nosso campus #16 - dezembro/janeiro 2015

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NOSSO Informativo mensal do Câmpus Salvador campus Dez/Jan 2014 Ano 3 N° 16 A robótica como instrumento educacional Estudantes criam empresa júnior Família ganha novas formas e conceitos

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Informativo mensal do IFBA Câmpus Salvador

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NOSSOInformativo mensal do Câmpus Salvador

campusDez/Jan 2014 Ano 3 N° 16

A robóticacomo instrumento

educacional

Estudantes criamempresa júnior

Família ganhanovas formas

e conceitos

2 Dezembro/Janeiro 2014

Cultura da paz: do individual ao coletivo

Com a palavra...

Reitor do IFBA Renato da Anunciação Filho, Diretor Geral do Câmpus Salvador Albertino Nascimento, Chefe da Divisão de Comunicação, jornalista responsável e revisora Andréa Costa - DRT-BA 1962, Reportagem Gabriela Cirqueira, Mauritânia Fernandes e Verusa Pinho, Projeto gráfico Gustavo Pontas, Diagramação Lilian Caldas, Apoio administrativo Valdinice Alcântara, Impressão Grasb | Periodicidade Mensal, Tiragem 1.000 exemplares, Circulação Câmpus Salvador e Reitoria | Endereço Rua Emídio dos Santos, s/n, Barbalho - Salvador/BA, CEP: 40301-015 | Telefone (71) 2102-9509 | Facebook IFBA_Salvador_Oficial | Site www.ifba.edu.br | E-mail [email protected]

A contemporaneidade despon-tou no século XXI com um conjunto ex-traordinário de fenômenos sociais. O advento da globalização, que facultou a comunicação via internet, por meio de poderosas redes de comunicação de massa, contribuiu para a aglutina-ção das culturas espalhadas por todo o globo terrestre. Em tempo real, é pos-sível conversar com pessoas de vários pontos do planeta e trocar experiên-cias antes inimagináveis. De um lado, isso contribuiu para facilitar as relações sociais entre as pessoas, aproximando-as de diferentes e inumeráveis formas, como uma espécie de caleidoscópio colorido, em que a tela do computador se transformou num produto atrativo.

De fato, comunicar é preciso! No entanto, a produção e o consumo de aparelhos celulares assumiram níveis tão elevados que já não basta a pro-priedade de um, mas de vários e com diferentes chips. O consumismo desen-freado, “deus” do capitalismo brutal, tornou-se o boom de um tempo em que não se tem tempo para desfrutar do tempo livre de ser. A globalização influenciou essa mudança, no sentido de que as relações humanas, talvez, tenham se caracterizado mais pela busca de respostas imediatistas, dian-te de alguma nova questão planetária ou emergencial, que pela sabedoria, a qual requer relativa dose de paciência.

Parece que a vida ficou mais prá-tica, porque mais rápidas se tornaram as alternativas de resolução de proble-mas. Entretanto, no complexo tecido da condição humana, demarcado pela diversidade em múltiplos aspectos, podemos constatar a presença de um fenômeno mundial, que instiga a inteli-gência a adotar medidas, senão de er-radicação, pelo menos, de contenção:

Recordemos, portanto, que o movimento “Cultura da Paz” foi inicia-do em 1999, pela Unesco, com o obje-tivo de prevenir situações ameaçado-ras, “como o desrespeito aos direitos humanos, a discriminação, intolerân-cia, exclusão social, pobreza extrema e degradação ambiental”. O texto da Organização associa a cultura da paz à resolução de conflitos, por meio da não violência, utilizando-se a educa-ção, a conscientização e a prevenção, com base nos princípios da tolerância, da solidariedade, do direito à vida, à pluralidade e aos direitos individuais.

Nessa concepção, o estado de paz ultrapassa a fronteira do particular e ingressa nos campos político e jurídi-co, fazendo-se necessária sua garantia constitucional. O fenômeno da violên-cia requer atuação individual e coletiva para a sua desconstrução. Urge cons-truirmos uma cultura voltada para o exercício de sociabilidades, em que a paz seja institucionalizada. Uma cultu-ra possível: a cultura da paz. Sem recu-sar a complexidade de ser humano e os desafios de lidar com as diferenças, a construção da cultura da paz depen-de de esforço conjunto para um diá-logo sensível e responsável sobre um direito universal: o de viver em paz!

