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GÊNEROS DIGITAIS NO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO ENSINO FUNDAMENTAL II:
LETRAMENTOS POSSÍVEIS
José Hipólito Ximenes de Sousa1 (CMCB)
Resumo: Neste artigo, faz-se a análise do estudo dos gêneros digitais proposto em dois livros didáticos de língua portuguesa. A partir do conceito de gêneros digitais proposto por Marcuschi (2005) e das discussões de gêneros textuais em Carvalho (2005), busca-se conhecer a relação entre os gêneros digitais e letramentos possíveis no livro didático, criando um link entre o que é dito na teoria e seus usos práticos. O estudo compôs-se da análise de dois livros didáticos do 6º e 7º anos. No corpus, verificamos quais tipos de atividades foram direcionadas para construção de textos em gêneros digitais. As analises dos dados indicam que a proposta para trabalhar os gêneros digitais não levam em consideração o contexto de circulação do gênero, ou seja, a proposta desconsidera um tipo de letramento mais especifico, que no caso em estudo foi construção de um blog, de um
miniblog (twitter) e que o acesso às redes sociais como myspace e o facebook não convergiram para o ensino-aprendizagem de escrita na tela, ao direcionar a concepção do gênero para crianças do ensino fundamental II. É salutar que as instruções para os letramentos digitais das crianças requerem novas habilidades. Palavras-chave: Gêneros digitais, livro didático, ensino-aprendizagem. Abstract: In this paper, we observed that the study of digital genres proposed in two textbooks in Portuguese. From the concept of digital genres proposed by Marcuschi (2005) and discussions of textual genres in Carvalho (2005), seeks to understand the relationship between gender and digital literacies possible in the textbook, creating a link between what is said in the theory and its practical uses. The study was composed of analysis of two textbooks on the 6th and 7th years. In the corpus, we see what types of activities were directed towards construction of texts in digital genres. The analysis of data indicates that the proposed work to the digital genres
not take into account the context of the gender. The proposal ignores a type of literacy more specific, which in our case was building of blog, Miniblog (twitter) and that access to social networking sites like myspace and facebook have not converged to the teaching and learning of screen writing, to direct the design of gender for elementary school children II. It is salutary that the instructions for the digital literacies of children require new skills. Keywords: Digital genres, Textbooks, Teach and learning.
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Introdução
Um dos grandes desafios para os educadores (Moran, 2009) é ajudar a tornar
a informação significativa, a escolher dentre o leque de possibilidades em rede,
aquela que é verdadeiramente importante, compreendê-las de forma cada vez
mais abrangente e profunda, tornando-as parte de nosso referencial.
Ao longo da ultima década temos percebido diversas mudanças tecnológicas
que ocorreram de forma tão vertiginosa e surpreendente que nos tornamos meros
espectadores dessas mudanças. Os avanços advindos das novas tecnologias digitais
da comunicação e transformaram por completo as relações que se estabeleceram
no meio social entre os seres humanos e seu cotidiano. Contudo, os grandes
entraves para a implementação dos recursos tecnológicos não se fizeram sentir
apenas nos meios sociais onde a tecnologia se fez presente em determinado
momento, mas foi na escola onde esse processo de mudança de uma sociedade
“moderna” para uma sociedade tecnológica se fez sentir com mais presteza.
Para Mercado (2002, p. 11),
As novas tecnologias e o aumento exponencial da informação levam a uma nova organização do trabalho em que se faz necessário: a imprescindível especialização dos saberes, a colaboração transdisciplinar e interdisciplinar, o fácil acesso à informação e a consideração do conhecimento como um valor precioso de utilidade na vida econômica.
Nesses novos contextos em que o professor assume os preâmbulos de uso da
tecnologia, é necessário um novo perfil de educador que esteja voltado para
conceber o novo como um processo de inclusão e preparação para os novos
letramentos que se fazem presentes na escola e, principalmente, que nesse novo
perfil, o professor esteja disposto a receber as mudanças de maneira critica,
exigente e interativo.
Frente aos novos contextos que o professor assume nos preâmbulos de uso da
tecnologia, dessa forma a sociedade do conhecimento exige um novo perfil de
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educador: comprometido, competente, critico, disposto a mudanças, exigente e
interativo.
