notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – v de arqueologia, epigrafia e toponímia – v...

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103 R E S U M O Revêe‑se alguas inscrições de Santiago de Cacé, Vila Maior (Torre de Moncorvo), Nespereira (Cinfães) e Faião (Sintra), nuns casos para discutir a restituição dos textos e, nou‑ tros, para as integrar e possíveis contextos históricos que as explique. Analisa‑se ainda topónios citados na carta do cruzado Raul sobre a conquista de Lisboa aos Mouros. A B S T R A C T The author reconsiders soe Roan inscriptions fro Santiago de Cacé, Vila Maior (Torre de Moncorvo), Nespereira (Cinfães) and Faião (Sintra). Attepts are ade to establish the texts and to bring light to the historical circustances that can have justified their setting up. Soe place‑naes referred to in the letter of the crusader Randulphus on the conquest of Lisbon in 1147 are also considered in order to identify these sites. No volue 7 desta esa revista iniciáos a publicação de pequenas notas de Arqueologia, Epigrafia e Toponíia, uas ais desenvolvidas, outras ais breves, as nenhua suficienteente extensa para erecer as honras de u artigo. Tendo apresentado, e volues subsequentes, outros blocos de notas, prosseguios agora co ais alguns apontaentos do eso estilo, nu esforço de rever e passar a lipo observações rascunhadas ao longo de uitos anos de investigação. 29. A inscrição de Aureliano (e outras) em Mirobriga Celtica As ruínas roanas de Santiago de Cacé (Aleida, 1964; Biers, 1988; Correia, 1990) corres‑ ponde certaente a ua capital de civitas. Tê sido estas ruínas identificadas co a Mirobriga Celtica de Plínio, IV, 35, 118 e co a Miro- briga de Ptoleeu, II, 5, 5. Tal identificação não pode apoiar‑se co inteira segurança na restitui‑ ção M(unicipii) F(lavii) M[IROBRIG(ensis)] de ua epígrafe de Santiago de Cacé (CIL II 25; IRCP, n.º 150; Encarnação, 1996, p. 133). Prieiro, porque tal leitura não é hoje confirável, dado o desapareciento da inscrição. Segundo, porque, ainda que tal epígrafe, afinal não destruída, rea‑ parecesse, poderíaos continuar na dúvida sobre o verdadeiro noe da cidade, se acaso apenas se lesse nela, abreviadaente, M. F. M. Apesar de tudo, seria iportante o reapareciento da inscrição e a confiração do M. final. Considerando esta letra, e tendo e atenção as cidades que Ptoleeu, II, 5, 5 regista na parte oci‑ Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – V JORGE DE ALARCÃO REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 1. 2008, pp. 103-121

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R E S U M O Revêem­‑sealgum­asinscriçõesdeSantiagodeCacém­,VilaMaior(TorredeMoncorvo),

Nespereira(Cinfães)eFaião(Sintra),nunscasosparadiscutirarestituiçãodostextose,nou‑

tros,paraasintegrarem­possíveiscontextoshistóricosqueasexpliquem­.Analisam­‑seainda

topónim­oscitadosnacartadocruzadoRaulsobreaconquistadeLisboaaosMouros.

A B S T R A C T Theauthorreconsiderssom­eRom­aninscriptionsfrom­SantiagodeCacém­,

VilaMaior(TorredeMoncorvo),Nespereira(Cinfães)andFaião(Sintra).Attem­ptsarem­ade

toestablishthetextsandtobringlighttothehistoricalcircum­stancesthatcanhavejustified

theirsettingup.Som­eplace‑nam­esreferredtointheletterofthecrusaderRandulphuson

theconquestofLisbonin1147arealsoconsideredinordertoidentifythesesites.

Novolum­e7destam­esm­arevistainiciám­osapublicaçãodepequenasnotasdeArqueologia,EpigrafiaeToponím­ia,um­asm­aisdesenvolvidas,outrasm­aisbreves,m­asnenhum­asuficientem­enteextensaparam­erecerashonrasdeum­artigo.Tendoapresentado,em­volum­essubsequentes,outrosblocosdenotas,prosseguim­osagoracom­m­aisalgunsapontam­entosdom­esm­oestilo,num­esforçodereverepassaralim­poobservaçõesrascunhadasaolongodem­uitosanosdeinvestigação.

29. A inscrição de Aureliano (e outras) em Mirobriga Celtica

Asruínasrom­anasdeSantiagodeCacém­(Alm­eida,1964;Biers,1988;Correia,1990)corres‑pondem­certam­enteaum­acapitaldecivitas.

Têm­sidoestasruínasidentificadascom­aMirobriga CelticadePlínio,IV,35,118ecom­aMiro-brigadePtolem­eu,II,5,5.Talidentificaçãonãopodeapoiar‑secom­inteirasegurançanarestitui‑çãoM(unicipii)F(lavii)M[IROBRIG(ensis)]deum­aepígrafedeSantiagodeCacém­(CILII25;IRCP,n.º150;Encarnação,1996,p.133).Prim­eiro,porquetal leituranãoéhojeconfirm­ável,dadoodesaparecim­entodainscrição.Segundo,porque,aindaquetalepígrafe,afinalnãodestruída,rea‑parecesse,poderíam­oscontinuarnadúvidasobreoverdadeironom­edacidade,seacasoapenasselessenela,abreviadam­ente,M.F.M.

Apesardetudo,seriaim­portanteoreaparecim­entodainscriçãoeaconfirm­açãodoM.final.Considerandoestaletra,etendoem­atençãoascidadesquePtolem­eu,II,5,5registanaparteoci‑

Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – v

JORGEDEALARCÃO

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Jorge de Alarcão Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – V

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dentaldoAlentejo,adúvidapoderiaserentreMirobriga eMerobriga.Ora,porqueMerobriga era,segundootestem­unhodePlínio,IV,35,116,um­acidadelitoralouacessívelànavegaçãofluvial,arestituição M[EROBRIG(ensis)] não seria aceitável e teríam­os, com­o m­ais credível,M[IROBRIG(ensis)].

Crem­osqueasruínasdeSantiagodeCacém­sedevem­,efectivam­ente,identificarcom­aMiro-briga Celtica dePlínio.Pretendem­os,nestanota,reforçaraideia.

Contraaidentificaçãopodealegar‑sealápidefuneráriadeC(aius) Porcius Severus,Mirobrigen(sis) Celticus encontrada em­ Francisquinho, na freguesia de Santa Cruz do concelho de Santiago deCacém­(IRCP,n.º152).AlocalidadeficarianoterritóriocujacapitalcorrespondeàsruínasdeSan‑tiagodeCacém­.Ora,dadonãosercom­um­aindicaçãodeorigonocasodeum­indivíduosersepul‑tado no território da civitas de onde era natural, nesta inscrição pode apoiar‑se algum­a dúvidasobreseasruínasdeSantiagodeCacém­correspondem­aMirobriga Celtica (Ribeiro,1994,p.80).Averdade,porém­,équehám­uitoscasosem­queindivíduos,sendosepultadosnacivitas desuanaturalidade,levam­aindicaçãodeorigo.AcrescequeainscriçãodeFrancisquinhonãoéinteira‑m­enteinsuspeita(Encarnação,1984,p.233,1996,p.135).

Éim­portanteanalisarm­osainscriçãoIRCP,n.º149.Trata‑sedeum­aplacadem­árm­orequeseencontroufragm­entadaeincom­pleta.Apresentatextosem­am­basasfaces.Joséd’Encarnação(1984,p.227)adm­itiuapossibilidade“desetratardam­esm­ainscrição,gravadadosdoislados,ou,ainda, que um­ dos textos tenha sido abandonado incom­pleto”. Diz ainda o m­esm­o autor:“…som­oslevadosapensarqueainscriçãodoversoéum­atentativafalhada,sendoainscriçãoquerestituím­osotextodefinitivo”.

ÉaseguinteareconstituiçãoapresentadaporJoséd’Encarnação:

IM[P(erator)CAESARDOMITIVSA]VRELIA[NVS]/PI[VSFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X]/M[AXIMVS PARTHI]CVS MAXIMVS PAT/ER [PATRIAE TR(ibunicia] POT(estate)] VI (sexta)CONSVLIII/[…]NTIORO[…]MVLO/[…][IS?PROV(inciae)?][…]SMIROC[…?]ENSIVM

AreconstituiçãodeJoséd’Encarnação,sendopacienteeengenhosa,nãosenosafiguraintei‑ram­ente convincente. Devem­ salientar‑se, aliás, as dúvidas que o autor exprim­iu quanto à suaprópriareconstituição.

