na podas 2014
TRANSCRIPT
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
2 NA 01. Podas do Cafeeiro
Meta
Apresentar os tipos de podas que podem ser realizadas no cafeeiro,
bem como analisar a relação de custo/benefício desta prática na cultura.
Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1) Compreender os principais fatores técnico-econômicos relacionados à poda
do cafeeiro;
2) Conhecer os tipos de podas que podem ser realizadas no cafeeiro;
3) Relacionar a poda adequada para cada lavoura, em função de suas
características vegetativas e reprodutivas;
4) Planejar o manejo da parte aérea da lavoura com uso de podas
programadas.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
3 NA 01. Podas do Cafeeiro
1. Aspectos da morfo-fisiologia do cafeeiro ligados à poda
A poda do cafeeiro é uma prática bastante difundida entre os
cafeicultores, principalmente naquelas lavouras que sofreram danos por
geadas ou chuvas de granizo. Além disso, o corte das plantas é direcionado
para lavouras que receberam ataque intenso de pragas ou doenças, sendo
necessária a eliminação de parte das plantas danificadas.
Atualmente, além das situações acima, a poda de cafeeiros está sendo
demandada para otimizar áreas produtivas promovendo redução de custo de
produção, com a utilização de podas programadas em sistema adensados e
superadensados.
Contudo, podar uma lavoura cafeeira não se trata, simplesmente, de
efetuar o corte de alguma parte das plantas. A prática da poda do cafeeiro deve
ser algo mais criterioso, levando em consideração fatores relacionados às
plantas, ao nível tecnológico adotado do cafeicultor, às máquinas disponíveis
para a operação, entre outros, usando como base os conhecimentos de
morfologia e fisiologia do cafeeiro.
Apenas relembrando...
A produção dos frutos do cafeeiro ocorre nos nós dos ramos
plagiotrópicos produzidos na estação de crescimento anterior. É fundamental
que você lembre-se disso. A produção dos frutos do cafeeiro é obtida da
porção nova dos ramos plagiotrópicos.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
4 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fazendo uma análise cronológica dos eventos ligados à produção do
cafeeiro e inserindo esse raciocínio nesse momento que estamos iniciando o
ano safra 2015/2016 (ano agrícola 2014/2015), podemos pensar o seguinte:
1. Crescimento dos ramos plagiotrópicos na estação quente e
chuvosa entre setembro de 2013 e março de 2014. Com isso,
são produzidas gemas seriadas nos ramos plagiotrópicos
localizadas nas axilas foliares. Obviamente, quanto maior o
número de pares de folhas produzidos, maior será a capacidade
produtiva das plantas, como já estudado!!!
2. Após a estação chuvosa, iniciando o período seco e
com temperaturas mais baixas, as plantas iniciam uma
fase conhecida por diferenciação e dormência de
gemas. Nesse momento, ocorre a preparação das
gemas seriadas para antese, no início da estação
quente e chuvosa que está se aproximando, setembro
de 2014.
3. Com a elevação da temperatura e ocorrência de chuvas,
ocorre a antese (abertura das flores). Os detalhes sobre a
abertura das flores, bem como sobre a auto-fecundação já foram
discutidos anteriormente.
4. Após a antese e queda das flores, inicia-se a fase de
frutificação, com os frutos na fase de chumbinho que se
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
5 NA 01. Podas do Cafeeiro
desenvolvem até atingir a fase de fruto maduro,
momento recomendado para a realização da colheita, a
partir de maio de 2015.
Por isso é dito que a produção do café ocorre na porção do ramo
plagiotrópico crescida no ano anterior e ainda, em função dos fatos acima,
podemos perceber que o crescimento dos ramos é fundamental para a
obtenção de altas produtividades, visto que a quantidade de café produzida por
planta está em função do vigor vegetativo das plantas na estação de
crescimento do ano anterior...
Não é objetivo da disciplina de Poda do
Cafeeiro entrar nos quesitos do florescimento e
frutificação das plantas, como já ocorrido na
diciplina de Morfologia e Fisiologia do Cafeeiro.
Mas, os entendemos como de vital importância
para o entendimento do assunto que aqui será
abordado.
Ainda, é preciso observarmos uma questão quanto ao crescimento das
plantas: as gemas conhecidas por cabeça-de-série e as seriadas, presentes
tanto nos ramos plagiotrópicos quanto nos ortotrópicos!
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
6 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: UNEB, 2010
Já sabemos que em cada nó presente nos ramos
das planta, seja ortotrópico ou plagiotrópico, existe uma
série de gemas de cada lado, sendo composta por uma
gema maior em destaque chamada de Cabeça-de-série
e por outras 5 a 6 gemas menores, as gemas Seriadas.
A figura seguinte traz o esquema das gemas e ramos do cafeeiro.
Fonte: Fahl, 2005.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
7 NA 01. Podas do Cafeeiro
Gemas cabeça-de série presentes tanto nos ramos ortotrópicos quanto
nos plagiotrópicos, produzirão apenas ramos plagiotrópicos. As gemas
seriadas presentes nos ramos ortotrópicos produzirão novos ramos
ortotrópicos, que podem chamados de ramos-ladrões (quando indesejáveis!!!)
ou de broto, quando da renovação da lavoura após uma poda. Já nos ramos
plagiotrópicos, as gemas seriadas podem seguir por dois caminhos: a produção
de ramos plagiotrópicos, com objetivo de revigorar as plantas ou em flores, em
anos que as plantas apresentam bom enfolhamento.
Para melhor planejar o manejo da parte aérea do cafezal, entender o
comportamento da plantas após a realização da poda é muito importante,
permitindo que a recomendação de uma ou outra poda esteja sendo feita de
forma correta.
Sugestão:
Revise o material da disciplina de Morfologia e Fisiologia do Cafeeiro,
principalmente nos tópicos que listamos acima, antes de avançar na disciplina
de Podas do Cafeeiro! Sua compreensão será bem mais fácil e mais aplicada!
2. Objetivos da poda
Segundo Melles e Guimarães (1985), citados por Guimarães et al
(2002), as podas têm como objetivo principal, recuperar as plantas ou parte
delas que não estão atendendo economicamente ao padrão da cultura, sendo
feitas a fim de:
manter uma relação adequada de colheita por área;
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
8 NA 01. Podas do Cafeeiro
estabilizar o nível de produção diminuindo as diferenças dos índices de
produtividades em anos de baixa e de alta carga pendente de frutos;
ajudar na eficiência do controle fitossanitário;
manter o arejamento da planta facilitando a entrada de luz;
adequar as lavouras para a colheita.
