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O GÊNERO: UMA NORMA POLÍTICA E CULTURAL MUNDIAL

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O gênero: uma nOrma pOlítica e cultural mundial

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Marguerite A. Peeters

O gênero: uma nOrma pOlítica e

cultural mundialFerramenta de discernimento

Prefácio do cardeal Robert Sarah

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1ª- edição, 2015

© pauluS – 2015

Rua Francisco Cruz, 22904117-091 – São Paulo (Brasil)Tel.: (11) 5087-3700 – Fax: (11) [email protected]

iSBn 978-85-349-4180-8

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Peeters, Marguerite A. O gênero: uma norma política e cultura mundial: ferramenta de discernimento / Marguerite A. Peeters ; prefácio do cardeal Robert Sarah ; [tradução Paulo Augusto da Silva]. – São Paulo : Paulus, 2015. –(Coleção Temas de Atualidade)

Título original: Le gender, une norme mondiale?: pour un discernement. Bibliografia. ISBN 978-85-349-4180-8

1. Identidade de gênero 2. Relações culturais 3. Relações de gênero 4. Relações sociais 5. Sexualidade I. Sarah, Robert. II. Título. III.Série.

15-06034 CDD-305.3

Índice para catálogo sistemático:1. Relações de gênero : Psicologia social 305.3

© Marguerite A. Peeters, 2012Título original: Le gender: une norme politique et culturelle mondiale. Outil de discernement

Direção editorialClaudiano Avelino dos Santos

TraduçãoPaulo Augusto da Silva

Produção editorialAGWM produções editoriais

Imagem da capaThe Rainbow, 1835, Joseph Mallord William Turner

Impressão e acabamentoPAULUS

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Sumário

Prefácio ............................................................................................. 7

introdução ......................................................................................... 15

i – observações Preliminares ......................................................... 21

o problema da tradução .................................................................. 22

Parentesco ampliado ......................................................................... 22

Holismo centrípeto ............................................................................ 23

desconstrução pós-moderna ............................................................. 25

ausência de definição clara ............................................................... 26

resultado de um longo processo de revolução cultural ...................... 28

ii – o surgimento do conceito e seu desenvolvimento ideológico no ocidente ............................................................. 33

Primeiras manifestações do conceito ................................................. 33

a maturação: anos 1960, 1970 e 1980 ............................................. 38

a teoria queer .................................................................................. 45

algumas observações sobre o pensamento de J. butler ...................... 50

a autodestruição: o pós-gênero ........................................................ 53

iii – a PersPectiva do gênero: uma norma PolÍtica mundial ...... 59

uma pedra de construção do “novo consenso mundial” .................... 59

mudança de linguagem no discurso intergovernamental .................... 63

da ausência de definição política às definições ambivalentes ............. 66

da interpretação feminista à interpretação homossexual ................... 71

a estratégia de aplicação: gender mainstreaming, institucionalização e fiscalização ................................................................................. 74

o efeito treinador da revolução normativa do gênero......................... 76

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iv – uma cultura mundial de “igualdade dos sexos” .................. 79

o processo da mudança cultural........................................................ 82

nova ética vinculante ........................................................................ 85

imposição, sedução e liberdade de consciência .................................. 88

a desconstrução dos estereótipos ..................................................... 89

o binarismo: estereótipo pós-moderno por excelência ....................... 92

nova cultura mundial ........................................................................ 95

um gigante de pés de barro, uma casa construída sobre areia. .......... 97

v – análise crÍtica.............................................................................. 99

busca desordenada de poder, de prazer e de domínio ........................ 99

a fabricação da sociologia – laicismo e cientificismo ......................... 104

uma falsa concepção de igualdade ................................................... 107

Processo de negação. ........................................................................ 111

vi – considerações Práticas e PersPectivas de esPerança .......... 113

ficar fora do quadro ideológico ......................................................... 115

olhar para outra direção: perspectivas de esperança .......................... 120

do binarismo à redescoberta da estrutura triúna da pessoa e do amor ...................................................................................... 122

emergência de nova civilização: da igualdade ao amor ...................... 124

abandono do naturalismo, do racionalismo e do intelectualismo: abertura ao mistério....................................................................... 127

anexos ............................................................................................. 131

1. Principais teóricos e personalidades influentes do gênero e do movimento queer ..................................................................133

2. de “inimigo” a “parceiro” ............................................................ 136

3. binarismo e neobinarismo ............................................................. 138

4. a pedra que joga por terra o colosso de pés de barro ..................... 140

5. Preencher o vazio: a urgência educacional ..................................... 142

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PREFÁCIO

Obrigado. Essa foi a primeira palavra que brotou de meu coração e escapou de meus lábios ao ler este livro. Quero, pois, de pronto, exprimir meu imenso reconhecimento a Marguerite A. Peeters, que nos oferece uma análise paciente, precisa e rigorosa da ideologia do gênero, observando suas origens, seu desenvolvimento no Ocidente e suas ambições normativas mundiais.

