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1 www.neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br NEUROPSICOPEDAGOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A APRENDIZAGEM Ana Lúcia Hennemann RESUMO: Este artigo apresenta como proposta refletir sobre a Neuropsicopedagogia e suas perspectivas para o ensino aprendizagem. Será feito um breve relato do histórico da Neurociência, sua relação com a Neuropsicopedagogia e o trabalho do neuropsicopedagogo. O embasamento teórico se dará através de livros e artigos científicos visando à boa qualidade bibliográfica, bem como uma pesquisa de campo, qualitativa, investigando do conhecimento ou não da Neuropsicopedagogia no contexto educativo. As considerações finais irão contemplar um comparativo entre os referenciais teóricos e a pesquisa de campo. PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Educação. Neurociências. Neuropsicopedagogia. INTRODUÇÃO Novo século, novas mudanças, novos desafios, não se pode olhar mais a educação com uma perspectiva de educação inclusiva, pois ela já está inserida neste contexto. Nossos olhares devem se voltar em como atender melhor a todos os indivíduos dentro do ambiente escolar, através de práticas de ensino que melhor se

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NEUROPSICOPEDAGOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A APRENDIZAGEM

Ana Lúcia Hennemann

RESUMO: Este artigo apresenta como proposta refletir sobre a Neuropsicopedagogia e

suas perspectivas para o ensino aprendizagem. Será feito um breve relato do histórico da

Neurociência, sua relação com a Neuropsicopedagogia e o trabalho do

neuropsicopedagogo. O embasamento teórico se dará através de livros e artigos científicos

visando à boa qualidade bibliográfica, bem como uma pesquisa de campo, qualitativa,

investigando do conhecimento ou não da Neuropsicopedagogia no contexto educativo. As

considerações finais irão contemplar um comparativo entre os referenciais teóricos e a

pesquisa de campo.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Educação. Neurociências. Neuropsicopedagogia.

INTRODUÇÃO

Novo século, novas mudanças, novos desafios, não se pode olhar mais a

educação com uma perspectiva de educação inclusiva, pois ela já está inserida

neste contexto. Nossos olhares devem se voltar em como atender melhor a todos os

indivíduos dentro do ambiente escolar, através de práticas de ensino que melhor se

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adequam a cada um. Ter a clareza que os conteúdos são comuns a todos, mas a

metodologia de trabalho deve estar pautada em práticas que contemplem o

indivíduo como seres únicos, capazes de aprender independente de suas limitações.

A educação, mesmo que num primeiro olhar não pareça, sempre está ligada a

mudanças, a reorganizações, a reaprendizagens, a novos olhares. Na mesma

proporção que o mundo vem se transformando, a educação também se encontra em

constantes buscas. Os cursos voltados à área educacional têm significativos

avanços; profissionais da área buscam, na medida do possível, constantes

atualizações. A educação continuada destes indivíduos cada vez mais tem se

intensificando, pois não basta apenas ter o conhecimento, se faz necessário

profissionais que saibam interagir com o mesmo. Um dos grandes referenciais da mudança educacional da última década, não

traz nenhum nome de teórico específico, mas sim está pautado nos avanços

neurocientíficos, representados pela palavra “Neurociências”, que conforme

Herculano-Houzel (2004), ainda é uma ciência nova, tendo em torno de 150 anos,

mas a partir da década de 90 alcançou um maior auge e vem proporcionando

mudanças significativas na forma de perceber o funcionamento cerebral. Estes

avanços ocorreram devido a neuroimagem, ou seja, o imageamento do cérebro. As

contribuições provindas das Neurociências despertaram interesse de vários

seguimentos e entre estes a Educação, no sentido da maior compreensão de como

se processa a aprendizagem em cada indivíduo.

Para maior entendimento deste processo, se faz necessário que os

profissionais envolvidos tenham bem claro que as ações comportamentais de seus

educandos provêm de atividades cerebrais dinâmicas e que os conhecimentos das

neurociências contribuem para que sejam elaboradas atividades que desenvolvam

tais funções. Dentro dessa abordagem, se procurará mostrar o que é Neurociências,

suas possíveis contribuições para a área educacional, bem como a contextualização

da Neuropsicopedagogia e sua relação com o processo ensino-aprendizagem.

