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ISSN 2176-1396 O DESLUMBRE DA LITERATURA INFANTOJUVENIL AFRO-BRASILEIRA: IMPRESSA E DIGITAL Afife Maria dos Santos Mendes Fontanini 1 - SEED PR/UNOPAR Eixo Educação da Infância Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Os contos sempre provocam um deslumbramento e marcam a história de vida do leitor, independentemente do suporte em que estejam publicados (em livros ou no ciberespaço). As novas tecnologias de informação e comunicação têm oportunizado que o letramento literário e, consequentemente, o digital, ocorram, seja pelo acesso a valores e conhecimentos democratizados em livros, ou em sites, e-books, animações e hipertextos. Vivemos uma época em que a ideia de letramento voltado às práticas sociais de leitura e escrita, toma outras proporções. Os novos letramentos, muitos atrelados às TICs (tecnologias da informação e da comunicação), mostram que a diversidade cultural, presente no mundo globalizado, pode ser contemplada em textos multimodais (composições com variadas formas de linguagem: escrita, oral e visual). Portanto, este artigo propõe uma reflexão sobre o trabalho com a Literatura Infantojuvenil Afro-Brasileira, tomando como referência a obra “Rapunzel e o Quibungo”, adaptada por Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, publicada pela Editora Mazza e pelo projeto “A Cor da Cultura”, por meio do programa “Livros Animados”. Durante a análise da obra, aponta-se diversos links da internet que auxiliarão o leitor a melhor compreender a cultura afro-brasileira. Portanto, ao privilegiar a leitura de histórias com personagens negros, busca-se desconstruir narrativas pautadas em padrões fixados em apenas uma etnia, trazendo de forma afirmativa a cultura dos povos africanos que formaram o Brasil, em uma sequência didática de leitura fundamentada em Cosson (2012). A sequência didática básica de letramento literário apresentada traz sugestões de atividades, para que sejam desenvolvidas dentro dos quatro passos de ampliação das experiências literárias, levando o leitor a desenvolver a autonomia, observar a estética e ainda sentir prazer. Os passos da sequência são: a motivação, a introdução, a leitura com intervalos e a interpretação. Palavras-chave: Literatura Infantojuvenil. Conto. Hipertexto 1 Mestre em Metodologias para o Ensino das Linguagens e suas Tecnologias/UNOPAR; Pós-graduação em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa/FAFIJAN; Pós-Graduação em Administração, Supervisão e Orientação Escolar/UNOPAR; Graduação em Letras Anglo-Portuguesas/FAFICLA; Professora PDE 2009/SEED- PR; Técnico-pedagógica de Língua Portuguesa no Núcleo Regional da Educação de Apucarana; E-mail: [email protected].

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ISSN 2176-1396

O DESLUMBRE DA LITERATURA INFANTOJUVENIL

AFRO-BRASILEIRA: IMPRESSA E DIGITAL

Afife Maria dos Santos Mendes Fontanini1 - SEED PR/UNOPAR

Eixo – Educação da Infância

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Os contos sempre provocam um deslumbramento e marcam a história de vida do leitor,

independentemente do suporte em que estejam publicados (em livros ou no ciberespaço). As

novas tecnologias de informação e comunicação têm oportunizado que o letramento literário e,

consequentemente, o digital, ocorram, seja pelo acesso a valores e conhecimentos

democratizados em livros, ou em sites, e-books, animações e hipertextos. Vivemos uma época

em que a ideia de letramento voltado às práticas sociais de leitura e escrita, toma outras

proporções. Os novos letramentos, muitos atrelados às TICs (tecnologias da informação e da

comunicação), mostram que a diversidade cultural, presente no mundo globalizado, pode ser

contemplada em textos multimodais (composições com variadas formas de linguagem: escrita,

oral e visual). Portanto, este artigo propõe uma reflexão sobre o trabalho com a Literatura

Infantojuvenil Afro-Brasileira, tomando como referência a obra “Rapunzel e o Quibungo”,

adaptada por Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, publicada pela Editora Mazza e

pelo projeto “A Cor da Cultura”, por meio do programa “Livros Animados”. Durante a análise

da obra, aponta-se diversos links da internet que auxiliarão o leitor a melhor compreender a

cultura afro-brasileira. Portanto, ao privilegiar a leitura de histórias com personagens negros,

busca-se desconstruir narrativas pautadas em padrões fixados em apenas uma etnia, trazendo

de forma afirmativa a cultura dos povos africanos que formaram o Brasil, em uma sequência

didática de leitura fundamentada em Cosson (2012). A sequência didática básica de letramento

literário apresentada traz sugestões de atividades, para que sejam desenvolvidas dentro dos

quatro passos de ampliação das experiências literárias, levando o leitor a desenvolver a

autonomia, observar a estética e ainda sentir prazer. Os passos da sequência são: a motivação,

a introdução, a leitura com intervalos e a interpretação.

Palavras-chave: Literatura Infantojuvenil. Conto. Hipertexto

1 Mestre em Metodologias para o Ensino das Linguagens e suas Tecnologias/UNOPAR; Pós-graduação em

Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa/FAFIJAN; Pós-Graduação em Administração, Supervisão e

Orientação Escolar/UNOPAR; Graduação em Letras Anglo-Portuguesas/FAFICLA; Professora PDE 2009/SEED-

PR; Técnico-pedagógica de Língua Portuguesa no Núcleo Regional da Educação de Apucarana; E-mail:

[email protected].

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Introdução

A Literatura Infantojuvenil Afro-Brasileira pode representar um marco na história de

formação dos leitores, pois a leitura dessas obras leva os indivíduos a se apoderarem e se

deslumbrarem pela tradição oral dos povos africanos. Ao reconhecer a literatura como um

direito humano que garante a integridade imaterial, o trabalho docente deve proporcionar que

estudantes negros(as) construam suas identidades, por meio da interação com enredos em que

os protagonistas também sejam negros(as).

