o gosto amargo da fruta: crise na citricultura sergipana e (des)

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“O GOSTO AMARGO DA FRUTA: CRISE NA CITRICULTURA SERGIPANA E (DES) ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES” * Eliano Sérgio Azevedo Lopes Professor do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe – UFS INTRODUÇÃO A crise em que vem se arrastando a citricultura sergipana desde a década de 90, com um agravamento progressivo a partir de 2000, reflete não apenas o que vem acontecendo com o mercado do suco concentrado de laranja no plano internacional, como os constrangimentos que se avolumaram, ao longo dos anos, na estrutura da cadeia produtiva local. Sua transformação ao longo dos anos, passando de uma atividade com forte presença no mercado interno de frutas “in natura” para uma commodity, cuja dependência das exportações de suco tornou-se vital para a continuidade do seu desenvolvimento, trouxe uma série de implicações que vão desde a forma como está organizada a produção estadual, passando pelas relações dos citricultores com o Estado e as indústrias e desembocando na questão da organização dos produtores ou na falta desta. Assim é que, de um setor cuja importância para a economia agrícola do estado de Sergipe foi crucial, tanto no que diz respeito ao aspecto modernizador da agricultura como na geração de emprego, renda e arrecadação de impostos, a citricultura vive atualmente um processo de degeneração e empobrecimento jamais visto. Tentativas de revitalização da atividade, levadas a efeito pelos governos estaduais no período recente, não conseguiram modificar a gravíssima situação de milhares de * Texto resultante do Projeto de Pesquisa “Estudo-diagnóstico da Cadeia Produtiva da Citricultura Sergipana”, financiado pela FAPITEC/SE, Edital 007/2008, concluído em dezembro de 2009. Participaram da pesquisa a Profa. Dra. Mônica Cristina Santos Silva, da Universidade Federal de Sergipe - Campus de Itabaiana; os auxiliares de pesquisa Renata Sampaio, Izabela Ribeiro, Ivonaldo Rodrigues e Zanine Lopes; e o agrônomo Norivaldo Lima Santos, do escritório da EMDAGRO no Povoado Treze, município de Lagarto. Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ.

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Page 1: O gosto amargo da fruta: crise na citricultura sergipana e (des)

“O GOSTO AMARGO DA FRUTA: CRISE

NA CITRICULTURA SERGIPANA E (DES) ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES” *

Eliano Sérgio Azevedo Lopes† Professor do Mestrado em Sociologia da

Universidade Federal de Sergipe – UFS

INTRODUÇÃO

A crise em que vem se arrastando a citricultura sergipana desde a década de 90,

com um agravamento progressivo a partir de 2000, reflete não apenas o que vem acontecendo

com o mercado do suco concentrado de laranja no plano internacional, como os

constrangimentos que se avolumaram, ao longo dos anos, na estrutura da cadeia produtiva

local.

Sua transformação ao longo dos anos, passando de uma atividade com forte

presença no mercado interno de frutas “in natura” para uma commodity, cuja dependência das

exportações de suco tornou-se vital para a continuidade do seu desenvolvimento, trouxe uma

série de implicações que vão desde a forma como está organizada a produção estadual,

passando pelas relações dos citricultores com o Estado e as indústrias e desembocando na

questão da organização dos produtores ou na falta desta.

Assim é que, de um setor cuja importância para a economia agrícola do estado

de Sergipe foi crucial, tanto no que diz respeito ao aspecto modernizador da agricultura como

na geração de emprego, renda e arrecadação de impostos, a citricultura vive atualmente um

processo de degeneração e empobrecimento jamais visto.

Tentativas de revitalização da atividade, levadas a efeito pelos governos

estaduais no período recente, não conseguiram modificar a gravíssima situação de milhares de * Texto resultante do Projeto de Pesquisa “Estudo-diagnóstico da Cadeia Produtiva da Citricultura Sergipana”, financiado pela FAPITEC/SE, Edital 007/2008, concluído em dezembro de 2009. Participaram da pesquisa a Profa. Dra. Mônica Cristina Santos Silva, da Universidade Federal de Sergipe - Campus de Itabaiana; os auxiliares de pesquisa Renata Sampaio, Izabela Ribeiro, Ivonaldo Rodrigues e Zanine Lopes; e o agrônomo Norivaldo Lima Santos, do escritório da EMDAGRO no Povoado Treze, município de Lagarto. † Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ.

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pequenos citricultores endividados e colhedores de laranja que, sem perspectivas de trabalho,

vão bater às portas do governo estadual e/ou das prefeituras da região cítricola, clamando por

anistia das dívidas contraídas com os bancos ou em busca de cestas básicas e outros

benefícios, como o Bolsa-Família, para fugir da fome.

O principal objetivo desta pesquisa é estudar a cadeia produtiva da laranja,

visando ter uma dimensão, mesmo que aproximada, da magnitude da crise da citricultura de

Sergipe, dando números e contorno a ela; indo além da discussão, necessária, mas

insuficiente, do grave quadro em que a atividade e os que dependem dela vêm tendo que

enfrentar, apenas com base no senso comum ou em visões impressionistas. E, no contexto

deste cenário, procuraremos destacar um elo muito importante da cadeia - os produtores - com

foco na dimensão associativa ou formação de organizações de grupos de interesse voltados à

ação coletiva.

Para tanto, faremos, em primeiro lugar, uma análise comparativa entre os

resultados desta pesquisa com os de outra realizada pelo BNB/ETENE e SUDAP, em 1984,

nos 14 municípios que formam o pólo citricultor do estado e publicada com o título

“Produção e Comercialização de Citros em Sergipe”, quando a citricultura sergipana ainda

vivia o seu apogeu. Nessa pesquisa são abordados aspectos agronômicos e sociais da

citricultura sergipana, bem como o comportamento do mercado e da comercialização da

laranja no Nordeste.

Evidentemente, as comparações entre variáveis dos dois estudos serão feitas,

sempre que possível e pertinente, com a finalidade de mostrar eventuais modificações e/ou

persistências, no tempo, de aspectos relevantes da citricultura estadual.

Ressalte-se que as comparações devem ser vistas com os devidos cuidados,

face à amplitude das áreas de abrangência das duas pesquisas: a do BNB/ETENE e SUDAP,

com uma amostra que contempla o conjunto dos municípios sergipanos produtores de laranja

e a que está sendo retratada aqui, restrita aos três principais municípios produtores, na

atualidade.

É possível, no entanto, mesmo com certas ressalvas, perceber a dinâmica da

citricultura sergipana num horizonte temporal de quase 25 anos, em dois momentos distintos e

marcantes: num deles, 1984, de pujante desempenho do setor citrícola de Sergipe e, no outro,

2007/2008, em plena crise, que vem se arrastando desde a década de 90.

No que diz respeito à questão da organização dos citricultores, a análise será

conduzida tendo como norte o referencial teórico sobre interesses individuais e ação coletiva,

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principalmente com base nas idéias expostas por Mancur Olson em sua obra clássica “A

Lógica da Ação Coletiva” (São Paulo, Edusp, 1999).

Mais do que tentar explicar o porquê da ascensão e queda, do sucesso ou

fracasso das principais entidades de representação dos citricultores sergipanos – Associação

dos Citricultores de Sergipe-ASCISE, Cooperativa Mista dos Agricultores do Treze Ltda. -

COOPERTREZE e Cooperativa Mista Agrícola de Estância Ltda. -COOPAME – o que

interessa no presente estudo é compreender as seguintes questões problematizadoras sobre a

ação coletiva nas organizações de interesse: o que leva as pessoas a participarem de

organizações sociais? Por que uns colaboram e outros não? Por que os que colaboram o fazem

em circunstâncias e tempo determinados, e não de forma permanente e incondicional? Quais

as razões alegadas pelos citricultores para não participarem de organizações de interesse? O

que as motivaria a integrar tal tipo de organização?

Da estrutura do relatório constam, além da introdução, quatro capítulos e as

considerações finais. O primeiro capítulo mostra o caminho percorrido para a realização da

pesquisa. No segundo, expomos a base teórica da análise sobre a constituição, desafios e

constrangimentos na construção e operacionalização das organizações individuais de interesse

e ação coletiva, tendo como norte os escritos de Mancur Olson. No terceiro capítulo, são

feitos breves comentários sobre a situação recente da citricultura no país e no estado de

Sergipe, destacando a sua dinâmica e relações comerciais, além de suas inserções nos

mercados interno e externo de suco concentrado de laranja. Na sequência, são apresentados os

resultados da pesquisa realizada nos três municípios escolhidos como objeto de estudo,

começando pela caracterização dos produtores, análise da forma de organização da produção

e relações de trabalho, até chegar aos aspectos relativos à renda e à organização dos

citricultores.

Dando contorno final ao documento são apontados alguns dos elementos

considerados mais relevantes para a compreensão da cadeia produtiva da laranja na

atualidade, com destaque para um de seus elos fundamentais – os citricultores. Mais

precisamente, sobre a organização deles em entidades associativas ou cooperativas, como

forma de enfrentar os problemas e dificuldades nas relações comerciais que estabelecem com

os intermediários e com a indústria de suco concentrado, bem como nas relações

institucionais com o Estado. Como corolário, a natureza e a dimensão da crise e o

empobrecimento de expressivo contingente de citricultores, particularmente da camada média

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que por muitos anos foi exemplo de operosidade e de motor do dinamismo da economia

agrícola “moderna” do estado de Sergipe.

1 - O PERCURSO DA PESQUISA

Os municípios de Itabaianinha, Lagarto (Povoado Colônia Treze) e

Cristinápolis ocupam, desde 2001, as primeiras posições no rol dos maiores produtores de

laranja de Sergipe, motivo pelo qual foram escolhidos como objeto do presente estudo.

A razão de Itabaianinha e Cristinápolis terem assumido a dianteira entre os

demais municípios que integram o pólo citricultor de Sergipe é explicada, por alguns

produtores e técnicos, pelo fato de terem sido incorporados ao processo produtivo de citros

posteriormente aos municípios tradicionais, a exemplo de Lagarto e Boquim, que por vários

anos ocuparam os primeiros postos entre os principais produtores de laranja do estado. Fazem

parte do que se convencionou chamar de “frente de expansão” da citricultura sergipana, que

se estendeu da região centro-sul para o sul do estado, chegando a municípios fronteiriços da

Bahia, onde os pomares são melhores, ocupam áreas maiores e as plantas apresentam maior

produtividade.

Para o cálculo da amostra foram utilizados os dados do Censo Agropecuário

1995-96 do IBGE. Do total de pessoas dos três principais municípios produtores de laranja -

Itabaianinha, Cristinápolis e Lagarto - que informaram utilizar suas terras com culturas

permanentes extraímos uma amostra correspondente a um por cento dos informantes,

totalizando 64 agricultores.

Chama-se a atenção para o fato de que não estamos interessados na

representação estatística da amostra, senão para os processos que dão conformação à situação

atual da citricultura no estado. Assim, o processo histórico e o contexto em que as

organizações de classe surgiram, os atores que as construíram e as ações que elas

desenvolveram ao longo do período de sua existência, entre outros, são os elementos que a

pesquisa procura identificar e compreender.

A composição da amostra, com o número de questionários a serem aplicados

em cada um dos três municípios, foi estabelecida considerando-se o peso ou proporção de

cada um deles no total de informantes. Assim, coube a Lagarto (Povoado Treze) a entrevista

com 28 citricultores, 24 questionários foram aplicados em Itabaianinha e 12 em Cristinápolis.

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Definido o número de questionários para cada um dos municípios

selecionados, foi feita a estratificação da amostra, com base na porcentagem dos produtores

rurais dos três municípios por grupos de área total, cujo resultado está representado no quadro

a seguir:

Amostra: Número de estabelecimentos a serem pesquisados por município

Grupos de área total (há) Lagarto

(Povoado Colônia

Treze)

Itabaianinha Cristinápolis Total

Menos de 10 hectares 25 19 10 54

10 a menos de 50 hectares 2 4 1 7

50 hectares e mais 1 1 1 3

Total Geral 28 24 12 64

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-96. Cálculos: do autor A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira constou de um

levantamento de fontes bibliográficas – textos, artigos, documentos, relatórios sobre

citricultura, grupos e organizações de interesses, cooperativismo a associativismo – de cunho

acadêmico ou técnico-operacional, que serviram de base para a construção do questionário e

dos roteiros de entrevistas. Na segunda fase, o trabalho de campo, propriamente dito, foram

aplicados questionários semi-estruturados a citricultores de diferentes portes, escolhidos

aleatoriamente, e realizadas as entrevistas com atores-chave, principalmente, técnicos

envolvidos com a citricultura estadual e dirigentes e representantes de cooperativas e

associações, com destaque para a ASCISE, COOPERTREZE e COOPAME.

O trabalho de campo teve sua execução entre os meses de janeiro e julho de

2009, tendo como referência o ano agrícola 2007/2008 e, como objeto da pesquisa, 22

comunidades rurais, das quais 16 localizadas no município de Lagarto, três em Itabaianinha e

três em Cristinápolis. Trata-se de povoados com grande concentração de citricultores, que

foram selecionados a partir de informações obtidas junto a EMDAGRO, constantes dos

Planos de Trabalho para 2008, elaborados pelos escritórios da empresa dos três municípios

escolhidos para este estudo.

Em Lagarto, foram aplicados questionários com citricultores da Pista Principal

do Povoado Treze, Colônia Treze, Pista da Granja, Pista do Pau Grande, Pista do Rio das

Vacas, Povoado Poção, Rio da Vaca, Pista 4, Pista 3 (Povoado Nova Descoberta), Povoado

Baixão, Mangabeira, Açuzinho, Pista do cemitério, Lagoa Seca, Pista do Açuzinho e

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Povoado Pau Grande. No município de Itabaianinha, foram entrevistados produtores dos

povoados Dispensa, Diamante e Patioba. E em Cristinápolis, nos povoados Lagoa Seca I,

Colônia Cristinápolis e Água Branca.

É importante ressaltar que a aplicação dos questionários com os citricultores

foi feita nos seus próprios sítios, o que possibilitou aos pesquisadores observarem a

propriedade como um todo, de certa forma “confrontando” algumas das respostas dadas pelos

entrevistados com a realidade que se apresentava aos seus olhos, notadamente no que dizia

respeito às condições de habitabilidade – moradia, saneamento básico, água e energia

elétrica.

As entrevistas com os atores-chave foram realizadas na capital, Aracaju, e nos

municípios onde estão localizadas as sedes das cooperativas e associações, a depender da

disponibilidade de tempo e facilidade dos entrevistados em receber os pesquisadores. Assim,

coube à coordenação da pesquisa fazer os contatos, deixando aos entrevistados a prerrogativa

da escolha do local, data e hora para responder às perguntas constantes dos roteiros

elaborados.

Utilizamos na tabulação dos dados o Programa SPSS, próprio para aplicação

em pesquisas sociais, e as degravações das fitas com as entrevistas foram reunidas em bloco

de questões, com as respostas dadas pelos diferentes atores entrevistados. As tabelas e

gráficos foram gerados pelo SPSS e pelo Excel.

Todo esse material, mais os fichamentos de leituras feitas durante todo o

período de realização da pesquisa, constituiu a base para a elaboração do relatório final da

pesquisa.

É importante observar que os questionários aplicados tiveram como

respondentes os próprios produtores. Dos 64 citricultores entrevistados, 92,2% eram

responsáveis ou chefes da família, 4,7% cônjuges e 3,1% filhos maiores de idade; logo,

pessoas com maior conhecimento sobre o estabelecimento rural e a situação que estão

vivenciando como produtores de laranja.

2 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DE INTERESSES INDIVIDUAIS E AÇÃO

COLETIVA

Costuma-se dizer que algo que começa errado tem enorme chance de terminar

errado. Será que as principais organizações de interesses criadas pelos citricultores sergipanos

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- COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE - se enquadram nessa moldura? Em outros

termos, a situação econômico-financeira deplorável a que chegaram, inclusive, fechando

literalmente as suas portas, como é o caso da ASCISE, e a perda real de representatividade e

legitimidade junto a seus sócios e ao conjunto dos produtores de laranja, já estava “escrito nas

estrelas”? É óbvio que uma resposta afirmativa, sem antes analisar teoricamente os

determinantes empíricos que levaram a esse estado de coisas, seria não apenas leviana como

simplista.

A complexidade de que se reveste o tema obriga a que se examinem com

profundidade as motivações, o percurso e as ações implementadas pelas organizações sociais

citadas anteriormente, à luz de teorias que deem conta do significado de formação de grupos

de interesses e ação coletiva em sociedades de classes. É dizer, que se examine o contexto em

que elas foram criadas, por quem, para que e com que objetivos, assim como o seu

funcionamento, os conflitos internos e as articulações tanto no âmbito local como nacional.

Neste sentido, a discussão sobre como e por que agentes econômicos procuram

se organizar em entidades voltadas para a defesa de interesses coletivos, onde a cooperação

entre seus membros é fator primordial do alcance de objetivos e metas traçadas e de

reivindicações levadas ao Estado, encontra na Teoria da Ação Coletiva de Mancur Olson

suporte teórico importante para a sua explicação.

A despeito dos questionamentos que são feitos quanto à sua capacidade

explicativa, principalmente ao tomar como eixo central a idéia de racionalidade econômica

dos indivíduos, sua teoria tem grande utilidade para entender o comportamento dos indivíduos

em grupos, organizações, associações e redes de empresas. Os conceitos de carona e de

exploração do grande pelo pequeno – ajudam a explicar o comportamento desse tipo de

organização.

Segundo Mancuso (2003), o objeto de Olson é o comportamento de indivíduos racionais que formam

um grupo e têm interesse na obtenção de um benefício coletivo, entendido como um

benefício a que deve ter acesso, indistintamente, todos os que integram um

determinado grupo de interesse ou organização de ação coletiva, independentemente

do seu comportamento – se ativo ou omisso - nas ações empreendidas em busca de

alcançar seus interesses.

Para Olson, o individuo racional é aquele que procura realizar seus objetivos –

desde o mais egoísta ao mais altruísta - por meios "eficientes e efetivos". Ele focaliza sua

atenção, especificamente, “no comportamento de indivíduos racionais, que formam aquilo que

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chama de ‘grupos econômicos’, ou seja, grupos cujos membros têm interesse na obtenção de

benefícios coletivos que resultem em vantagens materiais para si próprios” (Mancuso, 2003).

Entretanto, sua grande contribuição é dada por mostrar, por meios lógicos, a

insuficiência revelada pelo senso comum de que indivíduos em grupo farão o máximo para

alcançar os objetivos do grupo quando estes refletem seus objetivos e interesses individuais.

Como afirma Olson (1999), um dos motivos pelos quais os grupos tendem a resultados insatisfatórios (ou

subótimos) é que os benefícios gerados são ‘benefícios coletivos’, isto é, que uma vez

gerados pelo grupo podem ser usufruídos por todos os participantes, independente de

terem contribuído ou não para gerá-los... Quer dizer, todos têm interesse nos

benefícios, mas nenhum interesse em arcar com os custos. Os benefícios somente

serão gerados se houver algum tipo de coerção para que os membros participem, ou

caso haja algum membro do grupo disposto a arcar com todos os custos porque

mesmo assim lhe será vantajoso.

Outro elemento importante em sua teoria, é que o maior ou menor sucesso de

uma organização constituída com o propósito de reunir interesses individuais para agir de

forma cooperativa depende do tamanho do grupo que dela participa.

A chance de conseguir benefícios será tanto menor quanto maior for o grupo, já

que nenhum participante estará disposto a arcar com todos os custos de provimento, pois os

benefícios serão divididos entre todos, independente de terem participado ativamente ou não.

Também porque, quando se trata de grupos de interesses com um contingente grande de

pessoas envolvidas, a contribuição individual será vista por elas como tendo pouca

importância para o alcance do benefício coletivo, esquivando-se do ônus da participação,

preferindo ficar como “carona”, deixando que os outros lutem e consigam conquistar os

benefícios desejados.

Ocupa lugar de destaque na explicação de ações mal sucedidas por parte dessas

entidades, o comportamento dos chamados free rider ou “carona”, que são aqueles indivíduos

que não se expõem no curso das lutas em busca do atendimento das reivindicações do grupo e

aparecem somente quando os benefícios coletivos são gerados, para deles usufruir.

A idéia central de Olson é que o interesse comum dos membros de um grupo

pela obtenção de um benefício coletivo nem sempre é suficiente para levar cada um deles a

contribuir para a obtenção desse benefício. Há circunstâncias em que o indivíduo racional,

buscando maximizar seu próprio bem-estar, prefere que os outros membros do grupo paguem

o custo da obtenção do benefício coletivo para, assim, poder gozar das vantagens dele

oriundas sem ter gasto nada.

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De acordo com Mancuso (2003), a decisão de todo indivíduo racional sobre se irá ou não contribuir para a

obtenção do benefício coletivo (e, em caso de decisão positiva, sobre o volume da sua

contribuição) depende de um cálculo, onde o indivíduo considera: a) o custo marginal

de fornecer o benefício coletivo em alguma medida; b) o benefício marginal oriundo

do fornecimento do benefício coletivo em alguma medida e c) a quantidade do

benefício coletivo já fornecida.

Afirma, ainda, que os membros do grupo para os quais o custo de produzir qualquer quantidade do

bem coletivo excede os benefícios, irão pegar carona na ação do indivíduo A e do

indivíduo B. Como o bem fornecido por A e B é coletivo, os demais indivíduos se

beneficiarão dele sem terem contribuído para sua obtenção. Ou seja, Olson utiliza o

termo carona para designar a atitude de indivíduos racionais e auto-interessados que,

mesmo considerando desejável a obtenção de um benefício coletivo, não se dispõem a

colaborar para ela, pois esperam que outros indivíduos o façam. Os caroneiros

preferem que outros indivíduos arquem com as despesas da obtenção do benefício

coletivo, para que, desta forma, possam usufruir as vantagens dele procedentes sem

terem que investir seus próprios recursos (Mancuso, 2003).

