o desenvolvimento do hábito da leitura em crianças pré-escolares

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artigo desenvolvido a partir de pesquisa realizada em escolas públicas e particulares de Florianópolis-SC.

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  • O DESENVOLVIMENTO DO HBITO DA LEITURA

    EM CRIANAS PR-ESCOLARES

    POMAR, Nira Azibeiro*

    RESUMO

    Com a preocupao de estimular a leitura desde a pr-alfabetizao, no intuito de

    formar adultos leitores e crticos, surgiu a idia de se realizar um levantamento em instituies

    pblicas de educao infantil no municpio de Florianpolis, a fim de verificar a existncia ou

    no de bibliotecas, bibliotecrias e bibliotecrios, bem como iniciativas conjuntas destes

    profissionais com as professoras e professores, como a contao de histrias, que visam

    incentivar a leitura e o contato com os livros e, desta maneira, influenciando positivamente a

    gerao do hbito da leitura e contribuindo importantemente para o sucesso da vida escolar

    destas crianas e, futuramente, em sua vida pessoal e profissional.

    Palavras-chave: Formao de leitores. Incentivo leitura. Biblioteca infantil.

    Biblioteca escolar. Bibliotecrio escolar.

    INTRODUO

    Diariamente nos vemos desorientados pelo bombardeio de informaes, muitas vezes

    distorcidas, nos diversos meios de comunicao. Geralmente tendenciosos e parciais, eles no

    apenas informam, mas enfocam, direcionam a formao de opinio. Se para um adulto fica

    difcil separar o joio do trigo, as crianas certamente so mais vulnerveis e influenciveis.

    Embora estejam anos-luz nossa frente, extremamente necessrio gui-las, mostrando-lhes

    as diferentes possibilidades e caminhos a fim de que possam trilhar seus prprios rumos.

    Em casa, mes e pais so os principais responsveis por esta tarefa, enquanto na escola

    professoras e professores a compartilham com outros profissionais. Nas salas de aula, a

    prioridade o contedo especfico das vrias reas de conhecimento, ao passo que a

    biblioteca o ambiente ideal por ser interdisciplinar, intercultural, de criao, leitura e lazer,

    como define Campello (2002, p.11): a biblioteca escolar , sem dvida, o espao por

    excelncia para promover experincias criativas de uso da informao.

    Tendo este espao tantas facetas e possibilidades, fundamental que ele esteja bem

    estruturado e conte com profissionais capacitados e preparados para coordenar todos os

    processos que possam ser desenvolvidos dentro e a partir dele: bacharis em Biblioteconomia.

    Desta forma,

    * Acadmica de Biblioteconomia Gesto da Informao, da UDESC.

    Contato: [email protected]

  • a proposta deste trabalho verificar a existncia de condies propcias para orientar

    as crianas no desenvolvimento do senso crtico e do hbito de leitura em pr-escolas pblicas

    do municpio de Florianpolis, onde h 93 instituies pblicas de educao infantil

    cadastradas no Ministrio da Educao, sendo 63 municipais, 29 estaduais e uma federal.

    Aleatoriamente, 10 amostras foram sorteadas (3 estaduais, 6 municipais e a federal)

    em 8 bairros diferentes. A pesquisa foi realizada em campo entre os dias 17 e 23 de novembro

    de 2006, conferindo in loco as instituies que possuem biblioteca, profissionais de

    Biblioteconomia em seu quadro de funcionrios e atividades de incentivo leitura, fatores

    influentes na alfabetizao das crianas, no gosto pelo livro e no hbito de leitura, sendo estes

    elementos essenciais na formao de adultos leitores e crticos.

    1 A BIBLIOTECA E O BIBLIOTECRIO NA ESCOLA

    Uma criana de quatro anos de idade define uma biblioteca como um lugar cheio de

    livros. Essa a imagem que muitas crianas e adultos ainda tm da biblioteca, sem falar no

    esteretipo da bibliotecria, uma velha ranzinza que s faz pedir silncio. Felizmente, a

    imagem e o papel da biblioteca vm mudando e o profissional bibliotecrio tambm. A

    biblioteca na escola muito mais do que um espao para guardar livros. Ela viva, ativa,

    tem funo pedaggica importante, assim como o bibliotecrio, que, antes de tudo, um

    educador.

