mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

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NEIVO ZAGO LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM INGLÊS: UMA QUESTÃO DE LÉXICO OU DE CONHECIMENTO PRÉVIO? DISSERTAÇÃO DE MESTRADO UFSM Santa Maria, RS, BRASIL 1998

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NEIVO ZAGO

LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM INGLÊS: UMA QUESTÃO DE LÉXICO OU DE CONHECIMENTO

PRÉVIO?

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

UFSM

Santa Maria, RS, BRASIL

1998

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LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM INGLÊS: UMA QUESTÃO DE LÉXICO OU DE CONHECIMENTO PRÉVIO?

por

NEIVO ZAGO

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos, da Universidade Federal de

Santa Maria (RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de MESTRE EM LETRAS.

Santa Maria, RS, BRASIL

1998

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À Guiomar e ao Felipe que participaram

desta e de outras caminhadas, sempre

torcendo pelo bom êxito das minhas

empreitadas. Pelo seu estímulo e presença

constantes, mesmo nos momentos de

ausência, e pela compreensão sem medida.

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“Reading is a skill that must be practiced

constantly and reinforced whenever possible

over a long period of time” (GRABE, 1988, p.

199).

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UFSM

LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM INGLÊS: UMA QUESTÃO DE LÉXICO

OU DE CONHECIMENTO PRÉVIO?

Neivo Zago

DISSERTAÇÃO EM LETRAS

Março, 1998

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xii

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xiii

AGRADECIMENTOS

Este trabalho representa a soma de esforços conjugados porque,

sem eles, seria impossível realizá-lo. Por isso, faz-se necessário agradecer

aos que, de uma ou outra maneira, participaram desse processo.

Em primeiro lugar, a Deus - fonte inesgotável de Sabedoria,

Conhecimento e Bondade - a quem devo o dom da vida.

Aos meus pais Ovídio Augusto (in memoriam) e Luiza Maria.

À direção da URI, pela oportunidade concedida e apoio prestado.

Aos colegas do Departamento de Letras da URI que, na medida do

possível, emprestaram a sua solidariedade, especialmente à profª Helena e

ao Honorino pelas leituras realizadas.

À coordenadora do Mestrado em Letras da UFSM, Profª. Drª.

Amanda E. Scherer, e ao vice-coordenador Prof. Dr. Pedro Brum Santos

pela compreensão e incentivo e às secretárias Irene e Cléo pelo bom

atendimento e presteza.

Aos professores do Curso do Mestrado, pelo saber transmitido e pela

amizade compartilhada.

À profª. Ana Bittecourt, pela leitura e pelas sugestões por ocasião da

defesa prévia.

À ex-delegada de Ensino, Profa. Onilse Klein Farina pela

intermediação na obtenção da licença para afastamento, e à atual delegada

Profa. Carlinda P. Farina.

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xiv

À Secretaria Estadual da Cultura (SEC), pela concessão da licença

acima referida.

À CAPES, pelo apoio financeiro.

À colega Najara, pelos bons e preocupantes momentos

compartilhados, e ao colega Hamilton pelo apoio efetivo, nas pessoas dos

quais incluo os demais colegas da turma.

À família Dioni e Dirce Guarnieri, especialmente ao Fernando, pela

acolhida e hospitalidade em Santa Maria; ao Mauro e ao Márcio.

Aos sujeitos da pesquisa, aqui denominados X, Y e Z, mas cujos

nomes verdadeiros jamais serão esquecidos.

Um agradecimento muito especial à minha orientadora, Profa. Dra.

Désirée Motta-Roth pela orientação e acompanhamento, compreensão e

dedicação presentes em todos os passos dessa caminhada; a Antônia,

Vitória e Titi, pelas constantes ‘invasões’ da sua privacidade.

Enfim, aos que porventura não foram aqui nomeados, o meu sincero

agradecimento.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS.................................................................................... v

RESUMO......................................................................................................vii

ABSTRACT...................................................................................................ix

SUMÁRIO....................................................................................................._________________________________________________________ xvi

LISTA DE TABELAS ................................................................................. xii

LISTA DE FIGURAS...................................................................................xv

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................1

2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 5

2.1 Considerações Gerais sobre Leitura..................................... ........... 5

2.1.1 Competência em leitura..................................................................9 2.1.2 Modelos de Leitura........................................................................12

2.1.2.1 Modelo Ascendente (o texto como foco)................................____________________________________________________ 12

2.1.2.2 Modelo Descendente (o leitor como foco).............................14 2.1.2.3 Modelo Interativo (foco na interação autor-texto-leitor).........16

2.2 Conhecimento ................................................................................. 21

2.3 Conhecimento Sistêmico 25 2.3.1 Conhecimento Esquemático ....................................................... 26

2.4 Metacognição .................................................................................. 33

2.5 Introspecção.................................................................................... 35

2.6 Considerações Finais ..................................................................... 38

3 METODOLOGIA ..................................................................................... 40

3.1 Estudo Piloto ................................................................................... 41 3.1.1 Questionário 1........................................................................... 41 3.1.2 Teste de Conhecimentos Lingüísticos ........................................ 48 3.1.3 Perfil dos Sujeitos ....................................................................... 52 3.1.4 Treinamento 1............................................................................. 54 3.1.5 Treinamento 2............................................................................. 55

3.1.5.1 Protocolos Verbais ............................................................... 55 3.1.5.2 Entrevista ................................................................................. 57 3.1.6 Realinhamento da Metodologia .................................................. 59

3.2 Estudo Propriamente Dito ............................................................ 60 3.2.1 Questionário 2............................................................................. 63 3.2.2 Testes de Avaliação em Leitura................................................ 65

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xvi

3.2.3 Material de leitura........................................................................ 69

3.3 Considerações finais ...................................................................... 71

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................................... 73

4.1 Importância do conhecimento do assunto .................................. 74 4.1.1 Opinião dos sujeitos sobre conhecimento prévio........................ 74 4.1.2 Evidências de uso do conhecimento do assunto ........................ 78

4. 2 Importância do conhecimento do vocabulário............................ 80 4.2.1 Opinião dos sujeitos sobre conhecimento do vocabulário .......... 82 4.2.2 Evidências do uso do conhecimento do vocabulário .................. 85

4.3 Importância do conhecimento da organização retórico............. 94 4.3.1 Opinião dos sujeitos sobre a organização retórica ..................... 95 4.3.2 Evidências do uso do conhecimento da organização retórica .... 96

4.3.2.1 Texto 1 - área de conhecimento de Y ................................... 97 4.3.2.2 Texto - área de conhecimento de Z .................................... 100 4.3.2.3 Texto 3 - área de conhecimento de X ................................. 101

4.4 Questionário 2 ............................................................................... 106 4.4.1 Prática em leitura ...................................................................... 106 4.4.2 Observação de aspectos na leitura de abstracts ...................... 109 4.4.3 Estratégias de leitura ................................................................ 109 4.4.4 Conceito de leitura .................................................................... 113 4.4.5 Considerações Finais................................................................ 114

5. CONCLUSÃO, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ............................................................................................ 116

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 122

ANEXOS .................................................................................................. 128

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xvii

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Importância do conhecimento do assunto do texto............

TABELA 2 – Auto-avaliação dos sujeitos sobre as habilidades Lingüísticas .........................................................................

TABELA 3 – Avaliação dos sujeitos sobre vocabulário do texto............. TABELA 4 – Procedimento Cloze teste de conhecimentos lingüís- ticos ..................................................................................

TABELA 5 – Procedimento Cloze texto em LE......................................

TABELA 6 – Procedimento Cloze texto em LM......................................

TABELA 7 – Identificar estágios de desenvolvimento do texto ............

TABELA 8 – Numeração das seções do texto 4....................................

TABELA 9 – Auto-avaliação dos sujeitos sobre leitura..........................

TABELA 10 – Auto-avaliação dos sujeitos – estratégias de leitura.......

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Modelo interacional de leitura ........................................

FIGURA 2 - Interação leitor – texto ....................................................

FIGURA 3 - Metodologia estudo piloto e estudo propriamente dito..

FIGURA 4 - Questionário 1 do estudo piloto .....................................

FIGURA 5 - Teste de conhecimentos lingüísticos .............................

FIGURA 6 - Questionário 2 do estudo propriamente dito ........ .........

FIGURA 7 - Palavras desconhecidas nos títulos dos textos...............

FIGURA 8 - Opinião dos sujeitos sobre salário-educação..................

FIGURA 9 - Transcrição dos itens lexicais das seções do texto 4....

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64

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RESUMO

LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM INGLÊS: UMA QUESTÃO DE

LÉXICO OU DE CONHECIMENTO PRÉVIO?

Autor: Neivo Zago Orientadora: Désirée Motta-Roth

É do conhecimento comum que a leitura é uma importante habilidade

lingüística utilizada pelos estudantes para aprimorarem o desempenho de

suas atividades acadêmicas. Especialmente na década de 80,

pesquisadores da área da leitura enfatizavam a importância do

conhecimento prévio para a produção do significado na leitura. Autores

como RUMELHART (1995) concebem conhecimento prévio em termos de

esquemas cognitivos construídos a partir de experiências prévias do leitor.

Pesquisas posteriores como aquela desenvolvida por SCARAMUCCI (1995)

salientam a importância do conhecimento lexical como básico na leitura de

textos em inglês como LE. Mais recentemente, MOITA LOPES (1996),

destaca o papel da integração de conhecimentos sistêmico (lingüístico) e

esquemático (prévio) na leitura. Considerando a trajetória da pesquisa em

leitura, este trabalho tem por objetivo investigar em que medida o

conhecimento do léxico, do conteúdo, e da forma (organização retórica do

texto) influenciam a compreensão na leitura de textos em Inglês para Fins

Acadêmicos em três leitores com diferentes níveis de proficiência (menos

proficiente, intermediário e mais proficiente). Os três sujeitos trabalharam

três textos (abstracts) específicos das suas áreas de conhecimento e dois

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viii

textos de conteúdo geral. Os dados foram coletados através da técnica

protocolos verbais e exercícios de compreensão em leitura como, resumos,

entrevistas e procedimentos Cloze. Contrariamente à visão de que o

conhecimento do léxico é fundamental à compreensão, os resultados

parecem apontar que um leitor precisa também ter conhecimento do

conteúdo específico e da organização retórica do texto para produzir

significado. Considerando a importância da leitura em todos os níveis de

ensino, e especialmente no terceiro grau, sugere-se que outras pesquisas

possam aprofundar o estudo da leitura de textos em LE com vistas a

formular uma proposta de ensino dessa habilidade que enfoque os três tipos

de conhecimento: de vocabulário, de conteúdo e de organização retórica do

texto.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Autor: Neivo Zago

Orientadora: Désirée Motta-Roth

Título: Leitura de textos acadêmicos em inglês: uma questão de léxico ou de

conhecimento prévio?

Dissertação de Mestrado em Letras - Estudos lingüísticos

Santa Maria, dezembro de 1997.

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ABSTRACT

ACADEMIC ENGLISH TEXTS READING: A MATTER OF VOCABULARY

OR BACKGROUND KNOWLEDGE?

Author: Neivo Zago

Advisor: Désirée Motta-Roth

It is taken for granted that reading is an important linguistic skill used

by students to perform their academic tasks. Specially in the 80s

researchers have emphasized the importance of the background knowledge

for meaning production in reading. Authors like RUMELHART (1995) have

conceived background knowledge as cognitive schemata based on the

reader’s previous experiences. Later, research like the one developed by

SCARAMUCCI (1995), who has emphasized the importance of lexical

knowledge as fundamental to the construction of meaning in reading tasks in

English as a Foreign Language. More recently MOITA LOPES (1996) has

emphasized the importance of systemic and schematic knowlege for

meaning production in reading. Considering these developments in the

research on reading, this work aims to investigate to what extent the

linguistic knowledge (vocabulary) and previous knowledge (content and

formal schemata) influence comprehension in reading in English for

Academic Purposes in three subjects with different proficience levels: less

proficient, intermediate and more proficient. The three subjects were given

three texts (abstracts), each one related to their three specific areas and two

texts about general knowledge. Data were collected using verbal protocols

(think aloud) technique and comprehension exercises such as summaries,

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v

interviews and Cloze tests. Conversely to the view that the lexicon is

sufficient to make meaning results indicate that a reader also needs

knowledge about the text specific content and rethorical organization to

produce meaning. Considering the importance of reading tasks in all

teaching levels, specially in academic contexts, it is suggested that further

researches should emphasize the reading of Academic English Texts in

order to teach the reading ability according to these three levels: lexicon,

content, and formal knowledge.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CURSO DE MESTRADO EM LETRAS

Author: Neivo Zago

Advisor: Profa. Dra.Désirée Motta-Roth

Title: Academic English texts reading comprehension: a matter of

vocabulary or background knowledge?

Master Dissertation in Linguistic Studies

Santa Maria, dezembro de 1997.

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vi

1 INTRODUÇÃO

A leitura, tanto em língua materna quanto em língua estrangeira, tem

se constituído num dos principais tópicos de pesquisa na área educacional.

Em conseqüência disso, uma vasta literatura tem sido dedicada à discussão

de aspectos práticos e teóricos dessa importante habilidade lingüística.

No ensino de terceiro grau, por exemplo, a leitura de textos em inglês

tem recebido uma atenção crescente, uma vez que esse idioma tem sido

visto como a lingua franca da comunidade acadêmica, na qual se veicula

uma considerável parcela das publicações científicas da atualidade. A leitura

desses textos possibilita ao aluno acompanhar o desenvolvimento nas mais

diversas áreas do conhecimento. Parece ainda valer hoje o que

ALDERSON, em 1984, asseverava: “em muitas partes do mundo, o

conhecimento de leitura em uma língua estrangeira é geralmente importante

para os estudos acadêmicos, sucesso profissional e desenvolvimento

pessoal” (p.1).

Especificamente na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),

em pesquisa recente, WIELEWICKI (1997, p. 50) constata que alunos de

mestrado e doutorado, submetidos ao teste de proficiência em leitura em

inglês, consideram que a leitura em inglês é muito importante tanto para o

contexto acadêmico internacional (91,1%), quanto para o contexto brasileiro

(88,5). O mesmo parece se aplicar aos alunos de graduação da UFSM, se

considerarmos o levantamento realizado junto ao curso de Informática em

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vii

que 22 dos 35 alunos pesquisados apontaram a leitura como prioridade em

comparação a outras habilidades lingüísticas como falar, ouvir e escrever.

Apesar disso, a grande maioria desses alunos se considerou pouco

proficiente ao avaliar sua capacidade de leitura.

Se, por um lado, esses acadêmicos não se consideram proficientes

nas habilidades lingüísticas em inglês como língua estrangeira por outro,

eles demonstraram ter clareza sobre seus objetivos de leitura quando, numa

lista com várias opções oferecidas, eles priorizaram assuntos e textos

acadêmicos.

No estudo sobre Testagem de Proficiência em Leitura em Inglês na

UFSM (WIELEWICKI, 1997), constatou que a maioria dos mestrandos não

tem obtido sucesso no referido teste, nos últimos anos, devido à ausência

de habilidades básicas necessárias para o estabelecimento da

compreensão tais como: capacidade de sumarização, conhecimento lexical

(vocabulário do texto) e habilidades motoras e perceptuais.

A competência em leitura em língua materna e principalmente em

língua estrangeira parece não dispensar categorias de conhecimentos de

naturezas tão diferentes quanto o conhecimentos sistêmico (da linguagem)

e o conhecimento esquemático (do assunto e da organização retórica do

texto). Esses conhecimentos associados, em menor ou maior escala,

parecem influenciar a compreensão do texto.

Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa consiste em investigar em

que medida o conhecimento sistêmico, especialmente no que se refere ao

vocabulário, e o conhecimento esquemático, no que tange ao conteúdo e à

organização retórica do texto, favorecem a compreensão na leitura de textos

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viii

acadêmicos (abstracts) em inglês como língua estrangeira, por parte de

leitores oriundos de diferentes áreas de conhecimento.

Para alcançar tal objetivo este trabalho foi dividido em duas fases

distintas. A primeira fase, denominada estudo piloto, constou de dois

instrumentos de coleta de dados: questionário 1 e teste de conhecimentos

lingüísticos que visaram à seleção dos sujeitos da pesquisa. Esse estudo

piloto incluiu um treinamento dos sujeitos no uso da técnica introspectiva.

Na segunda fase ou estudo propriamente dito, foram trabalhados três

textos em inglês, cada um específico à área de conhecimento de cada um

dos sujeitos e dois textos de conhecimento geral (um em inglês e outro em

português). Como medida de avaliação da compreensão foram utilizados

protocolos verbais, resumos, procedimento Cloze e entrevistas.

O restante deste trabalho apresenta o enfoque teórico e a

metodologia, bem como os dados coletados e os resultados da pesquisa em

cinco capítulos, além desta introdução.

O Capítulo 2 oferece uma revisão da literatura enfatizando modelos

teóricos de leitura (ascendente, descendente e interativo), noções sobre

conhecimento prévio, metacognição e técnicas introspectivas de análise da

leitura. Esse capítulo também destaca os instrumentos de avaliação da

capacidade de compreensão dos sujeitos da pesquisa, como procedimento

Cloze, entrevistas e resumos.

O Capítulo 3 traz a metodologia dividida em duas fases: estudo piloto

e estudo propriamente dito. Também apresenta o material usado para a

coleta de dados como três textos-base de conhecimento específico em

Engenharia, Administração de Empresas e Educação Física e dois de

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ix

conteúdo geral para avaliar a capacidade de compreensão de textos em

língua materna e língua estrangeira.

O Capítulo 4 apresenta a discussão dos dados coletados via

transcrição dos protocolos verbais dos três sujeitos, tendo como fonte seus

protocolos, entrevistas, resumos dos textos formulados por eles e

procedimento Cloze.

O Capítulo 5 apresenta as conclusões e as limitações do estudo, bem

como sugestões para futuras pesquisas na área da leitura.

2 REVISÃO DA LITERATURA

O objetivo deste capítulo é apresentar uma revisão da literatura

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x

relevante para o desenvolvimento do presente trabalho. Ao longo dessa

revisão, procurarei discutir conceitos básicos sobre: 1) leitura; 2)

conhecimento lingüístico e conhecimento prévio; 3) metacognição e 4)

técnica da introspecção com ênfase nos protocolos verbais.

2.1 Considerações Gerais sobre Leitura

Esta seção tem por objetivo abordar considerações gerais sobre

leitura, tendo como base especialistas da área e sua visão de leitura como

um ato complexo que envolve a interação do escritor-leitor através do texto

e, por isso mesmo, difícil de ser explicado.

KLEIMAN (1992) define leitura como uma atividade de compreensão

de textos escritos que envolve uma multiplicidade de atos cognitivos

complexos dos quais um leitor faz uso para a construção do sentido. No

entanto, a autora assinala que a leitura transcende essa definição, “pois se

trata de um ato social entre dois sujeitos, leitor e autor, que interagem entre

si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinadas”

(p.10).

Para CAVALCANTI (1989, p.46) “qualquer visão do processo de

leitura é, por definição, no presente estágio do conhecimento, baseada em

especulação”. Segundo ela, embora a literatura sobre pesquisa seja vasta,

nenhuma explicação concreta do que acontece na “caixa preta” foi

proposta”. (idem, p. 46). O termo “caixa preta”, comumente utilizado pelos

psicolingüistas, enfatiza o fato de que ainda não temos técnicas que dêem

conta dos processos psicolingüísticos na sua total complexidade.

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xi

Já na década de 70, SMITH (1978, p.2) enfatizava que os processos de

leitura não podem ser facilmente definidos porque as palavras “têm uma

multiplicidade de significados que dependem do contexto onde elas ocorrem”. A

necessidade de se levar em consideração o contexto onde as palavras

ocorrem, indica que a leitura não é simplesmente um ato de decodificação de

palavras, mas também possui uma dimensão pragmática que nem sempre está

explícita no texto. SMITH também destaca que “o mundo está cheio de peritos

que pretendem descobrir um remédio para todos os males da leitura através de

métodos que, de uma ou de outra forma, parecem funcionar” (idem, p.3).

Assim, não há uma única definição para leitura, e por causa da sua

complexidade, não pode ser definida de forma unívoca.

Na década de 80, GOODMAN (1988, p.12), pronuncia-se a respeito

da leitura como um processo receptivo da linguagem.

É um processo psicolingüístico que começa com uma representação superficial codificada por um escritor e termina com o significado construído pelo leitor. Há, portanto, uma interação essencial entre linguagem e pensamento na leitura. O escritor codifica pensamento em linguagem e o leitor decodifica linguagem em pensamento 1.

Nesse sentido FLOOD (1984, VII) também argumenta que “a

compreensão é um processo construtivo na verdadeira acepção da palavra”

porque a compreensão requer do leitor níveis de conhecimento de natureza

variável como habilidades lingüísticas, cognitivas e de organização

estrutural.

1Todas as citações de autores estrangeiros, ao longo deste trabalho, ainda não publicadas em português, foram traduzidas por mim.

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xii

Numa mesma linha de raciocínio, GARNER (1988, p. 1) pressupõe

que “os leitores são ativos, construtivos e aprendizes motivados porque a

mente é governada por regras que são responsáveis pelo sistema de

processamento de informação”. Esse ‘controle’ da mente é o que os

lingüistas denominam metacognição, um dos assuntos que será tratado na

seção 2.3.

Ainda na década de 80, ESKEY (1986, p,5) aponta duas notícias que

são relevantes no processo de leitura:

A notícia ruim é que ninguém pode ensinar alguém a ler e nem mesmo a ler mais eficientemente...a leitura é uma atividade cognitiva complexa (que ninguém entende totalmente) que não podemos separar em partes como um professor poderia fazê-lo numa sala de aula e ensinar. A notícia boa é que qualquer um aprende a ler e/ou ler mais eficientemente.

Se considerarmos o ensino de leitura em língua estrangeira na escola

básica, qual seria então o papel do professor na sala de aula, uma vez que,

segundo o autor acima, a leitura não pode ser ensinada? Para SMITH

(1991, p.247), o professor pode mostrar que a leitura vale a pena e “onde as

crianças encontram pouco interesse na leitura, os professores devem criar

situações interessantes”. Ou ainda, “onde as crianças têm dificuldades em

ler, os professores devem providenciar para que elas sejam auxiliadas a ler

aquilo que desejam” (idem, ibidem).

Parece fácil entender que, se a criança gosta de alguma atividade,

ela a realiza com satisfação sem necessidade de ser obrigada. Da mesma

forma, se ela muitas vezes não é atraída pela leitura é porque o material ou

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xiii

o assunto não lhe desperta interesse. Nessa circunstância torna-se

importante a participação do professor. Ele pode certamente auxiliar seus

alunos a desenvolver as habilidades de leitura como por exemplo, através

do ensino do vocabulário e da ativação do conhecimento prévio do aprendiz

(CHRISTEN & MURPHY, 1991, p.2-4).

Existem ainda outras atividades que podem ser realizadas na sala de

aula para auxiliar os alunos a desenvolver as suas habilidades de leitura.

Tome-se, por exemplo, o conhecimento que um aluno precisa possuir para

monitorar sua leitura. LEFFA (1996) tem uma visão favorável ao ensino da

leitura e salienta que “o comportamento metacognitivo melhora com a

instrução”. Para ele, a criança em idade escolar, quando devidamente

orientada, pode aprender a monitorar sua leitura e assim melhorar

substancialmente sua capacidade de compreensão (p.64).

Atualmente o conceito adotado para leitura freqüentemente supõe

uma interação entre leitor e autor através do texto. DAVIES (1995, p.1)

assevera que “a leitura é uma atividade pessoal onde um leitor, através de

um processo cognitivo e mental, tenta seguir e responder a uma mensagem

de um escritor que está distante no tempo e no espaço”. E por ser uma

atividade pessoal, o leitor necessita praticar a leitura constantemente para

desenvolver suas habilidades e assim implementar o seu desempenho no

ato de ler.

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xiv

2.1.1 Competência em leitura

No contexto das pesquisas em leitura, parece haver, pelo menos,

duas visões distintas: uma, que considera a leitura em língua estrangeira,

(LE) como dependente da competência em leitura em língua materna (LM);

outra, que considera a competência em leitura em LE dependente da

competência lingüística do leitor (ALDERSON, & URQUHART, 1984). A

respeito desses dois aspectos CAVALCANTI (1989, p.13) usa como

pressuposto que “o processo de leitura é universal, tem diferenças

individuais e, muitas vezes, apresenta problemas a leitores devido à não-

otimização da competência lingüística ou da competência da leitura”. Em

relação à hipótese que relaciona competência em leitura em LE com a

competência nessa língua, uma pesquisa mais recente de SCARAMUCCI

(1995) aponta a importância do conhecimento lexical (parte da competência

lingüística) como um dos componentes necessários à construção de sentido

em leitura.

