novo sistema brasileiro de classificação de solos (sbcs)

2

Click here to load reader

Upload: jose-carlos-jr

Post on 23-Jun-2015

1.199 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Resumo elaborado pelo Engenheiro Agrônomo João Bertoldo (IAC/SP).

TRANSCRIPT

Page 1: Novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SBCS)

O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001 98 O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

rigor, não havia um sistema brasilei-ro de classificação de solos anteriorao atual, recentemente publicado. Na

verdade o que se usava para classificarnossos solos eram sistemas referenciais, dosquais o de CAMARGO et al. (1987) era omais empregado.

Pode-se dizer que a primeira classifica-ção de solos no Brasil,baseada em conceitosessencialmente pedo-lógicos iniciou após acriação, em 1947, daComissão de Solos doMinistério da Agri-cultura, precursora doatual Centro Nacionalde Pesquisa de Solosda EMBRAPA, a qualtinha a missão de fazero inventário nacional

dos solos brasileiros.

Os primeiro Estado brasileiro a serinventariado foi o do Rio de Janeiro (BRA-SIL, 1958), seguido pelo de São Paulo(BRASIL, 1960). O referencial utilizado paraa classificação dos solos foi inicialmente ode Baldwing et al. (1938) seguido pelo deThorp & Smith (1949). Os termos Regossolo,Solo Aluvial, Solonchak, Solonetz,Planossolo, Gleissolo, Brunizém, BrunizémAvermelhado, Podzol, Solo Bruno NãoCálcico, Laterítico Bruno-Avermelhado, entreoutros, empregados até agora noslevantamentos de solos executados no Bra-sil, advêm daqueles sistemas. Por sua vez, oconceito de Latossolo baseava-se nos tra-balhos de Kellog (1949) e Kellog & Davol(1949), enquanto o de Podzólico Vermelho-Amarelo, nos de Simonson (1949) e Winters& Simonson (1951) como assinalam Jaco-mine & Camargo (1995).

Logo porém, foi verificada a inadequa-ção daqueles sistemas na identificação desolos tipicamente tropicais, quer porque ossolos que iam sendo encontrados não seajustavam ao conceito central de algumasdaquelas classes ou porque não era encon-trada qualquer correspondência com o con-ceito das classes neles assinaladas. Asdeno-minações Podzólicos Vermelho-Amarelos variação Lins e Marília, PodzólicosVermelho-Amarelos variação Piracicaba e va-riação Laras, usadas no Levantamento dosSolos do Estado de São Paulo (Brasil, 1960)foram criadas para denominar solos que di-vergiam do conceito central das classifica-

A

O novo sistema brasileirode classificação de solos

INFORMAÇÕES TÉCNICASINFORMAÇÕES TÉCNICASINFORMAÇÕES TÉCNICASINFORMAÇÕES TÉCNICASINFORMAÇÕES TÉCNICAS

ções usadas. Por sua vez, os Solos deCampos de Jordão, as Terras RoxasEstruturadas, os Podzólicos Amarelos, osLatossolos Ferríferos , os LatossolosBrunos, os Latossolos Amarelos, osRubrozéns entre outros, são exemplos dedenominações criadas para abrigar solosque não encontravam correspondêncianaqueles sistemas. Alguns termos comoMediterrânico Vermelho-Amarelo e Solosde Campos do Jordão, empregados nolevantamento de São Paulo (Brasil, 1960)devido à sua impropriedade, foram logoabandonados.

O avanço dos conhecimentosadquiridos dos solos brasileiros e ainexistência de uma taxonomia adequadae hierarquizada incrementou a demandapor um sistema de classificação quepermitisse identificar os solos desdeclasses mais gerais, em níveis maiselevados, até repartições mais específicasem níveis mais baixos, com classes maishomogêneas.

Este desafio foi assumido pelo entãoServiço Nacional de Levantamento e Con-servação do Solo (SNLCS) da EMBRAPA,sucessor da Comissão de Solos que, em1978, organizou uma Comissão de Classifi-cação e produziu um documentopreliminar. A partir desse documento foiinstituído o projeto “Desenvolvimento doSistema Brasileiro de Classificação deSolos sob a coordenação do eminentepedólogo Marcelo Nunes Camargo,falecido anos depois.

