o centro - n.º 40 – 19.12.2007

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 40 (II série) De 19 de Dezembro de 2007 a 1 de Janeiro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA REGIÕES DE TURISMO ARTE EM COIMBRA PÁG. 11 PÁG. 3 Escultura em simpósio e exposição no ISCAC Pedro Machado desiludido com divisão EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735 A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO Encerrado nos dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro PÁG. 2 e 4 a 7 Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe valiosa obra de arte APENAS 20 • POR ANO! UMA ORIGINAL PRENDA PARA TODAS AS OCASIÕES - LEIA NA PÁG. 3 e o Natal NATAL (1942) Velho Menino-Deus que me vens ver Quando o ano passou e as dores passaram: Sim, pedi-te o brinquedo, e queria-o ter, Mas quando as minhas dores o desejaram… Agora, outras quimeras me tentaram Em reinos onde tu não tens poder… Outras mãos mentirosas me acenaram A chamar, a mostrar, a prometer… Vem, apesar de tudo, se queres vir. Vem com neve nos ombros, a sorrir A quem nunca doiraste a solidão… Mas o brinquedo… quebra-o no caminho. O que eu chorei por ele! Era de arminho E batia-lhe dentro um coração… NATAL (1950) Foi tudo tão pontual Que fiquei maravilhado. Caiu neve no telhado E juntou-se o mesmo gado No curral. Nem as palhas da pobreza Faltam na manjedoira! Palhas babadas da toira Que ruminava a grandeza Do milagre pressentido. Os bichos e a natureza No palco já conhecido. Mas, afinal, o cenário Não bastou. Fiado no calendário, O homem nem perguntou Se Deus era necessário… E Deus não representou. NATAL (1948) Devia ser neve humana A que caía no mundo Nessa noite de amargura Que se foi fazendo doce… Um frio que nos pedia Calor irmão, nem que fosse De bichos de estrebaria. NATAL (1952) Natal fora de casa de meu Pai, Longe da manjedoira onde nasci. Neve branca também, mas que não cai Na telha vã da infância que perdi. Filosofias sobre a eternidade; Lareiras de salão, civilizadas; E eu a tremer de frio e de saudade Por memórias em mim quase apagadas… NATAL (1953) Um Deus à nossa medida… A fé sempre apetecida De ver nascer um menino Divino E habitual. A transcendência à lareira A receber da fogueira Calor sobrenatural. RETÁBULO (1954) Estranho Menino Deus é o dum poeta! O que nasce e renasce há muitos anos Na minha noite de Natal, fingida, Mal corresponde à imagem conhecida Das sucursais do berço de Belém. É uma criança tímida que vem Visitar os meus sonhos, e, ao de leve, Com mãos discretas, tece Um poema de neve Onde depois se deita e adormece. (condições especiais para grupos)

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Page 1: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 40 (II série) De 19 de Dezembro de 2007 a 1 de Janeiro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

REGIÕES DE TURISMO ARTE EM COIMBRA

PÁG. 11PÁG. 3

Esculturaem simpósioe exposiçãono ISCAC

PedroMachadodesiludidocom divisão

EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ

PARA MARCAÇÕES: 969 453 735

A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO

Encerrado nos dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro

PÁG. 2 e 4 a 7

Ofereçauma assinaturado “Centro”e ganhe valiosaobra de arteAPENAS 20 • POR ANO!

UMA ORIGINAL PRENDAPARA TODAS AS OCASIÕES

- LEIA NA PÁG. 3

e o NatalNATAL (1942)

Velho Menino-Deus que me vens verQuando o ano passou e as dores passaram:Sim, pedi-te o brinquedo, e queria-o ter,Mas quando as minhas dores o desejaram…

Agora, outras quimeras me tentaramEm reinos onde tu não tens poder…Outras mãos mentirosas me acenaramA chamar, a mostrar, a prometer…

Vem, apesar de tudo, se queres vir.Vem com neve nos ombros, a sorrirA quem nunca doiraste a solidão…

Mas o brinquedo… quebra-o no caminho.O que eu chorei por ele! Era de arminhoE batia-lhe dentro um coração…

NATAL (1950)Foi tudo tão pontualQue fiquei maravilhado.Caiu neve no telhadoE juntou-se o mesmo gadoNo curral.

Nem as palhas da pobrezaFaltam na manjedoira!Palhas babadas da toiraQue ruminava a grandezaDo milagre pressentido.Os bichos e a naturezaNo palco já conhecido.

Mas, afinal, o cenárioNão bastou.Fiado no calendário,O homem nem perguntouSe Deus era necessário…E Deus não representou.

NATAL (1948)

Devia ser neve humanaA que caía no mundoNessa noite de amarguraQue se foi fazendo doce…Um frio que nos pediaCalor irmão, nem que fosseDe bichos de estrebaria.

NATAL (1952)Natal fora de casa de meu Pai,Longe da manjedoira onde nasci.Neve branca também, mas que não caiNa telha vã da infância que perdi.

Filosofias sobre a eternidade;Lareiras de salão, civilizadas;E eu a tremer de frio e de saudadePor memórias em mim quase apagadas…

NATAL (1953)

Um Deus à nossa medida…A fé sempre apetecidaDe ver nascer um meninoDivinoE habitual.A transcendência à lareiraA receber da fogueiraCalor sobrenatural.

RETÁBULO (1954)

Estranho Menino Deus é o dum poeta!O que nasce e renasce há muitos anosNa minha noite de Natal, fingida,Mal corresponde à imagem conhecidaDas sucursais do berço de Belém.É uma criança tímida que vemVisitar os meus sonhos, e, ao de leve,Com mãos discretas, teceUm poema de neveOnde depois se deita e adormece.

(condições especiais para grupos)

Page 2: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

2 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

NATAL

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MIGUEL TORGAE O NATAL

Não haveria melhor forma de assi-nalar a quadra do Natal do que repro-duzir poemas de Miguel Torga alusi-vos a esta quadra.

É isso que fazemos, na primeirapágina e também nesta, publicando al-guns desses poemas retirados do “Di-ário”.

A todos os nossos Leitores, Assi-nantes e Anunciantes, bem como aosnossos Colaboradores, desejamos umNatal feliz, com saúde e paz.

NATAL (1962)

Um anjo imaginado,Um anjo dialéctico, actual,Ergueu a mão e disse: – É noite de Natal,Paz à imaginação!E todo o ritualQue antecede o milagre habitualPerdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiançaNo mistério divino,E de mirra e de incenso e oiroDerramadosNo presépio vazio,Duas perguntas brancas, regeladasComo a neve que cai,E breves como o ventoQue entra por uma fresta, quezilento,Redemoinha e sai:

À volta da lareiraQuantas almas se aquecemFraternamente?Quantas desejam que o Menino venhaOuvir humanamenteO lancinante crepitar da lenha?

NATAL (1966)

Leio o teu nomeNa página da noite:Menino Deus…E fico a meditarNo milagre dobradoDe ser Deus e menino.Em Deus não acredito.Mas de ti como posso duvidar?Todos os dias nascemMeninos pobres em currais de gado.Crianças que são ânsias alargadasDe horizontes pequenos.Humanas alvoradas…A divindade é o menos.

NATAL (1970)

Natal divino ao rés-do-chão humano,Sem um anjo a cantar a cada ouvido.EncolhidoÀ lareira,Ao que perguntoRespondoCom as achas que vou pondoNa fogueira.

O mito apenas veladoComo um cadáverFamiliar…E neve, neve, a caiarDe triste melancoliaOs caminhos onde um diaVi os Magos galopar…

NATAL (1972)

Fiel das horas mortasDesta noite comprida,Pergunto a cada sombra recolhidaQue sol figura o lumeQue da lareira negra me sorri:O do calor cristão?O do calor pagão?Ou a fogueira é só a combustãoDa lenha que acendi?

Presépios, solstícios, divindades…A versátil natureza do homem, senhorde tudo!Cria mitos, destrói mitos,Nega os milagres que fez,E depois, desesperado,Procura o mundo sagradoNas cinzas da lucidez.

NATAL (1973)

Todos os anos, nesta data exacta,Momentos antesDe fechar o cartórioDe poeta– um registo civil ultra real –,O mago desse arquivo de presságios

Regista de antemão o mesmo nomeNo seu livro de acentos:– Jesus…– repete com melancolia,A consumar a morte prematuraDo nascituro,E a lamentar que a mãe,Virgem Maria,Humana criatura,Continue a ter filhos no futuroCondenados à mesma desventura.

NATAL (1974)

Soa a palavra nos sinos,E que tropel nos sentidos,Que vendaval de emoções!Natal de quantos meninosEm nudez foram paridosNum presépio de ilusões.

Natal da fraternidadeSolenemente juradaNum contraponto em surdina.A imagem da humanidadeTerrenamente nevadaDum halo de luz divina.

Natal do que prometeu,Só bonito na lembrança.Natal que aos poucos morreuNo coração da criança,Porque a vida aconteceuSem nenhuma semelhança.

NATAL (1975)

Outro Natal.Outra comprida noiteDe consoada,Fria,Vazia,Bonita só de ser imaginada.

Que fique dela, ao menos,Mais um poema breve,RecitadoPela neveA cair, ao de leve,No telhado.

NATIVIDADE (1979)

Nascer e renascer…Ser homem quantas vezes for preciso.E em todas colher,No paraíso,A maçã proibida.E comê-la, a saberQue o castigo é perderA inocência da vida.

Nascer e renascer…Renovar sem descanso a condição.Mas sem deixar de serO mesmo Adão

E impenitentemente naturalPossuído da íntima certezaDe que não há pecado originalQue não seja o sinal doutra pureza.

NATAL (1982)

Solstício de Inverno.Aqui estou novamente a festejá-loÀ fogueira dos meus antepassadosDas cavernas.Neva-me na lembrança.E sonho a primaveraFlorida nos sentidos.Consciente da feiraQue nesses tempos idosTambém era,Imagino um segundo nascimentoSobrenaturalDa minha humanidade.Na humildadeDum presépio ideal,Emblematizo essa virtualidade.E chamo-lhe Nata

NATAL (1985)

Nem pareces o mesmo, DeusmeninoExpostoNum presépio de gesso!E nunca foi tão santa no teu rostoEsta paz que me dás e não mereço.

E é fingida também a neveQue te gela a nudez.Mas gosto dela assim,A ser tão branca em mimPela primeira vez.

ÚLTIMO NATAL (1990)

Menino Jesus, que nascesQuando eu morro,E trazes a pazQue não levo,O poema que te devoDesde que te aninheiNo entendimento,E nunca te pagueiA contentoDa devoção,Mal entoado,Aqui te fica mais uma vezAos pés,Como um tiçãoApagado,Sem calor que os aqueça.Com ele me desobrigo e desengano:És divino, e eu sou humano,Não há poesia em mim que temereça.

Page 3: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

3DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008

Temos uma excelente sugestão parauma prenda para um Amigo, um Fami-liar ou mesmo para si próprio: uma as-sinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamente grá-tis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho daautoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-

bolizando o crescente desenvolvimentodesta Região Centro de Portugal, tão ricade potencialidades, de História, de Cul-tura, de património arquitectónico, de des-lumbrantes paisagens (desde as praiasmagníficas até às serras verdejantes) e,ainda, de gente hospitaleira e trabalha-dora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte (que tem as se-guintes dimensões: 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiáriopassará a receber directamente em suacasa (ou no local que nos indicar), o jornal

“Centro”, que o manterá sempre bem in-formado sobre o que de mais importantevai acontecendo nesta Região, no País eno Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

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e ASSINE JÁ o “Centro”.Para tanto, basta cortar e preencher

o cupão que abaixo publicamos, e en-viá-lo, acompanhado do valor de 20 eu-ros (de preferência em cheque passadoem nome de AUDIMPRENSA), para

a seguinte morada:Jornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desenvol-va, dando voz a esta Região.

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ORIGINAL PRENDA POR APENAS 20 EUROS

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REGIÃO CENTRO

Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO

O Presidente da Região de Turismodo Centro, Pedro Machado, manifestoualguma decepção, não à criação das cin-co regiões de turismo do país, mas à dasoutras cinco com potencial turístico,como a da Serra da Estrela.

“Fiquei decepcionado em certa medi-da, porque foi beliscada, ou diminuída, acoerência de uma estratégia para a Re-gião Centro do ponto de vista turístico. Acriação da região da Serra da Estrela, in-serida no distrito da Guarda, é mais umailha, com todos os problemas de daí de-correm”, referiu o responsável da Regiãode Turismo do Centro ao nosso jornal.

Sem “papas na língua”, Pedro Macha-do confessou que quinta-feira ficou sa-tisfeito quando foi divulgado pelo Con-selho de Ministros o plano de reduçãodas 19 regiões de turismo existentes paraapenas para cinco (Norte, Centro, Lis-boa, Alentejo e Algarve). Mas a decep-ção tornou-se mais crítico.

“Na quinta-feira, fiquei satisfeito econtinuo a pensar que o Governo fez bem

TURISMO: A POLÉMICA DECISÃO DE CRIAR 5 REGIÕES + 5 SUB-REGIÕES

Pedro Machado desiludido com o Governoco-partidária que uma questão turística.Ter 78 municípios juntos e deixar 15 defora é uma política de ‘orgulhosamentesós’. Não há nenhuma lógica nisso”, jus-tificou o responsável pelo turismo.

Pedro Machado teme ainda que omesmo processo se repita no resto dopaís, uma vez que vão ser criadas cincozonas com potencial turístico. “O Pólode Desenvolvimento da Serra da Estrelavai ter autonomia de gestão. O mesmovai acontecer com as outras quatro sub-regiões. Isso vai ser outro disparate”,concluiu o Presidente da Região Cen-tro.

O Governo, na passada quinta-feira,reduziu de 19 para cinco as regiões deTurismo: Norte, Centro, Lisboa, Alente-jo e Algarve. Mas logo a seguir anun-ciou continuar a haver, autónomas, ou-tras cinco sub-regiões do país com po-tencial turístico: Alqueva, Litoral Alente-jano, Região Oeste, Serra da Estrela eDouro.

Também a Associação Nacional de

Municípios Portugueses (ANMP) sus-tentou ontem (terça-feira) que o Gover-no aprovou a reorganização das regiõesde turismo sem ter em conta o processode consulta que abriu aos parceiros combase em cinco regiões.

“Não faz sentido para nós porque aqui-lo que nos foi apresentado para nos pro-nunciarmos apontava para uma coinci-dência com as NUT II”, disse à agênciaLusa o Presidente da ANMP, FernandoRuas.

As Áreas Metropolitanas de Lisboa ePorto -através da Associação Turismode Lisboa e da Associação de Turismodo Porto - podem contratualizar o exer-cício de actividades e a realização deprojectos com o Governo.

De acordo com Fernando Ruas, oscritérios que levaram a este modelo nãoforam discutidos com a ANMP.

“Começamos a questionar-nos se valea pena emitir pareceres”, lamentou.

Norberto Rodrigues

em criar cinco grandes regiões a nívelnacional. Mas criar na Região Centro aRegião da Serra da Estrela como umasub-região é um mau serviço que sepresta ao país”, acrescenta o dirigente.

Pedro Machado justifica que o pro-cesso é mais de cariz político-partidário.

“Acho que a criação da zona da Ser-ra da Estrela é mais uma questão políti-

Pedro Machado

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4 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008MIGUEL TORGA

Miguel Torga: sucessivas homenagens e evocações

Quase a terminar o ano do centenáriodo nascimento de Miguel Torga, as cele-brações e homenagens continuam a mul-tiplicar-se por todo o País e em váriospontos do Mundo.

Ainda na passada semana decorreuna cidade alemã de Hamburgo um Con-gresso dedicado a Miguel Torga, que reu-niu diversos especialistas internacionaise proporcionou análises muito enrique-cedoras sobre a obra de Torga.

Mas tantas são as realizações de ho-menagem a Torga (centenas em váriospontos de Portugal e do Mundo), que seriaexaustivo enumerá-las.

Por isso destacaremos apenas al-gumas.

Nas páginas 6 e 7 relatamos a evoca-ção que foi feita na Escola Secundáriade José Falcão, de que Miguel Torga foialuno quando veio para Coimbra.

Também a Câmara Municipal deCoimbra tem promovido diversas ini-ciativas, desde exposições e reuiniõescientíficas, até passeios pelo Universode Torga.

Uma referência para outra iniciativaorigignal: a largada de pombos com poe-mas de Torga, que decorreu em Coim-bra na passada semana.

Por último, destaque para um outromomento muito significativo, pela simpli-cidade de que se revestiu e pelos partici-pantes que reuniu: um jantar torguiano

promovido pela Casa-Museu Miguel Tor-ga em colaboração com a Escola deHotelaria e Turismo de Coimbra, quedecorreu nesta Escola. Uma ementaonde avultou a simplicidade, a gastrono-mia portuguesa (caldo e cozido à trans-montana), elaborada pelo Chefe LuísLavrador e pela equipa de alunos, quemereceu unànimes elogios.

