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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N. 16, JAN/JUN 2014
O enfermeiro no gerenciamento do centro cirúrgico
Laudinei de Carvalho Gomes1
Karen Estefan Dutra2
Ana Lígia de Souza Pereira3
RESUMO
O centro cirúrgico é uma unidade da instituição hospitalar designado para atender os clientes em
situação eletivas ou em urgência e emergência, e requer profissionais qualificados e devidamente
treinados. O trabalho do enfermeiro consiste em gerenciar, coordenar, educar e pesquisar. Para sua
prática gerencial, usa estratégias e métodos oriundos da teórica clássica da administração. O objetivo
deste estudo foi avaliar a importância do enfermeiro como sujeito no gerenciamento do centro
cirúrgico. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, realizada por meio de dois
questionários estruturados abertos. A pesquisa foi realizada em uma instituição hospitalar localizada na
Zona da Mata mineira. O universo da pesquisa compreendeu o centro cirúrgico da referida instituição.
A amostra foi composta por um enfermeiro com curso superior e dez técnicos e auxiliares; estes, por
sua vez, foram entrevistados de forma aleatória, de acordo com sua presença no plantão. Percebeu-se,
nessa pesquisa, que os profissionais de enfermagem têm uma visão positiva da importância do
enfermeiro enquanto gestor do centro cirúrgico, gerenciando não apenas a equipe, mas, também, os
procedimentos realizados no setor.
PALAVRAS-CHAVE: Centro cirúrgico. Gerência em enfermagem. Proficiência e liderança.
ABSTRACT
The surgical center is a unit of the hospital designated to serve customers in situations elective and /
or emergency care, requires qualified and properly trained. The work of the nurse is to manage,
coordinate, educate and search for your practice management strategies and uses methods from the
classical management theory. The aim of this study was to evaluate the importance of the nurse as a
subject in managing the CC considering the surgery center before and after nursing management. This
is a descriptive, qualitative study, conducted by two structured questionnaires open. The research was
conducted in a hospital located in the Zona of Mata region of Minas Gerais. The research comprised
the Surgical Center of the institution. The sample consisted of 1 nurse college graduates and 10
technicians and assistants, these in turn were interviewed at random according to its presence on duty.
It was noticed in this study that nursing professionals have a positive view of the importance of the
nurse as manager of CC, managed not only the staff but also the flow chart of procedures carried out
in the sector.
KEYWORDS: Surgical center. Nursing management. Proficiency and leadership.1
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Enfermeiro. Pós-Graduando do Curso de MBA em Gestão de Negócios e Pessoas da Faculdade
Vértice/Univértix. Matipó. Minas Gerais. 2
Doutora em Educação. Mestre em Engenharia de Produção. Administradora. Coordenadora do Curso de
Administração e Pós-graduação, Faculdade Metodista Granbery 3
Especialista em Estomaterapia. Professora e Coordenadora de Estágio e do Curso de Enfermagem da Faculdade
de Enfermagem Vértice/Univértix.
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1. Introdução
O centro cirúrgico (CC), também conhecido como unidade cirúrgica (UC) ou
bloco cirúrgico (BC), refere-se a um espaço dentro da unidade hospitalar destinado a cirurgias
de baixa, média e alta complexidade. Todavia, independentemente desse grau, o CC é um
ambiente complexo, que requer profissionais qualificados e treinados, (estes por sua vez
devem ser especialistas nas suas funções). É digno de menção, salientar que este local deve
ser equipado com recursos tecnológicos, que muitas vezes são responsáveis pela manutenção
da vida dos pacientes. (FIGUEIREDO, LEITE e MACHADO, 2006).
Partindo desse pressuposto, Kurcgant et al. (1991), enfatiza que o CC deve estar
sempre preparado para a cirurgia, e é de suma importância que todos os materiais e
equipamentos estejam em seus devidos lugares, evitando atropelos, que podem expor o cliente
a risco. Destarte, para quem está participando do ato cirúrgico, é desagradável e estressante a
falta de materiais, a qual denota desqualificação e falta de profissionalismo dos indivíduos
atuantes no local. A enfermagem é responsável por gerenciar e coordenar os profissionais que
realizam esse trabalho.
Para o paciente, o centro cirúrgico é um local desconhecido, com procedimentos
cirúrgicos que, muita das vezes, invadem sua privacidade, despertando medo e ansiedade,
tornando-o dependente da ação de terceiros. Por essa razão, o planejamento desse setor se
torna tão relevante.
De acordo com Marquis e Huston (2010), o planejamento é essencial e de extrema
importância, e deve anteceder todas as funções administrativas. Essa ferramenta reconhece
antecipadamente o que fazer; quem o fará; como; quando; e onde será feito. Trata-se de um
processo proativo e deliberativo que reduz risco e incertezas. Quando realizado de forma
eficaz, o gerente pode identificar metas a curto, médio e longo prazo, e, assim, assegurar
mudanças necessárias que a organização necessita para alcançar os objetivos previamente
elaborados.
Outro ponto importante é a liderança, que, em enfermagem, não se difere muito
das outras áreas, por ser um processo que concretiza a administração de pessoal na
organização, compreendendo basicamente gerência ou coordenação de equipes. Na formação
do enfermeiro, com raras exceções, enfatiza-se o cumprimento de ordens e regras, a
responsabilidade inquestionável a ele prescrita e o conhecimento direcionado ao cumprimento
da assistência ao cliente hospitalizado.
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Segundo Figueiredo, Leite e Machado (2006), a equipe de enfermagem é
responsável por atender o cliente em todas as fases da cirurgia: pré-operatório (antes do ato
cirúrgico), transoperatório (durante a cirurgia) e pós-operatório (após a finalização da
cirurgia). Para que haja total eficiência e eficácia nesse processo, o enfermeiro deve
coordenar, gerenciar, realizar programas de treinamento e de educação continuada, verificar o
bom funcionamento do CC e estar constantemente em processo de atualização.
