narrativa do monitor das secas do mÊs de julho...

4
NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JULHO DE 2015 Condições Meteorológicas do Mês de Julho de 2015 No mês de julho, climaticamente as chuvas concentram-se no setor leste da região Nordeste do Brasil (NEB), em uma faixa de cerca de 100 km da costa, com volumes superiores a 150 mm em todo litoral, devido ao mês de julho fazer parte da estação chuvosa desse setor. Por outro lado, no setor centro e oeste da Região já se iniciou a estação seca, onde os volumes de chuvas são inferiores a 20 mm, como pode ser visto na Figura 1 (b). De um modo geral, no decorrer do mês de julho de 2015, conforme se observa na figura 1 (a), os índices pluviométricos mais significativos com valores acima de 200 mm concentrou-se nas regiões onde historicamente são observados os maiores volumes de chuva, como no leste do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, sendo a única exceção a chuva isolada no estado do Ceará. As precipitações ficaram acima do esperado para o mês no leste do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, como se observa na Figura 1 (c), e em pontos isolados do Ceará, do oeste da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas. Porém nessas últimas regiões, chuvas acima da média não contribuem para alteração do quadro de secas, devido estar fora do período chuvoso com volume esperado muito baixo. Chuvas abaixo da média, com valores mais significativos, foram registradas no litoral da Bahia e no norte do Maranhão. Os sistemas que causaram as chuvas em julho foram distúrbios ondulatórios de leste e confluência de ventos úmidos que vêm do Oceano Atlântico. As chuvas acima do normal foram ocasionadas pela intensificação do centro de Alta Pressão do Atlântico sul que causou ventos mais intensos na superfície, e pelo aquecimento na temperatura da superfície do mar próximo à costa leste do Nordeste que causou maior evaporação e maior instabilidade atmosférica. (a) (b) (c) Figura 1: Precipitação observada, Climatologia e anomalia de julho de 2015. Fonte: http://proclima.cptec.inpe.br/precmesjul.shtml

Upload: trantu

Post on 27-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JULHO DE 2015

Condições Meteorológicas do Mês de Julho de 2015

No mês de julho, climaticamente as chuvas concentram-se no setor leste da região Nordeste do Brasil (NEB), em uma faixa de cerca de 100 km da costa, com volumes superiores a 150 mm em todo litoral, devido ao mês de julho fazer parte da estação chuvosa desse setor. Por outro lado, no setor centro e oeste da Região já se iniciou a estação seca, onde os volumes de chuvas são inferiores a 20 mm, como pode ser visto na Figura 1 (b).

De um modo geral, no decorrer do mês de julho de 2015, conforme se observa na figura 1 (a), os índices pluviométricos mais significativos com valores acima de 200 mm concentrou-se nas regiões onde historicamente são observados os maiores volumes de chuva, como no leste do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, sendo a única exceção a chuva isolada no estado do Ceará. As precipitações ficaram acima do esperado para o mês no leste do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, como se observa na Figura 1 (c), e em pontos isolados do Ceará, do oeste da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas. Porém nessas últimas regiões, chuvas acima da média não contribuem para alteração do quadro de secas, devido estar fora do período chuvoso com volume esperado muito baixo. Chuvas abaixo da média, com valores mais significativos, foram registradas no litoral da Bahia e no norte do Maranhão.

Os sistemas que causaram as chuvas em julho foram distúrbios ondulatórios de leste e confluência de ventos úmidos que vêm do Oceano Atlântico. As chuvas acima do normal foram ocasionadas pela intensificação do centro de Alta Pressão do Atlântico sul que causou ventos mais intensos na superfície, e pelo aquecimento na temperatura da superfície do mar próximo à costa leste do Nordeste que causou maior evaporação e maior instabilidade atmosférica.