Presentes, entre outros, o GovernadorCivil de Coimbra, o Director Regional deCultura do Centro, o Presidente da As-sembleia Municipal, o Presidente da Re-gião de Turismo do Centro, o Vereadorda Cultura da Câmara Municipal de Co-imbra e diversas outras entidades, queforam saudadas pela Directora da Es-

cola, Ana Paula Pais.Mas presentes estiveram também vá-

rios dos mais íntimos amigos de MiguelTorga, entre os quais o Padre Valentim(seu companheiro de viagens e de caça-das), António Arnaut, Sá Furtado, querelataram alguns interessantes episódiosvividos com Miguel Torga - o mesmo ten-do feito José Carlos Seabra Pereira, Pro-fessor da Faculdade de Letras de Coim-bra, que revelou a história de uma entre-vista que, quando jovem estudante e jun-tamente com José Miguel Júdice, tentoufazer a Miguel Torga.

Contudo, a intervenção de fundo se-ria feita pela Presidente da Direcção daCasa-Museu Miguel Torga, Cristina Ro-

A mesa com as entidades oficiais António Arnaut narrando momentos que viveu com Torga

Page 5: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

5DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 MIGUEL TORGA

“O ano de 2007 está a chegar ao fim.E com ele o Centenário do nascimentode Miguel Torga.

Este encontro de hoje não quer sermais um a acrescentar a tantos e tan-tos que ao longo do ano, tão genuínae espontaneamente, escandiram aagenda cultural do país. Não que es-ses momentos não tenham sabidoevocar Miguel Torga na diversidadeda sua obra, na profundidade do seupensamento e na firmeza das suasconvicções. Mas apenas porque aquihoje não há descrição, análise, her-menêutica, exegese, não há recria-ção, reinvenção ou reescrita. Aqui háapenas Miguel Torga, presente namemória e no espírito de cada um,simbolicamente evocado nos nomesdas suas obras e nas palavras poéti-cas de celebração de Natal que de-coram as nossas mesas…

Estar à mesa com Torga, ter no pra-to um pedaço do seu Trás-os-Montes,com ele partilhar o sabor da sua terra,é um privilégio, para alguns de nós, umadescoberta, para muitos, umaemoção.Estar à mesa com Torga é en-trar na sua intimidade, sentar-se ao seulado, ouvir a sua voz, procurar, no seurosto, o movimento que transforma emtexto a inquietação da alma.

Escolhemos, para vos oferecer, umaementa que Torga não rejeitaria.

Quisemos respeitar a vontade de des-pojamento do “poeta de paredes lisas”,a dimensão ascética da sua personali-dade, a experiência de alheamento queo gosto pela abstracção lhe empresta.Quisemos que as mesas se vestissemde simplicidade, recusassem a osten-tação, abolissem qualquer rasto de con-tingência para apenas acolherem o es-sencial, (um ramo de Torga e) a pala-

a encerrar ano do centenário do nascimento

balo Cordeiro (Vice-Reitora da Univer-sidade de Coimbra). Um texto muito in-teressante e bem adequado ao momen-to, como se pode concluir pela transcri-ção que a seguir fazemos:

vra do poema que cada Natividadelhe inspirava. Mas quisemos tambémemprestar a esta ceia a alegria de umencontro de amigos, no prazer da car-ne transmontana e do vinho do seuDoiro. Quisemos reconstituir o palcode um jantar de companheiros queconversam, discutem, debatem e seanimam.

E Torga, no final da noite, ao regres-sar a casa, teria por certo gostado defixar este instante. Talvez escrevesseum poema de palavras simples e quen-tes. Talvez que nos colocasse, comofigurantes, no palco de um novo e ori-ginal Banquete e nos desse a palavrapara que contássemos as nossas pró-prias estórias. Talvez que não resistis-se a descobrir em nós o perfil singularde um novo bicho para repovoar a suaArca de Noé ou apenas tapasse o nos-so rosto com a máscara tão real deuma das suas figuras imaginárias: qualde nós seria então Madalena, Marianaou Leonor Viajada, qual de vós o Toi-no, o Sr. Cosme, o Sr. Ventura ou oTeixeirinha?

Talvez afinal que apenas se sentas-se à secretária, um pouco cansado e,brincando com as teclas da sua má-quina, escrevesse no cimo da páginaem branco:

12 de Dezembro de 2007 - Jantarde Amigos em Coimbra

Hoje um grupo de amigos quis ofe-recer-me um jantar. Resisti quantopude, que as noites já estão frias e astardes no consultório me deixam der-reado.

Mas lá fui, que não havia como des-calçar a bota sem fazer desfeita a nin-guém.

Não me arrependo.O caldo trouxe-me a mão de minha

mãe a pousar a malga fumegante emcima da mesa da cozinha, e a (sobre-mesa) não atraiçoou o jeito da Andrée.

E ninguém se lembrou do discursofinal, sempre penoso, nem me pediram

Cristina Robalo Cordeiro quando fazia a sua aplaudida intervenção

que lesse um poema!Tocou-me o acolhimento daquela

gente, que não sabia o que me haviade fazer. Uma noite assim, no calor dapalavra amiga, vale bem a torre deMontaigne que tanto invejo. É que hámomentos para tudo e nem o mais so-litário dos monges desdenharia tama-nha fraternidade.

Levei a vida toda a erguer a voz, o

melhor que pude, pelos valores em queacredito. E afinal vim aqui hoje vivê-los sem precisar de os apregoar. Háinstantes assim, abençoados por umaalegria simples.

E na solidão agora do meu quarto edo meu canto, não é Orfeu Rebelde queme sinto, mas homem apenas, serenoe reconciliado, à espera de mais umNatal!”

Pedro Machado, padre Valentim e Manuel António

Page 6: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

6 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008MIGUEL TORGA

No âmbito das comemorações do centenáriodo nascimento de Miguel Torga, a direcção da“Associação dos Antigos Alunos, Professorese Funcionários do Liceu D. João III/Escola Se-cundária José Falcão” associou-se à iniciativadesignada “Lembrar Torga”, promovida peloConselho Executivo da Escola Secundária JoséFalcão, que decorreu de 10 a 14 deste mês deDezembro.

Coube-me a mim, enquanto membro da direc-ção da referida Associação e historiadora doantigo Liceu Central de José Falcão, evocar Mi-guel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia daRocha, antigo aluno deste Liceu, onde se matri-culou como aluno interno, no ano lectivo de1926-1927, e onde experimentou os seus “pri-meiros voos”, segundo as suas próprias pala-vras (“A Criação Do Mundo II, O Terceiro Dia”).Vejamos então qual foi o seu percurso até che-gar ali.

Segundo consta do Livro de nascimentos deSão Martinho de Anta, relativo aos anos de 1908-1910 (folhas 103, sob o n.º 44), Adolfo Correia daRocha nasceu às 9 horas do dia 12 de Agosto,no lugar e freguesia de São Martinho de Anta,concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real. Erafilho de Francisco Correia da Rocha e de Mariada Conceição de Barros, jornaleiros, naturaisdesta freguesia.

Foi na escola primária da sua terra natal queAdolfo Correia da Rocha começou a desenvol-ver o seu intelecto por acção do seu professor, oSr. Botelho, cuja competência Torga recorda emA criação do Mundo I. Fez exame da 4.ª classeem Sabrosa, sob a direcção de um Inspector “desobrolho carregado” (A Criação do Mundo I).Tinha dez anos e neste exame evidenciou-seentre os seus companheiros porque foi o únicoque obteve aprovação com distinção (os outrostiveram óptimo). Entusiasmado, o professor acha-va que ele devia prosseguir os seus estudos eincitou o pai a mandá-lo para o Liceu da Vila(Lamego). «Olha liceu! Só se empenhasse ocabo da enxada...» respondia desanimado. Aten-te-se que nesta época o liceu ainda era vistocomo uma escola de elites, embora se notasse jáalguma abertura às classes trabalhadoras. O paide Adolfo, jornaleiro, a viver no interior, tinhadificuldades económicas que não lhe permitiam

Lembrar Torga, antigo aluno do Liceu Central

custear os estudos liceais. Mas se estava cons-ciente dessas limitações, também estava bemassente no seu espírito que o filho não deviaficar ali a cavar como ele. Depois de algumasdeambulações pelo Porto, para onde foi por in-fluência da mãe, que também sonhava um futu-ro melhor para ele, a Adolfo não satisfez a suasituação de criado de servir a ganhar quinze tos-tões por mês, pelo que voltou à terra natal. Pou-co tempo depois foi para o Seminário de Lame-go, a conselho do padre da sua aldeia, que vianesta instituição de ensino o idealizado Brasilcom que o pai já sonhava para o filho. Tinhaentão onze anos. No Seminário, os estudos eramgratuitos ou quase, mas a falta de vocação paraseguir a carreira eclesiástica fez regressar Adol-fo a São Martinho de Anta. Parecia então que asolução económica para a sua vida futura eramesmo a ida para o Brasil, mais propriamentepara o Estado de Minas Gerais, onde seu tiopaterno possuía uma fazenda (a fazenda de San-ta Cruz). Tinha treze anos quando embarcou parao Brasil com o Sr. Gomes (um emigrante da suaterra) que o entregou aos cuidados do tio. Este,querendo “fazer dele um homem” para que vies-se futuramente a tomar o seu lugar na referidafazenda, por não ter herdeiros directos, subme-teu-o a trabalhos diversos que o foram amadu-recendo para a vida, apesar de se sentir “perse-guido” pela tia que via nele o “caçador da he-rança” da fazenda que desejava transmitir aosherdeiros directos do seu 1.º casamento. Mas acerta altura seu tio resolveu vender a fazenda eAdolfo teria de escolher o caminho a seguir: ouficar em Ribeirão, onde frequentava então asaulas no Ginásio Leopoldinense, ou regressar aPortugal para começar uma vida nova em Coim-bra, a expensas do tio. Nesta cidade do conheci-mento poderia cursar Medicina, Direito ou ocurso que ele entendesse, o qual lhe proporcio-naria independência económica, pensamentoque tranquilizava o fazendeiro ao interiorizar aresponsabilidade de fazer de seu sobrinho umhomem de que se orgulhasse. Era a recompensaque lhe tributava pelo seu trabalho não remune-rado na fazenda.

Passadas que foram as diversas experiênciasde vida a que se submeteu, de que nos dá contana A criação do Mundo, o homem que hojeaqui lembramos, médico, escritor e poeta, este-ve atento ao “aceno confidencial do futuro”, esoube apoiar-se nos pilares que haveriam desustentar a sua projecção, local, nacional e uni-versal. Ele que se sentia impelido para abarcar omundo intelectual, logo que regressou à sua ter-

ra natal na companhia dos tios, rumou sem de-mora a Coimbra, apoiado por seu pai e seu tioque o acompanharam e o recomendaram a umparente afastado, residente na cidade. Tinhaentão 17 anos e começava a apreciar “o cheiro ea cultura coimbrã”, (Criação Do Mundo, II, “OTerceiro Dia”).

Ficou interno no colégio de Santo António,na Antiga Estrada da Beira, hoje Rua do Brasil,“lar e oficina pedagógica”, como Torga lhe cha-mara. O Dr. Almeida e a D. Adélia, seus jovensproprietários, e ali professores, ele da secção deCiências e ela das Letras, eram a sua companhia.O ambiente era mau porque o colégio estavainstalado num “andar sujo, pobre, retalhado acanivete, onde o único traste que sorria era umaardósia quando tinha contas de giz” (CriaçãoDo Mundo II, “O Terceiro Dia”) e os donos eram“lunáticos”, incorrigíveis, sempre à espera demilagres, condenados à pobreza e à calotice”. Oamor prendera-os cedo nos bancos da Univer-sidade, e tentavam sobreviver com o ensino di-rigido a um punhado de jovens adolescentes.Com meia dúzia de carteiras em segunda mão ealguns mapas instalaram “a tenda” e desbrava-vam o caminho da cultura aos 8 alunos que fre-quentavam o colégio, com idades compreendi-das entre os 10 e os 12 anos. Adolfo era o maisvelho, com 17. Esta diferença de idades levava-o a refugiar-se no quarto, onde dava aso à suafantasia de poeta em potência e devorava ver-sos, olhava a paisagem e inebriava-se com aságuas do Mondego. A sua companhia eram oslivros de estudo e algumas obras literárias debons autores portugueses que o Dr. Almeida lhefacultava. O estudo e a leitura eram, por vezes,caldeados com o som dos acordes do piano queo director do colégio teimava em produzir emtempos de lazer. O ambiente era quase familiar,mas com restrições de toda de toda a ordem.

Movido pelo desejo de compensar os anosperdidos, fez num só ano, 1924-1925, como alu-no externo do Liceu, a I secção do curso geral aque correspondiam o 1.º e 2.º anos. Terminara oseu exame em fins de Julho e propunha-se fazera II secção, a que correspondiam o 3.º, 4.º e 5.ºanos, em um ano apenas, para espanto do direc-tor do colégio. “Obstinado, quanto mais obstá-culos via no caminho mais vontade tinha de ostranspor” (Criação do Mundo II, “O TerceiroDia”). De facto, no ano seguinte, 1925-1926, con-cluiu mais uma etapa do seu percurso escolar. AII secção do curso geral tinha sido vencida coma aprovação no exame do 5.º ano, apesar dostemores que previamente o invadiam, visto que

“a ciência ia mal digerida”, por ter aprendidotudo de “afogadilho”, e porque via o júri deexame “como um tribunal em que cada perguntaque vinha da mesa punha em causa o destinodo réu”. Mas confessa ainda: “tão obstinada-mente combati, de tal modo procurei merecer avitória, que o júri, ou rendido, ou simplesmenteimpressionado por tanta ânsia de romper cami-nho, deixou-me passar”.

Alimentada que estava a sua auto-estimacom os resultados obtidos, sonhou voar aindamais alto. A esta ânsia de vencer também estavasubjacente o receio de o tio, por influência datia, lhe cortar a mesada. Mas, também era a ver-gonha que sentia, por ser muito mais velho doque os seus colegas que se apresentavam aexame no liceu, que o impelia para o combatediário a fim de alcançar o sucesso desejado, istoé, “transformar em positivo o sinal negativo dosanos perdidos” (A Criação do Mundo).

Terminado o curso geral do Liceu, pensavaentão em voos mais altos. Se conseguira vencernum só os três últimos anos do curso geral,venceria também o curso complementar. Liber-tou-se da “clausura” que era o “lar e oficinapedagógica” do Dr. Almeida e passou a residirnuma casa ao cimo da Ladeira do Seminário,que denominou de “República Estrela de Alva”e matriculou-se no sexto ano do curso comple-mentar de Ciências, como aluno interno do Li-ceu de José Falcão, no ano lectivo de 1926-1927.Tinha 18 anos, “malhava forte e feio” nos livrospara que pudesse ter aproveitamento escolar efazer render a mesada que o tio lhe enviava men-salmente do Brasil, em cheque, não fosse o tio,induzido pela tia, cortar-lhe a mensalidade.

O novo ambiente entusiasmava-o, porque oLiceu estava instalado no grandioso edifício doantigo Colégio de São Bento, construção doséculo XVI, que beneficiava da proximidade doJardim Botânico, instalado no século XVIII, atéjunto da cerca deste colégio.

As aulas do sexto ano tinham lugar nas salasda ala virada a nascente, donde se desfrutavauma panorâmica que sensibilizava a alma dopoeta ainda aluno: “A paisagem entrava semcerimónia pelas janelas. Largas e abertas sobreo grande e harmonioso jardim que descia a en-costa em amplos patamares, emolduravam osseus caixilhos de castanho, uma sinfonia demontes e cores, que o rio transparente reflec-tia...” (A criação do Mundo, “O Terceiro Dia”).

Durante este ano da sua estadia no Liceu,apreciava as colegas e fazia-lhes a corte. Segun-do o seu auto-retrato, era comunicativo e senti-mental e os seus 18 anos levavam-no a aproxi-mar-se das raparigas que então frequentavam oLiceu. O 6.º ano de Ciências era então frequen-tado por 18 raparigas e 65 rapazes. Torga era umdeles. E, segundo as suas palavras, para não«meter no saco a sentimentalidade, que teima-va em reverdecer dentro dele com as cartaslacónicas e frias do tio, passou o calor dosadjectivos para outras correspondências». Pri-meiro abeirou-se da Silvia que desconfiava sen-satamente da malícia dos seus amores e casou-se. Passou a arrastar a asa à Matilde que lhelembrava uma meda de palha à espera de um

Maria Judite Seabra, ao centro, ladeada por Palmira Albuquerque, quando faziaa sua palestra na Escola Secundária José Falcão

A “Associação dos Antigos Alunos, Profes-sores e Funcionários do Liceu D. João III/Es-cola Secundária José Falcão” promoveu napassada semana uma sessão de homenagema Miguel Torga, que foi aluno daquele esta-belecimento de ensino.

A Presidente da Associação, Palmira Al-buquerque, justificou a iniciativa e agrade-ceu a quantos nela participaram.

Depois de outras intervenções alusivasao Escritor, foi proferida uma curiosa pa-lestra por Maria Judite Seabra, evocandoa vida de Torga durante os anos de menini-ce e juventude, com todas as vicissitudes queantecederam a sua chegada a Coimbra.

A seguir transcrevemos uma versão sin-tetizada da curiosa palestra, escrita para oCentro por Maria Judite Seabra:

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7DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 MIGUEL TORGA

l de José Falcãofósforo. Depois morria pela Gabriela, baixa fran-zina, que parecia andar sempre num andor. Era apaixão do Liceu inteiro e, de repente, apaixona-se por ela. Declarou-se-lhe na rua da Alegria,mas ela não lhe deu troco. Outros amores seseguiram...