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1. Neurociências

Entender o funcionamento cerebral faz

parte de um processo que vem de longas datas.

Há cerca de 7.000 anos já havia indícios de

trepanações, processo pelo qual as pessoas

faziam orifícios no crânio de outras. Bear (2008)

menciona que estes crânios não apresentavam

sinais de cura, então esse procedimento era

realizado em sujeitos vivos e não era

considerado um ritual de morte, pois em alguns

casos os indivíduos sobreviviam. Não havia

registro do motivo destas cirurgias, mas existem

especulações que tal procedimento poderia ter

sido utilizado para tratar dores de cabeça ou

transtornos mentais.

Durante séculos muitos estudos foram realizados para entender o

funcionamento do cérebro, entretanto nomes tais como dos frenologistas1 Franz

Joseph Gall e J. G Spurzheim (entre 1810 e 1819) e o neurologista John Hughlings

Jackson, fizeram significativos avanços proporcionando que Paul Broca e Carl

Wernicke chegassem as localizações da área de Broca e de Wernicke. Cabe

ressaltar que as descobertas de Broca ocorreram em 1861 e as de Wernicke em

1876, e ambos tiveram seus estudos pautados em pacientes lecionados e vivos,

onde Gazzaniga (2006, p.23) enfatiza a importância destas descobertas, pois na

atualidade isso já não é mais novidade para profissionais voltados às áreas

neurocientíficas, mas

1 Frenologia é o estudo da estrutura do crânio de modo a determinar o carácter das pessoas e a sua capacidade mental. Esta pseudociência baseia-se na falsa assunção de que as faculdades mentais estão localizadas em "órgãos" cerebrais na superfície deste que podem ser detectados por inspeção visual do crânio. O físico vienense Franz-Joseph Gall (1758-1828) afirmou existirem 26 "órgãos" na superfície do cérebro que afetam o contorno do crânio, incluindo um "órgão da morte" presente em assassinos. Gall era advogado do principio "use-o ou deixe-o". Os órgãos do cérebro que eram usados tornavam-se maiores e os não usados encolhiam, fazendo o crânio subir ou descer com o desenvolvimento do órgão. Estes altos e baixos refletiam, de acordo com Gall, áreas especificas do cérebro que determinam as funções emocionais e intelectuais de uma pessoa. Gall chamou a este estudo "cranioscopia." (in:http://skepdic.com/brazil/frenologia.html)

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... há pouco mais de 100 anos, as descobertas de Broca e Wernicke fizeram “tremer a Terra”. Filósofos, médicos e os primeiros psicólogos assumiram um ponto de partida fundamental: doenças focais causam déficits específicos. Naquela época, os investigadores eram limitados em sua habilidade para identificar as lesões dos pacientes. Os médicos podiam observar o local do dano – por exemplo, uma lesão penetrante provocada por uma bala -, mas eles tinham que esperar o paciente morrer para determinar o local da lesão. A morte podia levar meses ou anos, e, em alguns casos, geralmente não era possível realizar a observação: o médico perdia contato com o paciente após sua recuperação, e, quando este finalmente morria, o médico não era informado e assim não podia examinar o encéfalo e correlacionar a lesão cerebral com os déficits de comportamento da pessoa.

Porém, o entendimento maior se deu através dos estudos de Luria. Alexander

Romanovich Luria (1901–1978), durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu

estudos com indivíduos portadores de lesão cerebral, no qual catalogou cada

paciente, mapeou as respectivas lesões cerebrais e anotou as alterações no

comportamento, tendo como objetivo específico o estudo das bases neurológicas do

comportamento. Estes estudos, de certa forma simbolizaram um elo entre a

psicologia e a neurociência, denominada neuropsicologia.

Através disso Luria constatou que o cérebro humano é composto por três

unidades funcionais básicas, sendo estas, necessárias para qualquer tipo de

atividade mental.