Não se pode deixar de mencionar que é praticamente impossível que não exista
participação do enfermeiro na elaboração do mapa cirúrgico, isso porque ele detém todas as
informações da rotatividade do setor, contribuindo para diminuir possibilidades de suspensões
de atos cirúrgicos.
O trabalho do enfermeiro no CC tem se tornado cada vez mais complexo, na
medida em que há a necessidade de integração entre as atividades que abrangem a área
técnica, gerencial, administrativo-burocrática, assistencial, de ensino e pesquisa, e na
dimensão de sua atuação, por ser um profissional que atua diretamente com uma equipe
diversificada profissionalmente. Sendo assim, esse estudo é relevante para evidenciar a
importância do enfermeiro no gerenciamento e na coordenação do centro cirúrgico,
descrevendo quais os principais problemas que o mesmo enfrenta e delineando, assim,
possíveis soluções.
O presente estudo tem como objetivo avaliar a importância do enfermeiro como
sujeito no gerenciamento do CC, considerando o centro cirúrgico antes e após a gerência de
enfermagem.
2. Enfermagem da gerência à assistência
Por gerenciar profissionais diretamente a ele subordinados, o enfermeiro, muitas
vezes, na tentativa de proporcionar maior proximidade entre os profissionais de enfermagem,
assume um estilo de liderança democrática ou participativa, porém, isso ocasiona conflito
com a administração superior, levando o enfermeiro a moldar seu estilo de liderança para
autocrático. Com isso, a equipe irá apenas executar suas ordens e, em consequência disso,
produzirá quantitativamente bem, mas qualitativamente mal, e sempre sem o conhecimento da
totalidade do trabalho realizado. Em serviços de saúde, é raro encontrar liderança democrática
como modelo de gerência em enfermagem, pois os níveis hierárquicos superiores são os
responsáveis pela elaboração de normas a serem seguidas (KURCGANT et al., 1991).
Segundo Spagnol (2005), o enfermeiro, para gerenciamento da assistência em
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enfermagem, utiliza métodos e estratégias de gestão oriundos da teoria clássica da
administração. De acordo com Marquis e Huston (2010), a teoria clássica da administração
tem sua caracterização pela ênfase na estrutura organizacional, com visão do homem
econômico e pela máxima eficiência. Os autores citam ainda que Henri Fayol, em 1925, foi o
primeiro a identificar as funções administrativas de planejamento, organização, comando,
coordenação e controle.
Em concordância, Silva, Mendonça e Costa (2005), discorrem sobre as atividades
desenvolvidas pelo enfermeiro dentro do seu campo de atuação, abrangendo desde as
gerenciais até as assistenciais. Também são trabalhadas a educação continuada, a pesquisa, a
competência e a eficiência emergente da introdução dos princípios da administração científica
e burocrática, como essenciais para o desenvolvimento de suas atividades no coletivo e na
área hospitalar.
Para que o enfermeiro desempenhe uma gerência inovadora na busca pela
melhoria na qualidade da assistência de enfermagem, com maior satisfação para a equipe e
organização às quais presta serviço, a liderança e a comunicação são estratégias fundamentais.
Além disso, o embasamento teórico consiste em um norteador nesse processo. Dar ênfase na
comunicação é extremamente essencial, pois a mesma aproxima o líder de seus liderados
(GALVÃO et al., 2000).
De acordo com Spagnol (2005), a gerência de enfermagem, especificamente a
desenvolvida no âmbito hospitalar, tem assumido uma relevância significativa na articulação
entre os vários profissionais da equipe, organizando o processo de trabalho da enfermagem
para a concretização de ações junto aos clientes, na busca por melhoria nos serviços
prestados, atendendo, assim, as necessidades das pessoas em processo de doença-saúde. O
autor destaca, também, que na enfermagem o enfermeiro é o profissional legalmente
responsável por assumir as atividades gerenciais, a quem compete a coordenação de auxiliares
e técnicos em enfermagem.
Destarte, Svaldi e Siqueira (2010) mostram que, na prática, a enfermagem
constrói um processo expressivo na área de saúde hospitalar, tomando decisões coerentes e
rápidas conjuntamente com outros profissionais, ou, até mesmo, de forma independente,
contribuindo de maneira significativa para manutenção e recuperação da vida. Os
profissionais de enfermagem conhecem todos os espaços que constituem o ambiente
hospitalar. Os autores acreditam que o enfermeiro tem potencial transformador, devido à
capacidade de pensar, elaborar respostas aos problemas emergentes e agir criativamente na
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busca do equilíbrio, para si e para os demais conjuntos da organização, adquirido no decorrer
da sua atividade realizada como coordenador e gerente de sua equipe.
Na prática, o enfermeiro tem se limitado ao cumprimento de cuidados rotineiros, à
execução de prescrições médicas, às exigências da administração da organização hospitalar. A
administração da assistência de enfermagem tem como centro o cliente é orientada para a
assistência e envolve o planejamento, a direção, a supervisão e a avaliação das atividades
desenvolvidas pelos seus subordinados, visando o atendimento das necessidades dos
pacientes. O planejamento conduz a uma organização do trabalho. Para que isso se efetive,
faz se necessário que os indivíduos responsáveis pela administração e os que levarão a efeito
as propostas, trabalhem de forma integrada. (KURCGANT et al., 1991).
3. Gerência do enfermeiro no centro cirúrgico
O centro cirúrgico é um território desconhecido para o cliente, repleto de pessoas
que expõem e invadem seu corpo. Desta forma, o enfermeiro deve orientar sua equipe para
que os mesmos não se tornem profissionais mecanizados, ao ponto de atender o cliente como
se esses fossem meras máquinas. A comunicação nesse local deve ser pautada e
instrumentalizada, usufruindo de um diálogo que proporcione conforto e equilíbrio emocional
para o cliente nesse momento (FIGUEIREDO, LEITE e MACHADO, 2006).
