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Página 1 Dizem os Manuais que a prevenção da Síndrome de Burnout, a nível individual, passa, entre outras, por perío- dos de férias frequentes, por ter apoio social e dos colegas, por ser otimista e flexível, por realizar pausas no trabalho e por viver sem excessivas preo- cupações . Nada que não te- nhamos no nosso dia a dia (veja-se o exemplo paradigmá- tico das férias a partir de 2015 e nos aumentos salariais para a função pública). Já a nível organizacional é desejável proporcionar refor- ços positivos, promover locais de trabalho agradáveis, reco- nhecer o trabalho realizado e envolver os profissionais nas tomadas de decisão bem como encorajá-los a exprimir as suas dificuldades. A quem aproveita tudo isto? Pois bem. Sabemos todos quem nos “trata” da saúde. Resta a pergunta. A quem cabe cuidar da saúde dos tra- balhadores da saúde? EDITORIAL DO COORDENADOR Nos últimos dias, os mass media têm dado conta (alguns da forma mais interesseira e perversa) da crescente onda de violência contra os Profissio- nais de Saúde. Segundo um documento da DGS (Observatório Nacional da Violência Contra os Profis- sionais de Saúde no Local de Trabalho) foi registado um número record de situações de violência (531) a qual repre- sentou um acréscimo de 160% relativamente ao ano anterior e, segundo dados deste ano, a situação tende a piorar. Independentemente das cau- sas a montante (organizacionais, socio- económicas, profissionais ou pessoais, quer dos técnicos de saúde quer dos utentes) a rea- lidade existe e as repercussões sobre cada um de nós afetam o nosso bem estar e até as nos- sas convicções (por exemplo, vale a pena dar o nosso máxi- mo quando o outro lado revela incompreensão e ingratidão?) Pois, existe sempre Fernando Pessoa para nos dar a mão com o “Vale sempre a pena...” Estas notícias fizeram-me lembrar de uma estudo condu- zido na Finlândia, financiado pelo Ministério de Assuntos Sociais e Saúde, onde era questionado como poderia ser evitado o stress causado no local de trabalho e os modos de o controlar entre os profissio- nais de saúde. A realidade é esta: o Bur- nout, descrito pela primeira vez em 1974, existe e atinge mais frequentemente aqueles que, pela sua profissão, man- têm uma relação direta ou prolongada com pessoas. E que, depois de um período instável, acabam por sofrer um grande desgaste profis- sional. Quais são as consequências do Burnout? Esgotamento emocional com o sentimento de não conseguir dar mais de si aos outros; Despersonali- zação ou Desumanização com afetação das relações inter- pessoais e distanciação para com os outros chegando ao cinismo e ao humor negro e Baixa Produtividade tradu- zindo-se por respostas desa- dequadas ao que é pedido (frustração, fuga ao trabalho, baixa rentabilidade). Segundo o tal estudo, o qual incluía perto de 8.000 partici- pantes, as repercussões pode- riam ser minimizadas com terapia cognitivo- comportamental e relaxa- mento mental e físico e que a modificação dos dias e horá- rios de trabalho poderiam coadjuvar a reduzir o stress. E que, qualquer uma delas, isolada ou associadamente, contribuíria de forma ade- quada e consistente para o alívio do stress ocupacional, de uma forma superior até à de frequentar um curso de análise teórica dos proble- mas. Estamos em perigo? JANEIRO — MARÇO 2015 NÚMERO 3 BOLETIM INFORMATIVO Nº3 USF GLOBAL Pontos de interesse especiais: Estamos em Perigo? Gravidez e vinculação Sessão educativa: educação sexual Doença de Crohn Nesta edição: Eventos científicos 10 Palavras de Mestre 11 Licínio Fialho

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Page 1: NÚMERO 3 JANEIRO MARÇO 2015 BOLETIM INFORMATIVO Nº3 … · NÚMERO 3 JANEIRO — MARÇO 2015 BOLETIM INFORMATIVO Nº3 USF GLOBAL Pontos de interesse especiais: Estamos em Perigo?