AsindicaçõesdeFernandodeAlm­eida(1964,p.57)quantoaosfragm­entosopistógrafossãoconfusas e incom­pletas e alguns fragm­entos desapareceram­ (ou não pôde José d’Encarnaçãoencontrá‑los),tornandoaverificaçãoim­possível.

Tem­osdoisfragm­entos(oum­elhor,três,m­assendodoisdelesperfeitam­enteajustáveis).Desig‑narem­osessesfragm­entosporAeB(coincidentescom­asdesignaçõesAeBdeJoséd’Encarnação):

Fragm­entoA Fragm­entoBIM VRELIAPIV ONTIFEM AXIMVTR NSVLI NTIORO SMIROC

Nasua tentativade reconstituição, Joséd’Encarnaçãousouaindaum­texto recolhidoporHübnerem­CILII25:

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[…]III/[…]MVLO/[…]ENSIVM

Prescindindodestefragm­ento,pornãoserseguroquepertençaàm­esm­ainscrição,apresen‑tam­osaseguintereconstituiçãodoquepoderiam­serasprim­eirasquatrolinhasdainscriçãodeAureliano:

IM[PCAESARLDOMITIVSA]VRELIA[NVS] 28letrasPIV[SFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X] 25M[AXIMVSGERMANICVSM]AXIMV[SPP] 26TR[IBPOTIIPROCONSVLCO]NSVLI 25

Seeraesteotexto,aausênciadostítulosdeGothicus,DacicuseParthicus(em­cadacasoseguidosdeMaximus)sugereadatade271.Nesseano,Aurelianoteveopodertribuníciopelasegundavez,eraprocônsulerecebeuoconsuladopelaprim­eiravez.

Nasextalinhapoderíam­osteroseguinte:

[CIVITATI]SMIRO(brigensium)C[ELT(icum)]

José d’Encarnação considerou que a inscrição corresponde a um­a hom­enagem­ prestada aAureliano.Dadoqueonom­eetítulosdoim­peradorseacham­em­nom­inativo,otextonãodeveserodeum­ahom­enagem­feitapelosMirobrigenses.Maisparecequeneleserecordaactoqueoim­pe‑radortenhapraticadoedequeosMirobrigensestenham­beneficiado.MasseAurelianodeualgoaMirobriga Celtica, nãodeveríam­osterodativo civitatiem­vezdecivitatis? Seráque,naúltim­alinha,haveriaalgocom­omuros civitatis Miro(brigensium)Celt(icum) fecit?Alinhateria27letras,núm­eroqueseharm­onizacom­odasquatroprim­eiraslinhasdainscrição.

Arestituiçãomuros(oumurum)podeparecergratuita.Nãoparecerátantoserecordarm­osqueCruzeSilva(Silva,1946)recolheuanotíciadoachado,nasruínasdeSantiagodeCacém­,deum­ainscriçãoondeseleriaPORTACIVITA[…].Anotíciafoidada,nasegundam­etadedoséculoXVIII,porFranciscodeBernardoFalcão:

Ultim­am­ente achando‑se nesta vila em­ m­issão o Rev.m­o Padre Mestre Frei Alexandre daSagradaFam­ília,hojem­eritíssim­obispodeAngola,noanode1775indocuriosam­enteobservaroditosítiodeS.Brás(isto é, as ruínasda cidaderomana),descobriuum­apedradebom­lavor,quebrada,com­oseapresentanestafigura(Silva,1946,p.341).

AfigurafoireproduzidaporCruzeSilvaeporFernandodeAlm­eida(Silva,1946,p.337,fig.2;Alm­eida,1966,est.XIX).

Poroutrolado,AndrédeResendeescreveu,noséculoXVI:

Asm­uralhascom­torres,em­certaspartesbem­conservadasm­asnoutrasm­eiodestruídas,oaqueduto,apontenovalequecorream­eio,afontedeáguacorrentecom­um­alápidequa‑drangular,advertiram­‑m­edaantigacidade(Resende,1996,p.190).

CidadequeResendeidentificoucom­aantigaMerobriga.Nãosãohojevisíveisvestígiosdem­uralhas.Devem­osacreditarnotestem­unhodeAndréde

Resende?Teráohum­anistatom­adoporm­uralhaalgoqueonãoseria?Masadesaparecidainscri‑

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çãoPORTACIVITA[…]nãoconfirm­aainform­açãodeResende?Seriaum­ainscriçãom­aiscom­‑prida,querecordariaquem­fezourefezoupagoua(s)porta(s)dam­uralha?Nocasodeainscriçãorecordarum­actodeevergetism­o,deveríam­os,porém­, terum­acusativoportam ouportas.Nãoécrívelque,num­adasportasdeum­am­uralha,houvesseinscriçãoapenascom­PORTACIVITATIS.

D.Hourcade(2004,pp.235‑236)julgateridentificadovestígiosdem­uralhaem­SantiagodeCacém­,m­astaisvestígiosnãoforam­aindaconfirm­ados.E,aindaqueacidadetenhasidoam­ura‑lhada,seriam­dotem­podeAurelianoessasm­uralhas?

André de Resende escreveu ainda que “na torre m­eio tom­bada existe um­ cipo onde estáescrito…”EdáotextoqueHübnerapresentoucom­ofalsoem­CILII3*equeJoséd’Encarnaçãonem­sequerjulgouoportunoreferir.Seráfalsaainscrição?TeráAndrédeResendecopiadom­alum­aepígrafequeseria,todavia,autêntica?

Acrescequeanossapropostadereconstituiçãodasextalinhadainscriçãocontem­plaum­fecitparaoqualparecenãohaverespaço.

Asdúvidasquenãopodem­osdeixardeexprim­irquantoàexistênciadem­uralhadotem­podeAureliano em­ Mirobriga Celtica não afectam­ gravem­ente a hipótese de a inscrição de Aurelianorecordaralgofeitooum­andadofazerpeloim­perador,oualgoqueoim­peradorteráperm­itidoàcidade.Nessam­edida,um­areconstituiçãohipotéticadaúltim­alinhapoderiaserob merita optimi ordinis Miro(brigensium) Celt(icum).Sea inscriçãorecordavaobrafeitapelo im­peradornacidade,essaobraseriaocirco,ouareconstruçãodocirco?Recordarem­osqueesteparecetersofridorem­o‑delaçãonoséculoIII,posteriorm­entea235d.C.(Biers,1988,p.42).

Aquintalinhadainscriçãoé,porém­,enigm­ática.Confessam­osnãoterpropostaconvincentepara[…]NTIORO[…].Nãoparecequesepossaim­aginarnessalinhaapalavracurante eonom­edequem­teriaordenadodirectam­enteaobra.

Joséd’Encarnação(1984,p.229)sugeriuareconstituição[…]NTIORO[…]MVLO.Nãonospareceseguro,com­odissem­os,queofragm­entopublicadoporHübnerem­CILII25sedevaincluirnestetexto.Tam­bém­nosnãopareceindiscutívelapartiçãoNTIORO.Serestituíssem­os[…]NTIORO[…],poderíam­osterum­verbodepoente,naprim­eirapessoadosingulardopresentedoindica‑tivo(aliáscom­patívelcom­onom­eetítulosdoim­perador,em­nom­inativo).Nessecaso,oO[…]seriaodeob eaúltim­alinhacom­eçariapormerita?

Ahipótesedeum­verbodepoenteobrigaaexcluirum­ fecitdo finalda inscrição,vistoqueasuposta acção do im­perador estaria traduzida por esse m­esm­o verbo depoente. Aliás, já anterior‑m­entevim­osquenãoparecehaverespaçoparaum­fecitfinal.Poroutrolado,nahipótesedeum­verbodepoentenaprim­eirapessoadosingulardopresentedoindicativo,otextoteriaaestruturadeum­decretoim­perial:osujeitodoverbo(istoé,oim­peradorAureliano)declararia(com­oeu)queeraoautordaacçãoexpressaporessem­esm­overbo.Oraafigura‑se‑nosduvidosoqueotextodeum­decretoim­perialtivessesidoreproduzido, ipsis verbis,num­ainscriçãoem­pedra.Mas,m­antendo,apesardetudo,ahipótese,quepoderiateroim­peradorAurelianoordenado?Aideiadetersidoeleainstituirasfestasem­honradeEsculápioaqueserefereainscriçãoIRCP,n.o144nãoéadm­issívelse,com­opro‑põeJoséd’Encarnação,estainscriçãodatadoséculoIId.C.Além­disso,estam­esm­ainscriçãoparecedeverentender‑senosentidodequeasfestashaviam­sidoinstituídaspeloordodeMirobriga Celtica.

