nomenclatura tipográfica

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ALEXANDRE MOTA DA SILVA Nomenclatura

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Discussão acerca da nomenclatura usada em Tipografia. Prof. Alexandre Mota.

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Page 1: Nomenclatura tipográfica

ALEXANDRE MOTA DA SILVA

Nomenclatura

Page 2: Nomenclatura tipográfica

4.3 - NOMENCLATURA E PARTES DO TIPO

Para entender e apreciar as diferenças entre desenhos de

letras é necessário se familiarizar com a nomenclatura que

identifica e diferencia o desenho tipográfico. Na sua relação

com o símbolo fonético cada sinal possui uma estrutura

obrigatória. Uma estrutura básica que faz daquele símbolo

tipográfico reconhecível como uma letra A ou W. Mas apesar

desta imposição convencionalmente estabelecida, cada

família de letra possui qualidades inerentes que a

caracterizam. Estas qualidades surgem nas características das

partes constituintes de uma letra.

Cada estilo de letra é único e universal ao mesmo tempo.

Através das suas semelhanças com uma estru t u r a

convencionamente estipulada ela adquire legibilidade e com

as suas diferenças adquire um estilo próprio que lhe confere

identidade. A mesma característica pode ser encontrada no

corpo humano, onde podemos dizer que todos os humanos

são iguais (ou grande parte deles), mas as características

pessoais de cada pessoa criam as diferenças. Destas diferenças

surgem a personalidade de cada um.

A seguir descreveremos um glossário de nomenclaturas

que serão tratadas nesta dissertação. Este procedimento faz-se

necessário visto a especificidade dos termos que a área possui.

58ALEXANDRE MOTA DA SILVA

Desenho de Geofroy Tory’s sobre a relação entre o desenhode suas capitulares e o corpo humano, impresso no seulivro: Champ Fleury, 1527.Fonte: Fonte Reference Guide

Page 3: Nomenclatura tipográfica

59ALEXANDRE MOTA DA SILVA

OLHO DAL E T R A

LINHA BA S E

C O R P O

4.3.1 Glossário

Tamanho de corpo *

Descreve a altura do espaço no qual uma letra é impressa.

O corpo de letra inclui o espaço em branco que se refere à

altura dos ascendentes e o espaço dos descendentes.

Linha Base *

Uma linha imaginária onde a base dos caracteres sem

descendentes se alinham.

x-altura

Distância da linha base até a altura de x. No desenho deuma família de letra influencia o peso de uma massa de texto.

A relação da altura de x com as ascendentes e descendentes éum dos fatores que determinam a boa legibilidade de uma letra.

Serifa *

São os elementos identificadores mais característicos emum desenho tipográfico. São as terminações das hastes quepossuem prolongamentos pela linha base.

Ascendente

Parte do caracter que está acima da altura de X e abaixo

do topo das letras.

Linha dos ascendentes

A linha imaginária onde se alinham o topo das letras que

possuem ascendentes.

Altura do ascendente

A distância entre o topo da x-altura e os topos dos

caracteres com ascendentes como b, d, f, e k.

Didones

Fonte Didothamburguers

hamburguers

hamburguers

Mecanizados

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

hamburguers

* DESENHO DAS SERIFAS SEGUNDO A ASSOCIATION TYPOGRAPHIQUE INTERNATIONALE

Humanistas

Fonte Centaur

Fonte Garamond

Fonte Baskerville

hamburguers

hamburguers

hamburguers

Garaldos

hamburguers

hamburguers

hamburguers

Transicionais

hamburguers

hamburguers

hamburguershamburguers

hamburguers

hamburguers

Page 4: Nomenclatura tipográfica

Descendente

Parte do caracter que está abaixo da linha base.

Profundidade do descendentes

A distancia entre a linha base e a base dos caracteres com

descendentes como g, j, p e y.

