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PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRAQUARA
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
LÍNGUA PORTUGUESA
ELABORAÇÃO:Luciane Vilar Possebom
COLABORAÇÃO:
Eliane Mazepa Pires fabro
Estela Maria Ribeiro Gomes
Irene de Fátima da Luz Cordeiro
Luciane da Silva Barbosa
Meire Gimenes Freitas
Rosenir de Paula Neves
Sirley de Souza Santos de Moraes
Veronilda Lima Guimarães
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Luciane Vilar Possebom
CONSULTORIA
Suzette P. Bornatto
PIRAQUARA
2. 6 LÍNGUA PORTUGUESA
2.6.1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: o ensino de Língua Portuguesa - princípios da alfabetização e do letramento dos sujeitos.
A leitura e a escrita, o aprendizado formal da língua padrão, bem como
outras aprendizagens, estão diretamente relacionadas ao “fazer humano” e
este, por sua vez, é produzido nas relações sociais construídas
historicamente. Sendo assim, o ensino da Língua Portuguesa deve ter como
princípio situações reais de uso da língua, isto é, é fundamental questionar-se
sobre o papel da língua escrita na sociedade moderna que se caracteriza pelo
grafocentrismo1.
A relevância da escrita como um fator que possibilita o desenvolvimento
cognitivo do indivíduo e sua inserção nas sociedades letradas há muito tem
sido identificada e discutida por pesquisadores e educadores. Neste cenário,
o papel do ensino da leitura e da escrita destaca-se, já que é na escola que o
contato com o sistema de escrita ocorre de forma mediada e sistematizada.
É a partir dessa reflexão que se aponta a necessidade de se (re)
discutir os conceitos sobre alfabetização.
Os conceitos atribuídos aos termos alfabetizado, (que sabe ler e
escrever) analfabeto (estado ou condição de quem não sabe ler) e
alfabetização (ato de ensinar a ler e escrever) foram, por um longo tempo,
suficientes para explicitar as concepções e os princípios do ensino de Língua
Portuguesa nas séries iniciais do ensino fundamental.
Atualmente, na literatura educacional se ampliam tais conceitos e se
intensificam discussões sobre o analfabetismo funcional, ou seja, se critica
uma alfabetização que “ensina a ler e escrever” e, no entanto, não habilita os
sujeitos a fazer uso coerente da leitura e da escrita, compreendida como
prática social cotidiana.
Sendo assim, defende-se aqui o ensino de Língua Portuguesa cujos
princípios e fundamentos contemplem não apenas o acesso ao código e sim o
1 Segundo SOARES, a sociedade atual é grafocêntrica, ou seja, nela se privilegia a cultura letrada e o papel da oralidade é secundário.
pleno domínio da leitura e da escrita, isto é, o que se defende nesta Proposta
Curricular são os princípios do letramento.
Quanto ao conceito mais amplo de letramento dos sujeitos, este deve
ser compreendido sob a ótica do uso efetivo da leitura e da escrita, em todas
as práticas sociais em que estas se fazem presentes, e não apenas naquelas
escolarizadas. Essa concepção defende a aprendizagem da leitura e da
escrita de modo que o sujeito não apenas saiba ler e escrever – seja
alfabetizado – mas também seja capaz de exercer práticas sociais de leitura e
de escrita que circulam na sociedade, por meio da diversidade de gêneros
textuais orais e escritos.
Para maior explicitação do afirmado, abaixo há alguns exemplos da
diversidade de gêneros textuais (escritos) presentes na sociedade.
Carta do Leitor
Ciência Hoje das crianças. Ano 18 n ° 157, maio de 2005.
Receita
PALHA ITALIANA
INGREDIENTES: 1 pacote de biscoito tipo maisena;3 colheres de sopa de chocolate em pó;1 lata de leite condensado;1 colher sopa de margarina;
MODO DE PREPARO:Corte os biscoitos todos em pequenos pedaços, reserve.
Misture em fogo baixo o leite condensado, o nescau e a margarina, quando estiver em ponto de brigadeiro misture os biscoitos cortados, mexa bem até incorporar todo o biscoito.
Unte com manteiga uma travessa e espalhe o creme sobre ela, espere esfriar corte em quadradinhos e passe no açúcar.Disponível em: http://tudogostoso.uol.com.br/receita/21437-palha-italiana.html
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Notícia
Tietagem "barra" Seleção em aeroporto de Paris 20/08/2007 12:01Fonte: Terra/Últimas
Parte da Seleção Brasileira de futebol chegou nesta segunda-feira a Paris, de onde seguem caminho para Montpellier, local do amistoso contra a Argélia na quarta-feira. Os jogadores não escaparam da tietagem e foram encurralados por fãs nos corredores do aeroporto. Partiram de São Paulo, o treinador Dunga, o lateral Kléber, do Santos, e os zagueiros Miranda e Alex Silva, do São Paulo. Passageiros do mesmo vôo abordaram os atletas após a saída do avião, tentaram tirar fotos e conseguir autógrafos. Funcionários da companhia aérea e a polícia local repreenderam os torcedores e conseguiram abrir caminho para os atletas, que embarca às 13h45 (de Brasília) para Montpellier. Disponível em: http://ci.plugar.com.br/cgi
Para que se efetive o trabalho com os gêneros textuais é importante
considerar o ensino da Língua sob o paradigma do “uso-reflexão-uso”, isto é,
todo o trabalho nesta área do conhecimento, se embasa nos usos da língua
escrita na sociedade. Estão descartados os textos “cartilhescos”, a
decodificação – por si mesma – e o trabalho com apenas um gênero ou tipo
textual.