Para Feldman, Ruthes e Cunha (2008), a criatividade e a inovação são recursos
que os profissionais de enfermagem estão utilizando cada vez mais para a realização de seu
trabalho, inclusive em local repleto de medo e incertezas como o CC. O enfermeiro é o
profissional que aplica essas competências, pois, às vezes, é necessária a busca por soluções
imediatas e inéditas para prestar uma assistência segura, prevendo riscos e aprimorando a
qualidade. Do ponto de vista dos autores, as organizações estão cada vez mais buscando
profissionais com essas competências, aliadas a uma assistência humanizada na prestação dos
serviços.
No entanto, a área de enfermagem, no que diz respeito às atividades assistenciais e
gerenciais, envolve ações com complexidade e especificidade, o que demanda conhecimento e
estudos de modelo de gestão na aquisição de novas ferramentas que possam viabilizar o
trabalho. A tendência nas organizações de saúde é a busca de competências que auxiliem os
profissionais nas suas necessidades, em especial nos serviços de gerência. Cabe, portanto, ao
enfermeiro gestor estar atento e preparado às mudanças, buscando alternativas sustentáveis
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para o serviço de enfermagem, contribuindo com a organização de saúde na melhoria da
gestão, o que impacta o atendimento aos clientes (RUTHES e CUNHA, 2007).
Em busca de técnicas modernas e inovadores, o CC está em constante evolução
tecnológica, utilizando inúmeros equipamentos para suprir o atendimento em diferentes
especialidades médicas. Para isso, a atuação do enfermeiro deve ser baseada em um processo
de trabalho planejado, com uma série de ações integradas, para proporcionar uma assistência
adequada ao cliente, à equipe cirúrgica e de enfermagem, como serviços gerais e de
manutenção, entre outros. Profissionais atuantes no local (SILVA E GALVÃO, 2007).
No centro cirúrgico, a dinâmica do trabalhador, com o relacionamento dos
profissionais que atua na referida unidade, deve acontecer de forma harmoniosa. Sendo assim,
é indispensável um trabalho integrado, com profissionais treinados e capacitados, favorecendo
o enfrentamento das exigências impostas pelo referido ambiente, visando à segurança e ao
bem estar do cliente. O centro cirúrgico é um local fechado, de risco, repleto de normas e
rotinas; considerando o número elevado de procedimentos anestésico-cirúrgicos realizados e a
complexidade da unidade, exige-se do enfermeiro gerente, além de conhecimento científico,
responsabilidade, habilidade técnica, estabilidade emocional, aliados aos conhecimentos de
relações humanas. Dessa forma, favorece-se a administração de conflitos que são frequentes,
em especial devido à diversidade de profissionais que ali atuam (STUMM, MAÇALAI e
KIRCHNER, 2006).
Figueiredo, Leite e Machado (2006) salientam que o enfermeiro que realiza a
gerência do CC, tem relação com toda a organização hospitalar, apesar de se tratar de um
ambiente fechado, de exclusividade para os profissionais que ali trabalham, e para os clientes
que irão ser submetidos a algum procedimento cirúrgico. O enfermeiro tem que estar em
constante comunicação com a unidade de recuperação pós-anestésica, a central de material e
esterilização, a unidade de terapia intensiva, os quartos privativos, as enfermarias, a
portaria/recepção da instituição etc., para que assim ele possa dimensionar as cirurgias, bem
como os clientes pós-cirúrgicos.
De acordo com Maquis e Hustun (2010), o conflito é resultante da discordância
interna ou externa por diferenças de ideias, valores ou sentimentos entre duas ou mais
pessoas. Uma vez que a liderança tem relações interpessoais com indivíduos que apresentam
uma série de valores, como antecedentes e metas diferentes, diversificação de valores
econômicos e profissionais, escassez de recursos etc., são recorrentes os conflitos nas
organizações. Para resolver esses conflitos, o enfermeiro deve conhecer sua origem,
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minimizar as condições que influenciem situações conflitantes, realizar o mapeamento das
responsabilidades, promover métodos de negociação, estabelecer consenso entre as partes,
entre outros. No entanto, os autores enfatizam que pouco conflito resulta em estagnação
organizacional e pode imobilizar os funcionários. Assim, o enfermeiro deve ter uma gestão
estratégica pré-definida e, para isso, o planejamento é crucial.
4. Cotidiano da enfermagem no centro cirúrgico
O estilo de vida contemporâneo, aliado às condições de trabalho A que muitos
profissionais de saúde estão expostos, tornou-se uma das preocupações e que podem
influenciar o bem estar psicossocial do indivíduo. Entre os problemas mais comuns, está o
estresse, que coloca diretamente em risco a saúde dos membros da organização, e tem como
consequência o desempenho ruim, a baixa moral, a alta rotatividade, o absenteísmo e a
violência no ambiente de trabalho.
Em se tratando de enfermeiros atuantes em ambientes fechados, o risco de
desenvolver problemas de saúde é ainda maior. Segundo o estudo realizado, a maioria dos
trabalhadores de enfermagem encontram-se em uma exposição intermediária ao estresse
ocupacional. (SCHMIDT, 2009).
Por isso, dá-se importância a programas que criem um ambiente motivador e
diferenciado. O enfermeiro gerente do centro cirúrgico, como cita Svaldi e Siqueira (2010),
deve apoiar-se nas relações pessoais, sendo essencial o cultivo e o fortalecimento dos valores
dos seres humanos, entre os quais, o respeito, a gentileza e a amorosidade, a humanidade, os
quais estão além do cumprimento das regras e leis trabalhistas.