Na década de 80, Candido já postulava a ideia da Literatura como um direito humano,

fazendo a distinção entre os bens compressíveis (cosméticos, enfeites, roupas extras, entre

outros) e os bens incompressíveis. Para o autor (1995, p. 174), são bens incompressíveis:

[…] não apenas os que asseguram a integridade física em níveis decentes, mas os que

garantem a integridade espiritual. São incompressíveis certamente a alimentação, a

moradia, o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça

pública, a resistência à opressão etc.; e também o direito à crença, a opinião, ao lazer

e, por que não, à arte e à literatura.

Antonio Candido alinha-se ao grupo de historiadores e críticos brasileiros que abordam

a Literatura sociologicamente (CEREJA, 2005, p. 145). Ele vê a literatura como um sistema

mediado por um sistema maior – o da cultura –, por isso conhecer a contribuição dos africanos

para a cultura afro-brasileira é essencial na compreensão dos contextos históricos e sociais,

movimentos literários, públicos-alvo e ideologias presentes nos livros.

Cada época e cada cultura fixam os critérios de incompressibilidade, que estão ligados

à divisão da sociedade em classes, pois inclusive a educação pode ser instrumento

para convencer as pessoas de que o que é indispensável para uma camada social não

o é para outra (CANDIDO, 1995, p. 173).

Mas o que é indispensável aprender e ensinar sobre a literatura infantojuvenil afro-

brasileira? De acordo com Castilho (2004b, p. 41),

No Brasil, Monteiro Lobato foi o precursor da literatura infantojuvenil. Foi um

escritor brilhante que emocionou gerações. Inovou em suas narrativas dando às

crianças iniciativas criadoras, irreverência, amor, compromisso, com a invenção e

com a liberdade, direito ao questionamento, revelou suas inquietações, enfim,

humanizou as crianças através dos personagens (Emília, Pedrinho, Narizinho) e levou

ao conhecimento das crianças uma visão política do Brasil.

No entanto, existe um grande questionamento acerca do preconceito nas obras de

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Lobato, que tem gerado muita polêmica. Não obstante, é preciso frisar que, em 1945, a

personagem de Tia Nastácia já aparecia acompanhando Dona Benta na Grande Conferência da

Paz, descrita no livro “A reforma da natureza”. Apesar da legitimidade dos debates em torno do

preconceito, a inserção da figura de Tia Nastácia no universo picapauense pode ser considerada

um mérito lobatiano, devido ao espaço diferenciado que ela ocupava na casa, tendo voz e vez,

quando comparada às negras em situação semelhante no período (CAGNETI; SILVA, 2013, p.

31-32).

Ainda, segundo Cagneti e Silva (2013, p. 34),

Seria importante ressaltar que na época em que Lobato começou a escrever para

crianças, segundo colocações dele mesmo, o que existia no Brasil no gênero eram

traduções vindas da Europa. Obviamente nessas obras a figura do negro praticamente

inexistia. Seguidores de Lobato, essencialmente aqueles que contribuíram para a

efetivação da literatura intantil juvenil nacional, na década de 1970, vez ou outra

passaram a inserir o negro como personagem em suas narrativas.

Para Lima (2005), essas tramas comumente apresentavam imagens onde os negros(as)

apareciam como escravizados, sofrendo uma violência simbólica; como empregadas

domésticas com imagens caricaturadas; tratando a África, aos moldes coloniais, de maneira

primitiva e grosseira, ou focando a violência. Felizmente, na década de 1980, começaram a

surgir obras valiosas que apresentavam personagens negros(as), sem o reforço do estereótipo

negativo, publicadas por Joel Rufino dos Santos, Ziraldo, Rogério Andrade Barbosa, Angela

Lago, Mario Vale, Ana Maria Machado, Luiz Galdino e Mirna Pinsky (CAGNETI; SILVA,

2013, p. 34).

Com o advento da Lei nº 10.639/03, várias obras valorizando de forma afirmativa as

relações étnico-raciais foram publicadas, alterando a visão de enredos centrados em apenas uma

etnia. Portanto, já se consegue encontrar obras onde o negro(a) é trabalhado a partir de três

perspectivas: a da cultura, a do cidadão atuante na sociedade e a de um sujeito que ainda sofre

com a discriminação e preconceito.

Nas mãos do leitor, o livro de literatura infantojuvenil afro-brasileira pode ser fator de

perturbação e mesmo de risco, “daí, a ambivalência da sociedade em face dele, suscitando, às

vezes, condenações violentas quando ele veicula noções ou oferece sugestões que a visão

convencional gostaria de proscrever” (CANDIDO, 1995, p. 176). É contra essa proscrição que

os professores têm que levantar a bandeira, pois quanto mais os estudantes negros(as) tiverem

acesso à leitura como direito humano, mais críticos e reflexivos se tornarão ao apropriar-se de

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sua cultura.

O Art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, traz

em seu caput que, “os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino

Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em

cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características

regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”, expondo de forma

bem clara no § 9o que os conteúdos relativos aos direitos humanos […] devem ser

contemplados. Por isso, sendo a Literatura uma necessidade universal que deve ser satisfeita

para que não se mutile a personalidade dos estudantes, pelo fato de dar forma aos sentimentos

e à visão do mundo, ela precisa ser trabalhada, no intuito de promover o processo de

humanização e respeito à diversidade.

Pensando nisso, passar-se-á a uma discussão sobre a importância de trabalhar-se com o

letramento literário e digital nas escolas, por meio das africanidades presentes tanto na cultura

do papel como no ciberespaço.