A amizade que travara com o Alvarenga, filhodo Sr. Teles, seu parente afastado, ia-o arrastan-do para a boa vida coimbrã. A irresponsabilida-de dele quase lhe fez perder a vontade de traba-lhar. Mas queria completar o Liceu. Terminara osexto ano e queria pôr termo ao pesadelo, naépoca de Outubro. Estabeleceu um horário rígi-do de estudo e malhava forte e feio nos livros aolado do colega Albano, que tinha uma quinta noDouro, para onde foram estudar. Temperavam oestudo com a diversão, e nesta folia, conheceu aHelena, que andava à procura de noivo, mas,por mal dos seus pecados veio a casar com oAlbano.

Veio para Coimbra, fez exame do 7.º ano nodia 19 de Outubro de 1927, como já referi. Ficoualiviado, mas o Alvarenga, que gostava da bor-ga, exigiu que se comemorasse condignamenteo feito. E lá foram para Tentúgal cear. A bacalho-ada precisava ser bem regada e o vinho foi arodos. Saiu das estribeiras quando um outro ra-paz, o Romão, que estava também ali, se gaboude ter beijado a Gabriela na Rua da Alegria, ondeTorga tinha feito a sua declaração de amor nãocorrespondida. Foi o fim da macacada! Mesapelo ar e pancadaria da brava. A guitarra queabrilhantou a festa serviu de arma de agressão.

Caiu em si e viu que todo aquele comporta-mento não servia de catarse sentimental comojulgava. Os verdes anos estavam a amadurecer!

Tomou então a decisão de seguir Medicina,já que não tinha sensibilidade para o Direito (es-tes eram os dois cursos mais seguidos pelosjovens nessa altura, e os que proporcionavammais prestígio social). Paralelamente à Medicinaque lhe daria uma profissão e um caminho hu-mano, seria escritor, poeta e voaria nas asas dasua fértil imaginação! Assim, segundo as suaspalavras: serviria dois amos dando a ambos omesmo devotamento e a mesma fidelilade.

Mas se a sua veia do poeta se sentia alimen-tada por tanta beleza paisagística que envolviao Liceu, as aulas não tinham, em seu entender, adinâmica que ele esperava: “Mestres impesso-ais e pontuais puseram-se então a encher ashoras de sabedoria. Mas nem os teoremas quedemonstravam pareciam ter raízes na terra, nemse via claramente que as leis que enunciavamfizessem parte da vida”; “secas e pecas, as li-ções perdiam toda a sugestão. E a turma ador-mecia”. “Era uma aprendizagem por atacado,que empanturrava e deixava fome, tratávamos

ao menos de combater o empanturramento. Oque conseguíamos aos pontapés à bola, no re-creio. No fim de cada jogo ficávamos alivia-dos”.

A referência negativa que Torga faz aos pro-fessores, aos programas e à metodologia utiliza-da nas aulas exige alguma fundamentação.

O voo que ele dera do pacato colégio de San-to António para um Liceu com esta grandeza,quer em espaço físico, quer em ambiente huma-no, provocou-lhe, certamente, alguma perplexi-dade. Vinha de um ensino quase doméstico paraum ensino mais massificado e, portanto, maisimpessoal, pois frequentavam o Liceu cerca demil alunos. Mas esta apreciação também quere-ria significar disciplina no cumprimento do Re-gulamento e competência científica dos profes-sores. As actas do Conselho Escolar e dos Con-selhos dos Directores de Turma revelam preo-cupações de nível pedagógico e científico. Nãoduvido que Torga era um observador atento eque tenha razão quando se refere às aulas secase pecas, porque há que ter em conta que, nessemesmo ano, o plano de estudos era diferente doano anterior, devido à reforma de ensino produ-zida pelo governo da Ditadura que se iniciou apartir de 28 de Maio de 1926, e as aulas poderiamreflectir esta repentina mudança de política edu-cativa. Pelo Decreto de 2 de Outubro de 1926, ocurso geral que se dividia em 1.º e 2.º ciclos,passou a compor-se de dois e três anos, respec-tivamente. O curso complementar passou a terapenas um ano. Adolfo Correia da Rocha, alunodo curso complementar de Ciências, fê-lo emapenas um ano, o que me leva a crer que teriasido abrangido por esta reforma de estudos. Noentanto, ele refere no requerimento para a inscri-ção no curso dos Preparatórios Médicos (ad-missão à Faculdade de Medicina), datado de 22de Outubro de 1927, que concluiu o 7.º ano deCiências dos Liceus em 19 de Outubro do mes-mo ano, o que me deixa algumas dúvidas queainda não consegui esclarecer completamente,porque a dificuldade de acesso a esta documen-tação do Liceu não me permitiu esse esclareci-mento.

Esta reforma de ensino resultou da contesta-ção da pedagogia utilizada anteriormente, apeli-dada de “temerária” por Artur Ricardo Jorge,então Ministro da Instrução Pública. No seuentender, fatigava demasiado o cérebro dos edu-candos e resolveu comprimir os programas con-siderados exuberantes e encurtar o curso licealpara seis anos. Dizia-se mesmo no preâmbulodaquele Decreto que havia que «humanizar oensino e reduzi-lo às condições humanas da psi-cologia e da vida individual e social». Conside-rava-se que os programas tinham uma abran-

gência exagerada de que resultavam efeitos ne-gativos, pois «quem muito abrange pouco aper-ta». Esta estrutura adoptada para o curso licealtornou-se ineficaz e, apesar da sua regulamenta-ção emanar de um governo ditatorial, procedeu-se a sucessivas revisões. Com o novo Ministroda Instrução Pública, Alfredo de Magalhães, ocurso complementar passou novamente a ter doisanos a partir de 22 de Janeiro de 1927, porque seconsiderava que as limitadas exigências na ins-trução secundária conduziriam inevitavelmentea um depauperamento da vida intelectual doensino superior e consequentemente da socie-dade em geral.

Ora se considerarmos que neste tempo deDitadura a reforma foi imediatamente implemen-tada, Adolfo Rocha, aluno do 6.º ano, no anolectivo de 1926-1927, teria beneficiado da rees-truturação de 2 de Outubro de 1926, porque fezo curso complementar do Liceu apenas num ano,embora perdesse em preparação científica, dadoque a este curso foi amputado um ano escolarque lhe proporcionaria melhor preparação. Mas,dada a sua referência ao exame do 7.º ano, areformulação do Ministro Alfredo de Magalhãesainda o deve ter atingido, donde teria resultadouma solução de compromisso, entre os dois pla-nos de estudo, que lhe permitiu fazer os doisanos em apenas um, dado que terminou o 6.ºano em Junho e se preparou nas férias para oexame do 7.º ano em Outubro, como ele refere emA Criação do Mundo II, “O Terceiro Dia”. Acertidão das provas do seu exame complemen-tar de Ciências, datada de 19 de Outubro de 1927,leva-me a concluir que assim foi.

Portanto, o nosso jovem poeta teria algumarazão por estar descontente com a dinâmica dasaulas, porque esta sucessão de reformas de pla-nos de estudo deveria ter-se reflectido no quoti-diano da vida escolar do Liceu. A situação polí-tica que se vivia no país alterou, possivelmente,a sua dinâmica, porque sendo um liceu formadorpara a profissionalização de estagiários, candi-datos ao ensino liceal, não se compreende a mo-notonia de que nos fala Torga.

O Governo da Ditadura depois do movimen-to militar de 28 de Maio trouxe instabilidade aoLiceu, provocada pela alteração legislativa quan-to ao seu plano de estudos e à forma de escolhero reitor. De eleito pelo Conselho Escolar, passoua ser nomeado pelo governo. O plano de estu-dos em vigor foi sucessivamente reformado. Osprofessores habituados a viver o Liceu demo-craticamente, sentiram-se abalados. O ambientemodificara-se. Mas, apesar disso, Torga venceuo curso complementar num ano. Concluiu o 6.ºano em Junho e nas férias preparou-se para oExame do 7.º ano em que ficou aprovado com 11valores, como se evidencia na certidão de habi-litação.

Terminado o curso complementar, apressou-se a requerer a matrícula em todas as cadeiras

que constituíam o curso de admissão à Faculda-de de Medicina como aluno ordinário, no dia 22de Outubro de 1927. A 26 de Junho de 1928 fezexame de Zoologia Médica com 12 valores; em16 de Julho obteve aprovação, com 11 valores,na cadeira de Botânica Médica e, finalment, em10 de Outubro terminava estes PreparatóriosMédicos com a aprovação na cadeira de Quími-ca Médica, com 11 valores.

Em 17 de Outubro requereu a matrícula no 1.ºano de Medicina, que foi aceite.

Concluindo, Miguel Torga, que recordei em12 de Dezembro deste ano em que se comemo-rou o centenário do seu nascimento, na distintaBiblioteca da Escola Secundária José Falcão (quejá foi objecto de um outro artigo meu), trouxe àacademia coimbrã um exemplo de trabalho per-sistente, que foi alimentado pela vontade firmede vencer as limitações da sua pequena terranatal que, apesar disso, enalteceu. Os valoresque a família, a escola e as diversas vivênciassociais lhe transmitiram, soube ele caldeá-los comoutros que ia interiorizando, à medida que osseus verdes anos iam amadurecendo. Grato àcidade de Coimbra, pela riqueza intelectual e peloamadurecimento da sensibilidade que lhe pro-porcionou, soube também amá-la, recompensá-la com a sua obra abundante de lições para asgerações futuras.

A mim resta-me prestar-lhe pessoalmente aminha homenagem, pelo exemplo de vida queele deixou e por ser o meu primeiro médico, emCoimbra, era eu ainda menina e moça trazida,como ele, pelos meus pais, para superar as difi-culdades da interioridade e concretizar algunssonhos da minha infância. Desde jovem fui co-nhecendo e admirando a sua obra, principalmentequando, em sua casa, na Praceta Fernando Pes-soa, a sua esposa, a Prof.ª Doutora Andrée Cra-bbé Rocha, me recebeu, em Junho de 1963, paraburilar a Língua e Literatura Francesas, que naaltura tanto me fascinavam. Retrovertia, de ime-diato, para francês, os textos de seu marido, queela certamente admirava, e a minha sensibilida-de ficou mais enriquecida com eles.

Em nome da direcção da Associação que aquirepresento, resta-me também homenageá-lo,como Antigo Aluno do Liceu Central de JoséFalcão, pelo seu empenho como estudante epelas vivências que, de certo, proporcionou àcomunidade escolar do antigo Liceu Central deJosé Falcão.

Parabéns a Miguel Torga, por ter sido brioso,nesta academia Briosa de Coimbra, em que sou-be viver e conviver, à sua maneira, demonstran-do que as dificuldades da vida são muitas vezesum grande estímulo para alcançar as metas de-sejadas.

Maria Judite de Carvalho Ribeiro Seabra(Doutorada em História e Filosofia

da Educação, com uma tese intitulada“Os Liceus na sociedade coimbrã, 1840-1930)

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8 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

KOSOVO: INDEPENDÊNCIA?

(...) A independência vai ser um fac-to. É inevitável, se calhar, a longo prazo.Ou até nem isso. Porque o Kosovo serásempre dependente da Sérvia. Muito docomércio vem da Sérvia, as energias, atéos modelos… por exemplo, estão a fa-zer muitas modificações no centro dePristina… e parece que estão a imitar ocentro de Belgrado.

Mesmo hoje podemos dizer que Por-tugal está completamente independentede Espanha? Não sei… tenho as minhasdúvidas… hoje em dia estamos ligadosuns as outros, mas estamos ligados afec-tivamente. E essas ligações existem aquitambém e vão existir.

Agora, independência política? Achoque sim, é inevitável! São 90% de alba-neses. Podia era ter sido conduzido deoutra maneira e a comunidade internaci-onal em fortes culpas nisso. (...)

Raul Cunha (general responsávelpela ligação entre a ONU

e a NATO no Kosovo)Entrevista ao enviado da RR,

Arsénio Reis

DE VOLTA ÀS MINAS DE SALNão valerá a pena mais palmadas nas

costas. A presidência portuguesa foi óp-tima, a diplomacia mostrou-se esforça-da, o Tratado calará os cépticos e os re-ceosos, e até se falou com África.

Agora, voltamos às minas de sal. Àrealidade.

Infelizmente, Portugal não é o postalilustrado que se publicita, e que todosapreciaríamos.

Não se trata de negar os grandes pro-gressos dos últimos 20 anos. Não pode-mos esquecer a reconstrução pós-revo-lucionária, por entre escolhas difíceis.Não devemos perder de vista as chama-das “coisas boas” do processo comuni-tário, a começar pela ajuda material aodesenvolvimento.

Mas é preciso explicar que Portugalcontinua com margens apreciáveis depopulações pobres, de classes médiasfrágeis, de empregos instáveis, de misé-ria social, e com sectores estaduais em

funcionamento deficiente (cada leitorescolherá o seu alvo). (...)

Nuno RogeiroJN 14/Dezembro/07

IGUALDADEDE OPORTUNIDADES

(...) Ao falar do reconhecimento, somoslevados a tomar consciência de como ex-cluímos os pobres, os idosos... As nossassociedades de consumo, hedonistas, deter-minam o que se não pode ser: pobre, velho,gordo, feio, e, implícita ou descaradamente,todos eles vão sendo discriminados.

O pior mesmo é ser pobre e velho. E aíestá uma razão para eu me não regozijarparticularmente com a notícia de que colé-gios católicos ficaram nos primeiros lugaresno ranking das escolas. Não nego a im-portância da boa gestão, de professorescompetentes, exigentes e cumpridores.Mas, depois, o custo das propinas vai de 300a 400 euros mensais. Quem é o pobre quepode pagar? Não devia haver um sinal cris-tão nesses colégios? Por exemplo, uma per-centagem de alunos pobres pagos por umimposto a cobrar aos pais ricos...

Os idosos não podem ser metidos emguetos. Tanto eles como os deficientes têmde ter lugar e voz no espaço público. Preci-samos, todos, de aprender a conviver coma diferença.

O respeito - a etimologia da palavra émuito interessante: do latim respicere, quesignifica olhar para trás, voltar-se para olhar- é esse olhar para os outros como olhamospara nós, tratando—os como queremos quenos tratem: como iguais e diferentes.

Trata-se assim de acabar com as discri-minações e as suas causas, radicadas nasrepresentações sociais. Discriminações porcausa do sexo - embora o cristianismo pro-clame a igualdade radical de todos os sereshumanos, as mulheres continuam discrimi-nadas também na Igreja católica; por causada raça - os negros são discriminados; porcausa da idade - são apenas os velhos quesão discriminados? E quando se coloca nosanúncios o limite de idade para um empre-go?; por causa de deficiências - os deficien-tes continuam discriminados; por causa daorientação sexual - pense-se nos homosse-xuais; por causa da religião - pense-se naislamofobia, por exemplo.

Embora a época natalícia se tenha trans-formado numa escandalosa feira alienantede negócios e consumo, não se deveria es-quecer que o Natal de Jesus é o Natal doHomem. Deus manifestou-se na humani-dade frágil de Jesus Cristo, e agora todos osseres humanos deveriam saber da dignida-de divina de ser Homem, que não tolera dis-criminações e obriga a agir eficazmente parasuperá-las.

Anselmo Borges(padre e professor de filosofia)

DN 15/Dezembro/07

CAVACO E “O ESTADOSOMOS NÓS”

No meio da barulheira que aí vai por cau-sa das assassinatos em série que têm en-sombrado as noites de Lisboa e Porto, nin-guém ligou muito a uma notícia que tam-bém pode mexer e muito com a nossa vida...mas de forma positiva.

Ainda que contrariado, como o nosso JNpuxava para título, Cavaco Silva acaba depromulgar o novo regime de Responsabili-dade Civil Extracontratual do Estado.

O que esta sequência de “palavrões” querdizer é que os cidadãos que sejam prejudi-cados por actuações do Estado ou dos seusprincipais servidores, passam a ter mais hi-póteses de reclamar uma indemnização paraque os seus danos sejam total ou parcial-mente ressarcidos.

Comecemos pelo que acho pior a con-trariedade de Cavaco. Apesar de ter pas-sado à História como o Primeiro-Ministroque a Direita adorou em Portugal, a verda-de é que quando toca a falar do Estado,Cavaco sempre foi muito pouco liberal. Porum lado, é a ele que se deve uma grandeparte do crescimento do monstro que hojeverberamos (e cujo emagrecimento é tera-pêutica obrigatória unanimemente reconhe-cida... mas pouco praticada). Por outro ladosempre que há um conflito entre direitos edeveres do Estado e do cidadão é normalvermos Cavaco a alinhar pela equipa doEstado, contra a turma dos cidadãos. Infe-lizmente neste assunto é mais do mesmo,Cavaco no seu melhor, que é como quemdiz, no seu pior.

Melhor mesmo é ficarmos todos cientesque a partir de 2008 cada um de nós temmais e melhores defesas contra a prepo-tência e arrogância do Estado que nos habi-tuámos, mal, a ver como pessoa de bem.

Aquelas estórias de indemnizações mili-onárias quase sempre oriundas dos EstadosUnidos (país onde esta responsabilidade ci-vil do Estado mais apurada se encontra)podem agora deixar de ser uma ilusão paraquem vê a sua vida e a dos seus arruinadaou estropiada por razões imputáveis ao Es-tado ou a algum dos seus responsáveis. (...)

