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CAMBIASSU EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111 São Luís - MA, Julho/Dezembro de 2011 - Ano XIX - Nº 9 20 MUSEU VIRTUAL COMO ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO ENTRE OS PÚBLICOS E AS ORGANIZAÇÕES: PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DE UMA ANÁLISE QUALITATIVA DE MUSEU VIRTUAL APLICADA AO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE. 3 Ana Paula Dias AGUIAR 4 Gisela Maria Santos Ferreira SOUSA 5 Resumo: O museu virtual como estratégia de aproximação entre as organizações e seus públicos. Discute-se a cibercultura e seus diferentes meios de transmissão e compartilhamento de informações e arquivos, possibilitando o desenvolvimento do conhecimento em conjunto e que esteja disponível a todos os indivíduos. Apresenta-se a Web 2.0 como facilitadora desse processo por meio da criação de novas estratégias comunicativas/ interativas entre públicos-organizações. Evidencia-se o museu virtual, disponibilizado no ciberespaço, como local onde são apresentadas e compartilhadas a história e as memórias de uma organização e seus membros por meio de arquivos digitais de texto, imagem e som em formatos diversos como: fotos, vídeos, entrevistas, depoimentos e exposições. Propõem-se critérios de análise qualitativa que são empiricamente aplicados ao Centro de Memória BUNGE de modo a comprovar as possibilidades dos mesmos. Palavras - chave: Museu Virtual. Estratégia. Cibercultura. Web 2.0. 3 Artigo fundamentado em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado pela autora ao Curso de Comunicação Social Habilitação Relações Públicas da UFMA em julho de 2011. 4 Graduada em Comunicação Social habilitação Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 5 Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP e Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMA. E-mail: [email protected]

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CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da

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São Luís - MA, Julho/Dezembro de 2011 - Ano XIX - Nº 9

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MUSEU VIRTUAL COMO ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO ENTRE OS PÚBLICOS E AS ORGANIZAÇÕES: PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DE UMA ANÁLISE QUALITATIVA DE MUSEU VIRTUAL APLICADA AO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.3

Ana Paula Dias AGUIAR 4 Gisela Maria Santos Ferreira SOUSA5

Resumo: O museu virtual como estratégia de aproximação entre as organizações e seus

públicos. Discute-se a cibercultura e seus diferentes meios de transmissão e

compartilhamento de informações e arquivos, possibilitando o desenvolvimento do

conhecimento em conjunto e que esteja disponível a todos os indivíduos. Apresenta-se a

Web 2.0 como facilitadora desse processo por meio da criação de novas estratégias

comunicativas/ interativas entre públicos-organizações. Evidencia-se o museu virtual,

disponibilizado no ciberespaço, como local onde são apresentadas e compartilhadas a

história e as memórias de uma organização e seus membros por meio de arquivos digitais de

texto, imagem e som em formatos diversos como: fotos, vídeos, entrevistas, depoimentos e

exposições. Propõem-se critérios de análise qualitativa que são empiricamente aplicados ao

Centro de Memória BUNGE de modo a comprovar as possibilidades dos mesmos.

Palavras - chave: Museu Virtual. Estratégia. Cibercultura. Web 2.0.

3 Artigo fundamentado em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado pela autora ao Curso de

Comunicação Social – Habilitação Relações Públicas da UFMA em julho de 2011. 4 Graduada em Comunicação Social – habilitação Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão

(UFMA). E-mail: [email protected] 5 Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP e Professora do Departamento de Comunicação Social da

UFMA. E-mail: [email protected]

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Abstract: The virtual museum as a strategy of approchement between the organizations and

their audiences. It discusses the cyberculture and its different modes of transmission and

sharing of information and files, enabling the development of knowledge together and that

is available to all individuals. It presents a Web 2.0 as a facilitator of this process through the

creation of new communication strategies/interactive between public organizations. It is

evident the virtual museum available in cyberspace as a place where they are presented and

shared the history and memories of an organization and its members by means of digital

files of text, image and sound in various formats such as photos, videos, interviews,

testimony and exhibits. We propose criterion for qualitative analysis that is empirically

applied to the Memory Center in order to prove the possibilities of them.

Keywords: Virtual Museum. Estrategy. Cyberculture. Web 2.0

1. Introdução

Quando a internet comercial foi lançada em meados dos anos 90, debates e

conferências começaram a ser realizados com o intuito de pesquisar sobre a utilização do

museu no ciberespaço. A instituição museológica tem relevante importância, pois tem como

principal objetivo a preservação de memórias e histórias de um grupo, de um povo, de uma

organização, para que gerações futuras possam aprender, ou seja, a instituição museológica

liga o passado ao futuro.