A importância do Letramento Literário e Digital

De acordo com Soares (2010, p. 15), foi na metade da década de 80 que os especialistas

da Educação e das Ciências Linguísticas começaram a discutir a questão do letramento. O

debate sobre a questão expandiu-se por todos os níveis da Educação Básica e também à

Educação de Jovens e Adultos, a partir de edições de livros escritos por Mary Kato (1986), Leda

Verdiani Tfouni (1988), Ângela Kleiman (1995), bem como pela própria Magda Soares (1998),

envolvendo a prática discursiva da escrita e da leitura.

Mais recentemente, a altercação sobre letramento também tem chegado aos estudos

literários, por meio de debates sobre a formação do leitor literário proposta nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (2002), nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) e nos

escritos do grupo de pesquisadores do CEALE (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita),

vinculado à FAE (Faculdade de Educação) e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

As primeiras perspectivas trataram o letramento como “o resultado da ação de ensinar

ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um

indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (SOARES, 2010, p. 18). Nessa

época, a ideia de letramento estava muito atrelada ao analfabetismo e ao alfabetismo, pois não

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bastava apenas saber ler e escrever, era preciso também saber fazer uso do ler e do escrever,

respondendo as exigências sociais (p. 20).

O termo letramento é uma versão para o português da palavra inglesa literacy. Segundo

Soares (2010, p. 17), o termo originou-se etimologicamente:

[...] a palavra literacy vem do latim littera (letra), com o sufixo – cy, que denota

qualidade, condição, estado, fato de ser [...]. No Webster’s Dictionary, literacy tem a

acepção de “the condition of being literate”, a condição de ser literare, e literate é

definido como “educated; especially able to read and write”, educado, especialmente,

capaz de ler e escrever.

A discussão sobre esse fenômeno ajudou a alterar as condições sociais, culturais,

políticas, econômicas, cognitivas e linguísticas dos grupos onde foi introduzido. Contudo, com

o advento da cibercultura tornou-se necessário pluralizar o vocabulário, no sentido de

“confrontar as tecnologias tipográficas e tecnologias digitais de leitura e de escrita” (SOARES,

2002, p. 143).

Como argumenta Soares (2002, p. 146), em seu artigo:

Estamos vivendo, hoje, a introdução, na sociedade, de novas e incipientes

modalidades de práticas sociais de leitura e de escrita, propiciadas pelas recentes

tecnologias de comunicação eletrônica – o computador, a rede (web), a Internet. É,

assim, um momento privilegiado para, na ocasião mesma em que essas novas práticas

de leitura e escrita estão sendo introduzidas, captar o estado ou condição que estão

instituindo: um momento privilegiado para identificar se as práticas de leitura e de

escrita digitais, o letramento na cibercultura, conduzem a um estado ou condição

diferente daquele a que conduzem as práticas de leitura e de escrita quirográficas e

tipográficas, o letramento na cultura do papel.

Vivemos uma época em que a ideia de letramento voltado às práticas sociais de leitura

e escrita, toma outras proporções. Os novos letramentos, muitos atrelados às TICs (Tecnologias

da Informação e da Comunicação), oportunizam que a diversidade cultural, presente no mundo

globalizado, seja contemplada em textos multimodais (composições com variadas formas de

linguagem: escrita, oral e visual). Segundo Rojo (2012, p. 13), outra ideia vem se consolidando,

pois:

Diferentemente do conceito de letramentos (múltiplos), que não faz senão apontar

para a multiplicidade e variedades das práticas letradas, valorizadas ou não nas

sociedades em geral, o conceito de multiletramentos – é bom enfatizar – aponta para

dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades,

principalmente urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das

populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais

ela se informa e se comunica.

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Para tanto, a informação e a comunicação que chega à sociedade contemporânea, por

meio de textos com múltiplas abordagens culturais, precisa de um local para sua consolidação,

e é no uso da rede de computadores que tal subcultura encontrará espaço. Para Lévy (1999, p.

257), “longe de ser uma subcultura dos fanáticos pela rede, a cibercultura expressa uma mutação

fundamental da própria essência da cultura”. Para tanto, ela corresponde à globalização concreta

das sociedades, que inventa um universal sem totalidade.

Ao envolver a leitura e a escrita nesse espaço, ou seja, no ciberespaço, com seus textos

na tela – hipertextos – estes farão parte da formação do leitor, que atualmente convive com as

novas tecnologias de informação e comunicação. Isto significa que o professor deve, além de

trabalhar com os materiais impressos com vistas ao letramento, também explorar os recursos

digitais com seu alunado, rumo ao letramento digital.

É por isso, que o trabalho com a Literatura Infantojuvenil Afro-Brasileira precisa

acontecer independentemente de seu suporte (livro ou hipertexto). De acordo com Cosson

(2014, p. 12), os jovens estão:

[…] eternamente plugados pelos fones de ouvido, trocando incessantemente

mensagens nas redes sociais, jogando on-line em sites especializados ou entretidos

nos videogames, navegando de muitas formas na web, os jovens não parecem ter

tempo nem concentração para a leitura de livros impressos – um hábito que se

apresenta aparentemente contrário ao modo dispersivo e irrequieto com que se

relacionam com os demais produtos e manifestações culturais contemporâneas

(COSSON, 2014, p. 12).

Dessa forma, em composição com outras manifestações artísticas, a Literatura

Infantojuvenil Afro-Brasileira precisa ser trabalhada, é aqui que entram os “avatares” da

Literatura (canções populares, filmes, histórias em quadrinhos, animações e até a literatura

eletrônica), conforme Cosson (2014, p. 16-18).