Com base nesse raciocínio pode-se pensar que um leitor competente

em LM parece não apenas transferir essa habilidade para a leitura em LE,

como também tende a desempenhar-se melhor em outras disciplinas, uma

vez que todas elas dependem de leitura em menor ou maior grau. Essa

idéia parece, em geral, encontrar anuência dos professores de outras áreas

de conhecimento que consideram ser a leitura a base para a compreensão

de textos em suas disciplinas. Um bom aluno em português tem a tendência

de ser um bom aluno em inglês e em outras disciplinas do currículo escolar.

Por sua vez, REVELL & SWEENEY (1993, IV) têm um ponto de vista

diferente quando asseveram que

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xv

a experiência mostra que a simples transferência de habilidades da LM para a língua-alvo raramente ocorre. Aprendizes muito freqüentemente lêem um texto em LE com dedicação esmerada para decifrar cada palavra numa abordagem linear, muitas vezes gastando mais tempo olhando no dicionário do que lendo o texto. O resultado, na melhor das hipóteses, é uma tradução imperfeita e na pior, frustração e incompreensão.

Embora as pesquisas em leitura tenham sido constantes nos últimos

20 anos, ainda hoje é possível verificar, nas escolas, a existência de

problemas no ensino de leitura em inglês como LE.

Evidência do insucesso no ensino de leitura em LE é encontrada nos

resultados do PEIES. O Programa Experimental de Ingresso ao Ensino

Superior da Universidade Federal de Santa Maria tem como objetivos

principais orientar, selecionar e classificar candidatos para preencher um

percentual das vagas dos cursos de graduação da UFSM dos anos 1998,

1999, e 2000, mediante realização de três provas (uma no final de cada

série do 2º grau) - chamadas Provas de Acompanhamento que testam

exclusivamente as habilidades de leitura em LE.

A constatação desse e de outros desempenhos insuficientes podem

ser fruto de uma abordagem tradicional na qual se enfatiza o ensino de

vocabulário e de regras gramaticais de modo descontextualizado que gera

uma leitura, por parte do aluno, baseada unicamente nessas categorias de

conhecimento. A partir da virada dos anos 80, uma outra visão mais

abrangente de ensino de LE surge para levar em consideração também “a

competência comunicativa, a qual envolve o conhecimento,

respectivamente, de regras de gramática, da língua em uso e de estratégias

de comunicação verbal e não verbal” (CÉLIA, 1989, p. 57). Essa tendência

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xvi

de ensino tenta inserir o aluno no contexto da LE por intermédio da

utilização de textos mais próximos da sua vida real. “O aluno deve encontrar

textos autênticos com o uso genuíno da língua com o objetivo de comunicar

e não de ensinar a língua” (idem, p. 57).

A boa performance na leitura de textos em LE parece proporcional às

habilidades específicas que podem existir, tanto num leitor em estágio de

escolaridade básica, quanto em leitores adultos, como acadêmicos de

graduação e pós-graduação. O uso dessas habilidades (estratégias de

leitura) em menor ou maior escala pelos leitores contribui sobremaneira para

classificar leitores proficientes ou não proficientes, de acordo com o seu

desempenho na leitura. Esse desempenho parece estar relacionado com os

modelos de leitura uma vez que, de acordo com esses modelos, o leitor

pode se comportar de maneiras diferentes: ora baseando-se inteiramente

em seu conhecimento da LE ora atribuindo importância demasiada ao texto,

ou ainda, fazendo uma interação com o texto. Segundo MOITA LOPES

(1996, p.1), “a direção que o fluxo da informação toma nos vários modelos

de leitura encontrados na literatura pode ser entendida como a diferença

crucial entre eles”.

Na seção abaixo, apresento uma revisão dos modelos teóricos de

leitura que têm sido discutidos no contexto de pesquisa da área.

2.1.2 Modelos de Leitura

Como se viu anteriormente, as pesquisas sobre leitura ganharam

importância a partir dos anos 60, quando os modelos vigentes eram ditados

Page 29: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xvii

pela corrente behaviorista e buscavam “principalmente descrever o que era

considerado como estímulo, ou seja, palavras impressas, e respostas ao

reconhecimento dessas palavras” (SCARAMUCCI, 1995, p.11). Pode-se

dizer que havia uma evidente atenção para o texto como elemento crucial

para a compreensão em leitura. Após esse período, surgem modelos

oriundos de outras abordagens sobre leitura como os modelos da década de

70 que foram desenvolvidos, tendo como pressupostos as teorias

cognitivistas “tentando mostrar a função, na leitura, de processos como

memória e atenção”, passando a priorizar o leitor como foco principal da

compreensão e não mais o texto (idem, p.11)

2.1.2.1 Modelo Ascendente (o texto como foco)

Os modelos em leitura são classificados de acordo com o sentido do

fluxo da informação: ascendente, descendente e interativo. No modelo

ascendente o fluxo da informação parte do texto impresso. O modelo

ascendente de leitura é também conhecido por data-driven ou modelo

perceptual (enfatiza o input visual do texto). A respeito desse modelo,

LEFFA (1996, p.12-14) ressalta que o objetivo da leitura é “extrair significado

do texto” e compara o leitor a um “minerador” e, por extensão, poder-se-ia

comparar o texto a uma mina.

Como exemplo de modelo ascendente, KLEIMAN (1992) lembra o

modelo de processamento serial de GOUGH (1976) que consiste em

descrever os eventos que acontecem mecanicamente na leitura através da

fixação ocular e movimentos sacádicos da esquerda para a direita numa

Page 30: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xviii

identificação automática e seqüencial de letras, sílabas e palavras. Para

SMITH (1991, p.99), esse não é o movimento característico dos bons

leitores porque “leitores realmente experientes freqüentemente não lêem da

“esquerda para a direita” - podem não realizar mais do que uma fixação por

linha e saltar várias linhas até o final da página”.

Há, portanto, uma prioridade visível no processamento gráfico no

modelo ascendente de leitura porque as atenções do leitor parecem estar

unicamente centradas no texto que se constitui no foco desse modelo. Se a

atenção recai sobre o texto, é fácil entender que a participação do leitor é

limitada.

Uma das críticas sobre o modelo ascendente é que a compreensão é

projetada como sendo limitada. Nesse modelo, parece não haver lugar para

as inferências do leitor e a utilização do seu conhecimento de mundo porque

o que mais importa é o significado da decodificação das palavras do texto.

O leitor, segundo o modelo ascendente, é o que analisa cuidadosamente o

input visual partindo das partes menores para obter o significado todo.

Nesse modelo KATO (1990, p.52), chama o leitor de “leitor analisador”, uma

característica diferente do leitor do modelo descendente, assunto da

próxima seção.

2.1.2.2 Modelo Descendente (o leitor como foco)

Este modelo pode ser sintetizado na afirmação “ler é atribuir

significado ao texto” (LEFFA, 1996, p.14) isto é, o texto serve como base

para suscitar o conhecimento prévio do leitor. A diferença em relação ao

Page 31: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xix

modelo anterior é que neste o leitor se constitui no foco da leitura e, por

isso, participa mais eficientemente na medida que faz interferências e

ponderações sobre o texto.

Nesse modelo de leitura, o significado é criado no decorrer da leitura

quando o leitor aciona conhecimentos lingüísticos e esquemáticos e o input

fornecido pelo texto escrito ou impresso, isto é, “os textos ‘não contêm’

significado; porém ‘têm um potencial para’ o significado. Esse potencial

somente é percebido na interação entre texto e leitor” (WALLACE, 1992

p.39) (ênfase no original). Sob essa perspectiva, a leitura é um ato de

projeção de hipóteses que se confirmam ou são rejeitadas em vista das

informações contidas no texto. “A informação textual age como um sinal de

redução de incertezas e promove a construção de hipóteses eficientes”

(MARTIN, 1992, p.28-29).

A grande contribuição desse modelo, também conhecido por modelo

psicolingüístico de GOODMAN, conforme salienta MOITA LOPES (1986:71),

é que a leitura é vista como um jogo de adivinhações (guessing game) e

consiste em desvincular a recodificação obrigatória da linguagem escrita

para a fala, salientando, dessa forma, a importância dos processos

cognitivos na compreensão em leitura. Para ESKEY (1988), uma limitação

dos modelos descendentes é que

eles tendem a enfatizar as habilidades de alto nível como predição do significado por intermédio das pistas do contexto ou certos tipos de conhecimento prévio em detrimento de habilidades de baixo nível como a rápida e precisa identificação das formas gramaticais e lexicais (p. 93).

Esse modelo privilegiaria os leitores fluentes, uma vez que neles a

Page 32: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xx

percepção e a decodificação são automáticas ao passo que, para leitores

menos proficientes, isso não ocorre.

Nesse modelo, diferente do modelo ascendente, o procedimento do

leitor se caracteriza pelo uso do conhecimento prévio. Este conhecimento,

segundo MARTIN (1992, p.29), baseado na teoria dos esquemas, “permite

ao leitor estruturar e fazer sentido da informação textual e trazer significado

na leitura”. Segundo o mesmo autor “os esquemas são representações

psicológicas da informação sobre o mundo e sobre a experiência prévia do

leitor que funcionam como auxiliares na construção de sentido do texto”

(idem, ibidem)

No modelo descendente de leitura, segundo SMITH (1991, p. 109)

tanto “a informação visual quanto a informação não-visual são essenciais

para a leitura, podendo existir um intercâmbio entre as duas”. KATO (1990,

p. 52) chama o leitor de “leitor construtor”, nesse modelo, uma vez que ele

não se limita a analisar o que o texto sugere, mas constrói significado

através da utilização do seu conhecimento armazenado na memória. Por

sua vez, TAVARES (1993) destaca que o leitor precisa de certas habilidades

necessárias para o processamento da leitura como scanning, predição e

seleção de pistas, conhecimento lingüístico e conceitual e capacidade de

decodificação. Já LEFFA (1996, p.14) salienta que o leitor é incentivado a

adivinhar as palavras pelo contexto sem interrupção em que o entendimento

de uma frase difícil pode passar pela leitura até o final do parágrafo.

Uma tentativa de conciliação, visando aparar as arestas existentes

nos modelos acima referidos, surgiu com a criação dos modelos interativos.

Page 33: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxi

2.1.2.3 Modelo Interativo (foco na interação autor-texto-leitor)

Inicialmente parece importante salientar que não existe um único

modelo interativo. Para GRABE (1988, p.60), “os modelos interativos

incluem qualquer modelo que minimamente tente dar conta de mais de um

processamento serial”.

Nesse modelo, a leitura não é nem extração de significado e nem

atribuição de significado e tampouco a soma desses dois conceitos é

suficiente. LEFFA (1996, p. 17) sugere que, para se efetivar a compreensão

em leitura no encontro entre texto e leitor, é preciso considerar: “o papel do

leitor, o papel do texto e o processo de interação entre o leitor e o texto”. O

escritor subentende que o leitor possui certos tipos de conhecimento do

mundo que são de domínio comum de ambos, também chamado de

conhecimento compartilhado. Por sua vez, o leitor precisa ter, além das

competências fundamentais (tais como conhecimento sintático, semântico e

textual), também “uma competência específica da realidade histórico-social

refletida pelo texto”, bem como “a intenção de ler” (idem, p.17).

O texto, para MARTIN (1992 p.33) na teoria interativa, é visto como

suscitador do conhecimento do conteúdo do leitor e os esquemas de

conhecimento retórico sinalizados pela informação e estrutura do texto.

Assim, o texto é uma “ocorrência comunicativa” que serve de elo entre os

interlocutores e não apenas “uma entidade física estruturada” (idem, p.34-

35).

Pelo exposto acima viu-se que os modelos descendente e

ascendente de leitura apresentam limitações e, por conseguinte, não são

Page 34: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxii

suficientemente capazes de dar conta da totalidade do processo da leitura

isoladamente. Os modelos interativos, por outro lado, parecem oferecer

opções mais adequadas de se compreender a leitura já que “a maioria dos

experts parece aceitar alguma versão de modelo interativo como a melhor

descrição do processo da leitura” (AEBERSOLD & FIELD, 1997, p. 20).

Na sua proposta de construção de um modelo de leitura, MOITA

LOPES (1986, p.73-74) critica tanto os modelos que enfatizam o fluxo

ascendente de informação (leitura como processo receptivo) quanto os

modelos baseados na teoria dos esquemas (leitura como processo

cognitivo). Para esse autor, os modelos têm limitações por não levarem em

consideração os aspectos psicológicos e sociolingüísticos da linguagem

usada na interação de seus interlocutores (escritor/leitor).

O modelo interacional de leitura proposto por MOITA LOPES (1996,

p.138-143) não somente considera os sentidos ascendente e descendente

da informação, como também, leva em consideração a visão de leitura como

um ato comunicativo, uma vez que tanto leitor quanto escritor estão situados

dentro de um contexto social, histórico, político e cultural. Nesse modelo,

MOITA LOPES reporta que o leitor precisa de três níveis de conhecimento:

o sintático (léxico-semântico), o esquemático e o pragmático. O nível

sintático (léxico-semântico) constitui o conhecimento sistêmico

(competência lingüística) do leitor. O nível esquemático compreende os

esquemas formais e de conteúdo, e o pragmático, que não é enfatizado

nesta pesquisa engloba os procedimentos interpretativos relacionados às

três entidades fundamentais no processo da leitura (leitor-texto-escritor).

Page 35: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxiii

Com está exposto acima, o domínio do conhecimento sistêmico e do

conhecimento esquemático por si só não são suficientes para o leitor

garantir a construção de sentido do texto. Conforme MOITA LOPES (idem,

p. 143), “é importante saber-se usar esse conhecimento, ou seja ter domínio

dos procedimentos interpretativos, que recuperam os discursos de

elementos sistêmicos”. O gráfico abaixo mostra esses e outros aspectos

relevantes que constituem um modelo interacional de leitura.

Níveis sintático, léxico-

semântico

Nível esquemático

Nível pragmático

CONHECIMENTO

SISTÊMICO CONHECIMENTO ESQUEMÁTICO CONHECIMENTO

DO(A) LEITOR(A)

Esquemas esquemas de conteúdo formais

procedimentos interpretativos

compreensão

competência comunicativa

TEXTO (conhecimento a-prentado no texto) ESCRITOR(A), por assim dizer

capacidade

Competência Lingüística

competência discursiva

competência

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xxiv

textual

Figura 1 - Modelo interacional de leitura (MOITA LOPES 1996, p.143)

O modelo interacional de leitura, acima configurado, parece melhor

se adaptar à técnica de introspecção, uma vez que o leitor, ao mesmo

tempo que verbaliza o seu pensamento, procura usar estratégias que

possibilitem melhor compreender o texto. Uma outra justificativa para opção

do modelo interativo de leitura proposto por MOITA LOPES (idem) é que,

além de levar em conta as diversas categorias de conhecimento acima

citadas, seu modelo também discute o papel dos aspectos sociais e psico-

sociais dos interlocutores, além de considerar o conhecimento prévio do

leitor.

Uma outra visão de modelo interativo de leitura é apresentada por

CAVALCANTI (1989) numa linha de raciocínio relativamente convergente

com o modelo anterior que leva em conta não apenas o direcionamento da

informação, mas considera a leitura como um processo multidisciplinar.

PROCESSOS COGNITIVOS

RESTRIÇÕES COMPETÊNCIA CONHECIMENTO EXPLICITUDE RESTRIÇÕES DO COMUNICATIVA ACUMULADO IMPLICITUDE DO LEITOR SISTEMAS DE TEXTO

VALORES ESTRUTURAS DE CONHECIMENTO

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xxv

VARIÁVEIS DE DESEMPENHO

Figura 2 - Interação leitor-texto (CAVALCANTI 1989, p.46).

Esse modelo vê tanto o leitor quanto o texto limitados quando vistos

individualmente e, por isso, propõe uma interação entre ambos (texto-

leitor), que teria como resultado a construção de sentido em leitura. O

modelo leva em conta os processos cognitivos em que, 1) a competência

comunicativa, os sistemas de valores e as estruturas de conhecimento

constituem as restrições do leitor, e 2) a explicitude e a implicitude

constituem as restrições do texto. Tanto os componentes do grupo 1 quanto

os do grupo 2 se referem ao conhecimento acumulado, sendo que as

variáveis de desempenho ficam subjacentes aos fatores acima referidos.

Nos dois modelos acima, o ponto de convergência parece estar no

fato de que a construção do significado da leitura demanda conhecimentos

de natureza diversificada. E, dentre essa diversificação de conhecimentos

necessários para o estabelecimento da compreensão em leitura de textos,

destaca-se o conhecimento prévio do leitor.

2.2 Conhecimento

A palavra ‘conhecimento’ é um termo que possui uma ampla

abrangência, por conseguinte, faz-se necessário explicitar que tipo de

conhecimento prévio interage no processo de compreensão de um texto.

Segundo KINTSCH & FRANZKE (1995), o conhecimento pode ser dividido

em dois tipos: geral e específico. O primeiro é o conhecimento sobre a

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xxvi

língua e o mundo que é partilhado entre os membros de uma determinada

comunidade. O segundo é próprio de cada indivíduo e varia de acordo com

o grau de exposição e vivência em determinadas situações e experiências.

Essas categorias de conhecimento favorecem, de uma ou outra maneira, a

compreensão em leitura.

Segundo KANT (1978),

não se pode duvidar que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, exercitando os nossos sentidos, de uma parte produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si a reuni-los, ou separá-los e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que denomina experiência (p.23).

Nessa mesma linha de pensamento, LEFFA (1996, p. 90) utiliza-se da

expressão tabula rasa para aludir à idéia de que toda aprendizagem é fruto da

experiência, embora KANT (1978, p. 23) assevere que “nenhum conhecimento

precede à experiência”, ao mesmo tempo que afirma que “nem todos os

conhecimentos derivam dela” (idem, p. 23-24). Para KANT, conhecimentos a

priori são aqueles que acontecem independentes da experiência enquanto que

conhecimentos a posteriori são os que se originam dela.

Na tradição kantiana, novas informações, conceitos e idéias têm

sentido se estiverem relacionadas com algo que o indivíduo já conhece

(CARRELL, 1983). Essa concepção aplica-se tanto à aprendizagem de uma

LE, quanto para a aquisição de novos conhecimentos em LM.

A importância que o conhecimento prévio exerce na compreensão em

leitura tem sido discutida por pesquisadores da área no que se refere à

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xxvii

leitura de texto em LM e LE. Algumas pesquisas realizadas por ALDERSON

& URQUHART (1984), CARREL (1987), BLOCK (1986) e LI & MUNBY

(1996) procuram destacar essa categoria de conhecimento como fator

crucial na compreensão em leitura de textos em LE.

Tendo como fundamento os resultados da pesquisa realizada com

leitores proficientes em LE, MATAMBO & ROLLER (1992, p.129) salientam

a importância do conhecimento prévio no seu experimento em que os

sujeitos foram solicitados a se expressar sobre o conteúdo dos textos lidos.

Esses sujeitos lembraram mais informações sobre o assunto lido em LE por

causa do conhecimento que tinham sobre o assunto do texto, do que

quando leram um texto em LM de assunto desconhecido.

Outras pesquisas levadas a efeito demonstram que o sucesso nos

estudos em 3o. grau depende, em grande parte, da maneira como os alunos

lêem e usam o conhecimento prévio, ferramenta fundamental na

compreensão da leitura, como é o caso de um experimento de CARRELL

(1987) com grupos de alunos (católicos e muçulmanos), submetidos à

leitura de textos religiosos. Essa pesquisa concluiu que o conhecimento do

conteúdo é mais relevante se comparado ao conhecimento da organização

textual. A esses dois níveis de conhecimento, a autora chama esquema de

conteúdo e esquema formal (content schemata e formal schemata). O

primeiro diz respeito ao conhecimento do conteúdo do texto que envolve o

conhecimento enciclopédico (conhecimento de mundo) que alguém possui e

que está armazenado na memória e é acionado em formas de esquema no

momento da leitura. O segundo é o conhecimento referente à organização

retórica do texto que propicia ao leitor discernir, por meio da identificação de

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xxviii

certas marcas, um tipo de texto de outros (cartas, editoriais, propagandas,

etc.).

A importância que a teoria dos esquemas tem no ensino-

aprendizagem de uma LE é enfatizada por autores como CARRELL &

EISTERHOLD (1983) e RUMELHART (1995). Este último define esquema

como “a teoria sobre o conhecimento” e esquemas como “blocos mentais

de conhecimentos dos quais depende todo o processamento da informação”

(p.34). A noção de esquema é também freqüentemente relacionada na

literatura da área com outros termos como frames, scripts e plans.

AEBERSOLD & FIELD (1997, p. 15) asseveram que a compreensão

do texto pode variar de leitor para leitor. Segundo eles, essas variações

“ocorrem por causa das influências que o indivíduo sofre na vivência

familiar, cultural e comunitária”. Ou ainda, “por causa das diferenças

individuais como motivação, atitudes e demais características pessoais”

(p.15). Esses autores também observam que leitores usam diferentes

recursos na leitura em diferentes escalas quando lêem. Assim, pode-se

entender por que há diferentes níveis de compreensão de um leitor para

outro na leitura de um mesmo texto.

O papel do conhecimento prévio é também destacado por KLEIMAN

(1992, p.13) como crucial ao salientar que “a compreensão da leitura é um

processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio”.

Segundo a autora, é através da interação de diversos níveis de

conhecimento, como o lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo,

que o leitor consegue compreender e interpretar a mensagem do texto. Para

KLEIMAN (idem, ibidem), o conhecimento lingüístico faz parte do

Page 41: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxix

conhecimento prévio, enquanto que CARRELL (1983) considera

conhecimento prévio apenas o conhecimento sobre o assunto e a

organização retórica do texto.

O entendimento que se tem sobre ‘conhecimento do vocabulário’,

nesta pesquisa, está relacionada ao ‘conhecimento sistêmico’ (MOITA

LOPES, 1996) e as definições de ‘conhecimento de conteúdo e de

conhecimento da organização retórica do texto’ estão relacionadas ao que

CARRELL (1983) denomina ‘content and formal schemata’. A próxima seção

trata dessas categorias.

2.3 Conhecimento Sistêmico

O conhecimento sistêmico, na lingüística tradicional, equivale à

competência lingüística. Esta categoria do conhecimento corresponde ao

conhecimento do leitor nos níveis sintático, lexical e semântico. Vale

lembrar que, na sua proposta de modelo interativo de leitura, MOITA LOPES

(1996, p. 140) não leva em consideração o aspecto fonológico, porque,

seguindo a visão psicolingüística de leitura, “o leitor interpreta o significado

das palavras diretamente da forma escrita”.

Como parte do conhecimento sistêmico, o conhecimento textual é

também citado por alguns pesquisadores como um dos componentes do

conhecimento prévio. KLEIMAN (1992, p. 16) denomina conhecimento

textual “o conjunto de noções e conceitos sobre o texto. SMITH (1991,

p.280) define ‘textos’ observando que estes “são mais do que simples

colocações de palavras, arranjadas seqüencialmente de acordo com as

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xxx

convenções da gramática e com o desejo de contar uma história ou explicar

idéias”. E, para HALLIDAY & HASAN (1976), “texto é uma unidade da

língua, em uso, em forma escrita ou falada, de qualquer tamanho, com

características próprias”. KRESS (1989, p.18) argumenta que “os textos

dão o material para a realização do discurso” e “surgem de situações sociais

específicas e são construídos com objetivos específicos por um ou mais

escritores ou falantes”.

Um texto é resultado de uma composição de elementos dependentes

uns dos outros. Dentre esses elementos, salientam-se a coerência e a

coesão que se fazem necessárias na produção e compreensão de textos

falados ou escritos (BEAUGRANDE & DRESSLER, 1981). A coerência “é a

continuidade de sentidos” que um texto deve obedecer desde o seu início, e

a coesão “é a continuidade de ocorrências” (idem, p.48,84).

Embora haja autores que incluem texto no conhecimento sistêmico, o

entendimento que se tem nesta pesquisa é o mesmo adotado por MOITA

LOPES (1996) nos níveis acima referidos, ou seja: conhecimento sistêmico

(níveis sintático, lexical e semântico). Por sua vez, o conhecimento prévio

(conhecimento esquemático) que engloba os níveis de conhecimento do

conteúdo e da forma do texto, é destaque na seção a seguir.

2.3.1 Conhecimento Esquemático

O conhecimento esquemático é o conhecimento de mundo que está

armazenado na memória do leitor como resultado da suas experiências de

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xxxi

vida, uma vez que, retomando KANT (1978, p.23), “todo o nosso

conhecimento começa com a experiência “.