No entanto não se pode esquecer que o domínio da língua escrita
envolve dois aspectos fundamentais: o domínio do código – convencionado
pela construção social e histórica dos homens e a prática de leitura e
produção de textos reais. Sendo assim, é necessário retomar os conceitos e
os princípios que orientam o fazer pedagógico na ótica da alfabetização
(ensino e aprendizagem do sistema de escrita alfabético) e do letramento (a
leitura e a escrita como prática social humana).
A alfabetização se define, nesse conjunto teórico, como aprendizagem
do sistema de escrita alfabético, ou seja, dos aspectos microestruturais do
texto escrito: sílabas, letras, diacríticos2. Como afirma (SOARES, 2006) “é o
processo decifrativo do código na leitura e o processo composicional do
código na escrita”, isto é, como foi afirmado acima, se revela na apropriação
do Sistema de Escrita Alfabético (SEA) e de outros aspectos da linguagem
escrita, pressupondo decodificação no sentido singular. Portanto, a decifração
do código é um dos componentes do ensino da língua escrita.
No Brasil, durante muito tempo, o predomínio das discussões sobre o
ensino da leitura e da escrita estava centrado nos métodos de alfabetização,
provocando conflitos entre os chamados métodos analíticos e sintéticos e
chegando a combinação entre estes, gerando, por exemplo, o ensino inicial
da leitura e da escrita pela palavração.
Os métodos, quaisquer deles, não solucionavam as diferenças
individuais na aprendizagem inicial da língua escrita e, na tentativa de
superação desse problema, surgiu o conjunto de pré-requisitos para uma
aprendizagem bem sucedida, baseados em aspectos motores, de percepção
e de domínio da linguagem oral. Estes pressupunham a apropriação pela
repetição, ou “treino”, como se revela no exemplo abaixo:
2 São diacríticos: o acento agudo, circunflexo, grave (crase) e os sinais gráficos cedilha, til, trema, apóstrofo e hífen.
Cartilha Alegria de Saber – alfabetização, página 05
Tais tentativas estavam vinculadas a uma concepção de alfabetização
segundo a qual a aprendizagem inicial da leitura e da escrita tinha como foco
fazer o aluno chegar ao reconhecimento das palavras garantindo-lhe o
domínio da correspondência entre as sílabas (diferenciadas entre “simples” e
“complexas”) e seu respectivo som.
No quadro abaixo, pode-se perceber essa concepção de ensino da
leitura e da escrita.
Cartilha Alegria de Saber – alfabetização, página 40
No máximo, neste contexto, buscou-se assegurar que este saber se
desenvolvesse num universo de palavras que fossem significativas para o
aluno em seu meio cultural, como acontecia com as cartilhas regionais.
De uma forma geral, tratava-se de uma visão comportamental da
aprendizagem que era considerada de natureza cumulativa, baseada na
cópia, na repetição e no reforço. A grande ênfase era nas associações e na
memorização das correspondências fonográficas3, pois se desconhecia a
importância de a criança desenvolver a sua compreensão do funcionamento
do sistema de escrita alfabético e de saber usá-lo desde o início em situações
reais de comunicação.
As modificações estruturais nesse foco iniciam com as pesquisas sobre
a psicogênese da língua escrita. Foram estas que revelaram, num primeiro
momento, a evolução conceitual por que passam as crianças até
3 Representação gráfica dos sons.
compreenderem como funciona o nosso sistema de escrita, e incorporaram a
idéia de que ler e escrever são atividades comunicativas que devem, portanto,
ocorrer através de textos reais onde o leitor ou o escritor lança mão de seus
conhecimentos da língua, que é uma estrutura integrada, na qual os aspectos
sintáticos4, semânticos5 e fonológicos6 interagem para que se possa atribuir
significado ao que está graficamente representado nos textos escritos.
A importância da prática social da leitura e da escrita teve o suporte dos
estudos que, no âmbito da lingüística, da sociolingüística e da psicolingüística
enfatizaram as diferenças entre as modalidades da língua oral e escrita e
demonstraram como muitas crianças se apropriavam da linguagem escrita
através do contato com diferentes gêneros textuais, explorando através de
suas interações com adultos alfabetizados a leitura e a produção de textos,
mesmo antes de serem alfabetizadas de forma convencional enquanto que
outras, apesar de alfabetizadas, apresentavam uma ausência de domínio da
linguagem utilizada nas formas escritas de comunicação, ou seja, revelaram
que o aprendizado integral da língua escrita, se dá pelos princípios do
letramento.