Página 1

Dizem os Manuais que a

prevenção da Síndrome de

Burnout, a nível individual,

passa, entre outras, por perío-

dos de férias frequentes, por

ter apoio social e dos colegas,

por ser otimista e flexível, por

realizar pausas no trabalho e

por viver sem excessivas preo-

cupações . Nada que não te-

nhamos no nosso dia a dia

(veja-se o exemplo paradigmá-

tico das férias a partir de 2015

e nos aumentos salariais para

a função pública).

Já a nível organizacional é

desejável proporcionar refor-

ços positivos, promover locais

de trabalho agradáveis, reco-

nhecer o trabalho realizado e

envolver os profissionais nas

tomadas de decisão bem como

encorajá-los a exprimir as

suas dificuldades.

A quem aproveita tudo isto?

Pois bem. Sabemos todos

quem nos “trata” da saúde.

Resta a pergunta. A quem

cabe cuidar da saúde dos tra-

balhadores da saúde?

EDITORIAL DO COORDENADOR

Nos últimos dias, os mass

media têm dado conta (alguns

da forma mais interesseira e

perversa) da crescente onda de

violência contra os Profissio-

nais de Saúde.

Segundo um documento da

DGS (Observatório Nacional

da Violência Contra os Profis-

sionais de Saúde no Local de

Trabalho) foi registado um

número record de situações de

violência (531) a qual repre-

sentou um acréscimo de 160%

relativamente ao ano anterior

e, segundo dados deste ano, a

situação tende a piorar.

Independentemente das cau-

sas a montante

(organizacionais, socio-

económicas, profissionais ou

pessoais, quer dos técnicos de

saúde quer dos utentes) a rea-

lidade existe e as repercussões

sobre cada um de nós afetam o

nosso bem estar e até as nos-

sas convicções (por exemplo,

vale a pena dar o nosso máxi-

mo quando o outro lado revela

incompreensão e ingratidão?)

Pois, existe sempre Fernando

Pessoa para nos dar a mão

com o “Vale sempre a pena...”

Estas notícias fizeram-me

lembrar de uma estudo condu-

zido na Finlândia, financiado

pelo Ministério de Assuntos

Sociais e Saúde, onde era

questionado como poderia ser

evitado o stress causado no

local de trabalho e os modos de

o controlar entre os profissio-

nais de saúde.

A realidade é esta: o Bur-

nout, descrito pela primeira

vez em 1974, existe e atinge

mais frequentemente aqueles

que, pela sua profissão, man-

têm uma relação direta ou

prolongada com pessoas. E

que, depois de um período

instável, acabam por sofrer

um grande desgaste profis-

sional.

Quais são as consequências

do Burnout? Esgotamento

emocional com o sentimento

de não conseguir dar mais de

si aos outros; Despersonali-

zação ou Desumanização com

afetação das relações inter-

pessoais e distanciação para

com os outros chegando ao

cinismo e ao humor negro e

Baixa Produtividade tradu-

zindo-se por respostas desa-

dequadas ao que é pedido

(frustração, fuga ao trabalho,

baixa rentabilidade).

Segundo o tal estudo, o qual

incluía perto de 8.000 partici-

pantes, as repercussões pode-

riam ser minimizadas com

terapia cognitivo-

comportamental e relaxa-

mento mental e físico e que a

modificação dos dias e horá-

rios de trabalho poderiam

coadjuvar a reduzir o stress.

E que, qualquer uma delas,

isolada ou associadamente,

contribuíria de forma ade-

quada e consistente para o

alívio do stress ocupacional,

de uma forma superior até à

de frequentar um curso de

análise teórica dos proble-

mas.

Estamos em perigo?

JANEIRO — MARÇO 2015 NÚMERO 3

BOLETIM INFORMATIVO Nº3

USF GLOBAL

Pontos de interesse especiais:

Estamos em Perigo?

Gravidez e vinculação

Sessão educativa: educação sexual

Doença de Crohn

Nesta edição:

Eventos científicos 10

Palavras de Mestre 11

Licínio Fialho

Page 2: NÚMERO 3 JANEIRO MARÇO 2015 BOLETIM INFORMATIVO Nº3 … · NÚMERO 3 JANEIRO — MARÇO 2015 BOLETIM INFORMATIVO Nº3 USF GLOBAL Pontos de interesse especiais: Estamos em Perigo?

