O guia de Charlie Joe Jacksonpara quem gosta

de ler

Ei! Espere um pouco –isso não tá certo!

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O guia de Charlie Joe Jackson

para quem

gosta de ler

Tommy Greenwald

gosta de ler

Agora sim!

SÃO PAULO, 2014

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Charlie Joe Jackson’s guide to not reading

Text copyright © 2011 by Tommy Greenwald

Copyright © 2014 by Novo Século Editora Ltda.

All rights reserved.

Coordenação Editorial:

Tradução:

Preparação:

Diagramação:

Revisão:

Montagem de Capa:

Mateus Duque Erthal

Deborah Guerra

Cléderson Matheus Rien Perez

Luciana Inhan

Julieta Lamarão / Equipe Novo Século

Luciana Inhan

2014

IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA

CEA – Centro Empresarial Araguaia II

Alameda Araguaia 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111

CEP 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – SP

Tel. (11) 2321-5080

www.novoseculo.com.br

atendimento@novoseculo.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Greenwald, TomO guia de Charlie Joe Jackson para quem não

gosta de ler / Tom Greenwald ; [traduçãoDeborah Guerra]. -- Barueri, SP : Novo SéculoEditora, 2014.

Título original: Charlie Joe Jackson's guide tonot reading.

1. Ficção - Literatura infantojuvenilI. Título.

CDD-028.513-13327

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.52. Ficção : Literatura juvenil 028.5

TexTo de acordo com as normas do novo acordo orTográfico da Língua PorTuguesa (decreTo LegisLaTivo nº 54, de 1995)

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Para Cathy,que leu de bom grado vários rascunhos deste livro e me

ajudou a torná-lo melhor.

E para Charlie, Joe e Jack,que não leram.

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Parte um

COmO nãO lEr

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meu nome é Charlie Joe Jackson e eu odeio ler. E se você está lendo este livro, você tam-bém odeia.

Na verdade, você faz tudo o que puder para evitar a leitura, e o fato de que você está segurando um livro em suas mãos neste exato momento é meio chocante.

Eu sei exatamente como você se sente; eu sou como você.

Apenas lembre-se: você não está sozinho. Nós vamos superar isso juntos.

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Este livro é um guia para pessoas como nós.Ele servirá a dois propósitos.Um: ele vai mostrar às pessoas como se livrar da leitura.E dois: naquelas ocasiões infelizes em que você não é

capaz de se livrar da leitura e é forçado a ler, ele vai ser um livro bom e fácil de ler.

É muito provável que você esteja lendo este livro contra a sua vontade e eu compreendo o que você está sentindo. Portanto, eu também faço a você um promessa solene:

Os capítulos serão curtos. As páginas serão menores. E, sempre que possível, eu vou usar palavras curtas.

Uma sílaba. Ou menos.

Eu também vou incluir algumas dicas específicas sobre como ler – ou sobre como NÃO ler – ao longo do livro.

Algumas têm a ver com se livrar da leitura por com-pleto, que é a estratégia que eu recomendo, e algumas têm a ver com aproveitá-la da melhor forma possível, se você realmente for obrigado a ler. Pode ser mais difícil do que

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parece evitar a leitura de um livro em algum ponto da sua vida – mesmo no ensino básico, como se vê. Você vai en-tender mais no “desenrolar da história”. (Um dos meus amigos que leem, Jake Katz, usou essa expressão uma vez ao descrever um trabalho que estava fazendo. Ele se tor-nou um pouco menos meu amigo naquele momento.)

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Dica nº 1 do Charlie Joe

SE VOCÊ TEM QUE LER UM LIVRO, CERTIFI-QUE-SE DE QUE ELE TEM CAPÍTULOS CURTOS.

Essa primeira dica é bastante autoexplicativa. Pense nisto: se sua mãe ou pai disserem para você ler três capítulos antes de dormir, você não iria preferir que os capítulos tivessem uma página em vez de dez páginas cada? Você não prefere ler três páginas em vez de trinta? Dessa forma, você vai ler 27 páginas a menos, mas ainda pode dizer: “Advinha? Eu li meus três capítulos”.

Confie em mim, eles nunca vão saber a dife-rença.

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Eu sempre odiei ler.Eu não me importava que minha mãe lesse para mim

quando eu era pequeno. Aquilo era bom porque eu podia ficar acordado até mais tarde e às vezes ela até dormia na minha cama. Tenho que admitir que eu realmente gostava disso naquela época.