O letramento é compreendido, segundo (SOARES, 2003) como o
“resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou
condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de
ter-se apropriado da escrita”
O conceito de apropriação da língua escrita aqui defendido aponta para
uma mudança significativa no “status” do sujeito que, ao apropriar-se da
leitura e da escrita, passa a ter uma condição diferenciada de domínio dessas
habilidades, ou seja, torna-se competente para o uso efetivo da escrita em
todas as suas funções sociais. Esse sujeito interpreta, informa, sistematiza,
orienta, enfim, faz uso concreto dos gêneros textuais que circulam na
sociedade, tendo com estes uma práxis cotidiana.
Cabe agora situar as práticas de alfabetização e letramento realizadas
no interior da escola, segundo os pressupostos acima apontados.
4 Relação das palavras (entre si) num dado contexto. Ex: “teus olhos são espelhos d’água.”5 Sentido e aplicação das palavras num contexto. Ex: “A fixação dos parafusos foi mal feita”. / “Fixação, teus olhos no retrato/fixação, minha assombração”.6 Aspectos sonoros da palavra, que diferem, dependendo da variante lingüística do falante.
Afirma-se que o ensino da leitura e da escrita se dá pela aglutinação
dessas especificidades, ou seja, ensina-se a ler e escrever alfabetizando os
sujeitos, no entanto, tal ensino está condicionado aos princípios do uso real
da leitura e da escrita na sociedade humana e não apenas à decodificação-
transcrição da fala de forma silábico-alfabética, pois é sabido que o conceito
de alfabetização como acesso ao código escrito é insuficiente para atender às
demandas do uso da leitura e da escrita na sociedade contemporânea. Desse
modo, a língua “real” é o objeto de estudo da área de Língua Portuguesa, por
meio dos gêneros textuais e seus princípios tipológicos, ou seja, o texto (oral
ou escrito) é a matéria-prima do ensino nessa área do conhecimento e é a
este que recorremos para o trabalho de “uso-reflexão-uso” dos conteúdos que
compõem esta Proposta Curricular.
Uma vez compreendida a necessidade de alfabetizar letrando, os
conteúdos elencados nesta Proposta são sistematizados por meio do
exercício constante da leitura, análise lingüística do texto e da palavra, bem
como pelo exercício da produção e da reestruturação de textos orais e
escritos.
Considera-se necessário explicitar os princípios das “quatro práticas”,
apontadas acima, com relação ao ensino da leitura e da escrita nas séries
iniciais do ensino fundamental. Para Foucambert (1994)
a leitura não é em princípio uma atividade de transcodificação de um sistema para
outro para ter acesso à significação, mas um trabalho direto sobre o código escrito,
uma abordagem da informação visual para interpretá-la, dar-lhe um sentido, um
valor. Ler não é traduzir, mas sim compreender. Aprender a ler é, portanto,
desenvolver os recursos para essa relação direta da escrita com o significado. Ter
controle sobre a leitura é assegurar-se de que o texto seja percebido em suas
intenções e em suas possibilidades e em relação com outros numa rede, é
assegurar-se de que ele seja interpretado e não simplesmente pronunciado.
A consciência da complexidade da atividade do leitor propicia a
reflexão sobre a dimensão dada à leitura na escola, isto é, não basta saber se
o aluno lê ou não lê, e sim como ele lê. Ou seja, a leitura deve ser percebida
não apenas como habilidade de decodificação, restrita ao ato de reconhecer
sílabas, letras ou palavras, como acontecia nos chamados métodos
tradicionais.
Para (SOARES, 2003) “Ler é um conjunto de habilidades e
comportamentos que se estendem desde decodificar sílabas ou palavras até
ler Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa [...] ler é um conjunto de
habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e
complexo continuum...”. Nessa perspectiva, a leitura é uma atividade
complexa, composta por múltiplos processos interdependentes, dos quais os
fundamentais são: o reconhecimento do SEA (letras, padrões silábicos,
diacríticos, segmentação etc) e a compreensão da mensagem escrita.
Desse modo, o sucesso ou o insucesso do ensino-aprendizagem da
leitura estão diretamente ligados às condições reais da prática desta, ou seja,
para que se aprenda a ler é necessário o contato, mediado e sistematizado,
com diferentes gêneros textuais, diferentes tipos e variadas experiências de
leitura, como conceitua MARCUSCHI (2003)
Trata-se de textos orais ou escritos materializados em situações comunicativas
recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária
com padrões sócio-comunicativos característicos definidos por sua composição,
objetivos enunciativos e estilo concretamente realizados por forças históricas, sociais,
institucionais e tecnológicas. Os gêneros constituem uma listagem aberta, são
entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações tais
como: sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem
jornalística, aula expositiva, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de
remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, resenha, edital de concurso, piada,
conversação espontânea, conferência, e-mail, bate-papo por computador, aulas
virtuais e assim por diante. Como tal, os gêneros são formas textuais escritas ou orais
bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.