Ainda, podemos pensar em aumentar a capacidade de crescimento dos
ramos plagiotrópicos em lavouras mais velhas, já que a taxa de emissão de
novos pares de folhas diminui em ramos muito compridos, entre outros que
serão discutidos nesse módulo.
3. A tomada de decisão para a realização da poda
A decisão de podar ou não uma lavoura cafeeira deve ser feita após a
análise de alguns ítens pelo técnico e pelo produtor, de forma conjunta. No
caso de lavouras com podas programadas como em sistemas adensados, por
exemplo, a realização das podas deve seguir o calendário previamente
definido. Caso não sejam prontamente executadas no momento planejado,
corre-se um grande risco do insucesso na atividade, com adoção de manejo da
parte aérea das plantas incompatível com o sistema de implantação.
Assim, algumas perguntas devem ser respondidas antes de se decidir
sobre a realização ou não da poda:
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
9 NA 01. Podas do Cafeeiro
a) A lavoura já atingiu altas produtividades e as plantas apresentam bom
vigor?
A capacidade produtiva da cultivar que está sendo trabalhada na área
deve ser analisada, bem como o vigor das plantas, como a taxa de crescimento
e produção, ocorrência de depauperamento em função de produção, entre
outros.
Nesse caso, quando se tratar de cultivar muito antiga e que nunca
manifestou produções significativas, recomenda-se o arranquio das plantas e
implantação de nova cultivar com características melhoradas, como vigor,
porte, resistência à doenças e pragas, entre outras. A poda das plantas não
promoverá aumento da produtividade na propriedade, pois a limitação é a
capacidade genética das plantas.
b) O estande de plantas atende aos critérios técnico-econômicos
necessários para a cafeicultura?
Deve-se levar em consideração tanto o número de plantas por hectare
quanto a disposição destas plantas na área, num contexto mais atualizado da
cafeicultura na propriedade, numa condição que permita a utilização de
máquinas, melhor aproveitamento dos insumos, racionalização da mão-de-
obra, por exemplo.
Vamos analisar um caso: uma lavoura cafeeira plantada em sistema
tradicional de covas, com espaçamento de 4,5 x 2,5 com duas plantas por cova
que já foi muito usada na cafeicultura antigamente...
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
10 NA 01. Podas do Cafeeiro
Nesse caso, teremos 11,25 m2 por cova, resultando em 889 covas por
hectare. Isso é o estande! Considerando que em anos de alta carga, possa ser
colhidos em torno de 20 litros de café da roça em cada cova, em média,
teremos uma produtividade estimada em aproximadamente 39 sacas de café
beneficiado por hectare.
Um detalhe: 20 litros de café por cova em média é uma produção por
cova considerada alta, com possibilidade de causar alguns danos às plantas,
como seca de ramos, ataque intenso de doenças como a ferrugem e
cercosporiose, entre outros.
Em função do forte dreno causado pela alta carga de frutos, ocorre baixo
crescimento dos ramos plagiotrópicos e, consequentemente, baixa produção
no ano seguinte. Sendo o café uma planta que apresenta ciclos bienais de
altas produções, a produtividade média dessa lavoura será baixa.
Nesse caso, podar não irá resolver esse problema, pois o estande
continuará sendo o mesmo. A recomendação é arranquio e implantação de
nova lavoura com estande adequado.
c) Existe alguma prática agrícola que possa ser adotada para aumentar a
produção?
Em algumas situações, tanto o cafeicultor quanto o técnico deixam de
adotar práticas agrícolas importantes, promovendo um manejo incorreto da
lavoura e a realização de podas na maioria das vezes, não se aplica.
Nesse caso, o uso de técnicas corretas como a adubação racional com
base em análises anuais da fertilidade do solo e da folha, amostragem de
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
11 NA 01. Podas do Cafeeiro
pragas e doenças, manejo de plantas expontâneas de forma racional, com uso
de roçagens aliada à controle químico com herbicidas, são alguns exemplos de
práticas que podem ser implantadas com finalidade de aumento da capacidade
produtiva das plantas.
d) O preço do café compensa realizar uma poda das plantas ou é mais
interessante que a implantação de uma nova lavoura?
Nesse caso, deve ser feita uma análise considerando a realização de
poda da lavoura, com possibilidade de retorno mais rápido de produção em
anos de preços melhores em comparação à implantação de nova lavoura com
possibilidade de adoção de cultivar mais nova melhorada geneticamente
correção do solo em profundidade, adequação do estande e também, do
arranjo espacial das plantas, entre outros.
Ainda em relação ao preço do café, em anos de preços baixos, a
realização de poda nas plantas pode ser uma estratégia de redução de custos
e renovação da lavoura na época de crise, preparando-se para uma fase de
preços altos.
De forma geral, para analisar a viabilidade de podar um arrancar uma
lavoura cafeeira, o profissional deve usar embasamento técnico em diversas
áreas da cafeicultura, tomando as decisões adequadas para a situação da
propriedade cafeeira num contexto técnico e econômico.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
12 NA 01. Podas do Cafeeiro
4. Principais fatores que induzem à necessidade de podas
Vários são os fatores capazes de levar uma lavoura à necessidade de
realização de podas. Aqui, estudaremos os de maior ocorrência.
a) Geadas ou chuvas de granizo
A ocorrência de geadas em cafeeiros pode causar a queima de parte
das plantas e até mesmo da planta toda, dependendo da gravidade do evento
climático. No caso de morte de parte das plantas, recomenda-se a realização
de poda em local abaixo da região que foi danificada pela baixa temperatura.
Observe a foto ao lado.
Note a queima do ponteiro das
plantas causada por ventos
frios, chamada de geada de
capote. Nesse caso, retira-se
apenas o terço superior das
plantas. Fonte: CNC, 2009
As chuvas de granizo podem causar desfolha intensa do cafeeiro e
também, a quebra de muitos ramos. Nesse caso, deve-se proceder da mesma
maneira acima, retirando-se a porção danificada das plantas.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
13 NA 01. Podas do Cafeeiro
b) Fechamento das entrelinhas de plantas
A escolha de espaçamento mais próximos entre as linhas de plantas
podem causar o fechamento rapido das entrelinhas, dificultando o trânsito
dentro da lavoura, a realização de tratos culturais, como pulverizações e até
mesmo, a colheita.
A lavoura abaixo é da cultivar Mundo Novo, plantada com espaçamento
de 2,0 x 0,7 demonstrando o fechamento da entrelinha.
