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MORGANA, MINHA FADA Elaine C. Pegas 1

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Minha vida com Morgana, uma pinscher

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MORGANA, MINHA FADA

Elaine C. Pegas

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MORGANA, MINHA FADA, MEU AMOR

Primeiro tenho que explicar que seu nome surgiu antes de você. Nas Brumas de Avalon conheci a personagem “Morgana das Fadas”, sobrinha de “Viviane, a Senhora do Lago”. Quem conhece a estória entende muito bem que Morgana está muito longe de ser uma bruxa. É a FADA MORGANA. Poderosa e singular, irmã do Rei Arthur.

Estávamos em Monte Alegre do Sul e ficamos imaginando como seria ter uma cachorrinha chamada “Morgana”. Saímos correndo de volta a São Paulo e no mesmo dia fomos “comprar” você.

Imagine, a Dona Angelina disse que não lhe venderia porque você seria reprodutora, então, dobramos o preço e ela não resistiu ao “vil metal”.

Pronto, você era nossa. Nossa Morgana virou realidade.

Agora que está tudo explicado, passo a narrar minha nova vida, que, aliás, nem me lembro mais como é viver sem a minha Morgana, SEMPRE AO MEU LADO.

Não há mais tempo, mas pra nós tudo bem.

Tivemos o nosso tempo. Longo, diga-se de passagem, e o usamos de todas as formas que poderíamos usá-lo.

Você se lembra de quando você chegou a nossa casa numa caixinha de sapatos. Sua barriga cheia de vermes, e a partir daí só saía uns macarrões.

Superando os macarrões, a vovó disse que não queria nenhum bicho, então íamos juntas para o meu trabalho, dias seguidos, até você querer morder o Dr. Adalberto. Lembra? Você o colocou sobre a mesa diante da ameaça de seus dentes em forma de alfinetes.

Nunca vi isso na minha vida, um filhotinho bravo, mas ao mesmo tempo brincalhão. Você ganhou muitos brinquedinhos e rolava pra lá e pra cá com todos.

Logo no início, nós percebemos que você não latia, e aí, a Rita teve a brilhante idéia de ficar agachada na sua altura latindo para você, achando ou quem sabe, lhe ensinando mesmo a latir.

Morgana, você aprendeu rápido. Nunca mais parou. Daí pra frente foi tudo na base da latida. Foi assim que você começou a mandar na gente.

Também teve a fase da coleira. Você não saía do lugar e eu pensava: “Meu Deus, ela nunca vai passear comigo”. Que nada, rapidinho você entendeu que a coleira era para você, mas a guia era para mim, ou seja, você determinava o caminho e todos os “pit stops” para uma cheiradinha e um xixizinho.

Depois teve a fase do xixi no lugar errado. Bronca da vó! (em cima de mim, é claro). Comprei “pipidog”, barulho com jornal, cara no xixi e nada adiantou. Um belo dia, chegamos a casa e a vó estava sentada toda orgulhosa dizendo: “vão lá para o

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banheiro”. Surpresa!!!! Uma rodinha de xixi no jornal. Não sei como, mas ela te ensinou.

Ensinou-lhe tão bem que você saía pra passear e tínhamos que voltar ao apartamento para você fazer xixi no seu cantinho. Que absurdo! Só você mesmo.

Depois você conquistou aquela “velha” adorável e se tornou a rainha do lar. Mandando em tudo e em todos.

Sempre foi assim. Destemida, ousada, determinada. E eu fui aprendendo isso com você.

A partir daí passei a lhe chamar de “Natasha”, época da novela “Vamp”. Uma vampirinha de orelhas enormes e dentes afiados, sempre prontos para furar alguma coisinha que surgisse em seu caminho. A musiquinha de fundo era “Calada Noite Preta”.

Pois bem, eu chegava do trabalho e a gente ia brincar de lutinha no sofá na hora da novela e sempre acabávamos levando a maior bronca da Rita e da vó porque elas nem conseguiam ouvir a droga do Jornal Nacional.

Foram anos de queijo frescal e café com leite na xícara.

Então veio a segunda parte do seu legado, salvar a vovó. Morgana, você fez com que ela vivesse um pouco mais de tempo com a gente, você passou a ser a grande companheira e até a enfermeira.