Nesse artigo, procura-se reconhecer dentro de uma educação humanística a
relevância dos usos dos gêneros digitais no livro didático de português que
contribuem para os letramentos tomando por base a tecnologia para a
aprendizagem colaborativa. Uma vez que (Mercado, 2006), é nessa visão de um
ambiente distribuído que a aprendizagem não pode ser dissociada da colaboração.
Em relação ao uso da tecnologia na educação, por longo tempo, a escola
tem sido o local onde as mudanças que começam a ser percebidas na sociedade se
tornam o ponto transformador das questões que se seguem as adequações dos
letramentos. Não percebemos a escola alheia às transformações, mas passiva
diante de um quadro que não a preparou para lidar com a massificação tecnológica
que transforma os espaços dos saberes.
Não percebemos uma escola atuante que veja na aplicação das tecnologias
uma forma de lidar com o currículo e com os novos letramentos que perfazem os
saberes tecnológicos no meio social. Apesar de declararem em suas propostas o
desejo e a intenção de preparar e capacitar criticamente o(a)
educando/cidadão(ã), ainda percebemos, nos livros didáticos, como a integração
de determinados gêneros digitais ainda parecem timidos e, muitas vezes, distantes
das práticas de uso na sociedade.
Letramento digital e escrita
Ao imaginarmos o mundo cada vez mais multifacetado, observamos as
diversas formas em que os letramentos permeiam a sociedade, permitindo, dessa
forma, que em nosso cotidiano, em diferentes situações, entrem em cena os
Multiletramentos. Refletindo sobre letramentos possíveis e sobre os gêneros digitais
que estão envolvidos no processo de ensino aprendizagem da escrita, nos
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envolvemos com o estudo da prática de letramento digital no ensino de escrita, em
especial no meio impresso, onde verificamos a transposição de gêneros.
A escrita no meio virtual requer outras habilidades as quais só são possíveis
em aparatos tecnológicos ( computadores, celulares, Ipads, tablets) e a Internet.
Assim, é preciso analisar os efeitos e/ou impactos em que as novas tecnologias
digitais vêm modificando e transformando nossa concepção sobre as maneiras de
nos relacionarmos com elas. Concordo com Marcuschi (2005), ao se referir aos
impactos que as novas tecnologias digitais assumem em relação ao poder de
destruição e devastação na sociedade contemporânea. Ressalvo que tal “poder”
está centralizado na forma como os usos e apropriações das novas tecnologias são
enraizadas no meio; e transmutados para a escola.
As mudanças trazidas pelas novas tecnologias digitais agregam valores não
apenas sociais e econômicas, mas também linguísticas, quando nos referimos às
questões inerentes da linguagem, tal como observadas por Bolter (1991 apud
Marcuschi 2005,p.14) “a introdução da escrita conduziu a uma cultura letrada nos
ambientes em que a escrita floresceu”. Assim, observamos que a introdução da
escrita em meio às novas tecnologias digitais, nos conduziu a uma forma de escrita
mais econômica, ou seja, abre-se uma lacuna para o internetês, em que
prevalecem as abreviaturas e a facilidade de transposição da fala para a escrita.
Nesse contexto, a escrita ganha novos formatos e exige novas habilidades para
dominar o espaço virtual e se apropriarem dos ambientes tais como sites, e-mail,
blogs, fóruns de discussão, entre outros.
Compartilho das ideias de Souza (2007) que as experiências que os alunos têm
com os gêneros digitais devem implicar um novo olhar sobre o ensino e a
aprendizagem de suas práticas na escola. Por outro lado, permanece o
distanciamento entre a realidade social, em que boa parte dos estudantes já
domina determinada pratica letrada, e as ineficientes politicas de inclusão digital
na escola, como por exemplo, a falta de equipamento necessário à demanda
escolar. Assim, percebo, via de regra que o letramento digital dá-se a partir do uso
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das novas tecnologias digitais no meio social desde então. Não compete apenas à
escola o resgate desses tipos de letramentos, mas a inclusão daqueles alunos que,
por questões sociais, ficaram a margem desses letramentos.
Conforme ALMEIDA (2005, p.174):
O letramento digital implica o reconhecimento da leitura no mundo virtual, do domínio e do uso da tecnologia da informação e da comunicação que propiciam ao cidadão uma produção crítica do conhecimento, fazendo-o exercer sua cidadania, inserido no mundo digital
como leitor ativo, produtor e consumidor de informações.