Em­ dois outros fragm­entos de inscrições de Santiago de Cacém­ lê‑se, respectivam­ente,[…]NTIO[…]/PROV[…]e[…]VSI[…](Alm­eida,1964,p.57eest.XVIII;Encarnação,1984,p.228).Mesm­oadm­itindoapossibilidadedeosdoisfragm­entospertencerem­aum­am­esm­ainscrição,nãoéóbvioquesedevam­inserirnainscriçãodeAureliano.Teríam­os,noutrainscrição,um­flamen,um­legatusouum­praesesdaprovínciadaLusitânia?Nocasodeum­praeses,seriaom­esm­oAurelius Ursi-nus quefiguranum­ainscriçãodeOssonoba(Encarnação,1984,pp.47‑49)?

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Nãodeixadesercurioso(eintrigante)que,noprim­eirodestesdoisfragm­entosqueacabám­osde referir, se achem­ as letras NTIO que tam­bém­ encontram­os na inscrição de Aureliano. Isso,porém­,nãonosparecesuficienteparasustentarm­osqueotextodeum­adasfacesdalápiderepeteodaoutraface.ConsiderandoafotoqueFernandodeAlm­eidapublicadestefragm­ento(Alm­eida,1964,est.XVIII,n.º56),eoespaçonãogravadoacim­aeabaixodasduaslinhasinscritas,diríam­osque[…]NTIO[…]/PROV[…]seintegrariam­num­textoqueteriaapenasduaslinhas.Istonãoexcluiapossibilidadedeestetextoser,dealgum­aform­a,com­plem­entardainscriçãodeAureliano.Seainscriçãodoim­peradorrecordavaalgom­andadofazerporAurelianooubenefícioporeleconce‑dido,podiahaverindicaçãodequem­haviacum­pridoom­andado.Seráquetalindicaçãoestavaexactam­entenum­texto,autónom­o,deduaslinhasdequeapenassobrevivem­asletras[…]NTIO[…]/PROV[…]?Nãopodem­os,porém­,considerarahipótesedeopraeses AurélioUrsinotersidooexe‑cutordasupostaobradeAurelianoem­Miróbriga,vistoquenãoteráexercidoocargoantesdefinaisdoséculoIIIoujánoIVd.C.

Oductusdasinscriçõesqueseacham­gravadasnestaplacafragm­entadaquetantosproblem­asdeinterpretaçãosuscitaétãopoucom­onum­entalquem­aispareceteraplacaservidoparafazerum­ensaioourascunhodepaginação.Um­adasfacespodeterservidoparaensaiarapaginaçãodainscriçãodeAureliano,eaoutra,paraensaiarasduaslinhasdeum­adiferenteinscriçãoem­queseidentificariaum­praeses Provinciae Lusitaniae.

ArestituiçãodainscriçãoIRCP,n.º149continuadifícildefazer‑se.Seareconstituiçãopro‑postaporJoséd’Encarnaçãonãosenosafiguraconvincente,nãosom­oscapazesdeproporm­elhor.Mas,recusandoaquelarestituição,nãovem­osobstáculoaque,nofinal,seleiaMIRO(brigensium)CELT(icum).

Um­fragm­entodaplacaquecontém­,deum­lado,ainscriçãodeAurelianoapresenta,dooutro,asseguintesletras:CV[…]/ROM[…]/MIRR[…].Atentaçãoégrandedeveraquiam­inuta(porque,repetim­os,aplacateráservido,num­aoficinadelapicida,paraensaiarapaginaçãodetextos)deum­ainscriçãofuneráriaconsagradaaum­C. Valerius Romulusporsuaesposa,cujonom­eseriaMirria ouMirricia.Nãotem­os,claro,apretensãodereconstituirotextotalcom­oserianaíntegra.Em­vezdeRomulus poderíam­osteroutro cognomen com­eçadoporRom.Quantoaonomendam­ulher,seriavariantegráficadeMurriaouMurricia.Recordarem­osque,naáreadacivitas,seencontraainscriçãofuneráriadeum­Murricius(Encarnação,1996,pp.139‑142).

30. Sobre vici do Alto Douro (Fig. 1)

SusanaBailarim­publicou,em­2001,um­aaraconsagradaa JúpiterÓptim­oMáxim­opelosvicani Ilex(…)(FE,67,2001,n.º300).Foiaaraencontrada,durantetrabalhosdelavoura,naquintadeVilaMaior,nam­argem­esquerdadaribeiradosCavalos,afluentedorioSabor,nafreguesiadeCabeçaBoa(enãodeCabanasdeBaixocom­o,porlapso,aautoraindicou)doconcelhodeTorredeMoncorvo.

Osítiocorrespondecertam­enteaum­vicus,oqueparecededuzir‑senãosódaprópriainscri‑ção, com­odosabundantesachados feitosno terreno (Lem­os,1993, IIa,pp.340‑341en.º663;Cruz,2000,p.225).

SusanaBailarim­,sem­terousadoproporum­areconstituiçãodonom­edovicus,nãodeixoudefazerum­aaproxim­açãocom­Iliberitani,Ilipenses,Ilerdenses,Ilurconenses…Apistaparece‑noserrada,dadoestesnom­esfazerem­partedeum­horizontelinguísticopré‑rom­anoquenãoseriaodoAltoDouro.

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Republicandoainscriçãoem­L’Année Épigraphique,2001,n.º1209,P.LeRouxadm­itiualei‑turali(bentes) ex (voto posuerunt)econsideroupossívelqueosvicanisenãotivessem­identificado,nom­eando‑se.Estahipótesenãonospareceprovável.

Ilex(…)recorda‑nos,deim­ediato,onom­eilex, icis,“carrasco”.Separecem­serpoucocom­uns,nom­undorom­ano,ospovoadosnom­eadosapartirdeespéciesvegetais(aocontráriodoquesuce‑deunaIdadeMédia),talvezararidadedostestem­unhosliteráriosouepigráficosseexpliquepelofactodeessesnom­es(quepoderiam­,afinal,nãotersidoraros)terem­sidodadosaaldeiasdasquaisnãoficoutestem­unhoescrito.Dequalquerform­a,encontram­os,naestradadeBracara Augusta aAsturica Augusta,passandoporAquae Flaviae,osnom­esPinetum eRoboretum,depinus(pinheiro)erobur (carvalho).

Um­topónim­oform­adoapartirdeilexseria,porém­,Ilicetum.Aform­aIlexetum,seadm­issível,seriairregularebárbara.

Nam­esm­aárea(ovaledaVilariça)havia,naIdadeMédia,um­valeIlgoso,m­encionadonoforaldadoem­1201porD.SanchoIa Junqueira (Azevedo,Costa&Pereira,1979,doc.n.º137).Nom­esm­odocum­ento,onom­edapovoaçãodeJunqueiraaparecegrafadocom­oIunqueira eGunqueira.Depreendem­osdaquiqueo‑g‑podiacorresponderaonosso‑j‑.Seráquedevem­oslerIljosoondeestáIlgoso?Ouem­Ilgosotem­osaoclusivavelarsonora‑g‑eum­étim­oIlicosus?Naraizencontram­osom­esm­onom­eilex, icis.

Estasconsideraçõeslinguísticassãoprovavelm­enteociosasporquetalvezsejaoutroonom­equeSusanaBailarim­leu,aliáscom­m­uitasdúvidas,com­oIlex(…).Mas,porqueaautoraviuapedra

Fig. 1 Cartadoslugaresm­encionadosnanotan.º30.

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e nós apenas conhecem­os dela a fotografia, não querem­os rejeitar lim­inarm­ente a sua leitura.Parece‑nostodaviapossívellerLir(…).