Ela mudou uma poltrona de lugar só para você alcançar a janela da sala, e aí vocês ficavam juntas, olhando a gente sair para o trabalho. Era até engraçado.

Vocês saíam para passear, nessa altura você já era um “az” na coleira. As amigas da vovó diziam: “E aí dona Mercedes, vai passear com a Morgana?”. Ela respondia com irreverência que lhe era própria: “Não sou eu que levo a Morgana passear, ela é que me leva”. De alguma forma ela tinha razão.

Também cansei de chegar do trabalho e encontrar vocês duas no saguão do prédio, junto das amigas dela. Você ficava ali o tempo todo e parecia entender a conversa das velhas.

Sua relação com a vovó foi ficando cada vez mais íntima e profunda.

Teve um dia que você me atacou de verdade só porque eu me aproximei da vovó que lhe segurava no colo. Eu só queria dar os remédios a ela, mas você decidiu virar um cão de guarda e me furou toda.

Como naquele dia em Monte Alegre, eu mordi sua bunda e no mesmo minuto você revidou e mordeu minha cara. Que raiva.

Basta olhar para sua carinha e ver que você não estava de brincadeira.

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Você ia conosco para todos os lugares, viajando, passeando, conhecendo cheiros, sabores e amores.

Certa vez em Pirassununga você bebeu toda a cerveja de todos os copos que estavam na borda da piscina, e para completar a sua esbórnia, comeu muito amendoim. Quando a gente percebeu, você estava totalmente bêbada. Teve uma “ressaca” monstruosa, foi parar até no prontossocorro e a vovó disse assim: “Bem, deixa eu tomar banho e ficar um pouco com a Morganinha porque ela vai morrer ainda hoje.”

Morreu nada. A ressaca passou. Mas é certo que você ficou tomando remédios para o fígado por muitos meses.

Toda vez que a gente ia viajar tinha um problema. A vovó dizia: “Vocês vão, mas a Morgana fica”. Era uma disputa ferrenha. Ela queria que você dormisse com ela e lhe chamava de filha e eu retrucava dizendo que ela era vó. A mãe era eu.

Teve um dia que ela viajou e você ficou com tanta raiva que comeu todo o fio do rádio dela, lembra? Ficou praticamente só o “plug”.

Depois, chegou seu primeiro drama: se despedir da vovó. Como você sofreu, meu Deus! Eu pensei que você ia embora com ela. Dava para ver que o amor que você sentia era mil vezes maior do que os seus três quilos.

Bem, ficamos bem juntinhas e superamos tudo isso. Sem esquecer que decidimos que você deveria ser mãe. Isso ajudaria a eliminar a sua tristeza pela perda da sua vó.

Arrumamos um namorado bem bonitinho, o “Puck”. Você ficou muito apaixonada e acabou nascendo o Léo.

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Você lambia esse cachorro que de preto ele ficava azul. Puro brilho. Depois, ele foi embora pra casa da minha mãe e você não parava de procurá-lo.

Como não deu certo de você ter uma filha resolvemos adotar a Cléo.

Nossa, ela chegou a casa e nós resolvemos que ela deveria mamar em você. Abrimos suas perninhas e você ficou louca de raiva. Deu tudo errado.

Você ficou com tanta raiva e nem queria chegar perto dela. Mas um dia a gente viu você se aproximando para fazer um carinho, e é claro, quando você percebeu que nós estávamos olhando, logo tratou de fazer uma cara de mau e se afastar dela. “Fingidinha”.

Você se apaixonou e enfim o plano deu certo. A Cléo era uma gracinha e vivia te atormentando.

Vocês duas então passaram a aprontar muitas e muitas artes. Lembra? A Cléo subia nos móveis, roubava comida e vocês escondiam sob a cama para ninguém ver vocês comendo.

Como sempre, você era a líder da nossa pequena matilha.

Eu sempre levava algumas broncas da Rita porque cedia a todas às suas vontades. TODAS.

Mas como não ceder, Morgana? Você me amava tanto que conseguia ler a minha alma. Você conseguia esquentar a minha alma.

Engraçado como aconteceu tudo isso com a gente. Afinidade divina. Eu conhecia até o brilho dos seus olhos, eu também podia ler a sua pequena e grande alma.