Fonte: Arquivo pessoal
Com relação à fisiologia das plantas, o fechamento promove uma
redução significativa do arejamento, promovendo maior ocorrência de doenças
como a ferrugem, por exemplo e favorecendo a ocorrência de broca do café.
Além disso, devido ao fechamento e auto-sombreamento intenso, ocorre uma
redução da taxa fotossintética das folhas dos ramos plagiotrópicos baixeiros
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
14 NA 01. Podas do Cafeeiro
das plantas, pela menor entrada de luz, promovendo a queda das folhas e
morte dos ramos por falta de fotoassimilados.
As figuras abaixo ilustram essa situação. Perceba a ausência de ramos
e folhas no terço inferior das plantas. Consequentemente, haverá queda da
capacidade produtiva da lavoura.
Fonte: Arquivo Pessoal
Fonte: Arquivo Pessoal
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
15 NA 01. Podas do Cafeeiro
c) Depauperamento das plantas
Conforme já discutido em outros módulos, a alta carga pendente de
frutos por planta é um fator que deve ser evitado, visto que muitas injúrias às
plantas são originadas como a seca de ramos, maior ataque de doenças,
ocorrência de maior porcentagem de frutos chochos e mal granados, entre
outros. Apenas relembrando, uma estratégia para se diminuir o efeito das altas
cargas é o adensamento...
Fonte: Arquivo pessoal
Pois bem... No caso de lavouras com alta carga de frutos e sinais de
depaupeamento das plantas, recomenda-se a realização de podas para
eliminar as partes danificadas das plantas, preparando-se as plantas para novo
crescimento e produção.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
16 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
Esta planta ao lado, demonstra
sinais de depauperamento em função
da alta carga de frutos. Seca de ramos
principalmente do terço superior,
folhas doentes e amarelecimento
generalizado.
Em espaçamentos mais largos,
o depauperamento das plantas é o
principal fator que induz à
necessidade de podas.
d) Altura das plantas
Existe um pensamento de muitos cafeicultores com relação a alturas das
plantas, os quais relacionam a ocorrência de altas cargas com plantas muito
altas. De fato, isso é uma verdade. Plantas altas podem apresentar uma maior
quantidade de café, já que possuem uma maior quantidade de ramos
plagiotrópicos... Contudo, para o cenário da cafeicultura atual, isso nem sempre
é sinal de vantagem e alto lucro, principalmente quando relacionado à mão-de-
obra. Observe a lavoura seguinte.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
17 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
Esse camarada ai sou eu, Prof. José Marcos... Tenho 1,75m de altura e
as plantas apresentam em torno de 4,0 metros. Será que nesse caso, a
colheita será fácil? Acredito que não. Os apanhadores deverão usar escadas
que além de provocar um atraso significativo na operação, podem causar
acidentes com consequências sérias.
Considerando que a mão-de-obra para a colheita do café é o fator de
maior peso no custo de produção do café, essa prática deve ser realizada de
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
18 NA 01. Podas do Cafeeiro
maneira mais eficiente possível. Além disso, podemos relacionar o rendimento
dos trabalhadores na pulverização de plantas maiores, desbrotas, entre outros.
e) Ocorrência de pragas e doenças
O ataque de pragas e doenças pode ser fator de indução à necessidade
de podas do cafeeiro, por causar desfolhas significativas e morte de ramos da
planta. Como exemplo, cito o bicho-mineiro-do-cafeeiro, que é uma praga que
ataca principalmente o terço do cafeeiro, devido às condições de luminosidade
e ressecamento das folhas desta região.
Fonte: Arquivo pessoal
Perceba que existe uma
área da copa desta planta que
apresenta ramos secos, sem
folhas. Isso ocorreu em função
de desfolha causada por
ataque de bicho-mineiro-do-
cafeeiro, que por sua vez,
diminuiu a capacidade de
realizar fotossíntese no ramo.
Ou seja, o ramo morreu de
fome!
Quanto às doenças, tanto a ferrugem e a cercosporiose são importantes,
por causar queda prematura das folhas, motivando o depauperamento das
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
19 NA 01. Podas do Cafeeiro
plantas. Mas quero fazer uma observação para outra doença: a mancha de
Phoma.
Essa doença, como estudado no módulo referente às pragas e doenças
do cafeeiro, ataca tecidos novos das plantas, ou seja, folhas novos, ramos
novos, botões florais, flores e frutos novos. Obviamente, todos devem ser
observados em campo, mas para nosso caso da disciplina de Podas, farei um
estudo da morte dos ramos novos das plantas.
Fonte: Arquivo pessoal
Fonte: Arquivo pessoal
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
20 NA 01. Podas do Cafeeiro
A morte das pontas dos ramos devido ao ataque desta doença, pode
ocasionar o fechamento da planta por superbrotamento. Nesse caso, a planta
se enfolha excessivamente e não ocorre a entrada de ar e luz no interior da
planta, aumentando a ocorrência de ferrugem devido ao não-arejamento e
diminuindo a capacidade produtiva pela falta de luminosidade no interior da
planta.
Assim sendo, tome cuidados com pragas e doenças na lavoura que está
trabalhando, pois trata-se de um fator muito importante capaz de induzir à
queda de produção e à necessidade de podas.
f) Baixo vigor
A queda do vigor do cafeeiro é um fato ocorrência natural em lavouras
mais velhas, devido ao crescimento dos ramos plagiotrópicos nos anos
anteriores. Quando jovens, as plantas apresentam um crescimento significativo
soa ramos plagiotrópicos, produzindo 10 a 15 nós em cada estação de
crescimento, dependendo obviamente, dos cuidados que recebe do cafeicultor,
ou seja, adubação equilibrada, manejo de pragas, doenças e plantas
expontâneas, desbrotas, entre outros.
Considerando que a produção é consequência do crescimento dos
ramos plagiotrópicos no ano anterior, normalmente em lavouras que
apresentam bom vigor vegetativo, as produtividades são altas.
Contudo, esse crescimento segue uma curva, atingindo seu máximo e
entrando em declínio, em seguida. Após alguns anos, as plantas conseguem
emitir poucos pares de folhas nos ramos e a capacidade produtiva fica limitada.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
21 NA 01. Podas do Cafeeiro
A figura que segue ilustra esse fato.
Fonte: Arquivo pessoal
Note o grande comprimento dos ramos e também, a frutificação rala.