    Para que a escola possa cumprir sua funo de educar, preparando o cidado para a

    vida, com todos os seus prazeres e deveres, deve-se tirar o mximo proveito de todos os

    recursos disponveis. necessrio integrar professores e bibliotecrios e utilizar da melhor

    forma a biblioteca e todas as suas potencialidades. Alm de um bom acervo, so necessrios

    certos programas na biblioteca para que, desde cedo, as crianas aprendam a freqent-la e

    usufru-la:

    Queremos que o livro entre para a vida da criana logo cedo, antes da idade escolar,

    e que seja integrado ao seu cotidiano e seus brinquedos, no correndo o risco de ser

    encarado como objeto de trabalho e, a leitura, como uma tediosa obrigao imposta

    pelo adulto. (DUPAS e SOUZA, 2002, p.2)

    No entanto, no raro em escolas pblicas que as bibliotecas sejam salas apertadas,

    abarrotadas de livros em estantes amontoadas, organizadas por professores readaptados, sem

    a mnima noo tcnica, embora bem intencionados. Difcil encontrar bibliotecrios,

    principalmente nas instituies de educao infantil e ensino fundamental. O conceito, ou pr-

    conceito, que se tem de biblioteca e bibliotecrio torna-os dispensveis, pois a professora

    pode ler

  • e contar histrias para as crianas e os livros podem ser guardados nas prprias salas

    de aula. Assim, complicado incentivar crianas a ler:

    A biblioteca escolar no Brasil apresenta problemas estruturais e polticos que fazem

    desse assunto uma problemtica nacional. Em muitos casos as bibliotecas escolares

    so meros depsitos de livros, em salas adaptadas e que no atendem as reais

    necessidades e finalidades para as quais a mesma foi criada. (SALGADO e

    BECKER, 1998, p. 4 )

    Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou a clara influncia da biblioteca

    no desempenho escolar dos estudantes. Escolas que mantm bibliotecas funcionando em

    horrio prolongado, com bibliotecrio em perodo integral, programas e treinamentos para uso

    da biblioteca desenvolvidos em conjunto com o corpo docente, dentre outras iniciativas,

    proporcionam a seus alunos melhor aproveitamento escolar, alm de melhores resultados em

    testes padronizados. (ANDRADE, 2002)

    A biblioteca na escola cumpre sua funo ao realizar o papel de instrumentadora na

    busca do conhecimento, sendo o bibliotecrio o facilitador deste processo.

    2 A LEITURA E OS LIVROS INFANTIS

    Alm da orientao para o discernimento, as crianas precisam efetivamente aprender

    a ler, no apenas a decifrar cdigos escritos. A leitura vai alm, inclui o raciocnio, a

    conscincia crtica, a percepo do mundo. Na pr-alfabetizao, como na alfabetizao

    propriamente dita, as crianas devem ser estimuladas a gostar e adquirir o hbito da leitura, de

    modo que, futuramente, tornem-se adultos leitores e, mais que isso, leitores crticos:

    El nio [...] se introduce en la aventura de leer cuando entra en contacto con los

    signos escritos. Es, pues, en esta etapa, cuando hemos de provocar situaciones que

    creen en el nio un entusiasmo por la lectura. Es en el principio de esta etapa lectora

    cuando debemos ofrecer al nio actividades de motivacin y animacin que hagan

    brotar en l ese inters por descubrir el libro. Hemos de inculcar en los pequeos esa

    necesidad de leer. Slo de esta manera los nios podrn convertirse en lectores.