Página 2

A promoção da saúde é mais do que uma

actividade é uma estratégia, bem definida,

que através de programas educacionais visa a

“melhoria dos estilos de vida individuais, influenci-

ando escolhas pessoais realizadas num contexto

social” (Frank-Stromborg, M et al: 1998). As ses-

sões de educação em saúde realizadas pelos en-

fermeiros visam influenciar de forma positiva o

comportamento dos indivíduos para evitar a doen-

ça.

Sendo que a gravidez é uma fase de mudança

em todo o sistema familiar, onde esta nova vida

se vai integrar esta deve ser encarada de forma

positiva de maneira a desenvolver-se com harmo-

nia, trazendo a todos a felicidade nela subjacente.

A presença do pai é de fundamental importância,

tanto na gestação como no nascimento do bebé,

auxiliando e tranquilizando a mãe (Artigo Pai Pre-

sente: Importância da Presença do Pai na Gesta-

ção e no Nascimento do seu Filho, 2012). Assim,

quando a participação do homem é efectiva na

gravidez e após o parto, criam-se situações de

bem-estar para todos os envolvidos no processo,

de modo a se estabelecerem relações mais iguali-

tárias (Artigo Sentir-se Pai: a vivência masculina

sob o olhar de género, 2007). Sendo assim, o pai

deve conhecer as modificações a que a sua com-

panheira esta sujeita, deve participar na escolha

do ginecologista e acompanhá-la nas consultas,

compartilhar a preparação necessária em casa,

tais como roupa do bebé e quarto.

Pode participar também nos exercícios de prepa-

ração para o parto, ajudá-la com massagens e

sentir com as suas mãos os movimentos do feto

(Artigo Sentir-se Pai: a vivência masculina sob o

olhar de género, 2007).

Enf. Luís Amaro

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

A mother's joy begins when new life is stirring inside… When a tiny heartbeat is heard for the very

first time, and a playful kick reminds her that she is never alone.

Unknown

GRAVIDEZ E VINCULAÇÃO

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Página 3

ENQUADRAMENTO

No âmbito do projeto de melhoria contínua da Uni-

dade Saúde Familiar Global da Nazaré foi realizada

uma sessão de educação para a saúde, no dia 16

de janeiro de 2015, relativa à sexualidade na ado-

lescência.

Teve como amostra 10 crianças com idades com-

preendidas entre os 8 e 10 anos de idade da Escola

Básica dos Raposos, pertencente ao Centro Escolar

da Nazaré.

A educação para a saúde e em particular a educa-

ção sexual têm merecido, ultimamente, particular

atenção por parte da sociedade portuguesa, uma

vez que a informação sobre a sexualidade é essen-

cial na educação para a saúde. Neste sentido, a le-

gislação existente visa criar condições favoráveis

entre as escolas, famílias e comunidade, para a sua

concretização. A Lei n.º 60/2009, de 6 de Agosto,

regulamentada pela portaria n.º 196-A/2010, de 9

de Abril vem estabelecer um conjunto de princípios

e regras da concretização da educação sexual em

meio escolar, desde o 1.º CEB até ao ensino secun-

dário, tendo como finalidades, entre outras, a valo-

rização da sexualidade e afectividade entre as pes-

soas no desenvolvimento individual, respeitando o

pluralismo das concepções existentes na sociedade

portuguesa, bem como a promoção da igualdade

entre os sexos.

Esta sessão visava que os alunos conseguissem

identificar as principais áreas de alterações que

ocorrem na adolescência; distinguir as principais

alterações físicas que ocorrem na adolescência nos

dois sexos; conhecer os princípios básicos da con-

cepção e identificar possíveis abordagens, realiza-

das por adultos, que possam comprometer a inte-

gridade física e psicológica.

De forma a avaliar a aquisição e consolidação de

conhecimentos foi aplicado um questionário inicial

às crianças e o mesmo questionário após a sessão

de educação.

O questionário era constituído por seis questões,

cinco de resposta fechada e uma de resposta aber-

ta.

