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EM ESTADO DE MINAS TERÇA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2007 EDITOR: João Paulo Cunha EDITORA-ASSISTENTE: Ângela Faria E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5126 HQ EDUCATIVO EM MINAS Dadá, personagem das tirinhas do estúdio Megatério, conquista alunos de Pedralva. PÁGINA 5 VÍCTOR KLIER/REPRODUÇÃO DANIEL CAMARGOS Sônia Braga divide a cama com Mauro Mendonça e José Wilker. Com as pernas cruzadas, a more- na sorri faceira na reprodução do cartaz do filme Dona Flor e seus dois maridos no anúncio da pá- gina quatro da Segunda Seção do Estado de Minas, de 19 de abril de 1977, e conclama para o dia se- guinte a estréia nos cinemas Roy- al, Pathé, Brasil e Palladium da- quele que até hoje é recordista de bilheteria das telas nacionais. No canto da página o recado é da Maravilha Produções, que apre- senta, também para o próximo dia, uma quarta-feira, o show Co- mo nos velhos tempos – O Terço e Mutantes cantam Beatles. A pós três décadas, os Mutantes re- tornarão a um palco da capital mineira. Dia 21 de abril, no Chevro- let Hall. A banda dos integrantes que tinham cabe- los compridos, vi- sual alucinado e explicitavam o deboche tocará na casa com no- me de multinacional americana. Mas o tempo é outro. Dos quatro cinemas que exibiram Dona Flor com primazia, dois se tornaram igrejas evangélicas, um projeto de centro cultural de siderúrgica francesa e outro teatro de pe- queno porte. O último palco dos Mutantes, o ginásio do Macken- zie, no Bairro Santo Antônio, fica em reforma até o final do ano, quando será reaberto e poderá comportar 4 mil espectadores. Os Mutantes das músicas eter- nas, das baladas loucas e rocks clássicos acabou em 1973, com a saída de Arnaldo Baptista da ban- da. O começo do fim, entretanto, foi antes, em 1972, quando Rita Lee, esposa de Arnaldo, abando- nou o disco voador. Depois, Sér- gio Dias manteve a banda e gra- vou mais dois álbuns – Tudo foi feito pelo sol (1974) e Mutantes ao vivo (1976) que seguia o cami- nho do rock progressivo virtuoso, longe do cerne inicial. Até o retor- no, no ano passado. O mineiro Túlio Mourão tocou piano, órgão hammond e mi- nimoog no disco de 1974 e apesar de não ter participado da última apresentação em Belo Horizonte, lembra-se bem da época. Ele en- trou para a banda em 1973, com 21 anos, e ficou até 1976. “Tinha acabado de ir para o Rio de Janeiro e foi um período de muita desco- berta. Procurávamos fazer um ro- ck de verdade, massivo”, lembra. Para Túlio, apesar das dificul- dades com equipamentos, “não se fazia rock com rádio a pilha”. Longe disso. Ele lembra quando a banda comprou um alto-falante de 18 polegadas para ter um som grave mais potente, um dos maiores do mercado até hoje. Deixaram a montagem a cargo de Cláudio César Dias Baptista, o outro irmão de Arnaldo e Sérgio – mistura de luthier e Professor Pardal. “Lembro-me das medidas ainda. A caixa de som tinha 3 me- tros de altura por 1 metro de comprimento, com 1,20 de pro- fundidade, e pesava cerca de 200 quilos. Precisávamos carregá-la em um caminhão e de várias pessoas para montar o equipa- mento. Em muitos locais tinha que quebrar portas, cadeiras e ja- nelas para a caixa entrar. Era uma situação quixotesca”, recor- da. A loucura era tanta que al- guns fãs curtiam ouvir o som da banda escondidos dentro da cai- xa. “Teve uma vez que dei uma dedada tão forte no moog que um maluco saiu voando lá de dentro. Esse deve ter problema de audição até hoje”, relata Túlio. Quando Túlio entrou na ban- da foram feitas tentativas para que Arnaldo permanecesse com o grupo, mas ele explica que a onda do band leader era outra. “Ele não estava nessa de fazer vá- rios shows”, afirma. Mesmo as- sim, os Mutantes seguiram for- tes. Tanto que Tudo foi feito pe- lo sol é considerado o primeiro disco de rock com boa vendagem no país. “Conseguimos um con- trato com a Som Livre e quem nos ajudou muito foi o Cazuza. Ele era moleque, tinha 15 anos e usava sandália e bermuda. Fica- va com o pai, João Araújo, execu- tivo da gravadora, fazendo uma pressão para ele apostar na gen- te”, lembra Túlio. EXATOS 30 ANOS APÓS SUA ÚLTIMA APRESENTAÇÃO, MUTANTES RETORNAM A BELO HORIZONTE. CIDADE E BANDA PASSARAM POR GRANDES MUDANÇAS, MAS PAIXÃO E MAGIA PERMANECEM LEIA MAIS SOBRE OS MUTANTES PÁGINA 4 BANDA EM MOVIMENTO 1966 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS E RITA LEE 1969 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS, RITA LEE, LIMINHA E DINHO 1973 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS, LIMINHA E DINHO 1974 – SÉRGIO DIAS, TÚLIO MOURÃO, ANTÔNIO PEDRO E RUI MOTA 1976 – SÉRGIO DIAS, RUI MOTA, LUCIANO ALVES E PAUL DE CASTRO 1978 – SÉRGIO DIAS, RUI MOTA, LUCIANO ALVES E FERNANDO GAMA MUTANTES Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 320, Savassi, (31) 3209-8989. Dia 21/4, às 22h. Cadeira 1º setor R$ 100 (R$ 50 meia), cadeira 2º setor R$ 80 (R$ 40 meia) e pista ou arquibancada R$ 70 (R$ 35). ARTE JANEY SOBRE FOTO NINO ANDRES E REPRODUÇÃO SOM LIVRE Dinho Leme, Zélia Duncan, Sérgio e Arnaldo Baptista, os ‘novos’ Mutantes