Portanto, é necessário interagir cotidianamente com diferentes materiais
escritos em diferentes suportes (o jornal, a revista, a internet etc), que por sua
vez, estão ligados ao contexto de sua produção e a destinação (o interlocutor),
bem como analisá-los nos seus aspectos de coesão e coerência textual, por
meio da análise lingüística do gênero e tipo. (quadro 1) O Tipo textual, de texto
ou de discurso é definido por MARCUSCHI (2003
Esta noção designa muito mais modalidades discursivas ou então seqüências textuais
do que um texto em sua materialidade. O tipo textual define-se pela natureza
lingüística de sua composição (modalidade, aspectos sintáticos, lexicais, tempos
verbais, relações lógicas, estilo, organização do conteúdo etc). Em geral, os tipos
textuais abrangem um número limitado de categorias conhecidas como: narração,
argumentação, exposição, descrição, injunção. Quando predomina uma característica
tipológica num dado texto concreto dizemos que esse é um texto argumentativo ou
narrativo ou expositivo ou descritivo ou injuntivo. Os tipos textuais constituem modos
discursivos organizados no formato de seqüências estruturais sistemáticas que entram
na composição de um gênero textual. Tipo e gênero não formam uma dicotomia, mas
se complementam na produção textual.
QUADRO 1Exemplos de gêneros orais e escritos
Domínios de comunicação
Aspectos tipológicos
Capacidade de linguagem dominantePoesia Cultura literária poética
Expressar
Elaboração da linguagem como forma
de expressão da interpretação do
mundoConto maravilhoso, conto de fadas,
fábula, lenda, narrativa de aventura,
narrativa de ficção científica, narrativa
de enigma, narrativa mítica, romance,
romance histórico, novela fantástica,
conto, paródia, adivinha, piada,
história em quadrinhos, tiras.
Cultura literária ficcional
Narrar
Mimese* da ação pela criação da
intriga no domínio do verossímil*
Relatos de experiências vividas –
relatos de viagem, diário íntimo,
testemunho, autobiografia, curriculum
vitae, ata, noticia, reportagem, crônica
social, e crônica esportiva, relato
Documentação e memorização das
ações humanas
Relatar
Representação, pelo discurso, de
experiências vividas, situadas no
histórico e perfil biográfico. tempo.Aviso, convite, sinais de orientação,
texto publicitário comercial, texto
publicitário institucional, cartaz,
slogan, campanha – folders e cartilha
– folheto.
Levantamento e discussão de
problemas
Persuadir
Sustentação, refutação e negociação
de tomada de posição.
Texto de opinião, diálogo
argumentativo, carta do leitor, carta de
reclamação, carta de solicitação,
deliberação informal, debate, regra de
editorial, discurso de defesa,
requerimento, ensaio e resenha
crítica,charge.
Discussão de problemas sociais
controversos
Argumentar
Sustentação, refutação e negociação
de tomada de posição.
Texto expositivo, conferência, artigo
enciclopédico, tomada de notas,
resumo, resenha, relato científico e
relato de experiências científicas.
Estabelecimento, construção e
transmissão de realidades, saberes.
Expor
Apresentação textual de diferentes
formas de saber.Instruções de uso, instruções de
montagem, bula, manual de
procedimentos, receita, regulamento,
lei, regras de jogo e placas de
orientação.
Instruções e prescrições
Descrever ações
Regulação mútua de comportamentos.
Mimese – imitação, do grego mimesis.
Verossímil – que parece verdadeiro.
Compreendidos os conceitos sobre gênero e tipo textual é fundamental
perceber que a análise lingüística do texto escrito ou oral – outra das quatro
práticas – pressupõe o ensino-aprendizagem dos elementos que garantem
textualidade e é esta, vale afirmar, que diferencia um texto de um não-texto.
No quadro abaixo se apresenta um exemplo de “não-texto”, e se
expõem as razões dessa denominação.
Cartilha Alegria de Saber – alfabetização, página 38
• Não possui elementos coesivos intra-sentenciais ou inter-
sentenciais, ou seja, não há coesão;
• Não pode ser classificado como um gênero textual (não é um
conto, não é um artigo enciclopédico...);
• Não pode ser apontada sua tipologia (não é narrativo, ou
descritivo, ou argumentativo...);
• Obviamente não há princípios de coerência, uma vez que não se
estabelece aqui nenhuma tentativa de locução/interlocução;
• É o típico exemplo do “amontoado de frases soltas” que
caracterizam o “texto” cartilhesco.