Além das funções assistenciais competentes exclusivamente aos enfermeiros, o
desenvolvimento de procedimentos de intervenção vêm demandando novas práticas não
relacionadas diretamente ao cuidado, como o controle de infecção hospitalar, o controle de
qualidade, a captação de órgãos, a gerência da higiene hospitalar, entre outros. Porém, essas
novas funções não devem de forma alguma desmerecer ou atrapalhar os serviços assistenciais
ao cliente (BARTOLOMEI E LACERDA, 2006).
Segundo Santos, Garlet e Lima (2009), a gerência de enfermagem tem sido
amplamente marcada por questões burocráticas inerentes ao desenvolvimento da profissão,
como a organização do trabalho e o gerenciamento do setor saúde, especialmente no âmbito
hospitalar. Constituíram-se historicamente, sob influência taylorista/fordista da administração
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clássica e do regime burocrático. Para que isso seja minimizado e se tenha uma atividade
gerencial mais eficiente, há a necessidade da incorporação de novos conhecimentos e
habilidades ao exercício gerencial do enfermeiro, como competência relacional, ética, política
e humanista.
Sendo assim, o bom desempenho do CC está diretamente condicionado ao bom
gerenciamento e coordenação realizado pelo enfermeiro, combinados ao bom estado de
conservação dos materiais, instalações físicas, equipe especializada e recursos tecnológicos.
Os autores propõem, para maior efetividade nos processos desenvolvidos, a criação de
programas de avaliação, com base em critérios previamente escolhidos, garantindo, ao
enfermeiro gestor, a verificação da qualidade da sua gestão. Para isso, podem ser adotados
indicadores, nos processos, de resultados e da estrutura, destarte, o enfermeiro poderá melhor
desenvolver seu plano de atuação ou corrigir erros, melhorando a gestão do centro cirúrgico
(DUARTE E FERREIRA, 2006).
Muitas atividades são desenvolvidas pelo enfermeiro do centro cirúrgico, e o seu
estilo de liderança condiciona diretamente o sucesso ou fracasso de suas atividades, como
enfatiza Spagnol (2005). Por trabalhar em um local em que há equipes multiprofissionais
atuando, o bom exercício de sua gerência é fundamental. Para isso, o enfermeiro precisa
deixar de supervalorizar somente o controle, a hierarquia, a ordem e a impessoalidade, para
que assim possa ter uma prática que viabilize um processo de trabalho com base no diálogo,
na participação e no debate junto à equipe, adotando, então, melhores decisões.
Durante a graduação, o estudante de enfermagem cursa várias disciplinas, em sua
grande maioria, direcionadas ao processo saúde/doença; poucos são as destinadas aos
processos gerenciais e administrativo/burocrático. De acordo com Alencar, Diniz e Lima
(2004), o enfermeiro tem sido, no decorrer de sua história, associado ao conhecimento
empírico, conhecimento científico, realizando suas atividades não apenas em normas
disciplinares, mas também de acordo com a repetição decorrente de sua atuação. A
enfermagem torna-se ciência em saúde, passando a exigir dos profissionais de enfermagem,
procedimentos não mais mecanizados e, sim, técnicas sistematizadas e recursos gerencias em
saúde.
Os hospitais estão atendendo pacientes cada vez mais graves, e estes, em alguma
fase de seu tratamento, dependerão de procedimentos realizados dentro do CC. É um
equívoco grave considerar o CC como apenas mais uma unidade do hospital; este deve ser
visto como o coração do mesmo, o qual, não raramente, recebe pacientes em condições de
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morte iminente. Portanto, um planejamento deve ser dimensionado para atender os casos
previstos e também os imprevistos. O enfermeiro gestor do CC tem, por atividade, gerenciar o
local, que, por sua vez, deve estar prontamente preparado para atender essa demanda.
Os novos modelos de gestão têm exigido uma postura inovadora por parte dos
gestores, e, portanto, é necessário desenvolver novas competências que contribuam para
ampliação da vida organizacional, bem como para o reconhecimento do potencial dos
profissionais que integram a equipe de saúde. É imprescindível, para a qualidade, a eficácia
no funcionamento do setor.
5. Metodologia
O interesse pela investigação acerca da importância do enfermeiro na gestão do
centro cirúrgico deu-se por meio da experiência enquanto estagiário do centro cirúrgico. A
presente pesquisa pode ser considerada descritiva, de abordagem qualitativa, realizada por
meio de dois questionários estruturados abertos.
De acordo com Silva e Menezes (2001, p. 20):
a pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não podem ser traduzidas em números. A
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o
pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a
analisar os seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os
focos principais da abordagem.
Minayo (2004) ressalva que a pesquisa de natureza qualitativa operacionaliza as
aspirações, valores e atitudes, uma vez que os fenômenos não podem ser quantificados. Por
isso, essa abordagem é essencial nesta pesquisa, para que assim possa descrever com clareza
as atividades gerenciais desenvolvidas pelo enfermeiro do centro cirúrgico, e, ainda,
investigar a realidade antes e após sua gerência.
Destarte, Silva e Menezes (2001) enfatizam que a pesquisa descritiva visa
descrever as características de determinada população, fenômenos ou o estabelecimento de
relações entre variáveis, envolvendo o uso de técnicas padronizadas de coletas de dados como
o questionário e a observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento.
O universo da pesquisa se refere ao centro cirúrgico pesquisado, que pertence a
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uma instituição hospitalar localizada na Zona da Mata mineira, registrada no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde em 5 de junho de 2002. É uma entidade beneficente
sem fins lucrativos, e a administração é privada, com gestão municipal. Trabalham neste local
em torno de 298 profissionais (médicos, equipe de enfermagem, limpeza, nutrição e dietética,
serviço social, administração, farmácia e outros).
