o brasil no global competitiveness report

18
O Brasil no Global Competitiveness Report 2010-2011 Carlos Arruda, Marina Araújo, Arthur Kux 1 Um pouco sobre o Global Competitiveness Report 2010-2011 Com o intuito de oferecer ferramentas de benchmarking para gestores e formuladores de políticas, o Global Competitiveness Report (GCR), produzido anualmente pelo Forum Econômico Mundial, analisa alguns dos fatores fundamentais para o crescimento econômico sustentável e a prosperidade no longo prazo (WEF, 2010). As análises de competitividade possuem como indicador básico o Global Competitiveness Index (GCI). Esse indicador de competitividade considera tanto fatores macro como os microeconômicos, preservando, portanto, a importância da interação entre os fatores sistêmicos, empresariais e estruturais da economia. De forma sintética, competitividade é para o WEF (2010) o conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade do país. No que tange à produtividade, essa é considerada um fator primordial para a sustentabilidade da prosperidade econômica das nações. Assim, para o WEF (2010), em linhas gerais, economias mais competitivas tentem a gerar altos níveis de renda para a população. E a ponte desse processo está nos ganhos de produtividade auferidos pela economia dadas as suas condições de competitividade. Além disso, a sustentabilidade da prosperidade de uma nação somente pode ser garantida se a sua produtividade for adequadamente mantida. Num raciocínio mais retilíneo, países mais competitivos terão maiores níveis de produtividade, que geram, no médio e no longo prazo, maiores níveis de renda (proxy de crescimento econômico). Recorrentemente formulado em bases macro, o WEF entende não ser esse suficiente para a definição do termo. A exploração dos conceitos microeconômicos e, principalmente, do conceito de produtividade no seu nível micro é de suma importância para as formulações do “Global Competitiveness Report”. A produtividade, anteriormente citada como componente de um contexto macro, é formulada a partir de componentes microeconômicos, como a sofisticação das companhias, a qualidade do ambiente de negócios e das externalidades que possibilitam a formação de clusters e dão suporte às indústrias e é nessas bases que o conceito de produtividade será desenhado (WEF, 2010). Tendo esses três fatores microeconômicos

Upload: fundacao-dom-cabral-fdc

Post on 03-Jul-2015

833 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Brasil no Global Competitiveness Report

O Brasil no Global Competitiveness Report

2010-2011

Carlos Arruda, Marina Araújo, Arthur Kux

1 – Um pouco sobre o Global Competitiveness Report 2010-2011

Com o intuito de oferecer ferramentas de benchmarking para gestores e formuladores de

políticas, o Global Competitiveness Report (GCR), produzido anualmente pelo Forum

Econômico Mundial, analisa alguns dos fatores fundamentais para o crescimento

econômico sustentável e a prosperidade no longo prazo (WEF, 2010).

As análises de competitividade possuem como indicador básico o Global

Competitiveness Index (GCI). Esse indicador de competitividade considera tanto fatores

macro como os microeconômicos, preservando, portanto, a importância da interação

entre os fatores sistêmicos, empresariais e estruturais da economia. De forma sintética,

competitividade é para o WEF (2010) o conjunto de instituições, políticas e fatores que

determinam o nível de produtividade do país. No que tange à produtividade, essa é

considerada um fator primordial para a sustentabilidade da prosperidade econômica das

nações. Assim, para o WEF (2010), em linhas gerais, economias mais competitivas

tentem a gerar altos níveis de renda para a população. E a ponte desse processo está nos

ganhos de produtividade auferidos pela economia dadas as suas condições de

competitividade. Além disso, a sustentabilidade da prosperidade de uma nação somente

pode ser garantida se a sua produtividade for adequadamente mantida.

Num raciocínio mais retilíneo, países mais competitivos terão maiores níveis de

produtividade, que geram, no médio e no longo prazo, maiores níveis de renda (proxy

de crescimento econômico). Recorrentemente formulado em bases macro, o WEF

entende não ser esse suficiente para a definição do termo. A exploração dos conceitos

microeconômicos e, principalmente, do conceito de produtividade no seu nível micro é

de suma importância para as formulações do “Global Competitiveness Report”. A

produtividade, anteriormente citada como componente de um contexto macro, é

formulada a partir de componentes microeconômicos, como a sofisticação das

companhias, a qualidade do ambiente de negócios e das externalidades que possibilitam

a formação de clusters e dão suporte às indústrias – e é nessas bases que o conceito de

produtividade será desenhado (WEF, 2010). Tendo esses três fatores microeconômicos

Page 2: O Brasil no Global Competitiveness Report

básicos, a quantidade de trabalho dessa nação aumentará e, a partir dele, o produto

interno gerado. Esse processo levará, também, a um aumento da renda nacional.

Considerando que as condições microeconômicas traduzem as oportunidades geradas

pelas condições macro, a produtividade é determinada a partir da atuação dos

“geradores” de produtividade, que são, por exemplo, a exportação das empresas, as

importações, os investimentos diretos recebidos do exterior ou aqueles realizados pelas

empresas nacionais nos exterior, a inovação, etc. Assim, um ambiente competitivo gera

condições macroeconômicas, políticas e sociais adequadas, proporcionando para a

empresa um ambiente micro favorável para o aumento de sua produtividade, e,

conseqüentemente, a quantidade de trabalho empregada na economia e, por fim, o nível

de renda e produto.

Com base nisso, o Relatório Global de Competitividade é composto por dois índices

distintos de competitividade:

• O Global Competitiveness Index (GCI), criado em 2004 pela equipe do WEF

juntamente com o Prof. Prof. Xavier Sala-i-Martin, da Columbia University, leva em

consideração o nível de desenvolvimento dos países e inclui variáveis – econômicas,

institucionais, sociais e empresariais - que definem o ambiente competitivo de uma

nação.