A partir do exposto se reafirma que a textualidade é um fenômeno
lingüístico que se constitui a partir da coerência 7e da coesão8 presentes nos
textos veiculados nas práticas sociais nas quais se encontram inseridos, e sua
análise contraria a perspectiva que considera o estudo de sílabas, palavras ou
frases que, a rigor, não produzem nenhuma situação comunicativa, pois a
comunicação entre usuários da língua não se estabelece através de frases ou
7 A coerência pode ser definida como propriedade centrada no texto, uma vez que esta permite que este faça sentido para o receptor e também como construção de sentidos que se estabelece no sujeito-leitor quando da interação com o texto.8 A coesão é a forma como os elementos de um texto se interligam. Comporta o conjunto de elementos lingüísticos que permitem a um enunciado falado ou escrito ser um texto.
palavras isoladas. O homem se comunica por meio de textos e existem
diversos fenômenos lingüísticos que só podem ser explicados no interior do
texto, por meio da análise de seus princípios e coesão e coerência. Esses
princípios são observáveis no texto abaixo e explicitados brevemente.
2ª. série
• Possui coerência, isto é, compõe um todo significativo;
• Seu aspecto tipológico é o relato (ou do tipo descritivo);
• É do gênero relato de experiência vivida;
• Possui elementos de interligação entre as partes do texto, ou seja,
é um texto coeso..
A partir da observação do exemplo acima, é importante reafirmar que
para Marcuschi, a coesão está relacionada à estrutura superficial do texto e à
sua organização linear sob o aspecto estritamente lingüístico, ou seja, são os
elementos presentes na superfície do texto, responsáveis pelas conexões
intra-sentenciais9 e intersentenciais10 que estabelecem entre as partes do
texto relações de sentido. Ao passo que a coerência é o produto de uma
conexão conceitual-cognitiva e estruturação do sentido, a qual, em geral,
9 Ligações que ocorrem no interior das frases. “Para Marcuschi, a coesão está relacionada à estrutura superficial do texto e à sua organização linear sob o aspecto estritamente lingüístico, ou seja, são os elementos...”10 Ligações que ocorrem entre as frases. “Ela possibilita ao aluno pensar e usar a língua e a organizá-la de diferentes formas. Sendo assim...”
manifesta-se macro textualmente estando relacionada à potencialidade de
transmissão de conhecimentos ou conteúdos de modo a viabilizar a existência
de sentido, isto é, esta garante que o texto possa ser interpretado pelos
ouvintes-leitores, tornando-o um todo significativo.
São os conteúdos propostos dentro dessa prática, sua sistematização e
mediação constantes, que garantirão aos alunos a apropriação dos elementos
constitutivos do texto oral e escrito, compreendido como produto sócio-
histórico, ou seja, produzido por meio do trabalho tipicamente humano.
No entanto, se cremos que, como afirma (SOARES, 2004) “Dissociar
alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais
concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas da leitura e escrita, a
entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita
ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema
convencional de escrita [...] e pelo desenvolvimento de habilidades de uso
desse sistema em atividades de leitura e escrita...” deve-se considerar que,
apenas a análise desses macro-elementos do texto escrito, não propiciam ao
aluno o conhecimento de marcadores convencionados constituintes da língua
escrita, sendo um deles a complexidade do princípio alfabético, isto é, a
compreensão de que na escrita alfabética todas as palavras são
representadas por combinações de um número limitado de símbolos visuais,
as letras, e que estas codificam os fonemas.
Sendo assim, a análise lingüística não pode prescindir do trabalho com
as “unidades menores” da língua escrita, não só no início da alfabetização
como também em todos os anos do ensino fundamental. O trabalho com as
relações fonema11-grafema12 deve produzir, no aluno, a identificação e o
emprego das relações padronizadas (a escrita ortográfica).
O código componente da linguagem verbal é alfabético e organizado
em sílabas que compõem uma série de padrões (quadro 2) , sendo assim, a
reflexão acerca de tais padrões, das possíveis relações entre letras e sons é
11 Segundo TERRA, fonema é a unidade sonora mínima que distingue os vocábulos de uma língua.12 Segundo AURELIO, grafema é um símbolo gráfico uno, constituído por traços distintivos, abarca além das letras, os diacrítico, os sinais de pontuação e os ideogramas.
componente essencial na análise lingüística, bem como a análise, reflexão e
uso dos diacríticos. (quadro 3)
Quadro 2
PADRÕES SILÁBICOSvogal (v) alôconsoante e vogal (cv) malaconsoante, consoante, vogal (ccv) Prego
consoante,consoante, vogal,
consoante, consoante (ccvcc) transpiraçãoconsoante, vogal, consoante (cvc) barcovogal, vogal (vv) automóvelvogal, consoante (vc) armárioconsoante, vogal, vogal (cvv) línguaconsoante, consoante, vogal, vogal
(ccvv) treinamentoconsoante, consoante, vogal,
consoante (ccvc) atrásconsoante, vogal, consoante,
consoante (cvcc) substânciaconsoante, vogal, vogal, vogal (cvvv) Paraguai
Quadro 3 RELAÇÕES FONEMA - (SOM) GRAFEMA (LETRA)
Biunívocas ou
monogâmicas (valor
único)
Contextualmente
regulares ou cruzadas
(previsíveis)
Arbitrárias ou
poligâmicas
B
P
T
D
V
F
NH
/b/
/p/
/t/
/d/
/v/
/f/
/ñ/
dependem da origem da palavragrafema
~
N
M
R
L
Fonema
anasalam
as vogais a,
o.