(a) (b) (c)

Figura 1: Precipitação observada, Climatologia e anomalia de julho de 2015.Fonte: http://proclima.cptec.inpe.br/precmesjul.shtml

Síntese do Traçado do Monitor das Secas de Julho de 2015

O traçado das linhas do Monitor baseou-se, primeiramente, nos índices SPI e SPEI de 3, 4, 6, 12, 18 e 24 meses, com maior detalhamento para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, em virtude, de uma quantidade maior de pontos e informações que esses estados apresentam. Nas demais áreas da região Nordeste, com o intuito de compensar o déficit de pontos e informações, foram utilizadas de forma ampla os seguintes produtos de apoio: índice de saúde da vegetação, climatologia das precipitações, precipitação observada no mês de julho e nos meses anteriores, anomalia de precipitação, índices combinados (SPI e SPEI de curto e longo prazo).

A partir do mês de maio de 2015, outros produtos de apoio - precipitação acumulada (mm) nos período de 1, 2, 3, 4, 12 e 24 meses, normais climatológicas, precipitação classificada por quantis (extremamente seco, muito seco, seco, normal, chuvoso, muito chuvoso e extremamente chuvoso) para o período de 1, 3, 6, 12 e 24 meses e o indicador SPI para 1, 3, 6, 12 e 24 meses - foram disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Com isso, áreas da região NE, onde há poucos pontos de informações, foram mais detalhadas e consequentemente melhor analisadas. Além disso, esses produtos de apoio serviram para complementar as análises feitas em áreas onde a densidade de informações é maior.

É necessário ressaltar que, para o traçado deste mapa, foi considerada a seca física, levando-se em conta, principalmente, os índices (SPI e SPEI), sem analisar as informações dos reservatórios, porém com grande colaboração dos validadores dos estados do Nordeste.

Ao comparar o mapa validado no mês de julho com o mês anterior, verificaram-se algumas mudanças no traçado geral (figura 2), tais como:

Figura 2. Mapas do Monitor de Secas do Nordeste em 2015: (a) Junho; (b) Julho (R1) em validação.

O estado do Maranhão (MA) apresenta-se em toda a sua extensão com influência de seca de intensidade variando de seca fraca (S0) a seca grave (S2), com impacto de curto e longo prazo. Comparando com o mês anterior, houve um acréscimo na severidade da seca na parte norte do estado, passando de fraca (S0) para seca moderada (S1), e uma expansão na área de seca grave (S2) na parte central do estado. Essas mudanças foram em virtude das reduções das precipitações que ocorreram no mês de julho, bem como no aumento das temperaturas com relação à média de até 2°C, e também baseadas nos índices de vegetação que mostra o agravamento da vegetação nessas áreas.

O estado do Piauí (PI) apresenta-se com influência de seca em toda sua área, com grau de severidade variando de grave (S2) a excepcional (S4), com impacto de curto e longo prazo. Com relação ao mês de junho, houve expansão da área de seca grave (S2) e de seca extrema (S3) para o oeste do estado, bem como o surgimento de pontos de seca excepcional na divisa com os estados do Ceará e de Pernambuco. A expansão da seca ocorreu em virtude da ausência de precipitação verificada ao longo do mês de julho, e nas elevadas temperaturas que contribuíram para o aumento da evapotranspiração. Essas informações também foram confirmadas pelos índices de saúde da vegetação que indicaram agravamento das condições de seca.

O estado do Ceará (CE) apresenta condições de normalidade e seca fraca apenas no Litoral, enquanto que nas outras regiões o grau de severidade da seca varia de seca moderada (S1) a seca excepcional (S4), com maior severidade observada no centro-sul. Em todo o estado, o impacto devido às condições de seca é de curto e longo prazo. Com relação ao mês anterior, houve uma pequena expansão das áreas com condições normais e seca fraca no setor norte. Por outro lado, houve expansão para noroeste da seca extrema (S3) e expansão das áreas de seca excepcional (S4) na região de divisa com os estados de Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba.

O Rio Grande do Norte (RN) apresenta condições de normalidade, apenas no litoral leste do estado, enquanto que nas outras regiões a seca varia de intensidade fraca (S1) a excepcional (S4), com maior severidade no extremo oeste do estado, sendo o impacto da seca em todo o estado de curto e longo prazo. Com relação ao mês anterior, não ocorreram grandes variações nas áreas e na intensidade da seca. As chuvas que ocorreram no leste contribuíram para permanecia da condição de normalidade nessa área. Porém, verificou-se uma redução da área de seca excepcional (S4) no extremo oeste do estado e uma expansão para leste da seca extrema (S3).