São resultante desse projeto as trêsaproximações, produzidas em caráter reser-vado, em 1980, 1981 e 1988. A classifica-ção dos solos empregada noslevantamentos pedológicos continuavam

a utilizar os referenciais em uso. Acomunidade de pedólo-os brasileiros semanifestava a respeito do sistema que sedesenvolvia através de cartas enviadas àEMBRAPA, em mesas redondas decongressos e em viagens de correlação. Osconceitos e definições de atributos e hori-zontes diagnósticos e de classes contidasnaquelas três Aproximações foram, contudo,resultantes de avaliações e ponderações fei-tas exclusivamente “no âmbito do SNLCS”(EMBRAPA, 1981).

A experiência dos pedólogos brasileirose o conhecimento da população de solos bra-sileiros já eram bastante expressivos nessaépoca. O conceito das classes de solos eramapresentadas nos boletins dos levantamentosou em publicações específicas como porexemplo a “Conceituação sumária de algu-mas classes de solos recém-reconhecidasnos levantamentos e estudos de correlaçãodo SNLCS” (EMBRAPA, 1982) e a “Con-ceituação sumária de classes de solos e crité-rios para subdividí-las (Jacomine, 1979),entre outros. Era a partir destes referenciaisque os pedólogos se baseavam paraidentifi-car os solos. A inexistência dedefinições precisas, contudo, permitia quenão houvesse univocidade na identificaçãodos solos.

Após a III Aproximação, o Projeto deDesenvolvimento do Sistema Brasileiro deClassificação de Solos estacionou, sendoretomado em 1995 sob nova estratégia deação, destacando-se a abertura para a parti-cipação ativa e contínua da comunidade depedólogos brasileiros por meio do ComitêExecutivo, do Comitê Assessor Nacional edos Comitês Regionais. O avanço apresen-tado pela IV Aproximação em relação àsAproximações anteriores foi muito signifi-cativo a ponto de, no Congresso de Solos

João Bertoldo

de Brasília, em 1999, ter sido apresentado osistema Brasileiro de Classificação de Solos(EMBRAPA, 1999), texto considerado comosuficientemente elaborado para serdivulgado para toda a comunidade de pedó-logos. Foi um momento histórico pois estapublicação constitui, na realidade, o primei-ro Sistema Brasileiro de Classificação deSolos (SBCS) oficialmente publicado.

Com referência aos antigos referenciaislistamos a seguir alguns dos pontos princi-pais que merecem destaque no SBCS.

1) O SBCS constitui, como não poderiadeixar de ser, um sistema hierarquizado,com quatro categorias: ordem, sub-ordem,grande grupo e sub-grupo. No quadro 1 sãoapresentadas as classes de solos do Siste-

ma Brasileiro de Classificação de Solos emnível de ordem e respectivos números declasses nas categorias de subordem, gran-de grupo e sub-grupo. É projeto do CentroNacional de Pesquisa de Solos estabeleceras classes referentes aos níveis de família esérie.

2) Cada classe de solo apresenta, alémda sua conceituação, sua definição, baseadapreferencialmente em critérios quantitati-vos.

3) Algumas classes de solos foram agru-padas no primeiro nível categórico (ordem)e discriminadas no nível categórico seguinte(subordem). Por exemplo, os anteriormentedenominados Solos Litólicos, Regossolos,Solos Aluviais e Areias Quartzosas, estãocontidos na ordem dos Neossolos consti-

tuindo, respectivamente, as subordens dosNeossolos litolíticos, Neossolos regolíticos,Neossolos flúvicos e Neossolos quartzarê-nicos. No quadro 2 é apresentada a correla-ção entre as classes de solos do SBCS e asanteriormente utilizadas na Embrapa-Solos.

4) Vários horizontes e atributos diagnós-ticos sofreram reformulação na sua concei-tuação e, conseqüentemente, em sua defini-ção, como por exemplo o horizonte A cher-nozêmico, o horizonte B textural, o horizon-te B espódico, o horizonte sulfúrico, a mu-dança textural abrupta, os materiais sulfídri-cos, entre outros.