O ciberespaço abre um leque para exploração de inúmeras linguagens, produzindo e

impulsionando para que uma aprendizagem coletiva e compartilhada possa ser explorada no

espaço escolar. Ele é um dos ambientes socioculturais que se encontra em evidência no século

XXI, a era da sociedade das conexões, da hibridização de culturas e de gêneros literários. Lévy

(1998, p. 104-105) postula que:

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No silêncio do pensamento, já percorremos hoje as avenidas informacionais do

ciberespaço, habitamos as imponderáveis casas digitais, difundidas por toda parte, que

já constituem as subjetividades dos indivíduos e dos grupos. [...] O ciberespaço:

nômade urbanístico, pontes e calçadas líquidas do Espaço do saber. Ele traz consigo

maneiras de perceber, sentir, lembrar-se, trabalhar, jogar e estar junto. É uma

arquitetura do interior, um sistema inacabado de equipamentos coletivos da

inteligência, uma estonteante cidade de tetos de signos. A administração do

ciberespaço, o meio de comunicação e de pensamento dos grupos humanos, será uma

das principais áreas de atuação estética e política do século XXI. […] O ciberespaço

designa menos os novos suportes de informação do que os modos originais de criação,

de navegação no conhecimento e de relação social por eles propiciados. […] Constitui

um campo vasto, aberto, ainda parcialmente indeterminado, que não deve reduzir a

um só de seus componentes. Ele tem vocação para interconectar-se e combinar-se com

todos os dispositivos de criação, gravação, comunicação e simulação.

Portanto, quando se quer formar leitores literários há que se tomar o cuidado com as

estratégias escolhidas para efetivação do processo de ensino e aprendizagem. O contato com o

material impresso é valiosíssimo, mas não se pode esquecer que os “nativos digitais”, termo

adotado por Palfrey e Gasser no livro “Nascidos na Era Digital”, também necessitam interagir

com outros suportes.

De acordo com Palfrey e Gasser (2011, p. 11 – 14), os nativos digitais são aqueles

nascidos após 1980, e que têm habilidade para usar as tecnologias digitais. Eles se relacionam

com as pessoas por meio das novas mídias, por blogs, redes sociais, e nelas se surpreendem

com as possibilidades que encontram. Porém, aqueles que não se enquadram nesse grupo

precisam conviver e interagir com esses nativos e, além disso, aprender a conviver em meio a

tantas inovações tecnológicas, são os chamados imigrantes digitais.

Pensar em como construir uma rede de saberes, que envolva a Literatura Infantojuvenil

Afro-Brasileira, pode ser uma forma de animar o intelecto dos alunos, pois a partir da

africanidade, da interdisciplinaridade e da tecnologia, pode-se também trabalhar textos

literários.

É certo que os livros impressos, que apresentam a especificidade da escrita artística, são

muito importantes e representam uma influente tecnologia, mas para chegarmos à revolução do

texto eletrônico e dos links e hipertextos literários, é preciso explicar aos estudantes que a

história dos livros já viu muitas outras.

De acordo com Chartier (1999, p. 7):

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De fato, a primeira tentação é comparar a revolução eletrônica com a revolução de

Gutenberg. Em meados da década de 1450, só era possível reproduzir um texto

copiando-o à mão, e de repente uma nova técnica, baseada nos tipos móveis e na

prensa, transfigurou a relação com a cultura escrita. O custo do livro diminui, através

da distribuição das despesas pela totalidade da tiragem, muito modesta, aliás, entre

mil e mil e quinhentos exemplares. Analogamente, o tempo de reprodução do texto é

reduzido graças aos trabalhos da oficina tipográfica.

É necessário lembrar que a transformação de um livro manuscrito em impresso não

ocorreu de forma tão integral. Todo um processo histórico se delineou desde então. Hoje, a tela

do computador carrega informações sobre o texto literário, que devem ser exploradas na

formação dos leitores. Conforme Chartier (1999, p. 12-13):

Existe propriamente um objeto que é a tela sobre a qual o texto eletrônico é lido, mas

este objeto não é mais manuseado diretamente, imediatamente, pelo leitor. A inscrição

do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma estruturação do texto

que não é de modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor do livro em rolo

da Antiguidade ou o leitor medieval, moderno e contemporâneo do livro manuscrito

ou impresso, onde o texto é organizado a partir de sua estrutura em cadernos folhas e

páginas.

O espaço do texto eletrônico exige que o sujeito desenvolva novas maneiras de ler,

devido à revolução nas estruturas do suporte. Isso significa que o professor deve, além de

cultivar os materiais impressos, também saber explorar os recursos digitais com seu alunado.

Ao suscitar a existência de uma nova perspectiva de trabalho literário, por meio de

materiais impressos e digitais, a aplicação da sequência didática básica de letramento literário

(motivação, introdução, leitura e interpretação), proposta no livro de Cosson (2012),

proporcionará que sejam feitos os registros sobre as reflexões e habilidades desenvolvidas

quanto à mediação e à formação do leitor literário, que transita entre a cultura do papel e uma

cibercultura que discute africanidades.

Sequência didática básica desenvolvida para o livro “Rapunzel e o Quibungo”

Nessa sequência, exploraremos o livro “Rapunzel e o Quibungo”, uma adaptação de

Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, que foi publicada pela Editora Mazza e animada

pelo projeto “A Cor da Cultura”, por meio do programa “Livros Animados”.

1º Momento – Motivação

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Apresentar o teaser da música “Minha Rapunzel de Dread”, com MC Soffia e

participação de Gram & Pedro Angel, disponível no link:

<https://www.youtube.com/watch?v=3ut5RVtO3H4>

“Num conto de fadas a Rapunzel joga suas tranças

Na minha história, ela tem dread e é africana

Agora vou contar o meu conto para vocês

Como todas as histórias começa com era uma vez […]”

Após assistir ao teaser criado para a campanha publicitária da MC Soffia, responda:

Como seria uma princesa que se parecesse com você?

Logo após, leia o depoimento dado pela MC Soffia:

"Eu sempre ouvi contos de fadas, mas nunca um que parecesse comigo. Então, inventei na minha cabeça uma

princesa do jeito que eu sempre quis que existisse. Antes só me mostraram uma, a Tiana, mas eu queria ver mais,

porque tem negras de todo jeito. Quando a tia Yaya, minha assessora de imprensa, deu a ideia de fazer alguma coisa

junto com o Gram, achei que ia ser legal gravar essa letra e dizer que minha Rapunzel tem dread. As pessoas têm

muito preconceito, mas dread é lindo". (NICOLAU, 2016).