Fomos seguindo assim, anos, anos e anos. Você me esperava chegar do trabalho, então sentava ao meu lado no sofá e jantávamos juntas. Eu lhe dava grãozinhos de arroz, lascas de pizza e um pouco de Coca-Cola.

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Depois íamos pra nossa cama, isto porque “casinha” era coisa de cachorro e a essa altura você era parte de mim. Então, os cachorros, que dormissem na casa de cachorro, você tinha que ficar SEMPRE AO MEU LADO.

Mesmo assim, de vez em quando, eu levava alguma surra. Não mais que a Rita, que apanhava todo dia. Era muito engraçado. Eu chegava a casa e ela falava: “Olha, a

Morgana me bateu”, e eu dizia: “Você tem que conhecer o que ela gosta e o que ela não gosta. Se fizer o que ela não gosta, apanha”.

Assim fomos seguindo, sempre juntas. Eu dizia que quando a Morgana fosse embora, eu iria ficar sem alma.

Bom, continuamos assim, a Rita descobriu seu lema: “AMAR A ELAINE SOBRE TODAS AS COISAS”.

Pois bem, um belo dia tivemos uma oferta: “Vocês querem um filhote de “basset”?” Claro que quisemos. Daí surgiu a Sara. Ela foi crescendo, crescendo e a gente viu que aquele “basset” na verdade era um “pinscher” “abassezado”. Mas que conquistou todo mundo, principalmente a Cléo.

Nesse período, eu não sei se você foi excluída ou se você se excluiu. Na verdade, isso nunca te aborreceu, afinal de

contas, o que importava para você era ELAINE.

Eu tinha duas sombras, a minha e o seu corpinho de três quilos e oitocentos gramas por causa das pizzas e das Cocas.

Andando e sendo seguida. Quando você resolvia que queria alguma coisa, ai de mim se não obedecesse, e acredite Mô, eu obedecia com dedicação.

Você era tão folgada e decidia a hora que eu tinha que ir dormir. Eu ia para cama na hora que você mandava. Ali nós continuávamos a brincar de lutinha. Eu fingia que tinha medo de você e você adorava isso. Era muito legal.

Tinha vezes que você ficava latindo na gradinha do seu quarto querendo sair de qualquer jeito. Se a grade não estivesse travada, você rapidamente a abria com a pata, daí, só a Super Nanny para dar um jeito.

Tinha que desligar o videogame porque você aparecia na sala me olhando fixamente com censura, uma vez, duas vezes, e na terceira, é claro que eu obedecia.

Continuamos assim, você foi envelhecendo, mas nunca perdia o vigor. E que vigor. Aí você deitava no meu peito para eu lhe fazer carinho, e é claro que você devolvia me dando muitas lambidas com o bafinho que para mim era perfume. Enquanto isso eu dizia: “Deus,

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abençoe seu pulmãozinho, seu coração, e os seus órgãos”, dizendo por fim, “Deus te abençoe, meu amor”. E ele abençoou.

Eu punha você entre as minhas pernas, lhe cobria e ali ficávamos até o dia amanhecer.

Às vezes, no meio da madrugada você queria água, e é claro que eu já tinha seu potinho preparado bem ao lado da cabeceira.

Teve o tempo de mudar do apartamento por causa da Hadija, afinal, a Cléo tinha a Sara e ambas continuavam lhe ignorando, não que você se importasse com isso, afinal, elas eram apenas duas cachorras e você era parte de mim.

Então em comprei a sua cadeirinha e você ia e vinha TODOS os dias da minha casa para a casa da Rita. O primeiro dia que eu te coloquei na cadeirinha você fez cara de rainha.

Não importava a hora. Você me esperava. Então eu chegava à porta da sua casinha, mostrava a cobertinha amarela e você saía rapidinho, porque sabia que ia embora comigo.

Um dia eu esqueci a sua cadeirinha, coloquei você na mala, imagina o que aconteceu. Você continuou achando que era rainha. A minha rainha.

Pela manhã, você me acordava às 05h30min. Que disposição! Saía para a garagem, fazia xixi e começava a exigir: queijo branco, cenoura, enfim, desejos, desejos......que pra mim eram ordens.

Quando eu ia pra Ibiúna ficar mais tempo, ia primeiro com a Hadija, ficava só dois dias, porque a Rita ligava falando: “A Morgana está no limite com sua ausência”, daí eu voltava, deixava a Hadija e ia com você.

