"o cortiço" - aluísio de azevedo

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O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, conseguiu a fórmula que se ajustava ao seu talento do escritor: desistindo de montar um enredo em função de pessoas, ateve-se à seqüência de descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance naturalista. Nesse romance também registra-se, pela primeira vez nas literaturas de língua portuguesa, o impressionante poder de dar vida e corpo a agrupamentos humanos. Aluísio soube movimentá-los com perfeito domínio das situações, enquanto fixava as emoções particulares como traços de relevo das reações coletivas, em que o indivíduo se dissolve num todo amorfo. Além disso, tendo pesquisado à maneira naturalista, tipos, fatos, e situações em diferentes circunstâncias e camadas sociais, contou com um material de observação suficiente para dar ao seu romance uma categoria social de indiscutível valor e importância.Segue uma análise de toda a estrutura da obra:

TRANSCRIPT

Page 1: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo
Page 2: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Personagens

Page 3: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

As personagens desta obra dividem-se em:

Pobres: pretos,mulatos e

brancos,que são

moradoresdo cortiço;

Ricos: portuguesesenriquecidos, quemoram no sobradoao lado do cortiço.

Page 4: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

João Romão

Ambicioso; Esperto; Miserável; Enganador; Invejoso.

"...deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca

deixando de receber, enganando os fregueses roubando

nos pesos e nas medidas...."

Page 5: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Bertoleza

Trabalhadora; Submissa; Sonhava com a liberdade.

Page 6: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Miranda

Velho português; Covarde; Oportunista; Não era feliz no casamento.

".....o Miranda pilhou-se em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi manda-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera...."

Page 7: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Jerônimo Sério; Forte; Trabalhador exemplar; Dedicado; Honesto; Pai de família." ..... grande seriedade do seu caráter e a

pureza austera dos seus costumes..."

Page 8: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Zulmira

Filha de Miranda e Estela; Sofre por representar o fruto dessa

relação; Vivia para satisfazer a vontade do

pai;

"....pálida, magrinha , com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios(...) olhos grandes, negros, vivos e maliciosos."

Page 9: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

D. Estela

Adultera; Presunçosa.

"..... senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza..."

Page 10: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Pombinha

Amiga; Inteligente; Pura.

" A filha era flor do cortiço (...) Moça bonita, posto que

enfermiça nervosa ao último ponto: loura muito pálida,

com uns modos de menina de boa família."

Page 11: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Léonie

Prostituta; Independe dos homens.

"... com suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa, levantava rumor lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras."

Page 12: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Botelho

Antipático; Parasita

"... via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda ..."

Page 13: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Piedade

Submissa; Honesta; Trabalhadora.

"Piedade merecia bem o seu homem, muito diligente, sadia, honesta, forte, bem acomodada com tudo e com todos, trabalhando de sol a sol e dando sempre tão boas contas da obrigação, que seus fregueses de roupa, apesar daquela mudança para Botafogo, não a deixaram quase todos."

Page 14: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Rita Baiana

Alegre; Assanhada; Dançarina.

" E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador".

Page 15: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Firmo

Gastador; Galanteador; Charlatão; Presunçoso

"... era um mulato pachola, delgado de corpo ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e toso ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira."

Page 16: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

TEMPO Cronológico: segue os passos de João Romão

Page 17: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Referências históricas nas falas das personagens e do narrador:

“... No jornal do Comércio que sua excelência fora agraciado pelo governo português com o titulo do Barão Feixal”.

Page 18: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Lei do Ventre Livre:

“...entre outros assuntos palpitantes, vinha à discussão o movimento abolicionista que principiava a forma-se em torno da Lei Rio Branco”.

Page 19: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Espaço

Page 20: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Cortiço

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem de uma assentada sete horas de chumbo”.

Page 21: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo
Page 22: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Botafogo

Uma das características de estilo mais importantes em O Cortiço é a minuciosa descrição de ambientes e personagens, da qual emergem elementos perceptíveis pelos sentidos para compor um quadro de sons, cores, cheiros e formas.

Page 23: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Casa de Miranda

“...vendeu-se também um sobrado que ficava à direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; de sorte que todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro as suas nove janelas de peitoril....”

Page 24: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

A ideologia em

O Cortiço

Page 25: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

AnarquismoNega o poder do Estado e defende o homem tenha

ampla liberdade individual.

Page 26: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

“E, ao mesmo tempo que se defendia, atacava. O brasileiro tinha já recebido pauladas na testa, no pescoço, nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas pernas. O sangue inundava-o inteiro; ele rugia e arfava, iroso e cansado, investindo ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui, livrando-se dali, aos pulos e às cambalhotas.

A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores aclamavam-no já com entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira mergulhou, num relance, até as canelas do adversário e surgiu-lhe rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o ventre com uma navalhada.”

Page 27: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

LiberalismoFundamento ideológico do capitalismo que defende a liberdade individual, política e

econômica.