A digitalização total ou parcial dos acervos museológicos facilita o acesso, pois os

mesmos documentos poderão estar disponíveis de formas variadas. E isso “possibilitou aos

museus interagir de forma globalizada, alterando a noção de tempo e de espaço. Ou seja, o

museu na Internet nunca fecha” (HENRIQUES, 2004, p. 02). Com isso, os museus virtuais

organizacionais poderão alcançar toda a sociedade de uma única vez, mostrando os

objetivos da organização e suas preocupações, como forma de aproximar-se de seus

públicos e fazê-los sentir um reconhecimento, como se aquela organização estivesse

caminhando mais próximo.

Trata-se, aqui, do museu virtual como estratégia de aproximação entre a organização

e seus públicos, tendo como objetivo a proposição de critérios que possibilitem a realização

de uma análise qualitativa de museus virtuais organizacionais. Em levantamentos prévios

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identificou-se a inexistência de metodologia específica com a finalidade de analisar museus

virtuais.

Com o estudo, pôde-se não só avaliar o grau de interação que as organizações têm

com seus públicos, mas também definir de que forma é realizado esse processo interativo;

se o museu analisado ajuda na construção de conhecimento; se ele cumpre com suas

funções social e educativa; como dispõe a identidade da organização que está

representando; qual o grau de participação dos colaboradores; entre outros. Para que seja

possível perceber e compreender melhor a aplicabilidade desses critérios, realizou-se de

modo empírico a análise qualitativa do Centro de Memória Bunge.

Como metodologia adotou-se a perspectiva da Teoria Fundamentada (TF) que,

segundo Fragoso (2011, p. 84), tem como principal característica “a radical inversão do

método tradicional de pesquisa: enquanto na pesquisa científica normalmente tem-se um

problema que é confrontado com o referencial teórico e, a partir desse confrontamento,

elaboram-se hipóteses que serão testadas em campo, na TF teorização e observação

empírica andam juntas.”. Assim, durante o trabalho de pesquisa, realizado entre janeiro e

julho de 2011, foram feitas visitas ao site da Fundação Bunge e do Centro de Memória

Bunge, além de leitura de diversas fontes bibliográficas.

No trajeto empreendido, identificou-se que os museus virtuais poderiam apenas ser

classificados de acordo com o grau de interação que estabelecem com os públicos. Por isso,

surgiu o interesse na proposição e aplicação experimental dos critérios, visto que, de acordo

com a TF, “é o campo e sua observação que vão fornecer as hipóteses e auxiliar a delimitar o

problema e construir a teorização.” (FRAGOSO, 2011, p. 84). Além disso, os museus virtuais

organizacionais estão sendo cada vez mais utilizados para levar a história e possibilitar o

compartilhamento de memórias de seus membros, com a finalidade daquelas aproximarem-

se cada vez mais de seus públicos estratégicos.

2. O ciberespaço, a interação mediada por computador (IMC) e a estratégia digital

O ciberespaço surgiu com a internet para abrigar diferentes canais de transmissão de

informações e compartilhamento de arquivos, possibilitando a comunicação e a interação

entre indivíduos e computadores situados em diferentes lugares. No inicio, era usado apenas

por centros científicos com o objetivo de interligarem-se para fazerem não uma simples

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troca de conteúdo, mais uma construção de conhecimento conjunto, já que cada indivíduo

tinha a liberdade de propor teorias diferentes. Pierre Lévy (2010, p. 84), um dos estudiosos

desse tema, o define “como o espaço aberto pela interconexão mundial de computadores e

das memórias dos computadores” que “encoraja um estilo de relacionamento quase

independente dos lugares geográficos (telecomunicação, telepresença) e da coincidência

dos tempos (comunicação assíncrona)”. (LEVY, 2010, p. 44)

O ciberespaço possui uma cultura própria, a cibercultura, que rege toda e qualquer

forma de manifestação dos indivíduos que o utilizam. Como define Lévy (2010, p.17) é um

“conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaço.”. Ou seja, consiste na cultura, no modo de existir, no jeito de pensar e de agir

que se adéqua aos indivíduos que vivenciam a chamada sociedade da informação6 e, do

mesmo modo, os indivíduos se adéquam a ela.

E essa cultura desenvolvida no ciberespaço vai conduzir o modo como se dão as

interações mediadas por computador. Segundo Primo (2008) essas interações são tratadas

de acordo com concepção sistêmico-relacional, pois é preciso observar de forma conjunta e

sem individualizar os interagentes7, pois os relacionamentos são construídos de forma

integrada, com a participação de todos que se engajam no processo. A partir disso é possível

distinguir dois tipos de interação mediada por computador: a mútua e a reativa.