Com isso, a grande assimetria entre os membros de um grupo no que diz respeito aos seus

níveis de interesse por um benefício coletivo pode dar origem a um fenômeno

inusitado: a exploração do grande pelo pequeno. A exploração ocorre quando o

membro grande assume uma parte do custo do provimento do bem coletivo que é

proporcionalmente maior do que a parte que lhe cabe das vantagens proporcionadas

por esse bem coletivo. O membro pequeno possui dois motivos para explorar o

membro maior: em primeiro lugar porque, por definição, ele sempre alcança uma

parcela do benefício gerado por qualquer quantidade do bem coletivo que é menor do

que a parcela alcançada pelo membro maior. Dessa forma, o membro menor tem

menos incentivo para fornecer qualquer quantidade do bem coletivo do que o membro

maior. Em segundo lugar porque, sempre que o membro menor alcança gratuitamente

sua parcela do benefício total gerado pela quantidade do bem coletivo fornecida pelo

membro maior, ele alcança mais do que teria alcançado se fornecesse por si próprio

alguma quantidade do bem coletivo. Sendo assim, o membro menor não tem qualquer

incentivo para fornecer novas quantidades do bem coletivo às suas próprias custas

(Mancuso, 2003).

Em suma, em grupos maiores a solução parece estar na criação de benefícios

seletivos (positivos ou negativos) que ajudem os participantes a tomar a decisão de cooperar e

contribuir para o benefício coletivo; em grupos menores, em que os membros têm contato

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face a face e, portanto, podem exercer um controle mútuo, há maiores chances de que os

benefícios coletivos sejam alcançados.

A análise das contradições que emergem da relação que se estabelecem entre as

entidades de organização de interesses e a ação desses sujeitos, considerando a realidade

política e econômica, ajudam a responder essas questões.

Ressalte-se, porém, que a cooperação não depende apenas da criação de

estruturas organizativas, como cooperativas, associações etc. ou do treinamento de

habilidades ou da educação dos sujeitos para o exercício da solidariedade.

As relações de cooperação são mediadas por um conjunto de condicionantes

estruturais que são (ou não) dados, especialmente, a partir da relação estabelecida com o

Estado, cuja responsabilidade na formulação e execução de políticas públicas para o meio

rural é indispensável para garantir a continuidade e a consolidação das explorações levadas a

cabo pelos produtores rurais. É ainda mediada pelo próprio sentido atribuído pelos

trabalhadores rurais à cooperação e à cooperativa (Scopinho, 2007).

3 – BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O CENÁRIO DA CITRICULTURA NO

BRASIL E EM SERGIPE‡

O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de laranja, com 17,8 milhões

de toneladas de frutos colhidas na safra 2005/06 e produção de 1,2 milhão de toneladas de

suco de laranja, equivalente a 56,02% da produção e a 80,53% das exportações mundiais

(DESER, 2006). Estima-se para 2007/2008, uma produção brasileira da ordem de 1,19

milhões de toneladas de suco e uma exportação de 1,23 milhões de toneladas. Esse aparente

paradoxo só é possível porque o nível de estoques do país deverá decrescer 74 mil toneladas e

o mercado interno não absorverá mais que 34 mil toneladas (DESENBAHIA, 2008).

Juntamente com os Estados Unidos, domina a produção mundial de laranja in

natura, respondendo por mais de 50% da oferta anual do produto, que alcançou 45,6 milhões

de toneladas na safra 2006/2007. Apesar de grande produtor, o Brasil não figura entre os mais

‡ As informações e considerações a seguir foram feitas com base no relatório de pesquisa “A Cadeia

Produtiva da Laranja: Estudo Exploratório” (DESER, 2006), e nos documentos “Relatório de Mercado de Citrus: Laranja” (DESENBAHIA, 2008), “Aspectos Técnicos dos Citros em Sergipe” (CPATC/EMBRAPA e DEAGRO, 2007) e “Ações Prioritárias para o Desenvolvimento da Fruticultura em Sergipe” (SAGRI, 2001).

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importantes exportadores de laranja in natura. Nessa seara, os Estados Unidos e a África do

Sul são os maiores players internacionais (DESENBAHIA, 2008).

Até essa safra, o Brasil vinha melhorando a sua participação relativa nesse

mercado e a produção norte-americana recuando de forma significativa. Enquanto a produção

brasileira de laranja sustentou um pequeno incremento de 6,6% entre as safras de 1999/2000 e

2006/2007, a produção dos Estados Unidos contabilizou um declínio de 42,0% no mesmo

período. Nas estimativas para a safra 2007/2008, no entanto, a produção brasileira registra

uma retração de 13% em relação à safra anterior, ao passo que a dos Estados Unidos

contabiliza um incremento de 34%. (DESENBAHIA, 2008).

Segundo a Agência de Fomento do Estado da Bahia (DESENBAHIA, 2008)

a queda da oferta brasileira está associada à irregularidade climática,

ao desgaste dos pomares após grandes colheitas nos últimos anos e, principalmente,

aos reduzidos investimentos que vêm sendo destinados à citricultura. Têm sido

recorrentes as queixas dos citricultores paulistas aos preços relativamente baixos que a

indústria de suco vem pagando pelo insumo, frente à elevação dos preços

internacionais do suco e dos custos de produção e de oportunidade que a citricultura

vem enfrentando nos últimos anos. O resultado é que alguns produtores têm

migrado para outras culturas (como a de cana-de-açúcar) ou simplesmente não

investido nos pomares existentes.

O Brasil figura como o mais proeminente entre os principais países

exportadores de suco concentrado e congelado de laranja, respondendo por mais de 80% das

vendas internacionais de suco de laranja nos últimos anos. Isso ocorre porque a parcela mais

relevante da produção brasileira é toda destinada às exportações, restando um percentual

relativamente pequeno para consumo interno (DESENBAHIA, 2008).

A comercialização da laranja brasileira se dá por meio da exportação de suco

concentrado para o mercado externo, tendo como principais importadores os Estados Unidos,

Japão e Espanha, enquanto que as frutas in natura são destinadas ao mercado interno. Até

pouco tempo inexpressiva no quadro dos importadores mundiais de suco, atualmente a China

ocupa o quarto lugar, transformando-se em mercado bastante promissor (DESER, 2006).

O estado de São Paulo é o principal produtor brasileiro, seguido da Bahia,

Sergipe e Minas Gerais. Na safra 2005/2006, a produção paulista de laranja foi de 14,3

milhões de toneladas, correspondente a aproximadamente 80% da produção nacional; a Bahia

colheu, nessa safra, 802 mil toneladas ou 4,5% do total produzido no país; Sergipe teve uma

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produção de 738 mil toneladas na mesma safra, representando 4,1% da produção brasileira

(DESER, 2006).

Em termos de valor da produção, o estado paulista também respondeu por 80%

dos R$ 5,3 bilhões da renda que essa cultura gerou em 2006. A Bahia, por sua vez, já não foi

o segundo estado mais relevante, uma vez que a sua produção ficou cotada em R$ 183

milhões, ou 3,4% do valor gerado nacionalmente. A laranja proveniente de Minas Gerais,

mais valorizada que a mercadoria baiana, fez com que o estado mineiro assumisse o posto de

segundo estado no país no que se refere ao valor da produção dessa citricultura

(DESENBAHIA, 2008).

Para a safra 2007/2008, as estimativas do USDA, são de queda da quantidade

produzida no país, o que fará com que o volume de laranja ofertado no Brasil fique na casa

dos 16 milhões de toneladas. Tal recuo da oferta nacional está relacionado com a redução da

área plantada em São Paulo que tem registrado encolhimento, além dos problemas

fitossanitários, notadamente o greening – uma doença com grande poder destrutivo - além do

cancro cítrico e a clorose variegada dos citrus – CVC (DESENBAHIA, 2008).

O parque industrial brasileiro para produção de suco de laranja é bem

estruturado e suas principais empresas se encontram inseridas no mercado mundial de suco de

laranja congelado, há muitos anos. As principais empresas/indústrias de suco de laranja do

Brasil são: Cutrale, Citrosuco, Citrovita, Coinbra-Dreyfus, Montecitrus, Brascitrus e CTM. As

três primeiras empresas controlam aproximadamente 77% das exportações brasileiras de suco

de laranja (DESER, 2006).

A commodity dessa cadeia produtiva, no entanto, não é a laranja in natura, mas

o suco de laranja ou, mais especificamente, o concentrado congelado de suco de laranja

(Frozen Concentrated Orange Juice - FCOJ). Como a fruta é o principal insumo desse

mercado, o Brasil e os Estados Unidos aparecem de novo como os mais importantes

produtores mundiais, respondendo, juntos, por quase 90% da produção global. Na estimativa

para a safra 2007/2008, a produção mundial chegou a 2,26 milhões de toneladas de suco,

volume inferior aos registrados nas safras anteriores, com exceção da contabilizada em

2004/2005, de 2,12 milhões de toneladas.

Atualmente, o cultivo da laranja no Brasil é feito por três tipos de produtores:

pequenos produtores familiares, médios e grandes citricultores e empresas processadoras de

suco concentrado. “Uma parte da laranja é produzida em área das próprias empresas

Page 13: O gosto amargo da fruta: crise na citricultura sergipana e (des)

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13

processadoras. Outra parte é produzida por produtores que possuem contratos com as

empresas e outra parte, ainda, por produtores que não possuem contratos com as empresas

processadoras. A produção de laranja pela agricultura familiar é pequena em relação à

quantidade total produzida” (DESER, 2006)

Em São Paulo, que produz aproximadamente 80% da laranja brasileira, o

cultivo é feito, na sua maioria, em grandes áreas de produção, sendo que aproximadamente a

metade é cultivada em área das próprias indústrias (DESER, 2006). Situação totalmente

oposta à de Sergipe, onde é a agricultura familiar que responde maciçamente pela produção de

laranja no estado, apesar das crescentes e graves dificuldades que vêm atingido mais

diretamente os pequenos e os médios agricultores integrantes dessa categoria.

A partir do início dos anos 90, o número total de produtores comerciais de

laranja no Brasil foi reduzido, em virtude de problemas fitossanitários e das oscilações nos

preços da laranja, o que levou muitos agricultores a abandonar a atividade (DESER, 2006) §.

Os citricultores atribuem essa saída ao crescente custo de produção da laranja,

em decorrência das dificuldades provenientes do controle de pragas e doenças, que dizimam

os pomares e exigem mais cuidados, e aos baixos preços recebidos pelo produtor, em face do

monopsônio que exerce o oligopólio formado pela indústria processadora de suco concentrado

de laranja do país.

A queda da produção só não foi maior com a saída dos produtores desse

segmento porque os maiores pomares permaneceram e parte da produção vem sendo realizada

atualmente pelas próprias indústrias, que buscam verticalizar a produção, a exemplo da

CUTRALE, que mantém algumas fazendas além das suas fábricas (DESENBAHIA, 2008).

Os produtores que ainda se mantém na atividade são geralmente os que

possuem grandes explorações de laranja e cujos pomares apresentam alta produtividade, em

decorrência da utilização de mais tecnologia, adensamento e irrigação. Essa situação deverá

fazer com que a produtividade da citricultura paulista eleve-se ainda mais frente à produção

de outros estados brasileiros. A produtividade média de São Paulo só é menor que a

produtividade média da citricultura paranaense (que tem uma representatividade muito baixa

na citricultura nacional), e muito maior que as médias dos estados da Bahia e Sergipe,

§ Segundo a DESENBAHIA (2008), o censo citrícola da Fundecitrus mostra que desde 1995 mais da metade dos

produtores saiu da atividade, em especial em São Paulo e no Triângulo Mineiro, fazendo com que o número de citricultores no país caísse de 23 mil em 1995 para perto de 10 mil em 2005 (FNP, 2007).

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14

respectivamente segundo e terceiro maiores produtores de laranja do país (DESENBAHIA,

2008).

Especificamente sobre o Estado de Sergipe, este chegou a ser o segundo maior

pólo citrícola do país, com uma área plantada de 50 mil hectares e produção média anual de

700 mil toneladas, destinadas ao abastecimento do mercado interno de frutas in natura e à

exportação, sob a forma de suco concentrado. Atualmente, é um pálido retrato do setor

pujante que foi entre 1970 e 1990, embora ainda continue a ter uma enorme importância

social e econômica para o estado, a despeito da grave crise pela qual vem passando.

Segundo o Censo Agropecuário 1995-96 do IBGE, embora encontrada em 63

dos 75 municípios sergipanos, a cultura comercial da laranja está concentrada nos 14

municípios que compõem as Microrregiões Agreste de Lagarto, Boquim e Estância, a saber:

Lagarto, Riachão do Dantas, Arauá, Boquim, Cristinápolis, Itabaianinha, Pedrinhas, Salgado,

Tomar do Geru, Umbaúba, Estância, Indiaroba, Santa Luzia do Itanhy e Itaporanga D’Ajuda

(Figura 1).

Também denominada de pólo citricultor ou região citrícola, tem quase 400 mil

habitantes, o que corresponde a um quinto da população estadual, e ocupa 25% da superfície

total do estado, com seus 5,5 mil quilômetros quadrados. Responde por mais de 95% da área

total plantada com laranja no estado, distribuída em 11.570 estabelecimentos agropecuários e

proporciona ocupação para estimadas 40.901 pessoas.

A crise da citricultura sergipana, desde a década de 90, tem suas origens em

fatores internos e externos, que levaram à redução da rentabilidade do setor a níveis tão

baixos que impediram a manutenção e ampliação da atividade. Pelo lado da produção, ocorreu

a elevação dos custos e queda na produtividade, em virtude do encarecimento do crédito

agrícola e, consequentemente, a diminuição dos investimentos na manutenção e renovação

dos pomares. Pelo lado da demanda, a queda das exportações de suco concentrado de laranja

nos principais mercados importadores, entre outros motivos, levou à diminuição da receita

obtida pelos agentes envolvidos no agronegócio citrícola e, conseqüentemente, aumentaram

as dificuldades de manutenção e ampliação da atividade.

Os reflexos negativos se reproduziram por toda a cadeia produtiva da

citricultura, desde o segmento de produção de mudas, passando pela indústria de fertilizantes,

comércio de insumos, agentes financeiros, comerciantes de frutos, chegando até a indústria de

suco e o mercado varejista de frutas, levando a um processo de semi-estagnação econômica da

região citrícola.

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15

Embora desde os anos 50 o cultivo da laranja já fizesse parte das atividades

agrícolas exploradas no estado, foi entre 1970 e 1985 que a citricultura sergipana tomou um

vulto surpreendente. Os dois mil hectares de citros, implantados em Boquim, principalmente,

Pedrinhas e Riachão do Dantas, levantados pelo CONDESE em 1968, se transformaram em

50 mil hectares distribuídos por 14 municípios do centro sul do estado, de Itaporanga

D’Ajuda até a fronteira da Bahia, em Tomar do Geru (EMBRAPA/DEAGRO, 2007).

A nova citricultura avançou sobre os espaços antes ocupados por pastagens,

matas secundárias e remanescentes da mata atlântica e, sustentada pelas novas tecnologias

aportadas pela pesquisa e pela extensão, permitiu que os produtores aproveitassem com

grande êxito a oportunidade de um mercado demandante de frutas cítricas nos principais

centros urbanos do Nordeste e da oferta farta e barata de crédito agrícola, para implantarem na

região o que na época se tornou o segundo pólo citrícola do país (EMBRAPA/DEAGRO,

2007).

Entre 1980 e 1985, a citricultura sergipana viveu o apogeu econômico,

chegando à marca dos 40 mil hectares colhidos e ocupando a segunda colocação do ranking

da produção brasileira. A exploração proporcionava elevados rendimentos aos produtores e

aos industriais, o que permitiu a emergência de uma forte classe média de origem e raízes

rurais na região sul do estado. Entretanto, a partir daí, veio o declínio acentuado da atividade,

com gravíssimos problemas na produção e produtividade das lavouras, geração de emprego e

renda, abrangendo tanto a parte agrícola quanto a industrial.

Page 16: O gosto amargo da fruta: crise na citricultura sergipana e (des)

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16

Figura 1 – Municípios que formam a Região Citrícola de Sergipe

A partir de 1990, uma conjunção de fatores, como a falta de investimento

público na pesquisa e na extensão, saturação do mercado, períodos de seca, falta de evolução

tecnológica dos produtores, principalmente no setor de comercialização e organização,

resultou em anos de inadimplência no crédito, no desânimo, na estagnação

(EMBRAPA/DEAGRO, 2007).

Apesar disso, em Sergipe, a citricultura ainda é uma das atividades econômicas

mais importantes da economia agrícola estadual e se constitui no maior empregador da região

Canindé de São

Francisco Poço

Redondo

Porto da Folha Gararu

Monte Alegre de Sergipe

N. Sra. da Glória

Carira N. Sra. Aparecida

Feira Nova

Graccho Cardoso

Itabi N. Sra. de Lourdes

Canhoba

Aquidabã Cumbe

São Miguel do Aleixo

N. Sra. das Dores

Ribeirópolis Frei Paulo Pedra Mole

Pinhão Capela

Moita Bonita

Itabaiana Macambira

Campo do Brito São

Domingos Simão Dias

Lagarto

Poço Verde

Tobias Barreto Riachão do

Dantas

Itabaianinha

Tomar do Geru

Cristinápolis Umbaúba

Indiaroba

Sta Luzia do Itani

Pedrinhas

Arauá

Boquim

Estância Itaporanga D’Ajuda

Aracaju

Pirambu

Pacatuba Siriri Japaratuba

Japoatã

Cedro de São João

Malhada dos Bois

Muribeca Neópolis

Propriá

Amparo de São Francisco Telha

São Cristóvão

Areia Branca Laranjeiras

Riachuelo Santo Amaro das

Brotas

Divina Pastora

Rosário do Catete

Ilha das Flores Brejo Grande

Salgado

Santana do São Francisco

Sta. Rosa de Lima Malhador

N. Sra. do Socorro

Barra dos Coqueiros

Maruim Carmópolis Gal. Maynard

São Francisco

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17

Centro-Sul do estado, mesmo com a drástica redução das ocupações e empregos ocorrida no

setor. Em 1995/96, a citricultura proporcionava ocupação para 43.011 pessoas, menos da

metade das 100 mil ocupações existentes no período áureo da atividade, por volta da década

de 80.

Segundo os dados da Produção Agrícola Municipal do IBGE, em 2007 a área

colhida com laranja em Sergipe foi de 55.272 hectares, com uma produção igual a 764 mil

toneladas e rendimento médio de 13,8 toneladas por hectare. Contraditoriamente, apesar da

grave crise que atravessa, a citricultura sergipana tem apresentado ao longo dos anos um

aumento na área colhida e na produção de laranja, embora com queda brutal de produtividade,

que atualmente é pouco mais da metade do rendimento médio que a cultura alcançou no

período de apogeu.

Tomando-se a série histórica correspondente ao período 1990 a 2007, pode-se

ver nas Figuras 2, 3 e 4 como se comportou a cultura da laranja em Sergipe, em termos de

área colhida, produção e rendimento médio, tanto para o estado como para os 14 municípios

que formam o Pólo Citricultor, e ainda para os três principais municípios produtores. Os

dados numéricos para cada ano constam das Tabelas 1, 2 e 3 do Anexo I.

Observa-se que até 2000, o município de Lagarto ocupava a primeira posição

entre os principais produtores de laranja do Sergipe, tanto em área colhida, como produção e

rendimento médio. A partir desse ano, perdeu lugar para Itabaianinha e Cristinápolis, ficando

em terceiro lugar.

O município de Boquim, ainda hoje conhecido como a “terra da laranja”, que

por vários anos dividiu com Lagarto o posto de maiores produtores de laranja de Sergipe,

atualmente amarga um quarto lugar. Apesar de manter a tradição de promover anualmente a

“Festa da Laranja”, evento que vem sendo realizado há mais de 40 anos, gradativamente vem

perdendo importância no cenário agrícola sergipano, notadamente no que diz respeito à

citricultura. Pomares envelhecidos, pragas e doenças e endividamento de grande parte dos

citricultores da região contribuem para a situação melancólica que atravessa a cultura, com

crescente empobrecimento dos pequenos citricultores e miséria de milhares de colhedores de

laranja (Anexo II).

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18

Figura 2 - Estado de Sergipe: Área colhida com laranja (ha) -1990/2007

Figura 3 - Estado de Sergipe: Produção de Laranja (t) - 1990/2007

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19

Figura 4 – Estado de Sergipe: Rendimento da Laranja (kg/ha) – 1990/2007

Atualmente, a cadeia produtiva da laranja em Sergipe é formada pelos

seguintes elementos com suas respectivas funções no processo de produção – antes e depois

da “porteira do sítio”:

- Suporte à produção:

a) Bancos: crédito

b) Fornecedores de insumos: lojas de revenda de produtos agropecuários

c) Viveiristas: produção e venda de mudas comuns ou teladas.

d) Secretaria de Estado da Agricultura/EMDAGRO: venda subsidiada de mudas

teladas, adquiridas de viveiristas credenciados.

e) Técnicos prestadores de assistência técnica e extensão rural: EMDAGRO,

cooperativas, associações.

- Produção:

a) Produtores: pequenos, médios e grandes citricultores.

b) Mão-de-obra: familiar e assalariada, em menor proporção. No caso dos grandes

citricultores e de alguns médios, a existência de assalariados permanentes (gerentes e

moradores); os trabalhadores temporários são encontrados, indistintamente, nos diversos tipos

de propriedade (pequenos, médios e grandes produtores), principalmente na colheita, feita por

trabalhadores sem-terra (catadores/colhedores de laranja).