• O Business Competitiveness Index (BCI), sob a responsabilidade do Prof. Michael

Porter, preocupa-se com os fatores microeconômicos que moldam a produtividade das

firmas.

Os índices são formados por dois tipos de informações:

• Hard data ou dados secundários provenientes de fontes públicas internacionais. A

maioria dos dados é referente ao ano anterior de publicação do relatório (2009) ou o

dado mais recente disponível.

• Soft Data ou dados primários provenientes da pesquisa de opinião de executivos

conduzidas nos países através das instituições parceiras locais, no caso do Brasil, a

Fundação Dom Cabral e o Movimento Brasil Competitivo. A competitividade envolve

diversos aspectos de uma economia, muitos deles subjetivos ou de difícil mensuração.

Por essa razão, o WEF realiza anualmente uma pesquisa de opinião de executivos

(Executive Opinion Survey - EOS) para obter essas informações complementares, como

qualidade das instituições públicas, independência do poder judiciário e o grau da

corrupção em uma economia.

Os executivos respondem a aproximadamente 150 questões sobre o ambiente no qual

seus negócios estão inseridos, apontando sua percepção em uma escala entre 1 a 7, em

que 1 geralmente corresponde à pior opção e 7 à melhor. O WEF e as instituições

parceiras selecionam a amostra dos executivos que participarão da EOS visando

representar da melhor forma possível o universo das empresas do país, ou seja,

considerando a dispersão geográfica, estrutura setorial e o tamanho das empresas. Para

obter uma amostra com significativa participação no PIB, são consultados,

Page 3: O Brasil no Global Competitiveness Report

prioritariamente, executivos de grandes empresas. A amostra deve, obrigatoriamente,

conter firmas com participação estatal, privada nacional e privada estrangeira, além de

firmas domésticas que vendem em mercados internacionais.

Os executivos selecionados para responder ao questionário são da alta gerência das

empresas, que possuam conhecimentos sobre o ambiente econômico nacional e

internacional. A pesquisa pode ser respondida pelo questionário enviado para as

empresas ou através da internet. O instituto Gallup International atua como consultor do

World Economic Forum, garantindo a qualidade do processo de revisão metodológica e

técnica da pesquisa. No mundo, a pesquisa em 2010 envolveu mais de 13.607

participantes e 139 economias1. No Brasil, mais de 140 executivos responderam ao

questionário entre janeiro e maio. A metodologia adotada pelo World Economic Forum

para elaboração do relatório e respectivos rankings será apresentada em detalhes neste

documento. As mais de 100 variáveis analisadas no estudo são agrupadas em 12

"pilares", que correspondem a grupos diferentes de variáveis e que, por sua vez, são

agrupados em três grupos de análise: “Requisitos Básicos”, “Propulsores de Eficiência”

e “Inovação e Sofisticação Empresarial”.

Para o relatório de 2010-2011, os 12 pilares analisados foram:

Requisitos básicos

1. Instituições: Referem-se a transparência, grau de corrupção e eficiência do setor

público, proteção a direitos de propriedade, qualidade da segurança pública, além da

ética das empresas, e eficácia das auditorias e padrões contábeis do setor privado.

2. Infra-estrutura: Relacionado à qualidade da infra-estrutura de transportes,

comunicação e de fornecimento de energia.

3. Estabilidade Macroeconomia: Refere-se ao nível de endividamento, inflação,

contas públicas e spread bancário.

4. Saúde e Educação Primária: Refere-se à incidência de doenças e seus impactos na

economia, à expectativa de vida e à abrangência do sistema educacional primário.

Propulsores de eficiência

5. Educação Superior e Treinamento: Refere-se à abrangência e qualidade do sistema

educacional nos níveis secundário e terciário, além dos serviços de treinamento e

pesquisa especializados.

1 Em relação a 2009, o estudo contou com um país a menos – Suriname.

Page 4: O Brasil no Global Competitiveness Report

6. Eficiência do Mercado de Bens: Refere-se ao impacto das regulamentações

governamentais na atividade empresarial privada e às características competitivas do

ambiente empresarial.

7. Eficiência do Mercado de Trabalho: Reflete o grau de flexibilidade das leis do

trabalho e as práticas de meritocracia adotadas nas empresas.

8. Sofisticação do Mercado Financeiro: Avalia a qualidade do mercado bancário e a

disponibilidade no país de marcos regulatórios, práticas e recursos que facilitem o

acesso a capital por empresas do setor privado.

9. Prontidão Tecnológica: Relacionada à difusão de novas tecnologias nas empresas e

na sociedade.

10. Tamanho do Mercado: te Refere-se ao tamanho do mercado pelo qual as empresas

se orientam.

Inovação e sofisticação empresarial

11. Sofisticação dos Negócios: Relacionado à qualidade e quantidade de fornecedores

locais, às práticas empresariais e à natureza da vantagem competitiva das firmas.

12. Inovação: Refere-se à capacidade inovativa da economia.

Após essa apresentação do estudo, segue uma análise detalhada das condições

competitivas do Brasil para o ano de 2010, que se estrutura da seguinte forma. Na seção

2 discuti-se a situação competitiva geral do Brasil com base no GCR de 2010. A seção 3

dedica espaço ao seu detalhamento com destaque para a análise dos pilares e fatores que

compõem o indicador. Ao final da seção será apresentado alguns desafios do Brasil para

o futuro. A seção 4 conclui a discussão empreendida.

2 – O Brasil no GCR 2010-2011

Apesar dos avanços nas áreas sociais e econômicas, o Brasil perdeu 2 posições no

ranking geral de competitividade do Global Competitiveness Report 2010-2011.