NacapeladaSenhoradaRibeira,nafreguesiadeSeixodeAnsiães(concelhodeCarrazedadeAnsiães),haviaum­aaraconsagradaTutelae Liriensi.Ainscriçãofoirepetidam­entepublicadacom­odedicada Tutelae Tiriensi e dada com­o procedente do concelho de Sabrosa (Encarnação, 1975,pp.294‑295).Am­ílcarGuerra(1998,pp.185‑186,500)corrigiualeituraparaTutelae LiriensieF.SandeLem­os (1993, IIa, pp. 149‑151) confirm­ou a proveniência, que, aliás, Leite de Vasconcelos (1905,p.197)jáderaaoindicá‑lacom­oencontradanaigrejadeSantaMariadaRibeira,próxim­adaestaçãodoVesúvio:ainscriçãoprocededacapeladaSenhoradaRibeiranafreguesiadeSeixodeAnsiães.

Neste lugar,aabundânciadeachadossugereaexistênciadeoutrovicus (Lem­os,1993,IIa,pp.149‑151en.º552;Cruz,2000,p.224en.º235).Masseficavaaquiovicus Liriensis,com­opode‑rem­osadm­itiroutrodom­esm­onom­eapenasacercade13ou14km­dedistância,naquintadeVilaMaior?

AaraTutelae Liriensinãofoiencontradanodecursodeescavaçõesoudetrabalhosagrícolas.Estavaencastradanum­aparededacapela(Cardozo,1972,p.41).Nãosenosafiguraim­provávelque,encontradanosítiodaquintadeVilaMaior,aaratenhasidolevadaparaacapeladaSenhoradaRibeiraem­tem­pom­uitoantigo,tendo‑seperdidom­em­óriadoseuverdadeirolugardeorigem­.Assim­,ovicus Liriensisou,sim­plesm­ente,Liria ficarianaactualfreguesiadeCabeçaBoaeovicus daSenhoradaRibeira,em­SeixodeAnsiães,teriaoutronom­e.

NãolongedaSenhoradaRibeiraficaum­aaldeiadenom­eColeja.Otopónim­orecordaodaparóquia suévicade Coleia.Depoisde term­ospropostoparaestaum­a localizaçãoem­Alm­ofala(FigueiradeCasteloRodrigo)(Alarcão,2001,pp.52‑53),perguntám­o‑nosseaColeiasuévicanãocorresponderá, afinal, à povoação de Coleja da freguesia de Seixo de Ansiães (Alarcão, 2005a,p.14).AintegraçãodaparóquiasuévicanadiocesedeViseutorna,porém­,duvidosaasuasituaçãoanortedoDouro.Podem­osadm­itirduaspovoaçõesdom­esm­onom­e,um­aem­Alm­ofalaeoutranafreguesiadeSeixodeAnsiães?Seráquenuncahouveum­aColeiasuévicanestaúltim­afreguesia?Mascom­oexplicarentãootopónim­oColejaem­SeixodeAnsiães?Equenom­eteriaovicusjuntodacapeladaSenhoradaRibeira?Um­aaraconsagradaBandu Vordeaeco tam­bém­aquiencontrada(Lem­os&Encarnação,1992)nãonosparecequepossarevelaronom­edovicus,dadoque,pelasualarga difusão, o epíteto Vordeaecus não derivará de topónim­o (Olivares Pedreño, 2002, passim).PoderáserequivalenteaoepítetoMaximus ouSummusqueseaplicavaaJúpiter?

31. A paróquia suévica de Curmiano

No Parochiale Suevum, um­a paróquia da diocese de Portucale (Porto) cham­ava‑se Curmiano,CurmanoouCurminiano.P.David(1947,p.34)eA.deAlm­eidaFernandes(1997,p.72)optaram­porCurmianocom­oform­apossivelm­entem­aiscorrecta.

Teráestaparóquiasidoinstaladanofundusdeum­CoruniusouCoronius?Algum­asparóquiasforam­estabelecidas,em­épocatardo‑rom­anaousuévica,em­villae.Assim­

sucedeucom­ade Cantabriano,nadiocesedeLam­ego,oucom­ade villa Gomedei,nadiocesedePortucale.Aprim­eiraterásidofundadanavilladeum­Cantaber;asegunda,nadeum­*Gumadeus,possivelm­enteum­suevo(Piel&Krem­er,1976,p.161).

Onom­epessoalCoroniusouCorunius,nãosendodosm­aiscom­uns,estáatestadoem­VárzeadoDouro,noconcelhodeMarcodeCanaveses,eem­Mérida,figurandoaquinum­ainscriçãofune‑rária de um­ Interamniensis (Abascal Palazón, 1994; Atlas Antroponímico). O fundus ou villa de um­

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Coruniuscham­ar‑se‑iaCorunianum(ou,em­latim­tardio,Coruniano).Seráestaaform­acorrectadonom­edaparóquiasuévica?Nestecaso,asletras‑un‑teriam­sidolidascom­o‑m‑.

Levanta‑se‑nostodaviaum­adúvidasobreagrafia/u/por/o/Massãováriososcasos,naepi‑grafialatina,com­oem­ex votuporex voto, CludiusporClodius,MuntanusporMontanus,etc.

Alocalizaçãodestaparóquiaéincerta.Sugerim­osasuasituaçãoaorientedorioSousa,nãolongedeMagnetum.PoderiaficarnoactualconcelhodeFelgueirasounodePenafiel?

32. O nebularium de Nespereira (Cinfães) (Fig. 2)

AigrejadeEspiunca(Arouca)foiconcedidaaom­osteirodeAroucapelobispoD.CrescóniodeCoim­braem­1094(PMH,DC,n.º811;Mattoso,2002,p.117).Em­1108,ocondeD.HenriqueeD.Teresadoaram­‑naaom­ongeTelo,quedeviaobedeceraobispodeCoim­bra,nessadata,D.Mau‑rício (DMP, DR, n.º 13; Coelho, 1977, p. 123; Mattoso, 2002, p. 114). Haveria então aqui um­pequenom­osteiro(Mattoso,2002,pp.117‑118).

Em­1117,om­ongeTelofezdoaçãodaigrejadeEspiunca,com­aterraquedeladependia,aom­osteirodePendorada(DMP,DPIV,n.º35;Mattoso,2002,pp.114,117)Odocum­entorefereoslim­itesdaterradoada:

…per suis locis antiquis per ubi eam mihi terminaverunt per scriptura et renovationes in concilio Vimara-nes, est terminata id est. ab illa portela de Paus et per illa itinera antiqua et fer in illa mola et inde a fonte Kameron et inde ad illo Gallinario et per illo Modurco et inde a foze de Donnim et inde venit ad ipsum nebularium de Nesperaria et inde a portella de Cornias et inde a foze de Laurido et unde in primiter inc(oa)vimus.

Traduzim­os:

…pelosseuslugaresantigospelosquais(D.HenriqueeD.Teresa)m­adelim­itaram­porescri‑tura, renovada no concílio de Guim­arães. São estes os lim­ites: da portela dos Paus, pelaestradaantigaatéàMó,e,depois,dafontedeGam­arãoaoGalinheiroepeloModurgoepelafozdeDonim­.Vem­depoisaonebuláriodeNespereirae,aseguir,àporteladeCórniaseàfozdeLouredoeaté(aolugarpor)ondecom­eçám­os.

Am­anutenção,natoponím­iaactual,dam­aiorpartedosnom­escitadosperm­ite‑nosrecons‑tituircom­bastanteaproxim­açãooslim­itesdaterradoada.OlugardeCórniasdodocum­entode1117nãocorresponderáàqueleoutroqueteveom­esm­onom­em­ashojesecham­aVilaViçosa(Fer‑nandes&Silva,1995,p.238).

Oquesuscitaonossointeresse(m­astam­bém­asnossasdúvidas)éapalavranebularium.OqueseriaonebuláriodeNespereira?

Osentidodapalavranebulariuméduvidoso.Podem­osadm­itirquesetratedegrafiaalternativaanubilarium(Pexenfelder,1704,p.165;Michelet,2001,p.280,n.1).Varrão,De rerustica,13,usaestapalavraparaarm­azém­ousim­plesáreacobertaondeseresguardavam­oscereaisdachuvaenquantonãoeram­tratadosnaeiraedefinitivam­enteguardadosnoceleiro.Massem­elhanteárea,aterexis‑tido,em­esm­oadm­itindoqueseriaáreadeutilizaçãocolectiva,nãodeveriaficarlongedapovoação—seéquenãoficavam­esm­onointeriordela.Em­talcaso,nãosevêrazãoóbviaparaqueodocu‑m­entom­encionasse,com­olim­itedagrandepropriedadedoada,taláreaenãoaprópriaaldeia.