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- Comercialização:

a) Cooperativas: apenas a COOPAME continua atuando na comercialização da

laranja. A COOPERTREZE está impedida de fazê-lo, em face de sua situação de insolvência

(dívidas com bancos) e a ASCISE, está desativada desde dezembro de 2004;

b) Intermediários/Atravessadores: comerciantes da região citrícola compram a

produção dos citricultores e vendem para as agroindústrias, supermercados e CEASA;

c) Indústrias de suco concentrado: aquisição de laranja dos

intermediários/comerciantes e citricultores e comercialização no mercado externo;

d) Supermercado: aquisição direta de produtores e intermediários;

e) Beneficiadoras (Parking House): compram a laranja dos citricultores e

intermediários/comerciantes, fazem o beneficiamento e vendem o produto no mercado de

frutas in natura local e regional.

Em resumo, a citricultura sergipana, que por quase duas décadas teve um ótimo

desempenho e foi modelo de um processo de modernização da agricultura que beneficiou

efetivamente um contingente expressivo de agricultores familiares, além de gerar emprego e

renda a milhares de moradores da zona rural, atualmente vive a sua pior crise. Daí a enorme

preocupação com a situação da laranja, imersa num círculo vicioso que envolve perda de

receita, dificuldades de renovação dos pomares, baixa produtividade, elevado índice de

desemprego, utilização do trabalho infantil e problemas de integração com as agroindústrias

de suco concentrado de laranja, existentes na região (Figura 5).

Figura 5 - Fluxo da cadeia produtiva da laranja de Sergipe

Insumos Produção agrícola (laranja)

Comercialização - in natura e suco -

Consumo final - mercado interno in

natura - - exportação de suco -

Mercado in natura

- produtores - - beneficiadoras -

Industrialização - fábricas de suco concentrado de

laranja -

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21

4 - DIMENSÕES DA CRISE E (DES) ORGANIZAÇÃO DOS CITRICULTORES: OS

RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 – Aspectos da produção e comercialização da laranja em Sergipe - Características dos Produtores

Os produtores de laranja em Sergipe são majoritariamente do sexo masculino

(90,6%), casados (73,4%) e têm entre 40 e 60 anos (61,0%). Com baixo nível de instrução,

17,2% são analfabetos, 21,9% mal sabem ler e escrever e 43,8% e não chegaram a concluir o

ensino de primeiro grau (Tabelas 4, 5, 6 e 7).

A maioria expressiva dos produtores (75,0%) está envolvida com a citricultura

há mais de 15 anos, com destaque para os que estão nessa atividade entre 20 e 25 anos, cerca

de um quinto dos produtores; os que trabalham com a cultura há menos de cinco anos

representam apenas 6,3% dos entrevistados. Em 1984, 67% dos produtores dedicavam-se à

citricultura há mais de dez e menos de trinta anos (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.21).

Predominam nesse setor agrícola as famílias nucleares, formadas por pai, mãe

e filhos, com 4,7 pessoas por família, em média. Dentre os membros da família, os com idade

entre 21 e 30 anos, solteiros e, tal como seus pais, não chegaram a concluir o primeiro grau,

são maioria (Tabelas 8, 9, 10 e 11). Quanto ao local de moradia, 79,7% residem no

estabelecimento e 20,3% em local próximo ou em aglomerado urbano. Apenas um

entrevistado mora em outro município diferente do local onde tem a propriedade. Ocorreu

uma mudança substantiva nessa situação, ao compararmos esses dados com os de 1984,

levantados pela pesquisa do BNB/ETENE e SUDAP: naquela ocasião, a maioria dos

citricultores entrevistados (56%) residia nas sedes dos municípios, “onde a oferta de serviços

básicos de assistência às suas famílias é mais satisfatória” (BNB/ETENE e SUDAP, 1984,

pág.20). Essa mudança pode ser atribuída aos impactos positivos trazidos pelo

desenvolvimento da citricultura, ao longo dos anos, ao dotar as áreas produtoras de uma boa

infra-estrutura, principalmente estradas, que tornaram mais fácil aos produtores o

deslocamento às sedes dos municípios, permitindo-lhes fixar moradia no próprio sítio.

Em 2007/2008, 55,2% das residências eram do tipo misto (adobe e tijolo),

43,1% de alvenaria e, 1,7%, de taipa. Mais de 90% das residências estavam ligadas à rede

geral de energia elétrica, 43,5% tinham como principal forma de abastecimento de água a rede

geral e 41,9% eram dotadas de cisterna. A maioria das casas tinha fossa séptica, 37,5% fossa

comum e 10,9% eram desprovidas de qualquer tipo de esgotamento sanitário.

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22

Tomando-se por base um conjunto de quatro variáveis, a saber: tipo de moradia

(casa de alvenaria), energia elétrica (rede geral), abastecimento d’água (água encanada) e

esgotamento sanitário (fossa séptica), foi construído o que chamamos de “índice de qualidade

de vida” das famílias pesquisadas.

Variando de zero a um, convencionou-se que o resultado zero do índice

caracterizaria péssima qualidade de vida, de 0,25 seria ruim, 0,50 uma qualidade de vida

razoável, 0,75 uma boa qualidade de vida, e 1,0 que as famílias pesquisadas tinham ótima

qualidade de vida.

Dos cálculos feitos, resultou que 45,3% dos entrevistados apresentam uma boa

qualidade de vida, 42,2% razoável, 12,6% repartidas igualmente entre as condições ruim e

péssima.

Entre as variáveis que compõem o indicador de qualidade de vida mencionado

é o saneamento básico, representado pela ausência de uma forma de esgotamento sanitário

adequado (fossa séptica), o de maior frequência entre as famílias pesquisadas.

No que diz respeito às atividades produtivas, das 64 famílias entrevistadas,

60,9% dedicam-se exclusivamente à atividade agrícola, enquanto 39,1% são pluriativas, isto

é, têm pelo menos uma pessoa da família ocupada em atividades não-agrícolas, sendo as

principais o comércio (mercearia, bar/lanchonete, comprador de laranja), seguido de serviço

público (motorista, professora, servente etc.), industriário (fábrica de suco concentrado),

trabalhador da construção civil, mecânico, mototaxista, costureira e sanfoneiro (Tabelas 12,

13, 14, 15 e 16).

Essa situação é um pouco diferente da encontrada em 1984 pelo BNB/ETENE

e SUDAP, em que 64% dos produtores entrevistados dedicavam-se exclusivamente à

agricultura e 36% executavam atividades paralelas como o comércio (12,5%), profissões

liberais (5,3%), funções públicas (8,2%), intermediários de laranja (1,8%) e outras (7,7%)

(BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.97).

Ressalte-se que o crescimento do número de citricultores que se dedicam a

outras atividades fora da agricultura, comparando-se os resultados dos dois anos pesquisados,

decorre do empobrecimento substancial dos agricultores familiares, principalmente os

menores e os médios. Em outros termos, tem-se aí uma busca de alternativa de reprodução

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23

social por parte desses produtores, obrigados a se valer de estratégias de sobrevivência para

não perder a sua condição de agricultor familiar.

A maioria das famílias pluriativas é formada por quatro pessoas, não concluiu

o primeiro grau, possui entre um e meio e três hectares de terra e renda bruta familiar inferior

a dois salários-mínimos mensais. Como já fizemos menção, tais famílias estão entre os

citricultores mais pobres, o que explica o engajamento de algum de seus membros em

atividades não agrícolas que requerem baixa qualificação – servente, trabalhador da

construção civil, motorista etc.

É importante notar que das 302 pessoas que compõem a família dos

entrevistados (incluindo o chefe ou responsável), 23,8% tinham menos de 14 anos, portanto,

um número expressivo de crianças e adolescentes.

Das 64 famílias entrevistadas, 79,7% tinham, além do chefe da família, algum

outro membro trabalhando; destes, 53,3% eram mulheres e 46,7%, homens.

A pesquisa revelou, ainda, que quase 80,0% deles tinham como ocupação

principal a agricultura - eram agricultores conta própria; 91,5% deles tinham como local de

trabalho o próprio sítio; 3,1% eram trabalhadores domésticos; 1,6% trabalhavam em

atividades comerciais, o mesmo porcentual dos servidores públicos; e 12,5% eram

aposentados. Os empresários agrícolas eram apenas 1,6%, o que reafirma a característica

singular da citricultura sergipana, em que a agricultura de base familiar é predominante.

Nesse sentido, mantém uma tradição histórica, já evidenciada pela pesquisa do BNB/ETENE

e SUDAP, de 1984, que afirmava ser “a citricultura sergipana, predominantemente, uma

atividade de caráter familiar porque, em geral, é atividade de pequeno porte gerida

diretamente pelo produtor. Naquela ocasião, 82% das unidades produtivas eram administradas

pessoalmente por seus proprietários enquanto as demais (18%) eram dirigidas por gerentes,

moradores ou outras categorias de gestores (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.21)

Além da ocupação principal, 51.6% dos entrevistados estavam engajados em

uma segunda ocupação: 30,3% em atividades comerciais, 27,3% como agricultor conta

própria, 9,1% como trabalhador rural, 6,1% empregados da construção civil e 3,0%

trabalhavam em outras atividades - motorista, mototaxista, comprador de laranja e sanfoneiro.

Quanto ao local de trabalho, a maioria tinha como local de trabalho a própria unidade

produtiva/domicílio e os outros desempenhavam suas atividades fora do estabelecimento, em

outras atividades não agrícolas.

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24

Ao contrário dos chefes ou responsáveis pela família, a maioria dos seus

membros (51,1%) tinha como ocupação principal as atividades próprias de trabalhadores

rurais, 13,3% eram aposentados ou pensionistas e 7,8% estudantes.

Desenvolviam suas tarefas na própria unidade produtiva/domicílio (68,7%);

1,2% fora do estabelecimento em atividade agrícola; 14,5% fora do estabelecimento em

outras atividades; 2,4% no estabelecimento e fora em atividade agrícola; 1,2% no

estabelecimento e fora em outras atividades.

No que tange à questão da terra, a maioria dos citricultores cultiva a laranja

em terra própria (68,1%) e 27,8% em propriedades dos pais/família. O arrendamento de terras

de terceiros e a relação de parceria são inexpressivos. O tipo de documentação da terra

predominante entre os entrevistados é o recibo de compra e venda (63,9% dos citricultores o

possuem), seguido da escritura pública, com 30,6% (Tabelas 17 e 18).

Em 1984, segundo a pesquisa do BNB/ETENE e SUDAP, a citricultura

sergipana reunia expressivo contingente de produtores de laranja que se concentravam,

sobretudo, em propriedades de até cinco hectares. Tal comportamento se justifica pelo fato de

que 70% dessas unidades produtivas são classificadas por áreas como propriedades familiares,

isto é, têm até dez hectares, e nelas residem o produtor e sua respectiva família (BNB/ETENE

e SUDAP, 1984, pág.20). Vinte e cinco anos depois, esse quadro permaneceu praticamente o

mesmo: 71,8% dos entrevistados possuem áreas inferiores a 10 hectares, 21,9% entre 10 e 50

hectares e apenas 6,3% são proprietários de terras com 50 hectares e mais (Tabela 19).

As maiores propriedades com laranja estão localizadas nos municípios de

Itabaianinha e Cristinápolis, enquanto que os sítios menores ficam no Povoado Treze,

município de Lagarto (Tabela 20).

Entre os maiores proprietários de terra identificados pela pesquisa, dois terços

eram do município de Itabaianinha e um terço do Povoado Treze, município de Lagarto.

Além de citricultores ou empresários agrícolas, alguns possuíam viveiros e comércio.

Ressalte-se que entre os entrevistados estava um empresário agrícola e comerciante, detentor

de mais de 200 hectares de terra.

Outro aspecto importante a ser ressaltado diz respeito ao movimento de compra

e venda de propriedades por parte de citricultores da região, a indicar uma possível tendência

de um processo de reconcentração de terras.

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É certo que citricultores de maior porte estão comprando áreas de pequenos

agricultores com dificuldades de sobrevivência – endividados nos bancos ou com renda

insuficiente para manter a exploração. Os que mais estão perdendo terra são os citricultores

médios. Tem-se, assim, um processo simultâneo de reconcentração e fragmentação de terras,

na medida em que aumenta número de grandes citricultores, de um lado, acompanhado do

crescimento de produtores de laranja que com menores áreas, refletindo o empobrecimento de

parte do segmento médio envolvido com a exploração da laranja.

Apenas para exemplificar, dos 28 citricultores do Povoado Treze, município de

Lagarto, entrevistados em 2004 na pesquisa sobre a pluriatividade na agricultura familiar de

Sergipe, e novamente, em 2009, 17,8% já haviam vendido a propriedade ou estavam à

procura de se desfazer do sítio (3,6%), que ostentava uma placa de “vende-se”, quando da

realização da pesquisa de campo.

- Organização da Produção e Relações de Trabalho Com base em informações obtidas durante entrevistas feitas com citricultores,

extensionistas, presidentes de cooperativas, associações e técnicos envolvidos com a atividade

citrícola no estado, foi possível montar uma tabela de classificação dos produtores de laranja,

segundo o critério de extensão de área ocupada, divididos em pequenos, médios e grandes. Os

pequenos produtores apresentam área inferior a 10 hectares, os médios produtores ocupam

entre 10 a 50 hectares e os grandes ocupam uma área superior a 50 hectares.

As figuras 6, 7, 8 e 9 mostram a participação percentual dos citricultores

sergipanos por categoria, em relação ao número de estabelecimentos e à produção colhida de

laranja nos anos de 1984 e 2008. Observa-se que, enquanto os pequenos citricultores são

predominantes no número de propriedades, os produtores grandes são pouco expressivos. O

inverso ocorre quando o foco é a produção de laranja, em que os pequenos citricultores

participam com pouco mais da metade da produção colhida pelos grandes. A equivalência na

representação se dá entre os grandes e os médios citricultores, que são responsáveis por

38,0% e 39,4%, respectivamente, da produção de laranja em 2008 (Tabelas 21, 22 e 23).

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Figura 6 - Número de Propriedades por Tipo de Produtor – 1984

Figura 7 - Número de Propriedades por Tipo de Produtor – 2008

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27

Figura 8 - Produção de Laranja por Tipo de Produtor - 1984 e 2008

Figura 9 - Produção de Laranja por Tipo de Produtor - 2008

Chama-se atenção, ainda, para a perda de representatividade dos médios

citricultores entre 1984 e 2008, tanto no que se refere à sua participação no total de número de

estabelecimentos como na produção colhida de laranja. Correspondiam a 27,7% do número de

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produtores de citros e de suas propriedades vinha quase metade da laranja colhida em 1984.

Passadas duas décadas e meia, são pouco mais de um quinto, e participam com 39,4% da

produção de laranja. Nesse período, aumentaram suas posições nas duas variáveis,

consideradas os pequenos e os grandes produtores de citros, justamente à custa da parcela de

médios citricultores que empobreceram e foram obrigados a vender suas terras, em parte ou

integralmente e/ou desistiram de continuar na atividade em razão da saída dos filhos para

trabalhar nos centros urbanos, em outras atividades (Figura 10).

Figura 10 – Membros da Frente Democrática de Citricultores Endividados e Falidos, do município de Boquim

No que concerne à exploração da terra, no ano agrícola 2007/2008, de um total

de 775,1 hectares, 412,2 hectares ou 53,2% da área total dos estabelecimentos pesquisados,

estavam ocupados com lavouras permanentes (laranja, limão, maracujá) e temporárias

(mandioca, milho e feijão, plantadas entre as filas de laranja) e o restante com pastagens,

matas e florestas, terras improdutivas etc.

Dos 377,5 hectares ou 48,7% da área total com lavouras permanentes, 370,5

hectares, correspondente a 89,9%, eram terras exploradas com laranja, na sua expressiva

maioria, pomares com 5,9 hectares, em média, de área plantada (Tabela 24 e 25).

Segundo pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, a porcentagem da área com laranja,

em 1984, era de 98,6%, enquanto a área média correspondia a 13,3 hectares (BNB/ETENE e

SUDAP, 1984, pág.35 47).

Os dados coletados em 1984 e em 2008 mostram uma perda de

representatividade da laranja na ocupação da área explorada, além de uma redução na área

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média plantada com a cultura, indicativa do processo de crise que a citricultura vem

atravessando desde a década de 90.

Em 1984, de acordo com a pesquisa BNB/ETENE, entre as laranjas

predominava a do tipo “pera”, por reunir vantagens de melhor produtividade, resistência às

secas e tempo de sustentação dos frutos nas árvores maiores em relação às demais variedades,

além de ser muito procurada tanto para o consumo “in natura” como para uso industrial

(BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.35). Em 2008, essa variedade de laranja praticamente

domina os pomares sergipanos, haja vista o abandono das outras variedades pelos

citricultores, talvez por não encontrarem mercado satisfatório para a fruta in natura.

No curso desses 25 anos, portanto, não somente a laranja passou a ser sinônimo

de citricultura em Sergipe, transformando a região cítricola do estado em um vasto pomar de

só cultura, como praticamente desapareceu do cenário agrícola as outras variedades de laranja

encontradas anteriormente nos pomares da região, principalmente a laranja Bahia ou de

“umbigo”, chamada popularmente.

- Relação entre área colhida e área plantada com laranja e rendimento médio

Do total de 245,9 hectares plantados com a cultura, 370,5 hectares ou 66,4%

foram colhidos em 2007/2008. A diferença entre ambas corresponde a novos plantios e

substituição de pomares velhos, que ainda não começaram a produzir, além de perdas de parte

da safra, devido a problemas climáticos e a doenças nos pomares. A pesquisa BNB/ETENE e

SUDAP, de 1984, detectou uma produtividade média de 77,7 mil frutos por hectare ou 205

frutos por planta (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.38). Considerando-se um peso médio

por fruto equivalente a 200 gramas, tem-se uma produtividade média de 15.540 kg/ha ou 15,5

toneladas por hectare.

Segundo dados da EMDAGRO, em 1995 a produtividade média era de 17

toneladas por hectare, passando a ser, a partir de 1999, em torno de 13 toneladas, indicador de

um baixo nível de produtividade (InformASCISE, Ano 1 – No. 3 - Dezembro/2004. pág. 8).

Em 2007/2008, os resultados da pesquisa de campo aqui retratada apontam

para uma produtividade de apenas 6.553 kg/ha ou 6,6 toneladas por hectare. Ou seja,

substantivamente menor que o rendimento que normalmente vem sendo utilizado pelo

governo. Em outras palavras, os dados coletados diretamente nas propriedades dos

citricultores, discrepam fortemente dos valores do rendimento médio da laranja calculado pelo

IBGE e pela EMDAGRO.

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30

Sem avocar para si o correto dimensionamento dessa importante variável, até

porque se trata de uma pesquisa amostral, restrita a três municípios da região citrícola, o

índice de produtividade da laranja encontrado deixa no ar a seguinte dúvida: será que a real

dimensão da crise da citricultura sergipana, vista através de uma de suas variáveis básicas,

não é maior e mais profunda do que se pensa?

A comparação dos dados sobre a produção de laranja em 1984 e 2007/2008,

por classes de área total, mostram uma mudança importante na origem dos frutos colhidos.

Em 1984, as propriedades com menos de cinco hectares contribuíam com 9,9% da produção,

dobrando sua participação em 2007/2008, para 18,2%, o mesmo acontecendo com os

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares, que aumentaram sua participação de 13,0% para

25,1%, enquanto os de 50 hectares e mais, que em 1984 respondiam por 33,6% da produção,

atualmente contribuem com 38,0% (Tabela 26).

Comportamento inverso apresentou as propriedades com área total de 20 a

menos de 50 hectares, que tiveram reduzida a sua participação na produção de laranja de

36,0% em 1984 para 14,3% em 2007/2008. Ressalte-se que nessa faixa estão os citricultores

médios, por vários anos os principais responsáveis pelo desenvolvimento da citricultura no

estado de Sergipe, e atualmente os atingidos mais fortemente pela crise da laranja.

Entre os municípios pesquisados, Itabaianinha foi o que apresentou, em

2007/2008, a maior área média plantada com laranja, 8,7 hectares, seguido de Lagarto

(Povoado Treze) com 4,8 hectares e Cristinápolis, com 2,2 hectares. Já no que diz respeito à

relação entre a área plantada com laranja e a área total, o município de Cristinápolis apresenta

a maior porcentagem de ocupação de área com laranja (76,8%), Itabaianinha e Lagarto

(Povoado Treze), respectivamente, têm 47,5% e 44,8% de sua área total explorada com essa

lavoura.

Nos últimos cinco anos, o maior aumento na área explorada com laranja, na

produção colhida e na venda do produto ocorreu nos estabelecimentos com menos de cinco

hectares de plantio, enquanto que a maior redução aconteceu nos sítios com dois a menos de

cinco hectares e entre 10 e 20 hectares.

No tocante à receita obtida com a comercialização do produto, também foram

os estabelecimentos menores os que tiveram maior ganho. Essa situação é perfeitamente

condizente com as ações do programa de revitalização da citricultura que vem sendo

implementado pelo governo estadual desde 2004, cujos beneficiados têm sido os agricultores

familiares situados nesses extratos de área. Entre tais ações, podem-se citar como exemplos, o

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fornecimento de mudas selecionadas, adubos e trator pelo governo de Sergipe a custo zero ou

subsidiado.

– Composição da mão-de-obra e relações de trabalho na citricultura Como já mencionamos anteriormente, a base da citricultura sergipana está

assentada na agricultura familiar, com forte presença de assalariados temporários,

principalmente no período da colheita.