Segundo a ideologia do gênero, não existe diferença onto-lógica entre o homem e a mulher. A identidade, masculina ou feminina, não estaria inscrita na natureza: ela seria o resultado de uma construção social, um papel que os indivíduos desem-penham por meio de tarefas e funções sociais. Segundo seus teóricos, o gênero é performativo e as diferenças homem--mulher são apenas opressões normativas, estereótipos cultu-rais e construções sociais que é preciso desconstruir para se chegar à igualdade.

Em nome da liberdade e da igualdade, as batalhas ideológi-cas do gênero, obedecendo a exigências individualistas, subje-tivistas, visam organizar a sociedade sem ter de respeitar a diferença sexual. Também os técnicos dessa teoria e os pode-rosos lobbies que a reivindicam para si combatem em favor de uma indiferenciação sexual a que chamam “neutralidade

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sexual”: uma espécie de fluidez magmática, que mistura con-fusamente coisas abstratas e que é colocada em movimento como uma nova utopia de “libertação do desejo”, pretensa-mente portadora de uma felicidade universal. Eles trabalham no desmantelamento daquilo a que chamam “sistema binário” homem-mulher.

Como vocês podem ver, somos confrontados com uma revo-lução que procura dar uma reviravolta na ordem da criação do homem e da mulher, tal como Deus a concebeu, desde a origem de seu eterno desígnio. Conduzida pelo Ocidente, essa revolu-ção opera de maneira dissimulada, em quase total ausência de debate público. Suas consequências são de grande gravidade. Elas não dizem respeito apenas ao domínio das ciências médi-cas, humanas e sociais: suas recaídas destruidoras poderiam tornar-se sempre mais evidentes na vida concreta das pessoas individuais e das sociedades em que vivemos. O gênero conso-lida atualmente suas fundações e ganha um terreno conside-rável. Uma maneira nova de encarar o casamento, a família, o amor, a dignidade humana, os direitos e a sexualidade por uma perspectiva essencialmente subjetivista implanta-se progressiva e solidamente no Ocidente e tende a difundir-se pelo resto do mundo. A teoria do gênero está mesmo em processo de subir um degrau superior, decisivo, transformando-se em teoria queer. Ela passa a uma vontade de “desestabilização indenti-tária e institucional generalizada”, pois a teoria queer, explica Marguerite Peeters, “não se detém na desconstrução do sujeito: ela se interessa, sobretudo, pela desconstrução da ordem social... Trata-se de semear a perturbação nas tendências nor-mativas da ordem sexual, introduzir a suspeita quanto às ‘restrições da heterossexualidade’, mudar a cultura”, demolir as regras convencionais.

Percorrendo este livro precioso, veio-me espontaneamente ao espírito a imagem de Guy Coq: nossa civilização ocidental

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pós-moderna “é como um ser humano que circula na proximi-dade de um sorvedouro. Alguns se aproximariam dele, outros se afastariam. Mas ele não sabe onde exatamente está a borda do sorvedouro. Pode ser, então, que um simples passo a mais, na direção da borda, provoque a catástrofe definitiva. Era o passinho do excesso. Se o andarilho quiser evitar o pior, deve estudar cuidadosamente seu caminho, tentar compreender que tal passo deve ser evitado”1. Se as mudanças subversivas pro-movidas pelo gênero não pararem de expandir, nossas civiliza-ções poderiam, com efeito, perder o sentido do que é a huma-nidade e assim “desaparecer, não em favor de um mundo perfeito, mas de uma queda na barbárie”2 e no totalitarismo.

O que torna a batalha mais árdua e mais difícil é que a revo-lução cultural hoje de maneira significativa chega a desativar o vínculo vital que deve existir entre direito e verdade, direito e bens, direito e centralidade da pessoa humana na sociedade. Os direitos do homem são, a partir daí, submetidos a interpre-tações processuais e ao Diktat de falsos consensos. E tais con-sensos, uma vez proclamados, podem ser invocados para fazer adotar convenções internacionais que adquirem força de lei nos Estados que os ratificaram.

Falamos de processos políticos, que derivam da governança mundial, que decidem, por pretenso consenso, por exemplo, que o acesso universal à contracepção deve ser a prioridade do desenvolvimento e que a maternidade é um estereótipo a des-construir. Essa manipulação genética justifica o sacrifício de embriões. O aborto e a eutanásia devem ser liberalizados. As uniões homossexuais devem gozar dos mesmos direitos que o casamento. Essa mesma governança mundial exerce forte

1 Guy Cog. L’Eglise face aux enjeux spirituels de la civilisation contemporaine. Secréta-riat Général de la Conférance des Evêques de France. Documents Episcopat nº- 16-17, dez., 2002.2 Ibidem.