A primeira unidade funcional é responsável para regular o tônus cortical, a

vigília e os estados mentais e é composta pela formação reticular e pelo tronco

encefálico.

A segunda unidade funcional, que é responsável por receber, processar e

armazenar as informações, que se compõe das partes posteriores do cérebro (lobo

parietal, occipital e temporal).

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A terceira é a unidade para programar, regular e verificar a atividade mental,

constituindo-se pelas partes anteriores do cérebro (lobo frontal).

Dessa forma, evidenciando as importantes contribuições de Luria no processo

ensino aprendizagem Tabaquim (2003, p. 91) destaca que:

O cérebro é o órgão privilegiado da aprendizagem. Conhecer sua estrutura e funcionamento é fundamental na compreensão das relações dinâmicas e complexas da aprendizagem. Na busca pela compreensão dos processor de aprendizagem e seus distúrbios, é necessário considerar os aspectos neuropsicológicos, pois as manifestações são, em sua maioria, reflexo de funções alteradas. As disfunções podem ocorrer em áreas de input (recepção do estímulo), integração (processamento da informação) e output (expressão da resposta). O cérebro é o sistema integrador, coordenador e regulador entre o meio ambiente e o organismo, entre o comportamento e a aprendizagem.

Assim como cada ser humano tem impressões digitais diferentes, também

possui sinapses cerebrais diferentes, pois cada um tem suas vivências, o seu

aprender do mundo e com o mundo. E nesse sentido Ventura (2010, p.123), ao

retratar sobre a neurociência e comportamento no Brasil, enfatiza que a mesma

possui uma importante interface com a Psicologia e a define do seguinte modo:

A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e comportamento. O controle neural das funções vegetativas – digestão, circulação, respiração, homeostase, temperatura-, das funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução, alimentação e ingestão de água, os mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e

comunicação, são temas de estudo da neurociência.

Faz-se necessário destacar que a neurociência pode ajudar muito a todos

indivíduos, mas especialmente aqueles com transtornos, síndromes e dificuldades

de aprendizagem uma vez que se tem o entendimento da plasticidade cerebral, da

busca de novos caminhos para o aprender, das múltiplas inteligências propostas por

Gardner.

2. Neuropsicopedagogia

Entender a conexão cérebro x aprendizagem, proposta a partir do

conhecimento da Neurociência, apresenta-se como um dos assuntos mais

procurados e um dos grandes desafios educativos. Entretanto, considerando que a

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neurociência é uma ciência nova, pode-se dizer que: a interface cérebro x

aprendizagem necessita de muito investimento científico, mas são profissionais das

mais diversas áreas que tem voltado seus estudos para este enfoque. Conforme

estudos de Tokuhama-Espinosa (2008, apud Zaro, 2010, p. 205), demonstraram

que:

...enquanto milhares de estudos foram devotados para explicar vários aspectos da neurociência (como animais incluindo humanos, aprendem), apenas uns poucos estudos neurocientíficos tentaram explicar como os humanos deveriam ser ensinados, para maximizar o aprendizado. (...) das centenas de dissertações devotadas ao ‘ensino baseado no cérebro’, ou ‘métodos neurocientíficos de aprendizado’, nos últimos cinco anos, a maioria documentou a aplicação destas técnicas, ao invés de justificá-las.”

Uma das áreas que vem abrindo espaço dentro âmbito de conhecimento é a

Neuropsicopedagogia. Sua primeira descrição no campo científico se deu através de

Jennifer Delgado Suárez, no artigo intitulado “Desmistificacion de la

neuropsicopedagogía” onde apresentou uma composição histórica da trajetória

neuropsicopedagógica e ressaltou sua importância para o contexto educativo.

FERNANDEZ (2010) aponta para três pontos elucidativos da

Neuropsicopedagogia, abordada por Suárez: 1º Educação; 2º Psicologia e 3º

Neuropsicologia. Educação no intuito de promover a instrução, o treinamento e a

educação dos cidadãos. A Psicologia com os aspectos psicológicos do indivíduo. E,

finalmente, a Neuropsicologia com a teoria do cérebro trino, sendo que aqui

oportunizou a teoria das múltiplas inteligências, propostas por Gardner.