Os dados da pesquisa mostram que 64,9% das pessoas que trabalhavam no

cultivo da laranja, no ano agrícola 2007/2008, faziam parte do grupo doméstico (o chefe ou

responsável e demais membros não remunerados da família), na grande maioria, pertencentes

ao sexo masculino; os assalariados permanentes, todos eles homens, eram pouco mais de 3%,

enquanto que 31,8% compunham a força-de-trabalho formada por assalariados temporários

(Tabela 27).

Das 64 famílias entrevistadas, 45,3% informaram que contratavam

trabalhadores temporários para ajudar no cultivo da laranja, a maioria dessa mão-de-obra

(55,2%) trabalhou menos de um mês e no máximo 45 dias; 10,0% entre 60 e 90 dias; 10,3%

entre 90 e menos de 120 dias; e 20,7% trabalharam mais de quatro meses naquele ano.

As principais atividades realizadas pelos assalariados temporários eram a

capina, o plantio de mudas, os tratos culturais, a construção e reforma de cercas, a poda,

pulverização, aplicação de agrotóxicos, desbrotas, adubação, replantio, colheita, abertura de

cova e trabalho no viveiro.

De acordo com 81,4% dos citricultores que contrataram assalariados

temporários, em 2007/2008, esse número variou entre um e três. A maioria, no entanto,

afirmou ter contratado apenas uma pessoa para auxiliar nos trabalhos com a laranja.

Apesar formarem um contingente expressivo, reconhecido unanimemente por

técnicos, lideranças sindicais e de cooperativas e técnicos envolvidos com a citricultura, não

se sabe ao certo quantos são. O que se sabe é que são dezenas de milhares de pessoas sem

qualquer capacitação, de baixo ou nenhum nível de instrução, que buscam ocupação

temporária no período de colheita da laranja. Vêm de várias partes do estado e fazem esse tipo

de trabalho porque não têm qualquer alternativa de ocupação. Também não possuem qualquer

vínculo de trabalho que lhes garanta os mínimos direitos sociais, seja na sua relação com os

produtores seja com os atravessadores/intermediários que os contratam.

A força de trabalho familiar ocupada no cultivo da laranja era de

aproximadamente 44,0% em 2007/2008, enquanto que 1984, ela correspondia a 25,6%

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(BNB/ETENE e SUDAP, 1984 pág.24). Em termos potenciais, representavam 56,0% na

pesquisa atual e de 74,0% na realizada pelo BNB/ETENE e SUDAP, já citada.

Em 1984, “a distribuição a força de trabalho na citricultura sergipana, segundo

as classes de área, evidencia maior concentração de mão de obra familiar nas propriedades de

até cinco hectares. Tal comportamento não surpreende, vez que é observado não só na

citricultura mas em todas as demais atividades agrícolas exploradas por pequenos produtores

rurais, os quais fazem aproveitamento máximo dos recursos disponíveis, neste caso a mão-de-

obra” (BNB/ETENE e SUDAP, pág.24).

Por outro lado, observa-se a tendência ao emprego de mão-de-obra

remunerada pelas propriedades de maior porte. Isso ocorre “porque existe uma relação inversa

entre pessoas da família empregados, isto é, a medida que aumenta a área das propriedades o

número de pessoas da família torna-se insuficiente, aumentando a necessidade de empregados

ocupados na citricultura” (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.25).

Relacionando-se mão-de-obra ocupada com área cultivada, observa-se que, ao

aumento da área, correspondem redução na relação pessoas da família/área e na relação

empregados/área, sendo, no entanto, que a última decresce menos abruptamente.

Tal como já observada pelo BNB/ETENE e SUDAP em 1984, também na

nossa pesquisa observamos nas propriedades maiores de 10 hectares o uso mais intensivo de

capital, o que possibilita a racionalização de mão-de-obra, pelo emprego de tecnologia mais

avançada ou até mesmo pela utilização de pessoas mais treinadas (BNB/ETENE e SUDAP,

1984, pág.25).

Ressalte-se que a absorção adicional de força-de-trabalho na exploração dos

pomares não significa necessariamente a obtenção de uma maior produtividade, haja vista

que, geralmente, as pessoas empregadas não têm capacitação formal quanto ao uso das

técnicas mais adequadas ao manejo da cultura.

– Estrutura, agentes e canais de comercialização

A estrutura de comercialização da laranja em Sergipe continua bastante rígida,

com poucas alternativas de escolha para os citricultores na hora da venda do produto, o que

resulta quase sempre em preços recebidos aquém dos custos de produção gastos com a

lavoura, face à assimetria de informações e poder de pressão que têm em relação aos

intermediários e à indústria de suco concentrado localizada no estado. Daí a reclamação

ouvida de um pequeno citricultor entrevistado, de que com “a venda de uma tonelada de

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laranja só dá para comprar um saco de adubo”. Ou ainda, de outro produtor, que resolveu

deixar de comercializar a laranja através da cooperativa para fazê-la com o

intermediário/atravessador: “eu tirei uma laranja para a cooperativa o ano passado e recebi a

mais, e tenho quatro caroço de laranja para tirar e tenho que dar comida aos filhos, mas a

minha laranja pode tá de R$ 45,00 reais que é da Cooperativa. Anteriormente vendi ao

atravessador e recebi a menos” (J.C.S, da Colônia Retiro).

Diferentemente do que acontece na citricultura paulista, onde os produtores

têm alternativas como venda direta, venda via contrato padrão, via contratos especiais e a

construção da indústria em outro extremo (NEVES, MF. pág.15), em Sergipe estão sujeitos a

entregar sua produção aos intermediários ou diretamente às fábricas de suco concentrado, em

menor escala. As tentativas de terem uma fábrica própria nunca se concretizaram, por vários

motivos. Recentemente, uma porta foi aberta com a venda no mercado institucional, isto é, a

aquisição pela CONAB da laranja produzida por agricultores familiares da região,

organizados em associações, posteriormente transformada em suco fresco e distribuída em

instituições beneficentes, creches e/ou em escolas da rede pública de ensino, como

componente da merenda escolar.

A pesquisa mostrou que praticamente toda a laranja colhida é destinada ao

mercado, apenas uma quantidade reduzida de frutos é retida pelo citricultor para o consumo

familiar.

Os canais de comercialização têm no intermediário/atravessador um ator

fundamental no processo de compra e venda da laranja. Regra geral, o atravessador é um

comerciante (comprador de laranja e maracujá), dono de um estabelecimento chamado

localmente de “balança”, que adquire o produto diretamente do citricultor, assumindo todos

os custos de colheita e transporte até o local de pesagem. Faz a seleção do produto, separando

os melhores frutos para venda no mercado in natura de frutas, principalmente, no CEASA de

Aracaju; secundariamente (quando o preço está muito baixo no estado), o produto é levado

para outros estados, como o Ceará e o Piauí. As piores laranjas, de baixa qualidade, são

vendidas às fábricas de suco concentrado localizadas no município de Estância (Figura 11).

Em 2007/2008, conforme apurou a pesquisa, 73,8% dos entrevistados vendiam

sua produção de laranja para o intermediário/atravessador, vindo a seguir a indústria de suco,

com 13,1% das aquisições e a venda direta nas feiras-livres e mercados, feita por 6,6% dos

produtores (Tabela 28).

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Figura 11 – Comprador de laranja no Povoado Treze, município de Lagarto

Como se pode ver, na estrutura de comercialização de citros em Sergipe

predomina o oligopsônio na compra do produto e o oligopólio na venda do suco concentrado.

Em outros termos, na compra da laranja atuam um número reduzido de intermediários e as

três fábricas de suco concentrado de laranja, enquanto que na fabricação e venda do suco essa

ação fica sob controle exclusivo dessas indústrias (Figuras 12 e 13).

Por serem grandes compradoras, as indústrias de suco concentrado exercem

seu poder oligopsônico frente aos citricultores individuais e/ou suas organizações de interesse

– ASCISE, COOPERTREZE e COOPAME – aviltando preços e exigindo qualidade, sem

descartar a possibilidade de vir a se introduzir diretamente no processo produtivo, passando a

produzir a laranja em seus próprios pomares.

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Figura 12 - Barris para acondicionamento de suco concentrado de laranja no pátio da fábrica Maratá Sucos, município de Estância.

- Relação entre o tamanho das áreas das propriedades de citros e os agentes

compradores:

Predomina uma tendência de os maiores produtores venderem sua produção à

indústria e os pequenos aos intermediários. Essa situação permanece ainda hoje, como se pôde

observar na pesquisa feita em 2008, nos três municípios estudados.

Enquanto em 1984, os produtores com área inferior a cinco hectares vendiam

aos intermediários 56,1% da produção e destinavam à indústria 34,6%. Em 2008, essas

porcentagens eram, respectivamente, de 68,9% e 12,5%. Isto mostra que os intermediários

ampliaram seu poder de ação sobre os pequenos citricultores, enquanto o acesso direto destes

às indústrias de suco concentrado está cada vez mais difícil. Em outros termos, o processo de

expropriação não teve o seu curso alterado ao longo dos anos.

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Figura 13 - Caminhão descarregando laranja na fábrica de suco concentrado de laranja SUMO, município de Boquim.

Em termos gerais, continuam válidas as observações feitas pela pesquisa

BNB/ETENE e SUDAP, em 1984, sobre a atuação dos principais atores presentes no

processo de comercialização da laranja de Sergipe: do lado da demanda atuam dois grandes

segmentos, sendo um deles formado pelos agentes do mercado de laranja ”in natura” e o

outro constituído pelas fábricas de suco concentrado. Do lado da oferta, a classe dos

produtores, em sua grande maioria pequenos e, consequentemente, mais vulneráveis às

distorções do processo de comercialização (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.86).

- Relação entre os intermediários e os citricultores:

As relações estabelecidas pelos intermediários com os citricultores sergipanos

limitam-se tão somente à compra da laranja na safra. Com isso, diversos constrangimentos de

dependência colocam esse comprador em posição vantajosa frente aos vários vendedores

dispersos. “Não há compromisso de aquisição da safra, nem são fixados quaisquer indicadores

prévios para a determinação do preço, prevalecendo ‘a lei da oferta e da procura’. Os

inúmeros agricultores desorganizados vendem sua produção num curto espaço de tempo na

época da colheita e, de uma posição privilegiada, esse oligopsônio faz o preço e compra a

safra” (Gonçalves & Vegro, 1994).

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Por serem relações meramente comerciais não existem quaisquer outras condições

que determinem obrigações entre as partes. “Na escassez, o intermediário compra a safra e,

mesmo pagando um pouco mais, obtém um poder de mercado ainda maior administrando a

escassez, e com isso auferindo enormes ganhos na revenda. Na abundância, o intermediário

pode criar escassez relativa, pois adquire somente o volume que pode repassar nos pontos de

revenda, dentro da margem de comercialização que considera razoável, e o agricultor pode

perder a produção por falta de comprador. No domínio do capital comercial, os ajustes são

repassados aos elos mais dispersos da cadeia, principalmente os agricultores” (Gonçalves &

Vegro (1994, pág.59).

Como bem o diz Gonçalves & Vegro (1994, pág.59), o capital produtivo tem um inserção na cadeia produção/consumo

profundamente diferente do capital comercial. A grande empresa de

processamento/beneficiamento tem seu rendimento ‘industrial’ condicionado pela

qualidade da matéria-prima. Por outro lado, como o capital fixo representado pela

planta industrial é elevado, ela não pode estar submetida a incertezas de obtenção ou

não do produto nas quantidades e na época conveniente.

Já o capital comercial pode deixar de realizar o negócio em conjunturas desfavoráveis, pois o

montante de capital fixo a depreciar é relativamente baixo em relação ao capital de

giro, podendo sobreviver com aplicações no mercado financeiro para esses recursos

líquidos. Ao capital produtivo, ainda que o capital de giro possa ser deslocado para o

mercado financeiro, e isso geralmente ocorre na gerência especulativa dos estoques

tanto de produtos finais como de bens intermediários, existe o limite da liquidez nula

do investimento realizado na planta industrial, que impede a saída rápida de dado

ramo sem que essa represente perdas palpáveis. Decorre de toda essa característica

peculiar do capital produtiva prática de atuar por meio de relações contratuais mais

estáveis com seus fornecedores e mesmo compradores (Gonçalves & Vegro (1994,

pág.60).

No caso da citricultura de Sergipe, talvez pelo enorme poder que possui, a

indústria de suco concentrado não tem mostrado interesse em formalizar contratos com os

produtores de laranja. Não se descarta, porém, que essa atitude pode estar relacionada a cada

vez pior qualidade dos frutos dos pomares sergipanos e a possíveis desconfianças quanto ao

cumprimento do contrato por parte dos citricultores, tanto no que diz respeito ao volume da

produção contratada quanto à regularidade na entrega do produto.

- Concentração industrial das fábricas de suco de laranja

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Do ponto de vista da relação agricultura-indústria, constata-se a existência de

uma concentração industrial da citricultura em Estância (existe, ainda, uma fábrica de porte

reduzido, em Boquim), reveladora de uma estrutura oligopsônica no complexo citrícola

sergipano.

Ao longo das décadas de formação do território citrícola, o volume crescente

de produção de laranja e a existência de uma infra-estrutura tecnológica e industrial

facilitaram a intensificação das trocas econômicas entre as cidades citrícolas e seus entornos e

a constituição de uma estrutura específica de poder, tendo como centro irrradiador a cidade de

Boquim, cabendo à Estância a função de receptora da produção citrícola regional visando a

transformação em suco concentrado de laranja e posterior venda ao mercado internacional. As

figuras mostram as empresas processadoras de suco concentrado de laranja existentes e sua

localização, o que fornece a primeira indicação da rede de poder citrícola do estado, formada

pelas indústrias processadoras de suco.

A primeira tentativa de industrialização deu-se em 1966, com a implantação da

FRUTISA, criada por citricultores com apoio do CONDESE – Conselho de Desenvolvimento

Econômico do Estado de Sergipe, mas somente em 1980, com o início de operação da

FRUTENE (construída em 1977), teve início o processo de industrialização da laranja no

estado. Quatro anos depois, veio juntar-se a ela a Frutos Tropicais S/A, até então uma

indústria de processamento de tomate, ambas localizadas na cidade de Estância (BNB/ETENE

e SUDAP,1984 , pág.77).

As fábricas de suco concentrado em Estância e Boquim e o Mercado de

Produtor desse município, com unidades construídas nos municípios de Umbaúba e Lagarto

(na antiga Colônia Antônio Martins, atual Povoado Treze), foram fundamentais para o

desenvolvimento da citricultura sergipana. Atualmente, o mercado do produtor de Estância

encontra-se praticamente desativado e o de Umbaúba, não mais existe.

Tal como aconteceu em São Paulo, onde a existência de infra-estrutura

específica para a citricultura em várias cidades do interior paulista favoreceu a constituição de

um complexo agroindustrial localizado, em Sergipe as fábricas de suco concentrado se

instalaram em cidades já dotadas das condições mínimas necessárias a investimentos de

grande porte, como exige a agroindústria citrícola. Nestes municípios, a presença de packing-

houses, transporte adequado e a experiência dos produtores tradicionais, entre outros, foram

fundamentais, porque estes fatores reunidos engendravam na esfera da comercialização uma

boa flexibilidade operacional. (Paullilo, 2000, pág.12).

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Centro produtor de laranja de Sergipe e pólo industrial da região centro-sul do

estado, cortada pela rodovia BR-101, Estância reunia fatores de atração locacional

importantes que foram determinantes para a instalação das fábricas de suco no município, ao

invés de Boquim ou Lagarto, na época os principais municípios produtores de citros do

estado. Depois de sofrerem diversas paralisações e mudarem de proprietários, atualmente

operam sob os nomes de fantasia Maratá Sucos do Nordeste, (ex-FRUTENE) e TropFruit,

ambas com sede na cidade de Estância, e a Sumos, localizada no município de Boquim

(Figuras 14, 15 e 16).

Em 1980, ano inicial de produção de suco concentrado de laranja, foram

produzidos 1.538 toneladas de suco, passando a 17.385 toneladas em 1984 (BNB/ETENE e

SUDAP, 1984, pág.78). Além de esmagarem a produção de laranja de Sergipe, essas fábricas

também adquirem o produto da região norte da Bahia, que com a expansão da citricultura

sergipana pelos municípios do sul do estado, passou a fazer parte de uma espécie de corredor

de produção de laranja, reunindo municípios dos dois estados.

O suco concentrado e congelado de laranja de Sergipe é destinado totalmente

ao mercado internacional, visando atender a demanda de 10 países dos cinco continentes.

Embarcado durante muitos anos no porto de Salvador e tendo como destino a Europa (a

Holanda, principal importador), vindo a seguir os Estados Unidos e o Canadá, atualmente as

indústrias processadoras de suco do estado passaram a utilizar o porto de Sergipe, localizado

no município de Santo Amaro das Brotas, como ponto de origem das exportações.

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Figura 14 – Fábrica de suco concentrado de laranja Maratá, em Estância

Figura 15 – Fábrica de suco concentrado de laranja SUMO, em Boquim

Figura 16 – Fábrica de suco concentrado de laranja TropFruit, em Estância.

A presença de apenas três empresas e o enorme poderio da Maratá Sucos do

Nordeste, responsável por mais de 70% do processamento da laranja, permite que o segmento

represente os seus interesses de forma homogênea, mesmo sem a existência formal de uma

associação que as represente (Figura 17). Esse fator é fundamental para compreender o

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41

intenso poder de negociação que a indústria apresenta na região citrícola e que será explorado

neste trabalho.

À diferença do que já vem acontecendo na citricultura paulista, em Sergipe

ainda não se tem constatado a inserção das fábricas de suco de laranja diretamente no

processo produtivo, por meio da exploração de pomares próprios. Isto não obscurece o fato de

que algumas delas, como a Maratá, disponham de um estoque de terras que poderá ser

utilizado com esse objetivo, tão logo considere necessário, num movimento típico de

“verticalização para trás”. Até porque, têm sido freqüentes as notícias de que as indústrias

vêm adquirindo vastas áreas em municípios produtores de laranja no estado, inclusive,

reaglutinando terras de agricultores familiares que exploram tal cultura.

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Figura 17 - Localização das Fábricas de Suco Concentrado de Laranja de Sergipe

- Relação entre o citricultor e as indústrias de suco concentrado de laranja

Enquanto em São Paulo, apesar da heterogeneidade de interesses dos

produtores de laranja e a dispersão territorial da citricultura, a rede política citrícola evoluiu

em torno do contrato-padrão (Paulillo, 2003, pág.20), em Sergipe, os citricultores sequer

chegaram a estabelecer de forma permanente qualquer tipo de contrato com as indústrias

processadoras de suco concentrado.

Canindé de São

Francisco Poço

Redondo

Porto da Folha Gararu

Monte Alegre de Sergipe

N. Sra. da Glória

Carira N. Sra. Aparecida

Feira Nova

Graccho Cardoso

Itabi N. Sra. de Lourdes

Canhoba

Aquidabã Cumbe

São Miguel do Aleixo

N. Sra. das Dores

Ribeirópolis Frei Paulo Pedra Mole

Pinhão Capela

Moita Bonita

Itabaiana Macambira

Campo do Brito São

Domingos Simão Dias

Lagarto

Poço Verde

Tobias Barreto Riachão do

Dantas

Itabaianinha

Tomar do Geru

Cristinápolis Umbaúba

Indiaroba

Sta Luzia do Itani

Pedrinhas

Arauá

Boquim

Estância Itaporanga D’Ajuda

Aracaju

Pirambu

Pacatuba Siriri Japaratuba

Japoatã

Cedro de São João

Malhada dos Bois

Muribeca Neópolis

Propriá

Amparo de São Francisco Telha

São Cristóvão

Areia Branca Laranjeiras

Riachuelo Santo Amaro das

Brotas

Divina Pastora

Rosário do Catete

Ilha das Flores Brejo Grande

Salgado

Santana do São Francisco

Sta. Rosa de Lima Malhador

N. Sra. do Socorro

Barra dos Coqueiros

Maruim Carmópolis Gal. Maynard

São Francisco

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As poucas vezes em que se reuniram com as fábricas locais de suco

concentrado para negociar preços tiveram suas reivindicações atendidas apenas em situações

muito específicas – quando era crítica e insustentável a crise porque passavam os citricultores

quanto à comercialização da laranja - e sob forte pressão dos produtores, via a ASCISE e as

cooperativas do Treze e de Estância. Mesmo assim, sem qualquer garantia de que o acertado

entre as partes seria, de fato, cumprido.

O aliciamento por parte das indústrias de suco concentrado, adquirindo pelo

preço acertado, o produto dos citricultores de maior porte, deixando ao largo os pequenos, não

só permitia às mesmas por em funcionamento suas máquinas, como esvaziar o movimento

reivindicatório que as organizações representativas desse segmento haviam conseguido

construir.

Por outro lado, mesmo as iniciativas tomadas pelo governo estadual, em vários

momentos, visando a uma espécie de concertação entre os principais atores envolvidos na

cadeia produtiva da citricultura – produtores, agroindústria e governo – principalmente no que

tange à comercialização, se mostraram infrutíferas.

- Relações dos citricultores com os mercados institucionais

A gravidade da crise na citricultura sergipana acabou por levar as autoridades

do governo federal a adotar, no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos da

Agricultura Familiar – PAA, a compra da produção de laranja dos citricultores da região sul

do estado, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB.