Celiana Maria dos SantosPedagoga

a violência. A violência figura entre os mais elevados índices de intolerância da convivência social. Seja por meio do discurso ou da agressão física, da violação de direitos ou de crimes co-metidos contra a pessoa, a violência protagoniza as manchetes de jornais, ao ponto de, hoje, integrar programas promovidos pela Organização das Na-ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“Urge construirmos uma cultura voltada

para o exercício de sociabilidades, em que a paz seja

institucionalizada”

Envie o seu artigo, de 30 a 40 linhas, ou sugestão de pauta para [email protected], com nome completo, curso ou setor, além de contatos telefônicos. Serão desconsideradas as produções de caráter político-partidário e/ou religioso, bem como conteúdos preconceituosos e depreciativos a grupos e/ou pessoas.

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Canal do Estudante

Jovens empreendedores Prevista para ser inaugurada

no primeiro semestre de 2015, a Adminova é a empresa júnior fruto do bacharelado de administração do Câmpus Salvador do IFBA. Com o objetivo de prestar serviços de consultoria, planejamento e gestão, bem como desenvolver projetos para instituições públicas, privadas e organizações não governamentais, a empresa pretende, ainda, fomentar o ensino prático da administração.

De acordo com o professor e idealizador da Adminova, André Souza, o projeto está em fase de formação, o que abre espaço para estudantes interessados participa-rem. “Os alunos têm visitado outras empresas para entender o funciona-mento e a dinâmica das atividades, como controle financeiro, plano de negócios, captação de recursos, den-tre outros. Estamos elaborando o estatuto e definindo cargos. Nosso maior foco são as pequenas empre-sas e instituições sem fins lucrativos, que demandam atividades de con-sultoria. Iniciaremos nossas ativida-des com instituições do entorno do câmpus e organizações não governa-mentais que têm carências nas áreas

de gestão e captação de recursos”, ressalta André.

O estudante do 5º semestre do bacharelado de administração e pre-sidente do diretório acadêmico, Fá-bio Neves, pretende usar as ativida-des da empresa júnior como auxílio em seu estágio na Divisão de Com-pras do câmpus e na sua formação acadêmica. “Mesmo antes de iniciar seu funcionamento, a Adminova já vem contribuindo para a nossa percepção prática na constituição das atividades empresariais, com um alinhamento entre os aspectos teóricos estudados nas disciplinas”.

Além de favorecer a troca de conhecimentos e experiências en-tre alunos e professores, a empresa júnior possibilitará o aprofundamen-to para o exercício da profissão. “O grande desafio em nossa estrutura será permitir ao aluno do curso de administração conciliar suas ativi-dades profissionais com o trabalho na empresa. O projeto não prevê uma remuneração financeira, mas um conjunto de atividades para ca-pacitação que os preparem para o mundo do trabalho, a partir de uma vivência prática”, destaca André.

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“Ensino automatizado”Projeto traz a robótica para o cotidiano escolar

Área de pesquisa relativa-mente nova, mas em constante crescimento, a robótica vem sendo utilizada, principalmente, em indústrias, como as automobi-lísticas. No campo da educação, tem se tornado uma importante ferramenta para o ensino, ao possibilitar situações de aprendi-zagem que estimulam desde a resolução de problemas e do trabalho em equipe à interdis-ciplinaridade, criatividade e cons-trução de conhecimentos.

Nesse contexto, o Grupo de Pesquisa em Sistema de Automa-ção e Mecatrônica (GSAM), do Câmpus Salvador do IFBA, desen-volve projetos na área de robótica educacional, além de participar e promover eventos, como olim-píadas e torneios, com o objetivo de desenvolver habilidades e des-pertar o interesse dos alunos pela ciência, com ênfase na tecnologia.

Dentre os trabalhos reali-zados, destaca-se o projeto de extensão “A robótica como ferra-menta educacional para o ensino de tecnologia”, aprovado pelo edital da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) nº 2/2013. Utilizando a ro-bótica como ferramenta didática no ensino fundamental e médio, o grupo já desenvolveu a oficina “Como funciona um robô?”, na XVI Semana de Física da Universi-dade Estadual de Feira de Santa-na (UEFS) e no Colégio Estadual Thales de Azevedo, em Salvador, no ano passado, além da palestra “A utilização da robótica no ensi-

no-aprendizagem de física”, que integrou a programação da XVII Semana de Física da UEFS, neste ano.