Ocupando a 58ª posição o país ainda não conseguiu recuperar o posicionamento de

2004 (49º lugar), mesmo considerando os seus avanços e estabilidade em áreas chaves

da competitividade como a macroeconomia e o emprego. Como pode ser observado no

Gráfico 1, o país não conseguiu atingir um bom ritmo de recuperação competitiva. A

velocidade com que a nação perdeu 23 posições entre os anos de 2004 e 2007 (em 3

anos) não pode ser percebida na recuperação de posições vivida entre 2007 e 2010 –

anos estes que o país recuperou 14 das 23 posições perdidas.

Page 5: O Brasil no Global Competitiveness Report

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O ganho de 8 posições vivenciado no ano de 2009 esteve não somente relacionado aos

ganhos reais de competitividade do país mas, também, pela perda generalizada de

competitividade das demais nações como consequencia da crise. Já em 2010, a perda de

duas posições no ranking geral parece relacionado a um ganho competitivo das demais

nações analisadas. Corrobora essa observação o fato de as posições do Brasil nos

grandes blocos de análise terem praticamente se mantido ao longo do estudo. Em um

ranking onde o posicionamento competitivo é relativo, não ganhar novas posições pode

ser um sinal de perda competitiva, principalmente quando as demais nações estão numa

constante corrida pela recuperação competitiva em um cenário de pós-crise. Esse parece

ser o caso do Brasil. O importante ganho de 8 posições do país parece ser balizado no

ano de 2010 pela recuperação competitiva dos demais países do ranking, fazendo com

que o país retomasse sua posição real através da perda de 2 posições.

TABELA 1: O Brasil no Global Competitiveness Report 2010-2011

GCR 2009-2010 2006 2007 2008 2009 2010

Global Competitiveness Index 66 72 64 56 58

Requisitos Básicos 84 101 96 91 86

Propulsores de Eficiência 51 55 51 42 44

Inovação e sofisticação de fatores. 36 41 42 38 38

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O GCR analisa a competitividade das nações em acordo com seu nível de

desenvolvimento econômico. Assim, o Brasil que pertence ao grupo 2 (Direcionados

para a Eficiência) no referido modelo deveria ter superado as suas necessidades e

deficiências nos requisitos básicos da competitividade e buscar pelo desenvolvimento

dos propulsores de eficiência e inovação. Como já apontado em relatórios anteriores, o

país apresenta uma inversão de prioridades tendo as suas bases competitivas em fatores

ligados a inovação e a sua sofisticação de fatores. Na contra-mão, as suas maiores

fragilidades e desafios estão justamente nos fatores que, por hipótese, deveriam ser as

forças competitivas do país – os requisitos básicos. Como pode-se observar na TAB. 1,

o país incrementou a sua posição competitivas nos fatores de Inovação e Sofisticação

4957

6672

6456 58

0

20

40

60

80

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Gráfico 1: Global Competitiveness Index 2010-2011

Page 6: O Brasil no Global Competitiveness Report

de 2007, quando ocupava a 41ª posição, até 2010, quando ocupou a 38º lugar. Nesse

bloco o Brasil está à frente de nações como Índia (42ª posição), Chile (44ª) e Espanha

(41ª).

Já os requisitos básicos, fatores de pior desempenho do país, saíram do 101º lugar em

2007 para o 86º lugar em 2010. Apesar da reconhecida deficiência, esse último tem

apresentado taxas de crescimento superiores aos demais blocos, com uma média de

ganhos de 5 posições por ano. Esse fato é consequencia das fortes intervenções do

governo e das políticas de recuperação econômica e social. Por último, o bloco de

propulsores de eficiência foi o único a apresentar uma pequena perda competitiva (duas

posições), mesmo assim o país está a frente de países como Itália (45ª), México (61ª) e

Rússia (53ª).

De uma forma geral o Brasil continua com forte participação competitiva e política

frente aos dois grandes grupos econômicos à qual pertence. Com relação à América

Latina (AL), o Brasil apresenta o segundo melhor desempenho competitivo, perdendo

somente para o Chile (30ª posição). Ainda vale comentar que, no que tange a

competitividade, a distância relativa entre as economias do Brasil e do México parece

aumentar. Em 2009 o Brasil ocupava a 56ª posição enquanto o México ocupou a 60ª –

uma diferença de 4 posições. Já no ano de 2010, apesar de as duas nações apresentarem

perdas, a distância entre os mesmos aumentou para 8 posições (TAB. 2).

Nesse movimento, caberia ressaltar o mau posicionamento generalizado dos países

latino-americanos no ranking geral. Dentre as 30 nações mais competitivas do globo,

somente o Chile representa a região. No segundo quadrante (com posicionamentos que

variam de 35 ao 70) localizam-se nações como Porto-Rico (41ª), Panamá (53ª), Brasil

(58ª), Uruguai (64ª), México (66ª) e Colômbia (68ª). As demais nações localizaram-se

nos quadrantes de mais baixo desempenho competitivo, com um total de 13 nações

participantes. Essa concentração de países latino-americanos nos quadrante de baixo

desempenho coloca a região para trás na corrida pela competitividade, corrida essa

bastante acirrada quando se considera o potencial asiático em competir. No que tange à

competitividade brasileira, em comparação com a citada região, a sua força pode estar

na estabilidade macroeconômica e no tamanho do seu mercado, que atualmente

apresenta alto potencial de renda e compra.

Page 7: O Brasil no Global Competitiveness Report

TABELA 2: O Brasil e algumas nações latino-americanas no Global

Competitiveness Report 2010-2011

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Em relação aos BRICs a situação competitiva do Brasil pode não ser tão favorável.

Ocupando o 3º lugar (dentre as 4 nações consideradas), o Brasil perde para China e

Índia, estando à frente somente de Rússia. Ao longo dos últimos três anos, somente

Brasil e Rússia apresentaram variações competitivas consideráveis. Como já

comentado, o Brasil ganhou 8 posições em 2009 enquanto Rússia perdia 12 posições.