Pergunta 1-Achas que o corpo das raparigas é

igual ao dos rapazes?;

Pergunta 2- Qual é a diferença mais importante

que existe no corpo das raparigas e dos rapazes?;

Pergunta 3- O órgão genital das raparigas é:;

Pergunta 4- O órgão genital dos rapazes é:;

Pergunta 5- Como se fazem os bebés? ;

Pergunta 6- O teu corpo está a mudar, sabes como

se chama esta nova etapa da tua vida?.

Todos os alunos mostraram um interesse notório

pelo tema e participaram ativamente durante a ses-

são de educação. Interviram partilhando experiên-

cias e colocando questões às formadoras.

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

SESSÃO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE

Continua na página seguinte

“Eu Sou o meu corpo”

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Página 4

APRESENTAÇÃO/ANÁLISE DOS RESULTADOS

Gráfico 1– Resultados do questionário inicial aplicado

Gráfico 2- Resultados do diagnóstico final aplicado

Continua na página seguinte

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

SESSÃO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE “Eu Sou o meu corpo”

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pergunta1

Pergunta2

Pergunta3

Pergunta4

Pergunta5

Pergunta6

me

ro d

e a

lun

os

Perguntas do questionário

Diagnóstico Inicial

Resposta correta

Resposta errado

Não respondeu

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

me

ro d

e a

lun

os

Perguntas do questionário

Diagnóstico Final

Resposta correta

Resposta errada

Não respondeu

Analisando os dados acima expostos verifica-se uma

melhoria significativa aquando a avaliação final. Na

pergunta 1 e 2 todos os alunos responderam acerta-

do em ambos os questionários, na pergunta 3, após

a sessão de educação, houve mais um aluno que

respondeu certo e na pergunta 4 não se verificaram

alterações, os mesmo alunos que responderam certo

no questionário inicial responderam no final.

Por outro lado a pergunta 5 foi onde se verificam os

melhores resultados, perante 3 respostas certas ini-

ciais e uma abstenção, no questionário final já 8 res-

ponderam acertadamente e apenas um absteve-se.

Por fim na última pergunta, enquanto que inicial-

mente apenas 5 responderam certo e 1 absteve-se,

no questionário final todos responderam, verificando

-se 8 respostas certas.

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Página 5

CONCLUSÃO

Tendo em conta os resultados obtidos é possível verificar uma melhoria significativa dos conhecimentos

adquiridos por parte dos alunos, após a sessão de educação realizada. Os objetivos preconizados foram

totalmente atingidos. De todos os resultados ressalvam-se dois que se consideram ser os mais importan-

tes, uma vez que foram as temáticas que os alunos apresentaram, inicialmente, menores conhecimentos.

Isto é, a maioria das crianças abrangidas conseguiu explicar de forma simples como se realiza conceção,

mostrando assim, aquisição de conhecimentos após a sessão de educação, bem como a maioria dos alu-

nos conseguiu igualmente identificar a puberdade como o período de transformações fisiológicas e bioló-

gicas em que eles se encontram.

Uma vez que se considerou esta sessão de educação sobre a sexualidade uma mais valia para aprendi-

zagem das crianças abrangidas, pretende-se que a mesma seja realizada em outras escolas com crianças

que frequentem 3º e 4º anos.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lei n.º 60/2009 de 6 de Agosto. Diário da República, 1.ª série, N.º 151.

Enf. Guida Cruz

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

SESSÃO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE “Eu Sou o meu corpo”

Afecto

Respeito

Companheirismo

Partilha

Amor

Amizade

Carinho

Confiança

...complete a sua lista

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Página 6

A doença de Crohn foi descrita pela 1ª vez em

1913 pelo escocês Dazliel e largamente reconheci-

da quando Burrill Crohn e dois colegas descreve-

ram vários casos em 1932. É uma doença intestinal

inflamatória crónica, que atinge mais frequente-

mente o íleon e o cólon, podendo atingir todo o

aparelho digestivo. Verifica-se nos últimos anos um

aumento do número de casos em Portugal, sobre-

tudo em pessoas mais jovens.

Internacionalmente existem várias associações

com o objectivo de apoiar estes doentes. Em Por-

tugal, a APDI – Associação Portuguesa da Doença

Inflamatória do Intestino disponibiliza vários tipos

de ajuda e divulgação de informação, sendo o dia

19 de Maio o dia Mundial da Doença Inflamatória

Intestinal (DII).