De acordo com a professora Andrea Bitencourt, coordenadora do grupo, por meio de projetos de pesquisa e extensão, o GSAM elabora novas perspectivas para diversas áreas da automação, so-bretudo a robótica. “Desde 2011, desenvolvemos estudos de mo-delagem e simulação, controle de processos, automação - incluindo a residencial -, projetos de sis-temas mecatrônicos e robótica educacional, com iniciativas que abarcam energias renováveis e tecnologias assistivas. Com gran-de demanda de profissionais, por conta da crescente diversidade de indústrias do Complexo Industrial de Camaçari, em especial, as de integração de manufatura, como montadoras de automóveis e suas fornecedoras de insumos e aces-sórios, a robótica contribui com o aperfeiçoamento das habilidades teóricas e práticas dos alunos para atuação no mundo do trabalho”, sinaliza.

Revelando talentosSegundo o ex-bolsista do

grupo e atualmente estudante do curso de engenharia elétri-ca na Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Aguiar, que foi premiado no VII Congresso Nor-te-Nordeste de Pesquisa e Ino-vação (Connepi), em 2012, com

o trabalho “Desenvolvimento de efetuadores para robô manipula-dor didático”, escolhido como o melhor da área de engenharia, o ambiente que o GSAM proporcio-na atrai e motiva os alunos. “Ter seu trabalho reconhecido é extre-mamente gratificante e elemento motivador para a continuidade dos projetos”, declara.

A criação de dispositivos ro-bóticos já superou o limite da sala de aula, levando diversos estudantes a competições em todo o país, como a Olimpía-da Brasileira de Robótica (OBR), destinada a crianças e jovens do ensino fundamental, médio ou técnico, de até 19 anos de idade, que pretende estimular carreiras científico-tecnológicas e identi-ficar novos talentos. É o caso do aluno do 4º ano do curso técnico de automação industrial Douglas Ramos, que competiu com jo-

Douglas Ramos, integrante do

GSAM, foi finalista nacional na OBR

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vens de todo o Brasil, neste ano, ganhando medalha de bronze, na modalidade teórica de nível cinco (para alunos do ensino médio ou técnico), e, ano passado, também recebeu premiação em nível na-cional, quando teve a oportunida-de de fazer um minicurso de robó-tica, que aconteceu na cidade de Fortaleza, no Ceará.

“A participação em eventos como a OBR possibilita um con-tato direto com o mundo da ro-bótica, o que é de imensa valia para a formação dos estudantes, já que meu curso se relaciona di-retamente com essa área. À medi-da que a robótica e a automação avançam, com suas novas técnicas e tecnologias, tais como os robôs, ambas se beneficiam, crescendo juntas, em ritmo exponencial”, destaca. Segundo Douglas, a pre-paração para a olimpíada requer um estudo plural. “Para a prova teórica, na primeira fase, estudei principalmente matemática, física e os fundamentos elementares da robótica, com foco na interdisci-plinaridade entre essas áreas. A

O projeto “Casa automati-zada”, de autoria das estudantes do 2º ano de automação indus-trial e integrantes do GSAM, Ana Carolina Silva, Lara Pinheiro, La-rissa Assis, Hosana Lima e Vivian Barcelos, conquistou o 3º lugar, no 5º Encontro de Jovens Cien-tistas (EJC), evento realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 30 de setembro a 3 de outubro deste ano. O trabalho havia sido aprovado na categoria

“Gabinete de curiosidades cien-tíficas (experimentos)”, ao lado do “Robô seguidor de linha”, de autoria dos alunos Gabriel Julião, Caléo Meneses e Márcio Almei-da. Ambos foram orientados pe-los docentes Andrea Bitencourt e Justino Medeiros. Cerca de 500 pessoas, dentre estudantes, pro-fessores orientadores e ouvintes de instituições públicas e priva-das de todo o país participaram no evento.

Premiação

Torneios de Robótica

fase final consistiu na construção e programação de um robô. Para isso, contei com o minicurso ofe-recido pelo evento e, primordial-mente, com os conhecimentos do

GSAM, do qual sou membro”. Ao lado dos colegas Beatriz

Cerqueira, Caléo Meneses, Frank Smera, Hugo Thomás Mendes, Lorenna Vilas Boas, Márcio Viní-cius Almeida e Nathália Martins, integrantes do grupo, Douglas participou da etapa regional da modalidade prática da OBR 2014 e conquistou medalha de bronze com a equipe Autobot, que, em 2013, esteve no torneio de robó-tica da First Lego League (FLL) e levou o prêmio de estrela inician-te. Com o desafio “Fúria da Na-tureza”, a competição propunha soluções inovadoras para prevenir ou reduzir os danos de desastres naturais, como tornados, avalan-ches, tempestades, enchentes e deslizamentos de terra. Os res-ponsáveis pela orientação dos jovens foram os docentes Andrea Bitencourt e Justino Medeiros.