Por outro lado, Braga (2007) destaca que os estudos do letramento digital têm
algumas particularidades que são novas e outras que transferem para um novo
objeto de análise um conjunto de crenças e promessas antigas sobre o impacto da
escrita na cognição e na sociedade.
Conforme a autora, a escrita digital sendo um tipo de escrita relativamente
recente, ainda não foi ―naturalizada, no contexto das práticas sociais e cujos
modos de aquisição ocorrem fundamentalmente fora das práticas escolares, é de se
esperar que o estudo do letramento digital nos ofereça padrões de comparação
novos para compreensão do próprio letramento tradicional. A mediação tecnológica
nas práticas comunicativas sempre gera mudanças linguísticas, tanto no nível da
modalidade, quanto no nível das convenções de gênero.
O letramento digital, de certa forma, torna muito mais evidente a dinâmica
de diferentes processos de mudanças linguísticas, dada a velocidade com que tais
mudanças ocorrem. Isso se explica pelo fato de que, no contexto digital, a
construção de novas formas expressivas deixa de ser controlada por um grupo
restrito de especialistas – como ocorreu com a escrita e as diferentes formas de
comunicação audiovisuais – e passa a ser produto de uma construção coletiva mais
ampla.
De acordo com Vieira (2005, p.29) “A revalorização da escrita com a
introdução da tecnologia eletrônica é um fato, independente do que significa
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falar/ler/escrever dos limites oral/escrito e de suas novas funções”. No espaço
escolar, contribuir para o letramento digital significa, pois apresentar
oportunidades para que todos possam utilizar as tecnologias da informação e da
comunicação como instrumentos de leitura e de escrita que estejam relacionados
às práticas educativas e como práticas em contextos sociais desses grupos.
Novos letramentos e o ensino de escrita no contexto escolar
O desenvolvimento tecnológico da última década introduziu, no cotidiano,
novas tecnologias e ferramentas que mudaram completamente nossa relação com
os meios de comunicação e de informação. Hoje, temos à disposição ferramentas
que não só nos trazem informações, mas também nos dão a possibilidade de
interagirmos com elas. Estamos nos referindo especificamente às TIC´s. Essa
possibilidade de interação e comunicação usando novas ferramentas e redes como
a Internet também fez surgir novos gêneros textuais e formas de escrita,
possibilitando o surgimento de gêneros híbridos e uma mudança nos conceitos de
letramento, que passa a ser usado no plural, letramentos, e no surgimento de
termos novos como multiletramentos e letramento digital.
Letramentos e possibilidades
Quando nos referimos ao termo letramento não podemos deixar de lado o
conceito primitivo em Soares (2009) que, partindo de estudos etimológicos, afirma
que letrado é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a
escrever, todavia atrelado a esse conceito imbrica-se a ideia de que a escrita traz
consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas quer
para o grupo social em que seja introduzida, quer para o individuo que aprenda a
usá-la. Por outro lado, Kleiman (2008) define letramento como um conjunto de
práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia em
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contextos específicos, para objetivos específicos. Assim, percebemos que ambas as
autoras partilham a ideia da escrita como elemento norteador desse espaço de
interação entre as práticas sociais.
Xavier (2007, p.8) afirma que:
O letramento digital, que se realiza pelo uso intenso das novas tecnologias de informação e comunicação e pela aquisição e domínio dos vários gêneros digitais, parecem satisfazer às exigências tanto daqueles que acreditam na funcionalidade e utilidade que qualquer tipo de letramento pode proporcionar aos indivíduos que o adquirem para agir em uma
sociedade, isto é, fazer os indivíduos mais produtivos economicamente, bem como atende aos que postulam o desenvolvimento da capacidade analítica e crítica do cidadão como objetivo maior da aquisição de qualquer tipo de letramento. (Grifo do autor)
Nessa perspectiva a escrita está para o letramento, seja na forma mais
rudimentar em que ela se materializa ou na forma mais moderna em que ela se
apresenta. Seja através de gêneros diversos, com objetivos específicos, ou de
suportes em que se materialize o texto. Pensar, pois, em escrita é também pensar
em letramento.