As variações de China e Índia em 2009 sinalizaram para a estabilidade, dada a variação

de somente 1 posição. Já no ano de 2010, todas as nações elencadas pelo grupo

apresentaram certa estabilidade. Nesse cenário, Brasil e Índia perderam duas posições,

enquanto China ganhou duas. Já Rússia manteve seu posicionamento de 2009.

Relativamente, somente China pertence ao primeiro quadrante do ranking geral, estando

as 3 outras nações concentradas no segundo quadrante.

TABELA 3: O Brasil e os BRICs no Global Competitiveness Report 2010-2011

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Numa análise transversal, o posicionamento geral do Brasil está consideravelmente

aquém de suas potencialidades. Não somente por sua força política e econômica, o

Brasil sub-utiliza a sua plataforma competitiva levando-o ao desempenho mediano

apresentado acima. No ranking geral o país perde competitividade para nações como

Qatar (17ª), Irlanda (29ª) e Mauritânia (55ª). Essa situação é respaldada por questões já

amplamente discutidas em análises anteriores como a falta de infraestrutura e educação

adequadas, ausência de um marco regulatório eficiente e de políticas de fomento para

investimento empresarial. Esses e mais outros tantos fatores se reproduzem no histórico

Page 8: O Brasil no Global Competitiveness Report

competitivo brasileiro de forma inercial. Romper com esse ciclo é o maior desafio do

próximo governo.

Porem, não somente velhos fantasmas rondam a competitividade nacional. O desafio

das continuidades (ARRUDA, ARAÚJO, KUX, 2010) ainda é presente. Dar

continuidade às boas políticas, às boas práticas governamentais, à estabilidade

macroeconômica com desenvolvimento e ao investimento do governo são desafios tão

complexos quanto o primeiro elenco de desafios apresentados. Mas afinal, o que foi o

Brasil em 2010? Qual herança ficará para o próximo governo? E quais os principais

desafios do Brasil? Essas são algumas das perguntas que essa análise tentará explanar

nas páginas que se seguem.

3 – Um retrato do Brasil:

Para se entender a competitividade do Brasil na primeira década do século XXI é

importante ter em mente alguns fatores históricos de seu desenvolvimento. Até a década

de 80, considerando os governos de Getúlio, Juscelino e dos militares, todo

desenvolvimento industrial e da base competitiva eram motivados por uma necessidade

intensa de recuperação de fatores defasados ou tardios. Assim foi a constituição da

indústria de base no país, a construção de sua infraestrutura logística, a instalação de

estruturas de telecomunicações e o desenvolvimento da educação básica com as salas do

Mobral. Sempre atrás de um desenvolvimento tardio, o país continua sendo a promessa

do futuro, condição essa que ainda não alcançamos.

O Brasil de FHC era um país assolado pela crise econômica e inflacionária. Sem

condições de investir em um desenvolvimento efetivo, os 8 anos de FHC deixaram de

herança a estabilidade da moeda e as contas públicas ajustadas, além da privatização e

da criação das agência reguladoras. Casa arrumada o governo Lula inicia-se com

demandas efetivas de desenvolvimento. Incrementar o investimento do país era algo

mais que necessário, era urgente. Somente via investimento (das empresas ou dos

governos) é que o país poderia incrementar a renda e o emprego, além de colocar as

empresas nacionais em condições de maior competitividade internacional.

Sem qualquer posicionamento crítico a respeito, esse incremento do investimento foi

realizado, principalmente pelas fontes governamentais. Muito investiu-se em

infraestrutura, em desenvolvimento social, em educação. E o país cresceu. Cresceu a

renda média da população, cresceu o número de empregos ofertados, reduziu-se a

capacidade ociosa das fábricas e aumentou-se o consumo. O país, enfim, parece viver

um verdadeiro crescimento econômico, e não mais um milagre econômico sem

fundamentos sólidos como na década de 70.

Frente a um novo patamar de desenvolvimento econômico, talvez o maior desafio esteja

na sustentabilidade desse movimento. Mais que dar continuidade é imprescindível que o

ciclo virtuoso da economia ganhe vida própria. Dado o impulso inicial fomentado pelas

Page 9: O Brasil no Global Competitiveness Report

diversas ações governamentais, cabe agora aos demais agentes econômicos continuarem

a fomentar esse ciclo seja via investimentos do setor privado, seja via investimento da

sociedade em educação e treinamento, ou em outros tantos caminhos possíveis. Mais

que cobrar do governo ações em prol da competitividade nacional, talvez seja o

momento de se fomentar uma melhor interação público-privada, onde a participação de

todos é imprescindível.

Sem dúvidas as maiores deficiências competitivas do país estão no bloco Requisitos

básicos. Composto por 4 pilares básicos, à saber Instituições, Infraestrutura,

Estabilidade Macroeconômica e Saúde e Educação básica, esse é o conjunto de fatores

que, historicamente, deprimem o resultado líquido da competitividade nacional.

Ocupando o 86º lugar no ranking do referido bloco, o pilar de pior desempenho está na

estabilidade macroeconômica (111ª posição) e o de melhor desempenho está na infra-

estrutura (62ª posição).