“O homem é movido por interesses pessoais e egoístas, empenhando-se em produzir uma maior

quantidade de riquezas para si”

Page 28: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

“Às vezes chegavam a ralhar com os trabalhadores, quando lhes parecia que não iam bem no serviço! João Romão, agora sempre de paletó, engravatado, calças brancas, colete e corrente de relógio, já não parava na venda, e só acompanhava as obras na folga das ocupações da rua. Principiava a tomar tino no jogo da Bolsa; comia em hotéis caros e bebia cerveja em larga camaradagem com capitalistas nos cafés do comércio.”

Page 29: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

IrracionalismoOposição as premissas racionais dos Iluministas, enfatizando o lado irracional da natureza humana.

“Os instintos animais eram o fator básico da existência humana e determinam seu

comportamento muito mais que a razão” Friedrich Nietzche (1844-1900)

Page 30: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

“Ele pôs-se logo a devorar, sofregamente, olhando inquieto para os lados, como se temesse que alguém lhe roubasse a comida da boca. Engolia sem mastigar, empurrando os bocados com os dedos, agarrando-se ao prato e escondendo nas algibeiras o que não podia de uma só vez meter para dentro do corpo.”

“Parece que nunca viu comida, este animal!”

Page 31: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Evolucionismo

Teoria que defende a origem comum de todos os seres vivos, seleção natural e lei do mais forte

sobre o mais fraco.

Charles Darwin (1809-1882)

Page 32: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

“Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.”

Page 33: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

DeterminismoO Homem é visto como um produto biológico e o seu

comportamento é determinado pelo meio que vive.Hypolite Taine (1828-1893)

“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.”  

Page 34: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Linguagem da Obra

Fidelidade aos princípios da Gramática Normativa; Influência de Eça de Queirós no estilo sóbrio e

correto de narrações e descrições; Influência de Zola na criação e caracterização dos

personagens; Língua falada no Brasil na época; Capacidade descritiva de grupos sociais e festas

populares;

Page 35: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Tom forte e carregado, ressalta o ritmo ágil, nervoso e agitado:

“A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.”

Page 36: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Uso das cores para atingir o poético e transportar o leitor para os refúgios mais amenos:

“Começou logo a sonhar que em redor ia tudo se fazendo de um cor-de-rosa, a princípio muito leve e transparente, depois mais carregado, e mais, e mais, até formar-se em torno dela uma floresta vermelha, cor de sangue, onde largos tinhorões rubros se agitavam lentamente.”

Page 37: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Repetição de fonemas tanto vogais quanto consonantais para ampliar o ruído, construir com destreza situações dramáticas:

“As cercas e os jiraus desapareceram do chão e estilhaçaram-se no ar, estalando em descarga; ao passo que numa berraria infernal, num fecha-fecha de formigueiro em guerra, aquela onda viva ia arrastando o que topava no caminho; barracas e tinas, baldes, regadores e caixões de planta, tudo rolava entre aquela centena de pernas confundidas e doidas. Das janelas do Miranda apitava-se com fúria; da rua, em todo o quarteirão, novos apitos respondiam" .

Page 38: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Consciência da linguagem falada pelas diversas camadas sociais:

“Parece que tem fogo no rabo!”“... apanhei hoje com a boca na botija.”

“Com que esfregas tu, sua vaca?!

Neologismos, expressões populares e frases feitas do dito popular:

“ – E não é que o demo da mulata está cada vez mais sacudida?...”

“ – Facilita muito, meu boi manso, que te escorvo os galhos na primeira ocasião!”

Page 39: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Características bem portuguesas da língua da linguagem da época:

“Olha! pediu ela, faz-me um filho, que eu preciso alugar-me de ama-de-leite![...] Se me arranjares um filho dou-te outra vez o coelho!”

Page 40: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Uso predominante de pontuações:

“ ...está tudo terminado! Seu marido vai recebê-la em boa paz...

- Eu?! esfuziou o ferreiro. Você não me conhece!

- Nem eu queria! retorquiu a mulher. Prefiro meter-me com um cavalo de tílburi a ter de aturar este bruto!”

Page 41: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

O importante papel das mulheres em

O Cortiço

Page 42: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Estela: entediada com a monotonia de seu casamento, se prostitui, inclusive para o próprio marido;

Pombinha: de menina pura se transforma em cobra; larga o marido e cai na prostituição;

Leónie: senhora das prostitutas; arrebanha novas parceiras;

Rita Baiana: com seu jeito brasileiro e sensual de ser, seduz Jerônimo, destruindo seu casamento com Piedade;

Augusta: arranja barriga fora do casamento para se tornar ama-de-leite e lucrar com isso.

Page 43: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Me disseram que amor de Rita Jerônimo atou

E nem pedindo, por Piedade, o gajo voltou

Pombinha branca, o que está fazendo? pra longe voou

Nas garras finas de Leónie o seu ninho encontrou

Indo além do céu, à filha de Estela, João encontrou

A Bertoleza no chão a servir sua buchada

Page 44: "O Cortiço" - Aluísio de Azevedo

Produzido por:Fábio Rodrigues Lemes

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