A interação mútua estará mais próxima da comunicação interpessoal, de forma que

os relacionamentos precisam ser vistos na sua totalidade, não se restringindo à observação

individual, de cada interagente. Da mesma forma, não é através de um estímulo que os

integrantes vão se relacionar, ou seja, “a comunicação interpessoal não pode ser reduzida ao

simples envio e recebimento de mensagem” (PRIMO, 2008, p. 104). Este seria o ponto

central da interação reativa, onde todo o processo já está pré-definido, já possui “limites

previstos”. A interação mútua não admite limitações, pois de acordo com Fisher (apud

PRIMO, 2008, p.109) “limites funcionam para reduzir o número possível de interpretações

6 Ciberurbe: A cidade na sociedade da informação, p. 296. 2005. André Lemos 7 O uso desse termo é justamente para evitar a vinculação com o modelo unidirecional, e da mesma forma evitar

o uso de “usuários”, “emissor” e “receptor”, que acaba por hierarquizar o processo comunicacional.

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disponíveis para cada participante e, portanto, reduzir a incerteza dos comunicadores sobre

quais cursos de ação são apropriadas naquele contexto.”

Aplicando-se as diferenças citadas no parágrafo anterior entre interação mútua e

interação reativa, podemos depreender que a interação reativa é percebida naquele site do

museu que está programado apenas para que o interagente tenha uma forma pré-definida

de “resposta”. Já a interação mútua seria identificada nos museus cujos sites facultam ao

interagente a forma, o tipo de mídia que ele quer compartilhar e que tipo de comentário

pretende fazer. Além disso, pode estar disponível a possibilidade de outros membros

fazerem comentários e dialogarem sobre aqueles vídeos ou fotos compartilhados.

O desenvolvimento da cibercultura vem tanto das constantes atualizações

tecnológicas, como também, e principalmente, do compartilhamento e da participação ativa

dos indivíduos e nesse ponto surge a cooperação. A partir do momento que os indivíduos

compartilham qualquer conteúdo, eles esperam a mesma atitude de outros indivíduos,

fazendo com que o ciberespaço seja reconhecido como comunitário. Uma organização, por

exemplo, pode se utilizar do dinamismo e da rapidez do ciberespaço para contribuir com a

sociedade de diversas formas, uma delas é o museu virtual organizacional que pode levar

para o meio social não só a história de uma organização, mas também do povo ao qual ela

está ligada.

O ato de cooperar atrelado ao dinamismo proposto pela cultura do ciberespaço faz

com que o modelo linear de transmissão de informações, proposto por Shannon e Weaver

(apud PRIMO, 2008), no caso um para muitos, como no rádio, televisão e jornais, tenha se

tornado insuficiente, pois o ciberespaço proporciona as interações um-um e todos-todos,

onde todos produzem e compartilham conteúdos. Mas, de acordo com Alex Primo (2008), o

fato de o primeiro modelo de transmissão ter se tornado insuficiente não significa que

deixou de ser usado, pelo contrário, serve ainda de base para os estudos dos novos modelos

que estão em foco, em virtude da digitalização da comunicação.

Isso implica dizer que ao participarem ativamente e acompanharem as ações,

principalmente das organizações, esses indivíduos também farão parte, mesmo que

indiretamente, do processo de planejamento organizacional, que hoje já não está só

olhando para dentro do ambiente organizacional, mas também encontra-se atento ao que

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está acontecendo fora da organização, no ambiente virtual. Por isso, as estratégias utilizadas

para atingir seus públicos precisam estar adequadas ao meio digital.

Definir o que é estratégia no âmbito organizacional é uma tarefa complicada, pois, de

acordo com Beth Saad (2003, p.31) é “um processo de percepção empresarial totalmente

vinculado ao ambiente, ao momento e às pessoas.” Mas, com o crescimento do ciberespaço,

as organizações precisam se adequar a ele. Diante desse cenário, em que a informação

adquire grande importância, surge a estratégia digital, que valoriza as mudanças vindas do

meio externo e permite que o público se coloque na posição de sujeito que cobra mais

transparência e ações positivas por parte das organizações, deixando de lado o papel de

sujeito passivo. E o fato de se tornar sujeito ativo está facilitado pela rapidez e imediatismo

com que as informações são transmitidas e atualizadas, quanto mais há inovação, mais

rápidas precisam ser as transformações e adaptações tanto das organizações quanto dos

seus públicos.