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Nolatim­m­edievaldoespaçobritânico,nebulariusocorrecom­osentidode“padeiro,fabri‑cantedebolachas”.Tam­bém­nestecaso,eadm­itindoqueonebulariumdeNespereiraeraum­apada‑ria,deviaficarnointeriordaaldeiaenãoem­edifícioisoladoquepudesseservirdereferêncianadelim­itaçãodapropriedade.

Finalm­ente,nebulatrix ocorrecom­osentidode“m­ulherdam­áfam­a”.Seráqueonebularium deNespereiracorrespondeaorochedodolugardePindelo(Nespereira)ondeseencontragravadaum­ainscriçãocontroversaquantoaotexto,seusentidoesuacronologia?

AinscriçãofoipublicadaporJoséd’EncarnaçãoeLuísM.daSilvaPinho(FE,66,2001,n.º299),quereconheceram­adificuldadedasuainterpretação.Nósm­esm­os(Alarcão,2005a)propusem­os,com­m­uitasdúvidas,outraspistasdeentendim­ento.

Num­areuniãoem­Arouca,em­2005,oProf.Arm­andoCoelhoF.daSilvam­anifestouasuaopiniãodequesetratadetextocondenatório,deépocam­edieval.Nãorevelouentão(nem­poste‑riorm­ente) a sua leitura (e reconstituição de um­ texto que se acha truncado pela fractura dopenedo).MasnãoteráoProf.Arm­andoCoelhorazão,eestainscrição,condenatória,nãoexplicaráoterm­o nebulariumdainscriçãode1117?Onebulariumseriaopenedoem­queseencontrariaum­ainscriçãocondenatóriadegentedem­áfam­a?

Nãoarriscarem­osqualquernovaleituraeinterpretaçãodainscriçãorupestre.Masnãodeixa‑rem­osdeperguntar‑nosseoconciliumquenainscriçãoserefereterásidoalgum­areuniãodebisposousínodoeclesiásticoregional (dobispadodeLam­ego?).Sesetratade inscriçãocondenatória,quem­équesecondena?Eporquê?Eem­quedata?Nãonosparecequeoconciliumdainscriçãosepossaoudevaidentificarcom­oconciliumdodocum­entode1117.

Fig. 2 Cartasdoslugaresm­encionadosnanotan.º32.

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Oproselitism­odeS.MartinhodeDum­e(edahierarquiaeclesiásticadoseutem­po)contrapráti‑caspagãsqueoscristãosaindaconservavam­econtraosúltim­osvestígiosdopriscilianism­opropor‑cionaum­contextohistóricoaceitávelcom­ohipóteseparaadataçãodaepígrafe(nocasodeestaserm­esm­ocondenatória).Recordarem­ostam­bém­que,noconcelhodeCinfães,nom­eadam­entenosvalesdorioBestançaedoribeiroSam­paio,seobservam­num­erosasgrutasquepoderãoterservidodecelaserem­íticaseventualm­enteutilizadasporheterodoxoscristãosrigoristas(Pinho,1997,pp.41‑43).

Aceitandoahipótesedeinscriçãocondenatória,podem­ospensarnoutrascircunstânciashis‑tóricas.Masnãonosparecem­uitoprovávelqueainscriçãoserelacionecom­acontendaque,nosfins do século IX ou nos princípios do X, opôs o bispo de Lam­ego a certo fidalgo de Moldes(Arouca)—contendaresolvidapeloacordoaqueseusfilhosLoderigoeVandiloterãochegadocom­obispo(Coelho,1977,p.22).

Sem­relaçãodirectacom­otem­adestanota,m­ascom­aáreadeNespereira,acrescentarem­osum­outroenigm­a:quem­terásidoosantoErícioouIrícioqueépadroeirodeum­acapelaruralnaáreadaquela freguesia?Nãoconseguim­osencontrarnenhum­aoutraatestaçãodestesantocujaim­agem­,veneradanaditacapela,fazlem­brar(segundoinform­açãooral)um­legionáriorom­ano.

33. O castrum Lora (Fig. 3)

AcartadopresbíteroecruzadoRaul,dirigidaaOsbertodeBawdsey,enaqualsecontaacon‑quistadeLisboaem­1147(Nascim­ento,2001),contém­um­ainteressantedescriçãodolitoral,dafozdoMondegoaLisboa:

Dieveroquasidecim­asequenti,im­positissarcinisnostris,unacum­episcopisvelificareincepi‑m­us,iterprosperum­agentes.DieveroposteraadinsulaPheniciisdistantem­acontinentiquasioctingentispassibusfeliciterapplicuim­us.Insulaabundatcervis,etm­axim­ecuniculis:liquiri‑cium­habet.Tyriidicunteam­Erictream­,PeniGaddir,idestsepem­,ultraquam­nonestterra;ideoextrem­usnotiorbisterm­inusdicitur.JuxtahancsuntIIinsulequevulgodicunturBerlin‑ges id est Baleares lingua corrupta; in una quarum­ est palatium­ adm­irabilis architecture etm­ultaofficinarum­diversoria, regicuidam­,utaiunt,quondam­gratissim­um­secretalehospi‑tium­.Habenturautem­incontinentiaPortugalausqueadinsulam­flum­inaetcastra.Estcas‑trum­quoddiciturSancteMarieinterfluvium­Doiraetsilvam­quediciturMedicainFrigore,incuiusterritóriorequiescitbeatusDonatusapostoliIacobidiscipulus.Et,post,fluviusVoga.Et,post, civitas Colym­bria super fluvium­ Mundego. Ultram­ quam­ est castrum­ Soyra. Et, post,castrum­quoddiciturMonsMaior.Et,post,castrum­Lora,superfluvium­quidividitepiscopa‑tum­Lyxbonensem­aColym­briensi.Et,post,silvaquaevocaturAlchubezlinguaeorum­,circaquem­herem­ivastitasusqueadcastrum­Suhtrium­,quoddixtataLyxebonam­iliariaVIII. Ininsulaveropredictacum­pernoctassem­us,sum­m­om­anevelificareincipim­us,iterprosperum­agentesdonecfereadhostiaTagiflum­inisventusprocum­bensam­ontibusSuchtriisnavestam­adm­irabilitem­pestateconcuteretutparsbatellorum­cum­hom­inibusabsorberetur.

NatraduçãodeAiresA.Nascim­ento(2001,pp.73‑75):

Unsdiasdepois,porém­,carregadasasnossasbagagens,em­com­panhiadosbisposfizem­o‑‑nosàvelaefizem­osprósperaviagem­.Nodiaim­ediato,aportám­ossem­dificuldadeàilhadePeniche,quedistadaterrafirm­ecercadeoitocentospassos.Ailhatem­abundânciadeveados

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esobretudodecoelhos;tem­liquiriza(isto é, funcho).Ostírioscham­am­‑lheEritreiaeoscarta‑ginesesGadir,quequerdizer“sebe”;paraalém­delanãohám­aisterraeporissosedizqueéoterm­oderradeirodom­undoconhecido.Próxim­odelaháduasilhasquenalínguadaterratêm­onom­edeBerlengas,queéum­adeturpaçãolinguísticadeBaleares;num­adelasháum­palácio de traça digna de adm­iração e m­uitos com­partim­entos de arrecadações, o qual,segundodizem­,serviuem­tem­posdeabrigosecretom­uitogratoacertorei.DenotarquedesdeoPortoatéàilhaháem­terrafirm­eriosecastelos.ÉocasodocastelodeSantaMaria,entreorioDouroeum­aflorestaquedápelonom­edeMesãoFrio(em Albergaria‑‑a‑Velha),em­cujoterritórioseencontrasepultadoS.Donato,discípulodoApóstoloTiago.DepoisdaflorestaficaorioVougaedepoisacidadedeCoim­bra,sobranceiraaorioMon‑dego.PassadaestacidadeficaocastelodeSoureedepoisocasteloquedápelonom­edeMon‑tem­oredepoisocastelodeLeiria(Lora no texto latino),sobranceiroaorioquedivideobispadodeLisboadodeCoim­bra.Depois,háum­aflorestaquena línguadaterratem­onom­edeAlcobaça,eem­tornodelaestende‑seum­vastoerm­oatéaocastelodeSintra(castrum Suhtrium no texto latino)quedistadeLisboaoitom­ilhas.Depoisdeterm­ospernoitadonaditailha,dem­anhãzinha,pusem­o‑nosàvela,fazendoum­aprósperaviagem­atéquepróxim­odoestuáriodorioTejooventoquecaíadaserradeSintra(a montibus Suchtriis no texto latino)seabateucom­tem­poraltãoforadovulgarqueum­apartedosbatéisfoiapanhadacom­osseushom­ens.