Conforme as autoras colombianas, a Neuropsicopedagogia traz importantes

contribuições à educação, pois existe a possibilidade de se perceber o indivíduo em

sua totalidade. Mas, afinal do que se trata a Neuropsicopedagogia? Para

Hennemann (2012, p.11) a mesma apresenta-se:

... como um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem.

Através dos conhecimentos neuropsicopedagógicos existe a possiblidade de

entender como se processa o desenvolvimento de aprendizagem de cada indivíduo,

proporcionando-lhe melhoras nas perspectivas educacionais e dessa forma

desmistificar a ideia de que a aprendizagem não ocorre para alguns; na verdade

sempre acontecerá a aprendizagem, entretanto para uns ela vem acompanhada de

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muita estimulação, atividades diferenciadas, respeitando o ritmo de desenvolvimento

do indivíduo.

Dentro desta linha de pensamento as contribuições de Tokuhama-Espinosa

(2008, apud Zaro, 2010, p. 204), podem ser consideradas de significativa

importância e utilizadas como elementos importantes nas intervenções

neuropsicopedagógicas, que são elas:

a) Estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; b) stress impacta aprendizado; c) ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; d) estados depressivos podem impedir aprendizado; e) o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não-ameaçador; f) as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e. intenções boas ou más); g) feedback é importante para o aprendizado; h) emoções têm papel-chave no aprendizado; i) movimento pode potencializar as oportunidades de aprendizado; k) nutrição impacta o aprendizado; l) sono impacta consolidação de memória; m) estilos de aprendizado (preferencias cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; n) diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos.

Segundo as considerações acima é possível afirmar que o ato de aprender é

um ato complexo, não envolve somente a questão de memorizar os conteúdos, é

muito mais do que isso; aprender envolve emoção, interação, alimentação,

descanso, motivação entre outros.

O espaço educativo deve estar aberto para novos profissionais que venham a

somatizar a equipe multidisciplinar que atendem o educando, por isso

neuropsicopedagogos além de ter uma visão de como ocorre a aprendizagem do

educando, também possuem vistas para a metodologia de ensino do professor,

pautados nos estudos descritos acima, possuem competência para orientar de que

forma a aprendizagem pode se tornar mais significativa tanto na metodologia do

professor quanto no processo de aprendizagem do aluno.

Também, cabe aqui ressaltar, o enunciado feito por Hennemann (2012, p.11)

descrevendo as práticas neuropsicopedagógicas, atribuídas a estes profissionais...

O grande avanço da Neuropsicopedagogia no Brasil se deu através do Centro Sul Brasileiro de Pesquisa e Extensão - CENSUPEG. Dentro deste contexto educacional os profissionais da Neuropsicologia Clínica são capacitados para: • Compreender o papel do cérebro do ser humano em relação aos processos neurocognitivos na aplicação de estratégias pedagógicas nos diferentes espaços da escola, cuja eficiência científica é comprovada pela literatura, que potencializarão o processo de aprendizagem. • Intervir no desenvolvimento da linguagem, neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do indivíduo.

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• Adquirir clareza política e pedagógica sobre as questões educacionais e capacidade de interferir no estabelecimento de novas alternativas neuropsicopedagógicas e encaminhamentos no processo educativo. • Compreender e analisar o aspecto da inclusão de forma sistêmica, abrangendo educandos com dificuldades de aprendizagem e sujeitos em risco social.

O neuropsicopedagogo, profissional que está em constantes buscas de

conhecimentos a cerca dos transtornos, síndromes, patologias e distúrbios a qual o

indivíduo possa estar relacionado, terá ter condições de identificar nos indivíduos

tais sintomalogias, procurar identificar quais competências e habilidades que tais

indivíduos possuem, e propor uma intervenção neuropsicopedagógica, que com

certeza se fará acompanhada junto aos familiares, professores e equipe pedagógica

e demais profissionais que se fazem presentes na vida destes indivíduos.