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E MESTADO DE MINAS ● T E R Ç A - F E I R A , 1 3 D E M A R Ç O D E 2 0 0 7 ● E D I T O R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6

★★

HQ EDUCATIVOEM MINAS

Dadá, personagemdas tirinhas doestúdio Megatério,conquista alunosde Pedralva.

PÁGINA 5

VÍCTOR KLIER/REPRODUÇÃO

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DANIEL CAMARGOS

Sônia Braga divide a cama com

Mauro Mendonça e José Wilker.

Com as pernas cruzadas, a more-

na sorri faceira na reprodução do

cartaz do filme Dona Flor e seus

dois maridos no anúncio da pá-

gina quatro da Segunda Seção do

Estado de Minas, de 19 de abril

de 1977, e conclama para o dia se-

guinte a estréia nos cinemas Roy-

al, Pathé, Brasil e Palladium da-

quele que até hoje é recordista de

bilheteria das telas nacionais. No

canto da página o recado é da

Maravilha Produções, que apre-

senta, também para o próximo

dia, uma quarta-feira, o show Co-

mo nos velhos tempos – O Terço

e Mutantes cantam Beatles.

Após três décadas,os Mutantes re-tornarão a umpalco da capitalmineira. Dia 21 deabril, no Chevro-let Hall. A bandados integrantesque tinham cabe-los compridos, vi-sual alucinado eexplicitavam o

deboche tocará na casa com no-me de multinacional americana.Mas o tempo é outro. Dos quatrocinemas que exibiram Dona Florcom primazia, dois se tornaramigrejas evangélicas, um projetode centro cultural de siderúrgicafrancesa e outro teatro de pe-queno porte. O último palco dosMutantes, o ginásio do Macken-zie, no Bairro Santo Antônio, ficaem reforma até o final do ano,quando será reaberto e poderá

comportar 4 mil espectadores.Os Mutantes das músicas eter-

nas, das baladas loucas e rocksclássicos acabou em 1973, com asaída de Arnaldo Baptista da ban-da. O começo do fim, entretanto,foi antes, em 1972, quando RitaLee, esposa de Arnaldo, abando-nou o disco voador. Depois, Sér-gio Dias manteve a banda e gra-vou mais dois álbuns – Tudo foifeito pelo sol (1974) e Mutantesao vivo (1976) que seguia o cami-nho do rock progressivo virtuoso,longe do cerne inicial. Até o retor-no, no ano passado.