    (BUUEL, 1988, p.1)

    necessrio ter em mente que a leitura precisa fluir, no pode nem deve ser vista

    como obrigao. muito mais fcil encarar um livro enorme de algo que se gosta, do que

    aquele no to grande que o professor pediu uma resenha ou ficha de leitura, ou ainda os

    livros exigidos para a prova do vestibular. No basta ler, tem que ter prazer. Leituras

    obrigatrias no estimulam a criatividade e no favorecem uma boa interpretao, um bom

    entendimento do texto. O prazer da leitura primordial para a criao do hbito e este,

    quando no incentivado desde cedo, cria jovens e adultos preguiosos para a leitura e

    imaginao.

  • Alm disso, quem no l, no escreve. Nas universidades, os acadmicos tm extrema

    dificuldade para interpretar e elaborar textos, cometendo erros grotescos de ortografia e

    gramtica, sem falar em coeso e coerncia.

    Quando as universidades brasileiras descobriram que o jovem no sabia escrever

    porque no lia, houve uma preocupao em incentivar o ato da leitura no ensino

    bsico e as editoras investiram na literatura infanto-juvenil, apostando em um

    retorno financeiro. (CALDIN, 2005, p.3)

    Ocorreu ento uma exploso de ttulos infantis e infanto-juvenis, sem que houvesse

    uma preocupao com a qualidade deste material. O interesse maior era financeiro, era o

    quanto este nicho poderia render para as editoras. Por isso, o livro dirigido a este pblico deve

    ser cuidadosamente selecionado, passar por rigorosa avaliao de contedo. Na escola, cabe

    ao bibliotecrio a escolha dos melhores ttulos para as crianas e jovens, afinal, para muitos

    deles, a escola o nico local onde eles tm acesso ao livro, devido, principalmente, ao seu

    custo.

    Quando no h uma biblioteca na escola, o livro didtico , muitas vezes, o nico livro

    com o qual a criana tem contato. Porm, ele no contribui para uma convivncia instigadora

    e prazerosa com o texto escrito, traz um conceito pronto e acabado de conhecimento e no h

    espao nele para questionamentos. Assim, a oportunidade de acesso ao conhecimento

    direcionada pelo ponto de vista do livro didtico. (SERRA, 1998)

    A criana ento depende de diversos fatores para tornar-se leitora. Depende, em

    primeiro lugar, do acesso ao livro, dos adultos que esto sua volta e que lhe indicam o que

    ela deve ler. Depende daqueles nos quais ela se espelha e dos livros que lhes so oferecidos.

    Por isso to importante um bibliotecrio na escola, bem como fundamental uma boa

    biblioteca no mbito escolar, bem estruturada e com ttulos variados, num ambiente agradvel

    e acolhedor, onde a criana possa sentir-se vontade.

    3 A LEITURA NA E DA PR-ESCOLA: RESULTADOS

    As crianas a partir de quatro anos comeam a reconhecer as letras, principalmente as de seu

    prprio nome, alm de algumas palavras mais comuns. Nesta fase de letramento, muito

    importante que elas tenham mais contato com materiais escritos, como livros, revistas, gibis e

    jornais. A totalidade dos entrevistados nas instituies pesquisadas afirma que a leitura

    influencia e muito no letramento e alfabetizao das crianas. Contudo, as atividades de

    incentivo leitura

  • no necessariamente se restringem a estes materiais. Contar histrias tambm estimula

    a imaginao e a vontade de ler.

    Desta forma, o bibliotecrio e o professor devem se unir em torno de um mesmo

    objetivo, levando as crianas biblioteca e tornando-a parte de sua rotina, deixando-as mais

    vontade para freqent-la. O bibliotecrio tambm pode e deve freqentar a sala de aula a fim

    de que as crianas se acostumem com sua presena, ganhando intimidade e cumplicidade

    necessrias para uma melhor relao na biblioteca.

    Dentre as dez escolas pesquisadas, quatro sequer tm biblioteca. Elas tm alguns livros

    nas salas de aula e os professores e professoras contam histrias e lem os livros para seus

    alunos. Em uma destas escolas, as crianas tambm podem levar os livros para casa, para que

    seus pais ou irmos leiam para elas. Considerando que grande parte destas famlias no tm

    acesso aos livros pelo alto custo, esta uma tima iniciativa, pois assim parentes e vizinhos

    da criana tambm podem ler.