seu som é
diferente,
dependend
o do lugar
em que
aparece na
palavra.
antes da
vogal
representa
um som;
depois de
vogal, outro.
grafema
X
S
SS
SC
SÇ
C
XC
Z
Ç
fonema
SS
S
CS
CH
Z
/s/
No entanto, sabe-se que, como já foi afirmado, apenas a conquista do
código alfabético, não é suficiente para garantir ao alunado a capacidade de
ler e de produzir textos que expressem claramente as idéias de forma a
estabelecer uma interlocução clara.
Tal capacidade se garante na sistematização da escrita (produção de
textos) de vários gêneros textuais. Sistematização esta que envolve a
estrutura apropriada, o vocabulário adequado e os recursos textuais
(tipologia) característicos de cada gênero.
Desse modo, assim como a Leitura e a Análise Lingüística, a Produção
Textual e a Reestruturação, estão relacionadas aos gêneros textuais e sua
tipificação, ou seja, considerar os gêneros como objeto de estudo no ensino-
aprendizagem da escrita quando da produção textual, significa considerá-la
prática social mediada pela linguagem, inserida em diferentes contextos de
produção e interlocução.
A produção de textos representa, nesse contexto, o uso concreto da
linguagem escrita de modo reflexivo. Ela possibilita ao aluno pensar e usar a
língua e a organizá-la de diferentes formas. Sendo assim, quanto maior for a
oportunidade que o aluno tenha para escrever e refletir sobre o que escreveu,
maior será a aprendizagem da escrita.
Uma vez que se compreenda a produção de textos como atividade
dimensionada pela prática social, é necessário apontar como se dá, de forma
efetiva, a sistematização desta produção no ensino-aprendizagem da escrita.
A prática da produção de textos na escola foi inicialmente concebida
para a verificação da apropriação dos conteúdos gramaticais da língua escrita
pelo alunado, ou seja, a escola realizava a prática da produção de tipos
específicos considerados apropriados-escolarizados: a narração, a descrição
e a dissertação (proposição de tema sem objetivo específico ou de situação
sócio-interativa: reescrita de textos literários, à vista de gravuras e outros).
Como se pode observar no exemplo abaixo:
3ª. série
Exercida num espaço descontextualizado e reprodutivista, tal
abordagem compreende a produção de texto como processo regulado por
normas fixas, orientadas pela gramática da língua, deste modo, as atividades
de produção escrita desconsideram o sujeito-escritor, o sujeito-interlocutor, a
situação de produção e o papel discursivo do texto.
Nesse enfoque, a “correção” das redações escolares tinha como
propósito verificar a adequação lexical e ortográfica. Feita à margem do texto
essa atividade pouco ou nada, esclarece ou altera a produção original do
aluno. Essa “correção” em nada contribui para a reflexão sobre o uso da
língua, uma vez que o trabalho do aluno é o de fazer as alterações indicadas
pelo professor sem nenhuma retomada ou reflexão a respeito da necessidade
de tais alterações, o que causa, seguramente, a repetição destes “erros”
numa outra produção escrita.
Um exemplo dessa prática que considera relevante num dado texto seu
aspecto ortográfico pode ser observada a seguir, uma vez que, as palavras,
letras e traços que aparecem acima da escrita do aluno foram feitas para que
ele (ou ela) “corrija” seu texto escrito.
4ª. série.
Esta abordagem não sistematiza a produção de textos e tal
sistematização é tarefa da escola, uma vez que esta deve ser o espaço
privilegiado para a apropriação da escrita – não da escrita escolarizada, mas
daquela que promove os alunos a sujeitos-escritores e interlocutores do texto
escrito.
O que se propõe aqui é a superação dessa concepção reproducionista
da produção textual, de forma que esta não sofra o esvaziamento de funções
que ainda se faz presente quando da produção textual na escola,
esvaziamento que se concretiza no artificialismo do ato de escrever, ou seja,
na não existência de interlocutores, ou na restrição destes interlocutores (a
criança escreve para o professor ler-avaliar o que foi produzido) e também na
restrição do trabalho de produção de gêneros textuais diversos, uma vez que
o observável na escola tem sido o trabalho com os tipos, sendo a narração e
a descrição os mais comumente utilizados.
Para a superação da condição atual, é necessário discutir a
incorporação da produção de textos articulada aos gêneros textuais (orais ou
escritos), pois estes são manifestações de atividades discursivas
diferenciadas e estão incorporados à “língua viva”, ou seja, são produzidos
pela humanidade para o atendimento de demandas sócio-históricas
diferenciadas.