Manuel SerrãoJN 12/Dezembro/07

O PAÍS OCULTO

O País oculto não se mostra e raramentese visita. Existe para além do que nos vaiocupando, e a sua expressão mais conheci-da é estatística. É o Portugal dos indicado-res que escondem caras e corações masrevelam causas e efeitos. Recentemente, apropósito de um trabalho que tive de fazer,debrucei-me sobre alguns desses indicado-res e vale a pena referi-los.

Aumenta o desemprego com uma taxaacima da média da UE-25; mais de 70% dapopulação empregada possui um nível deescolaridade igual ou inferior ao 3.º ciclo doensino básico; os portugueses ganham me-nos 40% do que a média dos países comu-nitários; o nível de endividamento ultrapas-sa em 24% o rendimento anual dos agrega-dos. Aumenta a carga fiscal e sobem as ta-xas de juro.

Quanto à demografia, regista-se um au-men-to da esperança média de vida. Seriaverdadei-ramente um ganho se a situaçãodos idosos portugueses fosse outra. Assim,para muitos, signi-fica viver mais tempo emmás condições. Em contrapartida, diminui onúmero de famílias com filhos e diminui onúmero de filhos por fa-mília, consolidando-se a predominância dos agregados constitu-ídos por 2-3 pessoas; aumenta a idade damãe ao nascimento do primeiro filho.

Um indicador de saúde merece particu-lar atenção e apreensão: 27,6% da popula-ção, com 15 anos ou mais, está afectadapor sofrimento psicológico e, consequente-mente, medicada... (...)

Maria José Nogueira Pinto (jurista)DN 13/Dezembro/07

ÀS AVESSAS

(...) Começo por explicitamente assumirque concordo com a posição do Governode só concretizar o processo de regionaliza-ção durante a próxima legislatura, muitoembora deva sublinhar, com veemência, quetal decisão não deixa de exigir particular aten-ção em relação a uma série de dossiês, no-meadamente o do QREN (Quadro de Re-ferência Estratégica Nacional), por ser abase a partir da qual vão ser geridos os apoi-os europeus destinados a combater, numabase regional, o atraso do país (tema queoportunamente abordarei).

Pensava eu que aquele calendário demédio prazo que o Governo assumiu iriapermitir uma discussão mais distendida eracional em torno do assunto. E as últimassemanas trouxeram efectivamente váriosprotagonistas, uns mais informados do queoutros, a pronunciar-se sobre o tema. Sen-do isso positivo e salutar em qualquer de-mocracia, a minha estranheza decorre doregisto “pré-exaltado” com que alguns ar-gumentos começam já a ser esgrimidos, istonum momento em que, por não correspon-der a um ponto de chegada de debate (comoocorreu no passado), seria expectável quepudéssemos beneficiar de posições de par-tida e verdades proclamadas menos irredu-tíveis. Antes que o estilo “pegue” e envere-demos todos pelo mesmo diapasão, creioque conviria apelar a que este tempo emque nada está ainda a decidir-se fosse apro-veitado para reapreciar, de uma forma aber-

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9DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

ta (académica, quase diria), algumas daque-las “verdades” e certos lugares-comuns delasderivados. (...)

Elisa Ferreira (eurodeputada)JN 12/Dezembro/07

PORTUGUÊS-BRASILEIRO

Hoje em dia as livrarias por essa Europafora já não têm só dicionários bilingues deportuguês. Em vez do francês-português oudo italiano-português, a tendência recente épara o francês-brasileiro ou para o italiano-brasileiro. Eu, que gosto muito da literaturae do jornalismo brasileiro, que aprecio a for-ma como os brasileiros transformaram oportuguês velho e chato que falamos, ficoum pouco chocado. Tenho uma amiga itali-ana que me diz que não está nem queraprender português; está a aprender brasi-leiro. E o seu dicionário de bolso confirma-o. Há com certeza muitas razões para queisto se passe, para que muitos europeus pre-firam mentalmente o brasileiro ao portugu-ês, ao ponto de pensarem que têm de esco-lher entre um e outro. O Brasil criou umacultura popular própria, espontânea e festi-va, que tem exportado para o resto do mun-do com apreciável sucesso. Nós, portugue-ses, somos mais apagados, não fazemos tan-to estrondo e ninguém nos vê como um pro-duto apetecível. Um mundo obcecado como ludismo e com a euforia preferirá sempreo samba ao fado. Agora, só há uma língua,o português, e parece-me óbvio que algumacoisa anda a falhar. (...)

Pedro Lombra (jurista)DN 13/Dezembro/07

ACORDO ORTOGRÁFICO

O editorial do Expresso de 1 de De-zembro estranha aquilo a que chama aminha defesa do proteccionismo comomodelo, no tocante ao Acordo Ortográ-fico. E, face ao lead que o encima, tereide ver a minha posição displicentementecatalogada nos “nacionalismos balofos”.

Se defender a preservação, a valori-zação e a divulgação da língua portugue-sa como elemento identitário, meio decriação e expressão cultural ao longo deséculos, instrumento de comunicaçãoquotidiana, traço de união entre Portugale o resto do mundo corresponde a serproteccionista, devo dizer que tenho amaior honra em sê-lo, tanto no plano na-cional como no internacional.

E se se entende por proteccionismo opropósito de acautelar legitimamente osnão menos legítimos interesses da edi-ção portuguesa que, pelo seu mérito, qua-lidade e capacidade de resposta, tem

batido a concorrência dos grandes gru-pos internacionais nos países africanos,também faço questão de apoiar as mo-dalidades adequadas de salvaguarda des-ses interesses também geostratégicos,chamem-lhe proteccionismo ou apito.Nem percebo o que é que o Expressoacha de criticável nisso. (...)

Vasco Graça Moura (escritor)DN 12/Dezembro/07

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

(...) Cada vez os pais têm menos tempopara os filhos e, por isso, cada vez mais osfilhos são educados pelos colegas e pela te-levisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Nãotêm regras, não conhecem limites, simplespalavras como “obrigada”, “desculpe”, “sefaz favor” são-lhes mais estranhas do queum discurso em Chinês - e há quem chamea isto liberdade.

Mas a isto chama-se violência. Aquelaque não conta para os estudos “científicos”,mas aquela da qual um dia, de repente, rompea violência a sério.

E então em estilo filme americano.Com tiros, naifadas e o mais que houver.

Alice Vieira (escritora)JN 9/Dezembro/07

VAI A IGREJA AGIR?

O texto da recente mensagem do Papaaos bispos portugueses tem sido interpreta-do de diversas formas. Muitos comentado-res têm sublinhado o carácter crítico do textopapal em relação à Igreja portuguesa. Ou-tros, incluindo os próprios bispos, vêem na-quele texto um encorajamento que recebe-ram para continuar um caminho de inova-ção que sempre desejaram percorrer, masque encontra não poucos obstáculos. Inde-pendentemente das diferenças de leitura dotexto, todos parecem estar de acordo comum facto os cristãos portugueses - leigos,bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas -,não podem continuar a trilhar simplesmenteos caminhos do passado, a manter acritica-mente as tradições dos seus antepassadossimplesmente por serem tradições, a inves-tir tempo, energias e dinheiro em manifes-tações de religiosidade que tocam quase sóa esfera emocional, devocional e intimista,mas deixam intocada a dimensão da res-ponsabilização pela transformação do Mun-do, uma responsabilização que torne insu-portável a existência da injustiça, da discri-minação, da pobreza e da mentira. (...)

Alfredo Dinis (padre jesuíta –Director da Faculdadede Filosofia de Braga)

JN 9/Dezembro/07

MINHA NOSSA

Senhora. Dantes era menina; porvezes, não é possível alguém ser trata-da por Miss, disponível, radiosa, soltei-ra, descomprometida, liberta, indepen-dente, jovem, fumadora, inveterada, vir-gem, oops, vaga. Na companhia dos pe-sados, homens com uma certa cargade reverência como os ministros, ar-tistas das bolas, patrões, machos his-téricos e bichas ibéricas em vias de ex-tentação, as miúdas passam a ser tra-tadas por “minha senhora”.

Surpresas, ainda sem saberem ondee quando puxar do cartão, da coca dedentro da malinha ou dessa arma dearremesso que são os olhares lângui-dos ou o corpo ondeante oferecido àpista de dança, esperam extasiadas queisso seja um fim, não um meio. (...)

Rui Reininho (músico)JN 8/Dezembro/07

CRIIME E GLOBALIZAÇÃO

(. . .) Vários autores estudiososdeste assunto referem que um dossectores de actividade com maiorêxito na sua globalização é o do cri-me. Porventura em todos os tempos,o crime sempre ocupou lugar dian-teiro nesta convergência de um mun-do global. Mas, hoje, quando por tan-tos indicadores se quer analisarcomo está a ser conseguida a tãoprocurada globalização, esquece-se,ou procura esquecer-se, que atrás dodinheiro vai tudo o mais.

No mundo do crime não há bran-dos costumes. E as práticas dos ho-micídios destes últimos tempos provamque o mundo do crime está entre nós.Não fazemos a excepção honrosa. Eestá porque ele faz parte do enqua-dramento que o justifica. Lembro-mede ler no semanário “Sol” uma fria de-claração de alguém desse mundo, in-terrogado a respeito das mortes nanoite do Porto “Entre nós é assim. Nãoqueremos nada com a Polícia ou comos juízes. A justiça fazemo-la nós, pe-las nossas próprias mãos”.

Com a mentalidade da tal filosofiade “os brandos costumes” olvidamosque, no mundo do crime, também háprofissionais, profissionalismo, e oajuste de contas faz parte da lógicadeste sistema. (...)

Paquete de Oliveira (sociólogo)JN 6/Dezembro/07

A CANÇÃO DE HARROW

No intervalo das duas guerras mun-diais, quando a conjuntura mundial es-tava enquadrada pela Conferência daPaz de Paris e pelo Tratado de Versa-lhes, Churchill dedicou-se a elaboraralgumas biografias que reuniu em vo-lume de grande circulação, e o seu mo-tivo principal, que expressamente anun-cia, foi este: cada geração há-de sem-pre cantar convicta a Canção de Har-row - “No passado, que gigantes ad-miráveis”. Esta invocação não foi ne-cessariamente inspirada por desconfor-to causado pela mediocridade da épo-ca, que lhe terá despertado a medita-ção histórica, mas não é de excluir queagora seja essa a circunstância destaentrada no novo milénio, a qual leva arecordar o sentimento que lhe desper-tou o interesse “sobre grandes ho-mens” da gesta imperial. (...)

Adriano Moreira(professor universitário)

DN 11/Dezembro/07

PORQUÉ NO TE CALLAS?

Esta frase, pronunciada pelo Rei deEspanha, dirigindo-se ao Presidente HugoChávez durante a Cimeira Iberoameri-cana, vai ficar na história das relaçõesinternacionais como um símbolo das con-tas por saldar entre as potências ex-co-lonizadoras e as suas ex-colónias. Nãose imagina um chefe de Estado da Euro-pa a dirigir-se nesses termos, publica-mente, a um seu congénere europeu.Como qualquer frase que intervém nopresente a partir de uma história não re-solvida, esta frase é reveladora a dife-rentes níveis.

Revela a dualidade de critérios na ava-liação do que é democrático. Está docu-mentado o envolvimento do primeiro—ministro de Espanha, José Maria Aznar,no golpe de Estado que em 2002 tentoudepor um presidente democraticamenteeleito, Hugo Chávez. Para este, Aznar, aoactuar desta forma, comportou-se comoum fascista. Pode questionar-se a ade-quação deste epíteto. Mas haverá tantarazão para defender as credenciais de-mocráticas de Aznar, como fez Zapatero,sem sequer denunciar o carácter antide-mocrático desta ingerência? Haveria lu-gar à mesma veemente defesa se o pre-sidente eleito de um país europeu colabo-rasse num golpe de Estado para deporoutro presidente europeu eleito? (...)

Boaventura Sousa SantosVisão 13/Dezembro/07

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11DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 CULTURA

Cerca de uma centena de colegas, ami-gos e antigos estudantes participaram hádias num jantar de homenagem a Joséd’Encarnação, a pretexto de se ter apo-sentado do lugar de Professor Catedráti-co da Faculdade de Letras da Universi-dade de Coimbra.

Entre os presentes estavam os Presi-dentes dos Conselhos Directivo, Científi-co e Pedagógico da Faculdade de Letras,bem como a Presidente da Comissão Ci-entífica do Grupo de História e a Directo-ra do Instituto de Arqueologia.

Foi esta última, Raquel Vilaça, quemaludiu ao percurso académico e científicodo homenageado, sublinhando ter este«uma carreira de renome internacional»,como o comprova um extenso curriculumque sintetizou. E crescentou:

«O prestigiado percurso académico eo desenvolvimento dos estudos epigráfi-cos no nosso País não foram mera coin-cidência, antes testemunham a excelên-cia da sua investigação auxiliada por re-novada metodologia e a existência de umaescola de Epigrafia na Universidade deCoimbra que, ano após ano, se foi tornan-do mais sólida pelo seu magistério mastambém pelo incentivo que sempre deuaos alunos para publicarem e, por isso,muitos de nós temos o estudo de uma ins-crição como primeiro trabalho publicado.Nas suas aulas não se aprendia apenasEpigrafia, aprendia-se a gostar de Epigra-fia; os alunos iam sempre às aulas, dis-pensando-se de qualquer regime obriga-tório, logo artificial, de presenças. A for-ma arejada como se relacionava com osestudantes granjeou-lhe amizades que ain-da hoje se mantêm».

Depois de sublinhar o seu contributo para

Homenagema José d’Encarnação

a internacionalização do Instituto de Arque-ologia e, através dele, da Faculdade e daUniversidade, designadamente através doPrograma ERASMUS, de que foi coorde-nador durante vários anos, terminou afirman-do que uma certeza ficava «a de que pode-mos continuar a contar no futuro com a suacolaboração».

Falou depois Carlos André, Presidente doConselho Directivo, que se referiu ao ho-menageado como «um verdadeiro mestre»,sublinhando quão gratificante e fora do co-mum era ver ali tantos alunos, «sinal de queJ. d’E. construiu uma escola também nesseaspecto, fez discípulos, que continuam amanter com ele uma relação de amizade».Referiu-se aos cargos que o homenageadodesempenhou «com apego, com generosi-dade e com empenhamento, independente-mente de não viver em Coimbra» e frisoucomo J. d’E. «vivia a Universidade» mastambém sabia que «a vida universitária nãopodia confinar-se aos muros da Universida-de», pelo que sempre exerceu uma acçãocívica relevante. Terminou afirmando que asua não era, pois, «uma intervenção de des-pedida», porque sabia que a colaboração dohomenageado iria continuar.

O homenageado agradeceu vivamentea presença de todos – colegas, familiares eestudantes – na celebração de mais este«ritual de passagem» e a colaboração dequantos quiseram estar a seu lado ao longoda sua vida, desde os bancos da escola pri-mária. Encerrava-se, disse, um capítulo dolivro da sua vida; agora, nos seus aposentos«cujas portas se mantêm escancaradas paraquantos quiserem entrar», dispondo-se aescrever «não as conclusões, mas outroscapítulos, na partilha total de saberes e deexperiências».

Raquel Vilaça, Carlos André e J. d’Encarnação, durante o jantar de homenagem

Livro de Xavier Zarco lançado em Coimbra

O livro de poesia “Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros”,da autoria de Xavier Zarco e publicado pela “edium editores”, foi há dias lançadona Casa Municipal da Cultura de Coimbra. A apresentação esteve a cargo do escritorAntónio Vilhena (na imagem) que teceu rasgados elogios ao autor e à obra (que,recorde-se, foi distinguida com o “Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá – 2007”, peloConselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra).

Simpósio de esculturadecorre em Coimbra

HOJE É INAUGURADA EXPOSIÇÃO NO ISCAC

No Instituto Superior de Contabili-dade e Administração de Coimbra (IS-CAC) é inaugurada hoje (quarta-fei-ra), pelas 18 horas, uma exposição deescultura intitulada “Ondas de Comu-nicação”.

Este certame integra-se num Sim-pósio de Escultura que decorre naque-le estabelecimento de ensino desde opassado dia 11 e que se prolonga atéao próximo dia 23.

Nesta interessante e original inici-ativa participam os escultores Manu-el Cruz Prada, Santos Carvalho eXico Lucena.

Quanto aos objectivos, refere o Pre-sidente do Conselho Directivo do IS-CAC, António Pires de Carvalho:

“Que esta amostra de arte, escul-tura, seja para todos nós motivação einspiração regeneradora e projectiva.Evento que pretendemos instituircomo bienal de referência para o uni-verso dos artistas e dos interessadosna arte”.

Saliente-se que o Município de Can-tanhede se associou ao Simpósio, dalivindo os blocos da famosa pedra de Ançãque têm vindo a ser esculpidos, junto àescola, como a iamgem documenta.

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12 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008NATAL

Medalha assinala Natal de 2007Não se conhece festa mais universal do que esta que

celebra o nascimento de Jesus, há mais de dois mil anos,num presépio, na pequena cidade de Belém da Judeia.