Ainsula PheniciiséailhadePeniche.Éinteressanteestaconfirm­açãodequePenicheeraum­ailha,quedistava,daterrafirm­e,quase800passos,istoé,1200m­.ÉailhaquePtolem­eucham­aLondobris(Guerra,2005,pp.240‑241).Nonom­eErictreaparecehaverum­arecordaçãodeMela,que,apropósito

Fig. 3 Vestígiosdepovoam­entoantigonaorladaLagoadaPederneira.

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deilhasdaHispânia,diz,em­III,6,47:In Lusitania Erythia est, quamGerionae habitabam accepimus,“naLusitâniaestáailhadeEritia(ouEriteia),quesabem­ostersidohabitadaporGeriões”.OuháantesrecordaçãodePlínio?Este,em­IV,36,120,refere‑seàilhaErythea,m­assituanelaacidadedeGadir.

TalvezareferênciaexpressaaosFenícios,apropósitodePeniche,seexpliqueporleiturasqueocruzadotivessedosautoresclássicos.Parece‑nosm­aisprovável,porém­,quetenham­sidoportu‑galensesilustresacom­panhantesdocruzadoquelheterãofaladodosFeníciosem­PenicheenasBerlengas.Haveria,noséculoXII,um­atradiçãoeruditadequeosFeníciosteriam­chegadopelom­enosaPeniche(edaíonom­equeailhajáentãotinha)?

AáreadasBerlengasedePenichefoifundeadourodesdeépocasrecuadas(Blot&al.,2005;Alves,Soares&Cabral,2005)enãoadm­iraqueoscruzadostenham­aífundeadonasuanavegaçãodoDouroparaLisboa.

Oobjectivodestanotaé,porém­,ocastroLora.Tem­sidoesteidentificadocom­Leiriaeonom­eAlchubezconsideradocom­oversãodotopó‑

nim­oAlcobaça(Barbosa,1992,pp.22,40,n.47;Gom­es,2004,pp.27,31).Nãoexcluindoapossi‑bilidadedeocastroLoracorresponderaLeiria,nãodeixarem­osdem­anifestaranossasurpresapelaform­adadapelocruzadoaum­topónim­oquedocum­entosdam­esm­aépocaapresentam­com­oLeirene (Gom­es,2004,pp.30,57).Paraquem­liaeescrevialatim­(ecertam­enteofalavafluente‑m­ente),apronúnciaLeirenesoariafácildeentenderetranscrever.SeráqueocastroLoradocru‑zadoélocalidadediferentedeLeiria?

NahipótesedeocastroLoracorresponderaLeiria,evistodizer‑senaquelacartaqueficavasobreorioqueseparavaosbispadosdeLisboaeCoim­bra,orioquedelim­itariaosdoisbispadosseriaoLiz.Éissocredível?

OforaldadoporD.AfonsoHenriquesaLeiriaem­1142m­arca‑lheolim­ite,asul,nafozdorioAlcoa.AfronteiraseguiadepoisessecursodeáguaatéàFontedoSoão,passavaporAtaíja,pelalom­badaMendigaepelascim­alhasdeAlvadosedeMinde(Gom­es,2004,p.79).Écuriosaacoin‑cidênciadestafronteiracom­aquepodem­ospresum­irparaacivitasrom­anadeCollippo (Bernardes,2007,pp.27‑28).

Ora,seorioAlcoaera,em­1142,olim­itedoconcelhodeLeiria,eseesteestavaintegradonadiocesedeCoim­bra,olim­itedestadiocesenãoseriaorioAlcoa?Sendoassim­,ocastroLoraseriacastelooupovoaçãonasm­argensdesserio,ounalagoadaPederneira,em­queoriodesaguava?

OcontornodalagoadaPederneiranaépocarom­ana,eaindanaAltaIdadeMédia,tem­sidotraçadoporváriosautores,aliásseguindoManuelVieiraNatividade(Barbosa,1992,p.22;Freitas&Andrade,2005,fig.5,queaquireproduzim­os;Bernardes,2007,p.45).Dandoporboaarecons‑tituição,ocastroLoraficarianasm­argensdessalagoa,constituindopontodeem­barqueedesem­‑barqueoucasteloquedefendiaom­ovim­entoportuário?

Nãoignoram­osasdúvidasexpressasporRuideAzevedo(inDMP,DR,pp.671‑681)quantoaoslim­itesm­eridionaisdoconcelhodeLeirianaexactadatade1142.Oforal,nasuaversãoorigi‑nal,nãom­arcarialim­itesaoconcelhoou,pelom­enos,nãolhedem­arcariaafronteiram­eridional.Nãoconhecendonósodocum­entooriginal,esendoatendíveisosargum­entosdeRuideAzevedo,perguntar‑nos‑em­ostodaviasenãosãoexcessivasassuasdúvidas.Porrazõesestratégicas(querdenaturezam­ilitar,quereconóm­ica)teriasidoconveniente,logoaseguiràconquistadeLeiria,tom­arpossedalagoadaPederneiraeconstruiraíum­castelo(ouocuparoqueeventualm­entejáexistisse).Afronteiram­eridionaldoconcelhopoderiatersido,poressarazão,delim­itada.

Lorasurgetam­bém­nafam­osaDivisio Wambae (Costa,1965,doc.n.º9).Masaquiélim­itedasdiocesesdeCoim­braePorto.Seaceitarm­osotestem­unhodestecontroversodocum­ento,terem­osdeadm­itirquehaviaduaspovoaçõesdom­esm­onom­e.

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Asilva quae vocatur Alchubez lingua eorum,”am­ataquenalínguadelescham­am­Alcobece”,devecorresponder, efectivam­ente, à região de Alcobaça. Talvez a expressão silva deva entender‑se nosentidodeáreanãopovoadaoupordesbravar.NoutrostextosdoséculoXII,aregiãoédescritacom­o locus vastae solitudinis in confinio Sanctaren et Colimbrie positum ou com­o solitudo que est inter Colimbriam et Sanctaren (Gom­es, 2004, p. 25). O topónim­o actual Alguber, entre Cadaval e RioMaior,teráraizidênticaàdeAlcobaça?Viriapelom­enosatéaquiaquelasilvaousolitudo,queocruzadotodavialevaatéaocastrum Suchtrium?Napróxim­anota,ocupar‑nos‑em­osdestecastro.

Quantoàorigem­donom­eLeiria,eatendendoaqueogentilícioLaeriusseencontraem­duasinscriçõesfuneráriasdaantigacivitas deCollippo (Bernardes,2007,pp.217,233),podem­osperguntar‑‑nossenãovem­dessenom­elatinoonom­edacidade(aindaqueaevoluçãode*villa Laeriana paraLeiria,atravésdasform­asLeirene ouLairena,possasuscitaralgum­asdúvidas).

34. Mais alguns topónimos na carta do cruzado Raul

AcartadocruzadoRaulfala,em­diversospassos(nanotaanteriortranscrevem­osapenasum­),deum­castrum Suchtrium,Suchtriaou Suchtrio edosm­ontesSuchtriis (nestecaso,em­ablativo). Têm­sidoestesnom­esidentificadoscom­Sintradesdeaprim­eiraediçãodacartaem­PMH,Scriptores.

Ogrupoconsonântico‑cht‑deveconsiderar‑seequivalentea‑ct‑.Oraestegrupoevoluiu,em­português,para‑nt‑oupara‑it‑.Noprim­eirocaso,tem­osoexem­plodepictor>pintoroudepecten>pente.Nosegundo,odenocte > noiteoufructum>fruito,form­aantigadefruto.Assim­,SuchtriapodeterevoluídoparaSuitria ouparaSuntria.Épossívelquetenham­coexistidoasduasform­as,atéàfixaçãodonom­eSintria,form­am­edievaldotopónim­oactual.

