuda da seção “Criar um novo curso”

Problema 6: Ativar edição

A opção “Ativar edição” não deixa claro o objetivo da sua função, o usuário é forçando

a se lembrar de que toda vez que for acrescentar algum recurso ou personalizar suas

configurações deve acioná-la. Este problema é relativo à Heurística 6 – Reconhecer em vez

de relembrar, classificado com grau de severidade 3 - Grave (Problema de alta prioridade -

deve ser reparado).

Figura 9: Botão “Ativar edição” do MOODLE

Para a resolução desse erro, recomenda-se retirar o botão “Ativar edição” e permitir

que a edição seja realizada diretamente nos campos sem a necessidade desse processo ser

intermediado por um botão específico como é o que ocorre atualmente.

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4. Wireframes

Com base na análise dos problemas de Usabilidade encontrados e nas recomendações

para melhoria da interface discutidas na seção anterior, foram produzidos wireframes com

propostas para a mudança da interface do MOODLE.

Neste artigo os wireframes têm como proposta auxiliar o entendimento das sugestões

de melhoria descritas e também apresentar aos desenvolvedores quais elementos da interface

necessita de correção. É importante salientar que as indicações de melhoria limitam-se aos

problemas encontrados nos recursos tomados para análise. As recomendações apresentadas

são direcionadas ao FreeWebClass10 mas podem ser aplicadas em outros ambientes de

aprendizagem que utilizam a plataforma MOODLE. Pelo MOODLE ser uma plataforma de

software de código aberto, todas essas recomendações podem ser imediatamente

implementadas.

4.1 Página inicial

Para a página inicial (Figura 4 - seção 3.3 Avaliação Heurística) foram definidos dois

botões: um com o rótulo “Sobre” e o outro “Ajuda” como mostra a Figura 10.

Figura 10: Wireframe da página inicial

Os Wireframes das seções Sobre e Ajuda pode ser visto na Figura 11. Ao clicar no

botão “Sobre” (1) o usuário seria direcionado para uma nova seção do site onde por meio de

conteúdos multimídia (2) - infográficos, textos ou vídeos, teria uma breve descrição dos

10FreeWebClass é um servidor dedicado exclusivamente à hospedagem de salas virtuais MOODLE disponível em: http://freewebclass.com/.

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recursos disponíveis e uma visão geral de suas possibilidades de uso no MOODLE. Ao clicar

no botão “Ajuda” (1) o usuário seria direcionado para uma nova seção (2) onde encontraria

tutoriais em forma de texto, diagramas ou vídeos ensinando como usar os recursos ou

solucionar um determinado problema.

Figura 11: Wireframes da seção "Sobre" e "Ajuda"

A proposta dispõe ainda de um espaço para enquete na página inicial (Figura 10)

visando à possibilidade de que as respostas coletadas sirvam posteriormente como base para a

construção de um FAQ.

4.2 Formulários

Para os problemas referentes às nomenclaturas dos formulários, a criação e inserção de

atividades propõe-se a reestruturação das informações, tornando-as mais detalhadas, simples e

diretas. No formulário correspondente ao processo de criar um novo curso, substituiu-se a

descrição do campo “Nome completo” por “Nome completo do curso” conforme mostra a

Figura 13, pois os usuários confundiam a informação preenchendo o campo com o seu nome

completo, ao invés de informar o nome completo do curso.

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Figura 12: Novo rótulo do campo do formulário para criar um novo curso

No formulário para acrescentar a atividade Fórum, substituiu-se a palavra “Inserir um

valor” por “Este campo não pode ser deixado em branco” (Figura 14) por se tratar de um

campo de preenchimento obrigatório.

Figura 13: Novo rótulo para o feedback do campo obrigatório do formulário

Com base nas observações realizadas no Ensaio de Interação e na Avaliação heurística,

a substituição do rótulo desse campo se faz necessária, já que a mensagem “Inserir um valor”

não informa com precisão qual tipo de informação deve ser inserido. Como os formulários

são muito longos, propõem-se ainda que a legenda informando a existência de campos

obrigatórios fique localizada em uma área mais visível. Nesse caso, a legenda que ficava no

final do formulário passou para o seu inicio conforme exemplifica a Figura 15.