Segundo a Superintendente da CONAB Sergipe/Bahia, Rosa Pondé, a companhia assegura ao pequeno produtor rural que possui a Declaração de

Aptidão do Produtor – DAP, o preço de R$400,00 por tonelada do fruto, enquanto a indústria

paga pouco mais de R$100,00 por tonelada. Atualmente, em Sergipe, estão sendo beneficiados

com a iniciativa mais de mil produtores rurais da região citrícola do estado, principalmente

citricultores dos municípios de Santa Luzia do Itanhy e Boquim. A CONAB adquire a tonelada

estabelecendo um teto de, no máximo, R$ 4,5 mil por produtor, e depois transforma a laranja

em suco fresco, que é engarrafado por fábricas contratadas e repassado para programas sociais

do governo federal, ou incluso no cardápio da merenda escolar da rede de ensino pública

(Jornal da Cidade, Aracaju, Domingo 25 e Segunda-feira 26 de outubro de 2009).

Apesar de iniciativa louvável, surgem dúvidas quanto à capacidade da CONAB

de fiscalizar efetivamente a execução desse programa, haja vista os problemas já constatados

na concessão da DAP, por exemplo, no que toca ao PRONAF B. Sindicatos de trabalhadores

rurais e outros órgãos credenciados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA têm

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.

44

concedido esse documento a pessoas que não se enquadram na categoria de agricultores

familiares, inclusive, até mesmo para quem não tem nenhum envolvimento com a atividade

agrícola (Lopes. 2005).

Ora, como a comercialização da laranja em Sergipe está nas mãos de um

pequeno número de atravessadores/intermediários, fica a dúvida se eles não se utilizarão desse

mecanismo para lucrarem ainda mais, seja conseguindo por vias ilegais o DAP ou

estimulando pequenos citricultores que deles dependem a conseguir essa declaração, seja

utilizando agricultores familiares que já a possuem, principalmente os mais vulneráveis, para

venderem a laranja à CONAB, como se deles fosse, em troca de favores ou até mesmo de um

pequeno pagamento em dinheiro. Assim, ao venderem à CONAB por R$ 400,00 a tonelada,

ao invés de fazê-lo à indústria, que paga R$ 120,00, não só estarão comprometendo a eficácia

do programa como contribuindo para a manutenção da crise da citricultura sergipana. Até

porque, não se sabe se esse programa tem caráter permanente ou apenas visa atender a uma

situação de emergência, de grave crise como a que está passando a citricultura estadual.

– Utilização de insumos e tecnologia

Segundo a pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, a história do processo produtivo de citros em Sergipe tem apresentado, ao

longo do tempo, algumas evoluções tecnológicas, principalmente após 1986, quando a ação

dos órgãos de assistência técnica e creditícia se tornou mais intensa, e quando ocorreu a criação

da Estação Experimental de Boquim, em 1971. Tal evolução pode ser caracterizada pela

adoção de algumas práticas culturais, o uso de mudas de “clone novo”, a diversificação de

porta-enxerto com a introdução de limão-cravo, e posteriormente de limão rugoso, adubação

química e correção de solos, coroamento, poda e gradagem (BNB/ETENE e SUDAP, 1984,

pág.52).

Entretanto, problemas como deficiência na quantidade e uso inadequado de

fertilizantes, geralmente utilizado sem prévia análise de solos, ainda hoje tem comprometido a

produtividade dos pomares e influenciado no baixo rendimento médio das plantas. Acresce-se

a isto o aparecimento de pragas e doenças, como a gomose, os ácaros, a “hortezia” dos citros,

dentre outras, com resultados danosos aos pomares. (BNB/ETENE, 1984, pág.52-53).

No que tange à utilização de insumos, em 2007/2008 a pesquisa mostrou que

91,4% dos entrevistados adquiriam as mudas selecionadas de laranja no próprio município;

85,7% deles, diretamente de produtores que possuem viveiros telados; enquanto 5,7%

afirmaram produzir a própria muda, mesmo número dos que informaram que compravam esse

insumo de Viveiristas telados e do governo estadual, por meio da EMDAGRO.

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45

Observou-se, ainda, que 12,5% dos entrevistados ainda utilizavam mudas

comuns de laranja, 60% dos quais adquirem as mesmas de viveiristas da região, e o restante

produz as suas próprias mudas.

Sobre a questão das mudas em viveiros telados versus produção em série de

mudas em campo aberto, houve uma reunião, no dia 15/05/2009, entre a Associação de

Pequenos Viveiristas de Boquim e representantes do governo estadual (presente o Secretário

de Agricultura, Paulo Viana) para discutir problemas do setor: o valor das mudas de laranja e

a produção em série que está sendo feita de forma inadequada em campos abertos, colocando

em risco a qualidade da laranja sergipana.

Os viveiristas queriam um preço maior do que os R$ 3,00 que o governo

estadual vinha pagando pela muda selecionada, garantindo a comercialização. Posteriormente,

essas mudas são revendidas pela metade do preço aos citricultores, como forma de fomentar a

cadeia local da citricultura.

A produção de mudas de laranja a céu aberto é ilegal, cabendo ao Ministério da

Agricultura fiscalizar essa prática. (Jornal da Cidade, 24 e 25 de maio de 2009. Aracaju).

Acontece que, segundo um dos citricultores entrevistados, até mesmo a venda de mudas

oriundas de viveiros telados, pela EMDAGRO, tem passado ao largo das exigências contidas

na lei quanto às informações sobre a origem da muda e garantia de sua qualidade e

fitossanidade, entre outras, já que na nota de venda da empresa consta apenas a especificação

de “mudas cítricas”. Até 2006, o governo do estado, além de subsidiar as mudas de viveiros

telados (50% do valor), fornecia ao produtor trator para arar a terra, adubos e agrotóxicos, que

eram repassados pela EMDAGRO.

Quanto à adubação, 70,3% dos entrevistados utilizavam adubo químico,

comprado no próprio município onde têm seus sítios, em lojas de produtos agropecuários. O

esterco de galinha era utilizado por 34,4% dos entrevistados, sendo que 90,9% produziam o

próprio esterco e o restante comprava nas fazendas e lojas de produtos agropecuários; 67,2%

dos entrevistados utilizavam esterco de gado, 55,8% dos quais compravam de produtores de

Itabaiana e Riachão do Dantas, municípios de Sergipe, e da Bahia; 30,2% produziam o

próprio esterco e 9,3% pediam em fazendas.

Fungicidas eram utilizados por 39,1% dos entrevistados, enquanto 45,3%

usavam inseticidas, 46,8% herbicidas e, 79,7%, formicidas comprados em lojas de produtos

agropecuários do município.

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46

Faziam uso de restos culturais, de fabricação própria, 17,2% dos citricultores;

29,7% deles utilizavam torta de mamona, adquirida nas feiras livre e em lojas de revenda de

insumos; a uréia era usada por 62,5% dos produtores, enquanto apenas 7,8% disseram utilizar

micronutrientes.

O uso de máquinas e equipamentos na exploração da laranja é frequente e

bastante comum, independentemente do tamanho dos sítios, sendo a tração mecânica e

manual, em conjunto, o tipo de tração mais observada entre os produtores entrevistados

(45,3%). Menos de um quinto dos entrevistados fazia uso exclusivo do trator na preparação

do solo para o plantio, enquanto quase um terço optava pela adoção da tração manual (Tabela

29).

Excluindo as ferramentas de trabalho tradicionais, como foice, enxada, facão

etc., presentes em praticamente todas as propriedades pesquisadas, o trator foi o tipo de

máquina mais citado pelos entrevistados, com 62,5% de respostas. Arado, capinadeira,

pulverizador costal e adubadeira também fazem parte do “mix” tecnológico utilizado na

produção de citros (Tabela 30). Em 1984, segundo a pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, os

principais equipamentos existentes nas propriedades eram os seguintes: enxada, foice, tesoura

de poda, machado, pulverizador costal e trator.

No que se refere às técnicas de conservação utilizadas pelos entrevistados, a

adubação orgânica ocupava o primeiro lugar, com 81,0% das respostas afirmativas, seguida

da adubação química com 74,6% e, no terceiro lugar, a adubação verde, utilizada por pouco

mais de 20% dos produtores. Faziam rotação de culturas 15,9% dos citricultores, enquanto

17,5% adotavam a prática de queimada para limpar o terreno (Tabela 31).

Ressalte-se que a utilização de adubação orgânica pela expressiva maioria dos

entrevistados - representada basicamente por esterco de galinha e de gado-, assim como a

adubação verde, por um quinto dos citricultores, não significa uma preocupação dos mesmos

com as questões ambientais ou a adoção de práticas agroecológicas, senão uma razão prática,

de ordem financeira: fazem uso dessas técnicas conservacionistas motivados,

fundamentalmente, pela dificuldade de adquirir adubo químico, haja vista o preço elevado do

mesmo.

Ao contrário do que vinha fazendo o governo anterior, o atual governo do

estado decidiu eliminar do programa de revitalização da citricultura o fornecimento gratuito

desse insumo aos produtores de laranja. Sem recursos financeiros para comprar no mercado,

foram obrigados a buscar alternativas mais baratas, a exemplo das já citadas.

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47

Entre as principais benfeitorias existentes nas propriedades pesquisadas estavam a casa, cerca,

cisterna, paiol/tulha, galinheiro, tanque/barreiro de salvação, curral, obras de irrigação e

açude.

– Assistência técnica e extensão rural

Em 2007/2008, 48,4% dos citricultores entrevistados informaram que recebiam

assistência técnica, quase a totalidade deles por meio de agrônomos e técnicos agrícolas da

EMDAGRO. Os que recebiam esse serviço havia menos de cinco anos representavam um

quarto do total, enquanto 32,1% já vinham sendo atendidos entre cinco a dez anos, a mesma

porcentagem dos que recebiam orientação técnica havia mais de 20 anos (Tabela 32 e 33).

Em 1984, a EMATERSE (atual EMDAGRO) atendia a 49,5% dos citricultores,

dos quais a grande maioria (78,0%) declarou estar satisfeita com a assistência técnica

recebida, embora os pesquisadores tenham constatado que existia, porém, “uma acentuada

procura por maior e mais intensa orientação técnica” (Pesquisa BNB/ETENE e SUDAP,

1984, pág.30).

A despeito de ter havido uma sensível melhora em termos do grau de satisfação

com a ATER em 2008, 87,1% dos entrevistados consideram-se satisfeitos ou muito

satisfeitos, é insatisfatória a cobertura da prestação do serviço aos agricultores, haja vista que

a porcentagem dos citricultores atendidos em 2008 pela antiga EMATERSE, atual

EMDAGRO, é praticamente a mesma de 1984. O maior número de citricultores contentes

com a ATER eram moradores dos municípios de Lagarto (Povoado Treze) e Itabaianinha.

Curiosamente, também foi nesses municípios que se constatou o maior nível de insatisfação,

expresso por quase dez por cento dos citricultores entrevistados, beneficiados por esse tipo de

serviço.

Levando-se em consideração o aumento do número de produtores rurais

ocorrido nos últimos 20 anos e a precária condição que passou a ter a empresa com a extinção

do Sistema Brasileiro de Extensão Rural – SIBRATER, ao ficar a depender basicamente de

recursos do governo estadual, parece ficar patente tal fragilidade.

A perda de pessoal qualificado, com aposentaria de extensionistas mais

experientes e a dificuldade de repor e expandir o quadro técnico para atender ao crescimento

do número de agricultores, aliada à falta de um programa contínuo de capacitação de seus

técnicos, tem redundado, muitas vezes, na precariedade dos serviços prestados pela

EMDAGRO e na insuficiente cobertura da prestação de assistência técnica; refletindo-se,

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48

principalmente, na irregularidade das visitas dos extensionistas às propriedades e no

descolamento entre o tipo de orientação levada ao agricultor e aquilo de que ele mais se

ressente, no caso em tela, de informações sobre a comercialização da laranja – preços,

mercados, canais de comercialização etc.

Entre os principais tipos de orientação técnica recebida pelos produtores

estavam controle de pragas e doenças, técnicas sobre produção de lavouras, conservação do

solo e vacinação. Apenas 9,7% disseram receber orientações sobre comercialização, sem

dúvida alguma, um dos maiores problemas que enfrentam os citricultores sergipanos há vários

anos (Tabela 34).

Programas de rádio e/ou televisão sobre técnicas agrícolas eram vistos por

70,3% dos entrevistados. Apenas 9,4% participavam de demonstração de novos produtos e/ou

dias de campo, 4,7% de feiras e exposições agropecuárias e 15,6% participavam de palestras

ou apresentações relacionadas com a temática agrícola. Para 33,6% dos citricultores, a

procura do extensionista era a maneira como tinham acesso a informações.

Em 1984, segundo a pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, “na decisão sobre o uso

da tecnologia moderna apropriada, a EMATERSE (atual EMDAGRO) destaca-se como a

fonte mais consultada pelos citricultores. Em segundo lugar está o núcleo da família, fato que

gera preocupação, pois demonstra que os produtores buscam orientação de pessoas que não

têm conhecimentos específicos sobre o assunto. Tal comportamento, no entanto, é associado à

pouca freqüência dos técnicos nas propriedades” (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág. 30).

– Fontes de financiamento da produção

Os recursos aplicados na atividade citrícola em 2007/2008 saíram diretamente

do bolso dos produtores, no caso de 68,8% dos entrevistados; 12,5% dos produtores

utilizaram financiamento do PRONAF e 9,4% da soma de recursos próprios e crédito rural

(Tabela 35).

O fato de a maioria dos citricultores utilizar apenas recursos próprios na

exploração de seus pomares se deve, quase sempre, à situação de endividamento crônico junto

aos bancos ou mesmo porque sua produção é tão pequena que a receita que obtêm ao final da

safra mal dá para a subsistência do grupo familiar. Segundo técnicos e citricultores da região,

até mesmo aqueles agricultores que têm tido acesso aos recursos do PRONAF estão tendo

dificuldade para pagar o financiamento (Tabela 36).

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49

A impossibilidade de adquirir os insumos requeridos pela lavoura na

quantidade de que necessitam, haja vista o alto preço deles, vai ter como desdobramento não

apenas a diminuição da área plantada com laranja, mas o comprometimento dos pomares já

existentes, no que tange à produtividade. Plantas mal cuidadas vão resultar em produção

reduzida e de baixa qualidade dos frutos e, consequentemente, em preços recebidos muito

aquém dos custos de produção. Em outros termos, no empobrecimento dos citricultores e nas

ações desesperadas que têm empreendido, como por exemplo a criação da Frente Democrática

dos Citricultores Endividados e Falidos de Boquim – FDCEF, que reúne 300 citricultores do

município (Anexo III).

Os recursos do crédito foram aplicados na compra de adubo, aquisição de

mudas, recuperação de pomares e pagamento de trabalhadores; 15,8% dos entrevistados

afirmaram ter empregado parte do financiamento na ampliação da área com laranja, enquanto

5,3% disseram ter destinado o dinheiro para a produção de mudas (Tabela ).

Dos 30,0% de citricultores que tiveram acesso ao crédito em 2007/2008, 52,6%

disseram não ter tido dificuldade para consegui-lo, enquanto que o restante atribui à excessiva

burocracia dos bancos, problemas com documentação, demora na liberação do crédito, falta

de conhecimento e restrição no cadastro o fato de não terem sido contemplados. Metade dos

que tiveram acesso ao crédito admitiram dificuldade para pagá-lo, atribuindo isso à crise da

produção de laranja e o baixo preço do produto.Alguns afirmaram que tiveram de pedir

dinheiro emprestado para poder pagar o banco.

É importante notar que a maioria dos citricultores entrevistados pretende fazer

investimentos no cultivo da laranja nos próximos 12 meses, principalmente na compra de

adubos e fertilizantes e aquisição de mudas selecionadas; 12,2% têm a intenção de comprar

mais terra; aqueles que estão reticentes quanto a realizar investimentos na exploração da

cultura, afirmam que isso dependerá da melhoria dos preços da laranja no mercado e da sua

condição financeira. A liberação de adubo gratuito pelo governo foi também mencionada.

– Sobre os resultados da atividade citrícola nos últimos cinco anos Indagados sobre o que aconteceu com a área colhida de laranja nos últimos

cinco anos, 40,6% dos entrevistados informaram que houve uma diminuição da área, metade

disse que ela se manteve estável e somente 9,4% afirmaram que houve um aumento (Figura

18).

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50

No caso da produção de laranja, ela apresentou queda, segundo 46,9% dos

entrevistados, permaneceu estável para 37,5% dos citricultores e cresceu, de acordo com

15,6% dos produtores (Figura 19).

Sergipe: Comportamento da área colhida com laranja nos últimos cinco anos

50,0%

9,0%

41,0%

Aumentou

Diminuiu

Manteve-seestável

Figura 18 – Comportamento da área colhida com laranja

nos últimos cinco anos.

Sergipe: Comportamento da produção de laranja nos últimos cinco anos

37,5,%

15,6%

46,9%Aumentou

Diminuiu

Manteve-seestáve l

Figura 19 – Comportamento da produção de laranja

nos últimos cinco anos.

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.

51

Quanto à venda do produto, metade dos entrevistados afirmou que houve

redução, 35,9% disseram que ela manteve-se estável e, para 14,1%, a venda aumentou (Figura

20).

Por último, no que tange à renda obtida com a venda da laranja nos últimos

cinco anos, ela diminuiu, segundo 64,1% dos entrevistados, manteve-se estável para 26,6%

dos citricultores e somente 9,4% informaram ter a mesma aumentado no período (Figura 21).

Sergipe: Comportamento da venda de laranja nos últimos cinco anos

35,9%

50,0%

14,1%Aumentou

Diminuiu

Manteve-seestável

Figura 20 – Comportamento da venda de laranja

nos últimos cinco anos.

Sergipe: Comportamento da renda obtida com a venda de laranja nos últimos cinco anos

26,6%

64,1%

9,4%Aumentou

Diminuiu

Manteve-seestável

Figura 21 – Comportamento da renda obtida com a venda de

laranja nos últimos cinco anos.

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52

Para essas quatro variáveis, indistintamente, a redução variou entre 50 e menos

de 100%, segundo a maioria das respostas, sendo também expressiva a porcentagem dos que

afirmaram ter sido esta de 20 a 30%. Os fatores responsáveis por isto foram os preços

recebidos pelo produto, que não cobrem o custo de produção, as pragas e doenças que têm

acometido os pomares e a própria caducidade destes, pois são muito antigos e apresentam

baixa produtividade. A ocorrência de estiagem prolongada no período, a falta de maior e

melhor atuação do governo do estado e os altos preços do adubo, também foram

mencionados como fatores que influenciaram tal comportamento. 4.2 - Organização dos Produtores e Entidades de Representação de Interesses:

COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE

É impossível compreender a situação atual da citricultura sergipana sem fazer

referência às principais organizações de interesses individuais e ação coletiva que, durante

vários anos, exerceram um papel importante no desenvolvimento desta atividade.

A COOPERTREZE, a COOPAME e a ASCISE, cada uma à sua maneira,

contribuíram, durante vários anos, para a consolidação da citricultura. Os percalços que

tiveram e a situação precária em que atualmente se encontram, não empanam o brilho de sua

atuação, seja na prestação de serviços e apoio direto aos produtores a elas associados, seja na

mobilização e organização deles nos vários enfrentamentos que tiveram com o governo

estadual e com as fábricas de suco concentrado de laranja, principalmente no tocante à

questão de preços e na cobrança de políticas públicas favoráveis à citricultura e aos

citricultores.

Sem entrar em detalhes sobre a história de cada uma delas, dado que não é o

objetivo deste trabalho, faremos algumas considerações sobre o processo de sua constituição,

contextualizando e criando um cenário que nos permita compreender melhor os resultados

que a pesquisa revela**.

Antes de tudo, é preciso ter presente que a criação dessas cooperativas, como

de resto de todas as cooperativas formadas desde os anos 30, está vinculada a uma ação do

governo brasileiro voltada para a viabilização da “modernização conservadora” da agricultura

** Sobre a ASCISE, a monografia de conclusão de curso de Luís Menezes dos Santos e Rinaldo Menezes Soares, intitulada “As Ações da ASCISE em Defesa da Citricultura Sergipana (1979-2004)”, traz informações interessantes sobre essa entidade. A COOPAME ainda não teve dos pesquisadores a atenção que merece, carece de estudos sistematizados, pois as informações sobre a mesma estão dispersas e fragmentadas. No caso da COOPERTREZE, a mais estudada entre essas três organizações, pode-se consultar, entre outros, “Associativismo no Campo: das relações em redes ao espaço da socialização política”, de Josefa Bispo Lisboa, e “Grandes e Pequenos Produtores de Laranja Frente à Modernização”, de autoria de Neuzice Andrade.

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53

brasileira, intensificada a partir da década de 60, cabendo a elas “um importante papel nesse

processo, como intermediárias entre o Estado, a agroindústria e os produtores, uma vez que

neste circuito a indústria extrairia mais rapidamente seus dividendos, como compradora e

processadora da produção agrícola, e sobretudo, como vendedora de insumos industriais e de

máquinas agrícolas”, segundo Andrade (1992), citando Sorj (1980, pág.55),

Não importa as motivações e os objetivos com que foram criadas, se através de

uma intervenção direta do Estado, se por iniciativas autônomas de produtores, técnicos ou

lideranças religiosas, certo é que responderam a uma ação política de governo, quer tivessem

ou não clareza disso. Se num primeiro momento tinham, além dos objetivos econômicos

singulares e de cooperação entre seus membros, próprios de entidades de tal natureza, logo

passaram – compulsoriamente ou não – a ter sua dinâmica e sobrevivência dependente do

Estado, notadamente dos setores de governo responsáveis pela política cooperativista no

Brasil.

A primeira das entidades ligadas à citricultura de Sergipe a ser constituída foi a

COOPERTREZE, em 1962, vindo a seguir a COOPAME, em 1968, e, por último, a ASCISE,

em 1979. Diferente das demais, que atuavam nas áreas de colonização, produção,

comercialização e consumo, esta era uma associação criada com a finalidade precípua de

viabilizar a FRUTENE, segundo um de seus fundadores, José Trindade, ex-prefeito de

Boquim (Figuras 22, 23 e 24).