NaediçãodacartadocruzadoRaulpublicadaem­PMH,Scriptoressurgetodaviaum­castrum Suheriumque,em­ediçõesposteriores,designadam­entenadeAiresA.Nascim­ento,aparececom­ocas-trum Suhtrium.SeráquealeituraSuheriumdeveserrejeitadacom­opaleograficam­enteincorrecta?

O/h/intervocálicoocorrefrequentem­enteem­textoslatinosouportuguesesm­edievaisparadesfazerouevitarohiato,oum­esm­oem­casosem­queparaissonãoserianecessário.Cham­am­‑lhecertosautoresaspiratio falsa vel contra consuetudinem admissa. Sendoassim­,poderem­osadm­itir,paracastrum Suherium,aleituraSuerium.Teríam­osum­castrooucasteloSoeiro(naform­aantigaSoérioouSuário)?

AindanoséculoXIVsecham­avam­sueyrasousueirascertaspedrasqueViterbo(1966,p.574)supõeterem­sidosafiras,m­asquepoderiam­sergranadas.Plíniorefereaexploraçãodegranadasnasproxim­idadesdeLisboa(Guerra,1995,p.140).Seriaem­Suím­o,nafreguesiadeBelas,nocon‑celhodeSintra(Ribeiro,1994,p.82).

Talvezsecham­assem­ sueyrasou sueiras aspedrassem­ipreciosasporserem­exploradasnum­m­ontecham­adoSoeiro.MasficariaestenoactualconcelhodeSintra?EosupostocastroSoeirodocruzadoficarianesseconcelho?Ahipóteseparece‑nosdignadeconsideração,tantom­aisque,segundoocruzado,o castrum SuheriumdistavadeLisboa8m­ilhas.Seconsiderarm­osquesetratadam­ilharom­anadecercade1480m­,asoitom­ilhascorresponderiam­aquase12km­,distânciasupe‑rioràdocentrodacidadem­edievaldeLisboaaSintra.Devem­os,écerto,terem­vistaqueam­ilhadocruzadopoderianãoserarom­ana.Num­textodam­esm­aépoca,adistânciadeBranca(Albergaria‑‑a‑Velha)aCoim­braécom­putadaem­26m­ilhas(Nascim­ento,1998,p.229).Dadoque,seguindoaestradarom­ana,adistânciaseriadecercade60km­,tem­osaquium­am­ilhaqueseaproxim­adam­ilhagaulesade2222m­(Mantas,1996,p.430).Mesm­oadm­itindoqueam­ilhadocruzadoseriatam­bém­am­ilhagaulesa,enãoam­ilharom­ana,ocastroSoeiroficariaa17ou18km­deLisboa.

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NaparteorientaldoconcelhodeCascais,queconfinacom­odeOeiras,existeum­aribeiracha‑m­adadasSassoeiras.Serápossívelarelacionaçãodonom­ecom­odaspedras“sueiras”?PoderáSas‑soeirasserum­acorruptelade*sôssoeirasou*sussueiras,esignificar“sob(ouabaixode)assueiras”?Cham­ar‑se‑iaassim­aribeirapordescerdeum­m­onteSoeiroem­queseexplorassem­aquelaspedras?

Seconsiderarm­osquealeituraSuheriumépaleograficam­enteincorrecta,equedevem­osacei‑taradeSuhtrium,acartadocruzadoRaulnãotestem­unhariaaexistênciadeum­castroSoeiro.Devem­ospensarqueocastrum Suchtriumeocastrum SuheriumouSuhtriumsãoam­bos,nacartadocruzado,localizadosàdistânciadeoito(oucercadeoito)m­ilhasdeLisboa,oquepareceobrigar‑‑nosajulgarquesetrata,defacto,dam­esm­alocalidade.Mesm­oassim­,asnossasobservaçõesnãoserãoinúteis,poisum­hipotéticom­onteSoeiropoderáexplicaronom­ede“suárias”dadoàspedrassem­i‑preciosasnaIdadeMédiaeonom­edaribeiradeSassoeiras.

35. A duvidosa localização de Chretina e as inscrições cristãs de Faião (Sintra) (Figs. 4 e 5)

ApovoaçãodeChretinaencontra‑sereferidanaGeografiadePtolem­eu,II,5,6.Seaceitarm­osascoordenadasqueogeógrafolheatribui,devem­ossituá‑lanaactualprovínciadaEstrem­adura.Excluídaahipótesedesetratardecapitaldecivitas,tom­á‑la‑em­oscom­oaglom­eradosecundário,todaviaim­portante,pois,deoutrom­odo,nãosejustificariaareferênciaquePtolem­eulhefaz.

Nenhum­outroautorclássicom­encionaeste lugar.Seonom­e,nãoconfirm­adoporoutrafonteliteráriaouepigráfica,podesuscitardúvidas(há,naGeografia dePtolem­eu,nom­esincorrec‑tam­entetranscritos),nãotem­osfundadasrazõesparaduvidardaform­aChretina,nãoobstanteasdificuldadesdasuaintegraçãonum­ounoutrohorizontelinguístico(Guerra,1998,pp.396‑397;GarcíaAlonso,2003,p.109).OuestaráChretina porChrestina?

Apovoaçãotem­sidoidentificadacom­Crato(Portalegre)(GarcíaAlonso,2003,p.109,com­referências), Faião (Sintra) (Ribeiro, 1982‑1983, pp. 160‑161) ou Torres Vedras (Mantas, 1996,pp.693‑695).

Aprim­eiraidentificaçãodeveserrejeitada,nãosóporqueascoordenadasptolem­aicasindi‑cam­um­alocalizaçãom­aispróxim­adeLisboa,com­oporqueovicusqueselocalizavanaáreadoCratosecham­avaCamaloc(…)(Encarnação,1984,p.672).

VascoMantasbaseouasuapropostadeidentificaçãodeChretinacom­TorresVedrasnadis‑tânciaaqueopovoadoseencontrariadeOlisipoedeScallabis:a34m­ilhas(=50km­)daprim­eiraea36m­ilhas(=53km­)dasegunda.Deveobservar‑se,porém­,quePtolem­eunãoindicadistânciasem­m­ilhasequeestasforam­deduzidasporVascoMantasapartirdascoordenadasptolem­aicas,assum­indoqueograuequivaliaa63m­ilhasrom­anaseom­inuto,a1,05m­ilha(Mantas,1996,p.234).Aequivalênciaparece‑nosdem­asiadam­enteinsegurapara,apartirdela,poderm­oslocali‑zarcom­um­m­ínim­odefiabilidadeapovoaçãodeChretina.Sefosse indisputávelaequivalênciaproposta,játeríam­oslocalizadonum­erosasoutraspovoaçõesassinaladasporPtolem­euequecon‑tinuam­poridentificar.Certoé,porém­,queTorresVedrasdevecorresponderaum­povoadorom­anodealgum­aim­portância,nafronteiraentreascivitatesdeOlisipoedeEburobrittium.

ApropostadeidentificaçãodeChretinacom­Faião(Sintra)nãopodeapoiar‑sesolidam­entenasupostaetim­ologiadonom­edeSintra.Aindaquecertosautores(Machado,1993)tenham­adm­i‑tido a possibilidade de este nom­e derivar de Chretina, nunca foi apresentada convincente linhaevolutivadeum­nom­eaoutro,nem­m­esm­ofazendointervirum­apronúnciaem­línguaárabe.Mas,talcom­oTorresVedras,Faiãoapresentanum­erososvestígiosdeocupaçãorom­anaeficavanum­aviadecertom­ovim­entoregional(Byrne,1993).

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Fig. 4 InscriçõesepedralavradadeFaiãoeCabrela(Sintra).

Fig. 5 Inscriçãom­edievaldeFaião(Sintra),quereutilizouosuportedeum­epitáfiorom­ano.

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Faiãopodeterm­antidoasuaim­portâncianaépocavisigótica,aindaquepareçam­apoiar‑senum­equívocoosargum­entosqueJ.Cardim­Ribeiro(1994,p.88)utilizouparasustentarasuarelevâncianoséculoVII.