Disponível em: <https://catracalivre.com.br/geral/dica-digital/indicacao/confira-com-exclusividade-o-teaser-do-

novo-clipe-de-mc-soffia-minha-rapunzel-tem-dread/>

2º Momento – Introdução

Muitas nações africanas eram ágrafas, ou seja, não tinham escritas, mas cultivavam uma

literatura oral que foi passada de geração em geração. Segundo Santilli (1985, p. 8 – 9), o

escritor Orlando Mendes apontou na literatura oral moçambicana a existência de contos, fábulas

e lendas, povoados de animais das florestas, de elementos da natureza, dos espíritos e símbolos

do sobrenatural, da sociedade, dos antepassados, das transformações vividas e transmitidas, que

nos fazem descartar o pensamento de que as sociedades africanas seriam estáticas, não passíveis

de evolução. Assim como as sociedades europeias, as comunidades africanas possuem histórias

Figura 1: MC Soffia e Ana Paula Xongani (MakingOf)

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belíssimas para contar.

Essa sequência didática apresentará o gênero conto, no intuito de trabalhar a capacidade

de atenção, a experiência de vida, as expectativas e a visão de mundo dos leitores. Rapunzel é

conto adaptado sobre o qual se farão reflexões, ele pode ser classificado como um conto

maravilhoso com ou sem fadas, pois apresenta uma visão mágica da realidade (com objetos,

animais e acontecimentos fora da realidade e transformáveis). (COSTA, 2007, p. 75)

No século XVII, Charles Perrault registra pela primeira vez os contos de fadas,

narrativas orais que se tornaram Literatura e que, posteriormente, permearam também os

escritos de Andersen e Grimm. Esses autores são de origem francesa, dinamarquesa e alemã

respectivamente, por isso a curiosidade em saber como seriam seus contos se eles tivessem

nascido no Brasil?

Segundo Costa (2007, p. 75), o conto é,

[…] uma narrativa curta e sintética que contém uma única ação, isto é, trata de apenas

um conjunto restrito de personagens, em tempo e espaço reduzidos, que vivem poucos

acontecimentos. Essa fórmula serviu, e continua servindo, à literatura infantil e

juvenil, pois está adequada à pouca experiência de leitura, à dificuldade de a criança

acompanhar enredos mais complexos, com histórias paralelas e muitos personagens.

Também pela dificuldade em seguir um tempo mais estendido, o conto mantém-se

num tempo de ação mais condensado.

É sob essa perspectiva que Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, com sua larga

vivência na literatura infantil, adaptam os contos de fadas, ambientando-os nas diversas regiões

brasileiras, transformando personagens que nada têm de brasileiros em seres com nosso rosto e

nossa pele, enfrentando monstros e bruxas do nosso imaginário cultural. Dessa forma, os

autores garantem que o encantamento da tradição se faça presente.

A biografia dos autores e do ilustrador é um entre outros contextos que acompanham o

texto adaptado, portanto para conhecer melhor a vida e obra desses ilustres brasileiros que se

preocuparam em produzir obras de Literatura Infantojuvenil Afro-Brasileira com qualidade,

seguem algumas informações:

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Quem são os autores e o ilustrador da obra “Rapunzel e o Quibungo”?

AUTORES

Cristina Agostinho é mineira de Ituiutaba. Tem 12 livros publicados, oito

deles infantojuvenis, que lhe valeram quatro prêmios nacionais. Em outra

vertente, a da biografia e memória social, também recebeu prêmios e o

reconhecimento da crítica especializada. Entre seus livros publicados, se

destacam Pai sem terno e gravata, traduzido em Cuba e vencedor do Prêmio

Adolfo Aizen da UBE de melhor livro juvenil, categoria Realidade; Amor

inteiro para meio-irmão, Prêmio João de Barro (Prefeitura de BH).

Ronaldo Simões Coelho é mineiro de São João Del Rei. Como médico

psiquiatra, passa o tempo ouvindo histórias, e como escritor passa o tempo

contando aquelas que inventa. É o sexto entre sete irmãos: seis homens e uma

mulher. Por coincidência, tem seis filhos e uma filha. Foi inventando histórias

para eles, que sentiu vontade de escrever. Há muitos anos, publica seus livros

que vêm sendo lidos por milhares de crianças de todo o Brasil e até de fora

dele.

ILUSTRADOR

Walter Lara, mineiro de Betim, é artista plástico e ilustrador. Recebeu o

Prêmio Altamente Recomendável (da FNLIJ) pelos livros O Dia Não Está

Para Bruxa, de Marcos Tafuri e Para Criar Passarinho, de Bartolomeu

Campos de Queirós, este também finalista do Prêmio Jabuti. Em 2010,

estreou como autor com o livro O Artesão (Abacatte), que recebeu os

prêmios: Altamente Recomendável e 30 melhores Livros Infantis do Ano –

Revista Crescer, além de ter sido selecionado para o catálogo de Bolonha.

Figura 4: Walter Lara

Fonte: COELHO, R. S.; AGOSTINHO, C. Rapunzel e o Quibungo/adaptação. Belo Horizonte: Mazza Edições,

2012.

Figura 2: Cristina

Agostinho

Figura 3: Ronaldo Simões

Coelho

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“Rapunzel e o Quibungo” apresenta em sua capa e contracapa os primeiros elementos

de aproximação entre o livro e a criança negra, pois rompe com o pressuposto de que apenas

um segmento étnico possa ser contemplado pelos tradicionais contos.