Em outubro deste ano, du-rante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o GSAM realizou “I Torneio de Robótica do Câmpus Salvador do IFBA (Ro-boIFBA)”. Aberto ao público, o evento teve a missão de estimu-lar o interesse pela robótica, por meio da criatividade e da resolu-ção de problemas em equipe. O desafio consistiu em simular um ambiente de desastre, com risco para o ser humano, no qual algu-mas tarefas precisavam ser reali-

zadas por robôs aptos a superar terrenos hostis, atravessar áreas desconhecidas, desviar de obs-táculos e subir rampas. As regras da competição foram baseadas e adaptadas da modalidade prá-tica da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), que, neste ano, premiou 11 estudantes do câm-pus na modalidade teórica, cate-goria nacional, além da equipe Autobot, que ficou em 3º lugar na etapa regional da modalidade prática.

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Robô produzido pela equipe Autobot

Equipe que conquistou o 3º

lugar no EJC 2014

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Espaço do Servidor

O desafio de ser professor estrangeiro no Brasil

Apesar de serem nossos herma-nos, os peruanos têm peculiaridades culturais que não encontramos por aqui. Além de neve e deserto, o idio-ma, a gastronomia, a indumentária e a aparência dos nativos - com fortes traços indígenas -, ora aproxima, ora distancia o Peru do Brasil. Todavia, as diferenças não impediram Milton Elvis Zevallos de escolher nosso país como sua segunda casa, ou melhor, sua resi-dência definitiva.

No Câmpus Salvador do IFBA, além de professor, ele é o atual coor-denador de eletrotécnica e líder do Grupo de Pesquisa no Desempenho dos Sistemas Elétricos de Potência. “Sou professor de eletrotécnica desde outubro de 2010. Como eletricista, for-mado no Peru, também em um insti-tuto técnico, trabalhei por quase dois anos na área e decidi cursar engenha-ria elétrica. Vim ao Brasil para fazer um curso de pós-graduação e decidi me candidatar para o concurso de profes-sor, a fim de trabalhar com pesquisa e formar novos profissionais”, descreve.

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Da América do Sul também veio o professor do curso superior de ra-diologia Guillermo López. Casado com uma baiana, o argentino garante que a rivalidade histórica entre o Brasil e seu país está apenas no futebol. “Temos paixões muito similares, até mesmo por esse esporte, popular em ambos os países. Gostamos de estar com a fa-mília nos finais de semana e de expres-sões culturais, como cinema e outras artes - peculiares em cada local. Nossa principal diferença está na alimenta-ção, consumimos muita carne”, brinca.

A opinião é compartilhada pelo colega Milton Zevallos. “Assim como os brasileiros, nós, peruanos, também somos um povo com muitas cren-ças e comemorações religiosas, além de gostarmos de comida apimenta-da. Nossa principal diferença está no modelo educacional: no Peru, não existe uma relação tão próxima entre professor e aluno, como percebi aqui”.

Outra característica importante que se manifesta no contato com os estudantes é o idioma, mesmo com a similaridade entre as línguas portu-guesa e espanhola. “A comunicação foi o primeiro desafio ao chegar ao Bra-sil, na tentativa de expressar minhas ideias”, destaca Milton. Para Guillermo, o dia a dia em sala de aula é o que faci-lita o entendimento entre professores e alunos. “Estudei português, durante três anos, na Universidade de Buenos Aires, no entanto, ainda tenho que fa-

lar de forma pausada na sala de aula. Só à medida que criamos vínculo, eles se acostumam com o meu sotaque”.

Desde 2010, como professor do IFBA, Guillermo é o responsável técni-co pelo Laboratório de Física Radioló-gica (Lafir) e realiza doutorado no Pro-grama de Pós-Graduação no Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Univer-sidade Federal da Bahia (UFBA). “Pre-tendo ficar aqui, onde me estabeleci com minha família. Os desafios foram muitos e são muitos os progressos a alcançar. Mas não superam os bene-fícios de trabalhar na área que gosto, ter muitos amigos e conhecer cada vez mais este país maravilhoso, que me brindou com muitas oportunida-des, as quais sou eternamente grato”, conclui.