5) Vários horizontes diagnósticos foramcriados: horizonte B nítico, horizonte B plâ-nico englobando o anteriormente denomina-do B nátrico, horizonte vértico, horizontehístico este último englobando o anterior-mente denominado horizonte turfoso.

6) Foram criados também vários atribu-tos de diagnóstico: caráter ácrico, caráterepiáqüico, caráter ebânico, caráter crômico,caráter hipocrômico, caráter alumínico.

É importante assinalar que um sistemade classificação sofre constantes aprimora-mentos, e assim é de se esperar que o SBCS,recentemente publicado, sofra modificaçõesem futuras edições, provenientes das inúme-ras sugestões e críticas que deverão surgir àmedida que o sistema for sendo utilizado.Tais aprimoramentos são naturais, acha vistoas enormes modificações sofridas pela clas-sificação americana, o Soil Taxonomy, des-de a sua edição de 1975 até a mais recentede 1999.

Com respeito à classificação dos solosde São Paulo, recentemente Oliveira et al.,(1999) publicaram o mapa pedológico doEstado1 , escala 1:500.000, o qual constituio primeiro mapa publicado no Brasil usandoem sua legenda o Sistema Brasileiro deClassificação de Solos. Em adendo a estetrabalho, Oliveira (1999) publicou o estudo“Solos do Estado de São Paulo: descriçãodas classes registradas no Mapa Pedoló-gico”2 , no qual o autor faz consideraçõesde cada uma das classes de solos cartografa-das naquele mapa, relacionando-as com asclasses dos solos classificados em trabalhosanteriores, o que está sintetizado a seguir:

Argissolos vermelhos: parte dos SolosPodzolizados com cascalho, parte dos SolosPodzolizados de Lins e Marília variaçãoLins e parte dos variação Marília.

Argissolos vermelho-amarelos: Pod-zólicos Vermelho-Amarelos Orto, parte dosPodzólicos Vermelho-Amarelos comcascalhos, parte dos Solos Podzolizados deLins e Marília variação Lins e dos variaçãoMarí-lia, parte dos Podzólicos Vermelho-Amarelos variação Piracicaba, parte dosPodzólicos Vermelho-Amarelos variaçãoLaras; Podzólicos Vermelho-Amarelos“intergrade” para Latossolos Vermelho-Amarelos.

Page 2: Novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SBCS)

11 O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

Cambissolos: Parte dos Solos de Cam-pos do Jordão, parte dos Solos Aluviais.

Chernossolos argilúvicos: não assina-lados.

Espodossolos ferrocárbicos órticos:Podzóis.

Espodossolos ferrocárbicos hidro-mórficos: Podzóis hidromórficos.

Gleissolos háplicos: Solos hidromór-ficos (Gleis Pouco Húmicos).

Gleissolos melânicos: Solos hidromór-ficos (Gleis Húmicos).

Gleissolos sálicos: não assinalados.Latossolos amarelos: parte dos Latos-

solos Vermelho-Amarelos, parte dos Latos-solos Vermelho-Amarelos “intergrades”para Podzólicos Vermelho-Amarelos.

Neossolos Quartzarênicos: Regosso-los, Regossolos “intergrades” para Latos-solos Vermelho-Amarelos e “intergrades”para Podzólicos Vermelho-Amarelos.

Neossolos flúvicos: Solos Aluviais.Neossolos litólicos: parte dos Litos-

solos.Nitossolos Vermelhos: Terras Roxas

Estruturadas, parte dos Mediterrânicos Ver-melho-Amarelos.

Organossolos: Solos Orgânicos.Planossolos: não assinados.Afloramento de rochas*: não assina-

lados.Alissolos crômicos*: não assinalados.Gleissolos tiomórficos*: não assina-

lados.Latossolos brunos*: parte dos Solos de

Campos do JordãoPlintossolos*: não assinalados.Solos de mangue*: não assinalados.Chernossolos rêndzicos**: parte dos

Litossolos substrato arenito calcárioLuvissolos crômicos**: parte dos

Mediterrânicos Vermelho-Amarelos, partedos Podzólicos Vermelho-Amarelos varia-ção Piracicaba.