Como já discutido anteriormente, em cada nó do ramo plagiotrópico existem
duas séries de gemas, sendo uma de cada lado. Com o grande crescimento
nos anos anteriores, a emissão de folhas novas pelo meristema apical do ramo
vai diminuíndo, diminue também a emissão de novas séries de gemas capazes
de originar as flores e consequentemente, após a fecundação, os frutos.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
22 NA 01. Podas do Cafeeiro
g) Podas programadas
Em sistemas adensados, a programação de podas deve ser feita no
momento da implantação da lavoura, já prevendo o fechamento entre as linhas
de plantas. Assim, antes que ocorram os danos fisiológicos (redução da taxa
fotossintética das folhas dos ramos baixeiros), morfológicos (morte de ramos
do terço inferior) e consequentemente redução da capacidade produtiva das
plantas, deve ser efetuada a poda das plantas.
Assim, conserva-se a capacidade produtiva da lavoura, devido à
manutenção de todas as suas partes.
5. Épocas de podas
Geralmente, a época de realização de poda em lavoura cafeeira é após
a colheita, de agosto em regiões com menor risco de temperaturas muito
baixas até setembro. Nesse período, as plantas começam a aumentar seu
ritmo vegetativo, devido à ocorrência de chuvas e elevação da temperatura.
Porém, algumas observações devem ser feitas para acertar a melhor
época de realização da poda nas plantas, devido à características da
propriedade:
- em caso de regiões muito frias ou lavouras em maior altitude, deve-se
aguardar um pouco mais a elevação da temperatura, por volta de
outubro/novembro, fugindo dos ventos frios qua ainda podem ocorrer à
noite;
- em lavouras depauperadas em função de cargas muito altas,
recomenda-se atrasar a realização da poda devido à planta estar sem
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
23 NA 01. Podas do Cafeeiro
reservas suficientes para um bom desenvolvimento dos brotos. Em
alguns casos, deve-se fazer uma adubação de solo e uma de folha com
objetivo de fortalecer as plantas;
- em sistemas adensados, com uso de podas programadas, a realização
das podas o quanto antes têm demonstrado ser mais vantajosa,
proporcionando maior crescimento dos ramos e elevada produção.
6. Tipos de podas
As podas do cafeeiro são realizadas nos ramos da planta, sendo
classificadas em função de sua profundidade do corte. São elas: recepa (com
pulmão e sem pulmão) e decote, realizadas no ramo ortotrópico e
esqueletamento e desponte, realizadas nos ramos plagiotrópicos.
a) Recepa
Recepar um cafeeiro consiste em efetuar um corte entre 30 a 40cm de
altura do nível do solo no ramo ortotrópico (tronco da planta). Essa poda é
capaz de reduzir drasticamente o volume da planta, tanto na parte aérea
quanto no sistema radicular, ou seja, a “morte” da parte aérea da planta devido
à eliminação de seus ramos promove uma redução proporcional do seu
sistema radicular, sendo as raízes mais finas as primeiras a morrerem.
Sua recomendação é direcionada para plantas depauperadas, com
morte de ramos plagiotrópicos baixeiros (saia do cafeeiro), causada por
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
24 NA 01. Podas do Cafeeiro
fechamento da lavoura, erros sucessivos na aplicação de herbicida não-
seletivo, entre outros.
A recepa ainda pode ser classificada em dois tipos: recepa baixa ou sem
pulmão e recepa alta ou com pulmão. Nas figuras seguintes, estão sendo
exemplificados os dois tipos de recepa possíveis de serem realizadas no
cafeeiro.
Recepa baixa ou sem Pulmão
Fonte: Fernandes, 2003.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
25 NA 01. Podas do Cafeeiro
Recepa alta ou com Pulmão
Fonte: Fernandes, 2003.
A recepa baixa ou sem pulmão é a poda realizada entre 30 a 40cm do
nível do solo e nesse caso, fica restando apenas o tronco da planta,
considerando que todos os ramos plagiotrópicos da saia do cafeeiro morreram.
Na recepa alta ou com pulmão, os ramos plagiotrópicos que ainda existiram
nas plantas são mantidos, podendo o corte no tronco (ramo ortotrópico) ser a
uma altura maior, entre 50 a 80cm do nível do solo.
Efetuar o corte das plantas em altura inferior à 30cm do nível do solo, o
cafeicultor corre um risco alto de não restarem gemas seriadas viáveis no
tronco ou ainda, caso presentes, as mesmas não apresentem bom
desenvolvimento.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
26 NA 01. Podas do Cafeeiro
Assim sendo, nunca recomende o corte abaixo de
30cm do nível do solo!
O termo “pulmão”, como você já deve ter percebido, é usado para
caracterizar a presença de ramos plagiotrópicos baixeiros restantes nas plantas
após a recepa. Quando se compara o desenvolvimento pós-poda de cafeeiros
recepados sem e com pulmão, nota-se que as plantas com pulmão apresentam
maior desenvolvimento pós-poda.
No caso das plantas recepadas sem pulmão, os brotos se
desenvolverão apenas com as reservas contidas na planta, enquanto nas
plantas com manutenção dos ramos baixeiros, além das reservas da planta, as
folhas que ainda estão presentes realizam fotossíntese promovendo um
incremento da energia disponível para o crescimento.
Outro fato que justifica o maior desenvolvimento dessas plantas com
pulmão está na continuidade da absorção de água e nutrientes do solo, devido
à presença das folhas, enquanto nas plantas sem folhas, o fluxo de massa só
será novamente estabelecido com o surgimento das novas folhas. De forma
geral, se existirem ramos plagiotrópicos baixeiros nas plantas que serão
recepadas, eles deverão ser mantidos por mais fracos que eles estejam pelos
motivos acima citados.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
27 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
Detalhe:
Plantas recepadas
sem pulmão em
uma lavoura de
Acaiá Cerrado
4,0 x 0,7m
Alguns outros cuidados devem ser tomados para que se obtenha um
melhor desenvolvimento das plantas, sendo:
- o corte deve ser feito em bisel (chanfrado, de lado) com intuito de evitar
que ocorra acúmulo de água e apodrecimento da ponta do tronco;
- deve-se cuidar para o corte ser contínuo, não causando trincas ou
lascas no tronco, pois podem prejudicar promovendo o ressecamento da planta
e prejuízos na emissão dos brotos;
- antes de realizar a poda, com intuito de facilitar o trabalho, permitir que o
corte seja feito numa altura padrão e possibilitar maior segurança no uso de
motosserras, deve ser feito o “palitamento” das plantas. Esta prática consiste
na eliminação dos ramos plagiotrópicos acima do ponto de corte. Observe a
foto abaixo.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
28 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
A manutenção dos ramos plagiotrópicos baixeiros da planta é definido
ou não no momento de realização do palitamento. Se não houver “saia”, o
palitamento é realizado na planta toda, sendo a recepa sem pulmão; no caso
da presença de ramos da “saia” do cafeeiro, a altura do palitamento deve
preservar esses ramos e a recepa será chamada de recepa alta ou com
pulmão.