Guillermo pretende ficar em solo brasileiro e acredita que ainda há muitos progressos para alcançar

Milton destaca a comida apimentada e a diversidade cultural como aspectos semelhantes entre o Peru e o Brasil

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Cultural

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“Família, êh! Família, ah! Família!”

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

O refrão da música de Nando Reis, que ficou famosa com a banda Titãs e como abertura do programa televisivo Malhação, apresenta um tema muito recorrente no período natalino: o ser e estar em família. Proveniente do latim, a etimologia da palavra refere-se a um conjunto de indivíduos, em geral, liga-dos por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto, bem como a um grupo de pessoas unidas por convic-ções e interesses comuns. Com as mu-danças advindas desde o princípio da industrialização, a sociedade contem-porânea apresenta uma diversidade de conceitos ligados à família.

Se antes os homens eram os úni-cos responsáveis pela renda da casa, hoje as mulheres dividem em igual ou, até mesmo, em maior parte essa tare-fa; filhos não apenas biológicos, mas, adotivos, integram os lares brasileiros e de tantos outros países; além dos nú-cleos tradicionais (constituídos por pais e filhos), as famílias também podem ser compostas por casais do mesmo sexo (que decidem ou não adotar uma criança); por amigos que, durante um tempo, moram juntos; por uma mãe solteira e seu filho; por avós e netos, en-

fim, a essência de união e fraternidade é o ponto em comum de todas essas variações.

“A família não é estática. A mu-dança começa quando a mulher passa a desempenhar um papel importante na sociedade, não só o de mãe. Com a consolidação da cidadania feminina, há uma inserção no mercado de trabalho, mesmo que de forma precarizada. Essa é uma vertente de relevância, já que, muitas vezes, as mulheres são prove-doras do lar, o que demonstra que não vivemos mais em uma sociedade mar-cada pelo poder do homem”, declara o professor e chefe do Departamento Acadêmico de Sociologia, Psicologia e Pedagogia do Câmpus Salvador do IFBA, Sinval Araújo.

Do ponto de vista sociológico, fa-mília não é apenas uma constituição da natureza, no sentido da reprodução, mas uma construção social. É o que afir-ma o docente: “Há uma crise no cená-rio religioso, nas instituições de ensino, no contexto político e em todo o mun-do. As famílias, sejam elas quais forem, estão ganhando espaço na mídia, por-que a mudança é perceptível. No IFBA, ensinamos os alunos a respeitarem as

diferenças e a entenderem que exis-tem várias formas de relacionamento e amor, como os casais homossexuais”, comenta Sinval.

Nesse contexto, está tramitando, no Congresso Nacional, um projeto de lei do Senado Federal que propõe o “Es-tatuto das Famílias”, o PLS nº 470/2013, que pretende revogar parte do Código Civil Brasileiro, além de estabelecer novas regras. Ao contrário do referido código, que compreende as questões familiares a partir do casamento entre homem e mulher, o estatuto protege a família em qualquer de suas modalida-des, reconhecendo, inclusive, laços de parentesco gerados pela socioafetivida-de - enteado(a) e padrasto/madrasta -, bem como relações homoafetivas.

Há um ano, a professora Micheli Venturini, chefe do Departamento de Educação Física do câmpus, adotou uma menina de dois anos de idade, ao lado de sua companheira, Regina San-dra Marchesi. Juntas há 13 anos, elas queriam uma criança, preparando-se no âmbito emocional e financeiro. O primeiro passo foi a inscrição no Cadas-tro Nacional de Adoção (CNA). “Conta-mos com o apoio de nossas famílias e, quando ficamos sabendo a história da Ana, resolvemos as questões legais e fomos ao Ceará, terra natal dela. Assim que o juiz concedeu a guarda, trouxe-mos a Ana e não nos afastamos mais. Hoje estamos adaptadas, convivemos bem com o ambiente escolar, onde fo-mos bem recebidas. A diretora até quis saber de que forma gostaríamos de ser tratadas, e respondemos: apenas ‘como uma família’! Por coincidência, o primeiro projeto da escola foi sobre esse assunto”, relata Micheli.

A respeito do tema, Regina ressal-ta que hoje se dá muita importância às

“Ela está nos apresentando um mundo novo e nós estamos ajudando a construir o mundinho dela!”