TABELA 4: O Brasil e os requisitos básicos da competitividade no Global

Competitiveness Report 2010-2011

2007 2008 2009 2010

Global Competitiveness Index 72 64 56 58

Requisitos Básicos 101 96 91 86

Instituições 104 91 93 93

Infra-estrutura 78 78 74 62

Estabilidade Macroeconômica 126 122 109 111

Saúde e Educação Básica 84 79 79 87

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

No pilar instituições, onde é avaliada a qualidade das instituições públicas e privada em

fornecer condições favoráveis à competitividade internacional, o Brasil manteve estável

a sua posição de 2009, 93º lugar. O baixo desempenho nesse pilar é histórico e está

relacionado ao baixo desempenho do país em fatores como Diversificação dos Fundos

Públicos (121ª posição), confiança pública nos políticos (127ª), desperdício dos gastos

governamentais (136ª) e os custos gerados pelo crime e violência (123ª). De uma forma

geral, o desempenho do referido pilar é bastante baixo, estando o seu melhor

desempenho na posição 64 para as variáveis Força dos padrões de auditoria e Proteção

dos interesses dos acionistas minoritários. Vale ressaltar que os “melhores”

desempenhos do pilar estão relacionados ao desempenho das instituições privadas.

Infraestrutura, apesar das intensas criticas do setor privado é o pilar de melhor

desempenho, 62º lugar. Apesar do ganho de 12 posições no pilar, as variáveis do

mesmo não apresentaram grandes alterações de posições entre os anos de 2009 e 2010.

A qualidade geral da infraestrutura apresentou perdas competitivas de 3 posições em

relação ao ano anterior (ocupando a 84ª posição em 2010). Somente os fatores qualidade

da infraestrutura rodoviária e portuária apresentaram tímidas melhorias de 1 e 4

posições, respectivamente (ocupando a 105ª e a 123 posição).

Page 10: O Brasil no Global Competitiveness Report

A estabilidade macroeconômica talvez seja o Tendão de Aquiles da competitividade

atual. Por quatro anos consecutivos, como pode-se observar na tabela 4, o país não

conseguiu sair do último quadrante do ranking de competitividade, apresentando

posicionamentos inferiores ao 100º lugar. No ano de 2010, o país ocupou o 111º lugar,

perdendo duas posições quando comparado com o seu desempenho do ano de 2009. De

uma forma geral, esse pilar sofre com a incongruência interna de suas variáveis, que

refletem a incongruência dos agentes econômicos que o regem. Apesar do bom

desempenho macroeconômico em fatores como o balanço dos gastos governamentais

(50ª posição e ganho de 19 posições) e o Country Credit Rating (46ª posição) o país

ainda possui sérios problemas em variáveis chaves da macroeconomia nacional. A

exemplo, tem-se a taxa de poupança nacional em que o país ocupou a 101ª posição

(perda de 15 posições) no ranking e o Spread Bancário onde o país ocupou a 136ª

posição (perda de 8 posições).

Para além, o estudo aponta uma maior pressão inflacionária contra a estabilidade

macroeconômica tão defendida. O país saiu da 46ª posição no quesito Inflação em 2009

para a 93ª posição. Porem, essa mudança negativa de posicionamento parece estar

relacionado muito mais a um processo de deflação das economias como um todo do que

a perda de competitividade do Brasil no que tange seu controle da inflação. No ano de

2008 o país apresentou uma inflação média de 5.7%. Já no ano de 2009 essa média caiu

para 4.9%, padrão adequado frente as metas inflacionárias controladas pelo BACEN.

Logo, na realidade, o Brasil não apresentou no ano de 2010 uma tendência crescente da

inflação mas, sim, uma manutenção de seu controle.

O pilar saúde e educação primária, último do bloco requisitos básicos, apresentou um

perda de 8 posições entre os anos de 2009 e 2010, passando a ocupar a 87º lugar. Tal

posição, inferior ao desempenho competitivo do ano de 2007, coloca as condições

educacionais e de saúde do Brasil inferiores a de países como Argentina (60ª), Equador

(75ª), México (70ª) e Rússia (53ª). Nesse pilar a qualidade de educação primária (127ª

posição com perda de 8 posições) e a incidência de malária (104ª posição com perdas de

6 posições) foram os fatores de pior desempenho do país. No ano de 2010, o referido

pilar sofreu consideráveis mudanças em sua estrutura com a diminuição do número de

indicadores que expressam a qualidade da educação básica nos países estudados. De

uma forma geral, 80% dos indicadores desse pilar expressam a qualidade da saúde

ofertada pelo país mas pouco discorre sobre a qualidade da educação básica (que é

representado por apenas 20% das variáveis).

Page 11: O Brasil no Global Competitiveness Report

TABELA 5: O Brasil e os propulsores de eficiência da competitividade no Global

Competitiveness Report 2010-2011

2007 2008 2009 2010

Global Competitiveness Index 72 64 56 58

Propulsores de Eficiência 55 51 42 44

Educação Superior e Treinamento 64 58 58 58

Eficiência do Mercado de Bens 97 101 99 114

Eficiência do Mercado de Trabalho 104 91 80 96

Sofisticação do Mercado

Financeiro 73 64 51 50

Prontidão Tecnológica 55 56 46 54

Tamanho do Mercado 10 10 10 10

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O segundo bloco apresentado pelo WEF é destacado pelos fatores que movimentam a

eficiência produtiva de uma determinada nação. Nessa lógica, para as empresas

produzirem com eficácia e eficiência elas deverão encontrar em sua plataforma

produtiva uma mão-de-obra com formação técnica e superior adequada à produção, um

mercado de trabalho eficiente, um mercado financeiro que suporte as suas transações

financeiras, dentre outras tantas características que dão movimento e intensidade à

atividade empresarial. Ressalva-se que, na lógica desenvolvimentista do WEF, a

existência de uma dessas bases não isenta a necessidade de que as demais coexistam. Na

verdade, cabe esclarecer que o ideal competitivo perseguido pelo WEF demanda,

justamente, a busca pela existência efetiva dos três blocos de analise aqui discutidos.

Retomando a analise dos dados, como pode-se observar na tabela 5, os fatores

propulsores de eficiência no Brasil apresentam um comportamento diversificado.