Esta doença tem uma alta incidência na Europa e

América do Norte, sendo rara noutros locais com

excepção de Israel, Austrália e África do Sul. É

mais frequente nas comunidades Judaicas e tem

maior prevalência nas áreas urbanas e classes so-

cioeconómicas mais altas. A relação entre homens

e mulheres é de 1.1 a 1.8:1, com picos de incidên-

cia entre os 15 e 30 anos e os 60 e 80 anos. O ris-

co é duplicado nos fumadores, existindo uma pro-

babilidade superior a 10% se um parente em pri-

meiro grau atingido e 36% se ambos os progenito-

res são doentes. O uso de contraceptivos orais au-

menta também em 1.4 a probabilidade de desen-

volver a doença.

A doença apresenta 58% de concordância em

gémeos homozigóticos e 4% para heterozigóticos.

Parece existir uma associação com Síndrome de

Turner, hipogamaglobulinémia, deficiência selecti-

va de IgA e angioedema hereditário.

É uma doença cuja causa continua desconhecida,

parecendo existir interacção entre factores genéti-

cos e ambientais. Actualmente considerada uma

resposta inapropriada à flora microbiana endógena

intestinal com ou sem componente de auto-

imunidade. Estão estudados genes predisponentes

como o CARD15 no cromossoma 16 e polimorfis-

mos em DLG5 e no receptor IL-23. Estudos associ-

am o desenvolvimento desta patologia a uma via

inflamatória emergente da predisposição genética

em que as células T CDA+ activadas na lâmina

própria secretam citocinas inflamatórias.

Pode ter etiologia infecciosa ainda não definida,

associada a espécies de Salmonella, Shigella,

Campylobacter e Clostridiumdifficile. Organismos

anaeróbios como Bacteroides, Clostridia e algumas

espécies de Escherichia podem estar também asso-

ciados à indução da inflamação.

Agentes que alteram a flora intestinal como Me-

tronidazol, Ciprofloxacina e dietas alimentares po-

dem promover a doença e factores psicossociais

contribuem para o seu agravamento.

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

Doença de Crohn

Continua na página seguinte

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Página 7

As manifestações clínicas são maioritariamente

Intestinais: Ileocolite em 90% dos casos

(Anorexia, Diarreia, Febre, Dor QID, Massa palpá-

vel, Leucocitose), Jejunoileíte em 30 a 40%

(Diarreia, Anemia megaloblástica, Coagulopatia,

Hipoalbuminémia, Hipocalcémia, Hipomagnesé-

mia), Colite em 15 a 25% (Mal-estar, Diarreia, Fe-

brícula, Dor abdominal tipo cólica, Obstrução intes-

tinal, Hematoquézia, Hemorragia macroscópica),

D.Perianal em 33% (Incontinência, Dilatações he-

morroidárias, Abcessos, Fístulas) e Gastrodueode-

nais (Náuseas, Vómitos, Dor epigástrica). A doença

de Crohn pode atingir também outros órgãos apre-

sentando manifestações associadas ao seu atingi-

mento: Dermatológicas (Eritema Nodoso , Psorí-

ase, Dermatose neutrofílica, Pioderma gangrenoso,

Piodermite e Piostomatite vegetante, Síndrome de

Sweet, DC metastática, Lesões mucosas orais),

Reumatológicas (Artrite periférica, Espondilite an-

quilosante

Osteoartropatia hipertrófica, Sacroileíte, Os-

teomielite pélvica/femoral, Policondrite recorren-

te), Oculares (Conjuntivite, Uveíte anterior,

Episclerite), Hepatobiliares (Hepatomegália, Estea-

tose hepática, Insuficiência hepática, Colelítiase),

Urológicas (Nefrolitíase, Obstrução ureteral, Fístu-

las), Ósseas/Metabólicas (< densidade óssea,

Fracturas, Osteonecrose), Tromboembólicas (Risco

de TVP e TEP, Vasculites) entre outras tais como:

Miocardite, Endocardite, Pleuropericardite, Doença

pulmonar obstrutiva, Pancreatite e Amiloidose se-

cundária.