Figura 5: Capa do Livro

Figura 6: Contracapa do Livro

O Dicionário On Line de Português (2009-2016) aponta um exemplo para utilização da

palavra rapunzel, “segundo o crítico Joyce Thomas, Rapunzel é o nome de uma erva apetitosa,

com uma coluna dividida em duas; se a planta não for fertilizada, as metades se enroscam como

tranças", publicado na Folha de São Paulo, de 08/01/2011. A Rapunzel negra, que ilustra a capa

do livro, apresenta uma expressividade encantadora no olhar, além de lindas e compridas

tranças, que se enroscam e caracterizam a estética que compreende a identidade negra e

afrodescendente. Faz-se necessário ressaltar, que o ato de trançar os cabelos pode enriquecer

grandemente as experiências vividas pelos(as) estudantes negros(as), bem como a ideia cultural

de beleza.

Na África os penteados sempre foram carregados de grande simbologia. Os penteados

indicavam: status, estado civil, identidade étnica, região geográfica, religião, classe

social, status dentro da própria comunidade e até detalhes sobre a vida pessoal do

indivíduo. Alguns penteados podiam ser usados para atrair pessoas do outro sexo, isso

justifica o fato em que algumas comunidades, as mulheres viúvas andavam com os

cabelos despenteados para não despertar o interesse masculino, durante o período de

luto. O cabelo despenteado também podia significar que a mulher estava deprimida,

“perdido” a moral ou que era insana. (CLEMENTE, 2010, p. 6)

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O leitor deve aproveitar esse momento para observar as características físicas da

protagonista, pois toda a trama dar-se-á em torno das ações realizadas por e sobre ela.

3º Momento – Leitura

Chegou a hora de ler o livro “Rapunzel e o Quibungo”, sendo assim alguns intervalos

de leitura serão realizados, no intuito de promover a reflexão e ampliação de conhecimentos.

Conversas acerca dos quatro momentos que permeiam a história serão realizadas e a

incorporação de outros textos que promovam a intertextualidade com a obra será indicada para

que os leitores atinjam o letramento literário e digital. Sendo assim, a leitura será dividida em

quatro momentos distintos, conforme segue:

1º Intervalo: O nascimento da menina e o rapto de Rapunzel pelo Quibungo

Nascida na Bahia, a linda menina negra de sete anos e cabelos compridos era amada por

seus pais. Um dia sai para brincar na beira da Lagoa do Abaeté, adorava cantar e seu canto

parecia o do uirapuru. Acontece que, nesse dia, o Quibungo um papão malvado rapta Rapunzel

e a aprisiona em uma torre de bambu no alto de uma castanheira. Seus pais a procuram, mas

não a encontram mais.

Nesse intervalo, é importante que o professor ajude o aluno a conhecer mais sobre os

elementos da cultura africana, afro-brasileira e indígena que foram inseridos no enredo, no

intuito de promover o letramento literário e digital. Para tanto, indica-se o acesso a alguns links

para melhor compreender os personagens (suas características) e os espaços físicos.

Uirapuru: O uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus aradus) é uma ave cantora conhecida

pelo seu canto particularmente elaborado, o que justifica que também seja conhecido

vulgarmente como músico ou corneta. Para saber mais, porque a voz de Rapunzel parecia com

a do uirapuru, acesse Aquariosmaster: <https://www.youtube.com/watch?v=1ptgWSpK_RU>

Quibungo: Para Antonio (2012), o Quibungo é uma lenda trazida pelos escravos bantos

vindos de Angola para o Brasil. Como toda manifestação popular, sofreu interferências culturais

ao ser trazida para as terras brasileiras. Na Bahia, essa história é contada com o objetivo de

disciplinar, a partir do medo, as crianças teimosas que se afastam dos pais ou que se recusam a

obedecer aos adultos. Para saber mais, acesse:

<http://lendasefolclores.blogspot.com.br/2012/01/lenda-do-quibungo.html>.

Lagoa do Abaeté: O termo Abaeté vem da língua tupi e refere-se a uma pessoa boa e

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honrada. Foi daí que surgiu a lenda de que um guerreiro, preservador do local, tinha uma ligação

com a mãe d’água, Uiara, um dia foi levado por ela para o fundo da água. (ALVES & RIBEIRO,

2015). Acesse a reportagem e saiba mais: <http://g1.globo.com/bahia/salvador-466-

anos/noticia/2015/03/cercada-de-misterios-lagoa-do-abaete-sofre-com-problemas-de-

estrutura.html>.

O professor pode ainda estimular a pesquisa sofre as plantas: bambu e castanheira como

espaços físicos que caracterizam o enredo.

2º Intervalo: Dakarai e o Quibungo – visitas à Rapunzel

Presa durante anos na torre de bambu no alto da castanheira, Rapunzel acabou por atrair

a atenção do príncipe Dakarai com seu canto. Todos os dias, ele ia até a torre para ouvir o canto

triste e solitário e tentar descobrir como ter acesso àquele lugar. Até que um dia, viu o Quibungo

subir pela janela, agarrando-se nas longas tranças da moça, que estavam presas na ponta de um

cipó. Ele levava mandioca, peixe e farinha para alimentá-la. Ao ver o bicho indo embora, o

príncipe ficou feliz, pois agora sabia como fazer para chegar lá em cima.

Situar a história na Bahia já desenha todo um novo contexto para a mais que conhecida

história de Rapunzel. O uso de elementos tropicais, como as frutas locais, as árvores

locais, a cultura local, trazem um curioso (e gostoso) aparato para o conto clássico,

herdado da tradição oral europeia. Agora são os trajes africanos, a comida à base de

mandioca, peixe e farinha; o bicho-papão africano, conhecido como Quibungo que

assumem o lugar de signos e símbolos nessa “nova” história. A velha bruxa dá lugar

ao Quibungo, o bicho peludo, com bocarra nas costas, onde atira, mastiga e engole as

crianças. O mito chegou ao Brasil através dos bantos e se instalou na Bahia.