Quem melhor descreve este acontecimento que mudou orumo da história da humanidade, certamente por tê-lo ouvidoda boca da Mãe do Menino, é o evangelista Lucas. Vale apena, quer para os crentes na divindade de Jesus, que pro-clamam que “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”,quer para os que vêem nele apenas o grande profeta dafraternidade universal, recordar a simplicidade do seu relato:

“Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar àluz, e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-o em panos edeitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para elesna hospedaria. Havia naquela região uns pastores, que vivi-am nos campos e vigiavam de noite os seus rebanhos. OAnjo do Senhor aproximou-se deles, e a glória do Senhorcercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes oAnjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegriapara todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, umSalvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: en-contrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos edeitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjouma multidão do exército celestial, que louvava a Deus di-zendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homenspor Ele amados». Depois de os anjos se afastarem em di-recção ao Céu, os pastores começaram a dizer uns aos ou-tros: «Vamos a Belém, para vermos o que aconteceu e queo Senhor nos deu a conhecer». Para lá se dirigiram apressa-damente e encontraram Maria e José e o Menino deitado namanjedoura. Quando O viram, começaram a contar o quelhes tinham anunciado sobre aquele Menino. Maria conser-vava todas as palavras, meditando-as em seu coração”.

Tudo o que depois se escreveu sobre o nascimento de

NATAL DE JECumprindo uma tradição com muitos anos, a Medalhística LusAtenas acaba de editar uma medalha come-morativa da quadra natalícia que atravessamos. Trata-se de uma bela obra de arte, da autoria do escultorJorge Coelho, que pode constituir uma excelente e original oferta de Natal - já que alia um preço acessível aum valor artístico e uma lembrança que perdurará pelo tempo fora.

Como é também hábito, cada exemplar da Medalha (de que reproduzimos uma das faces), ven acompa-nhada de um texto alusivo, da autoria do Padre A. Jesus Ramos, que ao lado transcrevemos:

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13DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 NATAL

JESUS: a festa da fraternidade universal

Jesus de Nazaré depende deste relato simples e do episódio dos magos, referenciado porMateus no capítulo 2 do seu Evangelho. Foi, de resto, este segundo episódio que serviu deinspiração do escultor Jorge Coelho para modelar a presente medalha de Natal, editada

pela Medalhística Lusatenas de Coimbra, com a intenção de contribuir para que estaquadra natalícia seja, de verdade, aquilo que todos desejam – a grande festa do encontroentre todos os homens de boa vontade.

A. Jesus RamosProfessor de História da Igreja

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14 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

O Primeiro-Ministro anunciou, na As-sembleia da República, mais uma ma-chadada na gestão democrática das es-colas, com a chamada reforma da ges-tão e administração escolar.

Estamos perante uma reforma quesurge sem qualquer avaliação prévia doactual regime de autonomia e gestão dasescolas. Este anúncio é dado, à seme-lhança de muitas outras medidas, comoum facto consumado, à margem de qual-quer negociação com a comunidade edu-cativa, designadamente das organiza-ções mais representativas dos Profes-sores e Educadores de Infância, os Sin-dicatos.

Esta nova reforma, em linhas gerais,impõe que o director executivo de cadaescola passe a ser nomeado, por con-curso, por um novo órgão colegial: oConselho Geral. Neste conselho passa-rão a estar representados os professo-res, pais, autarquias e actividades locais;será através deste que se fará a escolhado director executivo, por procedimentoconcursal, com critérios ditos “transpa-rentes” e em função da experiência ouformação dos candidatos para o exercí-cio do cargo. Posteriormente, competiráainda a este órgão proceder à aprova-ção do projecto educativo, do plano e dorelatório de actividades.

A direcção executiva de cada escolapassará, assim, a ser assumida por umórgão unipessoal, o director, coadjuvadopor um pequeno número de adjuntos, porsi escolhidos, em função da dimensão daescola. Ser-lhe-á confiada a gestão ad-ministrativa, financeira e pedagógica, as-sumindo, também, por inerência, a pre-

Machadada na Gestão Democráticadas Escolas

sidência do conselho pedagógico. Essaé a razão invocada, espante-se, o cargodeverá ser exercido por quem, até essemomento, tenha sido professor.

O modelo anunciado pelo Primeiro-mi-nistro aponta para uma enorme concen-tração de poderes num órgão unipesso-al, contrariando uma cultura de colegia-

lidade e participação democrática de to-dos os que se envolvem no quotidianoescolar, atribuindo um desmesurado po-der àqueles que o Governo considera vi-rem a ser a “liderança forte das esco-las”.

Actualmente, o órgão de gestão dasescolas é eleito por professores, pais,pessoal não docente e alunos (no ensinosecundário). Ora, segundo o Primeiro-Ministro, o Governo propõe-se substituiresta eleição por um concurso público –solução que o Tribunal Constitucionalreprovou, em 2006, a propósito de um

Decreto Legislativo Regional de conteú-do semelhante do Governo Regional daMadeira. Apreciando esse diploma, con-siderou-se que tal solução não só con-trariava a Lei de Bases do Sistema Edu-cativo (LBSE) como a própria Consti-tuição da República, que consagra a elei-ção como uma opção política e legislati-va fundamental.

Também o ex-Presidente Jorge Sam-paio, alegando fundadas dúvidas de cons-titucionalidade, vetou a proposta de Leide Bases da Educação defendida pelogoverno da maioria de direita PSD/PP eque consagrava esta proposta, agoradefendida pelo PS e pelo Governo. Fê-lopor considerar que a mesma punha emcausa direitos fundamentais e princípiosdemocráticos do nosso sistema educati-vo e do Estado.

Porque as escolas são espaços peda-gógicos por excelência, porque a EscolaPública Portuguesa tem de continuar adefender princípios fundamentais quesalvaguardem a defesa de um EstadoDemocrático, porque não é admissívelque critérios de natureza economicista eadministrativa se sobreponham aos finsfundamentais da Escola, tal como a Leide Bases do Sistema Educativo e a Cons-tituição da República preconizam, é pre-ciso e é urgente unir esforços para im-pedir que o actual Governo use a sua mai-oria parlamentar para impor mais umamedida que tenderá a, progressiva e con-sistentemente, destruir a Escola Públicae o direito dos cidadãos a uma EscolaDemocrática.

Nelson Delgado, Dirigente do SPRC

A direcção executiva de cada es-cola passará, assim, a ser assumidapor um órgão unipessoal, o director,coadjuvado por um pequeno núme-ro de adjuntos, por si escolhidos, emfunção da dimensão da escola. Ser-lhe-á confiada a gestão administra-tiva, financeira e pedagógica, assu-mindo, também, por inerência, a pre-sidência do conselho pedagógico.Essa é a razão invocada, espante-se,o cargo deverá ser exercido porquem, até esse momento, tenha sidoprofessor.

Doze jogadores do Vitória de Guima-rães inscreveram-se na passada sema-na no Programa Novas Oportunidades,numa cerimónia pública na Escola Se-cundária Francisco de Holanda, em Gui-marães, e poderão assim concluir o 12ºou o 9º ano de escolaridade, conformeos casos.

Numa sala repleta, o primeiro a assi-nar foi o extremo Carlitos, tendo-lhe se-guido Ghilas, Sereno, Momha, João Al-ves, Moreno, Luciano Amaral, NunoSantos, Serginho, Tiago Ronaldo, Rabi-ola e Targino.

O defesa-central brasileiro Danilotambém se vai inscrever no programa,cujas aulas começaram esta semana noCentro Novas Oportunidades (CNO),localizado naquela escola vimaranense,mas não pôde marcar presença na ceri-mónia devido aos tratamentos à grave

DO FUTEBOL PODEM VIR BONS EXEMPLOS

Doze jogadores inscrevem-seno programa Novas Oportunidades

lesão contraída há mais de três meses.Na cerimónia esteviveram presentes

o secretário de Estado da Juventude eDesporto, Laurentino Dias, a ministra daEducação, Maria de Lurdes Rodriguese o ministro da Administração Interna,Rui Pereira.

Também o presidente do Vitória deGuimarães, Emílio Macedo da Silva, otreinador Manuel Cajuda e outros ele-mentos da direcção e equipa técnica vi-torianas fizeram questão de acompanharos atletas.

Laurentino Dias lembrou que “já nãohá profissões para a vida inteira”, e que“na de jogador profissional de futebol issoé inevitável: uma carreira dura cerca de10, 12 anos e, exceptuando uma imensaminoria, os outros deparam-se com umproblema sério”.

O secretário de Estado considerou

importante os jogadores terem optadopela qualificação do seu currículo esco-lar, oportunidade que vê, também, comouma maneira de “o futebol portuguêspoder atingir um patamar novo de afir-mação e dignidade”.

A ministra da Educação, Maria deLurdes Rodrigues, também elogiou oexemplo dado por parte significativa doplantel vimaranense e afirmou: “no mo-mento em que a glória [desportiva] aca-bar, ninguém vos pode tirar os diplomas”.

O ministro da Administração Inter-na, Rui Pereira, que entregou na ceri-mónia diplomas a 18 agentes de segu-rança, PSP (14) e GNR (4), destacou oexemplo dado à juventude. “Este passoé importante para vós, mas tambémpara a sociedade, que através do vossoexemplo, pode perceber a importânciadeste programa”.

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15DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

TELEVISÃO SEM CORAÇÃO

Acabo de ler um estudo que me dizesta coisa espantosa: “Os portugueses,entre todas as formas de comunicação,neste momento, não passariam sem In-ternet.” Provavelmente estaria à esperade ver a televisão no topo destas inquie-tações. Passar sem televisão? Impossí-vel. Afinal, parece que não é bem assim.

Tenho aqui escrito que, por muito quecuste à ordem estabelecida nos media, omundo está em mudança. Mudança in-comodamente mais rápida do que aque-les que dominam, ou julgam dominar, osmeios tradicionais, poderiam desejar.

Estudos, teses, teorias, tudo o que temsido desenvolvido neste campo me pa-rece coisa do passado e, acima de tudo,só servir para compreender o passado.Lentamente, o consumo de televisão bai-xa, enquanto o de Internet sobe em fle-cha. A imagem da televisão como baby-sitter vai ter os dias contados. O despre-zo com que muita gente nas escolas viaa Internet há dez ou onze anos, e lem-bro-me bem dessa época, é um bom in-dicador para o que se passa hoje. Aceitea Internet, as tecnologias da Comunica-ção andam a uma velocidade tal quepõem em causa a “velha” televisão. Nãoque ela vá desaparecer. Sabemos hámuito que os novos meios não eliminamos anteriores, mas acabam por integrá-los. Quem acreditava, há dez anos, queas próprias estações de televisão, hoje,se sentiriam obrigadas a disponibilizar osseus conteúdos na Web?

O que quero com isto dizer é que emmim mesmo reconheço uma notória que-bra no consumo e interesse que dedico àtelevisão, tendo passado a procurar, qua-se em exclusivo, informação e até en-tretenimento na Internet. A televisão foilentamente entregue à facilidade, à ma-nipulação mais sórdida. Muitas vezes, àmediocridade. Não confio na televisão.Raramente me sinto envolvido emocio-nalmente por ela. A televisão passou aser o alimento de que as grandes mas-sas necessitam para a sua sobrevivên-cia. Isto é, a grande criadora do “esque-cimento”. O abandono de si mesmas, afuga da sua condição.

Não se trata do “sonho”, da capaci-dade de “pular e avançar” como “bolacolorida entre as mãos de uma criança”.Nada parecido com os tempos áureos docinema. Não. Nunca mais, a não ser porvagos momentos de, diria, distracção. Oprocesso televisivo, em si, não o impedi-ria, mas a obsessiva tendência para odominar retirou-lhe a Arte, a capacidadedo voo, o entusiasmo. Mudam-se cená-rios, genéricos, grafismos, cores, vesti-mentas, até caras, mas o coração da te-

levisão parece não recuperar. Em parti-cular o coração da televisão portuguesa.Falta-lhe espaço para receber quem defacto tenha coração.

QUERIDA “ÓROPA”

A assinatura do “Tratado de Lisboa”,nos Jerónimos, acabou por ser, acima detudo, um espectáculo. Pensado como tal,o cenário criado foi fundamentalmentedesenhado para televisão.

Longe vai o quase amadorismo dasessão de adesão de Portugal à CEE, nosmesmos Jerónimos. No entanto, ao olharpara essas imagens, sente-se que háqualquer coisa de verdadeiro e histórico.Pelo contrário, toda a encenação do“Tratado de Lisboa” nos remete para odomínio do efémero.

Os claustros dos Jerónimos foramtransformados para responderem ao ape-lo da imagem, do exterior, e não da es-sência. A luz, azul, que inundou quasetudo, trabalhou o espaço como os bonscriadores de ambiências para estúdiostelevisivos sabem fazer. Um gigantescoécran omnipresente encarregou-se do

resto.Contra aquilo que muitos pensarão,

aquele tão preparado momento não sedistinguirá de muitos já vistos ou ainda aver. A banalidade do excesso televisivoretirou-lhe qualquer eficácia.

Poderemos vir a recordar a cerimó-nia pelos efeitos que o Tratado possa vira ter nas nossas vidas, não pelo momen-to da sua assinatura. Foi aliás isto mes-mo que ficou nas entrelinhas das decla-rações de um professor universitário quepassou uma boa parte daquele dia nosestúdios da SIC. Em longas exposiçõesque, por muito correctas que tenham sido,acabaram por não escapar a umas tan-tas erudições académicas, o professorrodava freneticamente na cadeira e,embora Ana Lourenço lhe tenha agra-

decido a “aula”, não conseguiu evitar odeslize de chamar ao velho continente…“Óropa”.

Nada de mais. Estamos habituados.Uns com a sua “Óropa”, outros comas suas “rúniões”, outros ainda comos seus “presedentes”. Fala-se mal natelevisão e ninguém parece preocu-par-se com isso.

O administrador executivo da Impresa, FranciscoMaria Balsemão, defendeu que um eventual novo ca-nal em sinal aberto, introduzido pela Televisão DigitalTerrestre (TDT), deve ser gerido pelos 3 operadores(RTP, SIC e TVI) já existentes.

“O espectro que sobra do Multiplexer A [conjuntode frequências de televisão digital que incluirá os ac-tuais canais generalistas de acesso livre] pode ser aprimeira experiência de um canal gerido pelos 3 ope-radores”, afirmou Francisco Maria Balsemão, duran-te o debate “Grandes Desafios da TDT em Portugal”,que decorreu no Congresso da APDC.

Perante a opinião consensual dos oradores deste painel– que, além do administrador da Impresa, contava com oadministrador da Media Capital Manuel Polanco, o vice-presidente da PT, Zeinal Bava, e o presidente da Associa-ção dos Operadores de Telecomunicações (Apritel), LuísReis – de que será difícil à TDT assumir um papel diferen-ciador em relação às diferentes plataformas de televisãojá existentes, Francisco Maria Balsemão considerou a altadefinição como um factor-chave para o sucesso da TDT.

“O que seria diferenciador era tentar vender uma expe-riência nova às pessoas: um canal com uma imagem de

DEFENDE PINTO BALSEMÃO

Novo canal devia ser gerido pelos 3 operadoresalta definição”, advogou.

“A alta definição no multiplexer A poderá ser um factordiferenciador tão importante como a passagem [da televi-são] a preto e branco para a cores”, afirmou.

A adopção de alta definição na televisão “não é umamiragem”, acrescentou, adiantando que “a SIC já in-vestiu vários milhões em estúdios e em compras [deprogramas] lá fora”.

Por outro lado, avançou, “a maior parte dos televi-sores novos já estão preparados para a alta definição”e “até 2012 [ano em que será desligado o sinal analó-gico e adoptado o digital], a concorrência no cabo játerá canais de alta definição”.

A entrada de um novo operador responsável por maisum canal comercial em sinal aberto seria “nefasta parao mercado”, adiantou ainda.

Isto porque, actualmente, é permitida a emissão de30 minutos de publicidade por hora de emissão (6 mi-nutos na RTP e mais 12 minutos na SIC e na TVI),sendo que a entrada de um novo canal aumentaria aoferta para 42 minutos.

“O novo canal iria acabar por baixar os preços dapublicidade e todos os sectores iriam sofrer muito”.

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16 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008CULTURA

Centro - É jornalista, escreveu umlivro de carácter historiográfico e ago-ra estreia-se na literatura infantil. Aescrita é a constante da sua vida?

Noémia Malva Novais (NMN) –Sim, será pelo menos uma das cons-tantes da minha vida. Mas é, acimade tudo, uma necessidade. Só muitodificilmente conseguiria viver sem lere escrever. Costumo dizer que osmeus únicos vícios são a leitura e aescrita.

Centro – Depois de um livro dehistória contemporânea, que foimesmo premiado, como é que sur-ge este livro infantil?

NMN – Pois, não foi uma decisãofácil. Efectivamente, o ano passadopubliquei o meu primeiro livro – “JoãoChagas. A Diplomacia e a Guerra” –, que foi distinguido com a 1.ª mençãoespecial do Prémio Aristides SousaMendes, da Associação dos Diploma-tas Portugueses, pelo que tive algumreceio de me envolver na literatura in-fantil. Na verdade, ainda não sei, masquando vejo o livro nas mãos das cri-anças, sinto que foi uma decisão acer-tada.

Centro – Que história conta“Daniel e o bicho da lanterna”?

NMN – A história desenrola-se àvolta de um menino pequenino – oDaniel – que tem um pesadelo, quelhe interrompe várias vezes o sono, eque acaba por o fazer pensar acercado mundo dos sonhos. A moral da his-tória é muito bonita e vai poder serdescoberta por todos os que lerem olivro.

Centro – O que vai escrever aseguir ao “Daniel e o bicho da lan-terna”?