Enquanto variáveis como Tamanho de mercado (10ª posição), Sofisticação do mercado

financeiro (50ª) e Prontidão tecnológica (54ª) vem a colaborar para a eficiência das

empresas, outros fatores historicamente deprimem as condições competitivas nacionais

– como, por exemplo, Eficiência do mercado de bens (114ª) e Eficiência do mercado de

trabalho (96ª).

Dentro do referido bloco, o pilar de maior estabilidade tanto de posições quanto de

posicionamento competitivo está no tamanho de mercado brasileiro. Ocupando a 10ª

posição a mais de 5 anos, este pilar é um dos fatores chaves para o crescimento da

economia vivenciados nos últimos anos. Como será tratado em detalhe mais à frente, o

tamanho do mercado é medido não somente por sua capacidade de geração de riqueza

(PIB na paridade do poder de compra) mas, também, pela sua capacidade de

transacionar com os mercados externos. Assim, o Brasil ocupa a 9ª posição no tamanho

de sua geração de riqueza, com um PIB de US$ 2.013 bilhões de dólares, e a 24ª

posição no indicador de tamanho de mercado estrangeiro. Cabe notar que o melhor

posicionamento do país está justamente na sua capacidade doméstica. Com ganho de 1

posição, o Brasil passa a ocupar a 8ª posição de maior econômica doméstica (medido

Page 12: O Brasil no Global Competitiveness Report

pelo indicador de tamanho de mercado doméstico). Fator esse gerado pelo intenso

movimento de expansão da renda real vivido pelo país nos últimos anos.

Outro fator que apresenta um comportamento competitivo bastante interessante está no

pilar Sofisticação do mercado financeiro. Por três anos consecutivos o referido pilar

alcançou melhores posicionamentos no ranking de forma bastante sustentável. De 2007

a 2010, este pilar alcançou 23 novas posições que se sustentaram tanto na depressão

pré-crise, durante e, principalmente, no pós-crise (quando teoricamente, os demais

países deveriam voltar ao nível de competitividade normal). Essa sustentabilidade está

ancorada numa eficiente regulamentação da bolsa de valores (ganho de 5 posições

passando a ocupar o 5º lugar no ranking); na solidez do setor bancário (perda de 4

posições ocupando o 14º lugar); na disponibilidade de bons serviços financeiros (27º

lugar); na melhoria dos fluxos de capitais no país (ganho de 18 posições passando a

ocupar o 73º lugar) e numa melhor disponibilidade de venture capital (ganho de 8

posições passando a ocupar o 60º lugar).

Os pilares que apresentaram maiores perdas de posições competitivas são Eficiência do

mercado de trabalho (perda de 16 posições) e Eficiência do Mercado de Bens (perda de

15 posições). Com relação ao mercado de trabalho, os ganhos de 24 posições auferidos

entre os anos de 2007 e 2009 parecem esmorecer. Estão relacionados a essa perda de

competitividade fatores como a perda de 17 posições na variável confiança na gestão

empresarial (52ª posição); o aumento da rigidez do emprego (gerando uma perda de 18

posições e ocupando a 114ª posição); e diminuição da flexibilidade da determinação

salarial (perda de 6 posições ocupando a 116ª). Além desses fatores, colaboram para

esse cenário a falta de cooperação nas relações de trabalho (90ª), a redundância dos

custos salariais (80ª) e o pouco relacionamento existente entre pagamento e

produtividade (80ª). Cabe a ressalva de que a maioria desses fatores estão relacionados

ao marco regulatório brasileiro.

O segundo pilar que apresentou maiores perdas competitivas também justifica seu

desempenho pela ausência de competitividade do marco regulatório que o rege. Assim

como no pilar anteriormente apresentado, o desempenho geral do Brasil no referido

pilar é relativamente bem representado pelas variáveis de atuação direta das empresas,

caso oposto às variáveis que expressam atuação do governo. Assim, a queda de 15

posições é justificada pela perda de competitividade no que tange a concentração dos

mercados (perda de 11 posições passando a ocupar a 46ª posição); ao grande impacto

que os impostos tem para a eficiência da produção e para a formação de preços (variável

que ocupou em 2009 e 2010 o ultimo lugar no ranking); ao total de taxas e impostos

desembolsados pelas empresas (perda de 10 posições passando a ocupar a 127ª

posição); ao excesso de procedimentos dedicados à abertura de novos negócios (perda

de 6 posições passando a ocupar a 132ª posição), dentre outros fatores. Para esse mesmo

pilar, o desempenho do Brasil mostra-se mais adequado ao seu nível de

desenvolvimento nas variáveis grau de orientação da produção para os clientes

Page 13: O Brasil no Global Competitiveness Report

(ocupando o 50º lugar) e a sofisticação dos consumidores (ganho de 5 posições

passando a ocupar a 52ª posição).

Por fim, tratar de educação superior e treinamento no Brasil é sempre uma temática

delicada. Apesar dos avanços já registrados na área, é reconhecido que um amplo

caminho à qualidade do ensino superior e treinamento ainda precisa ser perseguido. No

ranking do referido pilar, o ganho de 6 posições no ano de 2007 foi mantido por três

anos consecutivos, inclusive em 2010, fazendo do Brasil a 58ª economia mais

competitiva no que tange sua educação superior. Apesar da manutenção da posição no

ano de 2010, o referido pilar apresenta uma sensível perda de posições em algumas de

suas variáveis. Perda essa que poderá em um futuro próximo culminar em perdas

generalizadas no pilar. Dessa forma, no ano de 2010, o número de matrículas no nível

secundário e terciária mantiveram, aproximadamente, as suas posições do ano anterior.