Para o diagnóstico diferencial devem ponderar-se

doenças infecciosas, inflamatórias, neoplásicas,

bem como manifestações medicamentosas e subs-

tâncias químicas.

O principal diagnóstico diferencial faz-se com a

colite ulcerosa. Neste ponto deve ter-se em conta

que as manifestações da Doença de Crohn depen-

dem da área acometida, podendo levar a qualquer

sintoma associados ao facto de como anteriormen-

te referido poder atingir qualquer parte do TGI,

sendo que o atingimento extra-intestinal atinge

apenas 25 a 35% dos doentes. Pode apresentar

febre e um início precoce é pouco frequente (< 2

anos). Já no caso da Colite Ulcerosa as manifesta-

ções extra-intestinais podem preceder as referen-

tes ao TGI, sendo a Hepatite auto-imune e Colan-

gite esclerosante as mais comuns. Verificando-se

Eritema Nodoso em 2% dos atingidos.

O diagnóstico da doença é feito através de exa-

mes complementares de diagnóstico. O estudo

analítico que pode revelar leucocitose, PCR e VS

aumentadas, Hipoalbuminemia e/ou Anemia. Exa-

mes radiológicos, TC abdominal, RM abdominal e

enterografiaTC podem ser importantes sobretudo

para avaliar atingimento extra TGI.

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

Doença de Crohn (cont.)

Continua na página seguinte

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Página 8

Os Marcadores Serológicos característicos são os

Anticorpos citomplasmáticos antineutrofílicos pe-

rinucleares (pANCA) presentes em 5 a 10% dos

casos, os Anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae

(ASCA) em 60 a 70% dos casos, sendo que cerca

de 55% dos doentes são soropositivos para a pori-

na C (Omp C+) e 50 a 54% positivos em relação

ao anticorpo para I2 (I2+). A Flagelina de Cbirl

(anti-Cbril+) pode estar também presente. A colo-

noscopia é o exame de excelência, pois permite a

visualização directa de ulcerações aftosas e fístulas

entre áreas normais, fazer biópsias de lesões, in-

clusive do íleon e inspeccionar defeitos de enchi-

mento, bem como proceder a dilatação de estreita-

mentos com introdução de balão.

A endoscopia permite verificar a presença de do-

ença gastroduodenal e a endoscopia com cápsula

sem fio (WCE) a visualização directa de todo o in-

testino delgado, com a limitação de não poder ser

utilizada na hipótese de estenose.

As principais complicações da D. de Crohn são

má absorção, obstrução intestinal (40%), abcessos

intra-abdominais e pélvicos (10 a 30%), fístulas,

perfuração (1 a 2%), peritonite, hemorragia maci-

ça e doença perianal grave.

Existe uma escala que permite através de calculo

de vários itens perceber se a doença se encontra

em actividade ou não, denominada CDAI Calculator

-Crohn'sDiseaseActivityIndex (CDAI) calculator,

com possibilidade de calculo online através do link:

http://www.ibdjohn.com/cdai/, quando CDAI >

220 significa que a doença se encontra activa.

Ao alcance dos médicos de família para terapêu-

tica de situações agudas estão os antibióticos co-

mo Metronidazol que pode ser necessário durante

vários meses, na dose de 15 a 20mg/Kg/dia (3 do-

ses) e a Ciprofloxacina na dose 500mg 2 xs/dia,

utilizados sobretudo na terapêutica das fistulas pe-

rianais.

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

Doença de Crohn (cont.)

Continua na página seguinte

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Página 9

As terapias nutricionais são também extrema-

mente importantes e de fácil utilização. Importante

referir que os doentes respondem ao repouso in-

testinal e a nutrição parenteral total (NPT) e que

estas terapias são consideradas tão eficazes na

indução da remoção de doença activa como os gli-

cocorticóides, mas não tão efectivos na terapia de

manutenção.