A COOPERTREZE, atualmente em estado falimentar, já chegou a ter em seu

quadro de associados quatro mil agricultores, 80,0% deles pequenos proprietários com área

inferior a 10 hectares, além de médios produtores, com propriedades de 30 hectares, em

média. Segundo o presidente da cooperativa, quando ele assumiu a direção da entidade a

COOPERTREZE tinha 1.112 sócios. No entanto, embora formalmente continuem como

cooperados, pois não deram baixa em suas cotas, não se desligaram oficialmente da

cooperativa, na realidade se afastaram completamente da entidade. Até porque, como

reconhece o atual presidente, a COOPERTREZE, desde 1996, em razão do seu forte

endividamento com bancos e com o governo, tem sido impedida de prestar quaisquer serviços

aos seus associados.

Participaram da criação da ASCISE 39 pessoas, entre citricultores, técnicos e

pecuaristas de Boquim. Chegou a ter 400 sócios e, quando de sua desativação, em 2004,

somente cerca de 100 sócios em dia com as sua obrigações. Ao contrário da COOPERTREZE

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54

e da COOPAME, o quadro de associados da ASCISE era composto por médios e grandes

proprietários de terras, com are superior a 100 hectares.

A COOPAME teve como sócios fundadores 174 agricultores, num arco que ia

de Itaporanga D’Ajuda a Cristinápolis, sendo a maioria deles do município de Estância,

seguido de Boquim, Pedrinhas e Riachão do Dantas. Em 1995, chegou a ter 2.760 associados,

vindo a perder ao longo dos anos quase 90,0% dos seus sócios. Atualmente, não passam de

280. Segundo o presidente da cooperativa, na retomada da mesma, em 1995, fizeram um

enxugamento do quadro de associados, eliminando os grandes citricultores que, segundo ele,

“nunca tiveram interesse de participar; não tinham interesse pessoal com a cooperativa, o

interesse deles é com a indústria” (JFS). Restaram apenas os pequenos citricultores, 98,0%

dos quais têm como única fonte de renda a atividade agrícola, representada pela exploração da

laranja.

Figura 22 – Sede da COOPERTREZE, no Povoado Treze, em Lagarto.

Com sede localizada no município de Boquim, a ASCISE atuava na

comercialização da laranja e procurava exercer o papel de porta-voz dos citricultores

sergipanos, nas relações com as instituições de estado e com as fábricas de suco concentrado.

A COOPERTREZE ainda hoje tem sua sede no Povoado Treze, município de Lagarto,

enquanto a sede da COOPAME fica na cidade de Estância.

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55

Figura 23 – Sede da ASCISE, atualmente ocupada pela Secretaria Municipal de Agricultura de Boquim.

A COOPAME, de acordo com os seus estatutos, tinha como objetivo

fundamental o desenvolvimento econômico-social dos seus associados, por meio de ajuda

mútua. Com sede e administração no município de Estância, tinha como área de ação, para

efeito de admissão de associados, os seguintes municípios: Estância, Arauá, Boquim, Salgado,

Umbaúba, Riachão do Dantas, Cristinápolis, Indiaroba, Itabaianinha, Tomar do Geru, Santa

Luzia do Itanhy, Pedrinhas e Itaporanga D’Ajuda.

Figura 24 – Sede da COOPAME, na cidade de Estância.

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56

Tal como a COOPERTREZE, a COOPAME, além da prestação de diversos serviços

aos seus associados, também atuava na compra de terras com o objetivo de promover o seu

aproveitamento econômico, cujos lotes ou parcelas eram vendidos aos seus associados,

visando à exploração de atividades agrícolas, pecuárias e agroindustriais. Através de

financiamentos, sem intuito de lucro, essas duas cooperativas ainda atuavam na venda em

comum da produção cooperada e na compra de gêneros e artigos para o abastecimento de seus

associados, no período áureo da citricultura††.

Na segunda metade da década de 70, durante o período da ditadura militar,

ambas sofreram intervenção, tendo os seus dirigentes sido afastados e, em seu lugar,

nomeados pelo INCRA, na época, responsável pelo cooperativismo brasileiro, interventores

para assumirem a condução dos destinos dessas entidades.

Quanto à relação entre essas organizações e o Estado, os dados levantados

durante a pesquisa sugerem que as três organizações voltadas para a ação coletiva dos

citricultores sergipanos – COOPERTREZE, ASCISE e COOPAME – tiveram origem e

cresceram, senão sob a tutela do Estado mas, com certeza, à sombra do mesmo. Numa relação

de dependência tão forte, a ponto de buscar no governo estadual, principalmente, até mesmo

recursos financeiros para a construção de sua sede (caso da ASCISE). Para tais organizações,

a solução para os problemas do setor dependia prioritariamente de ações do governo,

secundarizando o papel que os citricultores tinham na geração e aprofundamento das crises da

citricultura sergipana, ao longo do tempo.

Outro aspecto a ser destacado é o que trata da desarticulação, competição e

fragilidade das organizações. O estímulo à criação, pelo PAPP, de centenas de associações

rurais comunitárias, distribuídas pelos 75 municípios, quase sempre, atreladas a tradicionais

grupos políticos locais, cujas demandas pontuais e localizadas eram atendidas com recursos a

fundo perdido (PAC-FUMAC), originários do Projeto Nordeste. A multiplicação de

organizações de interesses individuais visando a ação coletiva, sem dúvida alguma implicou

no esgarçamento da coesão social e na fragilização do processo de cooperação até então

existente. De um lado, o aumento explosivo do número de grupos ou entidades de

representação de interesses significou maior disputa pelos recursos das políticas públicas †† Dentre os diversos serviços prestados pelas cooperativas estavam o adiantamento de dinheiro na entrega de fumo e de laranja à cooperativa para venda (adiantamento de safra); venda de produtos agrícolas (insumos) e alimentícios em supermercado pertencente à própria cooperativa, a ser quitada quando da venda do produto do cooperado pela cooperativa; beneficiamento de laranja; aluguel de máquinas agrícolas (tratores), frete e carretos de veículos, reparos de máquinas em oficina da própria cooperativa; posto de gasolina; prestação de assistência técnica aos cooperados. (COOPAME – Balanço Geral de 1977. Estância, 30 de dezembro de 1997. mediu.).

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57

entre as três grandes organizações e essas centenas de associações de pequenos produtores

criadas pelo Estado. De outro, fez com que o poder de pressão que as três grandes associações

tinham até então, procurando se afirmar perante o Estado como legítimas representantes dos

citricultores, fosse de certo modo esvaziado, haja vista que a partir de agora eram mais uma

entre as inúmeras organizações existentes.

À heterogeneidade de interesses dos produtores de laranja e à dispersão

territorial da citricultura vieram juntar-se centenas de associações rurais e uma nova

organização, a ASCESUL – Associação Central dos Agricultores da Região Centro-Sul de

Sergipe, criadas pelo governo estadual, a partir de 1984, com recursos do Projeto Nordeste.

Aproveitando-se do descontentamento de uma boa parte dos citricultores com a

COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE, essa política resultou no aumento da fragmentação

da representação dos citricultores, na medida em que a ASCESUL passou a disputar, em

condições mais vantajosas que as demais, a conquista de produtores, por meio das associações

a que estavam ligados.

Em resumo, a instalação de empresas de revenda de insumos, máquinas e

equipamentos agrícolas, de prestação de serviços e de produção de laranja no entorno das

plantas industriais processadoras de suco concentrado, foi determinante para a consolidação

de uma rede de poder na região citrícola de Sergipe, já que as associações de representação de

interesses foram surgindo paulatinamente‡‡.

O Estado exerceu papel fundamental neste processo, concedendo subsídios à

produção de laranja, financiando a instalação de plantas industriais e difundindo a pesquisa

agronômica. O governo federal passou a “incentivar as exportações através da isenção de

impostos e do controle da taxa de câmbio, com as minidesvalorizações. Acabou instituindo

uma série de subsídios às exportações, tornando as empresas agroindustriais lucrativas”

(Paulillo, 2000 , pág. 8).

Segundo esse autor, o mercado internacional tornou-se a orientação estratégica

única do complexo agroindustrial que se constituía. Isto é, tanto o Estado e suas agências

públicas como os atores privados (indústrias de processamento, de bens de capital e

citricultura) guiaram todos os seus empenhos para a expansão das vendas internacionais de ‡‡ Segundo Paulillo (2000, pág.8) “a rede de poder é definida por relações de recursos de poder e arranjos

institucionais ocorridos em nível meso e que visam a atender a interesses ou demandas comuns. Podem ser

cooperativos (com parceria ou envolvimento espontâneo) ou impostos por algum agente fortalecido em termos

econômicos e políticos (firmas, grupos empresariais de um oligopólio, associações de interesses etc.)”.

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suco concentrado congelado de laranja. Nas décadas de 60, 70 e 80, os Estados Unidos foram

o maior demandante deste produto brasileiro. Nos anos 90, o comportamento consumidor do

mercado internacional se alterou e a Comunidade Européia tornou-se a principal demandante

do produto (Paulillo, 2000, pág.8).

A relação das organizações de interesse aqui analisadas com as fábricas de

suco e os preços baixos recebidos pelos produtores de laranja de Sergipe, sempre recorrentes,

deve-se principalmente à incapacidade da COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE de

aglutinar em torno de si não somente um número de associados considerável e representativo,

mas conscientes e dispostos a lutar efetivamente pelos seus legítimos interesses junto ao

Estado e às fábricas de suco localizadas regionalmente. Isto permitiu a essas empresas não

tomar conhecimento – ou fazer pouco caso - das reivindicações sobre os preços por elas

praticados na comercialização da laranja. Em outros termos, não reconheciam a

COOPERTREZE, a COOPAME e a ASCISE como negociadores legitimados pelos próprios

citricultores, preferindo investir na negociação individualizada, remunerando os grandes

citricultores com melhores preços, e os médios e pequenos produtores com preços inferiores

aos dispêndios feitos com a exploração da cultura (custo de produção).

Como bem observado por Paulillo (2000, pág.18-19), ao se debruçar sobre o

caso da citricultura paulista, a brutal assimetria de recursos de poder no território citrícola persiste desde a

constituição de seu complexo agroindustrial. Só que a intensidade nunca foi a mesma. Nos

anos 60 e 70, os produtores tinham as facilidades de financiamento para a realização de seu

planejamento produtivo. Mesmo que a primeira orientação de escoamento da produção fosse a

industrialização e o mercado internacional de suco concentrado, eles tinham o respaldo da

política agrícola do governo federal e a retaguarda dos bancos estatais para as realizações dos

investimentos. A regulação estatal ampliava os recursos dos produtores agrícolas com as linhas

de crédito a juros negativos e a expansão do quadro de assistência técnica no território citrícola.

Foi um fator de atenuação da grande assimetria de poder entre os citricultores e a indústria.

Com a crise fiscal do Estado e a queda das linhas de crédito agrícola facilitado,

os recursos dos produtores de laranja, que nas décadas de 60 e 70 haviam sido abundantes

(créditos rurais a juros negativos e assistências técnica por parte das secretarias estaduais de

agricultura dos estados produtores), foram reduzidos desde a década de 80, permitindo à

indústria elevar sua capacidade de articulação e de negociação e estabelecer unilateralmente

os preços.

A perda do poder de negociação da COOPAME, COOPERTREZE e ASCISE,

em suas funções de representação, mobilização e aglutinação de associados, de recursos

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59

financeiros, organizacional e de formação e capacitação técnica, necessários para prosseguir

operando de maneira eficiente na defesa dos interesses de seus associados frente à indústria

foi a pedra de cal para a recuperação da economia citrícola do estado. Dado o poder que

detêm as fábricas de suco concentrado de laranja de Sergipe, principalmente, a Maratá Sucos

do Nordeste, as ações coletivas são imprescindíveis para reverter o atual quadro de crise da

citricultura.

No intuito de captar melhor as opiniões e percepções que os entrevistados têm

sobre questões referentes à organização de produtores, além das tabelas simples, procurou-se

tomar algumas variáveis-chave, como a renda bruta familiar, o grau de instrução, o tamanho

da terra que possuem e a área plantada com laranja. Cruzando-as com perguntas que tratam

sobre o tema, foi possível traçar um breve perfil dos atores sociais e de suas posições sobre o

assunto.

Em primeiro lugar, a metade dos citricultores entrevistados já participou

alguma vez na vida de uma organização social; quase um terço participou, mas saiu; e 18,8%

nunca fizeram parte de qualquer entidade de representação de interesses (Tabela 37).

As razões alegadas pela grande maioria para a saída ou afastamento da

entidade foram inúmeras, embora a falta de confiança na diretoria (desvio de dinheiro, foi

enganado pelo presidente, irregularidade na prestação de contas da cooperativa, má

administração da cooperativa, o presidente enrolava os membros e não fazia nada) e a falta de

organização e união aparecem como as mais citadas. Já os que nunca se interessaram por

integrar esse tipo de organização mencionaram a falta de tempo para participar das reuniões e

o descrédito total (não tem interesse, não vê nada mudar, não vê resultado, não vê fazer nada).

Perguntados se conheciam ou já tinham ouvido falar sobre a ASCISE,

COOPERTREZE e COOPAME, mais da metade dos entrevistados afirmaram que sim, sendo

a COOPERTREZE a mais citada por eles (70,0%) (Tabelas 38, 39 e 40).

Sobre a participação em organizações sociais (sindicato, cooperativa,

associação comunitária) alguma vez na vida, 81,2% dos entrevistados responderam

afirmativamente, sendo que 31,3% destes, por uma ou outra razão, disseram ter se desligado

das mesmas.

Atualmente, a participação dos entrevistados nessas entidades é de 68,8%, em

grande parte, inflados pelas centenas de associações comunitárias rurais criadas com a

finalidade, basicamente, de ter acesso a recursos de Programas Especiais, a exemplo do

PAPP. Em anos mais recentes, também contribuiu para isso o Programa Luz no Campo, do

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60

Governo Federal, que ensejou à criação de cooperativas de eletrificação rural em diversos

povoados, como a CERCOS, no Povoado Treze (Tabela 41).

Metade dos entrevistados já fez parte de alguma organização social e continua

a participar, 18,8% já participaram, saíram, e voltaram a participar, 12,5% já participaram

antes, mas atualmente não integram qualquer entidade e 18,8% jamais participaram de

qualquer tipo de organização social.

Também foi observado que 37,5% dos citricultores entrevistados faziam parte,

simultaneamente, de associações existentes em seus povoados e de cooperativas ou sindicatos

de trabalhadores rurais, a quase totalidade deles como sócios. Apenas 4,7% ocupavam cargos

de diretoria nessas organizações (Tabela 42).

Em 1984, segundo a pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, 38,7% do total de

citricultores entrevistados participavam de alguma organização social. “Muito embora a

ASCISE congregue 46,8% do total de produtores ligados a instituições associativas,

representando o órgão mais atuante, constata-se, em Sergipe, que ainda não há uma

participação muito significativa de citricultores em movimentos e organizações de caráter

associativo (38,7%) (BNB/ETENE e SUDAP, 1984 pág. 26).

Segundo a referida pesquisa, naquele ano, 46,8% dos entrevistados disseram

ser sócios da ASCISE. Além disso, 74,5% dos citricultores consideravam favorável sua

atuação, como entidade que apoiava e orientava o produtor de citros (BNB/ETENE e SUDAP,

1984, pág. 28). Em 2008, tudo isso havia desaparecido, pois nenhum dos citricultores

entrevistados afirmou fazer parte da mesma.

Na realidade, ao longo de seus 25 anos de existência, até cerrar as portas em

2004, a ASCISE foi sempre uma organização elitista, criada por médios e grandes produtores,

muitos deles dublês de técnicos e produtores de laranja. Jamais teve um enraizamento com a

maioria dos citricultores, constituída por agricultores familiares, cuja principal ou única fonte

de renda tem sido a exploração da laranja.

Sua interlocução com o governo, atribuindo a si mesma a condição de

representante dos citricultores, devia-se muito mais ao status de seu corpo diretivo,

constituído de pessoas influentes junto ao governo estadual (ex-prefeitos, ex-secretários de

agricultura, ex-representantes do Ministério da Agricultura em Sergipe, grandes pecuaristas

etc.) do que de sua real e efetiva presença junto à grande maioria dos citricultores. Em outros

termos, a representatividade numérica que ela dizia ter era, na realidade, aparente.

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61

A ASCISE considerava como pertencendo ao seu quadro de associados o total

de citricultores vinculados à COOPERTREZE e à COPAME, pelo simples fato de integrarem

a sua direção os presidentes das mencionadas cooperativas. A participação dos citricultores na

entidade se dava, assim, por uma espécie de delegação compulsória, virtual, sem qualquer

sentimento de pertencimento por parte dos citricultores sergipanos, a grande maioria

agricultores familiares em cujos sítios plantavam, no máximo, cinco hectares de laranja.

A participação no movimento sindical na pesquisa recente, ora em análise,

revelou que quase um terço dos entrevistados eram sócios de sindicatos de trabalhadores

rurais. Também nesse caso, sua vinculação é motivada pela perspectiva de conseguir a

aposentadoria e obter atendimento de médico, já que politicamente os sindicatos de

trabalhadores da região são muito fracos.

Quanto à natureza da participação nas organizações sociais, ela é meramente

formal. As cooperativas, com exceção da CERCOS, pouco ou nada fazem pelos seus

associados, no que tange à prestação de serviços e à defesa de seus interesses.

No caso da ASCISE, a presença dos presidentes da COOPERTREZE e da

COPAME na sua diretoria era utilizada como demonstração da representatividade, inclusive

numérica, da associação. Considerava-se como representados pela ASCISE a totalidade dos

citricultores vinculados às duas cooperativas mencionadas, numa espécie de representação-

delegada, sem qualquer inserção real com as bases.

Apenas 1,5% dos citricultores entrevistados se declararam sócios da

COOPAME, a mesma porcentagem dos integrantes de associação de viveiristas telados. Da

Cooperativa de Eletrificação de Desenvolvimento Rural Centro Sul de Sergipe – CERCOS,

25,0% dos entrevistados eram sócios. Esse número é decorrente do fato de a eletrificação

rural para o Povoado Treze ter sido feita por meio da cooperativa, daí o fato de serem sócios,

pois é ela quem fornece a energia aos moradores da localidade.

Da COOPERTREZE, 15,6% dos entrevistados afirmaram fazer parte do seu

quadro de associados. Na realidade, esse número não significa muita coisa, são pessoas cujos

nomes ainda constam na relação de associados porque não podem pedir formalmente o seu

desligamento, seja porque não integralizaram a sua cota-parte, seja porque estão devendo à

cooperativa e simplesmente abandonaram a mesma.

De todas elas, a participação em associações comunitárias dos povoados foi a

que apresentou maior porcentagem de integrantes, 40,6%, sendo 35,9% como sócios e 6,7%

como membros da diretoria. Situação completamente diferente da encontrada em 1984, pelo

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BNB/ETENE e SUDAP, em que “de modo geral, os citricultores de Sergipe estão vinculados

a três tipos de entidades associativas: a ASCISE, associação que encampa o maior número de

produtores, sindicato e cooperativas” (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.27).

Segundo a mesma pesquisa, em 1984, 46,8% dos entrevistados estavam ligados

exclusivamente à ASCISE, 19,0% à cooperativa e 34,2% ao sindicato. Em 2007/2008, os

resultados mostraram a ausência total de citricultores participando da ASCISE, estabilidade

no número de associados de cooperativas (COOPERTREZE e COPAME), 19,2%, e uma

pequena redução do número de citricultores sindicalizados (30,8%) (Tabela 42).

Enquanto em 1984, segundo a pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, 38,7% dos

entrevistados eram ligados a algum tipo de entidade associativa, em 2007/2008 esse número

aumentou para 68,8%, devido à proliferação de associações comunitárias criadas a partir de

1985, com a implantação do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor rural – PAPP, no

âmbito do Projeto Nordeste. A maioria delas criadas artificialmente, apenas para poder

receber recursos provenientes desse programa, mediante a apresentação de projetos

supostamente destinados ao atendimento de necessidades produtivas ou sociais reclamadas

pelas comunidades rurais.

A freqüência com que os entrevistados dizem participar das assembléias ou

reuniões das entidades a que estão vinculados, dividiu-se ao meio entre os que participam

sempre e os que apenas eventualmente o fazem (47,7% para cada uma das respostas); apenas

4,6% informaram não participar nunca dessas reuniões.

Também aqui as razões apresentadas para não participarem vão desde o

acometimento de doenças, passando pela alegação de que não são divulgadas as datas das

reuniões e assembléias, impossibilidade de conciliar o trabalho com as reuniões até o

desinteresse puro e simples de se fazer presente nesses eventos. Já os que participam sempre

ou às vezes informaram que o fazem porque gostam de “estar por dentro dos assuntos”, para

ouvir alguma orientação e/ou saber das novidades, para ver melhorias na cooperativa e para

fiscalizar as ações da diretoria. Ressalte-se que um número expressivo de entrevistados

afirmou ser importante participar “por causa da aposentadoria”, provavelmente, referindo-se a

possíveis informações que lhes são passadas sobre o tema, nesses encontros.

A maioria dos entrevistados que afirmaram participar atualmente de uma

associação, cooperativa ou sindicato têm nível de instrução intermediário (segundo grau

incompleto ou completo), são os que frequentam sempre as reuniões e atribuem muita

importância à organização para a saída da crise.

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63

Por outro lado, os analfabetos e os que possuem nível superior são os que

menos integram esse tipo de organização, embora por motivos diferentes. Aqueles, não

somente pela sua própria condição de analfabetos, mas também, pela dificuldade didática que

têm os extensionistas de fazer-se compreender por esses agricultores, haja vista os problemas

de comunicação entre ambos e estes, talvez por acharem que a luta por seus interesses

individuais prescinde de estarem ou não integrados a uma organização de tal tipo. Pensam,

assim, os que pouco frequentam as reuniões e nenhuma importância atribuem à organização

dos produtores.