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Cultural

diferentes formas de construção fami-liar. “Isso não é algo recente, mas está sendo reconhecido agora. As pessoas devem tirar essa máscara de hipocri-sia”, pontua. Para Micheli, o preconceito existe porque a sociedade ainda não aprendeu a conviver com essa questão. “Aninha carrega marcas fortes, consi-deradas rótulos na sociedade, como ser negra, adotada e criada por duas mulheres brancas. Queremos que ela aprenda a conviver com a sua história. Recentemente, criamos uma história em quadrinhos para ilustrar a nossa fa-mília, contando como era antes da che-gada dela e a importância que tem em nossas vidas”, relembra.

De acordo com a professora, o fato de ter conseguido batizar Ana Pa-trícia na Igreja Católica, com certidão de nascimento em nome de duas mães, foi uma conquista significativa. “A igreja é um espaço ainda restrito, mas fomos muito bem tratadas pelo padre. Nossa família veio do Espírito Santo para par-ticipar, em meados de outubro deste ano. Foi uma preparação para o Natal, que, para nós, não é uma simbologia, mas um fato, momento de reafirmar o nosso compromisso familiar. Ela nos apresentou um mundo novo e nós es-tamos ajudando a construir o mundi-nho dela”, finaliza.

Educação começa em casa?Para a assistente social do Câmpus

Salvador do IFBA Heide Damasceno, a presença da família na escola é uma parceria necessária à educação. “A famí-lia é vista como a base do grupo social. Nos dias atuais, ela tem se tornado cada vez mais complexa. Quando alguém questiona o que é família, é muito difícil apresentar um conceito pronto e aca-bado. É nesse grupo que toda pessoa deveria crescer e se desenvolver, apren-dendo o convívio social respeitoso. Ao longo da história, a família tem sofrido mudanças estruturais, alterando rela-

ções e, até mesmo, a sua composição. Temos o núcleo predominante (forma-do por pai, mãe e filhos), bem como os ‘novos’ arranjos familiares (relações ba-seadas no cuidado e afeto, não em laços de sangue). Nesse sentido, só podemos definir o que é família, quando pergun-tarmos: o que é família para você? Qual é a sua família?”, explica.

A estagiária da Coordenação de Atenção ao Estudante (CAE), Andressa Passos, complementa a informação ao citar, dentre as diversas composições familiares, as reconstituídas depois do divórcio. “O IFBA é uma escola que nos apresenta toda essa diversidade. No caso dos estudantes dos cursos in-tegrados, que são majoritariamente adolescentes, é fundamental o envolvi-mento da família no processo de ensino e aprendizagem. Os responsáveis pelos estudantes, sejam eles pais, tios, avós, genitores biológicos ou adotivos, de-vem participar tanto da vida acadêmica quanto politicamente das decisões da instituição. Os espaços para isso têm sido garantidos nas reuniões gerais com

os responsáveis, nos plantões pedagógi-cos e atendimentos dos diversos profis-sionais da Diretoria Adjunta Pedagógica e de Atenção ao Estudante, no Conse-lho do Câmpus (recentemente criado) e na Associação de Pais e Responsáveis dos Estudantes do IFBA”, ressalta.

Nesse sentido, desde agosto deste ano, profissionais do Serviço Social cria-ram o projeto “Ciclo de debates com famílias”. Abraçado pela Associação de Pais e Responsáveis, os encontros dis-cutem temas escolhidos em reunião, como diversidade sexual e étnico-ra-cial, adolescência e relações familiares, evasão escolar e repetência, segurança e mobilidade. Segundo o jovem Ma-theus Lima, aluno do 1° ano do curso técnico de química e bolsista do Progra-ma de Assistência e Apoio ao Estudante (Paae), família é a base de tudo. “Do meu ponto de vista, educação começa em casa, mas é preciso que exista uma relação de responsabilidade das duas partes”, diz. Para este Natal, o estudante deixa uma mensagem: “Não dê presen-te, dê amor”!

2014-2015Mensagem de fim de ano

Compartilhar é preciso

O período natalino e a passagem para o ano novo trazem consigo o

aprofundamento da reflexão, revigorando pensamentos para o alcance das

metas estabelecidas e o planejamento de outras realizações. Para o Câmpus

Salvador do IFBA, educar é acreditar no outro, compartilhar aprendizados

e dividir conquistas. Motivados pelo espírito da coletividade, renovamos

os laços de parceria e amizade com cada integrante da nossa comunidade,

para que possamos construir um câmpus cada vez mais democrático e

sustentável. Feliz Natal e um 2015 de muitas vitórias!

Albertino Nascimento

Diretor Geral do Câmpus Salvador