Altura das maiúsculas

Altura da linha imaginária, medida a partir da linha base,

de alinhamento superior das letras maiúsculas

Hastes ou fuste

São as linhas verticais ou oblíguas de um caracter.

Barras

São as linhas horizontais que fazem as conexões das hastes

no desenho de uma letra.

Terminal *

São as formas em semi-círculo encontradas no final das

letras. Podemos encontrar terminais em letras como o a, c, f,

r e o y. Possuem várias formas como bola, bico ou lágrima.

Eixo *

É o ângulo de inclinação de uma letra. O eixo inclinado é

uma característica das letras desenhadas no Renascimento

onde as influências humanistas são evidentes. O eixo

inclinado surge com o trabalho da pena dos escribas e não

devem ser confundidos com as letras itálicas. Estas podem ter

o eixo central e serem itálicas.

60ALEXANDRE MOTA DA SILVA

* EXEMPLOS DE TERMINAIS DA LETRA “A”

Terminal humanista típica da Renascença

Terminal em formato lágrima, possui nuancesmais curvas do que a anterior

Os tipos estilo Bodoni inauguram o eixo verticale os terminais em formato de bola.

Terminal em formato bico.

* EXEMPLOS DE EIXOS

Eixo humanista com grande inclinação para olado esquerdo, típico da Renascença. A posiçãoda mão do calígrafo na escrita pode serconsiderada uma influência para este eixo

Eixo inclinado para a esquerda. Diferente daanterior pelo ângulo. Ese tipo possui umacurvatura mais amena.

Eixo central característico dos tiposinfluenciados por Bodoni e Didot.

Eixo central.

Ausência de eixo. Característico dos tiposgeométricos do século XX.

Eixo duplo. A letra possui dois tipos deangulação diferentes.

Page 5: Nomenclatura tipográfica

Oco

Espaço interno de algumas letras. Podendo ser fechado,

como no O, ou aberto. Como no H.

Ápice

O ponto onde duas linhas diagonais se encontram,

podendo ser no topo da letra como no A ou não como no M.

Braço

Uma haste na diagonal para cima. Como na letra K.

Perna

Uma haste diagonal que se estende para baixo.

Abertura *

Característica da abertura da letra

Loop *

Desenho da descendente da letra G minúscula que é

completamente fechada.

Ombro *

A parte curva de um traço que faz a conexão entre as

hastes. Característico na letra n.

Espinha *

A porção diagonal da letra S.

Orelha *

Característico na letra g, prolongamento lateral da letra.

61ALEXANDRE MOTA DA SILVA

* EXEMPLOS DE ABERTURAS E EIXOS

* EXEMPLOS DE ORELHA, OMBRO E ESPINHA

Eixo central com pequena abertura

Eixo inclinado com grande abertura

gOrelha

Loop

nOmbro sEspinha

Page 6: Nomenclatura tipográfica

Largura do caracter *

A largura total de um caracter inclui os espaços laterais

que existem sem o ajuste de kerning.

Tracking *

Ajuste feito com espaçamentos matematicamente iguais

em blocos de texto ou grupos de palavras. Ti p o l o g i a s

monoespaçadas possuem o mesmo espaçamento para todas as

letras, seja um I ou um W.

Kern *

Ajustes nos espaços que existem entre as letras. O ajuste

de kerning é feito entre pares de letras específicas para uma

compensação ótica das diferenças entre os pares de letras.

Conexão

Faz a conexão entre as partes das letras

Espora

Pequena projeção lateral no desenho das letras.

Encontrada, em alguns casos, na letra T ou G.

Bico

Terminação vertical ou oblígua encontrada no final das

barras.

Barriga ou Pança

As partes curvas das letras. como no b e d.

Cabeça ou Ápice

parte superior das letras.