Em outras palavras, a produção de textos envolve a materialização de
significados e sentidos. Portanto, ao se produzir um texto, constrói-se um
quadro de referência no contexto de determinada prática discursiva. Sendo
assim, ressalta-se que as condições em que a produção acontece
determinam o gênero e o tipo de texto: quem escreve, para quem, por que e
como se escreve, dentro das peculiaridades de cada gênero textual, uma vez
que a estrutura se alterna conforme se produza o gênero carta do leitor,
bilhete, receita, texto de opinião etc.
A capacidade de escrita se aprende na prática da escrita, em suas
diferentes modalidades. Isto significa promover a produção e a reestruturação
de diferentes gêneros textuais, a partir de experiências sociais, vividas pelo
sujeito ou socialmente.
A atividade de reestruturação de textos escritos pressupõe o
envolvimento de alunos e professor, sendo que este lança mão de seus
conhecimentos para mediar e sistematizar situações de reestruturação da
escrita, tanto na apropriação do SEA quanto dos princípios de coesão e
coerência textual.
Cabe, portanto, ao docente sistematizar a produção de textos tendo em
vista princípios essenciais, ou seja, é necessário que o professor compreenda
algumas especificidades dessa atividade de elaboração e re-elaboração, isto
é, a produção textual não se dá isoladamente ela depende de outras praticas
essenciais: a leitura e a reescrita.
A apropriação do conhecimento científico consiste em superar os
conhecimentos de senso comum, assim cabe ao docente subsidiar o aluno
promovendo o convívio com a grande maioria dos gêneros textuais.
Há necessidade também de se explicitar ao aluno, no momento da
produção de textos e na atividade de reestruturação, os interlocutores
prováveis, o gênero e o tipo de texto e de realizar a reescrita dos textos
produzidos, considerando-a como uma estratégia, das mais apropriadas para
sistematizar, com o alunado, situações reais de uso da escrita, possibilitando
a este construir-reconstruir o que escreveu e, com isso, torná-lo sujeito-autor
do seu discurso.
Outra tarefa da escola, tão importante quanto à formação do leitor
proficiente no que denomino de leitura e escrita da palavra-informação,
presente nos gêneros textuais de circulam na sociedade humana
cotidianamente é a de formação do leitor literário, ou seja, do leitor da palavra-
arte.
Sendo assim, é coerente destacar aqui a importância, o papel e as
funções do letramento literário dos sujeitos, ou seja, o envolvimento em
práticas sociais de leitura literária, que promovam a formação de um leitor-
intérprete quando da interação com um discurso de maior complexidade e
maior grau de elaboração do que aquele com o qual o alunado se envolva em
suas práticas sociais cotidianas, uma vez que os textos literários são menos
acessados na sociedade, ou o são de modo bastante restrito quando
comparados aos outros gêneros e tipos textuais.
Para que se defenda essa especificidade é necessário conceituar,
mesmo que minimamente as funções e a importância da Literatura.
Vivemos numa sociedade cujas características são o autoritarismo, a
exclusão e a valorização de determinadas modalidades culturais, e nessa, as
oportunidades não são idênticas e, em especial neste modelo social,
restringe-se o acesso da maioria às formas de expressão artística, inclusive a
arte literária.
Essa postura excludente não ocorre isoladamente e o processo de
segregação das classes sociais assegura para poucos, o acesso e a
apropriação dos produtos culturais privilegiados e permite a outros o
conhecimento de uma parte da cultura, pejorativamente denominada popular.
Sendo assim, as camadas populares não usufruem da leitura literária e
não o fazem porque não têm acesso a esta. Crê-se que tal desencontro, que
nada tem de ocasional ou “natural” se deve ao fato de que “A literatura
confirma e nega, propõe e denuncia, apóia e combate, fornecendo a
possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas”. (CANDIDO, 1995).
Outro dado relevante é que, por meio da arte de escrever e ler, isto é,
da força da palavra artisticamente organizada, tornamo-nos mais capazes de
articular pensamentos e emoções e por isso mais competentes para
reorganizar a concepção de mundo que temos. Além disso, a condição de
verbalização humana é melhorada pelo exercício da leitura literária, pois ao
lermos nos apropriamos de instrumentos que facilitam a ordenação mental.
Com isso temos maior clareza e habilidade para verbalizar expressões, tomar
posicionamentos e externar opiniões, assim torna-se possível transformar
informações em conhecimento por meio de constantes elaborações.
O direito inalienável do ser humano à cultura, a princípio diferente
daquela que se experimenta cotidianamente, a fuga ao senso comum e a
apropriação dos conhecimentos produzidos pela humanidade, deve passar
obrigatoriamente pelo exercício da leitura literária, pois nesta há prazer,
trabalho, ludicidade e fruição e como afirma (SILVA, 1990) “Há que se ler
literatura para romper o silêncio, desentrevando, azeitando e retro-
alimentando os sentimentos e a inteligência do mundo. A fruição [...] é como a
produção de uma escultura em mármore : trans-forma, fica”.