Em relação à gravidez é importante referir que

estas doentes apresentam taxas de fertilidade nor-

mais. No entanto verificam-se um maior número

de casos de fibrose uterina, sobretudo lado direito,

dispareunia provocada pelos abcessos e fístulas

perirretais, periniais e rectovaginais, abortos es-

pontâneos, nados mortos e defeitos de desenvolvi-

mento de agravamento com a actividade da doen-

ça.Considera-se que o ideal seria uma remissão de

6 meses antes da concepção e escolher a cesaria-

na como método preferencial para o parto. Em re-

lação às terapêuticas utilizadas nestes doentes sa-

be-se que a Sulfassalazina (que deve ser acompa-

nhada de suplemento de folato), mesalamina, bal-

salazida e agentes 5-ASA tópicos são seguros du-

rante a gestação e amamentação. Os Glucocorti-

cóides em geral também seguros (utilizados em

casos de actividade moderada a grave). De desta-

car que os AB mais seguros utilizados apenas por

curto período são a ampicilina e cefalosporina e

que o Metronidazol deve ser apenas ponderado no

2º e 3º trimestre de gravidez.

Nos doentes com D. de Crohn há uma maior pre-

ocupação em relação ao risco de neoplasia. Acon-

tece mais frequentemente em casos de doença

extensa e de longa duração, Bypass e estenoses

cólon, bem como nos casos em que há história fa-

miliar de neoplasia do cólon.

É importante destacar que 22% desenvolvem

displasia ou neoplasia a partir do 4º ECD de vigi-

lância e que existe também um risco aumentado

de Linfoma não-Hodgkin, leucemia e síndromes

mielodisplásicas A doença perianal grave, crónica e

complicada está também associada a maior risco e

o risco absoluto de Adenocarcinoma do intestino

delgado é de 2.2% aos 25 anos.

A determinação da qualidade de vida desempe-

nha um papel importante na avaliação e tratamen-

to. Pode ser uma patologia muito debilitante e na

maioria dos casos é controlada pela terapêutica

clínica e cirúrgica.

As principais preocupações são a necessidade de

bolsa de ostomia, o surgimento de neoplasia, os

efeitos da terapêutica e a avaliação das necessida-

des cirúrgicas.

A Mortalidade é de 15% em 30 anos com a do-

ença.

Raquel Osório

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

Doença de Crohn (cont.)

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Página 10

EVENTOS CIENTÍFICOS 2015

Evento Científico DATA Local/Organização

32º Encontro Nacional - Associação Portuguesa

de Medicina Geral e Familiar 5 a 7 de Março Centro de Congressos do Estoril,

VI Jornadas de Fatores de Risco e Orientações

em Cuidados de Saúde Primários 19 a 20 de Março Porto

11º Encontro de Saúde Ocupacional em Hospi-

tais e outros Estabelecimentos de Saúde -

"Exposição a radiações ionizantes em profissio-

nais de saúde"

11 de Abril Carcavelos

XIII Jornadas de Urologia do CH Médio Tejo

para MGF 17 e 18 de Abril Tomar

IV Curso de Geriatria e Gerontologia 17 e 18 de Abril Monte de Caparica, Almada

XIV Simpósio - Sociedade Portuguesa de Suici-

dologia - "Suicídio e comportamentos autolesi-

vos: Novas perspetivas"

17 e 18 de Abril Hotel Villa Batalha

2º Encontro de Primavera da Associação Portu-

guesa de Grupos Balint 18 de Abril ICBAS, Porto

VI Congresso Internacional de Psicologia da

Criança e do Adolescente 22 e 23 de Abril Universidade Lusíada de Lisboa

Seminário—Educação de Adultos e Métodos

inovadores de Intervenção 6 de Maio Universidade do Minho, Braga

XIV Congresso de Nutrição e Alimentação 21 a 22 de Maio Centro de Congressos de Lisboa

IV Congresso da Ordem dos Enfermeiros 10 a 12 de Maio Centro de Congressos de Lisboa

19th International Association for Adolescent

Health European Meeting 24 a 26 de Junho

Faculdade de Medicina da Universidade

de Lisboa

9ª Conferência Internacional sobre a Vida Noc-

turna, Uso de Substâncias e Questões de Saúde

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17 e 19 de Julho Ordem dos Médicos no Porto

BOLETIM INFORMATIVO USF GLOBAL Nº3

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Colaboradores nesta Edição: Guida Cruz, Luís

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