Assim, pode-se entender que, quanto maior for o conhecimento de

mundo do leitor, maiores serão suas possibilidades de compreensão de

textos. Parece existir um consenso entre os pesquisadores da área, que o

conhecimento de mundo pode compensar carências de conhecimento como

o gramatical e o lexical. AEBERSOLD & FIELD (1996, p.41) reforçam essa

idéia, salientando que “leitores que possuem conhecimento sobre o tópico

parecem ser mais toleráveis ao desconhecimento de gramática e de

vocabulário, se eles têm domínio do tópico para sustentar sua

compreensão”.

Retomando CARRELL (1987, p 461), content schemata é usado

como conhecimento esquemático, numa definição de “conhecimento relativo

ao domínio do conteúdo do texto”. Ao investigar em que medida o

conhecimento sobre conteúdo e forma afetam a compreensão do texto,

CARREL (idem, p.476) verificou que o conteúdo é geralmente mais

importante do que a forma. Quando tanto o conteúdo quanto a forma são

familiares, mais fácil se torna a compreensão. O mesmo não acontece numa

situação em que ambos são desconhecidos do leitor. Nesse caso, o

desconhecimento do conteúdo parece causar mais dificuldade de

compreensão do que o desconhecimento da forma.

O conhecimento de mundo “refere-se ao conhecimento que os

leitores trazem para um texto” (AEBERSOLD & FIELD, 1997, p. 16). Esse

conhecimento abrange desde o domínio que um profissional tem das suas

especialidades, até o conhecimento de fatos elementares como: o cachorro

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xxxii

é um animal mamífero; Brasília é a capital do Brasil, e demais

conhecimentos considerados pertinentes ao senso comum como “Angola

está na África”; “não se deve guardar fruta verde na geladeira”; ou, “na

consulta médica geralmente há uma entrevista antes do exame físico”

(KLEIMAN, 1992 p.20, 21).

A importância do conhecimento do conteúdo (assunto do texto) é

reconhecida por (DUBIN & ESKEY, 1986, p.140) que argumentam que a

leitura

como compreensão acontece quando o conhecimento e a experiência prévia do leitor se conectam com o conteúdo do autor no texto. ... A noção é relativamente fácil de entender se alguém pensa em ler sobre um assunto novo numa outra língua. ... A maioria das palavras, certamente a organização das palavras em frases e a divisão das idéias em parágrafos carregam um significado. ... Mas a compreensão verdadeira é ilusória se alguém não tem conhecimento prévio, ou experiência sobre o assunto.

Assim sendo, parece fácil entender que, se o conhecimento sobre o

assunto do texto em LM facilita a sua compreensão, mais importante ainda

parece a necessidade de ter conhecimento do assunto em LE, já que o

conhecimento do assunto pode compensar a falta de conhecimento

lingüístico. No entanto, valho-me das palavras de um dos sujeitos da

presente pesquisa para ilustrar a opinião contrária de leitores em LE que

tendem a enfatizar o conhecimento do vocabulário em primeiro lugar:

Para o conhecimento de qualquer língua eh, eu acho que é extremamente importante você ter um vocabulário rico porque se tu tem conhecimento do vocabulário da língua mesmo que seja de um assunto que tu não tem muito domínio, muito conhecimento mas, conhecendo as palavras você pode relacionar e daí deduzir (.) com relativo, vamos dizer assim, grau de facilidade o que tá transcrito.

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xxxiii

A consciência sobre seu próprio processo de leitura e de aquisição da

LE (consciência metalingüística) parece indicar ao aprendiz que a única

fonte de informação realmente relevante é a do sistema da língua. No

entanto, a organização retórica do texto (formal schemata) pode também

fornecer informações importantes ao leitor. Para KLEIMAN (1997)

se o sujeito tem noção das seções do gênero abstract e sabe identificá-las, quando presentes no texto, ou mesmo notá-las quando uma delas estiver ausente, é uma prova de que ele tem conhecimento textual desse gênero. [Ela acrescenta ainda que] há abstracts melhor escritos do que outros e há abstracts que dizem claramente o seu objetivo dizendo o que e como vai ser feito. Se houver diferenças na leitura, na compreensão dos alunos quando de um abstract bem montado e um outro, você está trabalhando com conhecimento textual.2

Enquanto a referida autora prefere usar a nomenclatura

“conhecimento textual” outros preferem usar a palavra “gênero” para se

referir às diferentes possibilidades de ‘tipos’ (ênfase minha) de texto

associados a determinados contextos ou eventos comunicativos. Estudos

mais recentes tentam conceituar a natureza de gênero dentro de uma teoria

interativa de acordo com a retórica contrastiva: “gênero abrange

características, estruturas superficiais empiricamente analisáveis, gênero

como uma função da situação/contexto do uso do texto e gênero como

indicador de uma atividade cognitiva” (MARTIN, 1992, p. 46).

Os gêneros são os meios pelos quais acontece a produção de

conhecimento que “é feita através de formas genéricas de escrita” tais como

relatórios, artigos, monografias, conferências e periódicos

(BERKENKOTTER & HUCKIN, 1995, p.1) e que são veiculados numa

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xxxiv

linguagem que os experts e cientistas usam para se comunicar com seus

pares. Os gêneros estão intimamente ligados com a disciplina, sua

metodologia, normas, valores e ideologias (idem, ibidem).

Uma maneira pela qual os leitores podem identificar um gênero é

reconhecer as características superficiais formais do texto. Isso, pode ser

visto, pelo aspecto formal, como por exemplo, saber diferenciar entre uma

carta pessoal de uma correspondência oficial; um resumo (abstract) da

introdução de um artigo científico. No entanto, esse argumento pode ser

falho uma vez que todo o texto existe numa situação de contexto de uso que

determina o significado e a classificação de gênero. Uma outra abordagem

sobre gêneros é um entendimento que se tem de que eles são o resultado

de uma reflexão dos processos cognitivos que os escritores usam quando

escrevem seus textos (MARTIN, idem, p.48).

A definição de gênero como, “um evento comunicativo que é

socioculturalmente reconhecido” é dada por SWALES (1990). Por seu turno,

KRESS (1989, p.19) o define como “formas convencionalizadas de tipos de

textos com significados específicos, que são utilizados por uma comunidade

numa determinada ocasião”.

Apesar de haver outros fatores na organização do gênero como a

forma, o conteúdo, o público e o canal que determinam a natureza do

gênero, o mais importante são os propósitos comunicativos que se

pretendem contemplar (BHATIA, 1993). Segundo o mesmo autor, um

gênero

pode ser o resultado do uso de alguns recursos léxico-gramaticais específicos, certos tipos de significados associados

2 Comunicação verbal em entrevista gravada por ocasião do XI COLE - Congresso de Leitura do Brasil, UNICAMP, Campinas - SP, 15 a 18 de setembro 1997.

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xxxv

com gêneros específicos, o posicionamento de certos elementos retóricos ou mesmo significados especiais percebidos por intermédio de certas expressões tipicamente associadas com somente um número restrito de gêneros (idem, p.14).

A opção pelo gênero abstract neste trabalho tem como justificativa

que os sujeitos da pesquisa já haviam trabalhado esse gênero no curso de

Leitura Instrumental em que eles participaram. Assim, em relação ao

aspecto formal (organização retórica), esses gêneros também faziam parte

do repertório do conhecimento dos sujeitos.

Além disso, esses sujeitos, inseridos que estão na comunidade

acadêmica, devem ter consciência da importância que o abstract tem para a

divulgação das pesquisas e publicações pois serve como um instrumento

de sumarização dessa produção científica.

O abstract, segundo MOTTA-ROTH e HENDGES (1996, p.1), tem a

função de “atuar de maneira auxiliar na leitura acadêmica, funcionando

como um captador de atenção e ajudando o leitor a detectar passagens

específicas do texto propriamente dito”. As autoras salientam que o abstract

tem “o papel de representar o texto ao qual ele se refere e resumir o

conteúdo do mesmo” (idem, ibidem).

Nesse sentido, MOTTA-ROTH (1997) salienta que

a sistematização das características textuais dos gêneros tem sido discutidas em termos de que combinações de enunciados são típicos em esferas específicas de uso da língua e como os falantes desenvolvem tipos relativamente estáveis de enunciados que refletem as condições específicas e objetivos da interação na qual eles estão participando (p.14)

Page 48: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxxvi

Essa “sistematização das características textuais” se aplica não

apenas à fala, mas também à escrita e se é peculiar a todos os gêneros

parece servir igualmente ao abstract. Em relação a esse aspecto, o que se

pretende é investigar até que ponto os sujeitos da pesquisa têm

conhecimento sobre a organização retórica do abstract, seções (introdução,

metodologia, resultados discussão/conclusão) no que se refere “aos tipos

relativamente estáveis de enunciados” e como esse conhecimento pode

contribuir para uma leitura mais eficiente.

No estudo contrastivo de abstracts em português e em inglês em três

áreas distintas, MOTTA-ROTH e HENDGES (idem, p.1) identificaram itens

lexicais característicos de cada uma das seções usuais nesse gênero textual

acadêmico. Uma constatação bastante freqüente é que abstracts são

iniciados com um sintagma nominal composto de pronome anafórico

(esta/este) e substantivo referente ao trabalho (pesquisa, investigação,

estudo, etc.). Na seção ‘descrevendo a metodologia’ (o segundo movimento

mais freqüente) aparecem elementos comparativos ‘mais do que, ‘menos do

que’ verbos apassivados como ‘foram analisados’. Na seção de

sumarização dos resultados, freqüentemente pode aparecer a palavra

‘resultados’ (the results indicate) acompanhada de verbos como ‘indicam’,

‘sugerem’, ou formas verbais apassivadas como ‘foi demonstrado’ ou

‘demostraram’.

Em vista dessa recorrência verificada em abstracts, pode-se

argumentar que, para melhor produzir significado do texto, além das

categorias de conhecimento sistêmico e esquemático (de conteúdo), acima

referidos, um leitor não pode prescindir da metacognição, sobre de que

Page 49: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxxvii

maneira uma unidade de linguagem como texto pode ou deve se organizar.

Em outras palavras, o conhecimento esquemático de forma é a teoria que o

leitor tem sobre como o texto pode ou deve se organizar. Para entender

como um texto se organiza e para construir o sentido do texto, um leitor

precisa dessa teoria sobre o seu próprio conhecimento ou metacognição.

2.4 Metacognição

O termo metacognição diz respeito à ciência do conhecimento. É o

conhecimento que alguém tem sobre o seu próprio conhecimento. FLAVELL

(1981, p.37) reporta que a metacognição exerce um papel importante na

comunicação oral das informações. Metacognição é “o conhecimento ou

cognição que regula aspectos de qualquer diligência cognitiva”.

No contexto de produção do significado “a metacognição em leitura

trata do problema do monitoramento da compreensão feito pelo próprio

leitor no decorrer da leitura” (LEFFA, 1996, p. 63-64). A metacognição

desenvolve-se proporcionalmente com a idade e à proficiência em leitura,

isto é: leitores eficientes são mais capazes de utilizar atitudes

metacognitivas como, por exemplo, avaliar a sua própria compreensão, ler

seletivamente, reler, selecionar partes mais importantes, enquanto leitores

menos eficientes não o fazem (idem, ibidem). LEFFA (idem) também

enfatiza que a metacognição melhora com a instrução porque, quando as

crianças estão expostas a situações de aprendizagem, podem implementar

o seu comportamento metacognitivo tanto na compreensão quanto na

produção de textos.

Page 50: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxxviii

No intuito de explicitar teoricamente o termo metacognição, LEFFA

(idem, p.48) distingue duas atividades que se relacionam a ela: atividades

cognitivas e metacognitivas. As cognitivas são aquelas que se encontram

abaixo do nível da consciência e se materializam em atitudes automatizadas

como é o caso do reconhecimento de letras, palavras e a seqüência destas

num texto. Essas atividades cognitivas ocorrem quando um leitor não

encontra problemas de compreensão na leitura de um texto.

As atividades metacognitivas dizem respeito à introspecção

consciente do leitor quando, por exemplo, o leitor encontra problemas de

processamento do significado do texto. Nesses casos, o leitor faz uso de

estratégias ou recursos para auxiliar a compreensão do texto (idem, p.88).

DAVIES (1995, p. 50) define estratégia como “uma ação física ou mental

usada consciente ou inconscientemente com a intenção de facilitar a

compreensão do texto”.

Pode-se citar dentre as estratégias possíveis de ser observáveis as

seguintes: sublinhar palavras difíceis, destacar idéias principais, fazer

pausas e voltar para ler o texto. Dentre as estratégias que não podem ser

observadas podemos listar: utilização do conhecimento prévio, observar a

estrutura gramatical de uma frase, observar marcas lingüísticas do texto

(DAVIES, idem, p. 50-51). Por exemplo, numa situação de leitura em voz

alta, pode-se pensar que há evidências de um maior número de estratégias

do que numa situação de leitura silenciosa.

Para estudar o comportamento do leitor que não pode ser

mensurável mediante observação visual, muitas pesquisas em leitura tentam

Page 51: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xxxix

focalizar o leitor a partir do interior da sua mente e da tentativa de entender

o que se passa nela, utilizando-se da técnica da introspecção.

2.5 Introspecção

A introspecção, também conhecida como exame de processos

mentais, tem sido uma das principais técnicas usadas para pesquisar

fenômenos ligados à leitura. Segundo CAVALCANTI (1989, p.137), o

advento do behaviorismo, que propunha que a psicologia deveria ser única

e exclusivamente empírica e baseada na experimentação, “descartou a

introspecção como indesejável na pesquisa”.

Os behavioristas se posicionaram contrários ao uso dessa técnica

porque achavam que apenas a própria pessoa tem acesso à sua vida

mental. Essa visão, no entanto, mudou de rumo no final dos anos 50

quando a pesquisa psicológica começou a relevar a cognição que passou a

ser vista como instrumento de estudo do ‘pensamento’, no lugar do

‘comportamento’ (idem, ibidem) (ênfase minha).

Nessa visão, surgiram alguns paradigmas que se encarregaram de

enfatizar a introspecção como uma técnica de análise do pensamento,

característica essa, que tem sido adotada atualmente em grande parte das

pesquisas em leitura com ênfase no processo. A literatura na área classifica

as técnicas introspectivas em três tipos: ‘auto-observação’, ‘auto relato’ e

‘pensar alto’.

Page 52: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xl

A primeira é uma técnica introspectiva que consiste num relato

contado por um analista-observador. A segunda, também chamada

autopercepção, é uma técnica retrospectiva em que os sujeitos contam a sua

experiência ao pesquisador/analista. A terceira, ‘pensar alto’, também

conhecida por protocolos verbais ou análise de protocolos, ocorre quando

os sujeitos pensam em voz alta durante a desincumbência de uma tarefa

(CAVALCANTI, idem, p. 138).

A técnica objetiva descrever o comportamento do leitor através da

verbalização do seu pensamento durante a leitura. LEFFA (idem, p, 80)

entende que “a análise de protocolos verbais, aplicada à leitura, consiste

essencialmente numa entrevista feita com o leitor, gravação das respostas

dadas e análise dessas respostas”. Na presente pesquisa, realizaram-se

entrevistas com sujeitos com o objetivo de coletar informações adicionais

sobre o grau de dificuldade, vocabulário e conteúdo dos textos que se

constituíram como base dos protocolos.

O excerto abaixo é a opinião de um dos sujeitos transcrita de uma

das entrevistas. Ele comentou as dificuldades para atribuir significado ao

vocabulário do texto dessa maneira:

a primeira palavra que eu encontrei dificuldade foi essa mesmo [referindo-se a raising], só que eu fui seguindo em frente para mim tentar colocar dentro do contexto, mas eu parei mais à frente e vi que eu não ia colocar dentro do contexto então eu voltei até ela...e não sei o que quer dizer”

A técnica protocolos verbais, entretanto, tem algumas limitações.

Dentre elas, parece que é mais difícil a alguém falar o que está pensando no

momento do que relatar retrospectivamente. Essa constatação foi feita pelos

Page 53: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xli

três sujeitos durante os procedimentos de entrevista desta pesquisa. Uma

outra limitação dessa técnica está ligada à empatia do sujeito informante

com o sujeito elicitador. Aquele pode, por causa da presença deste, procurar

mascarar seus pensamentos para ocultar a realidade e não demonstrar

eventuais fraquezas (SCARAMUCCI, 1995).

Por outro lado, COHEN (1987, p. 92), salienta que uma das

vantagens da utilização dos protocolos verbais é que eles podem oferecer

introspecções adicionais e importantes para incrementar a atenção do leitor

aos inputs da língua. E, para evitar uma situação embaraçosa, o mesmo

autor (idem, p.88) assinala ainda que “os dados da técnica de ‘pensar alto’

geralmente são coletados oralmente de um indivíduo por um investigador

fora da aula... com um baixo grau de formalidade de elicitação e com ‘pouca

intervenção externa pelo investigador” (ênfase minha).

Semelhante procedimento foi adotado por SCARAMUCCI (1995) no

seu estudo do ‘Papel do Léxico na Compreensão em Leitura em LE’,

decidindo não permanecer no local da coleta dos protocolos verbais dos

seus sujeitos já que, num estudo piloto, sua presença foi motivo de inibição

e esta poderia ter sido uma forma de desencorajamento da interação leitor-

texto. Tendo como base esse argumento, a minha participação durante a

gravação das leituras dos textos só ocorreu quando fui solicitado pelos

sujeitos por algum motivo.

Um exemplo dessa atividade introspectiva está contido na transcrição

de excertos dos protocolos verbais de um dos sujeitos da pesquisa.

...aonde vou manter e vou segurar esta variável sócio-econômica e nutricional e vou verificar o efeito dessa outra variável (.) deixa eu ver, ah!, então tá. Vou comparar alta

Page 54: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xlii

altitude com baixa altitude. ..ele fala sobre os índices, fala os três né, fala que vai calcular respectivamente. Eu não consegui encaixar dentro do texto esse ‘respectivamente’ (ênfase minha)

Vê-se, pelo excerto do protocolo acima, que Y fez uso de atividades

metacognitivas ao tentar comparar as duas variáveis e as duas altitudes. Ele

tinha consciência das dificuldades de compreensão do texto e por isso teve

que fazer uso da introspecção consciente que ocorre em situações como

essa, quando um leitor encontra dificuldades de processamento do texto.

Essa dificuldade se exemplifica quando ele diz: “eu não consegui encaixar

dentro do texto esse respectivamente”.

2.6 Considerações Finais

Nesse capítulo, procurei apresentar algumas considerações sobre

leitura segundo pesquisadores no assunto. Parece ser senso comum entre

esses pesquisadores considerar a leitura como uma atividade complexa em

que um leitor precisa de conhecimentos de naturezas diversas para construir

significado e, dessa maneira, ter sucesso no ato de ler.

Com referência aos modelos de leitura, existe uma tendência entre os

pesquisadores em eleger modelos interativos por serem mais abrangentes

e porque parecem melhor explicar o processo complexo que é a leitura.

Dentre eles, destaquei o modelo interativo de MOITA LOPES (1996) porque,

além de considerar a interação entre a direção do fluxo da informação, os

processos perceptivos e cognitivos, também leva em conta o ato

Page 55: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xliii

comunicativo de negociação de significado entre os interlocutores.

Salientou-se o conhecimento do vocabulário como componente do

conhecimento sistêmico (conhecimento sintático, morfológico e semântico)

e as categorias de conhecimento do assunto e da estrutura do texto

(esquema de conteúdo e de forma) como parâmetros para conceituar e

discernir ‘conhecimento do vocabulário’ de ‘conhecimento prévio’.

Neste capítulo, tratei também da metacognição como técnica do

monitoramento da leitura permitindo ao leitor avaliar o seu comportamento

durante a leitura e, se preciso for, tomar medidas de ajuste. Discuti,

também, a técnica introspectiva de protocolos verbais, diretamente

relacionada com os procedimentos de investigação utilizados nesta

pesquisa.

No que se refere às três dimensões do conhecimento da pesquisa,

conhecimento do assunto, do vocabulário e da organização retórica do

texto, estabelece-se como prioritário o conhecimento do assunto do texto na

definição de CARRELL (1987, p 461), content schemata, “conhecimento

relativo ao domínio do conteúdo do texto”.

O capítulo 3 a seguir tem como objetivo apresentar, em maiores

detalhes, a metodologia da pesquisa utilizada, tendo em vista buscar

respostas para as questões propostas neste trabalho.

Page 56: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xliv

3 METODOLOGIA

O Capítulo 2 apresenta uma revisão da literatura na área da leitura

tendo como objetivo estabelecer alguns pressupostos teóricos para servirem

de base ao presente trabalho. Este capítulo tem a finalidade de explicitar os

procedimentos utilizados e os instrumentos de coleta de dados que

aconteceram em duas fases distintas: 1) estudo piloto e 2) estudo

propriamente dito.

Seleção de Menos proficiente (X) Estudo piloto sujeitos Proficiência Intermediário (Y) em 3 áreas Mais proficiente (Z) Protocolos 3 textos específicos Entrevistas Resumos

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xlv

Estudo Leitura LM / LE propriamente 2 textos gerais Resumo em LE dito Procedimento Cloze Definir estratégias usadas

Figura 3 - Metodologia: Estudo Piloto e Estudo Propriamente Dito

A primeira fase teve como objetivo geral selecionar os sujeitos da

pesquisa e, após a seleção, oferecer uma situação de treinamento para

familiarizá-los à técnica de protocolos verbais.

A segunda fase teve como objetivo coletar e analisar dados ligados à

leitura de textos em LE e LM, conforme explicitado no capítulo introdutório.

A questão a ser respondida pelo estudo é: em que medida o

conhecimento do vocabulário, do conteúdo e da organização retórica do

texto favorece a compreensão em leitura de abstracts em sujeitos com

diferentes níveis de proficiência e diferentes áreas de conhecimento

A primeira fase da pesquisa, estudo piloto é o assunto da seção 3. 1

a seguir.

3.1 Estudo Piloto

O estudo piloto consistiu na utilização de dois instrumentos. Em

primeiro lugar, aplicou-se um questionário de coleta de dados e, em

seguida, um teste de conhecimentos lingüísticos, ambos para todos os

alunos mestrandos e doutorandos que participavam do curso de Inglês

Instrumental oferecido pelo Departamento de Línguas Estrangeiras

Page 58: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xlvi

Modernas da Universidade Federal de Santa Maria. Esses dois instrumentos

serviram para escolher os sujeitos da pesquisa. Posteriormente,

procederam-se dois treinamentos: um para todos os alunos do curso de

Inglês Instrumental e outro para familiarizar os três sujeitos da pesquisa à

técnica dos protocolos verbais.

3.1.1 Questionário 1

O Questionário 1 foi o primeiro instrumento aplicado tendo em seu

conteúdo informações gerais (idade, sexo, tempo de estudo de inglês,

curso) e outras informações especificamente voltadas à leitura. É importante

salientar que esse questionário foi utilizado também com o objetivo de

recolher informações que pudessem, de alguma forma, servir para

implementar o Programa de Ensino de Inglês Instrumental do Departamento

de Letras Estrangeiras - UFSM. Por esse motivo, questões como a No. 13

não serão comentadas neste estudo.

CAL - Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas Profa. Dra. Désirée Motta-Roth e Profa. Ms. Loeci Paim Procati.

Santa Maria, setembro de 1996 Prezado aluno. Este instrumento tem o objetivo de colher informações para orientar a organização deste e de outros Cursos de Leitura Instrumental em Língua Inglesa, bem como de pesquisas na área. Para tanto, pedimos que você responda às questões de maneira mais precisa possível. Obrigada. Désirée e Lô *

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: 1. 1 Nome:_________________________________ 1. 2 Idade:_________________________________ 1. 3 Sexo: _________________________________ 1. 4 Curso:_________________________________ 1. 5 Área: _________________________________ 1. 6 Tempo de estudo em inglês:_______________

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xlvii

2 - O que é para você saber uma língua?___________________________ ____________________________________________________________

3 - Como você classifica suas habilidades em língua inglesa? Fraca Regular Boa Muito Boa

a) Leitura ( ) ( ) ( ) ( ) b) Escrita ( ) ( ) ( ) ( ) c) Fala ( ) ( ) ( ) ( ) d) Compreensão Oral ( ) ( ) ( ) ( )

4 - Por que é importante para você saber uma LE? __________________________________________________________________________________________________________________________ 5 - Onde você aprendeu a desenvolver suas habilidades em Inglês? a ( ) escola b ( ) cursinho c ( ) exterior d ( ) outros

6 - Sublinhe o tipo de material em inglês que você tem necessidade de ler: a ( ) jornais b ( ) textos acadêmicos de sua área c ( ) folhetos de instrução d ( ) bilhetes/cartas f ( ) formulários g ( ) catálogos h ( ) outros Obs.: a letra “e”, por um lapso, foi omitida.