3. A memória e a história nas organizações

A memória nas organizações vem sendo alvo de muitas pesquisas, pois ela consegue

estreitar laços existentes entre os públicos e as organizações. Seu conceito ainda é muito

confundido com o de história, colocados algumas vezes como sinônimos, o que é um erro, já

que a memória é um componente histórico.

A memória faz parte da história de cada individuo ou de um grupo, assim como o

passado de cada um, que se define como um objeto, um componente que situa a história, já

que o passado depende do presente para se colocar enquanto tal. Ela seria a lembrança

marcante de algum acontecimento “tal como o passado não é a história, mas o seu objeto,

também a memória não é a história, mas um dos seus objetos e simultaneamente um nível

elementar de elaboração histórica” (LE GOFF, 1990, p. 423).

A história, por sua vez, se constitui a partir da reunião das memórias dos indivíduos e

dos grupos, que se constrói no tempo presente, e que o tempo passado as situa como

lembranças vividas. É possível defini-la em relação a uma realidade que não é nem

construída nem observada como na matemática, nas ciências da natureza e nas ciências da

vida, mas sobre a qual se "indaga", se "testemunha". (idem, 1990, p. 09). Ou seja, ela não se

coloca na idéia de algo exato, já que depende da subjetividade de cada um. Os indivíduos,

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então, se tornam seres inseridos em um contexto histórico a partir do momento em que

testemunham vários momentos importantes, as suas memórias, que por serem lembradas

no tempo presente se tornam passados.

A memória organizacional, de acordo com Nassar (2008) vai reunir todas as

lembranças, boas ou ruins, de toda a trajetória organizacional através dos depoimentos dos

colaboradores, documentos (fotos, prêmios, áudios, vídeos) e dos fatos que estavam se

passando na localidade na qual ela está inserida. Isso se deve ao fato de que “as

organizações, assim como os indivíduos, não existem fora da sociedade e, assim, são

participantes, mesmo na omissão, dos acontecimentos sociais” (idem, 2008, p. 117).

No Brasil, os estudos de memória partiram da iniciativa8 de acadêmicos que estavam

interessados em estudar a respeito da estrutura organizacional assim como a evolução

industrial brasileira. Porém, o ponto que marcou, de fato, o início do resgate histórico foi a

partir da década de 80, quando se iniciou o processo de reestruturação econômica e

democrática no Brasil, fazendo com que muitas empresas e organizações se tornassem

internacionais por meio das fusões e privatizações.

Desde então, o papel da comunicação começou a ser questionado em virtude da

possível perda de identidade, já que muitas fusões, por exemplo, resultaram em mudanças

drásticas, como fez o grupo Telefônica, da Espanha, que ao adquirir as concessões públicas

da Telesp – Telecomunicações de São Paulo e da CTBC – Companhia Telefônica Borda do

Campo, localizada também em São Paulo, mudou, sem nenhum planejamento, as cores de

todos os orelhões de laranja e azul para verde-limão e azul, além de ter prestado serviços de

baixa de qualidade, sendo alvo de milhares de reclamações junto ao Código de Defesa do

Consumidor e outras instituições similares. Nesse sentido, Nassar (2008) afirma que a

memória é de suma importância, principalmente em uma época de mudanças como as que a

sociedade vive hoje.

4. Museu Virtual: o passado cada vez mais presente, organizado e disponível

Definir museu vai muito mais além do que simplesmente ser um espaço para guardar

objetos que há tempos não são utilizados. Muitas são as definições encontradas, mas a Lei

8 Essa iniciativa é resultado de estudos realizados, principalmente nos Estados Unidos, com o objetivo de estudar

a organização da história a partir de documentos das organizações.

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Nº 11.904/20099 que institui o Estatuto de Museus apresenta a característica de preservação

como algo inerente e importante das instituições museológicas, e logo no seu Art. 1º trata

da definição dos mesmos:

Art. 1o Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. (Lei Nº 11.904/2007)

Considerada como característica principal dos museus, a preservação surgiu na pré-

história (POMIAN, 2011), quando as sociedades humanas começaram a ter o costume de

selecionar, conservar e guardar diversos objetos (armas, cerâmicas e utensílios feitos com

pedras e ossos de animais que abatiam e no metal). Essa prática, então, foi herdada e é

perpetuada até hoje, não só pelos museus, como também pelas bibliotecas, pelos arquivos e

por qualquer outra instituição com essa mesma finalidade.