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Eita, era só cheirar matinhos, deitar na caixinha vermelha forrada de cobertinhas tomando o maior sol. Na hora do banho, é claro que eu apanhava.

Depois a Rita descobriu que vocês poderiam conviver numa boa e, é claro, a Hadija com seus trinta e cinco quilos se prostrou diante de sua majestade.

Você era tão atrevidinha e mordia as bochechas dela, e ela achava aquilo genial.

Nesse decorrer do tempo, você ganhou vários apelidos: MO, MOMO, MORGAN CITY, LILLYPUT, GULLIVER, MORGANINHA, NUCHA, NUCHINHA, TORRESMO, CHURUMI, GASSEC (o professor da Eliane que é imortal).

Então, em dezembro você amputou uma parte da orelha esquerda e como eram férias escolares, pedi para a Rita deixar as três comigo, e daí, advinha, não devolvi ninguém.

Você devagarinho se afeiçoou à Rosa e como já era esperado, passou a mandar nela também.

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Bem, quanto a Hadija, no finalzinho, ela conseguiu o que tentou a vida inteira: o seu afeto. Você frequentava o quarto dela amiúde e já nas últimas semanas tirou um cochilinho ao lado dela.

De dia, você cercava a Rosa, e à noite quando eu chegava, pronto, só andava atrás de mim. Às vezes eu dava uma corridinha e você rapidamente corria atrás de mim. Era tão lindo ver você correr atrás de mim.

Na hora do meu banho, eu só via uma sombrinha preta do lado de fora do box, sentada no tapete me velando.

Era legal também quando eu escutava você pular a gradinha. Sua coleira com a medalha de Nossa Senhora batia na grade e fazia um tilintar alegre. Também era muito legal quando você fazia barulho na sua marmitinha, balançando ela pra lá e pra cá na hora das suas refeições. Claro, com o cardápio que você escolhia no dia.

De manhã, eu saía com a Hadija e você ficava na sua cama. Daí eu voltava, te pegava no colo e íamos as três para a pracinha.

Nossa! Lá na quadra você dava o maior trabalho. Era só eu me distrair e você fugia para o lado da grama. Sebo nas canelas! Você corria como uma lebre. Finalmente eu cedia e íamos passear na grama, nós três.

Depois que você cheirava toda a praça, voltávamos para casa.

Nossa, parece que essa praça agora se mudou para o Japão.

Às vezes você acordava indisposta e fazia um cocô muito esquisito. Eu te ressuscitava com “Convalescence” e “Bactrim”. Pronto. No dia seguinte estava nova.

Até que fomos para Ibiúna, eu você e a Hadi. Ela mancando e você muito esquisitinha. Quieta, sem apetite.

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Achei estranho e logo lhe levei até a Laira.

Fizemos alguns exames e você tomou um soro no sábado e outro no domingo, dia 19 de junho.

Fiz de tudo pra ver se você comia e nada. Bem, fomos dormir. Aí, por volta das 22h você passou mal, falta de ar, tosse e língua azul.

Desesperadamente lhe levei ao pronto socorro. Edema. Furosemida e furosemida...

No dia seguinte você ficou mal de novo. Furosemida e furosemida...

Até que no dia 21 de junho achei que você estava morrendo.

Aí mudamos, passamos para soro, Complexo B, Legalon, Ornitagim, Lasix e Aldactone.

Você tomou várias picadas e às vezes queria morder todo mundo.

Como era de se esperar, você melhorou.

Achei que tínhamos mais um tempo, mas para a minha triste surpresa, dia 26 de julho você teve falta de ar. Mais furosemida. De madrugada foi estranho, você sentiu mal e ficou com a cabeça pra trás e a boca travada. Pensei que era queda do potássio. Dei Coca-Cola e você voltou, sem contar as pencas de banana que eu fiz você comer: potássio.

Aí já voltou a debilitação por conta do furosemida, mas parecia que você reagia.

Na quinta, dia 28 de julho você desmaiou de novo, desta vez com a Rita. Coitada.

Pois bem, a sexta-feira foi bem legal, passamos o dia juntas. Levei você na RK para fazer exame de sangue. Para nossa surpresa o exame estava legal, até seu fígado havia melhorado e muito.