7 - Em sua opinião, qual é a importância da leitura no dia-dia das pessoas?_____________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________

8 - De que maneira a leitura em língua materna (LM) e em língua estrangeira (LE) se assemelham e se diferenciam? Semelhanças:______________________________________________________________________________________________________________

Diferenças:_________________________________________________________________________________________________________________

9 - Assinale os itens que, na sua opinião, são importantes para realizar a leitura eficiente de um texto em LM e em LE. Use os algarismos 1, 2 e 3 para sinalizar (1) do mais importante e (3) para o menos importante.

LM LE a) Conhecer o assunto tratado no texto .......................................... ( ) ( ) b) Conhecer o tipo de texto (artigo, abstract, etc.).......................... ( ) ( ) c) Saber a quem o texto é dirigido.................................................. ( ) ( ) d) Conhecer o vocabulário usado no texto...................................... ( ) ( ) e) Conhecer a fonte de onde o texto foi extraído............................ ( ) ( ) f) Reconhecer todas as palavras do texto....................................... ( ) ( ) g) Reconhecer sujeito, verbo, objeto das sentenças....................... ( ) ( ) h) Identificar estágios de desenvolvimento do texto....................... ( ) ( ) i) Identificar as relações entre as idéias do texto............................ ( ) ( ) j) Outros........................................................................................ ( ) ( )

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10 - O que você entende por texto coerente? ________________________ ____________________________________________________________ 11 - Qual a sua concepção sobre conhecimento prévio?________________ ____________________________________________________________

12 - O que significa conhecimento lingüístico?________________________ _____________________________________________________________

13 - Assinale com um “X” os assuntos que você prefere que sejam abordados pelos textos estudados em sala de aula: a ( ) saúde b ( ) educação c ( ) religião d ( ) política e ( ) economia f ( ) coluna policial g ( )coluna social h ( ) biografias famosas i ( ) assuntos acadêmicos j ( ) lazer k ( ) trabalho

14 - Comentários adicionais:______________________________________ * adaptação: Neivo Zago Figura 4 - Questionário 1 do estudo piloto

O Questionário 1 teve como objetivo selecionar, dentre os alunos do

curso de Inglês Instrumental, os três sujeitos da pesquisa.

Dos dados pessoais da questão 1 é importante destacar os aspectos

‘curso’, ‘área’ e ‘tempo de estudo em inglês’. Este último aspecto parece ter

ligação com a proficiência uma vez que a aquisição de uma LE parece ter

como componentes básicos o tempo de estudos e a abordagem de ensino.

As questões 2 e 4 solicitavam a opinião dos alunos do curso de Inglês

Instrumental sobre ‘o que é saber uma língua’ e ‘qual a importância de saber

uma LE. Dentre as respostas em relação à questão 2, pôde-se detectar

definições como conhecer as suas regras básicas para a comunicação,

saber ler, escrever e falar, traduzir textos e se comunicar com as pessoas.

Dentre as respostas relativas à questão 4, os alunos apontaram que um dos

objetivos é a leitura de artigos em outras línguas, aquisição de

conhecimentos e comunicação entre as pessoas. Essas questões parecem

relevantes à pesquisa porque os sujeitos estão inseridos num contexto

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xlix

acadêmico onde não apenas o domínio da LM se impõe, mas também o

conhecimento da LE se faz necessário pois uma considerável parte do

conhecimento científico-acadêmico é veiculada em inglês como LE na qual

esses mestrandos e doutorandos precisam pesquisar.

A questão 3 possibilitou a escolha dos sujeitos da pesquisa da turma

de alunos do curso de Inglês Instrumental. De modo geral, viu-se que os

conceitos ‘fraco’ e ‘regular’ foram atribuídos com muita freqüência. Muitos

desses conceitos coincidiram com o desempenho que eles tiveram no teste

de conhecimentos lingüísticos. A relevância dessa questão para a pesquisa

é que permite associar a proficiência dos sujeitos verificada naquele teste

com o seus desempenhos no decorrer desta pesquisa.

A questão 5 solicitava que os alunos assinalassem onde aprenderam

a desenvolver as suas habilidades em inglês. A grande maioria respondeu

‘na escola’. Houve apenas uma resposta ‘no exterior’. Essas respostas

parecem relevantes porque a aprendizagem de uma língua pode estar

associada à abordagem e aos objetivos de ensino. Por exemplo, aprender

uma língua numa escola onde o inglês consta como um, entre tantos

componentes curriculares, parece diferente do que aprender num cursinho

e, aprender no cursinho é diferente do que aprender no exterior numa

situação de imersão total. Nesse sentido, o local onde os alunos do curso de

Inglês Instrumental aprenderam suas habilidades em inglês e o tempo de

estudo, podem ser fatores relevantes para determinar seus níveis de

proficiência e de desempenho nas atividades desenvolvidas nesta pesquisa.

A questão 6 teve como finalidade saber dos alunos a sua preferência

pelo tipo de material que eles gostariam fosse trabalhado no curso de Inglês

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l

Instrumental. A grande maioria deles citou ‘textos acadêmicos’. Essa

preferência determinou que o texto acadêmico fosse utilizado nesta

pesquisa. Também pode-se associar que, numa situação de ensino-

aprendizagem de leitura, é importante levar em consideração o tipo de

material em relação à clientela alvo porque, além da abordagem, o material

pode se constituir num fator de motivação da aprendizagem.

A questão 7 solicitava que os alunos avaliassem a importância da

leitura no dia-a-dia. As repostas podem ser resumidas assim: a leitura

possibilita o acesso às informações, atualização profissional, formação

pessoal e aquisição de conhecimentos. Essas opiniões parecem relevantes

porque pode-se associar a prática da leitura com proficiência uma vez que

ambas estão intimamente vinculadas.

A maioria dos entrevistados não respondeu a questão 8 que solicitava

que eles identificassem semelhanças e diferenças entre LM e LE. A

estrutura dos elementos da frase e os cognatos foram duas das poucas

semelhanças dadas. Dentre as diferenças apontadas destacam-se a

pronúncia, a origem diferente das palavras e a origem das duas línguas.

Pôde-se notar, que uma boa parte dos alunos deixou de responder a essa

questão. A relevância dessa questão para a pesquisa diz respeito à

dimensão de conhecimento do vocabulário e que faz parte do conhecimento

lingüístico.

A questão 9 solicitava uma avaliação de uma lista de itens sobre LM

e LE. Destacam-se dentre eles as letras a, d, e h, que se relacionam às três

dimensões de conhecimento que compõem a questão da pesquisa. De

modo geral, aproximadamente a metade dos alunos do curso de Inglês

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li

Instrumental avaliou como muito importante conhecer o assunto, o

vocabulário e a organização retórica dos textos, principalmente em LE.

Dentre eles, 11 consideram muito importante conhecer o assunto do texto

em LM. Esse mesmo número se repetiu em relação a LE. Especificamente,

o resultado da avaliação dos três sujeitos em relação ao itens destacados

acima, passou a se constituir num importante material de discussão ao

longo desta pesquisa.

Foram encontradas algumas respostas coincidentes sobre a questão

10, que solicitava dos alunos uma definição de ‘texto coerente’. De modo

geral, eles responderam que um texto coerente é o que tem introdução,

desenvolvimento e conclusão. Ou, que é um texto que tem sentido e de

fácil entendimento. O conceito de texto coerente é importante para a

pesquisa porque a coerência possibilita a compreensão ao texto e faz com

que o leitor veja uma “continuidade de sentido’ (BEAUGRANDE &

DRESSLER, 1981), possibilitando com isso a compreensão dos textos de

conteúdos específicos e gerais, elaboração de procedimentos Cloze e

resumos.

Pelas respostas da questão 11 notou-se que os alunos entenderam

‘conhecimento prévio’, como o conhecimento sobre o assunto enfocado.

Essa questão é importante porque a noção que esses alunos têm de

conhecimento prévio é a mesma adotada nesta pesquisa: conhecimento do

assunto do texto. Esta dimensão acrescida à do conhecimento do

vocabulário e organização retórica do texto compõem a questão da

pesquisa, que consiste em investigar em que medida a compreensão

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lii

acontece em leitura de textos em LE e LM em sujeitos de diferentes níveis

de proficiência.

A questão 12 solicitava a definição de ‘conhecimento lingüístico’. As

respostas dadas podem ser sintetizadas nesta que um dos alunos escreveu:

“conhecer a estrutura, os termos e a gramática da língua”. Essa questão

também é relevante para a pesquisa porque o vocabulário, como

componente do conhecimento lingüístico, é também uma das dimensões a

serem investigadas nesta pesquisa e portanto é também necessário para a

compreensão de textos em LE conforme o próprio depoimento dos sujeitos

da pesquisa (seção 4. 2. 1)

Em resumo, pode-se dizer que o questionário ofereceu questões

relevantes a esta pesquisa que puderam ser verificadas a partir da auto-

avaliação dos alunos sobre as suas habilidades lingüísticas e da atribuição

de valores a itens necessários para uma eficiente leitura de um texto.

3.1.2 Teste de Conhecimentos Lingüísticos

O segundo instrumento do estudo piloto constou de um teste de

conhecimentos lingüísticos, envolvendo a leitura de um texto em inglês

como LE e a resposta a oito questões para verificar a compreensão do

texto e conhecimento da LE dos alunos do curso de Inglês Instrumental.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS PROFESSORA Dra. DÉSIRÉE MOTTA-ROTH *

The camera and the eye are similar in many aspects. They both need light rays in order to function. Both have a sensitive surface on which the image is

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liii

formed. In the eye the image is formed on the retina. In the camera the images are formed on the film. As in the camera, the image on the retina is inverted. Both the camera and the eye have a lens. The lens focuses the image on the sensitive surface. In the camera the lens moves backwards and forwards. In the eye the curvature of the lens is changed. In this respect the eye differs from the camera. Both the camera and the eye have a device to regulate the amount of light that passes through the lens. In the camera there is a shutter of variable speed and a diaphragm of variable aperture. In the eye the iris automatically adjusts the size of the pupil according to the intensity of light. Both the eye and the camera are sensitive to light shade and color. The film records light, shade and color. The eye perceives them but doesn’t record them. The two eyes together produce a three-dimensional image. The camera lens perform a two-dimensional image. The eye is more flexible than the camera. It can adapt more quickly to a wider range of light conditions. Both the camera and the eye can register small objects and distant objects. The camera performs the functions better than the eye (Published in “Reading and Thinking in English” 1979, p. 90-91) 1 - Preencha os espaços com palavras adequadas: There____many coincidences between a camera and an____. Both only function with_____rays. There are sensitive surfaces on______ the image is formed. The______is responsible to keep the image, which in the ______is formed on the film.______ the eye and the camera have a unique_______: the inverted image. Both the camera and the eye______a lens. The image is focused by ______lens on the sensitive surface. The lens in the camera moves backwards and _______. Otherwise in the eye the curvature_______the lens is changed which constitutes____of the differences between the eye ____the camera. The camera and______eye have a design to manage the_______of light that passes through the_______. The device in the camera is called_______ whereas in the eye the________ adjusts the sizes of the pupil________ to the intensity of light. Both the eye _____the camera are sensitive. The______lens is more sensitive than the________ because the eye is______flexible to adapt to a wider range ___ light condition. 2 - Qual seria o melhor título para o texto? a ( ) Differences between the eye and the camera b ( ) Problems related to the eye and the camera c ( ) Similarities between the eye and the camera d ( ) How to opetare two types of lenses e ( ) The sensibility for light in the eyes and cameras 3 - Marque a alternativa correta de acordo com o texto: a ( ) The camera and the eyes both produce two-dimensional images b ( ) Eyes and cameras both produce three-dimensional images c ( ) Only the eye produces two-dimensional images d ( ) Only the camera produces three-dimensional images e ( ) The camera performs two-dimensional and the eyes three-dimensional images 4 - “The eye is more flexible than the camera”. Marque a alternativas em que o adjetivo tem a mesma formação na forma comparativa:

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a ( ) big b ( ) simple c ( ) comfortable d ( ) tall e ( ) dry 5 - Preencha os espaços com a forma apropriada dos verbos que estão nos parênteses. Siga o exemplo dado: Example:..the amount of light which passes through the lens (to pass) a) The lenses______ the image on the sensitive surface. (to focus) b) Eyes________ from cameras is some aspects (to differ) c) The lens in the camera______backwards and forwards (to move) d) Films _______ light, shade and color (to record) e) The camera_____similar to the eye in many aspects (to be) 6 - Na sentença: “Both the camera and the eye have a device to regulate the amount of light which passes through the lens”, a palavras sublinhada refere-se a the amount of light Faça o mesmo com as frases a seguir: a) The camera and the eye are similar in many aspects, They both need light _____________________________________________________________ b) The film records light, shade and color. The eye perceives them. _____________________________________________________ c) The eye is more flexible than the camera. It can adapt more quicly...________ d) Both the camera and the eye can register small objects and distant objects. The camera performs these functions better than the eyes._________________ e) In the eye the curvature of the lens is changed. In this respect the eye differs from the camera_______________________________________________ 7 - Escreva nos parênteses F (falso) ou V (verdadeiro), de acordo com o texto: a ( ) The camera and the eye are different in many aspects b ( ) Only the camera needs light rays in order to work c ( ) The eye is more sensitive to light, shade and color d ( ) The camera is more flexible than the eye e ( ) Both the eye and the camera have lenses f ( ) The camera perceives small distant objects better than the eye g ( ) The lens doesn’t focus the image on sensitive surface h ( ) Both the eye and the camera are useful tools i ( ) The camera lens produces a two-dimensional image j ( ) The camera and the eye have a device to regulate the amount of light that passes through them 8 - Escreva em Português uma ou duas frases que possam resumir a idéia principal de cada parágrafo: 1st paragraph:_________________________________________________ 2nd paragraph:________________________________________________ 3rd paragraph:_________________________________________________ 4th paragraph:_________________________________________________ 5th paragraph:_________________________________________________ * adaptação: Neivo Zago Figura 5 - Teste de conhecimentos lingüísticos.

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lv

O teste de conhecimentos lingüísticos constou de oito questões que

foram avaliadas com base nos seguintes instrumentos de avaliação:

procedimento Cloze, exercícios de múltipla-escolha, falso-verdadeiro, e

resumo. Este último, acrescido do Cloze foram usados para investigar as

dimensões do conhecimento da pesquisa propriamente dita: conhecimento

do assunto, do vocabulário e da organização retórica do texto.

A questão No. 1 solicitava que os alunos do curso de Inglês

Instrumental preenchessem 25 lacunas de um texto reelaborado do próprio

texto (Figura 5, questão 1). Viu-se na seção 3.2.2 que, para o bom

desempenho no preenchimento do procedimento Cloze, o leitor precisa de

níveis de conhecimentos lexical, sintático e semântico e de habilidades de

compreensão global do texto.

As questões 2, 3, e 4 solicitavam que os alunos do referido curso

assinalassem uma das cinco alternativas dadas. Essas questões exigiam

dos alunos capacidade de compreensão (questões 2 e 3) e de

conhecimento gramatical (questão 4). A questão 5 solicitava que os alunos

fizessem a concordância dos verbos com seus respectivos sujeitos, no

tempo presente simples, exigindo deles conhecimentos gramaticais. Já a

questão 6 solicitava que eles associassem as palavras em destaque em

relação aos seus referentes na frase.

A questão 7 avaliava a capacidade de compreensão de um texto em

LE através de um exercício falso/verdadeiro com 10 itens. A questão 8

solicitava que os alunos fizessem um resumo sobre a idéia principal de cada

parágrafo exigindo deles a habilidade de sumarização, neste caso,

sumarização parcial do texto. A seção 3.2.2 constou que o resumo não só

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lvi

pode avaliar a compreensão em leitura como também a capacidade de

produção textual.

O teste de conhecimentos lingüísticos foi utilizado para avaliar o

conhecimento dos alunos da turma de Inglês Instrumental em LE, visando à

escolha dos sujeitos de acordo com os seguintes níveis: menos proficiente,

intermediário e mais proficiente.

3.1.3 Perfil dos Sujeitos

A partir do cotejamento de dados do Questionário 1 e dos resultados

do teste de conhecimentos lingüisticos obtido pelos alunos do curso de

Inglês Instrumental procedi à escolha dos sujeitos da pesquisa. Para essa

escolha, utilizei dois critérios: a) área de formação e b) nível de proficiência.

Escolhi um sujeito menos proficiente de Engenharia Civil, um intermediário

de Educação Física e um mais proficiente em Administração de Empresas.

Os sujeitos desta pesquisa foram assim denominados: X, menos

proficiente; Y, intermediário; e Z, mais proficiente.

X auto-avaliou-se ‘fraco’ em todas as habilidades lingüísticas o que

parece condizente com o seu desempenho de 29% evidenciado no teste de

conhecimentos lingüísticos. Ele reconhece a importância do conhecimento

do vocabulário como a dimensão mais importante para se compreender um

texto em LE. X foi escolhido como sujeito da pesquisa para que se pudesse

investigar em que medida um leitor ‘menos proficiente’ compreende textos

em LE de área de conhecimento específico e textos de conhecimento geral.

Page 69: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lvii

Y, auto-avaliou-se ‘regular’ em leitura e ‘fraco’ nas demais habilidades

lingüísticas. No teste de conhecimentos lingüísticos, Y teve um

aproveitamento de 65%. Ressalta o conhecimento do assunto como

fundamental para a compreensão de textos, embora atribua suas limitações

ao desconhecimento do vocabulário em LE. Foi escolhido como sujeito da

pesquisa para que se pudesse investigar em que medida um leitor de nível

de proficiência ‘intermediário’ compreende textos de área de conhecimento

específico e de área de conhecimento geral.

Z auto-avaliou-se ‘fraco’ em leitura e ‘regular’ nas demais habilidades

lingüísticas. No teste de conhecimentos lingüísticos, obteve 74% de

aproveitamento. Reconhece que é importante saber de que área um texto

em LE trata e também ressalta a importância do vocabulário para a

compreensão em leitura. Foi escolhido como sujeito da pesquisa para que

se pudesse investigar em que medida a compreensão de textos em LE

acontece em leitores ‘mais proficientes’.

Um quarto sujeito da área da Ciência do Movimento Humano

(Educação Física) foi escolhido juntamente com os três acima mencionados.

Ele participou dos treinamentos do estudo piloto juntamente com os demais

sujeitos. No entanto, devido à sua nacionalidade de fala espanhola foi

dispensado antes da realização do estudo propriamente dito, por se

constituir numa exceção em relação aos demais. Ele é nicaragüense, tem o

espanhol como sua LM, o português como segunda língua e o inglês como

língua estrangeira. Pelo fato de não ser objetivo da pesquisa determinar até

que ponto uma língua poderia interferir sobre outra no estudo, e não tendo

como explicar essa variável, optou-se por dispensar esse sujeito.

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lviii

Além do Questionário 1 e do teste de conhecimentos lingüísticos no

estudo piloto, foram realizados dois treinamentos:

O Treinamento 1 foi extensivo a todos os alunos do curso de Inglês

Instrumental, enquanto que o Treinamento 2 foi específico para os sujeitos

escolhidos. O primeiro constou de um estudo adaptado daquele realizado

por TAVARES (1993), uma experiência do uso da técnica introspecção, uma

vez que esta seria utilizada no estudo propriamente dito. O segundo teve

como técnica os protocolos verbais de dois textos previamente escolhidos.

3.1.4 Treinamento 1

O Treinamento 1 mostrou um exemplo de protocolo verbal. Nesse

exemplo um leitor-modelo, no momento em que lia o primeiro parágrafo de

um texto em LE, assinalava uma pausa a cada palavra desconhecida. Após

a leitura desse parágrafo, o leitor-modelo explicou os motivos de cada uma

das pausas feitas (TAVARES, 1993).

Com base nesse modelo, todos os alunos do curso de Inglês

Instrumental foram solicitados a ler o segundo parágrafo do texto do leitor-

modelo, seguindo o mesmo procedimento adotado por ele. Num primeiro

momento, os alunos fizeram essa tarefa individualmente. Num segundo

momento, eles se reuniram em duplas para comparar as pausas marcadas

e os comentários sobre elas visando encontrar coincidências e divergências

entre seus procedimentos.

De modo geral, os alunos apontaram como limitações do treinamento

a exigüidade de tempo destinado para a realização da tarefa e a falta de

experiência sobre a mesma. Por outro lado, eles avaliaram como ponto

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lix

positivo o fato de a técnica ter-lhes propiciado uma possibilidade diferente

de leitura de um texto em inglês.

3.1.5 Treinamento 2

O Treinamento 2 foi realizado, desta vez restrito aos sujeitos da

pesquisa, tendo como objetivo aperfeiçoar a técnica de introspecção através

dos protocolos verbais que consistem na verbalização simultânea do

pensamento enquanto os sujeitos lêem um determinado texto. Esse

treinamento solicitou que cada sujeito fizesse comentários orais no

momento em que encontrava dúvidas no decorrer da leitura. Assim como

aconteceu no Treinamento 1 e para melhor orientar os sujeitos sobre a

atividade, foi-lhes dado um texto-modelo, em inglês, acompanhado da

transcrição dos protocolos de um leitor anônimo (CAVALCANTI, 1989, p.

150).

Uma entrevista também foi realizada imediatamente após os

protocolos verbais com objetivo de recolher informações relativas ao grau de

dificuldade do texto, à importância do assunto, do vocabulário e de como o

texto estava organizado.

3. 1. 5. 1 Protocolos verbais

Para a coleta de dados, com base na técnica introspectiva, segui

COHEN (1987:88) e SCARAMUCCI (1995:124) quando propõem que um

investigador geralmente coleta informações de um sujeito, oralmente, no

momento em que elas ocorrem, sem formalidades e evitando interferir no

processo para não inibi-lo. Para efeito de transcrição dos protocolos, foram

Page 72: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lx

utilizadas as abreviações encontradas em CAVALCANTI (1989) e

SCARAMUCCI (1995) com algumas adaptações:

a) [ ] adição ou explicação do pesquisador

b) itálico palavra ou expressão falada ou lida em inglês

c) ((MM)) murmura como se falasse para si mesmo

d) negrito destaque

e) (...) omissão de palavra(s) ou excertos

f) (.) pausa

g) s-o-l-e-t-r-a-d-o

h) / / transcrição da pronúncia da palavra lida pelo informante

i) X leitor menos proficiente (Engenharia Civil)

j) Y leitor intermediário (Educação Física) k) Z leitor mais proficiente (Administração de Empresas) l) PE pesquisador

A seguir, transcrevo excertos dos protocolos verbais do leitor sobre

um dos textos utilizados no Treinamento 2 a título de ilustração. É

importante salientar que esse leitor enfatizou, nas entrevistas dos

protocolos, a deficiência do vocabulário como seu maior problema em leitura

de textos em inglês.

Na tentativa de leitura e interpretação (.) é do texto (.) é (.) eu pude é (.) ver é (.) e sentir a minha dificuldade, é relacionado ao meu vocabulário é, muito reduzido, né tchê. Têm (.) vendo aqui que têm palavras como sizing , mittens , upon é (.) que eu não saberia traduzir, conseqüentemente é, dificulta a leitura, a interpretação do texto (.). É, seguindo com a leitura do abstract é (.) vimos mais adiante a palavra dexterity , heat , balance , que também não sei o significado. Eh, mais adiante a palavra choice , length (.) que também não sei o significado.

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lxi

Eh (.) trials /trials/ fitted ,/fi:ted/, /gout/ (.) [pronúncia bastante distorcida numa tentativa de representar group ] conscripts (.) que também não sei o significado, needed /ni:deded/ também não (.).

Nota-se, a partir do seu depoimento, que X não apenas reconhece,

mas também demonstra, através das palavras em destaque, a sua

preocupação pelo desconhecimento do vocabulário que, segundo ele, “é

reduzido”. Essa constatação, repete-se durante toda a pesquisa quando ele,

por diversas vezes, salienta esse aspecto.

Um outro procedimento utilizado para a coleta de dados foi a

entrevista que se realizou em seguida a cada um dos protocolos verbais.

3.1.5.2 Entrevista

As entrevistas, realizadas imediatamente após a gravação dos

protocolos, tiveram o objetivo de coletar informações adicionais sobre os

textos lidos. As perguntas, em número limitado, solicitavam a opinião dos

sujeitos sobre o grau de dificuldade do texto em relação ao conhecimento de

conteúdo, do vocabulário, da organização retórica e eventuais dificuldades

ocorridas durante a leitura dos textos.