De acordo com Cristina Bruno (1997)10 há três funções consideradas fundamentais

para os museus: a função cientifica, a função educativa e a função social. A primeira consiste

em preservar e analisar para extrair conhecimento de todo o acervo e assim poder aplicar

modelos de comunicação para implantar projetos expositivos e pedagógicos, assim como

sua avaliação. A segunda se refere à canalização dessas atividades para fins educacionais e

ações sócio-culturais de uma comunidade ou da sociedade em geral. A terceira seria a

junção das duas funções já citadas, promovendo a inclusão social através da preservação da

história e memória

É possível perceber, através dessas funções, que o museu possui uma essência

comunicativa, pois se for observado de maneira completa, ele funciona como um suporte de

informação, como um canal de comunicação que liga as lembranças do ontem ao que os

indivíduos estão vivenciando hoje. Ele é “capaz de transformar o objeto testemunho em

9 Lei Nº 11.904/2009 que trata do Estatuto dos Museus encontra-se no site:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11904.htm. Acessado em: 17 de maio de 2011. 10 Professora Titular em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

Licenciada em História pela Universidade Católica de Santos (1975), com três especializações em Museologia

pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Pequenos Museus,1978; Museus de Arte e História,1979 e

Museus de Ciência e Técnica,1980), mestrado em História Social / Pré-História pela Universidade de São Paulo

(1984) e doutorado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (1995). Fonte: http://ivenemu.blogspot.com.

Acessado em 18 de maio de 2011.

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objeto diálogo, permitindo a comunicação do que é preservado” (BRUNO, 1997, p. 47). Por

isso, ele precisa ser sustentado ao lado de outros meios de comunicação, e o ciberespaço

potencializa essas funções do museu enquanto instituição voltada a contribuir com o

crescimento da sociedade.

Existem, de acordo com Piacente (apud HENRIQUES, 2004 p.05), três categorias de

websites de museus: o folheto eletrônico; o museu no mundo virtual; e os museus

realmente interativos. A primeira se constitui naquela que tem como objetivo fazer apenas a

apresentação do museu físico, como se fosse um folheto de fato, com informações sobre a

história, o horário de funcionamento e até mesmo os colaboradores desse museu. Esse tipo

é bastante usado como instrumento de marketing, apenas para torná-lo mais conhecido e

facilitar o acesso dos interagentes.

A segunda categoria, o museu no mundo virtual, se apresenta de forma mais

detalhada, sendo possível disponibilizar visitas virtuais ao acervo. Nessa categoria percebe-

se a virtualização da instituição museológica, pois a estrutura física foi transformada em bits,

diferenciando-se, portanto, da primeira que apenas trata das informações técnicas. Essa

categoria pode disponibilizar acervos atuais, no caso aqueles que se encontram na estrutura

física, ou expor temporariamente coisas que já não fazem mais parte da mesma.

A terceira categoria, a de museus realmente interativos, engloba os museus que

podem ou não estar relacionados a um museu físico, mas que tem como principal

característica a interatividade, que é usada amplamente para chamar e prender a atenção

dos indivíduos que acessam a essa categoria de museus.

A relação entre o físico e o virtual pode ou não acontecer, tendo em vista que nem

sempre o mesmo conteúdo está presente nos dois, já que as estruturas são diferentes. Por

exemplo, uma visita guiada a uma exposição de história antiga, pode não ser tão atrativa

quanto a uma visita virtual, onde é possível disponibilizar variedades documentais, sem

precisar detalhar profundamente, colocando apenas o que for relevante.

Além da classificação em categorias, os museus virtuais organizacionais precisam ser

analisados de forma mais minuciosa, que leve em consideração suas características virtuais

como, por exemplo, o grau de interação que estabelece entre os públicos e as organizações,

qual o tipo dessa interação (mútua, reativa ou ambas); qual a importância que ele tem para

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os colaboradores da organização; quais os elementos identitários organizacionais carrega

consigo etc.

Dessa forma, aqui serão propostos critérios para a realização de uma análise mais

meticulosa e adequada ao ciberespaço, que o qualifique, de forma positiva ou negativa,

perante os outros museus virtuais organizacionais. O caráter positivo ou negativo será

colocado como sinônimo de ser um museu que contribua com a sociedade, que considere

aspectos relevantes não só para a organização, mas também para a história da comunidade

na qual está inserida. De fato, não se tem a intenção de fechar a proposição de critérios, já

que o ciberespaço está em constante crescimento e sendo estudado de forma cada vez mais

profunda.

Os elementos identitários serão considerados em virtude de as memórias serem

construídas a partir da percepção que cada indivíduo tem da organização, seja sob o olhar

dos colaboradores ou do público externo.