62ALEXANDRE MOTA DA SILVA

* LARGURA DAS LETRAS, ESPAÇAMENTO E KERNING

LARGURA DAS LETRAS

SEM KERNING

A largura de uma letra leva em consideração os espaços embranco que estão à sua volta. Para se perceber a forma dasletras é necessário pensar nas contraformas

iaw ff

O ajuste de kerning faz uma compensação ótica entre pares deletras com o objetivo de conseguir equilíbrio ótico, e nãomatemático.

A T i p ogra f i aA T i p ogra f i a

COM KERNING

Page 7: Nomenclatura tipográfica

Base ou Pé

Parte inferior das letras.

Montante ou Trave

Partes inclinadas das letras.

Tipologia

O termo origina-se da combinação dos termos gregos

Typos e logos, tratado. De um modo geral refere-se ao estudo,

descrição e classificação das manifestações típicas de um

fenômeno. Na área gráfica entende-se por tipologia,

primeiramente, o estudo dos diversos caracteres tipográficos,

quanto a sua forma, criação, desenvolvimento, evolução

histórica, utilização e aplicação, para então determ i n a r

classificações de categorias em que se encontram. Por

exemplo, este trabalho pretende entender a tipologia no uso

de caracteres atualmente. Mas também é corrente o uso do

termo como sinônimo de família de letra, representando um

conjunto de letras selecionados para desenvolver um

trabalho gráfico. A Helvetica, por exemplo, é uma fonte de

letra, uma tipologia e uma família de letras.

Famílias de letras

Dentro de uma família de letras os caracteres tem uma

dupla relação com a forma. Uma relação que está entre a

semelhança e a diferença. As letras do alfabeto devem

formar, individualmente, um rico conjunto de contrastes

estruturais para que sejam identificáveis, e ao mesmo tempo

não perder a semelhança umas com as outras. A espessura dos

traços, a largura dos espaços internos, o desenho das serifas,

as linhas de conexão, estes entre outros, são elementos

63ALEXANDRE MOTA DA SILVA

A beleza de uma letra não estáinicialmente na forma isolada, mas na

combinação dos sinais. As páginas maisbelas de um texto são aquelas em que asletras compõem uma unidade em perfeita

harmonia.(Frutiger:1928, 142)

Page 8: Nomenclatura tipográfica

64ALEXANDRE MOTA DA SILVA

Set de caracteres da fonteUnivers. Desenhada por AdrianFrutiger. O Set originalmentepossuía 21 variações de peso, largura e orientação.

identificadores de uma família. No desenho de um alfabeto,

o grau de parentesco entre as letras deve ser bem definido. A

partir dessa uniformidade é possível uma conexão entre os

sinais e identificar o estilo daquele desenho tipográfico.

O conceito de família tipográficas apareceu por volta de

1900 com o catálogo organizado por Morris Fuller Benton

(1872-1948) encomendado por uma empresa de

desenvolvimento e comercialização de tipos móveis. Para

organizar o acervo, Benton reuniu entre o material da

e m p resa tipos que possuíam características semelhantes,

apesar das diferenças de peso e proporção. Desta forma, ele

eliminou a sobreposição de tipos semelhantes e categorizou o

material, criando o conceito de família tipográfica como o

conjunto completo de caracteres, que mantém as

Page 9: Nomenclatura tipográfica

características específicas individuais de cada letra mas, ao

mesmo tempo, elementos que as identificam segundo a

orientação de um estilo próprio. Atualmente alguns tipos de

letra, como a helvetica, chegam a ter mais de 50 variações. A

Família TheSans possui 283 menbros na sua família.

Dentro de uma família os tipos são designados como bold,

extra-bold, condensed etc. Adrian Frutiger, no final dos anos

50, procurou normatizar a designação dos tipos de letras

criando um sistema de numeração de 2 dígitos que traz as

características daquela variação da família. O primeiro dígito,

que vai de 3 a 8, refere-se ao peso, ultra-light até extra-bold.

O segundo dígito denota a largura, extendido até

condensado. O segundo número indica, também, a versão

italizada da letra, numeros ímpares são as versões normal,

números pares as versões italizadas.