NMN – Este é o primeiro livro deuma nova colecção editada pela Mi-nervaCoimbra. Se tiver sucesso, po-

“Daniel e o Bicho da Lanterna” é otítulo do livro infantil que será lança-do em Coimbra hoje (quarta-feira),pelas 18h30, no Atrium Solum. A apre-sentação será feita por Eduardo Sá.

Trata-se do primeiro livro de litera-tura infantil publicado pelas EdiçõesMinervaCoimbra no âmbito da colec-ção Letras Pequenas. A autora é No-émia Malva Novais (com quem fize-mos a entrevista que abaixo se publi-ca). O livro é ilustrado por Inês Mas-sano, para quem o desenho é a gran-

LIVRO INFANTIL É HOJE LANÇADO PELA MINERVACOIMBRA

“Daniel e o Bicho da Lanterna”- UMA HISTÓRIA DE NOÉMIA MALVA NOVAIS COM ILUSTRAÇÕES DE INÊS MASSANO

de paixão (esta jovem ilustradora, li-cenciada em Design de Comunicação,é professora de Educação Visual e jáilustrou outros dois livros infantis).

A escrita de Noémia Malva Novaise a ilustração de Inês Massano con-vivem harmoniosamente neste peque-no livro feito a pensar nas criançasque gostam de ouvir histórias e nospais que têm pouco tempo para ascontar.

Uma boa sugestão para as prendasde Natal. Inês Massano

Noémia Malva Novais:do jornalismo à escrita e à investigação

der-se-ão seguir outras histórias pro-tagonizadas pelo Daniel. O mercadoé que vai decidir o futuro da colec-ção. Eu tenho várias histórias escri-tas, mas com a concorrência que háno mercado…

Centro – É o facto de haver mui-tos títulos infantis no mercado quea assusta?

NMN – Isso não me assusta, ape-nas me preocupa, porque a esses títu-los nem sempre correspondem con-teúdos com qualidade. Uma consultarápida de alguns números desses títu-los mostra que há livros que são ape-nas séries de televisão passadas apapel impresso, sem os necessárioscuidados com a língua portuguesa. Noentanto, são esses títulos que vendemmais, porque a maioria dos pais e dascrianças é influenciada pela televisão.

Centro – Quer dizer que o “Da-niel e o bicho da lanterna” é maisaconselhável do que esses livrosresultantes de séries televisivas?

NMN – Seria presunção da minhaparte achar que este livro é mais inte-ressante do que qualquer outro do seugénero. Porém, posso garantir queesta história, bem como as históriasque poderão seguir-se, são escritascom muito cuidado, a pensar nas cri-anças pequeninas que as vão ouvir eaté a pensar nos pais que têm poucotempo para contar uma história aosfilhos.

Centro – A quem se destina estelivro?

NMN – É um livro especialmentecriado para crianças até aos sete ouoito anos, desde os pequeninos queainda não sabem ler até aos que es-

tão a aprender as primeiras letras e atentar que elas façam sentido umascom as outras. O livro tem pouco tex-to em cada página, letras grandes, eumas ilustrações lindas, desenhadaspela Inês Massano… penso que ascrianças gostam.

Centro – Vai abandonar o jorna-lismo e a investigação para se de-dicar apenas à literatura infantil?

NMN – Não. Eu nem sei se já co-mecei a dedicar-me à literatura infan-til. Só sei que escrevi um livro peque-nino para crianças pequeninas. Se é,ou não, literatura não sei. A literaturaé uma coisa muito séria que ainda nãosei se sei fazer. Quanto à outra parteda sua pergunta, a minha actividadejornalística está, temporariamente, ar-rumada, porque como estou a prepa-rar o doutoramento em Comunicaçãona Universidade Nova de Lisboa e soubolseira da Fundação para a Ciênciae a Tecnologia, não posso exerceroutra actividade. A investigação, sejaem História Contemporânea, seja emCiências da Comunicação, vai conti-nuar, até por força do doutoramento.

Centro – Sente-se mais jornalis-ta, mais investigadora ou mais es-critora?

NMN – Não sei. Acho que não sãoáreas incompatíveis. Penso mesmoque se complementam. Eu vejo-mecomo uma comunicadora; como al-guém que tem necessidade de inves-tigar, escrever as conclusões dessainvestigação e depois comunicar es-sas mesmas conclusões. Ainda há diascriei um blogue precisamente para issoe denominei-o “historiandoEcomuni-cando” por isso mesmo. Creio que, nomomento actual, em que se fala tantode flexibilidade, não é difícil as pes-soas aceitarem que eu trabalhe vári-as escritas.

Noémia Malva Novais com o seu primeiro livro infantil

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17DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 SAÚDE

MassanoCardoso

Na sequência de um texto publicadono blog “4R - Quarta República”, intitula-do “Levar a carta a Garcia”, uma simpá-tica comentadora, “Pézinhos n´Areia”,ofertou-me um poema e o Adagietto (5.ªSinfonia) de Gustav Mahler para ouvircom os olhos fechados, rematando: “Avida é tão rara, Caro Salvador”.

Compreendi perfeitamente o seu alcan-ce e, de facto, a raridade que cita é o factode desfrutar a possibilidade única de existir.

No entanto, a frase “A vida é tão rara”despertou-me as seguintes reflexões:

Em Dezembro de 1968, presumo que navéspera do Natal, na sequência da viagemda Apolo 8 foi obtida pela primeira vez umaimagem da Terra no decurso da órbita lu-nar. A fotografia era de tal modo fascinanteque nunca mais a esqueci ao ponto de, naaltura, a pendurar na parede do meu quarto.Não me cansava de olhar para tanta bele-za. Prestes a fazer 18 anos, pensava comoera possível que naquele globo azul e bran-co houvesse tantas coisas belas, vida, ale-gria, tristeza, guerras, miséria, grandeza, amore ódio e uma espécie pensante. Imaginavaoutros seres espalhados pelo Universo a con-templarem as suas casas! O que é que elessentiriam? Mas existiriam?

Três anos mais tarde, na faculdade, omeu professor de Patologia Geral deu umaaula que não me esqueço. Levava consigoum pequeno livro. Com a aula prestes aterminar fez uma pequena descrição daobra, que estava relacionado com o tema,

“A vida é tão rara”...

incentivando-nos a lê-la: “O Acaso e aNecessidade”, do prémio Nobel JacquesMonod, cujo título foi buscar à célebre fra-se de Demócrito. Consegui adquiri-lo e foio primeiro ensaio científico que li na minhavida. Marcou-me muito.

Monod considerava que o Homem sur-giu por acaso na imensidão do Universo.Na sua perspectiva estaríamos sozinhos.

Mas não é essa a opinião ou o “dese-jo” de vários cientistas entre os quais des-taco o saudoso Carl Sagan, cujas obras

são incontornáveis e riquíssimas em ma-téria de informação e reflexão.

Em 1990, Sagan conseguiu que no mo-mento em que a Voyager 1 ia a começara sair do sistema solar, a mais de seis milmilhões de quilómetros, tirasse uma fo-tografia da Terra. A fotografia é um mi-núsculo ponto azul-claro.

Esta fotografia contrasta com a da Apo-lo 8 ou com o mais recente “Pôr da Terra”.Um mero ponto a desafiar a ilusão de quesomos importantes, de que ocupamos um

lugar privilegiado no Universo. Afinal, “onosso planeta é uma partícula solitária numaimensa escuridão cósmica envolvente”.Tem vida? Tem! Mas alguém seria capazde o afirmar se estivesse colocado àqueladistância e olhasse para o ponto azul-claro?

A procura de outras formas de vidaé uma necessidade, ao ponto de algunscientistas defenderem a vida como um“imperativo cósmico”.

Há quem considere que a vida surgiumais do que uma vez neste planeta, soboutras formas e regras, ao ponto de con-siderar a Terra como o local mais ade-quado para procurar “vidas diferentes”.De facto, algumas hipóteses especulamsobre a possibilidade de que formas al-ternativas de vida tenham sobrevividoe estejam ainda presentes no ambiente,constituindo uma espécie de “biosferasombra”.

Já andam à procura. Se encontrarem“shadow life” muitos conceitos terãoque ser alterados, reforçando a possibi-lidade de não estarmos sozinhos noUniverso encafuados numa partículaminúscula azul-claro.

Diz o poeta, Lenine, não o outro (!),mas o brasileiro, no seu belo poema:

“A vida é tão raraMesmo quando tudo pede um pouco

mais de calmaAté quando o corpo pede um pouco

mais de almaEu sei, a vida é tão raraa vida não pára não... a vida é

tão rara”Pergunto: – Será assim tão rara?Espero que não e desejo que “as

vidas não parem” e que possamos en-contrá-las...

A Terra fotografada pela Apolo 17

Alfredo Mota, responsável pelo ser-viço de transplantação renal dos HUCafirmou que um transplantado que nãodá graças a Deus e reconhece a bênçãoque teve ao ser-lhe destinado um rim, éum doente que não está a ser sério comele próprio, com a sociedade e principal-mente com outro doente que lhe dariarealmente o valor. O médico e professorda Faculdade de Medicina fez esta afir-mação no programa “Dois dedos de con-versa”, da Rádio Regional do Centro, ex-plicando que como há tão poucos orgãos,é quase como se lhe “tivesse saído o Eu-romilhões”. O doente devia olhar paraesse órgão como se de um filho bebé setratasse. E, sublinhou, “há doentes que,infelizmente, não o merecem”.

Há cerca de 1800 doentes renais eapenas 400 dadores. Mas estes núme-ros sofrem alterações porque, devidoa uma série de factores, surgem diaria-mente novos doentes, nos quais a faltade cuidado com a alimentação é pre-ponderante.

postos de todos os portugueses. Por issoentender que cada transplantado deviaser grato e cuidar com carinho da bên-ção que recebeu.

O problema da falta de dadores foitambém abordado, alegando o especia-lista que, com a nova legislação, poderávir a melhorar significativamente, ape-sar de nunca virem a suprir as necessi-dades.

Sobre a relação de um cirurgião comDeus, sublinhou que, apesar de católico,nunca pode deixar nas mãos de Deusaquilo que a ele como especialista com-pete. E citou a máxima que costuma di-

zer aos seus doentes: “Eu tratei-te e ago-ra Deus que te cure”.

Alfredo Mota assume-se como umhomem que se orgulha do seu trabalho ecom a sensacção de missão cumprida namelhoria de resultados do seu serviço.Mas não se cansa de enaltecer todo otrabalho das equipas com quem partilhao seu sucesso.

Atigiu em Outubro o patamar das 100tranplantações num só ano e estima ter-minar 2007 na casa dos 120 e já com aperspectiva de, a partir de 2008, passara fazer transplantes simultâneos do rime do pâncreas.

AFIRMA O CIRURGIÃO ALFREDO MOTA

“Nem sempre o transplantado reconhece a sorte que teve”

Às pessoas que dizem ter direitos emtermos de saúde porque pagam os seusimpostos, Alfredo Mota fez questão deesclarecer que ninguém desconta para asaude, mas sim para a segurança social,para a previdência mas não para a saú-de, que é totalmente suportada pelos im-

Alfredo Mota

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18 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

DOMINGO CAPITALDia lindo de sol no Parque das Nações.Temperatura: 5 graus. Vento gélido.Dentro do “Vasco da Gama” está-se

bem.Sento-me com o carioca de café à frente.Chega alguém para a mesa ao lado. Traz

uma chávena na mão e uma viola eléctricaao peito.

Lisboa é diferente, já se sabe.Tão diferente que pouco depois aparece

um bizarro casal de jovens. Quentes.Ele de óculos espelhados, calções de ba-

nho pelo joelho e chinelos de enfiar no dedo.Ela puxando um “trolley” de formato gran-de, mini-vestido de praia transparente e cha-péu de pano na cabeça.

Têm todo o ar de terem acabado de che-gar das Caraíbas. Passeiam-se pelo centrocomercial, por entre olhares espantados esorrisos mais ou menos explícitos.

Quem disse que do lado de fora estão 5graus centígrados?

Lá como cá, as capitais são assim - dife-rentes.

(publicado em 16/12)

ANGÚSTIAS ACADÉMICAS (*)Há uns anos atrás o argumento para

as derrotas estava na ausência de cam-pos de treinos e acusava-se a Câmara.Hoje há campos de treinos e chegou-semesmo ao ponto da Académica se terinstalado na Câmara, cometendo o errotrágico de fazer do seu presidente direc-tor municipal do urbanismo.

(*) excerto de um texto de João Silva,militante do PS (in “Jornal de Notícias”),que pode ser lido na íntegra no blogue.

(publicado em 12/12)

INCOMPETÊNCIA

Hoje, às 20h30, no “site” da Liga Portu-guesa de Futebol Profissional, encontreia indicação de que Manuel Machado é otreinador da Académica.

Distracção? Incompetência?

(publicado em 11/12)

ADVOGADOSA situação na Ordem dos Advogados

está bonita.Ai está, está.Mas gostei de ouvir Rogério Alves, há

pouco, na SIC Notícias.(publicado em 10/12)

O BASTONÁRIO«Marinho e Pinto diz uma coisa sin-

gela que toda a gente percebe, menoscertos políticos, acolitados pela inteligent-sia dominante e por motivos tambémóbvios que ficam claríssimos. Diz que hápromiscuidade entre os governantes ecertos escritórios de advocacia e que issose traduz em favorecimento monetário.Dinheiro, portanto, é a questão. Comosempre, aliás.»

Excerto de “Marinho e Pinto, basto-nário da ordem ética”.

O texto na íntegra na “Grande Lojado Queijo Limiano”.

(publicado em 9/12)

POR ONDE ANDOUO DINHEIRO?

Fiz uma transferência bancáriaelectrónica no dia 2.

O dinheiro saiu nesse mesmo diadaquela conta mas só entrou na outrano dia 4.

Pergunta: por onde andou o dinhei-ro no dia 3?

(publicado em 8/12)

CUIDADO!Estudo volta a apontar perigos dos

telemóveis para a saúde – Um estudopublicado hoje no American Journal ofEpidemiology volta a questionar o im-pacto na saúde das ondas de radia-ção emitidas pelas antenas dos tele-móveis. Um tema que tem originadovários estudos, nem sempre com re-sultados semelhantes.

A investigação concluiu que as ra-diações dos móveis aumentam o riscode cancro das glândulas salivares emcerca de 50 por cento nos utilizado-res frequentes, que usem o equipa-mento 22 ou mais horas por mês.

O perigo é ainda mais elevado nocaso dos utilizadores que têm tendên-cia a falar sempre do mesmo lado, usan-do sempre a mesma a orelha, concluio documento realizado com o apoio daOrganização Mundial de Saúde.

Foram analisados na pesquisa 460doentes, sendo que 402 desenvolve-ram tumores benignos e 58 desenvol-veram tumores malignos, informa aagência noticiosa France Press.

(fonte: TEK Sapo;publicado em 7/12)

AGORA É A CAIXA...«A Caixa Geral de Depósitos

(CGD) está a ser investigada no âm-bito das ofertas públicas de venda daRedes Energéticas Nacionais (REN)e da Martifer. Em causa estão alega-das irregularidades feitas por um cli-ente do banco que terá aberto váriascontas para concorrer ao rateio dasacções das duas empresas.»

(in “Jornal de Negócios on-line”;publicado em 7/12)

ORDEM«Júdice saiu do PSD de Marques

Mendes para se aproximar de Sócra-tes. O sinal mais evidente desta tran-sumância em direcção ao poder con-sistiu em ser mandatário do actual pre-sidente da CML. Neste edificantecontexto, é natural que Júdice ressu-ma o seu ódio de classe - sim, ele éfundamentalmente um homem de ne-gócios - contra o filho do polícia (Ro-gério Alves) e contra o filho da cam-ponesa e do alfaiate (Marinho Pinto)».

(João Gonçalves, no “Portugaldos Pequenitos”;

publicado em 6/12)CITAÇÃO

«Há que acautelar o desgaste soci-al, retomar o diálogo sindical, fazerbaixar o ambiente de crispação e pes-simismo que está a instalar-se. Quemavisa, caros amigos socialistas, vossoamigo é...»

(Mário Soares, 6-12-2007,“Visão”; publicado em 6/12)

A MENSAGEM DO ORLANDOA primeira mensagem escrita

(SMS) de votos de Boas Festas voltaa ser a de um “velho” companheirodo Jornal de Notícias.

Original, como sempre.Ei-la:

«Sê um vencedor. Como? Deixa acoluna vertebral em casa. Boas Fes-tas. Orlando Castro».

Agradeço e retribuo, na esperançade poder partilhar o inconformismo.

Na verdade, não foi este o Portu-gal que eu sonhei – nem para mim,nem para os meus filhos.

(publicado em 6/12)

SALAZAR E... SÓCRATESOntem à noite adormeci a ver uma re-

portagem da SIC sobre António de OliveiraSalazar.

Hoje de manhã acordei com a notícia deque o Governo chefiado por José Sócratesse preparar para lançar um imposto (cha-mam-lhe taxa...) sobre os sacos de plástico.

Se calhar por influência da reportagemde ontem, lembrei-me logo do imposto (cha-mavam-lhe taxa, não era?...) sobre os is-queiros no tempo da “outra senhora”.