O nível de atenção é ambulatorial e hospitalar de média complexidade, com
atendimento por meio de demanda espontânea e referenciada. A instituição presta atendimento
em diversas especialidades (clínica geral, urgência e emergência, ortopedia, neurologia,
cardiologia, ginecologia e obstetrícia, pediatria e neonatologia, fisioterapia,
otorrinolaringologia, nefrologia, mastologia, ultrassonografia, proctologia, psiquiatria e
psicologia, endocrinologia, hematologia, infectologia, oftalmologia, anestesiologia etc.). A
instituição realiza procedimentos cirúrgicos nas áreas de angiologia, cirurgia geral, cirurgias
de urgência e emergência, cirurgia plástica, dermatológica, ginecológica, obstétrica, urológica
e proctológica, videolaparoscópica, ortopédica, neurológica, odontológica,
otorrinolaringológica, oftalmológica, bucomaxilofacial etc.
Para a entrevista, foram utilizados dois questionários estruturados abertos, um
aplicado ao enfermeiro gerente do centro cirúrgico, contendo 14 questões, e o outro, com 12
questões, aplicado à equipe de enfermagem (técnicos e auxiliares de enfermagem) da referida
instituição. Os aspectos éticos foram baseados na Resolução 196/96, que norteia a prática de
pesquisas.
Destarte, Boni e Quaresma (2005) relatam que as entrevistas estruturadas são
elaboradas de modo prévio, com o intuito de não fugir do foco do que se esteja perguntando.
Esse zelo permite que as diferenças sejam entre os respondentes, e não em relação às
perguntas. Os mesmos autores dão ênfase à técnica das entrevistas abertas, que atende, em
especial, às pesquisas com finalidades exploratórias. Deve ser usada quando o pesquisador
tem o interesse em descobrir o máximo acerca do tema pesquisado. Para isso, é fundamental
que o pesquisador seja apenas ouvinte.
A amostra foi extraída do número de profissionais de enfermagem que atuam no
centro cirúrgico do referido hospital, totalizando 24 (vinte e quatro) profissionais (um
enfermeiro com curso superior e vinte e três técnicos e auxiliares em enfermagem). A mesma
compreendeu 1 (um) enfermeiro com curso superior e 10 (dez) técnicos e auxiliares, estes, por
sua vez, foram entrevistados de forma aleatória, de acordo com sua presença no plantão.
A pesquisa foi realizada por meio de uma reunião agendada previamente com o
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enfermeiro e equipe de enfermagem em questão, para que eles pudessem ser apresentados à
finalidade da pesquisa. Após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, os mesmos responderam o questionário. A discussão dos dados foi feita por meio
das questões emergentes da coleta de dados.
A tabela abaixo mostra a relação dos informantes entrevistados para constituição
do corpus desta pesquisa.
Tabela 1 – Descrição dos sujeitos
Número Informante Função Tempo
1 I1FET3,8 Enfermeiro 3,8 anos
2 I2FTT6 Técnico em enf. 6 anos
3 I3FTT0,4 Técnico em enf. 0,4 ano
4 I4FTT2 Técnico em enf. 2 anos
5 I5FTT2,7 Técnico em enf. 2,7 anos
6 I6FTT0,1 Técnico em enf. 0,1 ano
7 I7FTT1 Técnico em enf. 1 ano
8 I8FAT2 Auxiliar em enf. 2 anos
9 I9FTT1,6 Técnico em enf. 1,6 anos
10 I10FAT2 Auxiliar em enf. 2 anos
11 I11FTT0,5 Técnico em enf. 0,5 ano
Fonte: o próprio autor.
Os rótulos utilizados acima apresentam a numeração, a função na equipe, e o
tempo de atuação; dessa forma, em I1FET3,8, I1 é o informante número 1; FE, função
enfermeiro; T 3,8 é o tempo, em anos, de atuação na equipe.
Durante as entrevistas, o pesquisador buscou proporcionar um ambiente tranquilo,
privativo, para que os entrevistados pudessem relatar a realidade vivenciada no local, com o
objetivo de assegurar o máximo de informações.
6. Resultados e Discussões
O papel do enfermeiro no CC tem se tornado mais complexo a cada dia, o qual
necessita integrar cada vez mais as atividades técnicas, administrativo-burocráticas,
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assistenciais e de ensino e pesquisa. Concomitante a isso, deve-se levar em consideração a
humanização necessária e de ação central no processo do cuidado e de gerência (FONSECA E
PENICHE, 2009).
Nas referências científicas estudadas, o enfermeiro atuante no centro cirúrgico
desempenha várias funções. Por isso, foi perguntado ao enfermeiro quais funções ele
desenvolve enquanto gerente no centro cirúrgico? De acordo com o enfermeiro (I1FET3,8):
“coordenar e gerenciar o setor, provendo a realização de procedimentos cirúrgicos”.
Para Figueiredo, Leite e Machado (2006), o enfermeiro é responsável por:
coordenar, orientar e avaliar todo trabalho de sua equipe; realizar programas de treinamentos
para a equipe de enfermagem e de limpeza; fazer escalas de pessoal (programação de férias,
substituição de pessoal e de sala); certificação do bom estado de funcionamento dos materiais
e da limpeza adequada do CC; é responsável pelo equilíbrio físico e mental da equipe e
diretamente responsável pelo sucesso ou fracasso da equipe.
Por ser um ambiente complexo, a gestão do enfermeiro se apresenta como uma
ferramenta significativa para o bom funcionamento do CC. Diante disso, uma pergunta de
grande relevância foi feita ao mesmo para compreensão desse gerenciamento: que ferramenta
de trabalho é usada por ele para gerenciar os serviços do setor? Na resposta do enfermeiro
(I1FET3,8): “relatórios (manutenção de equipamentos, relatório de sala, número e
classificação de cirurgias, agendamento cirúrgico), chek list, gráficos, educação em serviço
etc.”.