Neossolos regolíticos**: parte dosLitossolos.

Argissolos amarelos**: parte dosPodzólicos Vermelho-Amarelos variaçãoLaras; parte dos Solos Podzolizados comcascalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALDWING, M., KELLOG, C.E. &THORP, J. Soil classification. In: Soilsand men. Washington, DC, USDA,1938. p. 797-1001. (Agriculture Yearbook)

BRASIL. Ministério da Agricultura. CentroNacional de Ensino e Pesquisas Agro-nômicas. Levantamento de reconheci-mento dos solos do Estado do Rio deJaneiro e Distrito federal. Rio de Janei-ro, Serviço nacional de Pesquisas Agro-nômicas, 1958. 305 p. (SNPA, Boletim11)

BRASIL. Ministério da Agricultura. CentroNacional de Ensino e Pesquisas Agronô-micas. Comissão de Solos. Levanta-mento de reconhecimento de solos doEstado de São Paulo. Rio de Janeiro,Serviço Nacional de Pesquisas Agro-nômicas, 1960. 634p. (SNPA, Boletim12)

CAMARGO, M.N.; KLAMT, E. &KAUFFMAN, J.H. Classificação desolos usada em levantamentos pedo-lógicos no Brasil. Boletim informa-tivo da Sociedade Brasileira de Ciên-cia do Solo, Campinas, 12 (1): 11-33,1987.

EMBRAPA. Serviço Nacional de Levanta-mento e Conservação de Solos. SistemaBrasileiro de Classificação de Solos (2ª

Aproximação). Cópia antecipada. Riode Janeiro, 1981. 100p.

EMBRAPA. Conceituação sumária de algu-mas classes de solos recém-reconhecidasnos levantamentos e estudos de corre-lação do SNLCS (versão provisória).Rio de Janeiro, 1982. 31 p. (Circulartécnica, 1)

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisade Solos. Sistema Brasileiro de Classifi-cação de Solos. Rio de Janeiro, 1999.412 p.

JACOMINE, P.K.T. Conceituação sumáriade classes de solos e critérios parasubdividi-las. EMBRAPA,SNLCS. Riode Janeiro, 1979.69 p. (Mimeografa-do)

JACOMINE, P.T.K. & CAMARGO, M.N.Classificação pedológica nacional emvigor. Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária. Recife, 1995. 22 p. (Mi-meografado)

OLIVEIRA, J.B. Solos do Estado de SãoPaulo: descrição das classes registradasno mapa pedológico. Campinas, Institu-to Agronômico, 1999. 108 p. (Boletimcientífico, 45)

OLIVEIRA, J.B.; CAMARGO, M.N.;ROSSI, M. & CALDERANO FILHO,B. Mapa pedológico do Estado de SãoPaulo: legenda expandida. Campinas,Instituto Agronômico; Rio de janeiro,Embrapa-Solos, 1999. 64 p. + Mapa1.500.000.

THORP, J. & SMITH, G.D. Higher cate-gories of soil classification: order,suborder and great groups. Soil Sci.,Baltimore, 67: 177-226, 1949.

MAPPING SYSTEMS WORKINFGROUP. A soil mapping system forCana-da: revised. Ottawa, AgricultureCanada, Land Resource Research Insti-tute, 1984. 94 p. (Contribution, 141)

1 e 2 - Estas publicações podem ser obtidas no Centrode Documentação do Instituto Agronômico. Fone(019) 3231-5422, Ramais 190 e 215 ou pelo E-mail:[email protected]* Classes de solos e tipo de terreno que ocorrem apenascomo componentes secundários de associa-ções desolos no Mapa Pedológico.** Classes de solos não assinaladas no MapaPedológico

João Bertoldo de OliveiraPesquisador Científico aposentado do IAC.Fone (19) 3231-5422, Ramal 170Endereço eletrônico: [email protected]

O Agronômico, Campinas, 53(1), 200110

AnúncioANDEF