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pressão sobre os Estados para que se alinhem a prioridades ideológicas extravagantes, em flagrante e escandaloso desprezo pelo bem dos pobres dos países e culturas não ocidentais. Os pobres não têm direito? Eles e seu desenvolvimento integral deveriam ser o coração da cooperação internacional! Ora, a frase: “Os direitos dos homossexuais são direitos humanos e os direitos humanos são direitos dos homossexuais”3 parece ter-se tornado um leitmotiv do discurso atual da governança mundial, que quer assim mudar as culturas dos povos em favor da livre escolha dos indivíduos em relação à sua “orientação sexual”. Pior ainda: na hora mesma em que os direitos do homem são utilizados para impor esse tipo de projeto ideológico, o secre-tário-geral da ONU declara de maneira surpreendente que “nenhum costume ou tradição, nenhum valor cultural ou crença religiosa pode justificar que se prive um ser humano de seus direitos”4. Com qual direito sacrificam-se as culturas e a fé dos pobres em nome da homossexualidade – ou em nome dos ído-los da decadência moral do Ocidente?

Hoje impõe-se com urgência um esforço de reconciliação do direito com o casamento e a família, que são um bem comum da humanidade. O casamento e a família precedem o poder político e devem ser respeitados em sua estrutura humana universal. Quando o poder político toma como tarefa desmontá--los sistematicamente, quando os desnatura, substituindo-os por pactos de união civil, quando, em nome da ideologia do gênero, ele redefine o casal, o matrimônio, a família e o paren-tesco, para privilegiar a homossexualidade e a transexualidade, ele faz a humanidade perder o sentido de realidade e a razão das coisas e contribui para a criação de uma cultura suicida.

3 Discurso de Hillary Clinton nas Nações Unidas, em 7 de dezembro de 2011.4 Intervenção de Ban Ki-moon no festival do filme dos direitos humanos, em 2 de julho de 2012.

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É semanticamente transgressor aplicar às duplas de homosse-xuais os termos “casamento” e “família”, que implicam sempre e unicamente o respeito da diferença sexual e a abertura à procriação. A homossexualidade altera a vida conjugal e fami-liar. Ela não pode ser uma referência educativa para as crianças. Ela mutila-as e as lança em um abismo profundo e de maneira irreversível. E privar uma criança de um pai e de uma mãe é uma violência intolerável.

Neste livro, Marguerite Peeters traz à luz a gravidade do erro dos países ocidentais, no momento em que passam do respeito devido à dignidade e aos direitos inalienáveis de cada pessoa humana, seja qual for sua situação, à institucionalização de polí-ticas e de costumes contraditórios, com relação ao casamento e à família. A homossexualidade é um nonsense em relação à vida conjugal e familiar. É no mínimo pernicioso recomendá-la em nome dos direitos do homem. Impô-la é um crime contra a humanidade. É inadmissível que os países ocidentais e as agências da ONU imponham aos países não ocidentais a homos-sexualidade e todos os seus desvios morais, por meio da utili-zação de argumentos financeiros, para que revejam sua legis-lação sobre esse tema e condicionem o aumento da ajuda para o desenvolvimento à aplicação de normas absurdas, subversivas, desumanas e contrárias à razão e ao sentido das realidades mais fundamentais da humanidade. Promover a diversidade de “orientações sexuais” até em terra africana, asiática, da Oceania ou sul-americana é comprometer o mundo com um desvio de rota, em sentido antropológico e moral: a nova direção é a decadência e a destruição da humanidade!

Os países ocidentais acostumaram-nos com a instabilidade de suas ideias e com a construção de ideologias alienantes e efêmeras como o foram o marxismo e o nazismo. A exporta-ção de suas ideologias ao longo da história sempre fez muito mal para a humanidade. O pensamento africano já não pode

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deixar-se colonizar. Depois da escravidão e da colonização, volta-se uma vez mais a humilhar e destruir a África, impondo--lhe o gênero. É imperativo que os africanos não se deixem despojar de sua sabedoria e de sua perspectiva antropológica que fundam o casamento e a família no relacionamento com-partilhado desde a origem unicamente por um homem e uma mulher. A filosofia africana proclama sem ambiguidade: o homem nada é sem a mulher, a mulher nada é sem o homem e os dois nada são sem um terceiro elemento, que é a criança. A criança é o dom maior e mais precioso de Deus. Ela é a expressão mais sublime da generosa fecundidade e do dom recíproco dos esposos.