A título de ilustração, apresento um excerto da entrevista realizada no

Estudo Piloto no Treinamento 2.

PE: Você acaba de fazer uma análise de um abstract. Eu gostaria de

saber qual a sua opinião/comentários a respeito.

X: No texto (.) é [An anthropometric study as the basis for sizing anatomically designed mittens, o que você achou desse texto] nesse eu senti mais dificuldade porque é um assunto, vamos dizer assim, eh, não vou dizer de pouco conhecimento da minha parte com relação ao instrumental, eh (.) me

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lxii

dificultou bastante a leitura praticamente eu não consegui compreender o que está escrito ali diante de tantas palavras que eu não sei o significado.

PE: Você poderia destacar, a partir do título, quais as palavras que

ficaram obscuras, sem compreensão, sem tradução?

X: Olha, o título já não entendi por exemplo, sizing, mittens, eh (.) basis [quer dizer já a partir do título] já a partir do título não sei o significado.

PE: E ainda no próprio texto, que outras palavras você poderia

destacar?

X: Muitas palavras, por exemplo ah (.) sizing, mittens, upon, eh, measurements, conscripts, né, isso aí também eu assinalei né, group o trials /trials/, não saberia dizer, [esse large o que você entendeu] large não, não entendi, [também não].

PE: Você sabia que este texto é mais próprio da sua área ou não é?

X: (.) exatamente eu vi, trata da parte eh (.) da ergonomia, né tchê, os estudos ergonômicos, né tchê, mas infelizmente ah dado o grande número de palavras que eu não sei traduzir durante todos os parágrafos do texto [usou outra vez parágrafos no lugar de frases] é (.) eu não consigo compreender absolutamente, praticamente nada do que tá escrito aí.

PE: Quer dizer que apesar de então ser um assunto, que você

chegou à conclusão que é um assunto mais propenso à sua área, né. mas

o problema (.)

X: está no vocabulário. Pode-se notar que X, “na tentativa de leitura e interpretação do texto”

(suas palavras no início do protocolo), preocupou-se apenas em salientar as

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lxiii

palavras cujo significado ele não sabia. Parece que ele usou

propositadamente a expressão ‘na tentativa de’ uma vez que ele, reconhece

a sua deficiência de vocabulário. Durante o procedimento, X repetiu várias

vezes a expressão ‘não sei o significado’. Viu-se que ele se preocupou

demasiadamente com o vocabulário e, embora o assunto do texto tivesse

alguma relação com a sua área de conhecimento (ergonomia), ele parece

não ter levado em conta esse aspecto.

3.1.6 Realinhamento da Metodologia

Tendo como fundamento as limitações dos treinamentos utilizados,

verifiquei a necessidade de proceder a um realinhamento da metodologia da

pesquisa. Por exemplo, com referência aos textos que, no Estudo Piloto

contemplaram duas áreas de conhecimento, passam a três no Estudo

Propriamente Dito tendo como base a área de conhecimento relativa aos

cursos de graduação dos três sujeitos: Engenharia Civil, Educação Física e

Administração de Empresas.

Decidi continuar com a mesma sistemática de gravação dos

protocolos verbais feitas no Treinamento 2 do estudo piloto, pois acreditava

que, deixando os sujeitos a sós durante a gravação das leituras, eles teriam

maior liberdade para expressarem seus pensamentos, sendo que a minha

interferência aconteceu somente quando fui solicitado por algum motivo.

Achei positiva a avaliação das entrevistas e por essa razão elas foram

mantidas, pois acreditava que elas pudessem oferecer informações

adicionais para análise e discussão dos dados.

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lxiv

A segunda fase se constituiu no estudo propriamente dito e passa a

ser detalhada na seção a seguir.

3.2 Estudo Propriamente Dito

O estudo propriamente dito teve como objetivo principal investigar

em que medida as dimensões do conhecimento do assunto, do vocabulário

e da organização retórica do textos favorecem a compreensão de textos em

LM e LE em sujeitos de diferentes níveis de proficiência.

Esse estudo se desenvolveu em dois momentos: O primeiro constou

da gravação dos protocolos verbais de três textos específicos às áreas de

conhecimento dos sujeitos da pesquisa, Engenharia Civil, Administração de

Empresas e Educação Física e das entrevistas, (Anexos I, II e III). O

segundo, da leitura de dois textos de conteúdo geral, um em LE e outro em

LM (Anexos IV e V).

Para investigar as três dimensões do conhecimento acima referidas,

no primeiro momento, foram utilizados os seguintes instrumentos de

avaliação da compreensão: protocolos verbais, entrevistas e resumos. No

segundo momento, para investigar em que medida a compreensão em

leitura acontece, tanto em LE quanto em LM nesses sujeitos, foram

utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: leitura, resumo e

procedimento Cloze.

Foram realizados três protocolos verbais referentes aos três textos de

conteúdos específicos. Esses protocolos, que consistem na verbalização do

pensamento do sujeito no momento em que ele se desincumbe de uma

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lxv

tarefa introspectiva, forneceram evidências de utilização do conhecimento

do assunto, do vocabulário, da organização retórica do texto e de uso de

estratégias de leitura. Os dados oriundos dos protocolos se constituíram em

material de discussão relevante para este estudo.

As entrevistas que se seguiram após os protocolos tiveram como

objetivo coletar dados adicionais sobre os protocolos verbais dos três textos

específicos tais como: opinião dos sujeitos sobre a importância do

conhecimento do assunto, do vocabulário e da organização retórica do

texto, dificuldades encontradas nessa atividade.

Os resumos elaborados pelos sujeitos tanto em relação aos três

textos específicos em LE (Anexos I, II e II), quanto ao texto de conhecimento

geral em LE (Anexo IV ) tiveram como objetivo investigar a compreensão

dos sujeitos e investigar o conhecimento da organização retórica do texto

desses sujeitos.

Os procedimentos Cloze elaborados a partir dos dois textos de

conhecimentos gerais em LM e LE tiveram a finalidade de investigar em que

medida a compreensão se dá em sujeitos de diferentes níveis de

proficiência nesses textos. Justifica-se a inclusão do texto de conhecimentos

gerais em LM com a finalidade de investigar se a proficiência em leitura em

LM pode estar relacionada à proficiência em leitura em LE, ou se o

desempenho em leitura em LE está relacionado ao conhecimento do sujeito

nessa língua.

Inicialmente pensou-se em utilizar os mesmos textos dos protocolos

verbais como base para os procedimentos Cloze. No entanto, não sendo

possível investigar até que ponto o preenchimento correto das lacunas

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lxvi

poderia ser creditado à capacidade de memória do sujeitos, uma vez que

esses textos já haviam sido trabalhados nos protocolos verbais, optou-se

pelos dois textos referidos acima.

Tendo em vista essas duas naturezas distintas, (conhecimento

específico e geral), pode-se pensar que a compreensão dos sujeitos de

diferentes níveis de proficiência, ocorre de duas maneiras. Primeiro, o

conhecimento prévio do texto pode favorecer a compreensão dos sujeitos

em suas áreas. Segundo, pode-se pensar que um domínio maior do

vocabulário seria necessário para a compreensão dos textos gerais em LM

e LE.

O último instrumento de coleta de dados, Questionário 2, foi aplicado

quando os textos de conhecimento específico e de conhecimento geral já

haviam sido trabalhados por todos os sujeitos.

3.2.1 Questionário 2

O Questionário 2 teve como objetivo recolher informações adicionais

sobre leitura uma vez que, este instrumento foi aplicado quando os sujeitos

da pesquisa já haviam concluído o curso de Leitura Instrumental.

A questão 1 desse instrumento solicitou que os sujeitos avaliassem

seu hábito de leitura em LM e LE com o objetivo de poder estabelecer uma

relação entre ‘freqüência’ em leitura com ‘proficiência’. GRABE (1988, p.

199) argumenta que “a leitura é uma habilidade que deve ser praticada

constantemente e reforçada sempre que possível durante um longo período

de tempo”.

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lxvii

A questão 2 tinha como finalidade verificar a noção dos sujeitos

sobre o texto acadêmico abstract, uma vez que, a) no curso de Inglês

Instrumental eles tiveram noções desse gênero e b) nesta pesquisa esse

gênero serviu para investigar as três dimensões de conhecimento acima

referidas.

A questão 3 tinha como objetivo verificar se as estratégias

assinaladas pelos sujeitos foram efetivamente utilizadas nos protocolos

verbais, pois o uso de estratégias em leitura parece estar associado aos

graus de dificuldade de compreensão do texto em que um leitor se utiliza de

atividades cognitivas ou metacognitivas.

A questão 4 solicitava uma resposta dos sujeitos sobre a questão: ‘o

que você entende por leitura’. Esta questão e as anteriores são retomadas

na seção 4. 4 (Questionário 2) capítulo 4.

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lxviii

Questionário 2

Responda às seguintes questões procurando fazê-lo da maneira mais precisa possível 1 - Como tem sido o seu comportamento com relação às suas leituras após terminado o curso de Leitura Instrumental? Você tem utilizado os conhecimentos adquiridos no curso? a) Em leitura de textos em LM?( ) muito ( ) razoavelmente ( ) pouco b) Em leitura de textos e LE? ( ) muito ( ) razoavelmente ( ) pouco c) Em pesquisas, principalmente na leitura de resumos (abstracts) ( ) muito ( ) razoavelmente ( ) pouco 2) Ao ler os resumos (abstracts) você o faz procurando observar: a( ) mais o conteúdo do texto e menos a organização retórica; b( ) mais a organização retórica e menos o conteúdo do texto; ou c( ) tanto o conteúdo quanto a organização retórica 3 - Quais dentre as estratégias a seguir você põe em prática na leitura de um texto em inglês? a ( ) começa lendo o título b ( ) na dúvida, volta para reler c ( ) vai adiante mesmo sem entender d ( ) formula hipóteses e ( ) corrige erros eventuais f ( ) utiliza conhecimentos de outros textos g ( ) utiliza conhecimento do tópico do texto h ( ) observa a estrutura retórica da frase/oração i ( ) observa o significado das palavras j ( ) observa a pontuação k ( ) destaca as idéias principais l ( ) dá uma olhada geral no texto m( ) lê só a 1a. linha de cada parágrafo n ( ) lê em voz alta quando não entende o ( ) faz uso freqüente do dicionário p ( ) faz anotações ao lado do texto q ( ) leva em conta as palavras cognatas r ( ) sublinha as palavras desconhecidas s ( ) outras: especifique 4 - O que você entende por leitura?________________________________ ____________________________________________________________ Figura 6 – Questionário 2 do estudo propriamente dito.

A seção a seguir trata dos testes de avaliação em leitura utilizados na

leitura dos textos específicos em LE e na leitura dos textos gerais em LE e

LM.

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lxix

3.2.2 Testes de Avaliação em Leitura

Entre os vários testes disponíveis para a avaliação da

compreensão em leitura, a solicitação de um resumo após a leitura

de um texto parece se constituir num instrumento válido. Segundo

SCARAMUCCI3 (1997), um resumo não detecta apenas habilidades

de compreensão em leitura, mas também exige do leitor habilidades

de produção textual. Ela vê duas situações que podem influenciar a

elaboração de um resumo e que podem ser vistas como

complicadoras. Por um lado, o resumo tem a finalidade de avaliar a

capacidade de compreensão, e por outro, pode também avaliar a

capacidade de elaboração do leitor. Assim, como se explicaria um

resumo mal escrito? Seria ele resultado da não compreensão do

texto ou da falta de habilidades do leitor em (re)produzi-lo? Essa

parece ser uma das limitações de se utilizar o resumo como um

instrumento de avaliação da compreensão em leitura. WIELEWICKI

(1996, p.71) aponta a sumarização como uma das habilidades

necessárias para o estabelecimento da compreensão em leitura.

Como parte da habilidade de sumarização, o mesmo destaca micro-

habilidades que são usadas para diferentes propósitos como, por

exemplo, a sumarização parcial (pontos salientes) ou geral (texto

como um todo).

Com base nessa argumentação decidi usar o resumo escrito

do texto como instrumento de avaliação da compreensão em

3 “Avaliar não é dar Nota”, Palestra apresentada no Seminário Novas Propostas para o Desenvolvimento da Linguagem, IX edição, Santa Maria, 30 de setembro 1996.

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lxx

leitura. Além disso, meu objetivo foi também verificar até que ponto

os três sujeitos colocariam em prática o seu conhecimento sobre a

organização do texto em estágios como introdução, metodologia,

resultados e discussão, porque a identificação desses estágios, de

alguma forma, parece auxiliar na compreensão do texto como um

todo, como por exemplo na leitura de um abstract.

A utilização do resumo como instrumento de avaliação da

compreensão em leitura também foi adotado por BARETTA4 (1997)

como instrumento de avaliação da compreensão no seu experimento

com alunos de nível de proficiência intermediário em leitura de textos

em inglês como LE. Esses alunos tiveram a liberdade de optar pelo

resumo em português ou em inglês numa tarefa extraclasse.

Aproximadamente 90% desses alunos fizeram seu resumo em

português seguindo os passos do texto em inglês. Este parece ter sido,

de modo geral, o comportamento dos sujeitos Y e Z, como pode ser

constatado na elaboração dos seus resumos nesta pesquisa.

Outro instrumento que também pode ser usado para avaliar a

compreensão em leitura é o procedimento Cloze. Esse procedimento

consiste em deixar lacunas num texto para serem preenchidas pelo

leitor enquanto lê. Essas lacunas podem ocorrer num espaçamento

rígido, a cada 5, 7, ou 8 palavras, por exemplo, ou, dependendo dos

objetivos do avaliador, podem não obedecer a essa regra, uma vez

4 “O resumo como instrumento de avaliação da compreensão textual em inglês”. Comunicação apresentada no XI COLE - Congresso de Leitura do Brasil - ‘A Voz e a Letra dos Excluídos’. Programa Oficial, p. 239, UNICAMP - Campinas - São Paulo, Jul. 1997.

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lxxi

que este pode exigir que o aluno preencha apenas palavras que

indicam função, como preposições ou outras que indicam conteúdo,

como substantivos e adjetivos.

Pode-se dizer que o procedimento Cloze diz respeito tanto ao

processo quanto ao produto em leitura. Diz respeito ao processo de

leitura porque sua efetivação depende da elaboração mental do

testando. Também se relaciona ao produto porque ele objetiva à

compreensão, isto é, à produção de sentido do texto.

Acredita-se que esse procedimento não apenas mede a

compreensão, já que, na hora do seu preenchimento, o leitor só terá

sucesso se entender o texto, mas também avalia um nível de competência

global (uma vez que o leitor precisa de conhecimentos em nível lexical,

sintático, e semântico). Nesse sentido, o procedimento Cloze pode ser visto

como uma medida satisfatória de investigação da compreensão em leitura e

tem como vantagem a facilidade de prepará-lo e a rapidez de corrigi-

lo.

Por outro lado, RETORTA5 (1997) vê o procedimento Cloze com

algumas reservas no que concerne a um experimento que teve como

objetivo identificar estratégias usadas por 23 sujeitos considerados

proficientes em LE. Nesse estudo, a pesquisadora solicitou que os sujeitos

descrevessem qual o processo mental que eles usaram para chegar às suas

respostas. Segundo a pesquisadora, nenhum dos sujeitos leu o texto inteiro

antes de responder. Uma das críticas ao Cloze, segundo a pesquisadora, é

5 “Mensuração da compreensão e leitura através da múltipla-escolha e “Cloze.”. Comunicação apresentada no XI COLE - Congresso de Leitura do Brasil ‘A Voz e a Letra dos Escluídos’ Programação Oficial, p. 239. Campinas - UNICAMP - SP, Jul. 1997.

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lxxii

que, para resolver o procedimento Cloze, um leitor não precisa saber a

língua, mas sobre a língua. Dessa maneira, ela não acredita que o Cloze

mede a capacidade de compreensão em leitura. Outra limitação apontada

pela pesquisadora é que a utilização do Cloze tem como característica o

processamento no sentido ascendente (bottom-up) já que o leitor prioriza as

pistas visuais do texto. Uma terceira limitação é que o Cloze não favorece a

fluência em leitura, uma vez que o leitor pára quando não consegue

preencher adequadamente as lacunas do texto.

Por sua vez, BORGES FALCÃO6 (1997), na sua pesquisa com base

na técnica dos protocolos verbais utilizados no Cloze, examinou como

sujeitos em nível intermediário de proficiência em LE procediam na leitura

de textos em inglês. Segundo ela, o Cloze possibilitou a produção de

inferências uma vez que os sujeitos trabalharam em nível micro e também

macro-estrutural do texto. Enquanto que, para RETORTA (1977), o Cloze

demanda do leitor um direcionamento bottom-up, para BORGES FALCÃO

(1977) o leitor utiliza um direcionamento top-down. De certa maneira, acho

que ambas as pesquisadoras têm razão no que se refere ao direcionamento

da informação se considerarmos o nível de proficiência do leitor. Se este for

mais proficiente é provável que adotará o processamento top-down, se não

o for, adotará o processamento bottom-up.

Entendo que os instrumentos de avaliação, acima referidos, (resumo

escrito, entrevista e procedimento Cloze) são suficientes para investigar em

que medida o conhecimento do vocabulário, do conteúdo e da organização

6 “Elaboração dos processos componenciais do processamento textual”. Comunicação apresentada no XI COLE - Congresso de Leitura do Brasil, ‘A Voz e a Letra dos Excluídos’, Programação Oficial, p. 240 Campinas UNICAMP -SP., Julho, 1997.

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lxxiii

retórica do texto favorece a compreensão em leitura de textos acadêmicos

(asbstracts) em sujeitos com diferentes níveis de proficiência em diferentes

áreas de conhecimento.

Os textos que constituem o material de leitura para a pesquisa e que são

apresentados resumidamente fazem parte do conteúdo da próxima seção.

3.2.3 Material de leitura

O material de leitura para a pesquisa constou de três textos

específicos da área de conhecimento de cada um dos três sujeitos da

pesquisa, em relação a suas habilitações dos cursos de graduação:

Engenharia Civil, Educação Física e Administração de Empresas,

respectivamente, textos das áreas de conhecimento de X, Y e Z. Esses

textos foram escolhidos tendo como base dois critérios: área de

conhecimento específico e organização retórica.

Para tanto, ofereci aproximadamente 10 títulos de abstracts a cada

um dos sujeitos, a fim de que cada um deles escolhesse 3 dentre essa

relação. Posteriormente, dentre esses 3 títulos assinalados, escolhi 1 de

cada área tendo como critério os que contemplassem a melhor

organização retórica em relação às seções (introdução, metodologia,

resultados e discussão).

A seguir, faço uma descrição sucinta dos textos, respeitando a ordem

pela qual eles foram trabalhados. Os objetivos desses textos e os

instrumentos de avaliação da compreensão constam da seção 3. 2 deste

capítulo.

Page 86: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxiv

Texto 1)The importance of socieconomic and nutricional condition rather

than altitude on the physical growth of perpubertal Andean highland boys (Anexo

I). O texto relata uma experiência sobre o efeito da hipóxia no crescimento físico

de dois grupos de meninos adolescentes na Bolívia. Os autores da pesquisa

comparam o crescimento físico dos meninos, tendo como base suas condições

socieconômicas e nutricionais e faz a relação com a altitude. Esse texto

contempla a área de conhecimento de Y (Educação Física)

Texto 2) Productivity improvement; efficience approach vs

effectiveness approach (Anexo II). O texto procura relacionar sistemas de

gerenciamento da produtividade através da associação de três índices,

automação da tecnologia, gerência de produção e produtividade,

conjugadas com duas abordagens, eficiência e efetividade que resultam no

aumento da produtividade. Esse texto contempla a área de conhecimento de

Z, ou seja, Administração de Empresas.

Texto 3) Influence of concrete constituents on mode I fracture

characteristics of portland cement concrete (Anexo III). Esse texto faz um estudo

dos constituintes do concreto para verificar até que ponto algumas combinações

são menos ou mais resistentes às rachaduras em vigas de tamanho único. O

estudo é baseado em três métodos que mostraram, de certa forma, uma

consistência entre si. Esse texto é da área da Engenharia Civil, setor de

construção e, portanto, de conteúdo familiar a X.

Texto 4) Helping student teachers think about teaching (Anexo IV) , Esse

texto versa sobre um programa concebido para preparar futuros professores. O

Page 87: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxv

foco da pesquisa é sobre um aluno estagiário (student teacher) que exerce a

docência numa turma de graduação e que é resistente ao pensamento reflexivo.

Esse estagiário é avaliado através de entrevistas, documentos e observação.

Texto 5) Políticas do MEC e Recursos para o Ensino no Governo

Collor, (Anexo V). O texto de dois parágrafos discute dimensões relevantes

como, recursos para o ensino, salário-educação, construção de CIACs e

trata da política educacional do MEC em relação aos três níveis de ensino:

fundamental, médio e superior.

A próxima seção apresenta as considerações finais deste capítulo.

3.3 Considerações finais

No capítulo 3 procurou-se estabelecer a metodologia da pesquisa

utilizada neste trabalho, destacar os procedimentos utilizados, explicitar os

instrumentos de avaliação de compreensão em leitura e descrever as duas

fases da coleta de dados.

A primeira fase, denominada estudo piloto, constou da elaboração e

aplicação de um questionário de coleta de dados aos acadêmicos do curso de

Leitura Instrumental como auto-avaliação das habilidades lingüísticas, visando

selecionar os sujeitos da pesquisa de acordo com as áreas de conhecimento e

nível de proficiência. Dessa fase, também constaram a elaboração e aplicação

dos treinamentos 1 e 2 que pretendiam preparar os sujeitos para desenvolverem

os estudo propriamente dito.

A segunda fase do estudo propriamente dito, constou da escolha de

três textos de conteúdo específico que serviram de textos-base para

Page 88: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxvi

investigar em que medida as três dimensões do conhecimento do assunto,

do vocabulário e da organização retórica do texto favorece a compreensão

em sujeitos de diferentes níveis de proficiência. Para isso, foram utilizados

os seguintes instrumentos de avaliação: protocolos, entrevistas, resumos.

Dois textos de conteúdo geral, um em LM e outro em LE, foram

utilizados com o objetivo de investigar a compreensão nas três dimensões

da questão da pesquisa já referidas anteriormente. O texto em LM foi

utilizado para verificar se existe relação entre a competência em leitura em

LM e LE. Foram estes os instrumentos de avaliação utilizados nesses

textos: resumos e procedimento Cloze.

O Questionário 2 foi aplicado com o objetivo de colher informações

adicionais relacionadas à leitura. Deste questionário, salienta-se a questão

referente às estratégias de leitura que teve como propósito cotejar as

estratégias assinaladas nesse questionário e compará-las com as que

foram detectadas nos protocolos verbais dos sujeitos deste estudo.

O capítulo a seguir discute os resultados oriundos das informações

coletadas por meio dos instrumentos discutidos no presente capítulo.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Page 89: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxvii

O objetivo do capítulo 2 foi apresentar uma revisão da literatura

relevante para o desenvolvimento do presente trabalho. O capítulo 3

apresentou as duas fases distintas da metodologia adotada na pesquisa

dividida em estudo piloto e estudo propriamente dito.

O presente capítulo discute os resultados obtidos nessas duas fases

do estudo tentando estabelecer relações entre esses resultados e a questão

da pesquisa. A discussão dos resultados está organizada em torno de três

dimensões principais. Em primeiro lugar, discuto em que medida o

conhecimento do conteúdo do texto favorece a compreensão em leitores de

diferentes níveis de competência em LE. Em seguida, focalizo o papel do

conhecimento do vocabulário e, por último, examino o conhecimento da

organização retórica do texto em relação a esses três níveis de

competência.

4.1 Importância do conhecimento do assunto

Adota-se como pressuposto que a importância do conhecimento do

assunto é prioritária neste estudo, embora se pretenda também investigar

as dimensões do conhecimento do vocabulário e da organização retórica do

texto. Para tratar dessas dimensões, procura-se levar em consideração a

revisão teórica presente no Capítulo 2 que aponta o conhecimento do

assunto como fator crucial na leitura de textos em LE (ALDERSON &

URQUHART, 1984; BLOCK, 1986; CARREL,1987; CHRISTEN & MURPHY,

1991; WALLACE, 1992; DAVIES, 1995) uma vez que o conhecimento de

Page 90: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxviii

vocabulário por si só, não é condição suficiente para a construção de

sentido em leitura (SCOTT, 1983; MOTTA-ROTH 1991).