Curiosamente, em Angola e no Congo, quibungo significa “lobo”. Um devorador

largamente conhecido pelas crianças! Um terror suportável! Um terror desejável,

porque as crianças adoram as histórias que provocam susto e arrepios! (SISTO, 2014).

Para visualizar os pratos típicos do Brasil (ROSÁLIA, 2013), acesse:

<https://www.youtube.com/watch?v=shsd59WZ8Ak>.

3º Intervalo: Amor à primeira vista

De origem africana, o nome Dakarai significa felicidade, e não por acaso ele está prestes

a encontrar a sua. Após ver o Quibungo indo embora, o belo príncipe chama por Rapunzel e

carregando um cesto com frutas deliciosas (coco, cupuaçu, cajá, umbu e graviola), bem como

um colar de sementes coloridas sobe até a torre, segurando-se nas tranças da moça. Foi amor à

primeira vista, conversaram, comeram e Rapunzel entoou uma canção alegre. Planejaram a

fuga, mas Rapunzel esqueceu-se de tirar o colar de sementes quando o Quibungo voltou para

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visitá-la, foi quando ele percebeu a desobediência. Com um enorme buraco nas costas, em vez

de engoli-la, o Quibungo preferiu cortar suas tranças com os dentes.

Cortar os cabelos também carrega uma grande simbologia. Além da força física,

sedução e vaidade, os cabelos da cabeça estão ligados às questões espirituais. Na

história de Rapunzel também significa sua passagem de menina a mulher. Aliás, para

ficarmos no contexto dessa nova Rapunzel, vale lembrar que há uma divertida lenda

africana que explica o fato das mulheres terem cabelos compridos. (SISTO, 2014).

Piasson (2013) aponta, para conhecer a lenda africana que explica o fato das mulheres

terem cabelos compridos, acesse:

<https://issuu.com/professorandre/docs/mitos_e_lendas_africanas>.

E para completar os elementos dessa adaptação, temos os versos com que o Quibungo

e o príncipe Dakarai chamam Rapunzel. O monstro diz: “Rapunzel, Rapunzel/a

comida está aqui;/Rapunzel, me obedeça/deixe o cabelo cair”. O príncipe diz:

“Rapunzel, Rapunzel/me escute, linda criança;/Rapunzel, Rapunzel, jogue aqui a sua

trança”. E a musicalidade da história é mantida. E a ação provocada pelo medo

instintivo torna-se um ato de alegria, pela primeira vez. Pois essa alegria, temperada

de sorrisos e amor à primeira vista serve de contraponto para a maldade e o desejo de

vingança do monstro, que depois vai acusar o príncipe de “querer roubar sua criança”.

Essa, é a luta “espiritual” dos contos de fadas, que se concretiza com a união no

casamento (SISTO, 2014).

Na cultura africana, o casamento também é considerado um mito de transformação.

4º Intervalo: Viveram juntos pelo mundo afora

No mesmo dia em que o Quibungo corta as tranças de Rapunzel, Dakarai aparece e

chama pela amada. Acontece que para enganá-lo, o monstro prende as tranças na ponta de um

bambu para facilitar que o príncipe suba até a torre. Ao alcançar a janela, Rapunzel ainda tenta

avisá-lo, mas o monstro o empurra e ele cai em cima de plantas espinhantes e fica todo

machucado. No intuito, de ver o que tinha acontecido com o amado, Rapunzel corre até a janela

e esbarra no Quibungo que acaba caindo das alturas e arrebentando-se no chão. Então, a bela

moça negra desce da torre pelas escadas de bambu, chorando muito. No entanto, suas lágrimas

curam as feridas de Dakarai e eles passam a viver juntos pelo mundo afora.

Como a punição é também prerrogativa do conto de fadas, nosso Quibungo tem um

fim estrondoso e o casal vai viver perto do povo a que o príncipe descende, “onde

viveram juntos pelo tempo afora”, tramando de outra forma o “felizes para sempre”,

aproximando-o da tribo e da coletividade (SISTO, 2014).

Dando continuidade, o professor poderá trazer outros contos que foram adaptados por

Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, no intuito de estabelecer uma relação

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interdisciplinar e trabalhar o encantamento da tradição, entre eles: “Cinderela e Chico Rei”,

“Afra e os três lobos guarás” e “Joãozinho e Maria”.

O docente também poderá projetar para os alunos a animação feita de “Rapunzel e o

Quibungo” pelo projeto “A Cor da Cultura”, por meio do programa “Livros Animados”.

O projeto “A Cor da Cultura” é uma parceria entre o Canal Futura, o CIDAN – Centro

de Informação e Documentação do Artista Negro, a SEPPIR – Secretaria Especial de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a TV Globo, a TV Educativa e a Petrobras,

visando unir esforços para a valorização e preservação do patrimônio cultural afro-

brasileiro. (SANT'ANNA, 2005, p. 7)

No episódio do Livro III – Ep. 04, a apresentadora Vanessa Pascale e um grupo de

crianças mergulham nas histórias dos livros “Rapunzel e o Quibungo” e “Joãozinho e Maria”.

Para assistir ao episódio, acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=FI-dwHTtZMM>.

4º Momento – Interpretação

Na obra “Rapunzel e o Quibungo”, pode-se dizer que o trabalho com a construção de

sentidos envolve tanto as inferências realizadas pelos leitores quanto as formuladas pelo

docente, durante a expansão de conhecimentos nos intervalos de leitura.

A interpretação, em um primeiro momento, passa pela decifração/pelo íntimo do aluno

leitor, que possivelmente nunca leu e ouviu contos de fadas adaptados para a cultura afro-

brasileira, sendo contados por familiares e/ou professores. É comum nas escolas brasileiras,

trabalhar-se com os tradicionais contos de fadas, mas sempre dentro de uma visão eurocêntrica,

por isso na história de vida dos leitores são esses enredos que se fazem presentes.