Figura 14: Nova localização da legenda indicativa de campos obrigatórios no formulário

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4.3 Botão Ativar edição

Para o botão “Ativar edição” recomenda-se a sua exclusão, fazendo que a edição das

configurações sejam realizadas diretamente nos campos ou seções da interface. Não mais

havendo a necessidade do intermédio desse botão para incluir atividades, personalizar a

interface ou fazer alterações nos blocos de informação, como exemplifica a Figura 16. Essa

mudança busca tornar a ativação da edição mais natural aos usuários, atrelando aos conteúdos

e não à sala de aula virtual.

Figura 15: Wireframe da edição dos campos e seções do MOODLE

5. Considerações finais

Ao fim da pesquisa, foi possível levantar dados importantes em relação à usabilidade

do AVA MOODLE. Durante todo o estudo, através dos métodos de pesquisa, percebemos

que os participantes da pesquisa apontaram vários problemas de usabilidade no sistema, e

todos esses problemas já haviam sido discutidos exaustivamente nos textos de Nielsen (1990,

2012), e por vários outros autores da área, como Agner (2008), Schneiderman (1998) e a

própria ISO 9241-11 (1998). Essas falhas apontam a falta de acuidade e, até mesmo, descaso

dos desenvolvedores do sistema MOODLE. Questões como recuperação de erros,

memorização e visibilidade das ferramentas do sistema, foram destacadas por seus conceitos

negativos durante a realização do Ensaio de Interação. Todos esses problemas influenciam

diretamente no modo de uso do sistema, pois abordamos suas funções mais básicas, e,

tratando-se de um AVA, essas dificuldades se tornam ainda mais críticas.

As recomendações presentes no texto se apresentam de fácil execução, e auxiliam a

combater os erros apontados pelos participantes da pesquisa, relacionados a questões de

Page 16: Moodle: Avaliação de Usabilidade da criação de cursos Web

16

Usabilidade e Navegabilidade. Modificação do sistema de rotulação e diminuição dos links

nas telas foram soluções para auxiliar a Navegação do sistema, que segundo Padovani e

Moura (2008) auxiliam na usabilidade do MOODLE. O desenvolvimento de um AVA requer

mais cuidado com essas questões de usabilidade, dado o seu objetivo principal. Porém o

MOODLE, por ser um sistema de código aberto, apresenta a vantagem de ser flexível, sujeito

a mudanças e passível de acompanhar o estado da arte da Usabilidade e Interação Homem-

Computador.

Neste artigo ainda, os wireframes têm como proposta auxiliar o entendimento das

sugestões de melhoria descritas e também apresentar a desenvolvedores quais ferramentas

básicas da interface do MOODLE necessitam maiores cuidados e correções. Esta é uma

pesquisa importante para o softwares de EAD, levando em consideração a relevância de

estudos na área de Interface Humano Computador – IHC, Usabilidade, Qualidade de

Softwares e de Ambientes Virtuais de Aprendizagem. O próximo passo da pesquisa é

investigar também a perspectiva de professores a Usabilidade do MOODLE em outras

ferramentas específicas, e também consideradas básicas, como a inserção dos recursos Lição,

Glossário e Questionário, por essas ferramentas permitirem que o professor ao criá-las possa

avaliar a produção dos seus alunos dentro do próprio sistema.

6. Referências Bibliográficas

AGNER, L., Ergodesign e arquitetura de informação; trabalhando com o usuário. Rio de

Janeiro: Quarter, 2. ed. 2009.

ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Tecnologia e educação a distância: abordagens e Contribuições dos ambientes digitais e interativos de Aprendizagem. (2003). Disponível em: http://www.imed.edu.br/files/contents/9.PDF. Acesso em 20 de abril de 2012.

CÔNSOLO Adriane. MOODLE no Brasil e no mundo. Disponível em: http://www.moodlelivre.com.br/categoria/34-noticias/24-moodle-no-brasil-e-no-mundo.html. Acesso em 30 de março de 2012.

DUARTE. Newton. Vygotsky e o aprender a aprender. Editora AUTORES ASSOCIADOS. 2000.

FERREIRA, Simone Bacellar Leal; NUNES, Ricardo Rodrigues. e-usabilidade. Rio de Janeiro – RJ: LTC, 2011.

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