Para verificar quanto aos programas de treinamento e educação continuada, foi
consultada a equipe de enfermagem, questionando-se: existe algum programa de treinamento
oferecido pelo enfermeiro ou instituição hospitalar no CC? 80% disseram que sim: “existe
educação continuada, porém poderia voltar mais para os assuntos relacionados ao CC”
(I8FAT2); “educação continuada oferecida pelo hospital” (I7FTT1); “palestras, programas de
treinamento, cursos semanais e outros”(I9FTT1,6).
Apenas 20% mencionaram não ter, exemplificando: “até o momento que estou
aqui não participei de nada” (I3FTT0,4); “também não tenho tempo de participar”
(I5FTT2,7).
O centro cirúrgico deve ser visto como o coração do hospital e não apenas como
mais uma unidade. Na contemporaneidade, os hospitais atendem pacientes cada vez mais
graves, os quais, em alguma fase de seu tratamento, serão pacientes cirúrgicos. Por isso, o
enfermeiro deve realizar planejamento, desenvolver métodos organizacionais de trabalho,
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relatórios técnicos, agendamento adequado, protocolo local, lista atualizada de matérias e
rouparia e escala de pessoal (VECINA NETO E MALIK, 2011).
Para comparar o centro cirúrgico antes e após a gerência de enfermagem, fez-se
necessário perguntar: como era o clima organizacional (equipe médica e de enfermagem)
antes da sua gerência no setor? E como é atualmente o clima organizacional no centro
cirúrgico? Segundo o enfermeiro (I1FET3,8): “o setor fluía sob o comando dos médicos, o
que causava divergências e confusões, cada um pensava e agia de acordo com sua
necessidade, isto foi mudando aos poucos com a gerência de enfermagem”.
Segundo a equipe coordenada pelo enfermeiro no CC, 90% disseram que o clima
é bom: “tudo agora flui de forma harmoniosa, antes era muito bagunçado” (I10FAT2); “agora
é ótimo, a equipe de enfermagem é bem unida no local, exceto a médica” (I9FTT1,6);
“mudou muito com a equipe de enfermagem, o coordenador é responsável por isso”
(I8FAT2); “cansativo, estressante, alegre, divertido” (I7FTT1); “é bom, mas pode melhorar,
porque sempre temos que buscar melhoria” (I2FTT6).
Marquis e Huston (2010) enfatizam que o clima organizacional passa por uma
soma de valores, linguagens e percepções da cultura organizacional da instituição. O clima
organizacional é a forma como os empregados percebem a instituição, podendo ser precisa ou
imprecisa. O gestor deve negociar os interesses, atentando-se para as necessidades,
contemplando o benefício da equipe.
Como diagnóstico situacional de mudança, foi questionado à equipe de
enfermagem: o que mudou com a gerência no centro cirúrgico? De acordo com as respostas,
80% fizeram referência a uma melhoria significativa: “conseguimos otimizar o trabalho e
ampliar o setor, passamos da média de 360 cirurgias por mês para 850 por mês, conquistamos
nosso espaço e respeito da equipe” (I1FET3,8); “a organização dos profissionais e
procedimentos cirúrgicos” (I3FTT0,4); “muita coisa mudou, o trabalho em equipe, a forma
que éramos tratados pelos médicos, melhorou o número de instrumentais cirúrgicos,
equipamentos estragam menos”(I2FTT6); “há maior organização no funcionamento do centro
cirúrgico” (I10FAT2).
Entretanto, 20% disseram que não ocorreram mudanças significativas: “até o
momento nada, principalmente com a equipe médica, se acham melhor que todos”
(I5FTT2,7).
A despeito dos outros profissionais da equipe multiprofissional, os enfermeiros
são responsáveis por ações voltadas à manutenção do ambiente, regularidade dos processos e
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burocracias da unidade e representação da instituição frente ao cliente, o que exige, do
mesmo, um conhecimento generalista e um senso de liderança, a fim de apoiar e auxiliar as
várias frentes de trabalho (VECINA NETO e MALIK, 2011).
Líderes são constantemente alvos de críticas, principalmente em ambiente onde há
profissionais de formação diferenciada atuando. Diante disso, foi questionando ao enfermeiro:
liste os principais problemas rotineiros vivenciados enquanto gerente do local? De acordo
com o enfermeiro (I1FET3,8): “impontualidade médica, escala de funcionários que não
favorece a realização de cirurgias no horário de almoço e fins de semana, manutenção
preventiva de equipamentos não efetiva e a realização de procedimentos eletivos não
agendados”.
Questionando a equipe de enfermagem, a qual é coordenada pelo enfermeiro:
quais os principais problemas vivenciados dentro do CC? Dentre as respostas: “conflito com a
equipe médica, alguns são ignorantes, não respeitam os demais profissionais” (I10FAT2);
“excesso de cirurgias, conforme o horário há pouco profissionais” (I11FTT0,5); “falta de
paciência” (I5FTT2,7); “desorganização, principalmente da parte médica” (I4FTT2);
“discussão entre médicos, falta de planejamento na hora de operar em finais de semana e à
noite” (I2FTT6).
De acordo com Fonseca e Peniche (2009), a falta de profissionais com
qualificação para prestar uma assistência de qualidade gera complicações tanto para equipe
médica, quanto para enfermagem. Ter uma equipe preparada e suficientemente adequada ao
número de procedimento, minimiza conflitos e favorece a organização das ações
desenvolvidas no local.
Liderar está além de dar ordens, e não necessariamente abrir mão das mesmas.
Quanto a isso, foi questionado: qual estilo de liderança o enfermeiro preconiza em sua
gerência? Autocrático, democrático ou participativo? Por quê? De acordo com enfermeiro
(I1FET3,8): “democrático. Quando os liderados são convidados a participar dos processos
decisórios, se tornam mais efetivos ao realizar tarefas e veem o enfermeiro não como chefe,
mas como líder”.