Em um segundo momento, ocorre a materialização da interpretação como ato de

construção de sentidos, ou seja, espera-se que os leitores se identifiquem e busquem o

pertencimento a uma determinada etnia, pela adaptação do conto, que traz em evidência a

cultura afro-brasileira, provocando assim o empoderamento e o compartilhamento de

conhecimentos. Para tanto, a sistematização da sequência didática básica e a interpretação

ocorrerão por meio da dramatização da obra “Rapunzel e o Quibungo”. A dramatização será

feita pelos alunos leitores, que utilizarão a técnica do teatro de fantoche de vara.

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O teatro, no ensino fundamental, proporciona experiências que contribuem para o

crescimento integrado da criança e do adolescente sob vários aspectos. No plano

individual, proporciona o desenvolvimento de suas capacidades expressivas e

artísticas; no plano coletivo, por ser uma atividade grupal, oferece o exercício das

relações de cooperação, diálogo, respeito mútuo, reflexão sobre como agir com os

colegas, flexibilidade de aceitação das diferenças e aquisição de sua autonomia, como

resultado de poder agir e pensar com maior “liberdade”. (CAMARGO, 2003, p. 39)

Para a interpretação, sugerem-se quatro momentos de trabalho, conforme segue:

1) Confecção dos personagens:

Solicitar aos alunos leitores que façam o desenho dos personagens citados na história

em papel sulfite, caracterizando-os da melhor forma possível. Auxiliar os educandos, os

ajudando a listar as figuras dramáticas que poderão ser desenhadas: Rapunzel,

Quibungo, pais de Rapunzel, Dakarai, o cão de caça de Dakarai e pessoas da aldeia. Se

desejarem os alunos também poderão reproduzir as imagens dos alimentos que o

Quibungo levou para Rapunzel (cesto com mandioca, peixe e farinha) e/ou as frutas

ofertadas por Dakarai à moça (coco, cupuaçu, cajá, umbu e graviola).

Recortar os contornos dos desenhos e colá-los em papel cartão, recortando-os

novamente para que fiquem firmes.

Colar na parte de trás do desenho um pau de espetadas (vara), com o auxílio de cola de

isopor ou fita adesiva. Os fantoches de vara já estão prontos para usar.

2) Criando os espaços:

Em uma caixa de papelão grande, fazer um recorte em forma de janela para que ocorra

a apresentação do teatro de fantoche de vara nesse espaço cênico. Na frente da caixa,

reproduzir os espaços que permeiam toda a história. De um lado mostrar a Lagoa do

Abaeté (local onde Rapunzel foi raptada) e do outro reproduzir a torre de bambu no alto

da castanheira (local onde Rapunzel ficou presa).

3) Preparando o enredo:

Divida os alunos em grupos para a apresentação. Solicite que escolham quem será o

narrador da história e quem fará a fala de cada um dos personagens. Deixe que eles

reproduzam os diálogos da história, que criem novos, que aumentem ou modifiquem a

narrativa, conforme suas interpretações. O importante é que cada aluno leitor possa

externalizar sua leitura, além de trabalhar a oralidade (entonação, dicção e criatividade).

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Aprender a manipular os fantoches de vara também é muito importante, assim como a

trilha sonora escolhida para fundo da apresentação, que pode ser preparada com

antecedência. Uma boa sugestão é trazer para os alunos músicas com ritmos diferentes

das que conhecem – Coração de Rubi, canção gravada por Zé Ramalho com a

participação de Maria Lúcia de Godoy possui uma letra interessante de ser trabalhada.

A letra e o áudio da canção encontram-se disponíveis em:

<https://www.vagalume.com.br/ze-ramalho/coracao-de-rubi.html>.

Importante: os registros das interpretações literárias irão variar conforme a idade dos

alunos e a série escolar, bem como de acordo com a princesa e/ou príncipe que se pareça

com cada um (o que remete ao momento da Motivação).

4) Gravação da peça teatral:

Depois de tudo preparado, o professor poderá gravar com o celular as apresentações dos

teatros, no intuito de projetá-las em uma reunião de pais posteriormente. Ao trabalhar

os enredos que brotaram das interpretações com os familiares de forma impressa ou

digital, o docente também estará despertando o encantamento pela Literatura

Infantojuvenil Afro-Brasileira de forma afirmativa.

Considerações Finais

O trabalho com a Literatura Infantojuvenil Afro-Brasileira na escola deve ocorrer a

partir da implementação de uma proposta pedagógica curricular que efetivamente contemple a

Lei nº 10639/03, em toda a Educação Básica. Em seu escopo, a Lei indica “o estudo da História

da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na

formação da sociedade nacional, como elementos importantíssimos para o resgate da

contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do

Brasil”. Na área da Literatura tal trabalho ganha indiscutível relevância, pois a arte literária

produz a humanização, provocando nos leitores o encantamento e o empoderamento sobre a

própria identidade.

No entanto, a seleção do livro infantojuvenil deve passar por um crivo apurado, tendo

em vista a necessidade de apresentar enredos e ilustrações em que negros(as) apareçam de forma

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positiva, tanto no espaço da cultura do papel como na indicação de links e hipertextos

vinculados ao ciberespaço.

A internet possui um vasto material sobre a cultura africana e afro-brasileira que pode

ser explorado, principalmente pelos estudantes, “nativos digitais”, que precisam interagir com

aspectos históricos e culturais que caracterizam a formação da população brasileira. Nesse

sentido, acredita-se que a obra “Rapunzel e o Quibungo” apresenta diversos elementos que além

de trabalhar a beleza literária, também contribuem para o sentido de pertencimento de crianças

e jovens negros(as).

A sociedade contemporânea precisa refletir sobre os modos de pensar e agir, pois só

assim a ideia de respeito à diversidade se consolidará.

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