3. Pesquisa neuropsicopedagógica

Como abordado anteriormente tanto a Neurociência quanto a

Neuropsicopedagogia ainda são terminologias em que o campo educacional está

presente, mas se faz necessário maior divulgação e compreensão destas áreas. Em

pesquisa feita, através de dispositivos da web, objetivando abordar profissionais que

tivessem algum conhecimento a cerca da Neurociência, envolvendo nove questões,

cinco objetivas e quatro subjetivas, procurou-se investigar qual o entendimento que

os profissionais estão tendo a cerca do assunto. Quinze profissionais responderam

ao questionário, porém, através da análise das respostas, pode-se perceber a

seriedade e o comprometimento dos mesmos neste processo educativo.

Uma das perguntas iniciais foi a idade dos participantes, sendo que o maior

índice(figura 1) estava na faixa etária dos 41 aos 50 anos.

7%

33%

47%

13% 0%

entre 18-30 anos

entre 31-40 anos

entre 41-50 anos

entre 51-60 anos

mais de 61 anos

- Figura 1 -

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A segunda questão perguntando sobre sexo do entrevistado, os profissionais

femininos mostraram-se mais participativos, o que pode ser observado no gráfico

(figura 2):

A profissão que maior teve destaque na terceira questão foi professor, porém

os psicopedagogos também tiveram um número bastante significativo (figura 3).

Na questão envolvendo o grau de instrução dos entrevistados o que mais

apareceu foram profissionais pós-graduados (figura 4).

93%

7%0%

0%

Feminino

Masculino

40%

20%

20%

7%13% Professor

Psicopedagogo

Neuropsicopedagogo

Psicólogo

outro(a)

13%

74%

13%

0%

0%

Graduação

Pós-Graduação

Mestrado

Doutorado

Pós-Doutorado

- Figura 2 -

- Figura 3 -

- Figura 4 -

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Na quinta e última pergunta objetiva, todos demonstraram ter conhecimento

sobre Neurociências (figura 5).

Numa breve análise desta primeira etapa pode se constatar que no universo

educativo, ainda existe a predominância feminina; contudo, também se pode afirmar

que através dos dados obtidos, os profissionais tem buscado sua qualificação

continuada, pois comparando o gráfico da idade com o gráfico do grau de instrução,

pode se perceber que: os profissionais não têm restringindo seus estudos somente

na graduação, mas sim, buscando novas etapas de estudos.

As próximas questões, pautadas na subjetividade, se fez necessário extrair as

respostas que tiveram maiores semelhanças. Portanto, quando questionados sobre

a maior contribuição que as Neurociências trouxeram para a Educação, o que mais

predominou foi a questão da aprendizagem, da plasticidade, o entendimento dos

mecanismos neurais que levam o indivíduo à aprendizagem. Sendo assim, será feito

o relato de algumas respostas que venham a comprovar esta predominância...

“As neurociências podem contribuir muito para a compreensão dos processos

de aprendizagem e não aprendizagem dos educandos, auxiliando o professor nas

intervenções e metodologias de trabalho mais efetivas. Agem que possibilitem

atender às diferenças para educar na diversidade”.

"Revelar a importância do conhecimento das bases neurobiológicas da

aprendizagem, objetivando a construção de práticas pedagógicas mais consistentes

e assertivas, pautadas em evidências científicas, visando à promoção da

aprendizagem.”

“Apesar, de se tratar de conhecimentos científicos recentes, a neurociências

contribui para o entendimento dos profissionais de educação, que todos os

indivíduos são capazes de se desenvolverem e que há estratégias específicas

possibilitando a plasticidade cerebral e assim alcançando resultados positivos nos

100%

0%

0%

0% sim

não

mais ou menos

- Figura 5 -

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processos de aprendizagem, que também nos apresenta novas visões em seu

entendimento. Além do mais, a neurociência também contribui nas questões

referentes às políticas de inclusão, favorecendo a socialização dos portadores de

atenção diferenciada. Possibilitando profissionais mais capacitados e atualizados

nas instituições de ensino. Objetivando a aprendizagem de todos, visando mais

oportunidades de igualdade nos bancos escolares.”