Como já informado, o palitamento facilita o trabalho de corte das plantas,
mas ainda, derruba no solo as folhas e ramos das plantas que serão
decompostos (ciclagem da matéria orgânica) e também, permite que os troncos
das plantas (ramos ortotrópicos) sejam comercializados, gerando uma renda
extra para o cafeicultor.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
29 NA 01. Podas do Cafeeiro
Antigamente, os cafeicultores realizavam a recepa do cafeeiro apenas
com um machado. Existe um detalhe: para evitar as trincas no tronco como
mencionei acima, o corte era feito de baixo para cima, em bisel e de uma vez
só!
Imaginou isso?!?!?!?
Atualmente, existem máquinas portáteis e tratorizadas que já fazem
esse serviço, tornado a operação mais rápida, segura e com menos danos às
plantas.
Com relação ao número de brotos que devem ser deixados, o
procedimento usado em condições de campo é que sejam seguidas as
mesmas recomendações de estande, entre 5.000 a 10.000 hastes (ramos
ortotrópicos, nesse caso de lavouras podas) por hectare.
Seguindo esse procedimento, no caso de uma lavoura com
espaçamento de 3,0x1,0m, apresentando estande de 3.333 plantas/ha,
podemos pensar em manter 1 ou 2 hastes por tronco, sendo mantidas 3.333
hastes/ha com manutenção de 1 broto por tronco ou 6.666 hastes/ha
mantendo-se 2 hastes. Ilustrando a manutenção de mais de uma haste por
planta, apresentamos a foto seguinte, com detalhe na manutenção de 2 brotos
por tronco e consequentemente, a duplicação do número de hastes por
hectare.
No caso de estande com maior número de plantas por hectare, deve ser
mantido apenas um broto por tronco, preservando-se o estande original.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
30 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
Detalhe:
Manutenção de dois
brotos por tronco,
duplicando-se o
número de hastes
por hectare.
Após o desenvolvimento inicial dos brotos (novos ramos ortotrópicos),
deverão ser efetuadas desbrotas periódicas, com intervalos de 30 a 40 dias
após a emissão dos brotinhos. Nessa prática, é fundamental que sejam
selecionados os melhores brotos das plantas, eliminando-se os mais fracos,
doentes, com anormalidade foliares, bifurcações, bem como os brotos que
estiverem muito na ponta ou muito abaixo da metade da altura do tronco.
Outra recomendação importante é a eliminação dos brotos com
crescimento para a região da entrelinha (rua do cafezal), mantendo-se os
brotos desenvolvidos no sentido do renque, como ilustrado na foto seguinte.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
31 NA 01. Podas do Cafeeiro
Detalhe:
Plantas em renque,
podadas, com dois
brotos em cada
tronco.
Fonte: Arquivo pessoal
Esse fato se deve à uma situação muito simples... Vamos imaginar essa
lavoura podada já em fase de produção, com sua altura reestabelecida e com
uma boa carga de frutos a serem colhidos, sendo que no momento das
desbrotas, foram mantidos os brotos com crescimento para o meio da rua de
café (entrelinha).
No momento da colheita, o peso dos ramos devido à carga somado à
força exercida pelos apanhadores para retirar os frutos da planta ocasionarão
uma quebra excessiva da base das hastes, causando a morte da parte aérea
da planta.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
32 NA 01. Podas do Cafeeiro
Sendo assim, elimine os ramos fracos e mal localizados, mantendo-se
um número de hastes adequado em função do estande da lavoura.
b) Decote
O decote do cafeeiro é também uma poda realizada no ramo ortotrópico,
porém, preservando-se uma porção maior desse ramo. Trata-se do corte da
ponta do ramo ortotrópico, eliminando-se uma pequena porção indesejada e
mantendo-se íntegros os ramos plagiotrópicos com bom desenvolvimento.
Fonte: Fernandes, 2003.
Sua recomendação é direcionada para plantas que apresentam morte de
ramos plagiotrópicos muito próximos, causando o “cinturamento”. Isso pode ser
consequência do ataque intenso de bicho-mineiro-do-cafeeiro causando
desfolha no terço superior das plantas, pelo excesso de carga de frutos no
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
33 NA 01. Podas do Cafeeiro
ponteiro ou ainda, ocorrência de geadas de capote causando a queima dos
ramos superiores das plantas.
Observe uma região
imediatamente abaixo do ponteiro
das plantas na foto. É o
cinturamento, devido à morte dos
ramos plagiotrópicos, como citado
acima.
Fonte: Arquivo pessoal
O decote ainda pode ser recomendado para a manutenção das plantas
numa altura desejável pelo cafeicultor, com objetivo de facilitar as
pulverizações, colheitas manuais e até mesmo, a colheita mecanizada.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
34 NA 01. Podas do Cafeeiro
As plantas decotadas apresentam,
desta forma, uma porção de ramos
plagiotrópicos intactos produtivos que
não tem o ciclo de crescimento/produção
alterados e o ponteiro, com emissão de
novos brotos em crescimento pleno
vindos das gemas seriadas da ponta do
ramo ortotrópico cortado pela poda.
Como já observado na recepa, o corte para o decote das plantas também
deve ser feito em bisel. Observe a foto na sequência.
Fonte: Arquivo Pessoal
Essa foto é de um
cafeeiro cultivar
Paraíso plantado no
campus Muzambinho.
O corte nas plantas foi realizada a 1,5m do solo, eliminando-se
aproximadamente 0,5m das plantas, sendo mantidos dois brotos por planta,
posicionados no sentido do renque, como discutido nas recepas. A definição da
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
35 NA 01. Podas do Cafeeiro
quantidade de brotos que devem ser deixados é feita com base no estande da
lavoura, onde áreas com estandes maiores, mantém-se 1 a 2 brotos por planta.
Existem alguns cafeicultores que realizam o decote mais alto e não
fazem as desbrotas, deixando o ponteiro das plantas em “livre crescimento”.
Tal fato apresenta algumas vantagens como a diminuição do custo da lavoura
pela redução de mão-de-obra. Porém, permite o “envassoramento” do ponteiro
das plantas, devendo, nesse caso, ser realizado novo decote das plantas
abaixo do ponto do corte do decote anterior, após dois a três anos de
produção.
c) Esqueletamento
O esqueletamento do cafeeiro consiste em cortar os ramos
plagiotrópicos da planta a uma distância entre 20 a 30 cm de distância do ramo
ortotrópico. Observe o esquema a seguir.