5. Museu virtual da BUNGE: Centro de Memória BUNGE

A Bunge é uma empresa holandesa, com inicio em 1818, fundada por um negociante

alemão, Johannpeter G. Bunge, para comercializar produtos importados das colônias

holandesas e grãos. Alguns anos depois, a sede da empresa muda-se para Roterdã e são

abertas subsidiárias em outros países europeus. Em 1905, a Bunge participa

minoritariamente do capital da S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais, empresa de compra e

moagem de trigo de Santos (SP - Brasil). É o início de uma rápida expansão no País,

adquirindo diversas empresas nos ramos de alimentação, agribusiness, químico e têxtil,

entre outros. Em 1955, surge a Fundação Bunge como forma de comemorar os 50 anos de

atuação da empresa no Brasil.11

Algumas de suas marcas de produtos estão à mesa da dona de casa brasileira há

muito tempo. Um bom exemplo é a marca Salada, “um óleo vegetal de algodão, que,

lançado em 1929, revolucionou os hábitos alimentares dos brasileiros, até então

acostumados a consumir banha de porco ou azeite de oliva.” (NASSAR, 2008, p.146/147).

11 Disponível em: http://www.bunge.com.br/empresa/historico.asp

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Outros exemplos de produtos Bunge: as margarinas: Delícia, Primor, Cyclus, entre outras; o

azeite Andorinha; a linha de óleos e azeites Coccinero; entre muitos outros.

Com base em tudo o que foi apresentado anteriormente, será realizada então a

análise qualitativa de um museu virtual a partir de alguns critérios antes mencionados, que

servirão para direcionar outras análises, uma vez que, como já citado, esta é uma proposta

de metodologia de análise para os museus virtuais que começaram a fazer parte das

estratégias comunicativas a partir do momento em que a web 2.0 passou a fazer parte do

cotidiano organizacional.

O Museu da Bunge foi escolhido em virtude da proximidade que a história dessa

empresa tem com a de muitas famílias brasileiras. Seus produtos comercializados há muito

tempo, fazem com que qualquer brasileiro, mesmo sem ter comprado ou usado, consiga

reconhecê-los por algum motivo, seja por causa de um comercial de TV ou por já tê-lo visto

em algum supermercado.

O Centro de Memória Bunge foi instituído no ano de 1994 com a finalidade de

“reunir, tratar e disponibilizar o patrimônio da Bunge Brasil”. O grupo empresarial Bunge

opera no Brasil por meio de duas subsidiárias integrais, a Bunge Alimentos e a Bunge

Fertilizantes. Costa (2006)12 diz que “sua atuação no país confunde-se em parte com a

própria história da alimentação no Brasil”.

A Fundação Bunge foi idealizada para comemorar os 50 anos da empresa no Brasil e

o Centro de Memória Bunge surgiu para preservar a história da mesma atrelando-a a história

do Brasil, portanto não são sinônimos, pois a Fundação abriga o Centro, assim como os

outros projetos, tanto no espaço virtual como na sede em São Paulo.

5.1 Análise do centro de Memória Bunge com base em critérios propostos

O projeto do Centro de Memória Bunge é conduzido pelo Manual de procedimentos

para processamento técnico do acervo Centro de Memória Bunge13 que dita desde seus

objetivos até os formatos que os arquivos devem ter para serem expostos. Para realizar a

12 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br. Acessado em 19 de maio de 2011 13 O Manual citado está disponível em: http://acervo.fundacaobunge.org.br:8080/textos/Manual_CMBunge.pdf

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análise, os critérios serão listados e comentados, para melhor compreensão, de forma

individual.

5.1.1 Análise da categoria na qual pode ser classificado: folheto eletrônico, museu no

mundo virtual ou museu interativo.

De acordo com o que foi observado, o projeto da Bunge se encaixa na categoria de

museu realmente interativo, pois permite o envio de fotos para complementação de seu

acervo por qualquer indivíduo da sociedade, sendo que esse envio está condicionado a

algumas observações que estão disponíveis na página do acervo, na parte “Doações ao

Acervo” no texto intitulado Condições gerais para fornecimento de material ao Centro de

Memória Bunge.

Insere-se nessa categoria também por não ser uma mera projeção do espaço físico

destinado à preservação da memória, pois nem tudo que está disponível no museu virtual

está da mesma forma no centro de preservação. Exemplos disso são as exposições temáticas

virtuais, que estão apenas no site do museu. Não tem também apenas a função

informacional, de levar os indivíduos a visitarem o espaço físico, uma vez que as pessoas que

não moram em São Paulo não poderão facilmente freqüentá-lo, devido à sua localização.

Apesar de permitir essa participação dos públicos, o Centro passa a ser proprietário

dos arquivos, já que a partir do momento que é realizada a doação, o arquivo já não

pertence mais ao individuo que o enviou.