Sábado, dia 30, você passou bem, passamos novamente o dia juntas, até que à noite, você passou mal outra vez, e por sorte o Dr. Paolo estava conosco.

Eu olhei para você e disse a todos: “Ela não está bem”. Ninguém percebeu, mas eu lhe conhecia como ninguém.

Você desmaiou de novo e desta vez eu soube pelo Dr. Paolo que era decorrente do coração que parava por alguns segundos.

Fizemos de tudo. Furosemida, inalação, mas desta vez, seu velho coração decidiu falhar.

Aí meu bem, na manhã do dia 31 de julho de 2011, após dezoito anos e nove meses de sua vidinha, eu tive que tomar a decisão mais difícil da minha vida. Terminar com o seu sofrer, com sua falta de ar e seus desmaios.

Tudo isso era incompatível com a minha valente fada, e eu lhe prometi que faria de tudo pra você viver bem, e viver bem às vezes, pode significar “partir sem dor”.

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Fomos embora para a clínica, você, a Lili e eu.

Enquanto eu aguardava a Lili chegar, fiquei todo o tempo com você em meus braços, rezando, rezando para tudo terminar, não fiquei longe de você nem por um minuto.

Lá na clínica demos início ao processo de despedida. O Dr. Paolo disse assim, “Ela não vai sentir nada, eu lhe prometo”. O primeiro passo antes do fim era a anestesia. Até este momento eu estive ao seu lado. Até quando lhe restava o mínimo de consciência.

Será que você lembra que mordeu a Lili na hora da anestesia?

Ela teve a honra de levar a sua última mordida. Fiquei até com um pouco de inveja.

Daí, meu bem, eu voltei pra casa só com a sua cobertinha lilás e seu suéter rosa.

Recolhi o restinho de ração que você nem chegou a comer. Doei toda a sua comida, guardei seus remédios e alguns eu estou tomando tá?

Tirei as grades da cama. Lembra o porquê das grades? Você não tinha limites. A cama era alta, mas se você decidia descer, pulava mesmo. A Marcelle me deu a idéia que funcionou muito bem, com as grades de berço eu podia dormir tranquila sem que você tivesse uma “queda livre”.

A cama ficou ridícula sem as grades. O quarto ficou gigante sem a sua cama, e o sofazinho da Hello Kit, eu não posso nem ver.

Você adorava deitar na Hello Kit. Aquilo era só seu amor, e sempre será.

Tenho que lhe contar que a Hadija herdou a sua camona rosa. Acho que ali tinha um pouquinho do seu cheiro. Mô, se você visse que engraçado, aquela cachorra enorme deitada “de bolinha” só para caber na sua cama.

A Sara também estranhou a sua falta, está cheia de mimos e nunca mais parou de me beijar. Parece que ela sabe o tamanho da dor que se instalou em meu peito.

Agora eu estou aqui. Sei que tenho as meninas (Cléo, Sara e Hadija), sei que tenho a Rita, a Lili e a Marcelle, mas falta um enorme pedaço de mim.

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De uma forma palpável ainda tenho você, meu bem. Você foi cremada e colocada em uma urna ecológica, e depois vai viver junto a uma plantinha lá em nossa casa, sempre comigo.

Estou perdida na nossa casa Mô, ando e nem sei para onde vou.

Quando estaciono o carro, o silêncio me ensurdece, pois você me esperava latindo.

Escuto você pular a grade. Preciso lembrar que não tenho que fazer seu café da manhã.

Tomo banho com a porta fechada, porque sei que não vai ter minha sombra preta sentada no tapete.

Não quero ir para a cama que ficou fria e vazia. Sem sentido algum.

Estou tentando viver, sei que tenho que seguir, tenho vidas sob minha responsabilidade, mas na verdade, eu apenas disfarço a minha dor para que elas não se sintam tão mal, na verdade Mô, acho que morri também.

Meus dias sem você são vazios e solitários, por mais que eu esteja cercada das meninas e das pessoas.

Meus dias sem você são tão longos e tão duros, com falta de ar e tão cheios de nada. As horas não têm princípio e nem fim.

Eu vou seguir adiante, mas preciso aprender a viver sem você. Sei que serão longos dias de dor insuportável.