O mineiro Túlio Mourão tocoupiano, órgão hammond e mi-nimoog no disco de 1974 e apesarde não ter participado da últimaapresentação em Belo Horizonte,lembra-se bem da época. Ele en-trou para a banda em 1973, com21 anos, e ficou até 1976. “Tinhaacabado de ir para o Rio de Janeiro

e foi um período de muita desco-berta. Procurávamos fazer um ro-ck de verdade, massivo”, lembra.

Para Túlio, apesar das dificul-dades com equipamentos, “nãose fazia rock com rádio a pilha”.Longe disso. Ele lembra quando abanda comprou um alto-falantede 18 polegadas para ter um somgrave mais potente, um dosmaiores do mercado até hoje.Deixaram a montagem a cargode Cláudio César Dias Baptista, ooutro irmão de Arnaldo e Sérgio– mistura de luthier e ProfessorPardal. “Lembro-me das medidasainda. A caixa de som tinha 3 me-tros de altura por 1 metro decomprimento, com 1,20 de pro-fundidade, e pesava cerca de 200quilos. Precisávamos carregá-laem um caminhão e de váriaspessoas para montar o equipa-mento. Em muitos locais tinhaque quebrar portas, cadeiras e ja-

nelas para a caixa entrar. Erauma situação quixotesca”, recor-da. A loucura era tanta que al-guns fãs curtiam ouvir o som dabanda escondidos dentro da cai-xa. “Teve uma vez que dei umadedada tão forte no moog queum maluco saiu voando lá dedentro. Esse deve ter problemade audição até hoje”, relata Túlio.

Quando Túlio entrou na ban-da foram feitas tentativas paraque Arnaldo permanecesse como grupo, mas ele explica que aonda do band leader era outra.“Ele não estava nessa de fazer vá-rios shows”, afirma. Mesmo as-sim, os Mutantes seguiram for-tes. Tanto que Tudo foi feito pe-lo sol é considerado o primeirodisco de rock com boa vendagemno país. “Conseguimos um con-trato com a Som Livre e quemnos ajudou muito foi o Cazuza.Ele era moleque, tinha 15 anos eusava sandália e bermuda. Fica-va com o pai, João Araújo, execu-tivo da gravadora, fazendo umapressão para ele apostar na gen-te”, lembra Túlio.

EXATOS 30 ANOS APÓS SUA ÚLTIMA APRESENTAÇÃO, MUTANTES RETORNAM A BELO HORIZONTE.CIDADE E BANDA PASSARAM POR GRANDES MUDANÇAS, MAS PAIXÃO E MAGIA PERMANECEM

LEIA MAIS SOBRE OS MUTANTESPÁGINA 4

BANDA EM MOVIMENTO

1966 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS E RITA LEE

1969 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS, RITA LEE, LIMINHA E DINHO

1973 – ARNALDO BAPTISTA, SÉRGIO DIAS, LIMINHA E DINHO

1974 – SÉRGIO DIAS, TÚLIO MOURÃO, ANTÔNIO PEDRO E RUI MOTA

1976 – SÉRGIO DIAS, RUI MOTA, LUCIANO ALVES E PAUL DE CASTRO

1978 – SÉRGIO DIAS, RUI MOTA, LUCIANO ALVES E FERNANDO GAMA

MUTANTESChevrolet Hall, Avenida Nossa

Senhora do Carmo, 320, Savassi, (31) 3209-8989. Dia 21/4, às 22h.

Cadeira 1º setor R$ 100 (R$ 50 meia),cadeira 2º setor R$ 80 (R$ 40 meia) epista ou arquibancada R$ 70 (R$ 35).

ARTE JANEY SOBRE FOTO NINO ANDRES E REPRODUÇÃO SOM LIVRE

Dinho Leme, Zélia Duncan, Sérgio e Arnaldo Baptista, os ‘novos’ Mutantes