Realmente, ele há cada uma...(publicado em 5/12)

ISQUEIROS“Caro MárioSer (mais) jovem é uma virtude, mas que

pode originar involuntárias imprecisões. Defacto, no tempo da “outra senhora” não sepagava imposto ou taxa pelos isqueiros, pelomenos de forma directa. A coisa era aindamais espantosa: tinha se de tirar “Licençade Isqueiro”!

Esta surrealista imposição destinava-sea proteger o monopólio da fosforeira portu-guesa no que toca ao acendimento dos “Pro-visórios”, que eram definitivos, e dos “Defi-nitivos, que eram provisórios...

Aliás, alguns brincalhões deram-se ao tra-balho de aprender uma habilidade: oculta-vam a caixa de fósforos na palma da mão ecom o polegar premiam um fósforo contraa lixa, de tal modo que, ao longe, pareciaestarem a accionar um isqueiro. E quandoaparecia o fiscal (que andava disfarçado, àpaisana), a vingança era ver a cara de par-vo com que o dito ficava quando se lhe ga-rantia que ali não havia isqueiro, mas ape-nas fósforos. Testemunhei uma destas ce-nas no Nicola!

Um abraço”.(mensagem de um Amigo e leitor

do blogue; publicado em 6/12)

Campanha apoiada pelo jornal

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19DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 DESPORTO

O Centro Social Desporto e CulturaRibeira de Frades nasceu a 25 de Julhode 1984; na localidade da margem es-querda de Coimbra com este mesmonome. Dedica-se ao Futsal, à Ginástica,ao Teatro e ao Folclore, mas é na pri-meira modalidade que mais se tem dis-tinguido, embora ficando sempre um pou-co aquém das melhores expectativas aque se tem proposto ano após ano.

“O Futsal, enquanto desporto fede-rado, pratica-se entre nós há seis anos.Temos conseguido os nossos objectivos,mas ‘morremos sempre na praia’. Te-mos ficado em terceiro, quarto lugares eainda não conseguimos ascender à Divi-são de Honra, nosso objectivo primordi-al”, confessou a vice-presidente MárciaAlmeida, cicerone da nossa visita às boasinstalações do Centro.

“Já pratico cá futsal há seis anos. Jásou veterano. Tenho vivido muitas tris-tezas e alegrias. A minha maior tristezafoi nunca termos conseguido subir, des-de há três, quatro anos para cá. Vamosver se é este ano. Pelo menos, vamoslutar para isso. É esse o nosso grandeobjectivo. Hoje vamos ter um grande jogocontra um dos nossos maiores rivais, oSport Conimbricense”, acrescentou ocapitão João Filipe.

Pelo mesmo diapasão afinou o treina-dor Ricardo Pratas, ex-jogador do clubee agora seu orientador. “O grande ob-

Ribeira de Frades:o clube que tem “morrido na praia”

jectivo é a subida de divisão. Era joga-dor do clube e enveredei pela carreirade treinador. Acho que a equipa temimensas potencialidades. Tem bastanteexperiência. Há apenas dois jogadoresnovos. Os outros, conheço-os todosbem”, salientou o técnico.

No passado sábado, o Ribeira de Fra-des venceu o Damosnostra por 2-0, ven-cendo também ao intervalo por 1-0. Osgolos foram apontados por Pinto e Pirelha.

Com este resultado, o Ribeira de Fra-des ascendeu ao 2.º lugar da classifica-ção geral. Em 1º está o Gatões, que ven-ceu o Santa Clara por 3-2.

O Ribeira de Frades faz parte doCampeonato Distrital da Associação deFutebol de Coimbra (AFC), da série B,onde pontificam o Santa Clara, o Corti-ceiro de Cima, o Gatões, o Meãs, oNeves, o Conimbricense, o Damosnos-tra e o Lagonense.

UMA GRANDE CASA, MAS UMMAR DE DIFICULDADES

O Centro Social Desporto e Cultura Ri-beira de Frades é, segundo a sua vice-presidente, Márcia Almeida, “uma peque-na, mas grande casa”, cujas dificuldadestêm aguçado o génio para arranjar formade as superar.

“Conseguimos sobreviver apenas atra-vés do aluguer do nosso Pavilhão. A Juntade Freguesia ajuda-nos apenas no transpor-te”, lamenta a dirigente do Centro.

Associado a este contratempo, “nes-te momento, tem havido uma quebra noaluguer do Pavilhão, devido aos custos eao número reduzido de utentes para aprática diária”.

Como diz o adágio popular, “um mal nun-ca vem só”: Márcia Almeida queixa-se ain-da de que os sócios não têm correspondidoà grandeza da casa, tendo-a alguns, mes-mo, “abandonado”.

Resta-lhe apenas a esperança que oFutsal, em particular, tal como se tem vis-to por todo o país, arraste mais gente aoCentro Social Desporto e Cultura Ribeirade Frades.

“Eu penso que o Futsal, a seguir ao Fu-tebol de 11, será a modalidade que dará maisêxitos a nível nacional e talvez internacio-nal”, concluiu a dirigente associativa.

Norberto Rodrigues

João Filipe, “capitão” do Ribeira de Frades

O nadador Carlos Almeida tornou-seo 44º atleta português qualificado paraos Jogos Olímpicos de Pequim2008, aoregistar 2.15,77 minutos nos 200 metrosbruços do Open de Eindhoven, na Ho-landa.

Carlos Almeida é o sétimo atleta daFederação Portuguesa de Natação aassegurar a presença nos Jogos, a oitomeses da abertura da competição, no dia8 de Agosto, em Pequim.

O atleta, que estava englobado no Pro-jecto Esperanças Olímpicas Lon-dres2012, ingressa automaticamente noProjecto Pequim2008, no Nível Qualifi-cado.

O número de integrados no ProjectoPequim passou a ser de 98 atletas, de 20modalidades, incluindo a atleta JoanaNunes, do pentatlo moderno, que tam-bém transita do Projecto EsperançasOlímpicas.

Joana Nunes foi incluída no Nível 4,com retroactivos a 1 de Julho de 2007,depois de ter alcançado o 24º lugar nos

JOGOS OLÍMPICOS DE PEQUIM 2008

44 portugueses já apuradoscampeonatos da Europa de pentatlo mo-derno e o 10º na Taça do Mundo deSzekerfehervar, Hungria, ambas as pro-vas disputadas em Junho.

RELAÇÃO DO ATLETASPORTUGUESESJÁ APURADOSPARA PEQUIM 2008

É o seguinte o quadro dos atletas por-tugueses já apurados para participar nosJogos Olímpicos de Pequim2008:

- Atletismo (21): Hélder Ornelas,Paulo Gomes, Leonor Carneiro e Mari-sa Barros (maratona), António Pereira eAugusto Cardoso (50 km Marcha), Nai-de Gomes (salto em comprimento), Nel-son Évora (triplo salto), Sílvia Cruz (dar-do), Arnaldo Abrantes e Francis Obikwe-lu (200 metros), Edivaldo Monteiro (400metros barreiras), Sara Moreira (3.000metros obstáculos), Jessica Augusto(5.000 metros), João Vieira, Sérgio Vei-ra, Susana Feitor, Inês Henriques e Vera

Santos (20 km marcha), Elisabete Tava-res (vara) e Vânia Silva (martelo).

- Ciclismo (3): três atletas a nomear(fundo) e um atleta a nomear (contra-relógio individual), que será um dos trêsque participam em estrada.

- Judo (1): Telma Monteiro (-52 kg).- Natação (7): Tiago Venâncio (100

e 200 livres), Fernando Costa (1.500livres), Pedro Oliveira (200 costas),Diogo Carvalho (200 estilos), CarlosAlmeida (200 bruços), Diana Gomes(200 bruços) e Sara Oliveira (100 e200 mariposa).

- Tiro (1): João Costa (Pistola Livre).- Tiro com armas de Caça (1):

Manuel Vieira da Silva (Trap-FossoOlímpico).

- Trampolins (2): Ana Rente (femi-nino), Diogo Ganchinho (masculino).

- Vela (8): Afonso Domingos/Bernar-do Santos (Star), Álvaro Marinho/MiguelNunes (470), Jorge Lima/Francisco An-drade (49er), Gustavo Lima (Laser) eJoão Rodrigues (Prancha radial)

A União Internacional de Triatlo(ITU) proclamou Vanessa Fernan-des e o espanhol Javier Gomez comocampeões da Taça do Mundo de2007.

Os dois triatletas terminaram oano na liderança dos respectivos“rankings” e esta é a sua segundavitória consecutiva, recebendo comoprémio 40.000 dólares (cerca de30.000 euros) cada um.

Vanessa Fernandes, de 22 anos,elevou para 19 o seu total de vitóriasem provas da Taça do Mundo, igua-lando a australiana Emma Carey comoas maiores de sempre, recorda a ITU,que destaca ainda o facto de até agoraa portuguesa apenas ter participado em30 provas.

O comunicado da ITU conclui con-ferindo o nome da portuguesa como aprincipal favorita ao triunfo nos JogosOlímpicos de 2008, depois de ter gan-ho três vezes seguidas a Taça do Mun-do de Pequim, que se disputa no mes-mo local da prova olímpica.

VANESSAFERNANDESCAMPEÃ

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20 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008ASTROLOGIA

* Jurista

Jorge Côrte Real *

ASTROLOGIA, COMO FUNCIONA

As Casas (II)

(continuação da edição anterior)

O sistema de Placidus

Como interpretar as Casas:No caso do Sol nas casas, vamos ver a

palavra-chave para este, que é “eu sou” eadaptar ao tema da casa.

Exemplos:Sol na 1.ª casa, personalidade forte, au-

mentando essa força quanto mais próximoestiver do grau 1 ou ascendente. Eu sounotado.

Sol na 2.ª casa, aptidão para ganhar di-nheiro pelo seu esforço. Eu sou ganha-dor.

Sol na 3.ª casa, gosto de fazer amigos,relacionar-me com eles, com os vizinhos eparentes, de fazer viagens curtas. Eu rela-ciono-me.

Sol na 4.ª casa, eu sou conservadordo lar e das propriedades, da família e daspropriedades.

Sol na 5.ª casa, eu sou romanesco, de-safiador, brincalhão e líder. Etc.

Quanto à Lua nas casas, basta ir verqual a palavra-chave para aquela, que é “eusinto”.

Lua na 1.ª casa, eu sou uma pessoa sen-sível, emocional e por vezes instável.

Lua na 2.ª casa, eu sinto que podia ga-nhar mais.

Lua na 3.ª casa, eu sinto o que sentemos meus amigos.

Lua na 4.ª casa, eu sinto o legado fami-liar.

Lua na 5.ª casa, eu sinto prazer com osmeus filhos.

No caso de ser Mercúrio nas casas, apalavra-chave será, “eu penso ou reflito”.

Mercúrio na 1.ª casa, considero-mebom pensador.

Mercúrio na 2.ª casa, ganho com o meuintelecto.

Mercúrio na 3.ª casa, eu reflicto nascomunicações.

Mercúrio na 4.ª casa, reflicto na casano lar e na família, com que me preocupo.

Mercúrio na 5.ª casa, educo nos meusfilhos, esforço-me no trabalho. Etc.

Se for Vénus nas casas, palavra-cha-ve de Vénus, “eu amo”

Vénus na 1.ª, eu sou boa pessoa. Gos-to de mim.

Vénus na 2.ª, eu ganho bem. Gosto deganhar

Vénus na 3.ª, eu adoro os meus amigos,vizinhos e parentes. Gosto deles.

Vénus na 4.ª, eu amo o lar, e a famíliafelizes em casa.

Vénus na 5.ª, adoro os divertimentos,os filhos, e a vida. Etc.

Se for Marte nas casas, ver palavra –chave de Marte, “eu ajo”

Marte na 1.ª, eu ajo em primeirolugar.

Marte na 2.ª, eu ajo para ganharMarte na 3.ª, eu ajo com os amigos,

parentes e vizinhos.Marte na 4.ª, eu ajo pelo bem-estar

em casa, no lar, e na família.Marte na 5.ª, eu ajo como líder no tra-

balho, com os filhos e nos divertimentos. Etc.A interpretação que deixo expressa não

permite aplicações combinadas.Trata-se de uma “cábula para a interpre-

tação astrológica”. O objectivo é apenasmostrar como funciona e jamais ensinarcomo funciona.

Sempre nesta linha, vamos supor que al-guém nasceu com:

O ascendente em Touro, a 5º. Sol, a 14ºde Touro, Marte, a 18º e Lua, a 16º ambosde Touro, a Vénus a 24º de Gémeos, estan-do esta na 2.ª casa.

Ascendente a 5º de Touro – Eu pre-tendo que os outros saibam que me preocu-po com a saúde e com a beleza.

Sol a 14º de Touro, eu aprecio e douconforto, e Sol na 1ª casa eu sou notado.

Lua em Touro a 16º eu sinto (aprecio)

os prazeres da vida. Lua na 1ªcasa, eu sousensível, emocional e por vezes instável.

Marte em Touro a 18º, eu ajo com oobjectivo do bem estar e bem parecer.

Marte na 1.ª, eu ajo antes dos outros.Vénus em Gémeos, eu gosto de falar e

de escrever com elegância.Vénus na 2.ª casa, eu ganho bem para

aquilo que faço.

Com Sol, Marte e Lua na primeiracasa, aplicando a “cábula”, resulta:

A conjunção de Sol, Lua e Marte, signifi-ca a fusão do poder (Sol), com a acção(Marte), com a emoção (Lua). Esta pessoatem tendência a projectar fortemente as suasacções emoções e personalidade quandofala, e quando escreve, e procede destemodo com firmeza mas de forma suave egraciosa, pela Vénus em Gémeos, e procu-ra ganhar dinheiro de uma forma pouco es-forçada, ou pelo menos convencida que ga-nha bem para aquilo que faz, resultado daVénus na 2.ª casa.

Não iremos complicar mais este meroexemplo com trígonos e sextis.

As casas são encontradas em tabelaspróprias de acordo com a hora e local denascimento.

Os astros são colocados na carta de acor-do com um livro próprio designado por Ta-bela de Efemérides, algumas destas publi-cadas pela N.A.S.A, contendo para deter-minado dia, entre 1900 e 2040, todas as po-sições angulares dos astros na eclítica, paraa meia-noite ou para o meio-dia, tendo de-pois o astrólogo que proceder a ajustamen-tos para as restantes horas intermédias.

Se não se quiser estar com todo este tra-

balho, não faltam hoje programas de com-putador que, após a introdução de dados,dão de imediato a carta astrológica e algunsaté a interpretação da carta.

Convirá esclarecer, no entanto, que es-tas interpretações estão sujeitas às limita-ções informáticas e, como tal, só procedema análise interpretativa dos astros dois a dois,sem considerar os demais; e nestes casos,quando há mais astros a interagir com doisdeles, são incompletas, contraditórias, e au-sentes de rigor. Porém estes programas têmo mérito incontestável de proporcionar comrapidez e exactidão uma carta astrológica,que de outro modo demoraria por vezes al-gumas horas a levantar.

Esperando que tenham gostado tanto deler como eu gostei de produzir este modestoe despretensioso trabalho, despeço-me, comamizade, até uma nova oportunidade comeste ou outro tema.

Fico entretanto à vossa disposição.

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21DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Irmã ÁfricaApagaram-se os holofotes sobre

África.As dezenas de estadistas africanos

que puseram Lisboa na coroa do mun-do regressaram aos seus países.

A cimeira Europa-África, segundose consta, foi um sucesso. No dizerdo presidente da EU em exercício,terão sido atingidos todos os objecti-vos inicialmente propostos.

Esfumadas as palavras, eterizadosos propósitos, entrou-se na fase dosnegócios. Sarkozi assina com Kadafigrossa venda de armas. Com Sócra-tes, o líbio ditador negoceia petróleo...

E aí por diante.Os prosélitos propósitos serviram, afi-

nal, para decorar os chorudos negócios.Aquele banquete na Ajuda tresan-

dou a cínica comédia.As excelentes palavras de Cavaco

sobre os direitos humanos tanto po-deriam correr para Mugabe, para opresidente sudanês, como para mui-tos outros que ali abancaram com pom-pa e circunstância.

Por exemplo, os sobas de Angola eda Nigéria.

Só que o perfume do petróleo criaconvenientes amnésias a muito boa

gente.De tudo o que vimos e ouvimos, da-

quilo que fomos procurando entender,África ainda continuará por muitos anosmergulhada na mais ignóbil pobreza e amorrer desalmadamente neste silencio-so holocausto da doença e da miséria Éque, em Lisboa, não estiveram os re-presentantes dos povos sofredores masos ditadores que, com a tenebrosa emercantil conivência dos europeus, ame-ricanos e não só, usurpam os cabedaisque são do povo enquanto este morrede doença e de fome.

Para onde vão as riquezas de An-gola, da Nigéria, do Congo...?

Era suposto que a descolonizaçãodesse aos africanos a liberdade e oprogresso. Ao invés, acentuou-se dra-maticamente a dependência.

A liberdade, conquistada com mui-to sangue e esfuziantemente festeja-da, tornou-se em breve numa mira-gem. Os velhos senhores partiram dearmas e bagagens e os novos prota-gonistas, embriagados com o poder eos despojos, esqueceram-se de gover-nar para o povo. Assistimos atónitose revoltados a um sinistro cortejo detiranos e de hediondos morticínios.

África foi morrendo na violênciadas guerras. África morre na doen-

ça. E na miséria.África foge à procura dum abrigo,

quiçá às portas da velha Europa.África abre-nos o coração desfeito

e estende-nos as mãos cheias de nada.Para que chegam os três milhões

de Lisboa?África não se cura com esmolas.

