o corpo e o nada - mini-ensaios teofilosóficos

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OCORPO EONADA miniensaiosteofilosóficos

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O CORPOE O NADA

mini­ensaios teofilosóficos

TítuloO Corpo e o NadaMini-ensaios teofilosóficos

AutorLuís Coelho

Director EditorialEduardo Amarante

RevisãoIsabel Nunes

Grafismo, Paginação e Arte finalDivalmeida Atelier Gráficowww.divalmeida.com

CapaFoto cedida pelo autor

Técnica da capaDivalmeida Atelier Gráfico

Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.pt

DistribuiçãoBucelas - LisboaProjecto Apeiron, [email protected]

1ª edição – Maio 2013

ISBN 978-989-8447-30-2Depósito Legal nº 357884/13

© Luís Coelho & Apeiron Edições

Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor.

O ProjectoApeiron-Apeiron Edições não segue o Novo Acordo Ortográfico,pelo que a grafia desta obra é da vontade do autor.

Projecto Apeiron, Lda.www.edicoes-apeiron.blogspot.comprojecto.apeiron@[email protected]ão – Algarve

Luís Coelho

apeirone d i ç õ e s

O CORPOE O NADA

mini­ensaios teofilosóficos

O Corpo e o Nada

Introdução

Pós-modernidade e Espiritualidade1. A Pós-modernidade ou o regresso ao Espírito2. Deus/homem, Holismo/Reducionismo e Determinismo/Livre-arbítrio: improviso dialético

Crítica do Corpo Hegemónico3. O lugar do “Corpo vs. Espírito” na eterna dialética “Emoção vs. Razão”4. Esoterismo e Psicanálise I: O homem espiritual face à angústia (liberdade e moralidade)5. Esoterismo e Psicanálise II: Encontros e oposição6. Esoterismo e Psicanálise III: Conclusão (do “eterno retorno” à “fuga para a frente”)

Crítica do Corpo Ausente7. Crítica do Corpo Ausente8. Psicanálise vs. Meditação: Corpo e Transcendência9. O corpo da esfinge: O argumento materialista perante o Espiritualismo

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ÍNDICE

Luís Coelho

Desabafos em tons de ceticismoIlusõesDeterminismo vs. Libertarismo e SubjetividadeSobre a EducaçãoSabedoria antiga e RenascimentoCiênciasO Bem e o MalArchéQuase-pensamentos e outras serpentias

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O Corpo e o Nada

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Introdução

“A vida não é na realidade uma dinâmica do prazer,

mas um dom da frustração.”

Agustina Bessa-Luís, O Mosteiro

A aceitação da realidade pós-moderna enquanto pa-

radigma filosófico derradeiro (será?) da minha vida,

processo que terá sido preludiado pelo encontro com

uma epistemologia questionadora das certezas positivis-

tas – que terá tido o seu “manifesto formal” no meu re-

centemente publicado «Corpo e Pós-modernidade»

(2012) – levou ao encontro inexorável com a Espiritua-

lidade dita “racional” ou “esotérica”, o que, não obstan-

te, não implicou o esquecimento da temática, para mim

sempre cara, da corporeidade.

Se em «Corpo e Pós-modernidade» esteve sempre

presente a questão da relação que a corporeidade estabe-

lece (ou não) com a Racionalidade, neste novo cômputo

de ensaios, o tema sofre uma evolução, com a “corporei-

dade” a ser representada fortemente pelo objeto psicana-

lítico (que só os olhares mais incautos poderão julgar

como matriz que desprezo… quando, na realidade, a Psi-

canálise teve e continua a ter uma importância decisiva

na construção da minha noção do Homem/homem e das

espiritualidades) e a Racionalidade a ser representada

pela realidade Espiritual do tipo de uma Noésis platónica

Luís Coelho

10 | Apeiron Edições

(que, como poderá vir a ser entendido, corresponde ao

que, no já citado livro, apelidei de «racionalidade estéti-

ca/ética» e/ou «racionalidade pós-moderna»). Evolução

que justifica uma nova publicação, e que, bem vendo,

vem sublinhar decisivamente a similitude flagrante entre

o objeto pós-moderno e aquilo que já era proposto há

milénios pela grande sabedoria Universal e perene.

Tal similitude demonstra, em última análise, mais

uma vez, que as grandes questões filosóficas já estavam

bem presentes na Sabedoria antiga, e que a filosofia

ocidental somente contribuiu para elevar o grau de abs-

tração de temas que possuíam um nível de maior signi-

ficância pessoal; o que é o mesmo que dizer que a Filo-

sofia ocidental acabou – ela mesma – por fazer o que a

Ciência e a Religião também fizeram: contribuir para

fracionar saberes que, na verdade, são ontologicamente

indivisíveis.

Infelizmente a cultura moderna, possuída pela obses-

são analítica, persiste em afirmar a divisão dos saberes,

esquecendo e fazendo por esquecer que a antiga Sabedoria

não divisava religião e filosofia ou que a Ciência do tipo

moderno não constitui o nível maior de Racionalidade.

Por outro lado, a tentativa de criar uma certa luz nes-

tes factos esbarra com uma resistência que se faz consti-

tuir pela noção da totipotência da Ciência face à reli-

gião, pela noção de que a Filosofia é inútil, e de que o

Esoterismo ou o Ocultismo é sempre coisa de aldrabões.