Iniciou-se, bem na nossa frente, uma “grande batalha”, na qual poderosos dispositivos subversivos empregam aquilo que Monique Wittig chamou de “máquinas de guerra”, pondo-se frontalmente contra a dignidade da pessoa humana, o casa-mento e a família, e assim colocam em perigo o futuro da humanidade. A ação corrosiva do gênero, explica Marguerite Peeters, é tão eficaz na perseguição de seus objetivos, que as pessoas poderiam ser presas de um sentimento de impotência e mesmo sucumbir à tentação de adotar uma atitude e dizer: de qualquer maneira a catástrofe é certa; deixemos, pois, as coisas tal como estão. Mas desejosa de nos estimular ao compro-metimento em favor da eterna vocação do homem e da mulher ao amor, à comunhão e à sua complementaridade, a autora encoraja-nos a não baixar a guarda e lembrar-nos da vitória do pequeno Davi contra o gigante Golias. Nós lhe agradecemos, pois, com grande competência e perspicácia, ela nos oferece uma ferramenta de discernimento e, assim, coloca em nossas mãos “as cinco pedrinhas” e uma “funda”, para enfrentar o “gigante”, avançando contra ele, como Davi, “em nome do Senhor dos exércitos, o Deus das tropas de Israel” (1Sm 17,45). Ela nos convida a manter-nos firmes fora do quadro ideológico

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do gênero, a tomar a via do discernimento e a guardar a espe-rança, de vez que temos de viver no meio da subversão e da confusão atuais, confrontados com as inumeráveis metamor-foses das sociedades ocidentais e violentamente abalados pela grande tempestade que ameaça fazer soçobrar a humanidade na decadência.

O discernimento é decisivo. E começa pelo realismo. Trata--se de tomar distância, de colocar as realidades atuais em pers-pectiva, uma perspectiva tão ampla quanto possível. De um lado, devemos ser capazes de abrir os olhos para as realidades sofridas e negativas de nosso tempo. De outro, manter nosso olhar fixo sobre as realidades portadoras do mistério de Deus. Em vez de nos encerrar em atitudes sumárias de aceitação ou recusa, deixemos que Deus venha despertar-nos, por meio dos próprios solavancos que sentimos e abramo-nos à luz transcendente de sua graça. Devemos “voltar à fonte, retornar à casa do Pai” e manter a confiança na presença operante de Deus na história, a qual passa por nossa colaboração ativa e pelo despertar das consciências.

Marguerite Peeters reúne e amplia as convicções de John Henry Newman, segundo o qual tão somente os homens e as mulheres de fé, que “fazem render aquilo que nos ensinam cada dia, cada hora que passa, podem discernir e perceber a densa presença de Deus no mundo. Aquilo que nos parece obscuro, quando ele vem a nosso encontro, reflete o sol da justiça, quando ele já passou. Que isso nos ensine, pelo menos para o futuro, a ter fé naquilo que não vemos. O mundo parece seguir sua marcha habitual. Nada existe de celeste no rosto da sociedade. No noticiário de cada dia, nada de celeste. Sobre os rostos da multidão, seja dos grandes, seja dos ricos, ou da gente ocupada, nada existe de celeste. Nas palavras dos eloquentes, nos atos dos poderosos, nos conselhos dos sábios, nas deci-sões dos soberbos, no fausto dos opulentos, nada de celeste.

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No entanto, o Espírito de Deus, bendito por todo o sempre, está presente. A presença do Filho eterno, dez vezes mais resplen-dente e poderoso do que no tempo em que, revestido de nossa carne, pisava esta terra, Sua presença está conosco. Guardemos sempre no espírito esta verdade divina: quanto mais secreta for a mão de Deus, mais ela é poderosa; quanto mais silenciosa, mais temível. Estamos debaixo do tremendo ministério do Espírito e quem quer que fale contra Ele arrisca-se mais do que poderíamos avaliar, quem quer que Lhe crie embaraços perde mais bênção e glória do que poderia compreender”5.

Sim, em meio a nossas angústias e tempestades das revoluções que agitam a humanidade, é certa a presença silenciosa e tran-quilizadora de Deus. Ela é nossa esperança! Recomendamos este livro e esperamos muito que seja amplamente lido por toda a África e por todos os continentes. Que ele suscite um diálogo honesto e digno da grandeza e da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

Cardeal Robert SarahPresidente do Pontifício Conselho Cor Unum.

Roma, 24 de agosto de 2012.

5 Cf. John Henry Newman. Douze sermons sur le Christ. Paris: Éditions du Seuil, 1954, p. 208.

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