Um dado relevante a considerar é a percepção dos entrevistados quanto a

importância de estarem organizados. Para a maioria deles, estar organizado em torno de uma

entidade é muito importante, pouco mais de 20% atribuem pouca importância a ela, e apenas

para uma pequena minoria ela não tem importância alguma. Entretanto, é unânime entre eles

que as entidades (associações e cooperativas) existentes não reúnem as condições mínimas

para conduzirem, com probabilidade de êxito, as ações necessárias para superar os desafios

que a atual crise coloca. Elas são completamente desacreditadas por eles (Figura 25).

Figura 25 – Importância atribuída à organização dos produtores

Diferente do que pensam dirigentes e técnicos do governo estadual, há entre os

entrevistados um senso crítico quanto aos principais responsáveis pela grave situação que

atravessa a citricultura sergipana ao longo dos últimos anos. Embora apontem o governo

estadual como o principal deles, seguido pelas indústrias de suco concentrado de laranja, um

terço dos entrevistados atribui a si próprio a responsabilidade pelo que vem acontecendo,

Importância que atribui à Organização dos Produtores

70,3%

6,3%23,4%

Muita Pouca Nenhuma

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64

porque não existe união entre eles. Os governos municipais também são apontados por quase

20% dos citricultores como um dos principais responsáveis pela crise.

Ao destacar esses três atores – governo, indústria e os próprios produtores –

como os principais responsáveis pela crise da citricultura deixam patente a necessidade de um

esforço de concertação entre eles, de modo a buscar, via negociação, alternativas para o

problema. Mais ainda: que a interlocução entre os atores deve ter o governo estadual como o

principal articulador, o que vem sendo feito pela Secretaria de Agricultura e pela

EMDAGRO, porém, sem resultados significativos, até o momento (Figura 26).

Entre os entrevistados que dizem caber aos próprios produtores a

responsabilidade pela crise da citricultura sergipana, 35,0% não completaram o primeiro grau,

25,0% não sabem ler e escrever e 20,0% são analfabetos. Com relação à posse de terra, 80,0%

têm menos de 5 hectares, destes, 45,0% têm menos de um hectare plantado com laranja. A

metade deles tem renda bruta familiar inferior a três salários-mínimos mensais.

Dos que atribuem a responsabilidade às indústrias de suco: 44,0% têm o

primeiro grau incompleto e 16% acima do segundo grau; 40,0% têm área total de dois a

menos de cinco hectares e 24,0% entre 10 e 20 hectares; 56,0% têm menos de cinco hectares

plantados com laranja e 20,0% acima de 10 hectares; 44,0% têm renda bruta familiar superior

a 10 salários-mínimos e 46,0% menos de 10. Essa opinião é manifestada por todos os

entrevistados, independente do seu nível de renda.

Os que apontaram o governo estadual como sendo o principal responsável pela

crise da citricultura tinham o seguinte perfil: 76,6% estudaram até o primeiro grau incompleto

(este, sozinho, representa 43,3%) e 23,3% os com escolaridade acima do primeiro grau;

36,7% possuem entre dois a cinco hectares de terra e 13,3% são donos de propriedades com

mais de 50 hectares; 33,3% tem de 1 a menos de dois hectares plantados com laranja; 26,7%

têm renda bruta entre 10 e menos de 20 salários-mínimos mensais.

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65

3,1%

7,8%

14,1% 31,3%

17,2%

46,9% 3,1%

39,1%

0 20 40 60

Porcentagem

Principais responsáveis pela crise da citricultura

As indústrias de suco

Desequilíbrio ambiental

O Governo estadual

Os governos municipais

Os próprios produtores,que não se unemOutros

Pragas e doenças

Queda das exportações

Figura 26 – Principais responsáveis pela crise da citricultura

A pesquisa também procurou saber por que existe falta de organização entre os

produtores de laranja. A maioria foi taxativa em afirmar que isso ocorre porque os produtores

são individualistas, vindo a seguir aqueles que disseram que já foram enganados ou souberam

de alguém que o foi e, em terceiro lugar, os que atribuem à falta de instrução ou pouco estudo

dos produtores a razão de não conseguirem se organizar para lutar por seus interesses. Em

mais de 20% das respostas foram mencionados a falta de poder dos associados, concentrado

nas mãos do presidente da entidade e a inexistência de incentivos, como a prestação de

serviços pela organização aos seus sócios (Figura 27).

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66

68,8%

15,6%

45,3%

29,7%

21,9%

20,3%

Motivos da falta de organização dos produtores

As organizações nadaoferecem aos sócios

O presidente decidesozinhoFalta deinstrução/pouco estudo

Já foram enganados

Nunca receberamcapacitação

O s produtores sãoindividualistas

Figura 27 – Motivos da falta de organização dos produtores

Dos entrevistados que atribuem ao individualismo dos citricultores a falta de

organização dos mesmos, na luta por meio de ações coletivas visando ao atendimento dos

interesses da categoria, 36,4% têm o primeiro grau incompleto e 20,5% são analfabetos; os de

maior nível de escolaridade são os que menos se posicionam dessa forma. São, também, os

que possuem entre 2 e 5 hectares de terra, freqüentam eventualmente as reuniões/assembléias

da organização da qual fazem parte e apresentam renda familiar bruta de 2,5 a menos de 5

salários-mínimos. É importante ressaltar que 77,3% dos que dizem que os produtores não se

organizam porque “cada um só pensa em si”, consideram a organização como de muita

importância.

Os entrevistados que consideram a falta de instrução/pouco estudo como um

dos elementos dificultadores da organização têm o seguinte perfil: 68,4% não terminaram o

primeiro grau e 15,8% têm escolaridade acima do segundo grau; 31,6% são donos de sítios

com área entre dois e menos de cinco hectares e 31,7% possuem mais de 10 hectares; 36,8%

plantam entre dois e cinco hectares de laranja e 21,1%, acima de 10 hectares; 52,7% têm

renda bruta acima de 10 salários-mínimos mensais.

Já foram enganados ou conhecem alguém que passou por essa situação: os

entrevistados com menor nível de escolaridade foram os que mais apontaram esse fator como

responsável por não participarem de organizações sociais (associações, cooperativas e

sindicatos): 44,8% têm o primeiro grau completo e 6,9% concluíram o segundo grau; 65,5%

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possuem menos de cinco hectares de terra, sendo que 27,6% têm de um hectare, o mesmo

porcentual dos que são proprietários de dois a menos de cinco hectares; 34,5% plantam menos

de um hectare de laranja e 41,4% têm renda bruta mensal entre seis e 20 salários-mínimos.

Como atributos indispensáveis que as organizações precisam ter para motivar o

interesse dos produtores em se associarem a elas estão, em primeiro lugar, a confiabilidade e

credibilidade na entidade e nos seus dirigentes. É preciso, segundo os entrevistados, que a

entidade tenha uma administração mais democrática, ativa e competente, que haja maior

honestidade da diretoria e maior confiança nos cooperados/associados.

Foram também mencionados como atributos desejáveis a prestação de serviços

e promoção de cursos de capacitação e treinamento para os associados e seus dependentes; a

disponibilização de crédito para o pequeno produtor com taxas de juros mais baixas; insumos

a preços menos extorsivos; projetos de irrigação; trator para a comunidade; cursos e palestras

para os membros da organização, com prioridade para os jovens que estão desempregados; e

atuação efetiva na resolução de problemas de comercialização - garantia de preço mínimo,

fiscalização dos preços pagos aos produtores pelas indústrias etc.

4.3 – Principais problemas, atitudes e perspectivas com relação ao futuro e

aspectos da renda dos citricultores.

O alto preço dos insumos e o baixo preço recebido pelos agricultores na venda

da laranja foram, disparado, os principais problemas citados pelos entrevistados na pesquisa.

Pragas e doenças nos pomares e falta de crédito e incentivos governamentais também foram

muito lembradas.

Menos da metade dos citricultores entrevistados vê o futuro dele e o da família

com otimismo, mais de um terço está inseguro quanto a ele e pouco mais de dez por cento

estão pessimistas. Apesar disso, a maioria afirma que gostaria de ver seus filhos continuarem

a trabalhar na agricultura, embora seja expressivo o número dos que não querem seus filhos

dedicados a esse trabalho (42,2%) (Figura 28).

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68

Percepção quanto ao futuro da família

35,9%

3,1%

48,4%

12,6%

Com insegurança Com otimismo Com pessimismo Outro

Figura 28 – Percepção quanto ao futuro da família

A maioria dos entrevistados avalia a condição de vida da sua família, no que

diz respeito à moradia, como regular, porcentagem pouco maior dos que a têm como boa. No

tocante à alimentação e à saúde, metade dos entrevistados se diz contente com elas, ao

contrário da percepção que têm sobre os bens materiais, que são apenas regulares para a

maioria deles e ruins para quase 20% dos entrevistados.

Conseguir crédito subsidiado do governo e facilidade de financiamento, através

da criação de uma linha específica de crédito para a citricultura, assim como ter garantia de

preço da laranja e adubação fornecida gratuitamente pelo governo para a manutenção dos

pomares são alguns dos tipos de apoio que os entrevistados consideram como de maior

urgência para desenvolver e melhorar o seu empreendimento agrícola. A necessidade urgente

de apoio à criação ou recuperação das organizações de ação coletivas – cooperativas,

associações, sindicato de produtores citrícolas etc. – pouco foi citada pelos entrevistados, o

que relativiza a prioridade que está sendo dada pelo governo, em claro contraste com o que

pensam os agricultores. Como já dito, apesar de considerarem importante a organização da

categoria, não a colocam entre as suas atuais prioridades, talvez pelas razões já expostas

anteriormente.

No tocante à renda, com os devidos cuidados na sua mensuração, haja vista a

inexistência de uma “contabilidade” de custos e receitas feita regularmente pelos agricultores

familiares, a pesquisa chegou a uma renda média bruta mensal da família, no ano agrícola

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69

2007/2008, de 2,4 salários-mínimos (s.m = R$ 415,00) e de 1,3 salários-mínimos quando

considerada apenas a receita oriunda da unidade produtiva.

A renda bruta média das famílias pluriativas, revelada pela pesquisa, é de oito

salários-mínimos, contra 7,2 daquelas famílias cuja reprodução social depende

exclusivamente da citricultura.

Do ponto de vista da composição da renda, a receita oriunda da venda de

laranjas representava, em 1984, 98,9% da receita total das atividades agrícolas - lavouras e

pecuária (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.48). Em 2008, segundo a pesquisa em análise,

essa participação havia caído para 63,6%, o que demonstra a perda de importância que esse

produto vem tendo, ao longo dos últimos anos, para a formação da renda dos citricultores

sergipanos. É essa situação que os obriga, cada vez mais, a ter que recorrer a atividades não

agrícolas, como forma de garantir os meios necessários à reprodução do grupo familiar

(Tabela 43 e Figura 29).

Ressalte-se, ainda, o peso das aposentadorias e/ou pensões na formação da

renda bruta familiar dos citricultores sergipanos, que em 2008 ocupava o segundo lugar entre

as fontes de renda da categoria, com 26,7%. Isso decorre do fato de que 39,1% das famílias

entrevistadas têm pelo menos um de seus membros como aposentado ou pensionista e 75,0%

deles utilizam o dinheiro da aposentadoria/pensão na atividade agrícola, na compra de adubos,

mudas, remédio para pragas e doenças e pagamento de trabalhadores (diaristas).

Composição da renda bruta familiar

34,5%1,7%

5,1%

26,7%

12,2%

12,6%7,2%

Venda da laranja Venda de outras lavourasVenda de animais ComércioPensão/Aposentadoria Bolsa FamíliaO utras

Figura 29 – Composição da renda bruta familiar

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70

Chama a atenção o número de citricultores que recebem recursos do Programa

Bolsa-Família, do governo federal: 45,3% do total de famílias entrevistadas. Vários foram os

casos encontrados em que a aposentadoria/pensão e o benefício do Bolsa-Família respondiam

pela maior parcela da renda familiar. Em outros termos, constituíam a principal fonte de renda

da família, ficando o trabalho como produtor de laranja em segundo plano. Esse fato é uma

demonstração cabal do empobrecimento dos citricultores sergipanos, considerados, durante

muitos anos, como representantes de uma classe média rural, criada pelo processo de

modernização agrícola brasileiro, que atualmente têm sua reprodução social dependente do

recebimento de benefício do governo.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa feita nos três principais municípios produtores de laranja de Sergipe

- Itabaianinha, Cristinápolis e Lagarto (Povoado Treze) – confirmou a grave crise que tem

acometido a citricultura sergipana desde os anos 90, agravada nos últimos anos não apenas

pela conjuntura internacional, principalmente no que diz respeito ao suco concentrado de

laranja, mas também por fatores de ordem local, dentre os quais, o envelhecimento dos

pomares, problemas de endividamento dos produtores, ação ineficaz do Estado nas tentativas

de recuperação da atividade e a inexistência de entidades de ação coletiva que efetivamente

representem e lutem pelos interesses dos citricultores.

É importante ressaltar que visões idealizadas do passado, quando a citricultura,

considerada como o segmento moderno da economia agrícola de Sergipe, ocupava papel

singular na agropecuária estadual, com uma importância e pujança enormes na geração de

emprego, renda e arrecadação estadual e na dinamização dos municípios da região citrícola,

não cabem mais na realidade atual. A citricultura tornou-se uma commodity, cujos preços são

determinados pelo mercado internacional de suco concentrado de laranja e a sua dinâmica não

mais depende de decisões dos produtores, senão do setor industrial, ao qual está

umbilicalmente ligada e, mais que isso, de forma subordinada.

Como foi possível perceber nas entrevistas feitas com citricultores, técnicos,

lideranças sindicais, de associações e cooperativas, atualmente reina entre os produtores a

insegurança quanto ao seu futuro no ramo da laranja, haja vista o alto preço dos adubos e a

instabilidade no preço da laranja, que dificilmente chega a cobrir os custos de produção com a

lavoura, por ocasião da comercialização do produto. Como resultado, o endividamento

crescente junto aos bancos, dada à incapacidade de pagarem o crédito rural tomado.

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71

Para muitos, surge como alternativa de sobrevivência a dedicação a outras

atividades não-agrícolas. Como mostrou a pesquisa, em 2007/2008, cerca de 40% das famílias

entrevistadas eram pluriativas, isto é, além do trabalho na roça, pelo menos um de seus

membros trabalhava em outras atividades, geralmente aquelas que exigiam baixa qualificação,

como o trabalho na construção civil.

A estrutura de comercialização da laranja em Sergipe continua bastante rígida,

com poucas alternativas de escolha para os citricultores na hora da venda do produto, o que

resulta quase sempre em preços recebidos aquém dos custos de produção gastos com a

lavoura, face à assimetria de informações e poder de pressão que têm em relação aos

intermediários e à indústria de suco concentrado localizada no estado.

Outro aspecto importante a considerar é o que trata do comportamento de

algumas variáveis da produção citrícola nos últimos cinco anos.

Segundo 40,6% dos entrevistados, a área colhida de laranja nesse período foi

reduzida, metade disse que ela se manteve estável e somente 9,4% afirmaram que houve um

aumento. No caso da produção de laranja, ela apresentou queda, segundo 46,9% dos

entrevistados, permaneceu estável para 37,5% dos citricultores e cresceu de acordo com

15,6% dos produtores.

Quanto à venda do produto, metade dos entrevistados afirmou que houve

redução, 35,9% disseram que ela manteve-se estável e, para 14,1%, a venda aumentou.

Por último, no que tange à renda obtida com a venda da laranja nos últimos

cinco anos, ela diminuiu segundo 64,1% dos entrevistados, manteve-se estável para 26,6%

dos citricultores e somente 9,4% informaram ter a mesma aumentado no período.

Merece destaque, também, a prestação de assistência técnica aos citricultores.

A despeito de ter havido uma sensível melhora em termos do grau de satisfação com a

prestação de assistência técnica pela EMDAGRO, demonstrada pelos 87,1% de entrevistados

que se consideram satisfeitos ou muito satisfeitos com o serviço prestado pela empresa, é

insatisfatória a cobertura da prestação do serviço aos agricultores, haja vista que a

porcentagem dos citricultores atendidos em 2007/2008 pela EMDAGRO é praticamente a

mesma atendida pela antiga EMATER-SE, em 1984.

Por outro lado, o tipo de orientação prestada pelos extensionistas aos

produtores, como mostram os dados da pesquisa, parece estar em descompasso com aquilo

que os citricultores entendem como sua principal prioridade – informações e orientações mais

constantes e pormenorizadas sobre o circuito da comercialização, principalmente no tocante a

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72

preços, oportunidades de mercados e opções de venda. Se, de um lado, isto aponta para uma

fragilidade nos serviços de ATER, por outro pode ser explorado positivamente, haja vista o

grau de satisfação da maioria dos produtores com a EMDAGRO, o que facilita eventuais

ações nesse sentido.

A pesquisa revelou, ainda, uma situação preocupante quanto ao rumo que vem

tomando a citricultura sergipana nesse longo processo de crise, ao constatar um processo de

reconcentração da terra, simultaneamente a um processo de fragmentação das propriedades

pequenas e médias na região citrícola.

Pelo que se pôde apurar, muitos citricultores, que compõem a camada média

dos agricultores familiares, estão sendo obrigados a vender suas terras – em parte ou na

totalidade – para grandes proprietários e, de acordo com vários depoimentos, até mesmo para

as indústrias processadoras de suco. Tem-se assim, em um dos pólos, o aumento do número

de pequenos produtores – espelho do empobrecimento dessa categoria – e, do outro, o

crescimento dos grandes citricultores – ampliando a desigualdade e a exclusão no setor. Em

outros termos, o segmento médio de produtores de citros - a “classe média rural” - que sempre

foi tido como o carro-chefe da citricultura de Sergipe, a cada ano perde representatividade,

seguindo uma trajetória descendente, num processo de descapitalização e empobrecimento.

Ao se desfazer de parte de suas terras, esse citricultores médios acabam por descer na escala

produtiva, passando a integrar a categoria de pequeno produtor e, como tal, mais vulnerável

aos fatores adversos trazidos pela crise.

No que diz respeito à questão da organização dos produtores, a manutenção da

heterogeneidade de interesses e da dispersão estratégica das associações representantes da

citricultura reduziu largamente a capacidade de negociação dos produtores de laranja. Ao

mesmo tempo, a concentração industrial facilitou este movimento estratégico. Isso significa

que a discrepância dos poderes de negociação da indústria e dos citricultores atingiu o nível

mais elevado da história de desenvolvimento da região.

Vimos os fatores relevantes que determinaram esse processo. Primeiro, a falta

de recursos de poder dos produtores de laranja, como conseqüência da queda dos poderes de

representação e de aglutinação de suas associações de representação e da estrutura

agroindustrial oligopolista. Segundo, a ausência dos fatores de mobilização cultural na região

citrícola, como a cooperação, ações coordenadas facilitadas, cumprimento de acordos, troca

de informações intensas etc., tão fundamentais em momentos de intensa reestruturação

econômica e política. Terceiro, a queda do poder de negociação dos citricultores frente à

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73

indústria, o que provocou a redução das condições de sobrevivência do trabalhador rural,

agravadas, ainda mais, com a proibição do trabalho infantil, tão comum nos pomares

sergipanos.

A submissão ao Estado, que por várias décadas sustentou com recursos

financeiros e outros benefícios as cooperativas do Treze e de Estância, como a ASCISE,

tornando-as totalmente dependente do governo para o seu funcionamento, não permitiu que

essas organizações de interesse pudessem atuar de maneira independente e autônoma nas suas

lutas em defesa da citricultura e dos citricultores que representavam. No caso da ASCISE,

com um agravante a mais: seus dirigentes eram quase sempre dublês de técnicos do governo

estadual ou federal e citricultores, com vinculações político-partidárias; portanto, sem o

distanciamento desejável e necessário para prover benefícios coletivos aos seus representados

nas negociações com o governo.

Por outro lado, a exclusão de alguns grupos e a limitação dos participantes no

processo decisório desta rede política começaram a ocorrer, no caso dos citricultores,

dentro das próprias organizações que visaram representar os seus interesses. A

representação dos produtores de laranja, desde a consolidação da rede política citrícola

(no final dos anos 80), foi se reduzindo porque milhares de produtores não estiveram

articulados com as associações de interesses (Paulillo, 2000, pág.19).

Entidades com vasta experiência e bons motivos para participar mais

ativamente do processo de discussão e formulação de propostas visando o desenvolvimento

sustentável da citricultura, como a COOPERTREZE e a COOPAME, em virtude dos vários

problemas que enfrentavam, acabaram por submergir e deixar o protagonismo para a

ASCISE, como porta-voz dos interesses da categoria.

Ocorre que a ASCISE foi sempre uma entidade que congregava poucos

citricultores e, entre estes, os de maior porte, para os quais as oportunidades geradas pelas

concessões da indústria eram maiores do que as geradas para os pequenos citricultores.

. Assim, com recursos de poder inexistentes e reduzida capacidade de

articulação, os agricultores familiares, que são maioria, pouco participaram do associativismo

na citricultura sergipana. Seus interesses não estavam representados no processo de

negociação da rede política da região citrícola, em virtude do reduzido volume de produção de

laranja de seus pequenos pomares. Isso dificultava as negociações com as fábricas de suco

concentrado, que exige um grau de organização considerável, resultando na sua exclusão de

eventuais ganhos na comercialização. Ao fim e ao cabo, as grandes reivindicações das

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74

associações de interesses dos citricultores, particularmente da ASCISE, eram as das grandes e

médias propriedades.