Como afirmam Garton e Pratt (1992, p.2 apud Rojo 2007, p.68):
Letramento está diretamente envolvido com a linguagem escrita: este é um senso comum que compartilhamos. Entretanto também esperamos que
pessoas letradas falem fluentemente e demonstrem domínio da linguagem falada. Consequentemente, uma definição de letramento deverá reconhecê-lo, especialmente quando se estuda o desenvolvimento das
habilidades de escrita.
Desse modo, desenvolver as habilidades de escrita dentro do contexto
linguístico é o primeiro passo na integração do letramento como prática social. O
fato é que, no mundo contemporâneo, as práticas sociais de leitura e de escrita
tomam diversos aportes diferentes daquelas que ocorriam num passado não muito
distante. Além das práticas de leitura e escrita no formato impresso, agora temos
que conviver com as mesmas práticas numa plataforma eletrônica. Não apenas com
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o texto em si, mas com vários outros recursos que dispõe o meio digital como sons,
imagens, fotografias, vídeos, etc.
Gomes (2007, p. 87) afirma que:
O letramento é, portanto, mais que uma prática social contextualizada que se manifesta no uso, no conhecimento, nos valores, nas crenças e na relevância, a ele atribuída; ele diz respeito também aos aspectos individuais, isto é, às diferentes maneiras de como as pessoas se interagem e se relacionam com a escrita, dentro da sua comunidade nessas práticas.
Precisamos perceber que lidar com o letramento dentro das práticas sociais
individuais vai muito além do que imaginamos que seria ser uma pessoa letrada
tendo formação específica na escola. O direcionamento dessas práticas de escrita,
aprendidas na escola, podem definir o tipo de cidadão que se deseja dentro de uma
sociedade cada vez mais plural. Necessitamos ter um olhar diferenciado da função
específica da escola, que atribuições se fazem sentir quando o mundo inteiro passa
por transformações e a escola ainda fica a mercê dessas mudanças.
Assim, notamos que os letramentos permeiam todo o espaço escolar para
que os alunos sejam capazes de conviver num espaço social multifacetado. Quando
adentramos nesse espaço social é possível redimensionar a forma como passamos a
lidar com as nossas práticas sociais.
Dionísio (2006) nos convida a rever o conceito de letramento. Para ela, o
letramento tem sido empregado em sentido amplo, pois amplia as variedades
terminológicas como letramento científico, novo letramento, letramento visual,
letramento midiático, etc. Desse modo, ela afirma ainda que a noção de
letramento como habilidade de ler e escrever não abrange todos os diferentes tipos
de representação do conhecimento existentes em nossa sociedade.
No meio social, em que os gêneros textuais estão em circulação, uma
pessoa letrada deve ser uma pessoa capaz de atribuir sentidos a mensagens
oriundas de múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de produzir
mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem.
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Assim, surge também a necessidade de atribuir sentido, não apenas à
habilidade de ler e escrever textos com objetivos específicos para fins específicos,
mas ir mais além, procurando redimensionar a forma como concebemos os diversos
tipos de linguagem. Concordo com Gomes (2007, p.90) ao afirmar que:
Sendo o letramento, como vimos, um continuum entre as práticas de uso de escrita fora e dentro do ambiente digital que ocorre de forma processual, não nos parece útil diferenciar ―letramento tradicional‖ de ―letramento digital‖, a não ser para efeito de especificação do contexto em que ele ocorre, ou em referência a práticas onde a tecnologia digital
ocupe lugar central.
Portanto, os letramentos são possíveis e necessários em determinados
contextos sociais; são múltiplos e requerem ações distintas em grupos sociais
distintos, pois convivemos numa sociedade em que a produção do conhecimento é
coletiva e a comunicação ocorre através das diferentes linguagens ( verbal, visual,
digital) que premeia os espaços de comunicação. Nessa sociedade, a capacidade de
rede surge como um núcleo de competências sociais e culturais. Para Jenkins
(2006) um aluno é mais inventivo, não apenas quando possui um amplo leque de
recursos e informações os quais pode escolher, mas quando é capaz de navegar em
contínua mutação no mundo da informação, transformando sua realidade social em
diferentes contextos colaborativos.