A figura traz um desenho do esqueletamento do cafeeiro, apresentando
como a planta fica após a realização do corte (à esquerda) e também, a
emissão de novos ramos plagiotrópicos e o ramo ortotrópico (à direita).
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
36 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Fernandes, 2003.
Note, no esquema acima, que o corte dos ramos plagiotrópicos ocorreu
a uma distância padronizada do tronco (ramo ortotrópico), mantendo-se uma
porção do ramo plagiotrópico com grande possibilidade de ocorrência de
gemas seriadas, que originarão novos ramos plagiotrópicos. A foto a seguir
apresenta a uniformidade no corte das plantas em esqueletamento realizado
com equipamento tratorizado.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
37 NA 01. Podas do Cafeeiro
Fonte: Arquivo pessoal
O corte das plantas é realizado com auxílio de alguns equipamentos,
manuais ou tratorizados. No caso dos manuais, pode ser usada a foice
(lembrando que deve ser batida nos ramos de baixo para cima...), a roçadeira
costal com disco de corte e a esqueletadeira. Para uso em tratores, existem
algumas esqueletadeiras laterais que não fazem o decote, devendo o mesmo
ser feito após o esqueletamento e ainda, outras esqueletadeiras com
decotadeira acoplada, fazendo as duas operações em apenas uma passada na
lavoura.
O corte dos ramos plagiotrópicos das plantas induz a uma brotação
significativa das gemas seriadas desses ramos pela eliminação da ponta do
ramo e pela quebra da sua dominância apical. Seguindo o mesmo raciocínio,
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
38 NA 01. Podas do Cafeeiro
quando da realização do esqueletamento do cafeeiro, também deve ser
efetuado o decote das plantas com objetivo de eliminar a dominância do
meristema apical do ramo ortotrópico (tronco) e permitir que as brotações
sejam abundantes e vigorosas.
Em uma lavoura esqueletada, existe um intervalo de dois anos para
nova colheita de frutos. Isso se deve ao fato que o cafeeiro necessita de um
ano após a poda para emissão e crescimento de novos ramos plagiotrópicos e
mais um ano para o florescimento e frutificação.
E então...
Nessa lavoura, se forem respeitadas as orientações técnicas e as
condições climáticas forem adequadas ao desenvolvimento das plantas,
ocorrerá um crescimento dos ramos durante a estação chuvosa (setembro de
2014 a fevereiro a março de 2015, aproximadamente); terá início ao período de
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
39 NA 01. Podas do Cafeeiro
dormência de gemas durante a estação seca e fria; ocorrerá o florescimento
com a chegada das chuvas e elevação da temperatura, em torno de
setembro/novembro de 2015.
Com o pegamento floral, os frutos iniciarão o desenvolvimento e a
colheita ocorrerá entre maio e julho de 2016. Assim sendo, são dois anos até
nova colheita, partindo do ano de corte para as lavouras esqueletadas.
Antigamente, a recomendação de esqueletamento seguia a forma de um
pinheirinho, com distâncias de corte diferentes para o terço superior e inferior
das plantas. Esse fato causava um crescimento irregular dos ramos
plagiotrópicos, sendo os ramos do terço inferior pouco cortados e com baixa
renovação e os ramos do terço superior cortados demasiadamente,
apresentando ressecamento e morte. Essa recomendação deve ser evitada.
d) Desponte
O desponte também é uma poda efetuada nos ramos plagiotrópicos,
diferindo-se do esqueletamento na distância ou profundidade do corte, que
nesse caso, é feita apenas na ponta dos ramos plagiotrópicos. Para isso,
elimina-se de 10 a 15 cm da ponta dos ramos plagiotrópicos com objetivo de
quebrar a dominância apical do ramo e possibilitar brotação secundária.
Essa poda é simples, pouco severa às plantas, sendo recomendadas
para lavouras mais novas com baixa ramificação dos ramos plagiotrópicos. As
lavouras despontadas apresentam maior emissão de ramos secundários e
terciários e maior enfolhamento. Sua capacidade produtiva não é diminuída no
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
40 NA 01. Podas do Cafeeiro
ano do corte, devendo o manejo nutricional ser feito normalmente em função
da estimativa de safra da lavoura.
7. Podas Programadas
Conforme já discutido na primeira parte dessa NA, a programação de
podas em lavouras cafeeiras adensadas deve ser uma das decisões tomadas
durante a implantação da lavoura. Da mesma forma e com a mesma
importância, a realização das podas programadas na lavoura deverá ser
efetuada seguindo a programação.
É muito comum entre os cafeicultores, a implantação da lavoura cafeeira
em sistema adensado e com o passar dos anos, com as altas produções
colhidas, alto vigor das plantas e excelente enfolhamento ocorrido, o calendário
das podas não ocorrer como foi planejado. Assim, passa-se um ano com a
lavoura fechada e os ramos plagiotrópicos baixeiros começam a morrer e
inicia-se a fase de declínio produtivo da lavoura.
No caso de lavoura adensadas, o cumprimento do planejado é
fundamental para a manutenção do vigor vegetativo e da capacidade produtiva
das plantas.
A seguir, existe um esquema de uma lavoura implantada em sistema
adensado. Cada círculo verde representa uma planta em fase adulta produtiva.
Perceba que existe pouco espaço entre as plantas, tipicamente representando
o sistema.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
41 NA 01. Podas do Cafeeiro
Neste ítem Podas Programadas, faremos um estudo de alguns sistemas
de manejo da parte aérea das plantas, aliando-se renovação dos ramos
produtivos e produção de frutos. Vale ressaltar que o uso das podas em
lavouras pode ser realizado na área total do talhão em questão, promovendo-
se um manejo único na área ou ainda ser realizado em partes.
No caso de manejo diferenciado da parte aérea num mesmo talhão, o
técnico deve ter em mente que o manejo deverá ser efetuado de forma
difenciada entre as linhas de plantas que receberam e não receberam a poda.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
42 NA 01. Podas do Cafeeiro
a) Podas em área total
Nesse caso, efetua-se a poda padronizada em todas as plantas do
talhão, esperando um comportamento uniformizado pós-poda. Assim, pode-se
uniformizar as práticas de manejo do talhão, como a adubação, o controle de
plantas expontâneas, desbrotas, manejo de pragas e doenças, pois todas as
plantas estão em mesma fase de desenvolvimento.
A figura abaixo ilustra a mesma lavoura adensada, apresentada no item
anterior, com o mesmo espaçamento, onde cada “ponto escuro” representa
uma planta podada.