Perguntados sobre sua opinião em qual o diferencial de um professor que tem

o conhecimento de Neurociências, as repostas mostraram-se novamente

correlacionadas enfocando o aspecto do modo de aprendizagem do aluno. Que o

professor com esse conhecimento é capaz de...

“O professor com conhecimento de neurociências é mais consciente em

relação às limitações e potencialidades dos alunos e sabe como aproveitá-las de

modo positivo.”

“Ser capaz de correlacionar os objetivos de formação educacional com os

mecanismos neurobiológicos envolvidos na aquisição de conhecimento, de forma a

facilitar e persistência da informação transmitida.”

“O professor que começa a ter conhecimento da neurociência faz um

diferencial, pois começa a perceber que é preciso “ensinar o indivíduo a aprender a

aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e

não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver

competências de resolução de problemas”. Com as informações adquiridas sobre o

funcionamento do cérebro a aprendizagem será mais eficaz."

Quando questionados sobre a Neuropsicopedagogia, os quinze entrevistados

relataram ter conhecimentos sobre a mesma, sendo que se fará menção as

seguintes contribuições:

“Já ouvi falar, mas não com uma definição formal. Pela formação da palavra

concluo que seja uma abordagem neurológica aplicada à aprendizagem, e como

essa é um processo que tem a participação de processos psicológicos e da

pedagogia envolvida no ensino-estimulação, daí explica-se o porquê do

psicopedagógico. Já vi que essa abordagem associa os conhecimentos de

neurologia com os estudos de psicologia do desenvolvimento (Piaget, Vygotsky,

Wallon).”

“É um estudo mais avançado sobre pedagogia, psicopedagogia e neuro, na

realidade é junção dos três. Já que a pedagogia trabalha como ensinar, a psico

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estuda os déficits e a neuro tudo sobre cérebro e quais soluções cabíveis a

situação.”

Na última questão abordando sobre a importância de um

neuropsicopedagogo no contexto educativo, pode-se afirmar a grande maioria

elencou aspectos favoráveis à figura deste profissional, uma vez que esse tem o

entendimento das questões pedagógicas e paralelo a isso, tem o entendimento das

questões neuropsicológicas, sendo que novamente se faz destaque a algumas

colocações...

"Com base em tudo que foi falado, fica clara a importância deste profissional

no contexto educativo, pois o neuropsicopedagogo é um profissional que oferece um

grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura aplicação em sala de

aula se constituindo hoje, como um grande aliado do professor, diante deste cenário

tão diverso com a qual iremos nos deparar.”

“O ideal seria tornar cada professor um neuroeducador, mas se tiver em cada

escola um neuropsicopedagogo já seria muito bom. O ensino com essas novas

descobertas provavelmente terão novas diretrizes. Muitas pesquisas estão em

andamento sobre a neuropsicologia. Temos que ter cautela ainda sobre tudo que

aparece sobre essas questões. Até chegar as pesquisas sobre a

neuropsicopedagogia (descobertas ligadas as aprendizagens do cérebro no

aprender) é preciso muita cautela.”

Todas as respostas do questionário poderão ser visualizadas no link descrito

nas referências, sendo que aqui se procurou dar um feedback daquelas que

representassem as demais e compartilhassem da mesma estrutura escritural.

Também como foi mencionado incialmente, através das respostas obtidas se pode

comprovar o envolvimento e a preocupação dos participantes com a qualidade

educativa. O que vem a ser uma das propostas da Neuropsicopedagogia, a de

proporcionar benefícios para o processo ensino-aprendizagem.

Considerações Finais

O contexto educativo deve estar pautado em formas diferentes de

aprendizagem, pois já é comprovado que um único método de ensino não contempla

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a todos, pesquisas da área de neurociência mostram as diversas áreas ativadas nos

indivíduos nos processos de aprendizagem, porém as grandes pesquisas giram em

torno da área da linguagem, principalmente nos casos de dislexia, porém Rotta

(2006, p.18) enfatiza que:

O avanço das neurociências, em especial da neurologia, é de suma importância para o entendimento das funções corticais superiores envolvidos no processo da aprendizagem. Sabe-se que o indivíduo aprende por meio de modificações funcionais do SNC, principalmente nas áreas da linguagem, das gnosias, das praxias, da atenção e da memória. Para que o processo de aprendizagem se estabeleça corretamente, é necessário que as interligações entre as diversas áreas corticais e delas com outros níveis do SNC sejam efetivas.