Assim, no contexto pedagógico, concordamos com Barros (2009) quando
compreende que a responsabilidade de assumir a intersecção entre os meios
tecnológicos e a educação deve ser de todo professor, independente de sua
formação ou da disciplina que ministra. Nesse contexto, o professor assume o papel
de sujeito atualizado, questionador, crítico, desbravador e, sobretudo um
pesquisador, uma vez que a cultura tecnológica, assim também, como o meio social
estão em permanente transformação, seja na forma, no conteúdo ou nos valores
que carrega.
Cabe ao professor ser o mediador entre os produtos da cultura das mídias que
perpassam as práticas sociais e o conhecimento dos meios e para os meios nas
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intervenções formativas em sala de aula. Observamos o quadro idealizado por
Jacquinot (1998) apud Barros (2009) que mostram possíveis oposições entre a
escola e os meios (Barros, 2009, p.117-118).
QUADRO 1 – Oposições entre a escola e os meios
ESCOLA MEIOS
voltada para o passado (o patrimônio )
interessam-se pela atualidade
repousa sobre a logica da razão sobrevive da surpresa do acontecimento, do
impacto, do emocional
ignora a lógica econômica
só funcionam segundo a lógica econômica
vive da durabilidade vivem da efemeridade
procura formar os cidadãos formam os consumidores
a objetividade é subjacente a todas as
disciplinas ensinadas na escola
valorizam a subjetividade
encarregada de transmitir o saber acumulado
pela cultura
o que é transmitido é menos ―saber‖ e mais
informação superficial
o saber transmitido é selecionado, recortado,
reconstruído
tratam de todos os assuntos, e não há nenhum
controle de aquisição
Análise do gêneros digitais no livro didatico de português do ensino
fundamental II
Apresentamos a seguir os resultados da experiência de uso ao trabalhar com
os gêneros digitais com (02) duas turmas de 6º ano e (03) três turmas de 7º ano,
utilizando os livros didáticos de língua portuguesa e Redação para o ensino
fundamental II: Português: linguagens (CEREJA & MAGALHÃES, 2009); Redação:
todos os textos (CEREJA & MAGALHÃES, 2011).
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Tanto no livro de Português quando no livro de Redação do 6º ano, os
autores propõem o estudo dos gêneros digitais, com uma diferença: no livro de
Português os autores, na parte de produção textual, introduzem o gênero carta
pessoal e o gênero digital e-mail; e no livro de Redação, abrem o capitulo com o
tema: os Gêneros digitais e o e-mail. No livro de português do 7º ano não há
nenhuma referência aos gêneros digitais, já no livro de Redação do 7º ano, os
autores introduzem o capitulo intitulado “O diário e os gêneros digitais”.
Verificamos que há um cuidado dos autores em fazer um link entre os
gêneros que circulam no meio impresso e aqueles que são típicos do meio digital.
Ao introduzirem o gênero carta pessoal, apresentam em seguida o gênero e-mail e
ao proporem o gênero diário fazem uma ligação com os gêneros blog e o miniblog
(twitter). Ao percebermos as propostas sugeridas pelos autores, verificamos que as
orientações são mais de informação do que de uso, ou do modo como devem ser
utilizados os gêneros digitais por professores e alunos.
Idealizamos no quadro a seguir a esquematização presente no livro didático
quanto ao gênero e ao uso proposto a cada série.
QUADRO 2: usos do gêneros digitais
Livro Serie Gênero Uso
Português 6º e-mail Informações sobre o gênero
Curiosidades
Proposta de atividade adequando a linguagem formal
Português 6º e-mail Informações sobre o gênero
Curiosidades
Proposta de atividade adequando a linguagem
formal
Português 7º - -
Redação 7º Blog
Informações sobre o gênero
Curiosidades
Proposta de atividades a partir de possibilidades
de acesso a computadores
Instruções para abrir uma conta no twitter
Informações sobre o que e myspace e facebook
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Pelo quadro acima, verificamos que os gêneros digitais representam uma
transmutação do meio virtual para o meio impresso, não contribuindo de forma
eficaz para as possiblidades de letramentos. Os autores enfocam o gênero como se
os mesmos fossem uma atividade distante da maioria das crianças nesse nível de
ensino.