Outro ponto a ser observado é que nem todos os arquivos estão disponíveis no

Acervo, muitos se encontram na página da Fundação, na parte “Você e Fundação Bunge” 14 e

numa aba localizada na página sob o nome de “Interatividade” 15.

5.1.2 Tipo de interação estabelecida: mútua, reativa ou ambas.

Em relação à interatividade, o museu da Bunge trabalha tanto a interação mútua,

como a reativa. A primeira é vista através do envio de arquivos, sob condições

disponibilizadas no “Termos de Uso” citado no critério anterior, sendo também percebida na

falta de linearidade e de trajetória pré-determinada, pois nas exposições, por exemplo, o

interagente pode fazer o caminho que quiser. No acervo, caso não seja encontrado o que é

14 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/interatividade/voce-e-fundacao-bunge/ 15 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/interatividade/

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de interesse, há uma página destinada às “Solicitações”16, que de fato são atendidas com a

rapidez exigida pelo ciberespaço. Já a reativa é possível percebê-la quando os indivíduos

estão visitando o acervo, pois as fotos são estáticas e há apenas um texto explicando-as, e

por isso nenhum interagente pode mudar nada, apenas olhar cada foto e sua respectiva

história, bastando apenas clicar nelas para isso acontecer.

Muitos canais de interação estão disponíveis na página da Fundação, na aba

“Interatividade”, como, por exemplo, as redes sociais (Facebook e Twitter), o blog da

Fundação, fóruns, as fotos postadas mais recentemente em Galerias de Fotos, diversos

vídeos institucionais, os podcast17 e o acervo. Essa atitude leva o interagente a entender que

os projetos da Fundação Bunge não têm vida própria, isto é, não podem ter blog próprio ou

página em uma rede social.

5.1.3 Cumprimento das funções de museu: instituição a serviço da sociedade

Quanto às três funções citadas por Cristina Bruno, científica, social e educativa, o

centro de preservação virtual da Bunge atende a todas. A primeira, a função cientifica,

percebe-se através da preservação do acervo, que possibilita a sociedade atual visualizar

épocas passadas através das fotos, como os modos de vestir, os avanços tecnológicos etc. A

segunda e a terceira, no caso a social e a educativa, são vistas ao mesmo tempo, através das

exposições temáticas que trazem informações sobre alguns produtos da Bunge atrelados à

história do desenvolvimento do Brasil, como a exposição Campo Fértil que conta a história

do setor de fertilizantes e sua ligação com o desenvolvimento do agronegócio no Brasil.

Paralelamente, o Centro de Memória Bunge organiza atividades que aproximam seu

acervo da sociedade e que estimulam outras instituições a fazerem o mesmo.

5.1.4 Posicionamento do centro de memória na empresa: âmbito interno e externo

O museu virtual da Bunge ocupa uma posição estratégica, funcionando como um

canal que ajuda na gestão e atua como intermediário na relação da empresa com as

comunidades do entorno e preocupando-se, sobretudo, com a gestão da memória

empresarial. Externamente, ocupa a posição de um dos mais ricos acervos de memória

empresarial do país, reunindo documentos de várias naturezas - cartográficos, iconográficos,

tridimensionais, textuais e outros - com uma história de mais de 100 anos de Brasil e quase

16 http://acervo.fundacaobunge.org.br:8080/index.asp?MenuS=7&MenuP=&Layout=dados 17 Arquivos de áudio, geralmente em mp3, no formato digital.

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200 anos no mundo - e com uma inserção nos âmbitos da indústria, da navegação e do

agronegócio.

5.1.5 Exposição da identidade da empresa

Os elementos identitários estão disponíveis por toda a página inicial18 a marca que

está localizada no canto superior esquerdo, as cores azul e vermelha, o símbolo da empresa

que é em formato de bola com listras vazadas, assim como no acervo, que é composto pelas

fotos e suas informações. As fotografias, por sua vez, trazem toda a trajetória da empresa e

estão dispostas da seguinte forma: caminhões antigos; propagandas antigas, pioneirismo e

inovações; evolução de embalagens, equipamentos têxteis; produção de algodão, produção

de fertilizantes; produção de soja; produção de trigo; transporte ferroviário; transporte

marítimo.

Nesse caso, é possível ver a característica da identidade organizacional

“permanência”, pois conta por meio de suas fotos, sua trajetória e seu desenvolvimento,

que não deixam de estar atrelados ao desenvolvimento da cultura brasileira, assim como da

tecnologia.

O centro de memória Bunge pode ser encontrado no site da fundação Bunge, onde

divide espaço com outros três projetos: o Comunidade Educativa; Conhecer para Sustentar e

o Prêmio Fundação Bunge. Assim como no ambiente virtual, estão localizados da mesma

forma no espaço físico, que fica em São Paulo.