Bem, isso não pode ser um problema seu querida. Todas as noites e todas as manhãs eu vou cheirar sua coleirinha que está atada aos pés de Nossa Senhora, lá no nosso quarto.

Aliás, eu agradeço os quase 19 anos que eu tive o prazer de viver ao seu lado. Você faria aniversário no dia 09 de outubro.

Não reclamo de nada, apenas agradeço. Você nunca ficou doente, nem cega, nem surda e ainda tinha muitos dentes. Você teve uma vida privilegiada e uma morte indolor, ao meu lado, até o fim.

Como eu havia lhe prometido, ficamos juntas até o último minuto.

É uma vida inteira e intensa para que eu escreva tudo em um papel. Todas as lembranças estão imortalizadas na minha mente e no meu coração, e até nas fotografias.

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E hoje Mô, eu só quero lhe agradecer a melhor companhia do mundo, agradecer por tudo que você me ensinou: coragem, determinação, perseverança e autoconfiança. Ensinou-me que o amor pode ser incondicional, até mesmo no dia que eu vomitei “Toddynho” em cima de você.

Quero te agradecer em nome da Cléo, da Sara e da Hadi, porque elas só puderam entrar na minha vida graças a você. Você abriu os horizontes para que eu desejasse viver com animais, ou anjos de quatro patas.

Agora meu amor, descanse em paz, e se for possível encontre com a vovó, ela lhe ama muito também.

Leva com você a certeza de que nos amamos com devoção e nunca desperdiçamos nem um minuto de nossas vidas juntas.

Você sempre estará em meu coração, como a minha fadinha querida, e eu nunca vou lhe esquecer e tampouco lhe decepcionar.

No meu tempo eu vou reaprender a viver sem você, mas, acredite que você mudou a minha vida, me deu a maior alegria em toda convivência e a maior dor na despedida.

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Fico aqui esperando o dia no nosso reencontro, porque se isso não for possível, então nada faz sentido.

Talvez você volte para mim de alguma forma, quem sabe, são tantas histórias de amor e a gente sabe que o espírito não tem fim. Nesse caso, eu lhe reconheceria até no corpo de uma leoa ou mesmo de uma calopsita.

Te amo, meu amor. Lembra? Eu lhe dizia isso todos os dias, todos os dias.

Diferente do filme “Sempre ao seu lado”, você partiu e eu é que vou estar no mesmo lugar, sempre te amando e pensando em você, até o último dia da minha vida.

Cheguei ao extremo lhe homenageando com tatuagens de seu nome e seu rostinho no meu braço. Parece loucura, mas isso de alguma forma trouxe você mais perto de mim, se é que isso é possível.

Antes de dormir, todas as noites, peço para Nossa Senhora cuidar de você, porque agora eu já não posso mais.

Quero que você saiba que eu sou quem eu sou porque você me amou.

Morganinha, obrigada por tudo e descanse em paz meu amor, não se esqueça nunca que aqui na Terra tem um coração que bate forte por você, todos os dias, todos os minutos, sem jamais te esquecer. TE AMO!

Agora quero deixar aqui postadas algumas fotografias. Sempre recorro a elas e aos pequenos filmes para matar um pouco da saudade que sinto de você, mas na verdade, sempre que os vejo, a saudade acaba aumentando ainda mais.

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Sei que será sempre assim, então vou aprender a viver com essa dor.

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“Avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu assim sem você

Futebol sem bola, Piu-Piu sem Frajola, sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim, se o meu desejo não tem fim

Eu te quero a todo instante, nem mil altofalantes vão poder falar por mim

Namoro sem beijinho, Bochecha sem Claudinho, sou eu assim sem você

Circo sem palhaço, namoro sem amasso, sou eu assim sem você

Tô louca pra te ver chegar, tô louca pra te ter nas mãos

Deitar no teu abraço , retomar o pedaço que falta no meu coração

Eu não existo longe de você e a solidão é meu pior castigo

Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio tá de mal comigo

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta, Romeu sem Julieta, sou eu assim sem você

Carro sem estrada, queijo sem goiabada, sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim, se o meu desejo não tem fim

Eu te quero a todo instante, nem mil altofalantes vão poder falar por mim

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Eu não existo longe de você e a solidão é meu pior castigo

Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio tá de mal comigo” FIM

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