Observamos mais informações sobre o gênero do que de atividades práticas
que contemplem o letramento digital dos alunos e , também, possibilidades de
desenvolvimento das habilidades da escrita digital como por exemplo, saber digitar
e usar as ferramentas computacionais e o acesso a Internet.
Ao introduzir o capitulo sobre os gêneros digitais: e-mail, os autores
quebram a expectativa em relação aos usos efetivos dos letramentos, uma vez que
são mais informações sobre os gêneros.
FIGURA 1 – Abertura do capitulo livro de redação 6º e 7º ano
Os autores contextualizam o gênero no meio social dos alunos. Uma vez que
ressalvam que os alunos “já tenham tido contato com computadores desde que
nasceu”. Ao revelar isso, os autores deixam claro que os alunos são nativos digitais,
o que necessariamente não condiz com a aplicação de uso do gênero e-mail,
apresentando suas características e um design que não condiz com o que os alunos
estão acostumados a encontrar.
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FIGURA 2 – Exemplo de e-mail
Na verdade, o que se observa é a transposição do gênero digital para o meio
impresso e na apresentação de informações sobre o gênero, como se o importante
fosse reconhecer característica peculiares a cada gênero, como se o mesmo fosse
marcado e impossível de sofrer qualquer tipo de alteração.
FIGURA 3 - características do gênero e-mail
É importante que as características dos gêneros sejam bem direcionadas,
pois os meios por onde esses textos circulam, requerem uma configuração
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específica. Por outro lado, observamos que o gênero e-mail, além de ser também
um suporte, não requer uma forma especifica de tratamento. Podemos tanto enviar
um e-mail com uma mensagem curta, ou longa ou ainda, anexar um documento ou
uma foto; que ele não perderá suas características enquanto gênero que só circula
no meio eletrônico.
Quanto aos gêneros digitais blog e twitter, os autores fazem os mesmos
percursos de dar informações e apresentam algumas curiosidades. No caso do blog
começam por definir o que é, e fazem a diferença entre o blog e o diário.
FIGURA 4 – apresentação do blog
FIGURA 5- diferença entre Blog e diário
Com o gênero miniblog (twitter), eles também fazem apresentação do
gênero e direcionam os alunos a fazem uma conta no site do serviço.
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FIGURA 6 – Cadastro no twitter
Os autores finalizam o assunto sobre gêneros digitais, apresentando
informaçoes sobre o que é o my space e o facebook, porém nenhuma das atividades
apresentadas no livro didatico de Português e de Redação direcionam as atividades
para serem feitas com o uso excluisivo do computador. Apresentam apenas
sugestoes de atividades, podendo ser feitas ou não, dependendo da disponibilidade
da escola de possuirem os recursos necessários à atividade.
FIGURA 9 – informações sobre o myspace e o facebook
Considerações finais
A experiência de ensino com gêneros digitais usando o livro de Português e
Redação do ensino Fundamental II, leva nos a refletir sobre as possibilidades de
letramentos digitais para alunos de 6º e 7º anos. Não é a forma como os diversos
letramentos se fazem na sociedade, mas as formas como eles são aplicados na
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escola e principalmente, quando se tratam de gêneros quais as possibilidades que
esses são realizados na escola.
Ao trabalhar a atividade com o gênero e-mail, verifiquei que a maioria dos
alunos possui conta de e-mail, mas não tem acesso diário, pois dependem da
autorização dos pais para utilizarem, ou seja, os pais tem preocupação com qual
tipo de conteúdo os filhos fazem circular na Internet. Outro ponto significativo foi
que a atividade não gerou expectativa nos alunos, da turma de 75 alunos, somente
10 enviaram a atividade proposta. Foi constatado ainda que somente 5 alunos não
possuíam conta de e-mail o que permitiu que pudesse ser criado uma conta de e-
mail para esses alunos.
Quanto aos gêneros blog e miniblog ( twitter) por problemas no laboratório
de informática, não foi possível fazer, naquele momento uma aplicação prática de
criação do blog ou miniblog. Foi observado que muitos alunos possuem contas no
facebook e alguns no twitter.
A proposta de utilização dos gêneros digitais, em sala de aula, ainda aparece
tímida nos livros didáticos. É preciso rever essas questões e, também, propôs
atividades que possam instigar nos alunos a busca por um letramento específico
com o uso de gêneros digitais.
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