Deste modo, tanto as ações individuais dos citricultores como as ações

coletivas empreendidas pelas suas organizações de interesses – ASCISE, COOPAME e

COOPERTREZE - estiveram sempre enfraquecidas, haja vista os recursos de poder de essas

entidades serem ínfimos frente ao capital industrial.

Portanto, é, no mínimo, injusto, as autoridades governamentais responsáveis

pelo setor agrícola do estado atribuírem a crise da citricultura à falta de organização dos

produtores, sem o cuidado de analisar prévia e pormenorizadamente as causas do fracasso de

entidades como a COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE, que por muitos anos deram forte

contribuição para o desenvolvimento dessa atividade. Agir açodadamente na procura de

estimular a criação de uma nova entidade – cooperativa, associação ou outra qualquer –

mesmo com a melhor das intenções, parece não ser a atitude mais correta a ser tomada.

Criar um espaço de concertação entre os principais atores da cadeia produtiva

da laranja – governo estadual, indústrias de suco concentrado e produtores -, onde as questões

e os problemas globais da citricultura possam ser discutidos e as soluções, negociadas, parece

ser o melhor caminho. Nesse fórum, deverão ser definidas as responsabilidades, tanto

individuais como conjuntamente, dos diferentes atores sociais e firmado um pacto ou

compromisso entre eles, no sentido de promover ações em prol da recuperação e dinamização

da citricultura sergipana.

Em síntese, as tentativas de recuperação da citricultura sergipana, levadas a

efeito pelo governo de Sergipe, nos últimos anos, não se mostraram capazes de modificar a

situação da prolongada crise que o setor vem enfrentando. A recuperação de pomares e a

diversificação de cultivos, de modo a tornar a citricultura cada vez menos dependente de um

só produto – a laranja – por exemplo, têm sido afetadas pela descontinuidade na implantação

das ações e metas estabelecidas pelos sucessivos governos estaduais ou por mudanças de

enfoque, objetivos e estratégias de ação da política estadual voltada para a citricultura.

Os produtores, por sua vez, à falta de organizações de interesse individual e

ação coletiva que efetivamente os representem e tenham legitimidade, não apenas do ponto de

vista formal, mas real, nas relações com o governo do estado e com os empresários das

indústrias de suco, tentam, cada um à sua maneira, resolver seus problemas. Como, na maioria

das vezes, tais problemas exigem mobilização e ações coletivas, e não individuais, os esforços

são perdidos e os resultados, pífios ou inexistentes.

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75

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7 – ANEXOS

7.1 - TABELAS

Tabela 1 - Sergipe: Área Colhida com Laranja (hectare) – 1990-2007

Ano Itabaianinha Cristinápolis Lagarto Pólo Citricultor

Sergipe

1990 3.277 1.583 4.931 33.884 34.374 1991 3.362 1.898 4.981 34.962 35.539 1992 3.505 2.098 5.050 36.170 36.994 1993 3.642 2.318 5.200 37.518 38.549 1994 3.662 2.363 5.350 38.009 39.195 1995 3.667 2.412 5.495 38.988 40.291 1996 5.958 5.098 5.645 45.688 47.252 1997 3.700 2.542 5.745 40.819 42.270 1998 5.883 5.082 5.835 48.798 50.475 1999 5.870 5.133 5.910 49.505 51.066 2000 5.875 5.228 6.012 49.045 51.718 2001 5.808 5.209 5.291 48.048 49.728 2002 5.843 5.159 5.331 48.715 50.422 2003 5.942 5.269 5.429 49.262 51.057 2004 7.131 5.683 5.500 53.213 54.961 2005 7.143 5.650 5.400 52.934 54.697 2006 7.159 5.652 5.400 52.951 54.819 2007 7.366 5.919 5.400 53.383 55.272

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Tabela 2 - Sergipe: Produção de Laranja (tonelada) – 1990-2007 Ano Itabaianinha Cristinápolis Lagarto Pólo

Citricultor Sergipe

1990 45.056 21.765 162.794 880.631 898.204 1991 46.224 26.096 157.574 831.659 843.242 1992 48.150 28.846 123.066 706.809 720.384 1993 52.826 34.260 142.812 820.007 837.312 1994 48.384 31.720 142.168 773.678 791.598 1995 44.292 29.133 108.581 626.486 644.084 1996 53.833 52.909 139.432 690.313 707.528 1997 43.615 33.840 149.848 807.283 827.438 1998 55.590 54.290 105.894 703.184 722.557 1999 61.810 61.286 67.374 552.826 569.611 2000 68.300 64.291 74.248 586.767 604.401 2001 70.491 74.369 48.677 561.208 581.268 2002 76.370 77.323 71.968 660.224 685.326 2003 79.513 77.960 70.577 664.950 690.597 2004 94.949 80.784 71.500 711.781 737.256 2005 97.609 80.908 70.200 711.839 738.787 2006 97.792 81.728 70.200 723.215 753.191 2007 101.982 86.743 70.200 733.520 764.110

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

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Tabela 3 – Sergipe: Rendimento da Laranja (kg/ha) – 1990-2007 Ano Itabaianinha Cristinápolis Lagarto Pólo

Citricultor Sergipe

1990 13.749 13.749 33.014 25.990 20.312 1991 13.749 13.749 31.635 23.788 23.727 1992 13.749 13.749 24.370 19.541 19.473 1993 14.505 14.780 28.425 21.856 21.721 1994 13.213 13.424 26.573 20.355 20.196 1995 12.078 12.078 19.760 16.069 15.986 1996 9.034 10.378 24.700 15.109 14.974 1997 11.788 13.312 26.083 19.777 19.575 1998 9.449 10.683 18.179 14.410 14.315 1999 10.530 11.940 11.400 11.167 11.154 2000 11.626 12.297 12.350 11.964 11.686 2001 12.136 14.277 9.199 11.680 11.688 2002 13.070 14.987 13.499 13.552 13.591 2003 13.389 14.795 13.000 13.489 13.526 2004 13.314 14.215 13.000 13.376 13.414 2005 13.664 14.320 13.000 13.448 13.506 2006 13.660 14.460 13.000 13.658 13.739 2007 13.844 14.655 13.000 13.740 13.824

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Tabela 4 - Distribuição dos entrevistados por sexo Sexo Número %

Feminino 6 9,4 Masculino 58 90,6

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 5 - Distribuição dos entrevistados por faixa etária

Faixa Etária Número % 21 a menos de 30 anos 1 1,6 30 a menos de 40 anos 10 15,6 40 a menos de 50 anos 20 31,3 50 a menos de 60 anos 19 29,7

60 anos e mais 14 21,9 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 6 - Distribuição dos entrevistados segundo o estado civil Estado Civil Número %

Casado(a) 47 73,4 Solteiro(a) 2 3,1 Viúvo(a) 3 4,7

Separado(a) 3 4,7 Divorciado(a) 1 1,6

Junto(a) 8 12,5 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 7 - Distribuição dos entrevistados segundo o grau de instrução Grau de Instrução Número %

Analfabeto 11 17,2 Sabe ler e escrever 14 21,9 1º Grau incomplete 28 43,8 1º Grau complete 4 6,3

2º Grau incomplete 2 3,1 2º Grau complete 4 6,3 3º Grau complete 1 1,6

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 8 - Distribuição dos entrevistados segundo o número de pessoas

da família Número de pessoas Frequência %

Uma 3 4,7 Duas 7 10,9 Três 10 15,6

Quatro 16 25,0 Cinco 9 14,1 Seis 5 7,8 Sete 4 6,3 Oito 7 10,9 Nove 1 1,6 Dez 1 1,6

Treze 1 1,6 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 9 - Distribuição dos membros da família segundo a faixa etária Faixa etária Número %

1 a menos de 14 anos 2 2,2 14 a menos de 21 anos 15 16,7 21 a menos de 30 anos 22 24,4 30 a menos de 40 anos 18 20,0 40 a menos de 50 anos 11 12,2 50 a menos de 60 anos 7 7,8

60 anos e mais 15 16,7 Total 90 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 10- Distribuição dos membros da família segundo o estado civil Estado civil Número %

Casado 34 37,8 Solteiro 39 43,3 Viúvo 4 4,4

Separado 2 2,2 Vive junto 11 12,2

Total 90 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 11 - Distribuição dos membros da família segundo o grau de instrução

Grau de instrução Número

% Analfabeto 9 10,0

Sabe ler e escrever 7 7,8 1º Grau incompleto 47 52,2 1º Grau completo 7 7,8

2º Grau incompleto 3 3,3 2º Grau completo 10 11,1

3º Grau incompleto 3 3,3 3º Grau completo 4 4,4

Total 90 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 12 - Distribuição dos entrevistados segundo a ocupação principal

Ocupação Número % Agricultor(a) conta própria 51 79,7 Trabalhador(a) doméstico 2 3,1

Comércio 1 1,6 Servidor public 1 1,6

Aposentado(a)/Pensionista 8 12,5 Empresário agrícola 1 1,6

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 13 - Distribuição dos entrevistados segundo o local onde trabalham

na ocupação principal Local de trabalho Número %

Na Unidade Produtiva/domicílio 54 91,5 Fora do estabelecimento em outras atividades 1 1,7

No estabelecimento e fora em atividade agrícola 2 3,4 No estabelecimento e fora em outras atividades 1 1,7

Não trabalha 1 1,7 Total 59 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Taela 14 - Distribuição dos entrevistados segundo a ocupação secundária Ocupação Número %

Agricultor(a) conta própria 9 27,3 Trabalhador(a) rural 3 9,1

Comércio 10 30,3 Servidor público 1 3,0 Construção civil 2 6,1

Aposentado(a)/Pensionista 4 12,1 Motorista 1 3,0

Mototaxista 1 3,0 Comprador de laranja 1 3,0

Sanfoneiro 1 3,0 Total 33 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 15 - Distribuição dos entrevistados segundo o local de trabalho na ocupação secundária

Local de trabalho Número % Na Unidade Produtiva/Domicílio 13 43,3

Fora do estabelecimento em atividade agrícola 3 10,0 Fora do estabelecimento em outras atividades 10 33,3

No estabelecimento e fora em atividade agrícola 2 6,7 No estabelecimento e fora em outras atividades 1 3,3

Não trabalha 1 3,3 Total 30 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 16 - Distribuição dos membros da família segundo a ocupação principal

Ocupação Número % Agricultor(a) conta própria 8 8,9

Trabalhador(a) rural 46 51,1 Trabalhador(a) doméstico 5 5,6

Comércio 3 3,3 Servidor público 3 3,3

Aposentado(a)/Pensionista 12 13,3 Estudante 7 7,8

Professora particular 3 3,3 Outra 3 3,3 Total 90 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 17 - Distribuição dos membros da família segundo a condição de exploração da terra

Discriminação Número % Terra própria 49 68,1

Terra dos pais/da família 20 27,8 Parceria em terra de terceiros 1 1,4

Arrendamento em terra de terceiros 2 2,8 Total 72 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 18 - Tipo de documentação da terra Discriminação Número %

Escritura publica 22 30,6 Recibo 46 63,9

Nenhum documento 3 4,2 Escritura pública e recibo 1 1,4

Total 72 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 19 - Distribuição dos entrevistados segundo as terras que possuem

por classes de área total (ha) Classes de área total Número % Menos de 1 hectare 11 17,1

1 a menos de 2 hectares 7 10,9 2 a menos de 5 hectares 22 34,4 5 a menos de 10 hectares 6 9,4

10 a menos de 20 hectares 12 18,8 20 a menos de 50 hectares 2 3,1

50 hectares e mais 4 6,3 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 20 - Distribuição dos entrevistados segundo as terras que possuem, por município e classes de área total (ha)

Itabaianinha Cristinápolis Lagarto (Colônia 13)

Total Classes de área total

No. % No. % No. % No. % Menos de 1 hectare 4 16,7 6 50,0 1 3,6 11 17,1

1 a menos de 2 hectares

4

16,7

1

8,3

2

7,1

7

10,9

2 a menos de 5 hectares

7

29,2

2

16,7

13

46,4

22

34,4

5 a menos de 10 hectares

1

4,2

2

16,7

3

10,7

6

9,4

10 a menos de 20 hectares

4

16,7

1

8,3

7

25,0

12

18,8

20 a menos de 50 hectares

2

8,3

-

-

-

-

2

3,1

50 hectares e mais 2 8,3 - - 2 7,1 4 6,3 Total 24 100,0 12 100,0 28 100,0 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 21 - Distribuição dos entrevistados por classes de área 1984(1) Área total Número %

Menos de 5 hectares 1.950 53,8 5 a menos de 10 hectares 467 12,9

10 a menos de 20 hectares 446 12,3 20 a menos de 50 hectares 557 15,3

50 hectares e mais 207 5,7 Total 3.627 100,0

Fonte: Pesquisa direta – BNB/ETENE e SUDAP, 1984. Cálculos do autor. Observação: (1) Refere-se aos 14 principais municípios produtores de laranja em Sergipe.

Tabela 22 - Distribuição dos produtores de laranja por categoria

1984 (1) 2008 (2) Tipo de produtor No. % No. % Pequeno 2.417 66,6 46 71,8 Médio 1.003 27,7 14 21,9 Grande 207 5,7 4 6,3 Total 3.627 100,0 64 100,0

Fonte: (1) Pesquisa direta BNB/ETENE e SUDAP (2) Pesquisa de campo, 2009.

Cálculos do autor.

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Tabela 23 – Participação dos produtores na produção de laranja

1984 (1) 2008 (2) Tipo de produtor Produção (kg) % Produção (kg) % Pequeno 148.815.250 17,4 362.650 22,6 Médio 421.724.250 49,0 634.000 39,4 Grande 287.424.500 33,6 610.000 38,0 Total 857.965 .000 100,0 1.605.650 100,0

Fonte: (1) Pesquisa direta BNB/ETENE e SUDAP (2) Pesquisa de campo, 2009.

Cálculos do autor.

Tabela 24 - Distribuição dos entrevistados segundo a área plantada com Laranja por município e classes de área (ha) - 2008 Itabaianinha Cristinápolis Lagarto

(Colônia 13) Total Classes de área

No. % No. % No. % No. % Menos de 1 hectare 6 25,0 7 58,3 2 7,1 15 23,4

1 a menos de 2 hectares

5 20,8 1 8,3 8 28,6 14 21,9

2 a menos de 5 hectares

5 20,8 2 16,7 11 39,3 18 28,1

5 a menos de 10 hectares

2 8,3 1 8,3 2 7,1 5 7,8

10 a menos de 20 hectares

4 16,7 1 8,3 4 14,3 9 14,1

20 a menos de 50 hectares

1 4,2 - - 1 3,6 2 3,1

50 hectares e mais 1 4,2 - - - 1 1,6 Total 24 100,0 12 100,0 28 100,0 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Tabela 25 - Área plantada com laranja nos municípios de Itabaianinha, Cristinápolis e

Lagarto, por classes de área (ha) – 1984 e 2008 1984 (1) 2008 (2) Classes de area

No. % No. % Menos de 5 hectares 517 4,0 18,8 5,1

5 a menos de 10 557 4,3 32,3 8,7 10 a menos de 20 hectares 1.181 9,2 46,7 12,6 20 a menos de 50 hectares 5.583 43,5 98,0 26,4

50 hectares e mais 5.008 39,0 174,7 47,2 Total 12.846 100,0 370,5 100,0

Fonte: (1) Pesquisa direta BNB/ETENE e SUDAP (2) Pesquisa de campo, 2009. Cálculos do autor.

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Tabela 26 - Produção de laranja por classes de área total - 1982 e 2008

1984 2008 Classes de área Produção (mil

frutos) % Produção (kg) %

Menos de 5 hectares 339.791 9,9 291.650 18,2 5 a menos de 10 hectares 255.470 7,5 71.000 4,4 10 a menos de 20 hectares 445.540 13,0 404.000 25,1 20 a menos de 50 hectares 1.233.355 36,0 230.000 14,3

50 hectares e mais 1.149.698 33,6 610.000 38,0 Total 3.423.854 100,0 1.606.650 100,0

Fonte: (1) Pesquisa direta BNB/ETENE e SUDAP (2) Pesquisa de campo, 2009. Cálculos do autor.

Tabela 27 - Indicadores sobre a força de trabalho nas propriedades citrícolas de Sergipe -2007/2008

A/C B/C (A+B)/C Classes de areas Pessoas da Família

(A)

Empregados (B)

Área total com laranja (ha)

(C)

Menos de 1 hectare 26 - 5,0 5,20 0,00 5,2 1 a menos de 2

hectares 15 1 8,7 1,72 0,11 1,83

2 a menos de 5 hectares

48 24 46,2 1,03 0,52 1,56

5 a menos de 10 hectares

10 13 22,3 0,44 0,58 1,03

10 a menos de 20 hectares

21 17 97,7 0,21 0,17 0,39

20 a menos de 50 hectares

7 - 38,0 0,18 0,00 0,18

50 hectares e mais 6 30 152,7 0,2 0,20 0,24 Total 133 85 370,6 0,36 0,23 0,59

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 28 - Principais compradores de laranja Discriminação Número %

Venda direta nas feiras/mercados 4 6,6 Venda direta na beira da estrada 1 1,6

Intermediário/atravessador 45 73,8 Fábrica de suco/agroindústria 8 13,1

Intermediário e fábrica 3 4,9 Total 61 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 29 - Tipo de tração utilizada na unidade de produção Discriminação Número % Tração animal 1 1,6

Tração mecânica(trator) 12 18,8 Tração manual 21 32,8

Tração mecânica e manual 29 45,3 Tração animal+ tração mecânica+ tração

manual 1 1,6

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 30 - Máquinas e equipamentos utilizados

Discriminação % Adubadeira 1,6

Trator 62,5 Pulverizador 3,1

Arado 6,3 Capinadeira 6,3

Ferramentas (enxada, facão, foice). 96,9 Pulverizador, forrageira, arado, capinadeira 17,2

Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Resposta múltipla Tabela 31 - Técnicas de conservação utilizadas pelos entrevistados

Discriminação % Queimada 17,5

Rotação de culturas 15,9 Adubação verde 22,2

Adubação orgânica 81,0 Adubação química 74,6

Outra 1,6 Pesquisa de campo, 2009 Resposta múltipla

Tabela 32 - Recebe assistência técnica? Discriminação Número %

Sim 31 48,4 Não 33 51,6

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 33 - De quem recebe assistência técnica? Discriminação Número %

Técnicos da EMDAGRO 29 93,5 Técnicos autônomos 2 6,5

Total 31 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 34 - Tipo de orientação técnica recebida Discriminação %

Técnicas sobre conservação do solo 41,9 Técnicas de utilização de fontes d'água 9,7 Técnicas sobre produção de lavouras 77,4

Técnicas sobre pastagens 3,2 Controle de pragas e doenças 96,8

Comercialização 9,7 Vacinação 19,4

Gerência da propriedade 3,2 Outro 9,7

Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Resposta múltipla.

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Tabela 35 - Origem dos recursos financeiros utilizados no cultivo

da laranja em 2007/2008 Dicriminação Número %

Recursos próprios 44 68,8 Crédito rural 3 4,7

Crédito do PRONAF 8 12,5 Recursos próprios e crédito rural 6 9,4 Recursos próprios e do PRONAF 2 3,1

Recursos próprios, PRONAF e Crediamigo 1 1,6 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 36 - Aplicação dos recursos de crédito Discriminação %

Compra de mudas 42,1 Recuperação do laranjal 31,6

Ampliação da área com laranja 15,8 Compra de adubo 89,5

Produção de mudas 5,3 Pagamentos de trabalhadores 31,6

Outro (*) 10,5 Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Resposta múltipla. (*) Compra de remédios para a laranjeira e compra de mercadorias para a me Tabela 37 - Participou alguma vez na vida de organização social ?

Discriminação Número % Sim 32 50,0

Nunca 12 18,8 Sim, mas saí 20 31,3

Total 64 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 38 - Já ouviu falar ou conhece a ASCISE Discriminação Número %

Sim 37 58,7 Não 26 41,3 Total 63 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 39 - Já ouviu falar ou conhece a COOPERTREZE? Discriminação Número %

Sim 44 69,8 Não 19 30,2 Total 63 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Tabela 40 - Já ouviu falar ou conhece a COOPAME?

Discriminação Número % Sim 33 52,4 Não 30 47,6 Total 63 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

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Tabela 41 - Participa atualmente de alguma organização social

Discriminação Número % Sim 44 68,8 Não 20 31,3 Total 64 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 42 - Participação exclusiva em uma organização social Discriminação Número %

Sindicato de trabalhadores rurais 8 30,8 COOPERTREZE 4 15,4

COOPAME 1 3,8 CERCOS 4 15,4

Cooperativa de produção 1 3,8 ASCISE - -

Associações comunitárias rurais 8 30,8 Associação de viveiristas telados 1 3,8

Total 26 100,0 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

Tabela 43 - Composição da renda bruta familiar: Especificação da renda Valor (R$ 1,00) %

Venda da laranja 258.727,00 34,5 Venda de outras lavouras 94.090,00 12,6

Venda de animais 54.250,00 7,2 Comércio 91.659,00 12,2

Frete de transporte 600,00 0,1 Pensão/Aposentadoria 200.160,00 26,7

Bolsa Família 38.316,00 5,1 Seguro Safra 6.880,00 0,9

PETI 480,00 0,1 Outras rendas 4.200,00 0,6

Total 749.362,00 100,0 Pesquisa de campo, 2009.

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7.2 - ANEXO II: Manifesto da Frente Democrática dos Citricultores Endividados e

Falidos, por ocasião da Palestra do engenheiro agrônomo e citricultor José Trindade, do

município de Boquim, na Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe, em setembro de

2009.