A título de verificação de como ocorre a decisão/escolha no local, foi perguntado
à equipe de enfermagem: Há participação da equipe de enfermagem na da tomada de decisão
no CC? Entre as repostas, 70% relataram que sim: “buscamos tomar a decisão em consenso e
de acordo com o critério da maioria” (I3FTT0,4); “o enfermeiro preconiza isso, acata muitas
solicitações dos profissionais” (I10FAT2); “às vezes damos opiniões e elas são aceitas”
15
(I2FTT6); “sempre que possível, sim, o enfermeiro procura ouvir a equipe de enfermagem”
(I9FTT1,6).
Entre os pesquisados, 30% disseram que não: “a decisão acontece apenas com os
chefes do hospital” (I11FTT0,5); “a direção do hospital não dá aberturas para isso”
(I5FTT2,7).
Os novos modelos de gestão exigem uma certa postura por parte dos enfermeiros
gestores, como o desenvolvimento de novas habilidades e competências, ampliando a visão da
organização e reconhecendo a potencialidade dos profissionais que integram a equipe de
saúde (BRITO et al., 2008).
Em ambientes de trabalho, de modo geral, é comum surgirem conflitos, no que se
refere aos profissionais de diferentes formações. O que é feito para solucionar estes conflitos?
O enfermeiro destacou (I1FET3,8): “em todos os conflitos temos duas versões e a
subjetividade de cada um, é preciso manter a serenidade, ouvir as versões, e sabiamente
oferecer sugestões que minimizem o conflito, buscando ser sempre justo”.
Para questionar a equipe de enfermagem sobre esses conflitos, uma vez que o CC
é um local estressante e cansativo, foi necessário perguntar: como o coordenador os auxilia
para solucionar os conflitos, caso ocorram? 100% dos entrevistados mencionaram receber
auxílio do coordenador do CC para solucionar os conflitos: “procura ouvir ambas as partes,
solucionar o conflito da melhor forma possível, de acordo com os princípios éticos e legais da
profissão” (I10FAT2); “trabalhar de forma que os mesmos não aconteçam, mas caso haja,
ouvir as partes e tentar resolver o problema” (I9FTT1,6); “chamando ambas as partes para
conversar e tentar chegar a uma solução” (I5FTT2,7).
De acordo com uma análise de Marquis e Huston (2010), gestores, antes de
interferir em um conflito, devem ser capazes de levantar dados precisos acerca da
problemática e, posteriormente, criar uma solução que seja boa para todos os envolvidos.
Embora isso nem sempre seja possível, a meta é solucionar o problema de modo a diminuir as
diferenças de percepção entre os envolvidos. Um bom líder reconhece a estratégia mais
adequada para resolver ou administrar conflitos a cada situação.
Diariamente, para desenvolver sua prática gerencial, o enfermeiro coordenador do
CC tem que cumprir determinações de gerências superiores. Sendo assim: em que nível
organizacional (hierarquia) ele encontrou maior dificuldade para desenvolver seu trabalho? O
enfermeiro enfatizou claramente que (I1FET3,8):
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não se trata de hierarquia onde encontrei e encontro maior dificuldade, trata-
se da classe médica. Hierarquicamente entendo que estamos no mesmo nível
e devemos trabalhar em parceria; o fato é que a maioria acredita estar acima
do enfermeiro.
Os profissionais de enfermagem vêm ocupando cada vez mais cargos com maior
responsabilidade, seja no âmbito gerencial ou no assistencial, atuando com ênfase na gestão
de recursos humanos, financeiros e materiais. Isso acontece em razão de sua formação
generalista, e, também, conduzidos pelos cursos de especialização. Dessa forma, esses
profissionais detém conhecimentos suficientes para assumir cargos antes chefiados apenas por
médicos (BRITO et al., 2008).
No centro cirúrgico, atuam profissionais de diferentes formações: médicos,
enfermeiros, cada qual desempenha sua função de acordo com sua competência legal e
técnica. Por isso, com que tipo de profissionais se encontra a maior dificuldade para
desenvolver o trabalho? E o que o profissional de enfermagem faz para lidar com esses
problemas? Segundo o enfermeiro (I1FET3,8): “médicos. Muito diálogo e embasamento
cientifico”.
Para uma avaliação detalhada, foi questionado à equipe de enfermagem: você se
relaciona bem com todos os profissionais do centro cirúrgico? Por quê? Com análise das
respostas, 100% relataram que sim, dizendo: “trabalhar aqui dentro do centro cirúrgico é
muito bom” (I8FAT2); “me acho compreensiva com os outros, embora eu fale muito”
(I2FTT6); “porque aqui dentro do CC, um ambiente tão estressante, ter uma equipe que se
relaciona bem é fundamental” (I10FAT2).
Para as autoras Schmidt e Dantas (2006), a satisfação no trabalho está relacionada
à qualidade e à produção relativamente altas dos serviços prestados, no entanto, o fator status
profissional, pode interferir nesse processo. A valorização profissional colabora para o
entendimento da essencialidade de todos na equipe de saúde, permitindo assim, harmonia na
execução das atividades.
Partindo do pressuposto da importância da gerência de enfermagem em serviços
de saúde: como o enfermeiro vê hoje a importância do seu trabalho no centro cirúrgico? De
acordo com o enfermeiro (I1FET3,8): “imprescindível, como os demais profissionais que
atuam no local”.