África quer unicamente justiça e soli-dariedade. Fraternidade. Não nos pa-rece que tal diagnóstico tenha perpas-

sado por Lisboa.Os ditadores continuarão a ditar a

sua lei e a encontrar na ganância dospaíses ditos democráticos o mercantilsuporte para a sua tirania.

O desenvolvimento continuará umamiragem e a hecatombe prosseguiráa sua marcha lenta e impiedosa de so-frimento e de morte.

África, nossa irmã. Aqui tão pertoe lá tão longe.

África não esteve na Ajuda. Nemno Parque das Nações. É mister pro-curá-la nas nos guetos, nas tabancasdos arredores de Lisboa, de Luanda,de Maputo... ou nas sanzalas perdi-das no sertão, sem um mínimo de hi-giene e salubridade. Nos hospitais semmédicos e enfermeiros, nas escolassem professores. Nas fábricas emruínas ou desmobilizadas pela asfixiaeconómica e pela falta de quadros. Émister encontrá-la nos frágeis bateisapinhados de gente em demanda daeuropeias costas.

África, nossa irmã. Essa mesmaSenhor Presidente em exercício.

Aquela que os holofotes não foca-ram. Aquela em que V.Exas. talveznão tenham pensado.

Aquela que ficou na penumbra doespírito de Lisboa.

Manhã fria, entre as 8 e meia e as9. Ventinho fresco. Baixinha coimbrã.O homem com os repolhos empurra ocarrinho, de passo estugado; já se le-vantou bem cedinho, hoje. Duas se-nhoras que vão para o emprego, pa-ram para os dois dedos de conversadiária, a botarem contas à vida, a di-zerem do que se passa lá por casa,dos netos, dos filhos, do desaforo emque se lhes vai a vida... Mulheres detrabalho, não de emprego.

Passei por elas e apenas ouvi a fra-se, por completo descontextualizada,e subi as escadas junto à igreja de S.Tiago, ainda a pensar a quem se esta-riam a referir. Que, nestes tempos,poderia ser adulto a contas com a jus-tiça, criança em fase de aprendiza-gem da vida, sei lá!...

E a frase que ouvi foi a seguinte:– Sabes: agora o Manel ‘teve a en-

siná-lo a mentir!...

Ceres

A Filatelia em Portugal, a partir de 1912,teve nova transformação assim como a nos-sa Economia.

A moeda da Monarquia foi substituídapelo escudo através do decreto de 11 deMaio de 1911 que dizia:

“A unidade monetária passará a ser oescudo de ouro que conterá o mesmo pesode ouro fino que a actual moeda de mil reisem ouro”.

Foi então aberto um concurso público, emFevereiro de 1911, para o desenho de umnovo selo com a nova moeda. Concorre-

Uma reprodução do primeiro seloda República, aqui representado,com o valor de ¼ centavos(pertencente à minha colecção)

gravador, experiente, não foi capaz de re-produzir fielmente um dos mais belos selosportugueses.

Foram estes os primeiros selos apresen-tados com a nova moeda, em folhas de 100selos com denteado 15x14, utilizando papelporcelana, papel esmalte, papel pontinhadoem losangos, papel liso, papel acetinado,papel cartolina com espessuras várias.

Foram emitidos em centavos de coressépia, preto, verde-escuro, castanho, car-mim, violeta, azul, bistre, ardósia, tijolo, lilásvermelho, castanho s/ verde, castanho s/rosa, laranja s/ salmão e 1 Escudo verdeescuro s/ azul.

(Baseado em “Selos de Portugal” Ed.Electrónica vol. II de Carlos Kulberg)

ram vários artistas, tendo sido classificadoem primeiro lugar Constantino de SobralFernandes (divisa “Pátria” “Ceres”).

Era, de facto, um belo desenho, mas o

A todos os seus Colaboradores deseja o

Boas Festas

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22 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Volvidos dez meses sobre a edição de“A Weekend In The City”, os Bloc Par-ty voltam a surpreender-nos com “Flux”,um single que não antevê a edição dequalquer registo de longa duração dabanda, mas que é um excelente ingredi-ente para as pistas de dança, com fortesbatidas sem esquecer as guitarradas docostume.

Há cerca de quinze dias fui ver, aoTeatro Académico de Gil Vicente,aquele que, para mim, é o expoentemáximo da música contemporâneaportuguesa da actualidade, RodrigoLeão. O mote para o concerto era abanda sonora de “Portugal: Um Re-trato Social”, um documentário reali-zado por Joana Pontes e da autoriade António Barreto, ambos presentesna plateia naquela noite. Gostei imen-

Sérgio Godinho edita em Janeiro o álbumao vivo “Nove e meia no Maria Matos”,que assinala um regresso à editora Univer-sal, cerca de meio ano depois do músico tersido dispensado da EMI Portugal.

“Nove e meia no Maria Matos”, que sai-rá a 28 de Janeiro, regista os concertos queSérgio Godinho deu naquele teatro lisboetaem Maio último, acompanhado pelos músi-cos Os Assessores, para apresentar o ál-bum de originais “Ligação Directa” (2006).

“O álbum regista muito bem um momen-to com a banda que tem um som especial,com arranjos muito bem conseguidos”, afir-mou Sérgio Godinho à agência Lusa.

Este é o quinto álbum ao vivo da carreirade Sérgio Godinho e reúne 18 canções, en-tre temas do último álbum e outros repesca-dos em discos anteriores, mas que levaramnovos arranjos para os espectáculos deMaio, todos eles esgotados.

O álbum ao vivo tem como primeirosingle o tema “É tão bom”, com letra deSérgio Godinho e música de Jorge Cons-tante Pereira, uma música retirada de umálbum de 1988 baseado na série de tele-visão “Os amigos de Gaspar”.

A este se juntam ainda os “clássicos”“com um brilhozinho nos olhos” e “O pri-meiro dia”, “O primeiro gomo da tange-rina”, “Dias úteis” ou “Arranja-me umemprego”.

Há ainda “O velho samurai”, “Só nestepaís”, “O rei do zum-zum” ou “Às vezes doamor”, retirados de “Ligação Directa”.

“Nove e meia no Maria Matos” é umnovo registo de um acto de comunhão entre

so do espectáculo, que, aliás já se adi-vinhava pela audição do disco.

Foi em 1994 que comecei a ouvirrádio de uma forma mais atenta. A ex-tinta Rádio Energia, a melhor estaçãode rádio de sempre, foi a principal res-ponsável por esse interesse pelas on-das hertzianas, sem o qual não teria oimenso gosto que tenho pela música.Recentemente, descobri uma nova es-tação de rádio, que tem muitos pontosde contacto com o que era a RádioEnergia: a Radar Fm. Tudo começouquando ouvi pela primeira vez o “ZéPedro Rock N´Roll”, um espaço diá-rio em que o guitarrista dos Xutos &Pontapés dá a conhecer a sua imensacolecção de discos. Desde aí, passeia estar colado à emissão durante todoo dia, apesar de esta só emitir via in-

ternet para fora de Lisboa. Penso quea Radar vem substituir o espaço dei-xado vago pelo “MQ3”, se bem quecom uma vertente menos electrónica,mas com toda a linha “indie”. Reco-mendo a audição atenta.

Para o fim, uma sugestão de Natal,que não é mais do que um “remake”do mítico concerto de Judy Garland

no Carnegie Hall de Nova Iorque, daautoria de Rufus Wainright, intitulado“Rufus Does Judy At Carnegie Hall”.Resta-me desejar umas boas festas atodos os leitores.

PARA SABER MAIS:

www.blocparty.comwww.rodrigoleao.ptwww.radarlisboa.fmwww.rufuswainright.com

Bloc Party “Flux” (Wichita)Rodrigo Leão “Portugal: Um RetratoSocial” (Sony)Rufus Wainright “Rufus Does Judy AtCarnegie Hall (Live)” (Geffen Records)Rodrigo Leão

Sérgio Godinho editaálbum ao vivo em Janeiro

Sérgio Godinho e o público português, suce-dendo aos álbuns ao vivo “Escritor de can-ções” (1990), “Noites passadas” (1995),“Rivolitz” (1998) e “Afinidades”, gravadocom os Clã e editado em 2001.

Este álbum é o primeiro que SérgioGodinho edita depois de ter sido dispen-sado em Junho da EMI Portugal, no âm-bito de uma reestruturação da filial por-tuguesa da multinacional EMI Music.

“É o regresso a uma casa que sempreque me acolheu muito bem”, disse Godi-nho, referindo-se à Universal.

O músico gravou 11 álbuns com a EMIPortugal, desde “Aos amores” (1989) até“Ligação Directa” (2006).

Os anteriores registos, do primeiro ál-bum “Os sobreviventes” (1971) até “Navida real” (1987), sairam pela antiga Po-lygram, hoje Universal.

Sérgio Godinho, 62 anos, é um escritorde canções de referência da música por-tuguesa, autor de 25 álbuns e dezenas demúsicas que fazem já parte do repertóriomusical português dos últimos 35 anos.

A DESPEDIDA AOS 83 ANOS

Aznavour canta em LisboaO cantor francês Charles Aznavour

vai actuar a 23 de Fevereiro no PavilhãoAtlântico, em Lisboa, num concerto úni-co, realizado no âmbito da digressãomundial de despedida dos palcos que ter-mina em 2008, anunciou a promotora.

De acordo com a Mandrake, CharlesAznavour, cantor romântico e actor decinema, volta a trazer, aos 83 anos, acanção francesa a Lisboa, em temascomo “La Bohème”, “Après l´Amour”,“Les Comédiens” e “Emmenez-moi”.

Ao longo de seis décadas, Aznavourcompôs mais de mil canções em fran-cês, inglês, italiano, espanhol e alemão, evendeu mais de 100 milhões de discos,uma carreira que levou a revista “Time”norte-americana a elegê-lo “Maior Ar-tista do Século XX”, à frente de nomescomo Elvis Presley, Frank Sinatra, Char-lie Chaplin ou John Lennon.

No final de 2006, Charles Aznavourcomeçou aquela que diz ser a sua “tour-née” de despedida dos palcos e que olevou já aos quatro cantos do mundo.

Nasceu Shahnour Varenagh Aznavou-rian - mais tarde adoptaria o nome artís-tico de Charles Aznavour - em Paris, a22 de Maio de 1924, numa família deartistas, com o pai cantor barítono e amãe, de origem arménia, actriz.

Conhece Pierre Roche, pianista ecompositor, com quem escreveu a pri-meira parte da sua carreira, e em 1946,Aznavour e Roche conhecem Edith Piafe Charles Trenet, ídolo do cantor, e assuas carreiras ganharam novo fôlego.

É a diva da música francesa que lhesabre as portas do mundo artístico naAmérica, onde actuam com grande su-cesso, e em 1952 regressa a França -mas sem Pierre Roche, que entretantose casou e ficou a viver no Canadá.

A par da sua carreira musical, o en-contro com o realizador François Truffautem 1960, no filme “Tirez sur le Pianiste”marca, em definitivo, a sua obra cine-matográfica, dá-lhe um reconhecimentomundial enquanto actor e leva-o a uma“tournée” mundial que vai durar váriosanos, dividindo-se sobretudo entre aAmérica e a França.

Com 83 anos, casou-se três vezes, temseis filhos, actuou em mais de 60 filmes,escreveu mais de mil canções - em vári-as línguas -, e vendeu mais de 100 mi-lhões de discos.

Em 1997, a França reconheceu a suaimportância e o seu papel na história dacanção francesa, nomeando-o “Oficialda Legião de Honra”. Foi nomeado Em-baixador Permanente da Unesco, e aArménia concedeu-lhe o título de “He-rói Nacional”.

O mundo do cinema também o reco-nheceu como actor. Entre outros prémi-os, em 1997, recebeu o César honorário,equanto outras figuras da música entoa-ram algumas da suas famosas canções,nomeadamente Ray Charles, que can-tou “La Mamma”, Shirley Bassey e FredAstaire, “Les Plaisirs Démodés”, BingCrosby, “Hier Encore”, e Elvis Costello,“She”.

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23DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

EU NÃO FAÇO LIXO

TRANSPORTES EM MOVIMENTO

TRUQUES E DICAS

MUSEU DO DESIGN E DA MODA

DISNEY

FABRICO PRÓPRIO

O site Eu Não faço lixo tem como objectivo “As-sumir o desafio da sustentabilidade” e promover juntodos utilizadores uma cultura ambiental. Há inúmerasdicas de como ser ecológico e amigo do ambiente emvariadíssimos locais, como em casa, no escritório, naescola, ao fazer compras, em viagem, na praia, entreoutras situações.

Há também informações sobre vários projectos edesafios a que os utilizadores podem aderir, assim comorecursos disponíveis para divulgar o site. É possívelcalcular o lixo que cada pessoa faz num simulador, con-sultar uma área de notícias e eventos, assinar uma pe-tição ou participar num concurso sobre a causa. Exis-tem também os habituais links: registo, sites a visitar,ficha técnica, mapa do site e afins. Porque todos faze-mos lixo, vale a pena uma visita para saber como poluirmenos.

EU NÃO FAÇO LIXOendereço: http://www.eunaofacolixo.comcategoria: ambiente

Andar de transportes públicos ajuda o ambiente,mas pode também ser uma terrível dor de cabeça.Por isso, no site Transportes em Movimento estádisponível informação últi sobre os operadores detransportes. Há também uma galeria fotográfica euma perspectiva histórica, que merece ser acom-panhada com interesse.

A ideia é dar a conhecer os transportes no nossopaís e promover o turismo de circuitos. Para osamantes do modelismo, há uma secção própria comideias interessantes. Há também um simulador dalinha do litoral, retratando todo o percurso. E claro:

o indispensável fórum.

TRANSPORTES EM MOVIMENTOendereço: http://www.transportesemmovimento.comcategoria: utilidades

A criação contemporânea é o tema deste museu.Situado em Lisboa, o MUDE (Museu do Design eda Moda) imprime um conceito diferente a esta área.O site acompanha esta missão. Numa visita a esteespaço digital temos acesso a uma quantidade signi-ficativa de informação sobre a temática e o estadoda arte em Portugal.

As secções do site fazem parte de uma teia hiper-textual bem pensada, tanto do ponto de vista gráficocomo do da comunicação. O objectivo é divulgar oque se faz em Portugal na área do design e da moda,com vista a captar novos públicos. Por isso, claroque a Internet é ponto obrigatório para a divulgaçãodo MUDE.

MUSEU DO DESIGN E DA MODAendereço: http://www.mude.ptcategoria: moda, design

A Internet é universal mas é um espaço de espa-ços, onde convivem inúmeras tribos (sem qualquerdefinição prejurativa, entenda-se). Ora a Disneypercebeu isto (possivelmente desde sempre) e lan-çou um portal europeu para um público teen. Esteespaço existe também na rede norte-americana, comoutras especificidades associadas à vertente sócio-cultural do seu público alvo.

Neste espaço os visitantes vêem-se submersosnuma plataforma que apresenta conteúdos variados,centrados em quatro items: filmes, música, jogos eredes sociais. Claro que a tradicional loja não podefalhar, assim como a promoção de viagens ao mun-do Disney.

DISNEYendereço: http://disney.co.ukcategoria: televisão

Para pegar num chavão: a tradição já não é o queera. Agora pode ser digital e podemos eternizá-la naweb. É esse o propósito do site Fabrico Próprio, quese debruça sobre “O design da pastelaria semi-indus-trial portuguesa”. Aparentemente qualquer coisa es-tranha, mas na realidade a frase resume produtos comopastéis de nata. O site funciona numa lógica de we-blog, permintindo entender assim a evolução da pes-quisa.

Este interessante projecto cruza o design com a pas-telaria portuguesa (semi-industrial) e terá como resul-tado um livro dedicado a este universo e ao seu papelna cultura e na sociedade portuguesas. No site estádisponível um esboço do livro, um inventário de bolosportugueses, imagens interessantes (letreiros, históriasde bolos e pastelarias em frames) sempre acompanha-das de uma descrição/legenda. O projecto é apoiadopelo Ministério da Cultura e pela Direcção Geral dasArtes.

FABRICO PRÓPRIOendereço: http://www.fabricoproprio.netcategoria: tradição

O site não é novo. Está na rede há muito tempo masé muito útil para quem cá chegou recentemente ou paraaqueles que não dominam a tecnologia. Na verdade,quem a domina? Com as alterações ao segundo, a redee os aplicativos informáticos implicam uma aprendiza-gem constante.

Por isso mesmo, o Truques e Dicas é o espaçoideal para procurar ajuda tecnológica. Há informaçõesúteis, tutoriais e dicas preciosas para quase tudo o quese pode fazer com um computador. Desde programascomplexos a softwares mais básicos, passando por re-gras para webmasters (se é que ainda existem...) adicas para aplicativos web. Há o tradicional fórum (comsubsecções temáticas) para troca de ideias, uma áreade jogos, notícias sobre o mundo digital e uma galeriade recursos (de scripts a imagens). Falta dizer (escre-ver) o que não se espera: é um site português.

TRUQUES E DICASendereço: http://www.truquesedicas.comcategoria: tecnologia

Page 24: O Centro - n.º 40 – 19.12.2007

24 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2007 A 1 DE JANEIRO DE 2008PUBLICIDADE