E muito me entristece que se pretenda que a Verdade

O Corpo e o Nada

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Histórica para que muitas vezes pretendo remeter não

existe, porque “Verdades, cada um tem a sua” (o que, no mínimo, depreende uma muito má compreensão do

relativismo), quando, na realidade, é precisamente essa

vontade de “relativizar” o que parece não relativizável que demonstra que esses “resistentes” é que parecem padecer do mal de “para cada um sua verdade” (para citar o título da peça de Pirandello, que vem, já agora,

lembrar mais uma vez que a antiga sabedoria também

tinha em conta a questão do relativismo, por exemplo no

aspeto do “teatro das máscaras” ou “personas”)… no fim, lá voltamos a afirmar que “tudo é relativo” e que a Subjetividade enforma a escolha de uma cientificidade

soberana, o que, a bem ver, é o desiderato de uma forte

doutrinação sociocultural.

Também esta questão do Absoluto/Relativo transpa-

rece nos textos que ora se apresentam, se bem que re-

forço, mais do que nunca, a minha noção de uma asso-

ciação entre a determinação de um corpus material e

subjetivo e a relatividade do mundo das relações (dialé-

ticas) entre os homens, para que, somente ao nível do

Espírito/Deus possamos encontrar o verdadeiro Absolu-

to. De qualquer modo, bem veremos, pelos textos apre-

sentados, que esta questão está longe de se resolver bem

dentro de mim, e que, em última análise, obriga à (apa-

rente) contradição: o binómio «Determinismo vs. Livre-

-arbítrio» faz-se complexificar logo nos primeiros tex-

tos, com esta dualidade a depender de uma visão do

Luís Coelho

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homem como sendo ou não capaz de poder alcançar o

estado de Demiurgo criador ou mesmo de Deus incau-

sado (e já aqui se sublinha a importância de uma psica-

nálise preocupada com a analogia entre o pequeno ho-

mem e o grande Homem).

As analogias que se arrolam não são inocentes e, por

vezes, não são simples… Por exemplo, a psicanálise vem muitas vezes em abono de uma visão mecanicista e

materialista – pelo menos em comparação com a perspe-

tiva Espiritual/Esotérica – em que o homem se admite

como sendo um “corpo” egóico, mas a mesma psicaná-

lise também vem funcionar como corpus de uma analo-

gia do homem com um ser Livre e Incausado.

Por outro lado, as dualidades «Espiritualismo vs.

Materialismo», «Corpo vs. Espírito», «Reducionismo vs.

Holismo/Absoluto» vão estando sempre presentes nestes

textos, se bem que a maior prevalência de uma determi-

nada perspetiva relativamente a outra levou a que, a de-

terminada altura, distinguíssemos neste livro uma «Críti-

ca do corpo hegemónico» – com maior pendor Espiritua-

lista – de uma «Crítica do corpo ausente» – com maior

pendor materialista e até possível defesa do paradigma

elementarista e cientificista. Não obstante, não deverá ser

vista tal divisão em ensaios que pretendem veicular uma

dualidade, que, como sabemos, é indubitavelmente a base

primacial explicativa deste nosso mundo que se faz lade-

ar de binómios (e também de dialéticas geradoras do ter-

O Corpo e o Nada

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ceiro elemento, da tríade ou trindade implicativa do

“simbólico” e portanto do “não diabólico”). E é sempre nessa base dinâmica, analógica e não

conclusiva que convido os leitores a visitarem estes tex-

tos (alguns já publicados e outros em vias de publica-

ção), podendo obviamente escolher entre aquilo que

existe e não podemos aceitar e aquilo que queremos que

exista – isto na perspetiva de um materialista – ou entre

aquilo que existe na aparência e aquilo que existe no

seio da realidade desvelada ou consciência pura – isto

na perspetiva de um espiritualista.

Estes temas fundamentais, estes conceitos aparente-

mente frugais, aparecem jogados e reunidos nesta obra,

cujo título rememora obviamente Sartre, e que pretendo

dedicar aos esforços daqueles que, em Portugal e no

Mundo, se dedicam a lutar pela conservação da Sabedo-

ria perene, aquela que promete uma Nova Era, e que, nos

dias mais negros, temo não vir a conhecer o seu momen-

to neste nosso mundo tão desapegado dos Valores que

importam e nesta Sociedade em que os grandes Mestres e

os grandes Saberes parecem reduzidos a uma mera ideo-

logia, a qualquer coisa que já não conta ou importa.

O Corpo e o Nada

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PÓS MODERNIDADE E ESPIRITUALIDADE

“Os ramos da árvore são sacudidos pelo vento;

o tronco permanece imóvel.” Helena Blavatsky

Luís Coelho

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1. A pós-modernidade ou o regresso ao Espírito1

Mesmo concebendo que o Universal e a Estrutura

denunciam o que do Homem há, em primeira e imatura

análise, de mais ontologicamente verosímil, não pode-

mos simplesmente ignorar essa fenomenologia das con-

tingências, esse historicismo a que nos obriga qualquer

pretensão de redução fenoménica escalar, e que, de uma

forma quase intuitiva, parece revelar a nossa evolução

enquanto processo dialético, de natureza essencialmente

cíclica e circular, de um todo triárquico que se divide

nas três idades que identifiquei em «Corpo e pós-

-modernidade» (2012) enquanto idade do sagrado, idade

científico-positivista e idade pós-moderna.

Com a pós-modernidade a resultar enquanto síntese

de um processo dialético que inclui necessariamente as

duas idades anteriores, ainda assim não podemos deixar

de notar a semelhança que a idade pós-moderna tem

com a idade do sagrado, com estas duas fases da evolu-

ção a reportarem uma fenomenologia da continuidade e

uma perspetiva panteísta de Deus, e a deixarem a idade

positiva a morigerar nessa grande insignificância pater-

nalista de uma realidade que persiste em ser fragmenta-

da por uma necessidade própria de uma modernidade

obsessivamente categorizadora e inadvertidamente fala-

1 Publicado originalmente, numa versão ligeiramente simplificada, em

Biosofia, 2012.