Foram realizados os seguintes questionamentos à equipe: De acordo com sua
percepção na equipe de enfermagem, acredita que o enfermeiro como coordenador do CC é
importante para o bom funcionamento do mesmo? Por quê? Todos mencionaram que sim,
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afirmando: “para manter a ordem; se apenas médico coordenasse haveria muito desrespeito
com a equipe de enfermagem” (I8FAT2); “muito, pois antes era desorganizado, agora tudo é
bem administrado, extremamente importante” (I10FAT2); “faz de tudo para ajudar, muito
calmo, olha o lado de cada um” (I11FTT0,5); “mas não está sendo do jeito que deveria,
poderia ajudar mais a equipe de enfermagem” (I3FTT0,4); “pois, se deixar por conta dos
médicos, nós nem almoçamos” (I2FTT6).
Caregnato e Lautert (2005) abordam que grande parte do desentendimento dentro
das unidades cirúrgicas é originário do estresse, e principalmente pelo fato de alguns
membros da equipe sentirem-se mais importante que os demais. No entanto, esse
desequilíbro, originário dos fatores de estresse, deve ser enfrentado por meio de estratégias
criadas para cada um.
Por se tratar de um ambiente em que são realizados procedimentos complexos, o
estresse ocupacional é comum. Enquanto coordenador, você vivencia isso rotineiramente?
Que intervenções utiliza para minimizar agravos desse problema? De acordo com o
depoimento do enfermeiro (I1FET3,8):
Vivencio. Funcionários que apresentam sinais agudos de estresse são
escalados em salas cirúrgicas com menor fluxo. Os demais colegas evitam,
em sua maioria, situações estressoras; em casos extremos é necessário que o
colaborador seja encaminhado a um setor menos estressante.
O estresse dentro do CC é comum. Estudos demonstram que as consequências
mais comuns são: absenteísmo, prejuízo para a qualidade de trabalho de enfermagem, maior
número de acidentes de trabalho, desinteresse no desenvolvimento profissional, apatia, o que
reflete diretamente no equilíbrio emocional da equipe (SCHMIDT E DANTAS, 2006).
Como nas diversas áreas em que se faz necessária a gestão de um líder, na
enfermagem, sua participação também é muito importante. O enfermeiro foi questionado
sobre quais técnicas gerenciais ele utiliza para administrar o setor. Foi obtido como resposta
(I1FET3,8): “gerenciamento de processo e pessoas”
De acordo com Galvão et al. (2000), o enfermeiro deve usufruir de todas a
técnicas que podem auxiliar sua prática gerencial, no entanto, é fundamental o uso da
comunicação, pois esta permite a adoção de novos métodos de trabalho, e que sua equipe
tenha um vínculo maior de colaboração. A gerência eficaz e eficiente, aliada à comunicação,
permite ao enfermeiro promover o gerenciamento da assistência de enfermagem, dos
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processos rotineiros e das atividades pertinentes a sua equipe de trabalho no contexto
hospitalar.
Dentro do campo de atuação dos profissionais de enfermagem, uma das atividades
de cunho essencial é o registro. Quanto a isso, quais os recursos você usa para registro e
controle e como estes são realizados? Segundo o enfermeiro (I1FET3,8):
Mapas de processos, organograma e livros de registro, avaliação individual
de funcionário e feedback, são realizados pelo enfermeiro. O funcionário se
autoavalia na presença do enfermeiro, podendo este intervir sempre que
necessário.
Portanto, através dos relatos, percebe-se que o enfermeiro tem como funções
administrar, gerenciar, coordenar, avaliar, desenvolver pesquisas e gerar educação em saúde.
No entanto para que haja sucesso nesse processo, não basta apenas executar regras, pois a
participação da equipe tem influência positiva e negativa nesse processo. A prática de
gerenciamento do enfermeiro está vinculada a todo funcionamento do setor no qual está
inserido, não significando que o mesmo deva exercer suas atividades restritas apenas ao seu
setor, mas que a unidade hospitalar deve ter comunicação direta e indireta com todos os
setores envolvidos.
7. Conclusão
Durante a pesquisa, pode-se perceber que o enfermeiro, enquanto gestor no
gerenciamento do centro cirúrgico, atua com profissionais de formações diferenciadas, que se
torna um desafio para sua prática. Por isso, é fundamental que este tenha subsídios teóricos e
vivências práticas para gerenciar a assistência junto a sua equipe, sendo esse um profissional
muito importante na coordenação do CC.
Evidenciou-se nessa pesquisa, também, que a equipe de enfermagem tem uma
percepção positiva do papel exercido pelo enfermeiro no âmbito da gerência do CC,
enfatizando o quanto é importante que haja um profissional liderando não apenas a equipe,
mas organizando, também, o fluxograma dos procedimentos cirúrgicos realizados no setor.
A enfermagem tem um papel importante no contexto hospitalar e, cada vez mais,
vem ocupando cargos de destaque. Entretanto, as competências administrativas vão sendo
aprimoradas ao longo dos anos de exercício da profissão e com os cursos de especialização,
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devido à deficiência de disciplinas na graduação direcionadas ao processo gerencial, uma vez
que muitas abordam apenas a prática assistencial.
É notório que, para coordenar uma equipe, deve-se levar em consideração o
contexto no qual os indivíduos estão inseridos e a cultura organizacional da empresa. No
entanto, para solucionar conflitos e prover subsídios para administrar os mesmos, o
embasamento científico tem sido uma ferramenta essencial, preparando o líder para planejar
sua prática. Assim, com recursos suficientes, o enfermeiro coordenador procederam a sua
gerência de maneira inovadora, contemplado toda a equipe.
Para que haja melhoria em sua gerência, o enfermeiro gestor do CC deve trabalhar
a relação interpessoal com sua equipe, desenvolver suas competências, aprimorar suas
habilidades, buscar ativamente programas e ou cursos de especialização/aperfeiçoamento,
desempenhar uma gestão inovadora, usufruir da comunicação com todos os profissionais
atuantes no CC e implementar as mudanças requeridas dentro de suas competências, de
acordo com a instituição.
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