Mas, apesar de todo o investimento do governo e das políticas do MEC para

incrementar o nível terciário, a posição competitiva média da variável continua baixa

(73º lugar). Além dessa questão, a qualidade do sistema educação do Brasil ainda é

bastante mal avaliada pelos executivos, ocupando desde 2009 o 103º lugar. Critica

também foi a avaliação dos executivos para a disponibilidade local de pesquisa

especializada e serviços de treinamento, variável essa que ocupou o 36º lugar com um

perda de 7 posições em relação ao desempenho de 2009.

TABELA 6: O Brasil e os fatores de inovação da competitividade no Global

Competitiveness Report 2010-2011

2007 2008 2009 2010

Global Competitiveness Index 72 64 56 58

Inovação e sofisticação de fatores 41 42 38 38

Sofisticação dos Negócios 39 35 32 31

Inovação 44 43 43 42

FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Por fim, a análise do bloco Inovação e Sofisticação dos fatores parece detalhar sobre o

melhor da competitividade do país. Ocupando o 38º lugar, este bloco é composto pelos

pilares inovação (com ganhos competitivos de 1 posição ocupando o 31º lugar) e

sofisticação dos negócios (ganho de 1 posição e ocupando o 42º lugar). No que tange a

inovação, a capacidade geral de gerar inovação no país foi bem avaliada pelos gestores,

fazendo o país ocupar a 29ª posição no referido ranking. Também apresentaram bons

posicionamentos as variáveis despesas das empresas em P&D (29ª posição) e

colaboração universidade-indústria para geração de P&D (34ª posição). Como essas

duas últimas variáveis apresentadas são baseadas em fontes softs, pode ocorrer de as

mesmas apresentarem certas distorções da realidade. Com relação às despesas das

empresas com atividades de P&D, apesar do bom posicionamento indicado pelo

empresariado brasileiro, em dados quantitativos a realidade parece ser outra. As

empresas brasileiras, segundo dados do MDIC, investem menos de 0,5% de seu PIB em

Page 14: O Brasil no Global Competitiveness Report

atividades de P&D. Dados esses bastante reduzidos quando comparados com países

como China (1,18%), USA (2,01%) e Israel (3,93%).

O país teve consideráveis ganhos de posição em variáveis como Capacidade do governo

em adquirir novas tecnologias (50ª posição com um ganho de 10 posições). Na contra-

mão, o país perdeu 8 posições na variável Disponibilidade de cientistas e engenheiros,

saindo da 60ª posição para a 68ª. Essa última variável é especialmente critica em

momentos de crescimento econômico dada a falta de mão-de-obra devidamente

qualificada para a continuidade desse mesmo crescimento.

Quanto a sofisticação dos negócios, a quantidade e qualidade de oferta de bens (9ª e 29ª

posição, respectivamente) apontam para um cenário empresarial competitivo. Já a

variável Natureza da Competitividade (89º lugar) indica um posicionamento médio das

empresas brasileiras, elas estariam tanto dedicadas a produção de bens de baixo valor

agregado, como recursos naturais, como a produção dedicada a produtos e processos

únicos e com agregação tecnológica. De uma forma geral, o perfil produtivo brasileiro

mostra-se bastante competitivo e eficiente, essas observações estão calcadas na posição

do país nas variáveis Controle da distribuição internacional (27ª), Extensão dos

mercados (22ª), Sofisticação dos processos produtivos (29ª). Somente a variável

Extensão da cadeia de valor, que apresentou perdas competitivas de 3 posições, teve o

pior desempenho do pilar, ocupando a 60ª posição.

Como já comentado em anos anteriores, a competitividade brasileira parece ser

sustentada pela atividade empresarial. Mas, sem dúvidas, o atual crescimento do país e

todo o seu desenvolvimento recente estão bastante ancorados nas políticas e ações

governamentais. Sustentar o atual desenvolvimento econômico envolve mais que a

superação de desafios historicamente consolidados, envolve, também, a promoção de

uma conexão efetiva entre agentes públicos e privados. Afinal, como constituir um setor

privado forte e economicamente sustentável? Sem dúvidas, a resposta dessa pergunta

pode estar na efetiva parceria entre governo, empresas e sociedade.

4 – Um novo desafio para o Governo e as empresas brasileiras

O país ainda inspira prosperidade. Pensar na sustentabilidade do desenvolvimento

econômico brasileiro envolve, sem dúvidas, garantir a estabilidade do crescimento. O

desafio, talvez, seja torná-lo sustentável. Para se ter idéia, o crescimento real do PIB em

2010 girará em torno dos 4,8%, número esse que contrasta significativamente com os

1,17% negativos apresentados no ano de 2009 (em decorrência da crise e da

desaceleração da economia mundial) e que sinaliza bons ventos quando comparado com

o desempenho de 2008 (crescimento real de 3,96%).

Page 15: O Brasil no Global Competitiveness Report

Para manter o ritmo do crescimento a palavra de ordem é equilíbrio. Sendo o ano de

2008 o ano da euforia e o ano de 2009 o ano da precaução, esse seria o momento ideal

de equilibrarmos as nossas ações em prol de um crescimento mais sustentável. Nesse

movimento, a expansão do emprego, da renda e do consumo foram os motores do

referido crescimento.

Como mostra os dados abaixo, o consumo das famílias parece ser a variável que mais

cresceu (em termos de participação no PIB) nos últimos 3 anos. Representando no ano

de 2009 mais de 62% do PIB, essa variável simbolizou um total de 986 bilhões de

dólares no ano de 2009, e um montante de R$ 566 bilhões de reais circulando na

economia no 3º trimestre do ano de 2010. Outro destaque está no próprio consumo do

governo que representou em 2009 quase 21% do PIB e mais de 327 bilhões de dólares

no mesmo ano. Entretanto, a manutenção desse desempenho está diretamente ligada a

um contexto macroeconômico de expansão real dos salários e continuidade do

crescimento das taxas de emprego da economia. O que, por sua vez, esta relacionada ao

padrão e volume de investimento atual da economia.