Por outro lado, a argumentação em favor da importância do

conhecimento prévio baseia-se também na avaliação dos sujeitos da

pesquisa sobre sua leitura, conforme se verá mais adiante na seção 4. 1.

1.Vale lembrar que, de acordo com o Questionário 1 do estudo piloto os

sujeitos optaram por “textos acadêmicos” como material de leitura para

constar no programa de Inglês Instrumental do qual eles participavam. Essa

preferência por textos acadêmicos parece relevante porque oferece alguma

evidência de que, no ensino-aprendizagem, os alunos parecem se beneficiar

de uma abordagem que enfatiza a leitura de textos específicos da área em

questão, com conceitos e vocabulário próprios daquele campo de

conhecimento ao invés de adotar uma abordagem voltada para o

desenvolvimento do vocabulário em geral, a partir de textos não acadêmicos

de assuntos gerais. Essa visão de ensino de ESP a partir de textos sobre

assuntos gerais tem sido sustentada por alguns autores como SCARAMUCCI,

1996; DEUBER & BRAGA, 1996; BUSNARDO & BRAGA, 1996).

4.1.1 Opinião dos sujeitos sobre conhecimento prévio

A análise da questão 11 (Questionário 1, seção 3.1.1) permite

concluir que os sujeitos da pesquisa têm uma concepção bastante

semelhante sobre conhecimento prévio. De modo geral, X, Y e Z deram

respostas parecidas sobre essa questão ao opinarem que conhecimento

prévio é saber com antecedência sobre o assunto a ser lido. X respondeu

Page 91: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxix

que conhecimento prévio é a “leitura e conhecimento sobre o assunto

enfocado”. Y reportou que conhecimento prévio “é um determinado

conhecimento que se tem antes de iniciar uma leitura ou fala em LE” e Z

definiu que conhecimento prévio “é algo que se sabe antecipadamente

sobre um determinado assunto”.

A noção de conhecimento prévio dos sujeitos é basicamente similar

àquela adotada nesta pesquisa: conhecimento do assunto do texto anterior

à leitura deste. Os sujeitos avaliaram o conhecimento do assunto para a

compreensão do texto, atribuindo numerais: (1) mais importante (2)

intermediário e (3) menos importante, conforme se observa na Tabela 1:

Tabela 1 - Importância do conhecimento do assunto do texto.

Sujeitos X Y Z Itens LM LE LM LE LM LE a – conhecer o assunto tratado no texto 1 1 1 1 2 2

Para X e Y é ‘muito importante’ conhecer o assunto tratado no texto,

mas embora o primeiro tenha atribuído importância ao conhecimento do

assunto para a leitura em LE, não é exatamente isso que ele sustenta no

decorrer da pesquisa, quando insiste em enfatizar o conhecimento do

vocabulário, como fundamental à compreensão. Ele somente muda de

opinião e passa a reconhecer a importância do conhecimento do assunto no

momento em que ele se depara com o texto da sua área de conhecimento.

...aí realmente aquilo que tu dizes, realmente facilita bastante, o conhecimento do assunto, mesmo palavras que eu não entendi, mas no todo teria compreendido o assunto. É, realmente o conhecimento do tema é bastante importante (Entrevista Texto 3, Anexo VI)

Page 92: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxx

Nesse caso, parece que o conhecimento de X sobre o assunto foi

decisivo para a compreensão do texto em LE da sua área de conhecimento

porque, segundo ele, apesar de haver palavras desconhecidas, o fato de

conhecer os conceitos trabalhados na área e as relações entre eles, lhe

permite entender o texto de modo geral.

Y foi, dentre os três sujeitos, o que mais enfatizou o conhecimento do

assunto como fundamental à compreensão de textos em LE:

eu acho que a primeira coisa mais importante é você conhecer o assunto, né porque você conhecendo o assunto já vai direcionar o teu pensamento prá aquilo, né tanto se fosse um assunto de outra, uma parte social, alguma coisa assim, uma revista, eu já pararia aqui e começaria a traduzir palavra, é (.) por palavra, né (Entrevista Texto 1, Anexo VI).

Y entende que o conhecimento do conteúdo do texto (e não o

conhecimento do vocabulário) facilitou sua leitura o que pode ser

exemplificado quando da leitura do texto sobre a sua área de conhecimento:

Bom, dentro do, da, da minha leitura que eu tenho sobre isso foi um texto fácil até facílimo, né. A única parte que a gente não trabalha lá [referindo-se ao seu Mestrado] é sobre essa parte bioquímica, mas só que a gente leva em consideração essas variáveis, a gente, então prá mim foi facílimo (Entrevista Texto 1, Anexo VI).

Y reconhece que houve oportunidade de utilizar seu conhecimento

armazenado de tal forma que não sentiu necessidade de reconhecer todas

as palavras do texto. Conforme é possível deduzir, se o assunto do texto

não lhe fosse familiar, seu procedimento coincidiria com o que SCOTT

(1983, p. 75) descreve: numa situação em que o leitor enfrenta uma tarefa

Page 93: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxi

mais difícil (nesse caso, um texto com vocabulário desconhecido), ele tende

a fixar-se mais nos estímulos visuais através da ativação de seus esquemas

bottom-up.

Z emitiu sua opinião, expressando seu entendimento diferentemente

de X e Y.

não precisa necessariamente conhecer o assunto, mas tem que ser uma área afim com que a gente domina né. E ter vocabulário acho que é bem importante que tem determinadas palavras que a gente não sabe o significado prejudica a compreensão de todo o texto (Entrevista Texto 1, Anexo VI).

Z não se refere ao assunto do texto especificamente, mas a área à

qual ele pertence. Por outro lado, ele entende que o conhecimento do

assunto/área não é suficiente, pois a compreensão também depende do

conhecimento do vocabulário.

Na próxima seção, veremos em que medida essas opiniões refletem

com precisão o comportamento dos sujeitos durante a leitura com base em

evidências que puderam ser notadas a partir dos instrumentos de coleta de

dados utilizados nas duas fases: estudo piloto e estudo propriamente dito.

4.1. 2 Evidências de uso do conhecimento do assunto

Há, pelo menos, três evidências que ilustram como a importância do

conhecimento do assunto parece ter favorecido à compreensão de textos

em LE.

A primeira evidência foi possível de ser observada a partir da leitura

dos títulos dos textos da área de conhecimento específico de cada um dos

Page 94: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxii

sujeitos. Nessa atividade, foi solicitado que os sujeitos marcassem as

palavras desconhecidas presentes no título de cada texto. A Figura 7 mostra

que há um número maior de palavras desconhecidas nos títulos não

específicos à área dos sujeitos.

É possível verificar pelos dados da Figura 7 que o conhecimento do

assunto favoreceu à compreensão do título do texto da área de

conhecimento de cada um dos três sujeitos, independentemente do seu

nível de proficiência.

Texto 1 : The importance of socioeconomic and nutritional conditions rather than altitude on the physical growth of prepubertal Andean highland boys (área de conhecimento de Y). X............................................rather than, growth, Andean, highland Y........................................... nenhuma Z............................................rather than, prepubertal, Andean Texto 2 : Productivity improvement: efficiency approach vs effectiveness approach (área de conhecimento de Z). X:...........................................improvement, approach Y............................................approach Z............................................effectiveness

Texto 3 : Influence of concrete constituents on mode I fracture characteristics (área de conhecimento de X). X............................................nenhuma Y:...........................................fracture Z ...........................................fracture, portland

Figura 7 - Palavras desconhecidas nos título dos textos.

Nota-se, pela relação das palavras desconhecidas acima, que a

única exceção, se é que se pode considerar assim, coube a Z, que, embora

tenha assinalado a palavra effectiveness, o fez mais em função da dúvida

entre ‘eficiência’ e ‘efetividade’, do que pelo fato de desconhecer a palavra

totalmente.

De acordo com as opiniões dos sujeitos, essa leitura lhes deu uma

idéia bastante precisa do assunto do texto já que havia palavras-chave no

Page 95: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxiii

título que lhes ativou esquemas de conteúdo fundamentais para a

percepção global do texto.

A segunda evidência diz respeito à expressão hipoxic stress no texto

1 (Anexo I). Pela análise dos resumos desse texto, constatou-se que X e Z

não souberam explicar o que hipoxic stress significava para eles, porque

essa expressão parece não ser familiar às suas área de conhecimento. O

mesmo vale em relação à expressão fly ash no texto da área de

conhecimento de X. Este soube explicar porque era específica, enquanto

que Y e Z não entenderam o sentido da mesma.

A terceira evidência se origina na leitura do texto em LM sobre

assunto não específico a qualquer um dos três sujeitos. Ao pedir-se que os

sujeitos dessem a sua opinião sobre uma das palavras-chave do texto

(Figura 6) Z define ‘salário-educação’ com base nos seus conhecimentos

adquiridos pela experiência de ter trabalhado na área de ‘legislação social’

enquanto que X e Y definiram ‘salário-educação com menos precisão do

que Z. As opiniões diferentes dos sujeitos sobre ‘salário-educação’ refletem

como cada um deles entendeu o assunto.

X: É a destinação da verba orçamentária por aluno do ensino fundamental – destinado à manutenção do aluno nas escolas públicas federais estaduais e municipais.

Y É um salário designado às famílias carentes para manter os estudantes na escola.

Z: É o percentual de 2,5% que todas as empresas recolhem na guia de previdência social sobre o valor da folha de pagamento. Tenho conhecimento sobre isso porque no emprego anterior trabalhei com esta parte (legislação social). Figura 8 - Opinião dos sujeitos sobre ‘salário-educação’.

Page 96: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxiv

Exemplificou-se acima que o conhecimento favorece a compreensão

de textos em LE, pela tarefa de reconhecimento de palavras desconhecidas

nos títulos, pelo reconhecimento de expressões típicas de textos específicos

em LE, e pela definição de ‘salário-educação’ em textos em LM. Assim,

pode-se argumentar que o conhecimento prévio do assunto favorece a

compreensão de textos em LE e LM, independentemente do nível de

proficiência dos sujeitos. Viu-se que tanto X quanto Y, levaram vantagem

sobre Z em relação ao conhecimento das expressões típicas encontradas

nos seus textos, enquanto Z definiu com maior precisão o conceito de

‘salário educação’.

Além da relevância do conhecimento do assunto, os dados coletados

indicaram algumas evidências do papel do conhecimento do vocabulário na

leitura em LE.

4. 2 Importância do conhecimento do vocabulário

Como se viu, a primeira dimensão da discussão dos resultados está

relacionada ao conhecimento do assunto do texto. A segunda dimensão

focaliza o conhecimento do vocabulário do texto e procura investigar em que

medida ela favorece a compreensão em leitores de diferentes níveis de

proficiência.

Já no Questionário 1 do estudo piloto, os sujeitos da pesquisa auto-

avaliaram-se nas habilidades lingüísticas como ‘regular’ e ‘fraco’ como pode

ser visto na Tabela 2.

Page 97: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxv

Tabela 2 - Auto-avaliação dos sujeitos sobre as habilidades lingüísticas . Sujeito Compreensão oral Fala Leitura Escrita X fraco fraco fraco fraco Y fraco fraco regular fraco Z regular regular fraco regular

Pode-se ver que o conceito ‘fraco’ aparece duas vezes mais do que

o ‘regular’. Embora o conhecimento de um maior ou menor grau de

vocabulário tenha relação com as quatro habilidades lingüísticas, volta-se a

atenção à leitura - o foco desta pesquisa. Assim sendo, é possível verificar

que, tanto X quanto Z consideram-se fracos nessa habilidade e Y, regular.

Em relação à classificação dos sujeitos no teste de conhecimentos

lingüísticos e a sua auto-avaliação acima, poder-se-ia dizer que tanto X

quanto Y auto-avaliaram-se de acordo com o seu desempenho naquele

teste: 29% e 65% de aproveitamento, respectivamente. Por sua vez, Z auto-

avaliou-se aquém das suas reais capacidades, uma vez que, o seu

desempenho de 74% no referido teste, não pode ser considerado fraco.

Parece que os conceitos atribuídos pelos sujeitos a sua leitura,

conforme a Tabela 2, tiveram como fundamento o conhecimento do

vocabulário em LE em que eles detectaram deficiências.

4.2.1 Opinião dos sujeitos sobre conhecimento do vocabulário

Os sujeitos avaliaram o conhecimento do vocabulário do texto

atribuindo os numerais (1) para mais importante, (2) intermediário e (3)

menos importante.

Tabela 3 - Avaliação dos sujeitos sobre o vocabulário do texto.

Page 98: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxvi

Sujeitos X Y Z Itens LM LE LM LE LM LE d – conhecer o vocabulário usado no texto 1 1 2 2 1 1

Conforme se vê na Tabela 3, para X, o conhecimento do vocabulário

também recebe valorização tão importante quanto o conhecimento do

assunto recebe na Tabela 1. Isso pode ser atribuído ao fato de que ele,

como o menos proficiente em LE entre os três sujeitos, avalia todas as

fontes de informações como prioritárias, enquanto que Y e Z priorizam

conhecimentos do assunto ou do vocabulário respectivamente (conforme

Tabelas 1 e 3).

X sintetiza, nas suas entrevistas sua visão sobre como o

conhecimento do vocabulário é importante para a construção do significado

na leitura de textos em LE:

Eu acho que é extremamente importante você ter um ‘vocabulário rico’ porque se tu tem conhecimento do vocabulário da língua mesmo que seja de um assunto que tu não tem muito domínio, muito conhecimento mas, conhecendo as palavras você pode relacionar e daí deduzir (.) com relativo, vamos dizer assim, grau de facilidade o que está transcrito (...) Evidentemente que eu tive dificuldade relacionado com ah (.) o meu pouco conhecimento do vocabulário da língua inglesa. É o seguinte, eu vejo prá mim no meu caso, a deficiência de vocabulário, uma barreira muito grande (ênfase minha) (Entrevista Texto 1, Anexo VI)

Verificou-se que Y e Z também tiveram problemas com o vocabulário.

Os excertos dos protocolos verbais e entrevistas, abaixo transcritos,

sinalizam isso:

Y

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lxxxvii

foi fácil pela, pelo, pelo assunto mas algumas palavras assim que a gente não conhece né e se eu tivesse com o dicionário no lado eu já iria olhar...(Protocolo Verbal, Texto 1, Anexo VI)

...tem uma palavra aqui eu não entendi, é um verbo né que é o

accomplish, accomplish, eu não me recordo o que é, acho que eu não sei o que é mas a frase inteira ela quer dizer que esse approach effectiveness.... (Protocolo Verbal, Texto 2, Anexo VI).

Z

tem determinadas palavras que a gente não sabe o significado prejudica a compreensão de todo o texto (Entrevista, Texto 1, Anexo VI) ...têm várias palavras que eu não sei que significa (Protocolos Verbais, Texto 3, Anexo III). A falta de vocabulário também complica (Entrevista, Texto 3, Anexo VI).

Para os sujeitos da pesquisa, o desconhecimento de certas palavras

prejudica a compreensão de textos.

O Questionário 1 (questão 12) solicitava que os sujeitos definissem

‘conhecimento lingüístico’. X respondeu que ‘conhecimento lingüístico’ “é o

domínio gramatical da língua”. Y reportou que “é conhecer o significado ou a

intenção de comunicar-se”. Z, escreveu que a expressão refere-se a “tudo

que se conhece sobre as características de determinada língua”.

Comparando-se as definições de ‘conhecimento lingüístico’ com os

excertos do protocolos acima, pode-se pensar que: X ao definir

‘conhecimento lingüístico’, poderia estar incluindo o vocabulário como

condição necessária ao “domínio gramatical da língua”. Y, por sua vez,

estaria definindo vocabulário em nível semântico “é conhecer o significado

ou a intenção de comunicar-se” e Z incluiria o vocabulário em todos os

níveis, “tudo que se conhece sobre as características de cada língua”. As

Page 100: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxviii

respostas dos sujeitos parecem evidenciar que eles não têm uma definição

mais precisa sobre o entendimento de ‘conhecimento lingüístico’.

Como se viu, embora os três sujeitos tivessem constatado o problema

do conhecimento do vocabulário, foi X quem mais enfatizou isso. Sua

preocupação demasiada com o vocabulário do texto parece indicar que sua

leitura, em certos momentos, se assemelha àquela preconizada no modelo

ascendente em que a leitura é um ato de “extrair significado do texto”

(LEFFA, 1996, p.12).

No entanto, conforme X também sugere, o conhecimento do assunto

do texto é importante para a compreensão.

Pode-se pensar em fazer um paralelo entre os níveis de desempenho

acima referidos com os níveis de proficiência dos sujeitos. Pelas

transcrições das entrevistas de X, parece que, quanto menos proficiente um

leitor é, mais importância ao vocabulário ele atribui. Y e Z também

reconheçam deficiências de vocabulário embora com menor intensidade. A

próxima seção trata de evidências de uso do conhecimento do vocabulário

do texto.

4.2.2 Evidências do uso do conhecimento do vocabulário

Viu-se acima que Y demonstrou um desempenho melhor do que X,

tanto em relação ao conhecimento de um número maior de palavras nos

textos, quanto pela utilização de estratégias para tentar compreender outras

palavras desconhecidas, conforme excertos abaixo:

Page 101: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

lxxxix

Rather: eu acho que dá um... que dá um significado de um em relação a outro, relação a outro, ou seja de um, de preferência em relação a outro. Nevertheless: Bom, essa palavra nevertheless não, não sei o que significa e ficou difícil de entender. Effectiveness: não sei se é efetividade ou eficácia, que é, têm várias palavras que eu não sei que significa. Less: para alguma coisa menos, né, diminutivo ou não, alguma coisa assim, essa palavra de certo é alguma coisa igual a contudo, entanto, ou menos do que isso, alguma coisa assim: Analysis approach: análise uma chegada de análise (.) não, uma evolução de análise (.) alguma coisa assim. Delayed: Nessa 6a. pausa eu parei para voltar a palavra delayed que para mim quer dizer um pouco atrasado. Accomplish: tem uma palavra aqui eu não entendi, é um verbo né. Survey: eu não me recordo o que é este survey, aqui transformado em verbo, deve ser fonte, pesquisa, investigação.

Pode-se ver que, embora demostrasse algumas deficiências em

relação ao significado de certas palavras como nevertheless, accomplish,

survey, Y buscava entender a função que elas desempenhavam no texto

através de estratégias como paráfrase, levantamento de hipóteses, volta

atrás no texto.

A definição de conhecimento lingüístico anteriormente referido numa

dimensão de conceito ‘rico’ (SCARAMUCCI, 1995, p. 85) parece, de alguma

forma, estar contemplada nas evidências levantadas por X e Y. Enquanto

que X demonstra pouco conhecimento em relação a esse conceito, Y

evidencia outro nível de desempenho. Por exemplo, X traduziu a palavra

cementatious por ‘cementeiros’, uma tradução inexata em relação à forma

Page 102: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xc

e ao significado da palavra, uma vez que, o sufixo -ous é marca de adjetivo

e não de substantivo em inglês. Ele entendeu wide como verbo e não

adjetivo. Por sua vez, Y sabia que o sufixo -less indicava ausência de

alguma coisa, embora tivesse feito, num determinado momento, confusão

com o sufixo –ness . E, na tentativa de traduzir a palavra piecewise

destacou o sufixo -wise fazendo confusão com size (tamanho).

As palavras em destaque acima parecem evidenciar os diferentes

níveis de proficiência entre X e Y. Por um lado, X tenta adivinhar o

significado das palavras desconhecidas atribuindo a elas funções que elas

não têm, como é o caso de wide e sound , que são adjetivos e ele as

entendeu como verbos. Por outro, Y quando não sabe o significado (nível

semântico), procura analisá-las recorrendo aos níveis sintático e

morfológico. O sufixo -less serve como exemplo.

A tradução das palavras em destaque também parece sinalizar a

proficiência dos sujeitos em relação ao conceito ‘rico’ de vocabulário. Por

exemplo, X traduziu o verbo due por duas, due not por does not, carried

out por carreado, brittlenesses por britagem, gravel por granel, adjust the

levels por adjunto, junto de, cementatious por cementeiros.

X, ao tentar traduzir as palavras em destaque acima, o fez tentando

compará-las com palavras que tivessem a pronúncia ou forma aproximada

em português (cognatos). O fato dele tentar descobrir o significado das

palavras desconhecidas sem referi-las ao contexto parece indicar a sua

condição de leitor menos proficiente porque um leitor proficiente não precisa

entender todas as palavras, mas ter uma compreensão global do texto.

Page 103: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xci

A compreensão em leitura de textos, como se viu, depende também

do domínio do vocabulário da LE e, por não possuir esse domínio, X

freqüentemente atribui a isso sua deficiência na compreensão nos textos

em LE. O resumo que ele produziu do texto 4 (Seção 3.2.3) transcrito a

seguir, parece exemplificar isso. O texto original referia-se a uma pesquisa

que observou um estudante lecionando dois semestres num curso de

graduação.

X

O texto refere-se ao programa de ensino para professores-alunos do curso de graduação como forma de desenvolver o senso crítico do estudante tendo como fonte de conhecimentos diálogos, observações, entrevistas e outras técnicas que tornassem o professor estudante melhor preparado para despertar no estudante o pensamento crítico (trasncrição verbatim).

X, parece não ter entendido o texto o que pode ser notado pelo uso

ora, de termos chaves como “professores-alunos”, ora “professor estudante”

(transcrição verbatim) e, em duas oportunidades “estudante”, deixa dúvidas

a quem lê o seu resumo. Além disso, ao informar que “o texto refere-se ao

programa de ensino para professores-alunos do curso de graduação como

forma de desenvolver o senso crítico do estudante” X não está sendo fiel ao

texto em LE porque este refere-se a um estudo aprofundado de um

professor-estudante que dá aulas num curso de graduação. Por sua vez, Y

teve um entendimento mais preciso do texto, o que pode ser notado pela

transcrição do seu resumo a seguir.

Y

Este estudo provêm um profundo estudo de um professor estudante atuando em um programa pré-serviço de graduação.

Page 104: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xcii

Os dados foram recolhidos de diálogos de diários, documentos e entrevista do estudante com supervisores e observação, entrevista no primeiro ano de ensino, para interpretar um programa para preparar estudantes resistente ao pensamento reflexivo. Os diálogos dos diários provêm um efetivo índice do pensamento do estudante, mas precisa ser usado com mais propriedade pelos supervisores e ainda utilizar outras ferramentas, como o diário pessoal (transcrição verbatim).

Y parece ter entendido melhor o texto do que X apesar de ter usado

‘provêm’, em duas oportunidades, com o sentido de ‘fornece’. Por sua vez, Z

demonstrou ter compreendido melhor o texto do que seus colegas, o que

pode ser visto pelo resumo abaixo.

Z

O texto (artigo) faz um estudo aprofundado de um estudante que dá aulas em um programa de graduação. Os dados para o estudo são de diários de classe, documentos, entrevistas com supervisores e observação. O foco interpretativo está em como um programa de preparação de professores pode servir a estudantes que têm resistência ao pensamento reflexivo. O estudo sugere que o uso do diário pode em muito auxiliar nesta questão.

Vê-se que Z parece não apenas ter compreendido melhor o texto,

como também preocupou-se em redigir o resumo de acordo com as seções

que o caracterizam (introdução, metodologia, resultados/discussão). Isso

pode ser creditado ao fato de Z saber melhor como um abstract se organiza

em relação às seções retóricas e ao vocabulário específico usado em cada

uma delas como ‘dados’, ‘o foco interpretativo, ‘o estudo sugere’.

As evidências constatadas nesta seção sinalizam que o

conhecimento do vocabulário foi importante para a construção de sentido

Page 105: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xciii

dos textos em LE. Pôde-se notar pelos resumos elaborados acima sobre o

texto 4, que os sujeitos demonstraram diferentes níveis de compreensão.

Pode-se pensar que esses diferentes níveis de compreensão evidenciados

devem-se ao maior conhecimento do vocabulário do texto. Em textos

específicos o conhecimento do assunto é mais relevante e em textos de

conteúdo geral o conhecimento do vocabulário tende a ser prioritário.

Além do resumo, como instrumento de avaliação da compreensão, foi

também utilizado o procedimento Cloze. Para obter melhor desempenho no

preenchimento das lacunas de um procedimento Cloze um leitor necessita

conhecer a língua-alvo nos níveis lexical, sintático, morfológico, semântico.

As Tabelas 4 e 5 resumem o desempenho dos sujeitos no procedimento

Cloze no texto de conteúdo geral e do texto 4 (Anexo IV b).