A Paraíba (PB) apresenta apenas uma pequena área no litoral norte com condições de normalidade, enquanto todo o restante do estado está sobre influência de seca com intensidade variando de fraca (S1) a excepcional (S4), com impacto de curto e longo prazo. Pequenas alterações ocorreram no litoral, com diminuição da intensidade da seca passando de grave (S2) a moderada no litoral sul, de moderada (S1) para fraca (S0) no litoral norte, e também houve uma diminuição da área de seca extrema no setor centro-leste do estado, devido às chuvas que ocorreram em julho. No extremo noroeste do estado surgiu uma área de seca excepcional, na divisa com Rio Grande do Norte e Alagoas.

Pernambuco (PE) apresenta condições de seca em todas as regiões do estado. No Litoral, a seca varia de fraca (S0) a moderada (S1), com impacto de seca de curto prazo, e no Agreste e no Sertão, a seca varia de grave (S3) a excepcional (S4), com impacto de curto e longo prazo. Com relação ao mês anterior, ocorreram reduções nas áreas de

secas no setor leste do estado, passando de seca moderada (S1) e seca grave (S2) para seca fraca (S0) na Zona da Mata Sul e Norte, respectivamente, devido à ocorrência de chuvas de até 150 mm acima do esperado para o mês. No Agreste, houve redução das áreas de seca, apenas, na parte leste, região que faz divisa com a Zona da Mata, já no centro e oeste da região, área que faz divisa com o Sertão, a situação permanece inalterada com praticamente toda área apresentando seca extrema (S3) e excepcional (S4). No Sertão, houve expansão na área de seca excepcional (S4) no extremo oeste do estado, na região que faz divisa com o Piauí e com o Ceará, devido à ausência de chuvas nessas regiões e aumento das temperaturas.

Alagoas apresenta condições de normalidade no centro e sul do litoral do estado, e condições de seca variando de fraca (S0) a grave (S2), no Agreste e Sertão do estado, sendo o impacto de curto prazo no setor leste, e de curto e longo prazo no setor oeste. A alteração com relação ao mês de junho foi observada apenas no setor leste, com ampliação na área de seca fraca (S0).

O estado de Sergipe (SE) apresenta condições de normalidade no setor sul, de seca fraca (S0) na maior parte do estado, e apenas no extremo noroeste uma área de seca moderada (S1), sendo o impacto da seca apenas de curto prazo. Com relação ao mês anterior, houve uma pequena expansão na área de seca fraca (S0) no setor norte do estado, devido o volume de chuvas de julho ter sido abaixo do esperado nessa região.

A Bahia (BA) apresenta condições de normalidade no centro e leste do estado, com condições de seca fraca (S0) no oeste e seca com intensidade variando de moderada (S1) a extrema (S3) no setor norte do estado. Na maior parte do estado, o impacto da seca é de curto prazo, e apenas no extremo norte, na região da divisa com Pernambuco e Piauí a seca tem impacto de curto e longo prazo. Com relação ao mês anterior, houve uma pequena redução da área de seca moderada (S1) e seca fraca (S0) na parte central do estado, devido à ocorrência de chuvas um pouco acima da média nessa área. E apesar de chuvas abaixo da média no litoral baiano, as condições permaneceram de normalidade nessa área. No extremo norte, não houve alteração no quadro de secas.

Para o refinamento no traçado do mapa do mês de julho, foram utilizadas as considerações feitas pelos representantes da ANA-DF, INEMA-BA, FUNCEME-CE e o consultor do Banco Mundial, durante a reunião de autoria no dia 11/08/2015, bem como contribuições dos validadores da COGERH-CE, FUNCEME-CE, AESA-PB, IPA-PE, CODEVASF-PE, DESO-SE e INEMA-BA, LABMET/NUGEO/UEMA – MA e EMPARN/EMATERN- RN. Agradecemos a todos que contribuíram para o traçado do mapa ficar mais próximo da realidade de seca vivenciada em cada estado.