Normalmente observamos que todos comentam apenas as deficiências e as

dificuldades da criança, fazendo comparações com as crianças consideradas normais. Para

o trabalho neuropsicopedagógico precisamos elencar os aspectos positivos de seu

comportamento e habilidades, já que todo trabalho se baseia no desenvolvimento dessas

habilidades.

A neurociência, conforme dito anteriormente, ainda é uma área muito nova,

principalmente no contexto educativo. Muitos são os cursos voltados a ela, mas percebe-se

que no cenário educativo, as práticas neurocientíficas ainda se mostram desconhecidas e

vistas com indagações por aqueles que as desconhecem. O conforto das práticas

“conteúdistas” se contrapõe aos princípios da neurociência, uma vez que dentro dessa

abordagem o mais importante seria a aprendizagem do educando e não ao acúmulo de

conteúdos.

Por outro lado, a era da informação tem permitido que um maior número de

profissionais tivesse acesso a conhecimentos ligados a neurociências, assim como tem

surgido maior oferta de cursos de atualização, seja em nível de extensão ou pós-graduação

que facilitam o acesso à informação. Frente a isso, ainda são poucas as pesquisas

publicadas sobre o assunto neurociência x educação e quando se une a questão

neurociência à questão Neuropsicopedagogia, mais restrito ainda se torna o assunto. A

essência existe, mas falta a coragem dos neuropsicopedagogos de mostrarem seus

trabalhos, expor suas práticas.

Também se faz interessante perceber que no contexto educativo, não

somente com a vinda da inclusão, mas também com todo modo de vida

contemporânea, outros aportes vieram consigo: são laudos médicos, medicações

diversas, dúvidas na metodologia ensino-aprendizagem. Tudo isso, necessita de

profissionais capacitados, que saibam indicar caminhos para que cada um realmente

seja visto na sua essência, na sua individualidade.

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A Neuropsicopedagogia ainda é um livro com muitas páginas em branco, sua

importância já aparece bem nítida nos depoimentos respondidos através do questionário,

mas os profissionais desta área precisam mostrar aos demais o que estão fazendo, como o

estão fazendo. O livro precisa ocupar lugar no tempo e no espaço das livrarias de nosso

país.

REFERÊNCIAS:

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Nervoso. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. CENTRO SUL-BRASILEIRO DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO - CENSUPEG. Guia Discente e Orientações para TCC - Artigo Científico. Joinvile,[2011?] FERNANDEZ, Ana C. G. Aportes de la Neuropsicopedagogía a la pedagogia.

La visión de Jennifer Delgado em: Desmistificación de la Neuropsicopedagogía. Colômbia, ASOCOPSIP, 2010. Disponível em http://licenciadospsicologiaypedagogia.blogspot.com/2010/02/aportes-de-la-neuropsicopedagogia-la.html Acesso em 15/07/2012. HENNEMANN, Ana L. Neuropsicopedagogia Clínica: Relatório de Estágio. Novo

Hamburgo: CENSUPEG, 2012. ___________. Neuropsicopedagogia: novas perspectivas para a aprendizagem. Questionário feito na web. Disponível em https://docs.google.com/spreadsheet/ccc?key=0Ajdvj5rzWfcSdDRBWTRfTU5Pcy12b25oVDk2WjBmLVE#gid=0 Acesso em 07/09/2012. HERCULANO-HOUZEL, Suzana. O cérebro nosso de cada dia: descobertas da

neurociência sobre a vida cotidiana. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004. GAZZANIGA, Michel S.; IVRY, Richard B.; MANGUN, George R. Neurociência Cognitiva. A Biologia da Mente. 2 ed. Trad. Angelica Rosat Consiglio et all. Porto

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