A Literatura visa o universal. Não transforma objetivamente o modo de
vida dos homens. Contudo, contribui para a formação das pessoas dando-
lhes modos de agir sobre o mundo e compreendê-lo. Possui várias funções e,
entre elas, destaca-se como instrumento de conhecimento do mundo ao
explorar o passado, outras civilizações ou épocas. É também instrumento de
formação e desenvolvimento intelectual, pois permite compreender as
questões morais presentes nas consciências de personagens e contribui para
a formação estética, isto é, no gosto não estereotipado pela beleza. Outra
função implícita é a de instrumento de conhecimento do homem à medida que
espelha a humanidade, graças à diversidade de personagens aos quais
recorre.
Além disso, é necessário compreender que o conteúdo social das obras
e a influência que este exerce no receptor fazem dela um poderoso
instrumento de mobilização. Segundo CANDIDO (1995) “a arte e a literatura
são atividades permanentes, correspondendo a necessidades imperiosas do
homem e da sociedade”.
A Literatura Infanto-Juvenil, nesse universo, serve-se dos mesmos
instrumentos para cumprir sua função artística.
No entanto, o surgimento, na escola, da Literatura Infantil ou dos “livros
para crianças” não ocorre; e isto se revela ainda atualmente, com a função de
permitir, estimular e orientar para que esta fosse apreciada como obra de arte,
pois, os primeiros livros dirigidos ao público infantil surgiram no mercado na
primeira metade do século XVIII e, no final do século XVII, durante o
classicismo francês publicam-se obras que vieram a ser consideradas como
literatura apropriada à infância. Conforme considera ZILBERMAM (2003) “Os
primeiros livros para crianças foram produzidos no final do século 17 e
durante o século 18. Antes disto, não se escrevia para elas, porque não
existia a infância”.
Como descrevem LAJOLO e ZILBERMAN (1999) “Literatura infantil e
escola, inventada a primeira e reformada a segunda, são convocadas para
cumprir esta missão” e, numa sociedade que cresceu por meio da
industrialização, a literatura assumiu a forma mercadológica tornando-se
consumível para aqueles que haviam passado pela escola. Durante muito
tempo foi esse o papel da Literatura Infantil: colocar-se entre a criança e a
sociedade de consumo, de modo que, à criança cabia respeitar a hierarquia
superior, representada pelo adulto típico da burguesia.
Para a efetivação desse direcionamento, publicaram-se escritos para
crianças feitos por educadores, tendo um caráter educativo-normativo visando
a manipulação dos indivíduos. Por conseqüência essa produção literária não
foi compreendida como “arte”, possuindo uma finalidade pragmática, pois os
escritores eram, na maioria das vezes, pedagogos.
Atualmente, pode-se afirmar, vivenciam-se no trabalho com a literatura
na escola experiências muito semelhantes àquelas praticadas há décadas, ou
seja, a escolarização da Literatura Infantil ou do livro para crianças tem-se
revelado, no cotidiano das praticas escolares fortemente voltada para o
conteúdo. Tem-se utilizado a literatura como pretexto para a exploração de
conteúdos da história, da matemática, das ciências, aspectos gramaticais,
entre outros.
Afirma-se, no entanto, que o exercício constante da leitura literária não
deve ser pensado com o objetivo da sistematização metalingüística, isto é,
não é sua função a apropriação do código verbal escrito ou de reflexão sobre
a linguagem, bem como apontar para discussões objetivas sobre
conhecimentos científicos específicos, uma vez que para tal função servem –
com maior objetividade e qualidade – os livros paradidáticos.
Compreendido como convívio constante com a “palavra-arte” o
letramento literário assume proporções e objetivos diferenciados devendo
necessariamente ocupar espaço privilegiado, visto que é na interação com
diferentes gêneros literários que os seres humanos têm a possibilidade de
enriquecer suas experiências, desenvolvendo capacidades de análise e
reflexão sobre a realidade ambígua e plural em que vivemos. E mais, é na
escola, e apenas nesta na maioria das vezes, que o trabalho com a literatura
ampliará para o alunado a maneira de ler, propiciando a este,
progressivamente, a superação do estágio ingênuo para a compreensão mais
detalhada da cultura e da estética, bem como do caráter ficcional dos textos
literários.
Ao ressaltar o caráter educativo da escola, é necessário, mais uma vez,
apontar o uso do livro literário como componente essencial da educação da
criança e perceber que, ao lado da aprendizagem instrucional, a
aprendizagem expressiva contempla análise, avaliação e transformações e,
por conseqüência, múltiplas aprendizagens.
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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo
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QUADRO 1 Disponível em:
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QUADRO 2 PROPOSTA CURRICULAR DE CURITIBA
QUADRO 3 Sandra Mara Bozza Martins, Angela Maria Batista Sérkez – trabalhando
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http://bbs.metalink.com.br/~lcoscarelli/GEsuporte.doc
Luiz Antônio Marcuschi (UFPE/CNPq - 2003)
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