Tabela 4 - Procedimento Cloze - teste de conhecimentos lingüísticos. No. Palavra Palavras do texto X Y Z 01 are ------------ are are 02 eye They eye eye 03 light Light light light 04 which On ------------ ------------- 05 retina ------------ eye ------------- 06 camera Camera camera ------------- 07 both ------------ both both 08 characteristic ------------ ------------- difference 09 have Have have have 10 the ------------ the the 11 forwards ------------ forwards forwards 12 of Of in of 13 one ------------ the one 14 and ------------ from and 15 the The the the 16 amount ------------ regulate rays 17 lens ------------ lens lens 18 shutter ------------ shutter shutter 19 iris ------------ iris iris 20 according ------------ according according 21 and ------------ and and

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xciv

22 eye ------------ eye camera 23 camera ------------ camera eye 24 more ------------ more more 25 of ------------ of of

Obs.: As palavras em negrito são as consideradas certas.

Pode-se depreender que no teste de conhecimentos lingüísticos Y e

Z tiveram um desempenho bastante semelhante nesse procedimento,

enquanto que X foi visivelmente inferior ao dois.

O procedimento Cloze (Tabela 5) realizado no estudo propriamente

dito ratificou o desempenho dos sujeitos em relação à compreensão de

textos de conteúdo geral (Tabela 4, teste de conhecimentos lingüísticos).

Isso pode ser visto pelo número de palavras usadas corretamente pelos três

sujeitos da pesquisa. A Tabela 5 resume o procedimento Cloze do texto de

conhecimentos gerais em LE do estudo propriamente dito.

Tabela 5 - Procedimento Cloze – texto em LE.

No. Palavras do texto X Y Z

01 Were Was was were 02 They They they they 03 First First first first 04 Solution Solution matter solution 05 To And to to 06 Level This ability level 07 Interviews Data descriptions data 08 The Is the all 09 Reflection That when they were 10 Ant Of of and 11 And To decisions and 12 With The new with Obs.: As palavras em negrito correspondem às palavras usadas no texto original

As palavras em destaque evidenciam o desempenho dos sujeitos.

Isso pode ser verificado pelo número de lacunas preenchidas corretamente.

Salienta-se o melhor desempenho de Z nesse procedimento que iniciou a

Page 107: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xcv

partir do preenchimento da lacuna 1 em que usou were , ao passo que X e

Y utilizaram a flexão não apropriada do verbo, e culminou com o

preenchimento correto das três últimas lacunas. Isso parece comprovar que

Z e Y demonstraram ter mais competência gramatical do que X.

O objetivo do procedimento Cloze do texto em LM foi comparar a

habilidade de leitura em LM com aquela apresentada em LE. (ver neste

trabalho seção 2.1.1, ALDERSON & URQUHART, 1984). O resultado dessa

atividade demonstra que a proficiência dos sujeitos em LE foi proporcional à

proficiência em LM. Ou seja, X demonstrou-se menos proficiente, Y,

intermediário e Z, mais proficiente.

Tabela 6 - Procedimento Cloze texto em LM. No

Palavras do texto X Y Z

01 Políticas Política política políticas 02 Três Os 3* três 03 Médio 2o. Grau* secundário* secundário* 04 Práticas Práticas políticas* políticas* 05 Sendo Sendo sendo sendo 06 Questão Visão avaliação questão 07 Trata fala* recorre trata 08 Educação Educação escolar educação 09 Fundamental Fundamental fundamental fundamental 10 Escolas Escolas escolas escolas 11 Proposta Regras política* política* 12 Universidades Universidades universidades universidades 13 Última Segunda segunda 3a.parte* 14 Referência Verba valor* base* 15 Lei Lei lei lei As palavras negritadas correspondem às palavras usadas corretamente e as que contêm um asterisco (*) são consideradas aceitáveis.

As palavras em destaque e as assinaladas com asterisco dão uma

visão do desempenho apresentado pelos três sujeitos. Assim como

acontecera no procedimento anterior, Z demonstrou melhor desempenho do

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xcvi

que X e Y. Isso pode ser verificado, por exemplo, a partir da utilização da

palavra ‘políticas’ (plural) enquanto que, X e Y usaram ‘política’, (singular). O

preenchimento da lacuna 13 também pode ser considerado o ponto

diferencial do desempenho dos sujeitos, nesse caso em relação à visão das

partes do texto, uma vez que, apenas Z percebeu uma terceira parte,

enquanto que X e Y só viram duas. Essa constatação diz respeito à

organização retórica do texto em que o item lexical ‘terceira’ orienta o leitor

sobre as partes e a relação existente entre elas. Portanto, Z não apenas

teve melhor desempenho em relação ao procedimento Cloze em que usou

com mais eficiência o vocabulário nos níveis lexicais, sintático e semântico

como também identificou a terceira parte conforme referido acima.

Os resultados desses procedimentos parecem ter relação com a

hipótese de ALDERSON & URQUHART (1984) de que o desempenho em

leitura de um texto em LE pode estar associado ao desempenho do leitor

em leitura em LM. Ou seja, um leitor proficiente em leitura em LM

transferiria essa proficiência para a leitura em LE, ou ainda, que o

desempenho em LE estaria ligado aos conhecimentos do leitor nessa

língua. Nesse caso, parece que as habilidades de leitura em LM foram

transferidas para a leitura em LE. Por outro lado, REVELL & SWEENEY

(1993) têm um ponto de vista diferente quando asseveram que a

experiência mostra que a “simples transferência de habilidades da LM para

a língua-alvo raramente ocorre”. Os leitores, nesse caso atribuem

demasiada atenção ao texto em LE preocupando-se com a tradução das

palavras numa abordagem linear, “muitas vezes gastando mais tempo

olhando no dicionário do que lendo o texto”. Dessa maneira, “o resultado, na

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xcvii

melhor das hipóteses, é uma tradução imperfeita e na pior, frustração e

incompreensão” (p.IV)

Assim, pode-se pensar em fazer um paralelo entre os níveis de

desempenho acima referidos com os níveis de proficiência dos sujeitos.

Pelas transcrições das entrevistas de X, parece que, quanto menos

proficiente um leitor é, mais importância ao vocabulário ele atribui. Y e Z

também reconheçam deficiências de vocabulário embora com menor

intensidade.

A terceira dimensão discutida nesta pesquisa é investigar em que

medida a importância da organização retórica do texto favorece a

compreensão dos sujeitos.

4.3 Importância do conhecimento da organização retórica

Como se viu acima, a seção 4. 1 focalizou a importância do

conhecimento do assunto do texto e a seção 4. 2 analisou a importância do

conhecimento do vocabulário. Esta seção investiga em que medida a dimensão

da organização retórica do texto favorece a compreensão em leitura.

No intuito de conhecer a importância que os sujeitos atribuem à

organização retórica, no Questionário 1, os sujeitos deveriam avaliar a

relevância do item ‘identificar estágios de desenvolvimento do texto’ como

(1) mais importante, (2) intermediário a (3) menos importante.

Tabela 7- Identificar estágios de desenvolvimento do texto.

Sujeitos X Y Z Itens LM LE LM LE LM LE h – Identificar estágios de desenv. do texto 2 2 1 1 1 1

Page 110: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

xcviii

Pode-se ver que X utilizou o número 2, enquanto que Y e Z

preferiram 1. Essa avaliação parece condizente com o desempenho dos

sujeitos nos exercícios solicitados que consistiam a) na reordenação das

seções de um texto com parágrafos embaralhados, e b) transcrição de itens

lexicais característicos de cada uma das seções do mesmo (Anexo IVa) Os

resultados desses exercícios são comentados no desenvolvimento desta

seção e estão apresentados na Tabela 8 e na Figura 9.

4.3.1 Opinião dos sujeitos sobre a organização retórica

Os sujeitos da pesquisa, além da elaboração de resumos

escritos sobre os textos que serviram para base dos protocolos

verbais, foram solicitados, nas entrevistas, a darem sua opinão sobre

aspectos da organização retórica do texto. Um exemplo dessa

atividade está contido nos excertos abaixo transcritos.

PE: Você poderia marcar onde começam e terminam as seções do texto? Que palavras ajudaram na marcação desses movimentos? Foram palavras específicas, ou frases inteiras, que o levaram a fazer essa divisão?

X: Eu fui mais ou menos pelo sentido. PE: Quer dizer, você separou as seções pelo todo, mesmo

sem destacar especificamente palavras (no caso da metodologia)?

X: Eu vi aqui que ele comparou o concreto normal, é aquele cimento que não tinha aquele, [aquelas], aquelas características.

PE: Você acha que entender essas partes antes da leitura do texto, ou mesmo durante a leitura do texto, pode auxiliar a compreensão?

Y: Sim, essas partes auxiliam. A gente percebe quando elas não estão presentes.

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xcix

PE: Saber a organização retórica de um texto de modo geral ajuda, na compreensão do texto? E neste lhe ajudou?

Z: Ajuda, acho que ajuda sim, pelo menos a separar assim, né o que é introdução, o que é metodologia, sabendo isso aí já ajuda um pouco. Claro, só isso não adianta, né.

Pode-se ver que os três sujeitos consideram importante ter

conhecimento sobre a organização retórica do texto. Pelas respostas acima,

parece que Y atribui maior importância a essa dimensão do conhecimento

do que X e Z.

4.3.2 Evidências do uso do conhecimento da organização retórica

O desempenho dos sujeitos verificado nas atividades que

demandavam o conhecimento da organização retórica do texto, parece ter

muito a ver com o grau de importância que eles atribuíram a essa dimensão,

como pode ser visto pelos excertos acima. Y e Z não apenas atribuíram o

conceito ‘mais importante’ (1) na avaliação (Tabela 7) como também

procuraram transferir essa avaliação na elaboração dos seus próprios

resumos. Por seu turno, X parece ter se portado de acordo com o valor

atribuído (2). Essa avaliação pode ser vista pelos resumos elaborados pelos

sujeitos e a discussão sobre eles que foi pautada nos seguintes objetivos:

Primeiro, verificar o conhecimento da organização retórica dos textos

e, segundo, investigar em que medida a compreensão é mais acentuada na

leitura de textos de conteúdo específico à área de conhecimento dos

sujeitos da pesquisa. As seções (introdução. metodologia, resultados/

discussão) foram acrescentadas por mim.

Page 112: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

c

4.3.2.1 Texto 1 - área de conhecimento de Y

The importance of socioeconomic and nutritional conditions rather than altitude on the physical growth of prepubertal Andean highland boys (Anexo I)

Esse texto, relacionado à área de conhecimento de Y, relata uma

experiência sobre o efeito da hipóxia no crescimento físico de dois grupos

de meninos adolescentes na Bolívia. Os autores da pesquisa comparam o

crescimento físico desses meninos tendo como referência a altitude e as

condições sócieconômicas e nutricionais. O texto conclui relatando que

parece não existir efeito da hipóxia no crescimento dos meninos quando os

níveis socieconômicos e nutricionais são levados em consideração.

X

(Introdução):O autor trata da importância sócio-econômica e das condições nutricionais relacionado com o crescimento das crianças nos lugares de baixa e alta altitude da Bolívia

(Metodologia): O autor desenvolve o seu trabalho num período de cinco anos envolvendo 143 crianças residentes em La Paz que está no nível 3.600 m acima do nível do mar e Santa Cruz de La Sierra que está apenas 420 m acima do nível do mar.

(Resultados): O autor ao analisar as características antropométricas das crianças que vivem tanto na parte baixa quanto alto verifica que não há diferenças acentuadas p/ as crianças da mesma condição sócio-econômica.

Nota-se pela elaboração do resumo acima que há uma introdução a

partir da definição do tópico do estudo que remete à metodologia através da

definição do corpus no segundo parágrafo e à discussão dos resultados no

terceiro parágrafo. Nos resumos elaborados por Y e Z também se podem

notar essas mesmas seções.

Y

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ci

(Introdução): Este estudo teve como objetivo verificar o efeito da hipóxia em crianças pré-púberes bolivianas morando em alta e baixa altitude na mesma condição sócio-econômica e nutricional. (Metodologia): Foram analisadas as características biométricas, bioquímicas e sangüíneas. (Resultados): E, foi concluído que a hipóxia não afetou o crescimento físico destas crianças pré-púberes quando observadas as características sócio-econômicas e nutricionais.

Z

(Introdução):O objetivo do trabalho foi o de estudar os efeitos do “hipoxic stress” no crescimento físico de meninos bolivianos “prepubertal” (não sei o que é), com as mesmas condições sócio-econômicas e nutricionais.(Metodologia): Os meninos estudados moram em La Paz e Santa Cruz de La Sierra. Uma avaliação científica do status nutricional dos meninos foi realizada considerando características antropométricas (altura, massa muscular) e metológicas.

(Resultados)O resultado do estudo mostra que parece que quando características sócio-econômicas e nutricionais são tomadas não há efeito no “hypoxic stress” e no crescimento.

Os textos acima parecem evidenciar que os sujeitos têm um bom

desempenho na elaboração de resumos. Isso pode ser visto pela seqüência

dada na estrutura dos resumos em que os três sujeitos parecem ter seguido

as seções do texto em inglês. Entretanto X elaborou seu resumo com

informações que não constam no texto em inglês. Por exemplo, ele

escreveu que ‘o autor trata da importância sócio-econômica e das condições

nutricionais’. Essa informação não é o objetivo da pesquisa. Além disso, há

pelo menos outras três informações que constam no seu resumo, mas que

não conferem com o texto em inglês.

A primeira, em que X escreveu ‘o autor’ em vez de ‘os autores’, uma

vez que o experimento foi realizado por mais de um pesquisador. A

segunda informação, ‘num período de cinco anos’, diz respeito à idade dos

meninos e não ao tempo que a pesquisa levou para ser efetuada. A terceira,

Page 114: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cii

‘num estudo... de dois anos’ não tem a ver com a duração do estudo, mas

com um retardamento no crescimento dos meninos considerando-se os

diferentes níveis socioeconômicos.

Além disso, X, nesse resumo, não menciona o fator ‘crescimento’ e

apenas generaliza ao escrever que ‘não há diferenças acentuadas’. Um

leitor desse resumo poderia perguntar: que diferenças acentuadas são

essas? Porém, a diferença do crescimento é um resultado importante do

experimento realizado e portanto, é uma informação que não pode ser

desconsiderada. Ele deixou de mencionar o fator hypoxic stress que, além

de ser fundamental à compreensão do texto é citado pelo menos duas

vezes no texto (introdução e conclusão).

Y, por sua vez, inicia escrevendo que “o objetivo do trabalho foi o de

estudar o efeito da hipóxia...”. Uma frase parecida foi usada por Z ao

escrever que ‘o objetivo do trabalho foi o de estudar os efeitos do hipoxic

stress. Tanto Y quanto Z, foram mais precisos quando escreveram que “a

hipóxia não afetou o crescimento físico destas crianças” e, “não há efeito no

hypoxic stress e no crescimento”. Isso parece indicar que o conhecimento

do assunto sobre a expressão hipoxic stress favoreceu Y, por ser uma

expressão específica da sua área.

O Texto 2, a seguir, assim como ocorreu com o texto 1 teve o

objetivos de verificar: 1) o conhecimento dos sujeitos sobre a organização

retórica dos textos específicos em LE 2) em que medida a leitura desses

textos é afetada por esse conhecimento.

Page 115: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

ciii

4.3.2.2 Texto 2 - área de conhecimento de Z

Productivity Improvement: efficience approach vs effectiveness approach

Anexo II).

Esse texto referente à área de conhecimento de Z procura relacionar

sistemas de gerenciamento e de produtividade através da associação de

três índices, automação da tecnologia, gerência de produção e

produtividade conjugadas em duas abordagens: eficiência e efetividade.

X

(Introdução):O texto aborda dois aspectos importantes de produtividade, relacionando eficiência e eficácia, no processo produtivo. (Metodologia): Fala dos três índices que contribuem significativamente para a produtividade que são automação tecnológica, gerenciamento de produção e a produtividade.

Y

(Introdução)Tradicionalmente, a tecnologia é um caminho para melhorar a produtividade, contudo sem um apoio do sistema de gerenciamento a tecnologia é limitada. Para uma dada combinação de gerenciamento e tecnologia, uma empresa pode não ser capaz de atingir o máximo de produtividade. E neste artigo será discutido dois tipos de abordagem para melhorar a produtividade.

Z

(Introdução): O resumo trata da visão de duas abordagens para o incremento da Produtividade: a abordagem da eficiência e a da efetividade (ou eficácia). O autor fala que tradicionalmente o nível de tecnologia é considerado a mais efetiva maneira de incrementar a produtividade. (Metodologia) Em uma amostra de 15 empresas foram calculados 3 índices para tecnologia de automação, gerência de produção e produtividade (Resultados) Parece ser da combinação do nível de tecnologia e do gerenciamento, a maximização de produtividade. A abordagem da eficiência não requer a utilização de recursos extras, já a da efetividade no ajustamento do nível de tecnologia e de gerência.

Page 116: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

civ

Nota-se, pela análise dos resumos sobre o Texto 2, que os sujeitos

elaboraram seus textos de maneira diferente. A regularidade que pôde ser

vista no Texto 1 não se repetiu. Se naquele texto os sujeitos fizeram constar

introdução, metodologia e resultados/discussão, no Texto 2 eles

procederam diferentemente. X fez constar duas seções, Y apenas uma e Z,

ao escrever o resumo em três seções, manteve o mesmo desempenho

evidenciado quando elaborou o Texto 1.

A melhor performance de Z nesse resumo em relação a X e Y pode

estar relacionada ao assunto do texto, uma vez que era da sua área de

conhecimento. Por sua vez, X contemplou duas seções, enquanto que Y

parece ter citado apenas a introdução de maneira generalizada.

Z, favorecido pelo texto da sua área de conhecimento, parece ter

evidenciado um nível de compreensão mais apurado e que pode ser notado

já na introdução onde ele apresenta o objetivo que também é o mesmo

citado por Y. Outra evidência de melhor desempenho de Z parece estar na

informação “em uma amostra de 15 empresas” (metodologia) que não

aparece nos outros resumos. A seção (resultados/discussão) é outra

diferença entre o desempenho de Z em relação à compreensão do texto. A

solicitação dos resumos do Texto 3 também teve como base os objetivos já

referidos anteriormente nos textos 4. 3. 2. 1 e 4. 3. 2. 2.

4.3.2.3 Texto 3 - área de conhecimento de X

Influence of concrete constituents on mode I fracture characteristics of portland cement concrete (Anexo III).

Page 117: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cv

Esse texto relacionado à área de conhecimento de X relata uma

experiência sobre a influência de alguns parâmetros para avaliar as

propriedades das rachaduras ocasionadas em tipos de concretos

elaborados a partir de misturas variadas. Foram utilizados três métodos para

levar a efeito o experimento. Os resultados mostram consistência entre os

métodos e sugerem que diferentes misturas de concretos ocasionam

diferentes tipos de rachaduras.

X

(Introdução): O texto fala da influência dos constituintes do concreto e das características do cimento portland na confecção do concreto.

Metodologia): Os pesquisadores têm conduzido os seus estudos acerca da influências e o amplo espectro das misturas nas propriedades do concreto armado. O desenvolvimento de várias combinações de dosagens variadas do concreto na confecção das vigas pequenas, onde os seus componentes convenientemente dosados através de vários métodos conhecidos, são importantes observar a mistura dos agregados e a dosagem do fator água/cimento para a garantia da solidez da estrutura (ênfase minha).

Y

(Introdução): Esta pesquisa estudou a influência de uma larga amplitude de parâmetros mixados de rachaduras no concreto (Metodologia) avaliado de vários métodos de teste sugeridos por RILEM. Todos os bearms [na verdade é beams] tiveram um tamanho só e as misturadas foram derivadas de combinações.

Os efeitos das variáveis misturadas foram investigadas avaliando o modo I das propriedades das rachaduras através de vários métodos, sendo todas baseadas pelo método three point bending test. Também o concreto cracking foi considerado usando os dados crack front obtido pelo último teste. (Resultados/discussão) O resultado dos testes mostram consistência entre eles e o que os tipos aggregates e taxa água/cimento apresentaram características distintas. Alguns tipos de concreto tiveram altíssimas rachaduras para uma dada taxa de água/cimento. Em outra direção, a mistura cimento mais o fly ash reduziu a força, mas aumentou a

Page 118: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cvi

rachadura do concreto quando comparado com o concreto normal (grifos meus).

Z

(Introdução) A pesquisa parece estudar a influência de alguma substância no concreto (num tipo de concreto). (Metodologia) A avaliação foi feita analisando três métodos. (Resultados) O resultado mostrou a consistência entre os métodos e também os diferentes tipos de “agregação” e “porções de água” no concreto com características diferentes. Por não saber o significado de diversas palavras, ficou difícil de entender o texto.

Pode-se ver, ao comparar-se a introdução dos resumos, que X

utilizou o título do texto como objetivo da pesquisa, enquanto que Y e Z

fizeram constar o objetivo propriamente dito, do abstract. Y forneceu mais

informações com maior clareza em relação às seções do texto e Z preferiu

fazer um resumo mais sucinto, utilizando menos informações e associando

o seu desempenho à dificuldade do vocabulário. Pode-se ver, de modo

geral, que Z elaborou seus resumos com maior precisão do que os seus

colegas principalmente no que se refere à observação das seções

características do abstract. Por sua vez, X demonstrou melhor desempenho

na elaboração do resumo do texto da sua área do que nos outros. É

possível que esse melhor desempenho esteja associado ao conhecimento do

assunto (Engenharia Civil).

Um quarto texto em inglês (Helping student teachers think about

teaching) (Anexo IV) de conteúdo de conhecimento geral também foi

utilizado para investigar o conhecimento da organização retórica do gênero

abstract. Esse texto foi escolhido com o objetivo de verificar a compreensão

dos sujeitos num texto de conteúdo completamente diferente dos três textos

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cvii

que serviram de base para os protocolos verbais. Além do resumo, solicitei

duas atividades que visaram verificar o desempenho dos três sujeitos. A

primeira, consistia que os sujeitos ordenassem as seções (introdução,

metodologia, resultados e discussão) colocadas propositadamente fora de

ordem. A segunda atividade, consistia que os sujeitos transcrevessem

dessas seções os itens lexicais característicos de cada uma delas. A tabela

8 abaixo resume a primeira atividade.

Tabela 8 - Numeração das seções do texto IV.

Ordem correta X Y Z

(3) (1) (3) (3) (4) (4) (4) (4) (1) (2) (1) (1) (2) (3) (2) (2)

Obs.: Os números em negrito correspondem aos do texto original.

Vê-se que, enquanto Y e Z tiveram melhor desempenho na atividade

X apenas reconheceu uma seção, o que mais uma vez condiz com suas

declarações em que assevera não ter segurança para identificar as seções

dos resumos (abstracts).

O desempenho dos sujeitos verificado na atividade de reordenação

das seções (Tabela 8) parece ter-se repetido em relação à transcrição dos

itens lexicais, conforme mostra a Figura 9.

X Introdução: the interpretative focus, program designed to prepare Metodologia: this article provides Resultados (sugestões): findings, suggest . Y Introdução: this article provides

Page 120: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cviii

Metodologia: data for the study were drawn Resultados (sugestões): findings suggest that Z Introdução: this article provides, study Metodologia: data, were drawn , observation, interview Resultados (sugestões): suggest , finding

Figura 9 - Transcrição dos itens lexicais das seções do texto 4.

Vê-se que X, apenas destacou os itens lexicais característicos da

seção resultados/sugestões de modo semelhante aos seus colegas. Por sua

vez, tanto Y quanto Z foram mais exatos também nessa atividade ao

destacarem com mais propriedade as palavras que identificam cada uma

das seções do texto. Essa diferença de desempenho dos sujeitos que pode

ser verificada na Tabela 8 e na Figura 9 parece proporcional ao seu nível de

proficiência. X, uma vez mais, demonstrou o menor desempenho dos três.

Em relação à tarefa de reordenação dos parágrafos (Tabela 8) o

desempenho de Y e Z foi o mesmo. No que se refere à atividade

representada pela Figura 8, a diferença entre o desempenho dos dois é

muito pequena e está na seção Metodologia em que Z destacou dois ítens

lexicais ‘observation’ e ‘interview’ a mais do que Y.

A seção 4. 1 e seus subitens tratou da relevância do conhecimento

do assunto para a compreensão de textos em LE. Por outro lado, a seção 4.

2 e seus subitens também apontou a importância do conhecimento do

vocabulário e a seção 4. 3 e subitens procurou salientar que o conhecimento

da organização retórica do texto também favorece a compreensão em

leitura de textos de conhecimentos específicos e gerais. Viu-se, de modo

geral, que o desempenho dos sujeitos nas atividades realizadas nessas três

seções manteve-se proporcional ao seu nível de proficiência: X, menos

Page 121: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cix

proficiente demonstrou o menor desempenho do que Y intermediário e este,

menor do que Z, o mais proficiente.

