O Grande Discurso

A cidade onde moro tem vivido um dos seus momentos mais intensos na política. São

carros de som subindo e descendo, exaltando os seus candidatos. Dia desses foi a

inauguração de mais um comitê eleitoral, e eu estava lá , claro, um momento importante

como esse não dava para ficar de fora. Ainda não tenho idade para votar, mas sei que as

propostas de cada candidato me interessam e muito, afinal são essas propostas que

mudam todo o futuro de uma nação.

E foi com o pensamento de ver propostas que melhorassem a vida da comunidade onde

vivo que fui ver bem de perto o que cada candidato tinha a propor. A tal inauguração já

começou com um atraso retumbante, as pessoas reunidas na praça em frente à Igreja,

pareciam enlouquecidas, tamanha era a ansiedade para ver os políticos discursarem,

confesso que também eu estava muito ansioso. Bem em frente a mim, estava um trio

carregado de candidatos, que aguardavam a instrução do locutor para dar início a

apresentação dos seus projetos, bem como de seus nomes e respectivos números.

Enquanto isso não acontecia, as pessoas cá embaixo, levantavam suas bandeiras,

gritavam desesperadas, pedindo para que seu candidato “mor” aparecesse. Parece-me

que o pedido foi atendido, pois dentro de um curto espaço de tempo, ele finalmente deu

as caras. Foi só subir no trio que cá embaixo o grupo imediatamente gritava pelo seu

nome.

Era gente pra todo lado, até a “Igreja” estava ali, mostrando toda sua, solidariedade?!

A luz da praça se apagou e o locutor aproveitou para dizer que a luz havia se apagado

para não roubar o brilho da “estrela” que acabara de subir. Não gente, não subiu para

océu, foi apenas no palanque. Isso era só o que precisava para aquela gente ir ao delírio!

- Quarenta, quarenta, quarenta!

Estava tudo pronto, os discursos tão esperados aconteceram. Uma das candidatas a

vereador pegou no microfone quase me deixou surda, não discursava, gritava. O que

deu para ouvir, me chamou atenção.

“estou aqui para defender os interesses da mulher, pois sou também uma mulher, por

isso não votem em candidatos que andam por aí oferecendo cestas básicas em troca do

seu voto, votem em mim e em candidatos que não tem nada pra oferecer”.

Como assim? Aquele discurso me preocupou, claro que ela em parte tinha razão,

principalmente quando se fala na compra de votos. Claro, comprar ou vender voto é

sujeira! Mas o que me incomodou mesmo, é que ela não sabia bem o que defender, fui

ali na esperança de ouvir propostas sérias e consolidadas e acabei ouvindo discursos

como esses que mostram bem a qualidade dos candidatos que temos. E o pior de tudo

foi ver aqueles jovens que mais pareciam estar curtindo uma festa de carnaval, apoiando

com gritos e palmas cada palavra daquela mulher.

Mas se você pensa que tudo acabou aí, se engana; candidatos a vereadores de uma outra

coligação, estavam ali prestando seu total e irrestrito apoio àquela candidata, parece ter

se esquecido do próprio candidato a prefeito. Que estranho hein!

Agora, vamos combinar! Se está em dúvida e não sabe ainda que candidato escolher,

vote em “meu neguinho” ou naquela que é a filha do seu “Peba”! Tudo bem, estes ainda

não agradaram? Povo exigente! Então vote no “Zangão”. Agora chega! Tem candidato

de sobra para você eleitor escolher.

Assim que cada discurso foi concluído, era a hora de saírem em carreata – candidatos e

eleitores, pelas ruas da cidade. Era preciso mostrar de que lado estava o “poder”. E que

poder! No meio de tudo isso,vi um bêbado, não, não era aquele trajando luto parecendo

Carlitos – era mais um daqueles que estavam em cima do trio discursando, fazendo

promessas e enfeitiçando o povo com seu “brilho”. Este momento me indignou, vi uma

multidão de adolescentes, encantada com aquele homem, que não andava, tropeçava.

Como diria Luciano Hulck: Loucura, loucura,loucura!!!!

Foi aí que percebi que é por essas e outras que a saúde parece um burro empacado, não

sai do lugar nem “a pau”. A educação mais parece uma música que outro dia ouvi

minha tia cantando “é devagar, é devagar, é devagar, é bem devagarinho”. E põe

devagar nisso! As estradas “tá que dá dó”

Até agora só tenho visto os carros de som, exaltando as qualidades de seus candidatos,

discursos desanrajados, mas como diz agente da minha cidadezinha: “propostas reais

que é bom neca”.