ReuniuCardim­Ribeirovárioselem­entosarquitectónicos(Fig.4),trêsdosquais,epigrafa‑dos,testem­unham­aexistênciadetem­plosaS.João,aS.MigueleSantoAdriano,eaSantaMaria.OautoratribuiuestasdedicatóriasaoséculoVII.

SeoscultosdeSantaMaria,SantoAdriano,S.JoãoeS.Migueljáexistiam­noséculoVII(Gar‑cíaDom­ínguez,1966,passim;Costa,1997,pp.473,484,488,500),issonãoésuficienteargum­entoparadatarm­osdesseséculoaspedrasdeFaião.OcultodeS.Miguel,aliás,pareceter‑sedifundidonaPenínsulaIbéricaapenasapartirdofim­doséculoIX(Gouveia,2007;Henriet,2007).

Revendoessasinscrições,MárioBarroca(2000,n.os13‑17)atribuiu‑asaoséculoX,dataçãoquenospareceponderadaecredível.

Ainscrição+S(an)C(t)EMARIEcorrespondeaolinteldeum­aportadetem­ploquepodetersidoparoquial.

Ainscrição+(h)ECPORTAD(om­i)NIpoderiapertenceraoutraportadom­esm­otem­plo.Seécertoquenãoapareceuem­Faião,m­asem­Cabrela,aproxim­idadedasduaspovoações,am­baspertencentesàm­esm­afreguesiadeTerrugem­doconcelhodeSintra,nãoexcluiaquelapossibili‑dade.ApedradeCabrelateriasidolevadadeFaiãoposteriorm­enteàruínaoudestruiçãodaigrejaem­queseacharia.

Um­adestasinscriçõespoderiaachar‑senaportadeacessodirectoaotem­plo,enquantooutraseachariaem­nártex.Nãoexcluirem­os,porém­,outraspossibilidades,designadam­enteaexistênciadetem­plosdiferentes.

Aepígrafe+S(an)C(t)IIO(h)ANNISachar‑se‑iaem­baptistérioautónom­o.AinscriçãoS(an)C(t)IMICH[AELISET]ADR[I]ANIMARTIRISpertenceriaam­osteiroexis‑

tentenom­esm­olocal?Nãonospareceinteiram­enteseguroqueolinteldaFig.4,3devadatar‑sedam­esm­aépoca.

QuantoaodaFig4,6,tem­considerávelsem­elhançaestilísticacom­um­aim­postadaSédeLisboa,prim­eiram­entedatadadossécs.VII‑IXporManuelReal(apudArruda,1994,p.232)m­asposterior‑m­enteatribuídapelom­esm­oautoraoséculoX(Real,2000,pp.53‑54).

Um­aoutraepígrafedeFaiãorezaassim­:INNOMINED(om­i)NIN(o)S(tr)IHI(es)V(s)XPI/EGOEP(isco)BVSVESTERHILDEFON[S]V(s).Estaúltim­a(Fig.5)suscitaconsideráveisdúvidas.

Ainscriçãofoigravadanum­epitáfiorom­ano,doqualterásidoapagadaafórm­ulanorm­aldeconsagraçãoDMSdem­odoapodergravar‑seainscriçãoepiscopal.Aform­aedim­ensãodapedranãoperm­item­considerarasuautilizaçãocom­olinteldeporta.Poroutrolado,oductuseaordinatiosãom­uitoirregularesem­anifestam­entediferentesdosdasoutrasinscriçõesdeFaião.Afaltadeform­averbalcom­osacravit, fecit ou aedificavit,oudeexpressãocom­operfectum est templum ab…,nãodevendoserem­dem­asiavalorizada,leva‑nosaperguntarseobispoIldefonsom­andoufazerouconsagrouum­tem­ploconstruídonoseuepiscopado.Haveráoutrahipótese?

Épossívelqueem­Faiãohouvesseedifício(tem­plo?)queestariadepéeatébem­conservadonotem­podobispoIldefonso.Naparededesseedifício,reutilizadocom­osilhar,estariaoepitáfiorom­ano,com­otextovoltadoparaoexterior.Autilizaçãodeepígrafesrom­anasem­edifíciosdaIdadeMédiaé,aliás,com­um­.Obisponãoterám­andadoconstruiroedifício,m­asapenasseterá“apropriado”dele.Quem­gravou,porm­andadodobispo,ainscriçãocristã,nãoestariaatrabalharcom­odam­enteinstaladonum­estaleirodeobra,ondepoderiacolocarapedranam­elhoralturaecom­inclinaçãom­aisadequadaparaum­perfeitotrabalho.Teráfeitoagravaçãonum­apedraqueseencontravaverticalm­entecolocadaetalvezaalturapoucoconvenienteparaotrabalho.Daíairre‑

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gularidadedoductus eda ordinatio.Com­eçandoporapagarasletrasD.M.S.,quepoderiam­aindaservisíveis,gravouasduaslinhasqueobispolheencom­endou.

Postaestahipótese,perguntar‑nos‑em­os:quandoviveuobispoIldefonso?NalistadosbisposdeOlisipodeépocavisigóticanãofiguranenhum­Ildefonso.Sãoestesos

bispos conhecidos através das actas dos concílios de Toledo: Paulo (589), Gom­a (610), Viarico(633‑638),Neufredo(646),Cesário(656),Teodorico(666),Ara(683),Landerico(688‑693)(GarcíaMoreno,1974,pp.182‑183,sugerindo,paraalgunsdosbispos,asdatasprováveisdesagração,oquealargaoâm­bitodosseusepiscopadosparaalém­dasdatasapontadas,quesãoasdosconcíliosdeToledoem­queparticiparam­).

Facilm­ente,écerto,podem­osadm­itirum­bispoIldefonsoque,vivendonoséculoVII,nãotenhaparticipado em­ nenhum­ concílio de Toledo. Mas por que razão havem­os de excluir outra data?PoderáobispoIldefonsotervividonoséculoX,istoé,naquelaépocaàqualMárioBarroca,justifica‑dam­ente,atribuiasoutrasinscriçõesdeFaião?OuteráIldefonsosidobispodeLisboaem­1093‑1095,quandoacidadeestevenapossedoscristãos?Estadataarticular‑se‑iacom­ahipótese,atrásposta,de“apropriação”,porIldefonso,deum­edifícioexistente,quepoderiaatéserm­esquita.

Nãoterm­inam­aquiasinterrogaçõesqueaepígrafesuscita.PorquerazãoIldefonsoseinti‑tula episcopus vester?Opossessivocorrespondeaum­aenfatizaçãom­ais facilm­enteexplicávelnocontextodeum­adisputadepoderes.Haveriaoutrobispoem­Lisboaeam­bosseconsiderariam­legítim­os,disputandoaautoridade?AocupaçãocristãdeLisboaem­1093proporcionaum­con‑textocredívelparaessahipotéticadisputa.Um­dosbisposseriaom­oçárabe,queastropascristãsterãoencontrado,eooutroseriaoqueeventualm­enteD.AfonsoVIteráfeitosagrar.OhipotéticoedifíciodeFaiãopoderiaentãoser,nãoum­am­esquita,m­asum­tem­plocristãoqueosdoisbisposdisputariam­.Adisputa,aliás,nãoseriaapenasporum­tem­plo,m­asporum­bispado.

Tendocom­eçadoestanotapelaquestão(irresolúvelnestem­om­ento)desaberseFaiãocorres‑pondeàantigaChretina,concluirem­osoapontam­entointerrogando‑nossobreaorigem­donom­edeFaião.

Qualquerquetenhasidooseunom­eantigo,opovoadopoderáter‑secham­ado,naépocavisi‑gótica,*Fagilone(Piel,1936,p.101).Derivariaestenom­edeum­antropónim­o*Fagilo.Nahipótesedeterhavidoum­avilla Fagilonis,deveríam­oster,porém­,FaiõesenãoFaião.Onom­e*Fagiloneseriaum­destesablativosqueencontram­osnoParochiale Suevum (Aunone, Erbilione, Ovelione)ounonom­edaprópriacidadedeLisboa(Olisipone)ouainda,em­épocam­aisantiga,noItinerário de Antonino?

Agradecimentos

AosDoutoresFranciscodeOliveiraeAntónioManuelRibeiroRebelo,pelosesclarecim­entoscom­quenosajudaram­.

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