O último instrumento de coleta de dados utilizado no estudo

propriamente dito solicitou que os sujeitos preenchessem um questionário

com 4 questões (Questionário 2), que se constitui em assunto de análise da

seção a seguir.

4.4 Questionário 2

O Questionário 2 (ver Metodologia), de modo geral, foi usado para

verificar se as estratégias assinaladas no Questionário 2 (seção 3.2.1,

questão 3) foram efetivamente utilizadas pelos sujeitos nos seus protocolos.

Uma questão do Questionário 2 solicitou que os sujeitos avaliassem

seu hábito de leitura em LM e LE com o objetivo de poder estabelecer uma

relação entre ‘prática’ em leitura com ‘proficiência’. GRABE (1988, p. 199)

argumenta que “a leitura é uma habilidade que deve ser praticada

constantemente e reforçada sempre que possível durante um longo período

de tempo”. Nesse sentido, a proficiência em leitura estaria ligada ao tempo

que um leitor reserva à sua prática. No entanto a avaliação dos sujeitos

parece não corresponder com o seu nível de desempenho e proficiência

conforme X, por exemplo.

4.4.1 Prática em leitura

Como se vê, pela Tabela 9 os sujeitos avaliaram a sua prática em

leitura de textos em LM e LE tendo como opções os conceitos, ‘muito’,

Page 122: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cx

‘razoavelmente’ e ‘pouco’ em relação ao tempo que eles dedicam à leitura

de textos em LM e LE.

Page 123: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxi

Tabela 9- Auto-avaliação dos sujeitos sobre leitura. Modalidades de leitura muito razoavelmente pouco a) Leitura de textos em LM X Z Y b) Leitura de textos LE X - Y Z c) Leitura em pesquisas (abstracts) X - Y Z

Pode-se ver, pela disposição dos dados acima, que o conceito

‘razoavelmente’ prepondera, seguido de ‘pouco’, três vezes e de ‘muito’,

uma só vez. GRABE (1988, p. 177) lembra, “a leitura é melhor aprendida

pela leitura extensiva. Os estudantes aprendem a ler lendo extensivamente”.

Essa citação parece não se coadunar com a auto-avaliação dos três sujeitos

porque apesar de ter assinalado que lê muito em português X não

demonstrou melhor desempenho do que Y e Z na leitura do texto de

conhecimentos gerais em LM (anexo 5). O mesmo raciocínio serve para a

avaliação de X em relação à leitura de textos em LE. Por isso, a priori não é

possível estabelecer uma relação entre proficiência dos sujeitos e a

freqüência em leitura.

Conforme mostra a Tabela 9, apenas X lê muito em LM ao passo

que Y lê ‘pouco’ e Z ‘razoavelmente’. Nenhum deles lê muito em LE, fato

esse que pode explicar as dificuldades encontrados na leitura de textos em

LE em que os sujeitos evidenciaram problemas de vocabulário, uma vez

que, a leitura extensiva em LE favorece a aquisição de vocabulário.

Essa questão também foi aplicada a 41 alunos da disciplina Inglês

Instrumental II da URI7. Desse total de alunos, 30 optaram pela alternativa

‘razoavelmente’ em LM e 11 assinalaram ‘pouco’ em LE. Nenhum deles

7 Questionário aplicado no início das aulas do 2º Semestre de 1997 numa turma de Informática, disciplina Inglês Instrumental II na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI - Campus de Erechim.

Page 124: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxii

assinalou a opção ‘muito’. Apesar disso, houve alguns que se consideraram

bons leitores, o que não deixa de ser contraditório porque, parece difícil

alguém se tornar bom leitor, sem praticar o hábito de ler. De modo geral,

resguardando-se as proporções, viu-se que a avaliação feita por esses

alunos sobre freqüência em leitura em LM e LE coincidiu com a dos sujeitos

desta pesquisa. Assim, pode-se concluir que, não obstante a leitura ser

vista como uma das habilidades lingüísticas fundamentais, ela parece não

ser considerada dessa forma pelos acadêmicos de graduação e pós

graduação. A utilização dessa questão para a referida turma foi usada

apenas para comparar as respostas desses alunos com as dos sujeitos da

pesquisa.

4.4.2 Observação de aspectos na leitura de abstracts

A questão 2 do Questionário 2 solicitava que os sujeitos

assinalassem o que eles mais observam na leitura de um resumo (abstract):

a) ‘mais o conteúdo do texto e menos a organização retórica’; b) ‘mais a

organização retórica e menos o conteúdo do texto’ e c) ‘tanto o conteúdo do

texto quanto a organização teórica. X e Y assinalaram a letra c, enquanto

que Z marcou a letra a. Essa questão teve como objetivo verificar se a

avaliação dos sujeitos sobre conteúdo e organização retórica foi coerente

com o seu desempenho nas atividades desenvolvidas nesta pesquisa. Além

disso, os três textos utilizados na produção dos protocolos verbais dos

sujeitos foram escolhidos tendo como critérios o assunto do texto e a sua

organização retórica.

Page 125: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxiii

Esses resultados parecem interessantes, uma vez que, tanto o

conteúdo quanto a organização retórica são duas das três dimensões do

conhecimento investigadas nesta pesquisa. Dependendo dos objetivos de

cada um na leitura pode ocorrer que um leitor, ao ler um abstract, esteja

interessado em analisar apenas um dos aspectos como, a organização

retórica, por exemplo, enquanto as atenções de outros leitores, por razões

específicas, podem estar voltadas exclusivamente ao conteúdo do texto. Já,

X e Y assinalaram tanto o conteúdo quanto à organização retórica, enquanto

que Z focaliza sua atenção no conteúdo do texto.

Neste estudo, pôde-se ver que, embora tivesse feito a opção ‘tanto o

conteúdo quanto a organização retórica’, X se preocupou mais com o

vocabulário do texto. Por sua vez, Y parece ter se preocupado em usar o

conhecimento prévio do assunto ao mesmo tempo que procurava elaborar

os resumos obedecendo às seções do mesmo. Z, apesar de enfatizar ‘mais

o conteúdo e menos a organização retórica’ parece ter agido de forma

contrária porque demonstrou mais competência em relação à organização

retórica do que X e Y na produção dos resumos.

Um outro objetivo do Questionário 2 foi verificar se as estratégias

assinaladas pelos sujeitos foram efetivamente indicadas pelos seus

protocolos durante a leitura.

4.4.3 Estratégias de leitura

A questão 3 demandava que os três sujeitos assinalassem as

estratégias usadas por eles na leitura

Page 126: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxiv

O uso de estratégias em leitura parece estar associado aos graus de

dificuldade de compreensão que um leitor encontra no texto. Pode-se ver

na Tabela 10 que algumas estratégias foram assinaladas pelos três e outras

não.

Tabela 10 - Auto-avaliação dos sujeitos - estratégias de leitura. Item Estratégias Assinaladas X Y Z a) Começa lendo o título �� �� �� b) Na dúvida volta para ler �� �� �� c) Vai adiante mesmo sem entender �� d) Formula hipóteses e) Faz prognósticos f) Corrige erros eventuais �� g) Utiliza conhecimentos de outros textos �� �� �� h) Utiliza conhecimento do tópico do texto i) Observa a estrutura retórica da frase/oração �� j) Observa o significado das palavras �� k) Observa a pontuação l) Destaca as idéias principais �� �� �� m) Dá uma olhada geral no texto �� n) Lê só a primeira linha de cada parágrafo o) Lê em voz alta quando não entende p) Faz uso freqüente do dicionário �� �� q) Faz anotações ao lado do texto �� r) Leva em conta as palavras cognatas �� �� s) Sublinha as palavras desconhecidas �� �� t) Procura traduzir as palavras pelo contexto �� �� u) Outras (especifique)

DAVIES (1995, pp. 50-54)

Pode-se observar algumas coincidências de escolha entre os três

sujeitos como demonstra a opção pelas letras a, b, g, e l. Notou-se também

que Z, ao assinalar a opção c (vai adiante mesmo sem entender), o fez,

não apenas nesse questionário, mas também colocou em prática nos

protocolos. A opção pela estratégia p (faz uso freqüente do dicionário)

parece ser também mais um indicativo da diferença de performance dos

Page 127: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxv

três, porque quanto mais dependente do dicionário o aluno, mais

fragmentada se torna a sua leitura. Nesse aspecto, CÉLIA (1989) sugere

que:

dentre outros hábitos saudáveis que o professor de Inglês Instrumental pode desenvolver no aluno é que ele não recorra muito freqüentemente ao dicionário, mas procure ver primeiro o sentido do texto para depois ver as palavras isoladas (p. 66)

Os excertos dos protocolos verbais abaixo exemplificam que, de fato,

algumas estratégias assinaladas no Questionário 2, foram efetivamente

utilizadas na prática na leitura dos textos.

X:... Eu achei fácil esse texto, eu compreendi ele a partir do título né. Z: Bom só pelo título, da prá entender mais ou menos que a influência (.) não sei do que (.) no cimento, acho, concreto. Y: Bom, primeiro, o título do trabalho tá dizendo que (.) há uma relação de preferência entre um e outro (começa lendo pelo título, letra a)

Y: aonde vou manter, vou segurar esta variável sócio-econômica e nutricional e vou verificar o efeito dessa outra variável aqui que é do stress (destaca as idéias principais , letra l)

Y: Agora que eu fiz uma terceira leitura né, aí eu entendi que

tanto para baixa como alta as características dos meninos nas... . Nessa 6a. pausa eu parei prá voltar a palavra delayed que para mim quer dizer um pouco atrasado. Eu tive que voltar senão eu não entenderia, né o que estava escrito. Eu li toda essa frase eu tive que ler, na verdade eu li primeira vez, segunda vez e terceira vez (na dúvida volta para ler , letra b)

Y: - Sim, bem específico, dentro da minha área de

conhecimento tanto que foi quase esse assunto que eu trabalhei na minha monografia. A única parte que a gente não trabalha lá [referindo-se ao seu Mestrado] é sobre essa parte, bioquímica, mas só que a gente leva em consideração essas variáveis, a gente, então (,) prá mim foi facílimo (utiliza conhecimento de outros textos , letra g).

Page 128: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxvi

Z: ... mas aí como tinha portland ali, me lembrei que era cimento, um tipo de cimento, isso aí ajudou pelo menos a entender do que se tratava (utiliza conhecimento de outros textos letra g).

Y: Machinery deve ser algum equipamento, maquinaria e amostra são quinze e firms tentando fazer um cognato, são firmas, empresas alguma coisa assim, mas eu não sei (leva em conta palavras cognatas , letra r)

Y:... Só que eu li e fui seguindo em frente para mim tentar colocar dentro do contexto, mas eu parei mais à frente e vi que eu não ia colocar dentro do contexto aí eu voltei até ela e também não consegui colocar ela dentro do contexto e não sei o que ela quer dizer (vai adiante mesmo sem entender , letra c)

Z Bom, aí tá falando o objetivo do trabalho, né:. numa olhada rápida, deu prá vê que o texto não fala da minha área de conhecimento né (destaca as idéias principais , letra l)

Pode-se deduzir, pela leitura dos excertos acima, que Y foi quem

mais utilizou efetivamente as estratégias nas leituras do textos em relação

às que ele assinalou no questionário.

4.4.4 Conceito de leitura

A questão 4 solicitava uma resposta dos sujeitos sobre a questão: ‘o

que você entende por leitura?’ X respondeu: “Leitura de um texto

procurando sempre interpretar, entender e compreender todo seu conteúdo

de forma global”. Por sua vez, Y escreveu que “a leitura é o ato de

entendimento de um texto ou mensagem, procurando reconhecer o seu

objetivo e forma de escrita (por ex.: poética, jornalística, outros)”. Z

respondeu que “leitura é a interpretação das idéias de um determinado autor

sobre um determinado assunto. É o conhecimento da sua opinião sobre o

tema”. X parece não discernir os termos por ele usados: ‘interpretar,

Page 129: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxvii

entender e compreender’. É difícil deduzir o que ele quer dizer com ‘todo o

seu conteúdo de uma forma global’. Por sua vez, Y, ao salientar ‘procurando

reconhecer o seu objetivo e forma de escrita, poética, jornalística e outra’,

parece valorizar os gêneros textuais. Z salientando que ‘a leitura é o

conhecimento da sua opinião sobre o tema, sobre um determinado assunto’

deixa transparecer que o conhecimento do assunto é visto como importante.

É possível fazer uma relação dos conceitos sobre leitura atribuído

pelos sujeitos com o que LEFFA (1996) preconiza ao se referir aos modelos

de leitura em que define o leitor como o que “extrai significado do texto”

(modelo ascendente) ou o que “atribui significado ao texto” (modelo

descendente). Pelas definições dos sujeitos, pode-se deduzir que, pelo

menos Z é um leitor que “atribui significado ao texto” quando salienta que “a

leitura é o conhecimento da sua opinião sobre o tema, sobre um

determinado assunto”. Esta opinião parece significar que o conhecimento do

assunto do texto e da organização retórica do texto foram duas dimensões

que diferenciaram o desempenho de Z em comparação a X e Y.

A seção 4. 4. 5 faz as considerações finais deste capítulo.

4.4.5 Considerações Finais

Este capítulo, organizado em quatro seções, teve a finalidade de

discutir os dados da pesquisa, tendo como base os seguintes instrumentos

de avaliação: protocolos verbais, resumos, entrevistas e procedimentos

Cloze.

As três primeiras seções discutiram em que medida as dimensões do

conhecimento do assunto, do vocabulário e da organização retórica do texto

Page 130: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxviii

favorecem a compreensão em leitura de sujeitos com diferentes níveis de

proficiência em relação aos textos acadêmicos em áreas de conhecimento

específico e geral.

Dessa discussão, foram levantadas algumas evidências que parecem

reforçar a idéia que o conhecimento do assunto favorece a leitura dos

títulos e, por extensão, dos texto, de conteúdo específico. O conhecimento

de certos itens lexicais favorece o reconhecimento das seções dos

abstracts e outras palavras usadas em áreas específicas do conhecimento

como hypoxic stress e fracture parecem favorecer a compreensão dos

sujeitos em leitura de textos de conteúdo específico.

Outras evidências salientaram que os sujeitos, de modo geral,

reconhecem que o domínio do vocabulário em LE também tem um papel

importante na compreensão desses textos. Conforme eles mesmos

enfatizaram, o desconhecimento de certas palavras prejudica a

compreensão.

Parece que, quando se trata da leitura de textos em LE de áreas

específicas, o conhecimento do assunto tende a favorecer a compreensão

dos sujeitos. Por outro lado, quando se trata de leitura de textos em LE de

conteúdo geral, os sujeitos passam a ser mais dependente do vocabulário

do texto principalmente se ele não têm conhecimentos gerais abrangentes.

Evidências sinalizadas pelos próprios sujeitos, como é o caso das

apontadas nas entrevistas e as verificadas nos resumos por eles

elaborados, indicam que a dimensão do conhecimento da organização

retórica favorece a compreensão de textos em LE.

Page 131: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxix

Viu-se, de modo geral, que o desempenho dos sujeitos no decorrer

da pesquisa foi proporcional ao seu nível de proficiência que os classificou

como sujeitos da pesquisa. X evidenciou, de modo geral, o menor

aproveitamento, excetuando-se a tarefa ‘leitura dos títulos dos textos

específicos’ (Figura 7) em que encontrou menos palavras desconhecidas do

que Y e Z. Embora Y tivesse em alguns momentos evidenciado

desempenho semelhante a Z, e até melhor como pode ser visto na

utilização de estratégias de leitura (seção 4. 4. 3) pôde-se ver que Z foi

melhor na elaboração dos resumos dos textos específicos e dos textos

gerais em LM e LE, e nos procedimentos Cloze dos textos gerais em LM e

LE.

O capítulo 5 remete à conclusão, limitações e dificuldades

encontradas e propõe sugestões para futuras pesquisas.

Page 132: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxx

5 CONCLUSÃO, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES

PARA FUTURAS PESQUISAS

O objetivo deste trabalho foi investigar em que medida o

conhecimento do assunto, do vocabulário e da organização retórica do texto

favorecem a compreensão em leitura de textos acadêmicos em inglês em

sujeitos com diferentes níveis de proficiência (menos proficiente,

intermediário e mais proficiente).

Na revisão da literatura, explicitaram-se os modelos de leitura que

tradicionalmente são discutidos em pesquisas na área, e salientaram-se os

modelos interacionais de leitura de MOITA LOPES (1996) e CAVALCANTI

(1989). Argumenta-se que esses modelos, além de possibilitarem a

visualização da leitura como um ato comunicativo, levam em consideração

aspectos sociais e psicossociais dos seus interlocutores e se mostram

menos limitados e mais adequados do que os modelos seriais.

Tendo em vista as três dimensões básicas da questão da pesquisa,

buscaram-se evidências de suas concretizações a partir de duas fases

distintas da pesquisa: estudo piloto e estudo propriamente dito. As

conclusões, que fazem parte deste capítulo, são oriundas dos dados

coletados nessas duas fases, da aplicação e análise dos instrumentos de

avaliação utilizados e da própria auto-avaliação dos sujeitos da pesquisa

sobre a importância das três dimensões: conhecimento do assunto, do

vocabulário e da organização retórica do texto.

Page 133: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxxi

De fato, constatou-se que a interação de categorias de

conhecimento do vocabulário do texto (conhecimento sistêmico) e

conhecimento prévio (do assunto e da organização retórica do texto) foram

imprescindíveis para estabelecer a construção de sentido do texto por parte

dos sujeitos.

Os resultados parecem indicar que:

Primeiro, na leitura de um texto não específico à área de

conhecimento do leitor, este tende a fixar-se mais nos estímulos visuais do

texto num direcionamento bottom-up. Esse parece ter sido, de modo geral,

o comportamento de X no decorrer da pesquisa. Tanto Y, quanto Z

evidenciaram melhor desempenho porque acionaram os seus esquemas de

conhecimento num direcionamento top-down.

Segundo, o conhecimento do assunto do texto, de modo geral,

favoreceu os sujeitos na compreensão dos textos da sua área de

conhecimento, independente do seu nível de proficiência. Isso permite

concluir que sujeitos menos proficientes podem ter melhor desempenho se

utilizam o conhecimento do assunto, uma vez que este pode compensar

deficiências como a falta de conhecimento do vocabulário. X parece servir

de exemplo dessa situação em que ele, a partir da leitura do texto da sua

área de conhecimento, passa a considerar também a importância do

conhecimento do assunto como necessária.

Terceiro, o conhecimento do assunto parece também ter favorecido

os sujeitos na elaboração dos resumos. Isso pode ser notado comparando-

se o resumo elaborado por X sobre o texto da sua área de conhecimento

Page 134: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxxii

com seus outros resumos elaborados sobre os textos de outras áreas de

conhecimento.

Quarto, a deficiência de conhecimento do vocabulário, num conceito

“rico” em que se incluem os aspectos sintáticos, morfológicos, semânticos e

pragmático-discursivos (SCARAMUCCI, 1995), parece ter prejudicado a

compreensão dos sujeitos, tanto nos textos de conteúdo geral quanto nos

de conteúdo específico, independentemente do seu nível de proficiência. O

desempenho dos sujeitos na pesquisa parece ter comprovado esse aspecto.

Quinto, a performance dos sujeitos, de modo geral, foi proporcional a

seu nível de proficiência conforme sua classificação no teste de

conhecimentos lingüísticos. Isso pode ser verificado nos procedimentos

Cloze e na elaboração dos resumos em que Z evidenciou melhores

resultados do que Y e este melhor do que X.

Sexto, de modo geral, o desempenho dos sujeitos em relação ao

conhecimento da organização retórica do texto foi proporcional ao seu nível

de proficiência. Z, mais proficiente, demonstrou ser mais eficiente na

elaboração desses resumos em que fez constar as seções e procurou

identificar com maior precisão os ítens lexicais característicos desse gênero

discursivo, do que X, menos proficiente e Y, intermediário.

Sétimo, as opções por estratégias de leitura como ‘começa lendo

pelo título’, ‘na dúvida volta para ler’, ‘utiliza conhecimentos de outros textos’

e ‘ir adiante mesmo sem entender’ parecem também ter sinalizado a

diferença de proficiência entre os sujeitos. Pôde-se verificar, no entanto, que

Y, neste particular, utilizou um maior número de estratégias na leitura dos

textos do que X e Z . Assim, um leitor com mais conhecimento lingüístico

Page 135: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxxiii

não é um leitor que necessariamente seja mais hábil na leitura, se medirmos

essa habilidade pelo uso de estratégias que ele julga aplicar durante a

leitura.

As conclusões evidenciadas parecem indicar que, embora o

conhecimento do assunto tenha favorecido a compreensão em leitura de

texto em LE, constatou-se que o conhecimento do vocabulário e da

organização do texto são importantes.

Salientam-se algumas dificuldades e limitações constatadas já a

partir da escolha dos sujeitos da pesquisa que melhor se adaptassem aos

propósitos da mesma, como nível de proficiência e área de conhecimento. O

mesmo pode ser dito em relação à seleção dos textos que melhor

contemplassem a área de conhecimento de cada um dos sujeitos e ao

mesmo tempo, a melhor organização retórica possível.

É importante destacar que a complexidade da coleta de dados

exigiu muitas sessões com constantes readaptações de horários que

fossem compatíveis com a disponibilidade de tempo, do pesquisador e dos

sujeitos. Deve-se salientar, ainda que a não familiaridade com a técnica dos

protocolos verbais, apesar do treinamento prévio no estudo piloto, se

constituiu em dificuldade tanto para o pesquisador quanto para os sujeitos

pesquisados.

Além das conclusões, dificuldades e limitações, pode-se dizer que a

pesquisa também remete a contribuições como a constatação de que a

leitura é uma habilidade lingüística que depende da interação de níveis de

conhecimentos de naturezas diversas (SMITH, 1991) e, dessa forma, não

pode ser vista isoladamente, mas dentro de um contexto mais amplo.

Page 136: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxxiv

Constata-se que o campo de pesquisa sobre leitura é muito amplo

por ser a leitura uma habilidade básica para a aquisição e veiculação do

conhecimento. Das muitas pesquisas sobre leitura realizadas recentemente,

SCARAMUCCI (1995) enfatiza que um leitor precisa ter um conhecimento

sobre o léxico, TAVARES (1993) argumenta pelo uso da técnica da

introspecção no ensino de leitura e TREVISAN (1991) salienta o papel do

leitor na construção da coerência do sentido quando faz uso do seu

conhecimento prévio.

Em relação ao ensino de leitura para crianças e adolescentes em

níveis de escolaridade básica e segundo grau, pode-se pensar que, se uma

criança ou adolescente não é atraído pela leitura pode ser por falta de

interesse pelo assunto e material (SMITH, 1991; CHRISTEN & MURPHY,

1991) Nesse caso, cabe ao professor incentivá-lo para ler desenvolvendo

neles habilidades que podem estar ligadas ao ensino do vocabulário em

situações contextualizadas e valorizando o conhecimento prévio. Agindo

assim, o professor pode fazer com que os alunos compreendam que a

leitura é um ato de interação leitor-texto-autor tendo como resultado a

construção de sentido.

Se a escola não se preocupar com a questão da leitura e incentivar

os alunos a desenvolverem o hábito de ler, é possível que resultados

semelhantes aos evidenciados no Questionário 2, em que acadêmicos se

auto-avaliaram pouco proficientes em leitura em LM e LE, continuarão a se

repetir.

O ponto central da pesquisa, portanto, pode ser sintetizado como a

colocação em evidência da importância de se usar textos acadêmicos de

Page 137: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

cxxv

áreas específicas na prática de ensino da leitura em 3o grau. Além disso,

CÉLIA (1989) sugere que se utilize textos autênticos que estejam próximos

da vida real do estudante, numa abordagem comunicativa, com o objetivo

de comunicar e não de ensinar a língua. Cabe ainda ressaltar que o

conhecimento do léxico está intimamente ligado ao conhecimento do

conteúdo e, por essa razão, essas duas categorias não podem ser

separadas no ensino da leitura em 3º graus com textos de conteúdo geral

Em relação às futuras pesquisas, pode-se pensar em aprofundar o

estudo da leitura em Inglês para Fins Acadêmicos, enfocando a maneira

como leitores percebem as práticas retóricas de suas próprias disciplinas,

numa perspectiva sócio-construtiva de leitura em culturas epistemológicas

diversas de acordo com cada disciplina acadêmica.

Page 138: mulheres que rompem o silêncio - homofobia e heterosexismo

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