Medidas de tipos

Medidas como a altura e corpo de um tipo foram

arbitrárias e variáveis entre fundidores até a proposição, por

P i e rre Simon Fournier (1712-1768), de um sistema baseado

em uma escala de pontos tipográficos. Essa escala foi

c o n s t ruída a partir do cícero, corpo com o qual foram

compostas Epistolae ad familiare s ( C a rtas aos familiares), de

C í c e ro. Pouco tempo depois François Ambroise Didot

(1730—1804) aperfeiçoou o sistema de Pierre Simon

F o u rn i e r, relacionando-o com o p i e d - d e - ro i, que era a

medida então vigente na França. Mede-se o corpo do tipo

p a rtindo-se da extremidade superior do ascendente de uma

letra até a extremidade inferior do descendente

No Brasil a unidade tipométrica básica é o ponto que

equivale a 0,375 do sistema Didot.

65ALEXANDRE MOTA DA SILVA

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃOTIPOGRÁFICA DE ADRIANFRUTIGER

Page 10: Nomenclatura tipográfica

66ALEXANDRE MOTA DA SILVA

4.3.2 - Anatomia do tipo

Page 11: Nomenclatura tipográfica

LEGIBILIDADE E ILEGIBILIDADE

Para Nadeau* a legibilidade de um texto tem a ver com a

tradição. Ele estabelece duas margens para a escrita: de um

lado a cultural, arraigada, conhecida e estabelecida, que é a

legível. A legibilidade de um texto tem a ver com seu fácil

consumo. O maior consumo de uma obra depende da sua

maior legilidade e da apreensão dos sentidos denotados, isto

é, da sua fácil absorção. 1 O texto legível busca diminuir a

distância entre a escrita e a leitura.

E do outro a escrita ilegível que é a perda da linguagem, o

experimentalismo, o novo. A ilegibilidade de um texto

incomoda pela sua falta de significados fáceis. Em um texto

“ilegível”os sentidos se expandem, a busca não é por

significados, mas por significantes infinitos; é um trabalho de

associações e referências. O texto é extremamente simbólico,

é plural, desprovido de filiação. A metáfora do texto ilegível

é a da rede, combinatória que se desdobra e se estabelece nas

relações.

A necessidade de diminuir o intervalo entre o

acontecimento e a informação, a velocidade de produção e a

necessidade de difusão levou o desenho tipográfico das

grandes mídias à uniformidade. Podemos perceber o uso

ostensivo de tipos de desenho básico em mídias de massa

onde a legibilidade é imprescindível. Um desenho tipográfico

tratado como produto para consumo onde sua estrutura

indica uma sensação de conforto, com o mínimo de

resistência e máximo de velocidade de leitura.

E quando se fala em legibilidade é possível dizer que existe

um tipo referencial no desenho das letras que está fixada no

subconsciente do leitor. Esta forma esta gravada no

67ALEXANDRE MOTA DA SILVA

...legibilidade como uma arte de síntese espacial.Sendo uma arte, ela não é absoluta. A

informação resultante da pesquisa delegibilidade deve, portanto, ser considerada

apenas como um guia. O conhecimento que osdesigners têm de legibilidade está baseado num

legado da história da tipografia e hábilpercepção do mundo vesível. Esse conhecimentoevoluirá continuamente, criando novos padrões

para facilidade de leitura e tupografia funcional Carter, Day & Meggs, apud Gruszynski

Page 12: Nomenclatura tipográfica

subconsciente como referência visual pela simples razão de

que a maior parte do seu conhecimento foi assimilado a partir

destas referências, e este padrão é o que oferece maior

conforto de leitura e legibilidade. Como já foi discutido

anteriormente é um padrão mutável, pois como cultura,

sistema e tecnologia a tipografia está passando por uma

transformação drástica.

68ALEXANDRE MOTA DA SILVA