A poda em área total é recomendada para áreas de café onde o manejo
será feito de maneira padronizada, como exemplo: áreas mecanizadas,
propriedades com reduzida mão-de-obra, entre outras. Neste tipo de manejo da
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
43 NA 01. Podas do Cafeeiro
parte aérea da lavoura, ocorre um período sem a produção de frutos que pode
ser de 2 a 3 anos para o retorno à fase produtiva, dependendo do tipo de poda
realizada.
b) Podas em ruas alternadas
A poda em ruas alternadas consiste na realização de podas em 50% da
área, ou seja, metade da lavoura continua a produção sem sofrer poda
enquanto a outra metade recebe poda.
Esse tipo de manejo das plantas apresenta vantagens e desvantagens,
como todos os demais. Contudo, ele se adequa melhor à algumas realidades.
Analisando-se de forma mais criteriosa, podemos perceber que a poda em
linhas alternadas vai originar duas lavouras na mesma área.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
44 NA 01. Podas do Cafeeiro
A lavoura sem poda deverá ser conduzida normalmente, pois as plantas
estão crescendo e produzindo sem sofrer interferência. As linhas podadas
apresentarão outro comportamento e por isso, necessitam de manejo
direcionado à sua fase de desenvolvimento.
Vejamos algumas modificações:
A retirada de terra para análise deverá ser feita seguindo a diferença
entre as linhas podadas e não podadas;
A adubação será diferenciada, pois como estudado no módulo de
Fertilidade do Solo, a recomendação é feita levando-se em consideração
a capacidade produtiva e no caso de lavouras recepadas ou
esqueletadas, a recomendação de adubação deverá ser feita utilizando-
se os mesmos critérios para lavouras de 1o e 2o ano;
A dinâmica das pragas e doenças será modificada em função das
podas, pois o microclima será alterado;
Será necessária a realização de desbrotas com maior frequência nas
lavouras podadas, entre outros.
De forma geral, o manejo deverá ser realizado considerando duas
lavouras, porém que ocupam a mesma área. Isso gera um fator de
complicação importante no caso de propriedades que utilizam máquinas para
adubação, pulverização, colheitas, já que as recomendações serão diferentes
para linhas de plantas vizinhas.
Contudo, no caso da cafeicultura familiar, com talhões menores e com
maior disponibilidade de mão-de-obra, esse tipo de manejo da parte aérea é
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
45 NA 01. Podas do Cafeeiro
interessante, pois a lavoura continua produzindo café para a renda familiar e
também, ocorre renovação das plantas.
c) Podas em ruas duplas alternadas
O manejo de áreas com poda em ruas duplas alternadamente utiliza o
mesmo raciocínio usado no item anterior (podas em ruas alternadas), porém
permitindo um manejo mais fácil pela proximidade de duas linhas de plantas
em mesmo estágio.
Além disso, a poda em linhas duplas alternadamente permite a abertura
maior entre as linhas podadas e não podadas, evitando-se a ocorrência de
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
46 NA 01. Podas do Cafeeiro
estiolamento dos brotos das plantas podadas devido à proximidade das plantas
não podadas.
Da mesma forma que a anterior, a metade da lavoura é podada e a
necessidade de adequação dos tratos culturais para cada grupo de plantas na
mesma fase deve ser observada.
d) Podas em 33% da área
Até o momento, discutimos o manejo da parte aérea das plantas com
renovação de 100% da área (área total) e de 50% (em linhas alternadas ou
linhas duplas alternadamente).
Nesse item, estudaremos o comportamento de uma lavoura cafeeira
com renovação de 1/3 das plantas. Esse esquema pode ser realizado com
podas em linhas simples ou linhas duplas. Na sequência, está um esquema
usando linhas simples, tendo como referência a poda por esqueletamento
associada ao decote.
No primeiro ano da fase de podas programadas, é efetuado o corte na
linha 01, preservando-se as linhas 02 e 03; corta-se a linha 4, preservando-se
as linhas 05 e 06 e assim, sucessivamente. Ao final da poda, 1/3 das linhas de
plantas foram cortadas, enquanto 2/3 estão preservadas.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
47 NA 01. Podas do Cafeeiro
No segundo ano, o corte deverá ser realizado nas linhas 02, 05, 08, ...,
ainda preservando-se as linhas 03, 06, 09, ..., que ainda ficam intactas, sem
podas.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
48 NA 01. Podas do Cafeeiro
Assim, no segundo ano, teremos as linhas 01, 04, 07, (...), podadas já
enfolhadas prontas para o florescimento, as linhas 02, 05, 08, (...) podadas e as
linhas 03, 06, 09, (...) intactas em produção. Note que teremos 3 lavouras numa
mesma área ao mesmo tempo, cada uma com uma necessidade diferente.
No terceiro ano, o corte deverá acontecer nas linhas 03, 06, 09, (...) que
até o momento não tinham recebido poda, ficando a lavoura com a seguinte
configuração nesse momento:
- Linhas 01, 04, 07, (...) – primeira produção pós-poda
- Linhas 02, 05, 08, (...) – em crescimento, prontas para o florescimento.
- Linhas 03, 06, 09, (...) – podadas
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
49 NA 01. Podas do Cafeeiro
No quarto ano após a primeira poda, todas as plantas já estão
renovadas e com produção de frutos ao longo de todo o período de cortes.
Contudo, novamente citoamos a necessidade de tratos personalizados para as
linhas em diferentes fases de desenvolvimento. Isso é fundamental!
e) Podas em 25% da área
A realização de podas com renovação de 25% da área por ano, consiste
em efetuar os cortes como explicado no item anterior, porém, deixando grupos
formados com 4 linhas de plantas. Desta forma, a renovação será feita em 4
anos de podas programadas, sendo que no quinto ano toda a lavoura está
renovada.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
50 NA 01. Podas do Cafeeiro
Os cuidados quanto à produção de linhas de plantas em fase diferente
de desenvolvimento e a necessidade de técnicas direcionadas segue o mesmo
raciocínio adotado para o item anterior.
Observe a sequência de podas nas imagens seguintes:
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
52 NA 01. Podas do Cafeeiro
f) Arranquio de ruas alternadas
O arranquio de ruas de plantas alternadas é uma prática bem conhecida
pelos cafeicultores, capaz de aumentar a produtividade da lavoura nas
primeiras safras e promovendo um retorno mais rápido do capital investido.
A implantação da lavoura é feita em sistema adensado, por exemplo,
com 8.400 plantas/hectare em espaçamento de 1,70 x 0,70m. Nesse caso,
teremos 1,19m2 por planta.