O centro, atualmente, tem 16 anos e foi criado com o objetivo de resgatar, tratar e

disponibilizar o acervo histórico da Bunge no Brasil. Na sua estrutura física, desenvolve

atividades de: atendimento a pesquisas; exposições temáticas, processamento técnico;

jornadas culturais; oficinas de preservação; visitas técnicas; e integração de colaboradores

Bunge. No espaço virtual, a sua atuação é menor, já que disponibiliza apenas as exposições

temáticas virtuais, o acervo fotográfico e de texto e algumas informações sobre as jornadas

culturais e outros eventos que a Bunge participa.

5.1.6. Tipo de acervo usado na preservação da memória no ambiente virtual

Em relação ao acervo, como já foi mencionado, é formado por fotos e informações e

pode ser pesquisado por três caminhos: o guia, o inventário e o catálogo. O primeiro

18 http://www.fundacaobunge.org.br/

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organiza de forma sistemática informações dos fundos e coleções. Por meio do

levantamento de fontes documentais, fornece o histórico das empresas do grupo. O

segundo expande as possibilidades de pesquisa, pois indica detalhes relativos ao conteúdo

dos fundos e coleções. E o terceiro oferece uma busca por tipologias documentais que

informam detalhes de cada um dos documentos do acervo.

5.1.7 Grau de envolvimento dos colaboradores do público externo no projeto

observado

O grau de participação e envolvimento dos públicos no projeto é grande, mas isso

está disponível, de forma muito singela, na página do Centro de Memória. Há mais conteúdo

no site da Fundação. Mesmo quando está relacionado a qualquer assunto que diz respeito

ao Centro. Apenas algumas notícias são postadas, como por exemplo muitas das fotos de

diversas comemorações realizadas pela Fundação Bunge, mas que não são colocadas na

parte destinada ao Centro de Memória, o que transmite ao interagente a idéia de que ainda

não faz parte das memórias da Bunge.

5.1.8 Variedade de idiomas para leitura que estão disponíveis no Centro de Memória

Bunge

A página da Fundação Bunge e, consequentemente, a do Centro de Memória, só

estavam disponíveis em dois idiomas: o português e o espanhol. E isso limitava bastante o

número de acessos. Mas, em junho de 2011 tanto a Fundação como o Centro de Memória

foram adequados a outro idioma, o inglês. Isso fez com que ele se tornasse cada vez mais

acessível, pois milhões de indivíduos em diferentes lugares do mundo poderão estar

conectados a ele.

6. Conclusão

O museu virtual constitui-se em um canal estratégico entre os públicos e as

organizações pela facilidade de acessar fotos, vídeos, entrevistas, exposições que expõem

parte da história e as memórias organizacionais. E isso faz com que o ciberespaço seja um

meio que aproxima os indivíduos em diferentes lugares a um lugar comum, que muitas das

vezes guardam sua história atrelada à de seu país. A reunião desses indivíduos em um só

espaço (virtual) faz reforçar a idéia de uma sociedade que tem cultura e costumes próprios e

que é igualmente complexa, visto que os indivíduos não podem ser observados

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individualmente, pois o desenvolvimento social depende da ação do conjunto, de forma

colaborativa e cooperativa e não apenas de um ou outro indivíduo.

Depois de observar todos os critérios, é possível perceber que o Centro de Memória

da Bunge pode ser considerado um canal de aproximação entre a empresa e os seus

públicos. Ele promove as duas interações estudadas no presente trabalho. Nas exposições

temáticas, por exemplo, é visível o dinamismo proposto pela estratégia digital e que é

exigido pelo ciberespaço, assim como a rapidez nas atualizações, que ocorrem de acordo

com a exigência dos interagentes que acessam, assim como das novidades do próprio

Centro.

Assim, percebe-se o crescimento de outro cenário comunicacional para as

organizações: que se utiliza da informação, da rapidez e da facilidade que o ciberespaço

proporciona como estratégia para aproximar-se de seus públicos. O museu virtual é uma

dessas estratégias que compreende não só o ambiente organizacional e suas estruturas, mas

as pessoas que estão, ou que já estiveram envolvidas na construção da história da

organização. Um museu virtual de fato permite ser construído pelas memórias do seu

público externo, o que o coloca como instituição que está a serviço da sociedade, pois da

mesma forma que ele é alimentado pelas informações e participações do meio social, ele

retribui com educação e mais memórias, de forma que possa ser um canal que traga

reconhecimento à organização pela sociedade.

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