TABELA 7: Formação PIB Brasil 2007 2008 2009

Consumo das famílias(%PIB) 59.90 60.32 62.76

Consumo do Governo (%PIB) 20.26 19.58 20.81

Formação Bruta de Capital Fixo (%PIB) 17.44 18.67 16.73

Poupança Bruta Doméstica (%PIB) 19.84 20.11 16.43

Um dos principais desafios do ano de 2011 para o Brasil está, justamente, em repensar a

lógica do investimento nacional. (Re)pensar sobre o investimento e o seu volume é algo

já extensamente discutido pelos estudiosos e interessados no tema, porem repensar o seu

perfil pode ser o grande desafio competitivo de 2011. Para romper com a lógica de

crescimento promovido até então, e exemplificada pelo breve contexto histórico acima

discutido, seria necessário um reposicionamento das empresas e do governo. O caminho

da sustentabilidade do crescimento das firmas e da estabilidade macroeconômica

alcançada pelo governo está, justamente, na inversão da lógica do investimento.

-0,16

1,21

-0,23

4,33

1,882,75

4,503,96

-1,17

4,80

-2,00

-1,00

-

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Gráfico 2: Real GDP Growth per capita

Page 16: O Brasil no Global Competitiveness Report

Nos dias de hoje, os investimentos de base estão em sua grande parte calcados no

governo. Não isentando o Estado de suas responsabilidades no que tange a oferta de

condições competitivas adequadas, deve-se levar em conta a sustentabilidade desses

investimentos. Apesar de necessários eles estão levando o Estado a níveis de

endividamento exorbitantes. Como pode-se observar no gráfico abaixo, a tão comentada

redução da dívida externa foi alcançada graças à expansão da dívida interna. Entre os

anos de 1995 e 2000, a evolução de ambas as dívidas sinalizavam para a mesma direção

de crescimento. Em 2002 os dados sinalizam para uma inversão da inclinação das

mesmas, tendo um direcionamento positivo (de crescimento) para a dívida interna e um

direcionamento negativo (de queda) para a dívida externa. Nesse mesmo ano de 2002, a

dívida externa representou 18,25% do PIB e a interna 37.71%. Após sete anos esses

valores passaram a representar 44.89% do PIB para a dívida interna e 3,15% para a

externa.

No curto prazo, esses montantes de investimento realizados a custo da dívida não

somente geram crescimento econômico como desenvolvimento social. A questão é

pensar nas conseqüências desses investimentos para o longo prazo. Frente a um alto

endividamento, a tendência é que os investimentos cessem e com ele, todo o motor do

atual crescimento do emprego, da renda e do consumo. O receio está na

insustentabilidade dos investimentos e da dívida do atual governo levar a mais um ciclo

recessivo da economia brasileira.

Para se evitar tal contexto a sugestão está, como já comentado, na mudança do padrão

dos investimentos nacionais e num envolvimento mais direto do setor privado na

promoção dos investimentos de base e recuperação da plataforma competitiva.

10,33

14,8617,26

21,0624,26

22,69

38,86 37,7141,37 41,16

45,47 46,46 46,46

42,4644,89

3,671,63 2,01

4,25

8,66 7,24

13,01

18,25

13,3010,50

8,276,05

4,09 4,41 3,15

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Gráfico 3: Dívida do Governo Central (% PIB)

Central government domestic debt Central government foreign debt

Page 17: O Brasil no Global Competitiveness Report

Ressaltamos que não estamos defendendo o descolamento dos agentes governamentais

do processo de investimento e expansão do desenvolvimento econômico. Na verdade,

estamos defendendo a parceira efetiva e eficiente dos principais agentes motores do

crescimento.

TABELA 8: Formação Bruta de Capital Fixo (em milhões de reais)

Ano Adm. Pública Empresas e Familias

1995 15,955 113,341.29

1996 17,054 125,327.40

1997 16,231 146,902.59

1998 23,665 142,509.22

1999 15,274 151,472.74

2000 21,293 176,858.00

2001 25,935 195,837.00

2002 30,468 211,694.00

2003 25,604 234,110.00

2004 - -

2005 37,490 304,747.00

2006 48,245 341,083.00

Fonte: IpeaData, 2011

Nessa lógica, o investimento e todo o seu aporte de capital deveria ser direcionado ao

setor privado que, dada a sua disponibilidade financeira e flexibilidade de ação, poderia

com muito mais agilidade percorrer o caminho rumo à formação de condições

competitivas mais adequadas (o que inclui investimentos em infra-estrutura, energia,

ciência e tecnologia, etc). No mesmo sentido, o Estado poderia fortalecer a sua ação

reguladora no sentido de garantir que esses investimentos privados atendam aos

interesses de toda nação.

Além dos benefícios de agilidade e maior disponibilidade financeira, esse movimento,

que desonerará as contas públicas, poderia ainda gerar redução da carga tributária no

país. No cenário atual, qualquer reforma tributária parece inviável dado o perfil da

dívida e dos gastos do governo. Repassando parcela considerável dos investimentos ao

setor privado, o governo poderá ter melhores condições de receita para promover a tão

demandada reforma.

A mudança aqui proposta ultrapassa as questões legislativas e governamentais.

Reconhece-se que transformar a lógica dos investimentos nacionais envolve mudanças

muito mais profundas que as econômicas. Envolve a mudança de uma sociedade

construída em base paternalista e pouco colaborativa. Apesar de ethos brasileiro ser

assim, ainda é possível que essa transformação de nossa racionalidade venha a trazer um

efetivo e sustentado crescimento e desenvolvimento econômico.

Page 18: O Brasil no Global Competitiveness Report

Fundação Dom Cabral55 3589-7300

www.fdc.org.br