Não abordaremos aqui os detalhes com relação ao sistema adensado,
pois isto já foi trabalhado na disciplina de Implantação da Lavoura Cafeeira.
Faremos uma análisa apenas do comportamento das plantas com relação ao
arranquio das linhas de plantas alternadamente.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
53 NA 01. Podas do Cafeeiro
Com a implantação da lavoura com esse estande e arranjo espacial das
plantas, ocorre o fechamento das entrelinhas após a segunda ou a terceira
safra, dependendo do porte da cultivar e também, das condições climáticas,
onde em regiões mais quantes, as plantas crescem mais e o fechamento das
entrelinhas em sistema adensado ocorre mais rápido.
Com o fechamento das entrelinhas e antes que comece a ocorrer a
“derrama da ramos”, também chamada de morte dos ramos baixeiros, deverá
ser efetuado o arranquio das linhas de plantas alternadamente, ou seja,
preserva-se a linha 01, elimina-se a linha 02, preserva-se a linha 03, elimina-se
a linha 04 e assim por diante, conforme ilustrado na figura a seguir.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
54 NA 01. Podas do Cafeeiro
No caso da lavoura citada acima, o estande cairá para 4.200
plantas/hectare e o espaçamento entre as linhas de plantas passará para 3,4
metros.
Tomando como exemplo uma cultivar de café de porte baixo com
diâmetro de copa em torno de 1,60m, teremos um espaço livre para trânsito de
máquinas de aproximadamente 1,8m, que permite o uso de máquinas
facilmente.
g) Outros tipos de manejo
É de se imaginar que existam outras muitas formas de se realizar o
manejo da parte aérea da lavoura cafeeira, com realização de podas
diferentes, como exemplo, esqueletamento associado decote em linhas
ímpares (01, 03, 05, ...) e apenas decote nas linhas pares (02, 04, 06, ...).
De forma geral, não existe um melhor tipo de poda, mas sim, o tipo de
poda que mais se adequa às condições da lavoura cafeeira, considerando para
isso:
- o nível tecnológico adotado;
- o nível cultural das pessoas envolvidas;
- o relevo e assim, a possibilidade de mecanização;
- as condições climáticas da região e microclimáticas da lavoura;
- os recursos disponíveis;
- o estado das plantas que serão podadas, entre outros.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
55 NA 01. Podas do Cafeeiro
8. Manejo Pós-Poda
Os cuidados que devem ser observados após a realização das podas é
semelhantes aos recomendados para lavouras recém-implantadas. Um detalhe
muito importante é que esse momento pós-poda exige muita atenção por parte
dos técnicos e dos cafeicultores, pois a lavoura está sendo novamente
construída, ou seja, sua capacidade produtiva dependerá de seu crescimento
pleno e equilibrado.
De maneira geral, os pontos importantes que devem ser atentados são:
a) Manejo de pragas e doenças
Considerando a baixa área foliar das plantas e a necessidade de
manutenção das folhas para a produção de fotoassimilados para um maior
crescimento dos ramos, é de fundamental importância que as pragas e
doenças sejam mantidas abaixo do nível de dano capaz de causar menor
desenvolvimento das plantas.
Assim, ressaltamos as pragas e doenças mais preocupantes nessa fase:
Pragas Doenças
Bicho-mineiro Cercosporiose
Cigarras Ferrugem
Formigas Mancha de Phoma (Seca de Ramos)
Lagartas Mancha Aureolada
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
56 NA 01. Podas do Cafeeiro
b) Controle de plantas expontâneas
As capinas devem ser realizadas nesse período de exposição da área
devido à maior abertura, evitando-se quaisquer prejuízos ao desenvolvimento
normal das plantas.
c) Correção do solo e adubação das plantas
Tanto a correção do solo pelo uso de corretivos como calcários, silicatos,
gesso agrícola, como a adubação das plantas via solo ou via folha devem
ocorrer normalmente nas lavouras podadas.
Para isso, deverão ser retiradas amostras do solo e folha para o cálculo
e a recomendação de corretivos e fertilizantes.
d) Desbrotas
A realização das desbrotas periódicas é uma das práticas pós-poda mais
importantes para o desenvolvimento adequado das plantas, exigindo atenção
das pessoas envolvidas.
Após a emissão dos primeiros brotos nas plantas podadas, o cafeicultor
deve estar atento aos seguintes pontos:
- a posição do broto na planta, selecionando aqueles localizados no
sentido da linha das plantas e aproximadamente 10cm abaixo do local do corte;
- o vigor dos brotos, eliminando-se os mais fracos, com baixo
enfolhamento, estiolados, etc;
- a presença de folhas com ataque de pragas e doenças, sendo
mantidos aqueles mais sadios.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
57 NA 01. Podas do Cafeeiro
Devem ser realizadas de 3 a 4 desbrotas após a recepa, seja com ou
sem pulmão e no caso de decote com condução de brotação ortotrópica, sendo
mantido um número de brotos adequado ao estande da lavoura, conforme
discutido anteriormente.
e) Replantio
Alguns técnicos e cafeicultores optam em fazer o replantio de mudas nas
falhas que a lavoura apresenta. Isso é uma prática interessante em lavouras
que foram recepadas em área total, onde são feitas as correções nas covas de
plantio. Em áreas onde a poda for parcial (ruas alternadas, por exemplo), não
se recomenda o plantio de mudas devido à grande possibilidade de
estiolamento das plantas novas.
José Marcos Angélico de Mendonça e Luciana Lopes Mendonça
58 NA 01. Podas do Cafeeiro
9. Referências Bibliográficas
CNC. 2009. Frio causa danos a lavouras de café em Três Pontas (MG). Disponível
em <http://www.cncafe.com.br/galeria/00000703_geada_3pontas3.JPG>
Acesso em: 24 mar 2010.
Fahl, J.I. Aspectos relevantes da fisiologia do café arábica. Palestra. IAC,
Campinas, 2005.
Fernandes, D.R. Podas no cafezal. Palestra. MAPA-PROCAFÉ, Campinas,
2003.
GUIMARÃES, R.J., MENDES, A.N.G., SOUZA, C.A.S. Podas do cafeeiro: érpoca,
tipos de poda, podas x densamento. In: GUIMARÃES, R.J., MENDES, A.N.G.,
SOUZA, C.A.S. Cafeicultura. Lavras: UFLA/FAEPE, 2002. 317p.
Uneb, 2010. Tá na hora da revisão! Disponível em
<http://dacom14.wordpress.com/2009/10/15/ta-na-hora-da-revisao/>. Acesso
em jul 2010.