    Das outras seis escolas, cinco no tm bibliotecrios e, destas, apenas uma tem um

    professor readaptado responsvel pela biblioteca. Esta s funciona nos perodos em que o

    professor est na escola e, se ele ficar doente ou faltar por qualquer motivo, a biblioteca

    permanece fechada. Isto ocorre em diversas outras escolas, onde h apenas um responsvel

    pela biblioteca. No entanto, este professor reclama que quando a biblioteca est aberta,

    geralmente no h procura, alm de ocorrer um descompasso entre o trabalho dos professores

    em sala de aula e o material existente na biblioteca.

    Ainda pior so as quatro escolas em que no h qualquer responsvel pelo

    funcionamento da biblioteca. Uma delas tem uma tima estrutura, um bom acervo, mas vive

    fechada por falta de pessoal. Quando os alunos precisam de livros, dirigem-se secretaria

    para que um funcionrio da escola abra a biblioteca, ou os prprios professores vo

    biblioteca buscar os livros. H tambm uma escola com uma pequena biblioteca onde os

    alunos mal cabem dentro, de modo que os professores as levam em bibliotecas de outras

    instituies para que as crianas possam conhecer uma biblioteca de verdade.

    A escola que tem o projeto mais interessante no tem bibliotecrio, mas tem uma pequena

    biblioteca e uma brinquedoteca. Nesta escola, ocorrem contaes de histrias em espaos

    externos, como pequenas peas de teatro, envolvendo as crianas num mundo ldico que

    culmina

  • na biblioteca. Iniciativas como esta no so freqentes, mas plausveis. A criana deve

    ter sua imaginao estimulada e deve aprender a ouvir.

    Surpreendentemente, a nica escola que, alm de biblioteca, tem uma bibliotecria em

    seu quadro de funcionrios, apresenta uma situao adversa, incmoda: os professores e

    professoras no se esforam para levar seus alunos biblioteca, nem mesmo nos horrios

    agendados com a bibliotecria. No h interesse, por parte deles, em haver uma integrao

    entre suas atividades e as da biblioteca. No entanto, a bibliotecria procura saber previamente

    dos temas a serem tratados em sala de aula, faz uma pesquisa e prepara apresentao em

    power point.

    Infelizmente, nesta instituio no h atividades de incentivo leitura, nem mesmo por

    parte da bibliotecria. Ainda assim, as crianas adoram visitar a biblioteca, principalmente as

    menores, pois esta fica em frente ao parquinho onde elas brincam. Isto um sinal de que as

    crianas tm um interesse natural pelos livros e pelas histrias, bastando que os adultos

    prximos a elas deixem os livros ao seu alcance para que elas possam ler ou simplesmente

    manusear, olhar as figuras e divertir-se com eles.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    No preciso muito para as crianas gostarem de livros. Pequenas mudanas em casa

    e na escola ajudam a desenvolver o hbito da leitura. A preocupao dos educadores em

    estimular este hbito agora bem mais visvel e transformaes positivas j vm ocorrendo.

    Campanhas de doao de livros, por exemplo, ao invs de apenas brinquedos, ajudam a

    despertar o interesse pela leitura.

    No entanto, se a criana aprende espelhando-se no adulto, ela precisa cercar-se de

    adultos leitores para adquirir este hbito. Isto pressupe pais e professores leitores, o que

    ainda no a realidade absoluta nesta sociedade, assim como a presena de bibliotecrios nas

    escolas, que irrisria. Bibliotecas so mais presentes, embora no atuantes, de modo que no

    cumprem sua funo, pois em muitas escolas elas ficam fechadas a maior parte do tempo.

    A integrao entre professores e bibliotecrios nas escolas a base para formar

    leitores. Enquanto houver este descompasso, esta dissociao, haver maior dificuldade em

    realizar atividades que estimulem as crianas a ler e pensar. Mas para isso, obviamente,

    necessrio ter bibliotecrios nas escolas. E neste caso, o buraco mais embaixo.

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