Mas então, quando fiquei um pouco mais velho, ela co-meçou a dizer: “OK, agora você lê o resto do capítulo”, o que eu realmente não ia fazer.

Então eu chorava e ela lia um pouco mais.(Falando nisso, foi assim que eu aprendi a chorar de

propósito. É uma habilidade útil. Tenho notado que as meninas realmente gostam que um cara fique com lágri-mas nos olhos às vezes – como quando o herói de um filme faz um grande sacrifício por seu verdadeiro amor, porque isso significa que ele é sensível ou algo assim, e meninas gostam disso. Pessoalmente, eu prefiro filmes de ação, com muitas explosões, ou uma comédia em que algum cara gordinho se apaixona por uma salva-vidas linda que só fala francês. Esses são mais a minha praia.)

Enfim, toda essa coisa de chorar-na-frente-da-mãe--para-não-ter-que-ler funcionou muito bem até eu ter mais ou menos dez anos de idade.

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Então aqui estou eu, no ensino fundamental, e tenho orgulho de dizer que eu ainda odeio ler.

E essa foi a causa de toda a confusão.Tudo começou quando eu tive que ler O acordo de Billy

para minha aula de inglês. O livro conta a história de Billy, um garoto que faz um acordo com o Diabo para conseguir arremessar a bola de beisebol perfeita durante o campeo-nato. Mas o Diabo é, na verdade, apenas um cara contra-tado pelo pai de Billy para fingir ser o Diabo, porque ele acha que se Billy acreditar que fez um acordo com o Diabo para arremessar a bola perfeita, então Billy vai estar confiante o suficiente para realmente arremessar uma bola que ninguém será capaz de rebater.

Não é tão complicado quanto eu fiz parecer. Aparente-mente, é um livro muito bom, de acordo com a minha professora, a Sra. Ferrell. E eu acho que ele deve ter uma daquelas mensagens de apenas-acredite-em-si-mesmo-e--os-outros-vão-acreditar-em-você que os adultos querem que as crianças ouçam várias vezes.

De qualquer forma, como eu disse, foi aí que eu fiquei em apuros.

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Eu fiz o que eu geralmente faço. Eu li a contracapa, a ore-lha da capa, e o primeiro e o úl-timo capítulo. Então me sentei ao lado do meu amigo Timmy McGibney na hora do lanche.

Por um tempo, Timmy e eu tivemos o que podemos cha-mar de um “acordo”. Eu comprava um sorvete para ele e ele me contava tudo sobre o que tinha no resto do livro. O acordo era vantajoso para “ambas as partes” , que é uma des-sas expressões estranhas que meus pais usam o tempo todo.

Naturalmente, eu achava que iríamos fazer o mesmo acordo que sempre fazíamos.

— Então, Timmy — disse, entregando a ele seu sorvete —, O acordo de Billy é um livro muito bom.

— Como você sabe? — ele perguntou. Ele sempre me perguntava isso. Era uma espécie de hábito que nós tí-nhamos.

— Bem, o início e o fim foram bons.— Acho que sim — Timmy disse. Ele estava brincando

com seu taco de lacrosse.* Lacrosse era a única coisa que ele amava mais do que sorvete.

* Lacrosse é um esporte de equipe muito comum nos Estados Unidos e no Canadá. O objetivo é pontuar levando uma bola de borracha pequena e sólida até o gol adversário utilizando apenas um taco com uma espécie de rede na ponta, usada para capturar e segurar a bolinha. (N.T.).

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— Os testes para o time estão chegando, hein? — eu disse, aprontando para seu taco.

— Sim — disse ele. Eu esperei que ele falasse mais al-guma coisa, mas ele não disse nada. Isso foi estranho. Nor-malmente, ele falaria sobre lacrosse por horas.

Timmy devorou seu sorvete e olhou para o meu.— Na verdade, eu estou com muita fome hoje — afir-

mou. — Com muita, muita fome.De repente, me senti muito desconfortável. — O que você quer dizer com “com muita, muita

fome”?— Eu estou dizendo que estou com tanta fome que po-

deria comer dois sorvetes — Timmy disse —, talvez três.Eu olhei para ele, incrédulo. Nós tínhamos o mesmo

acordo há quase um ano. Eu já tinha dado a ele sorvete grátis suficiente para que ele abrisse sua própria loja de laticínios. Agora, de repente, ele estava fazendo isso!

O preço subiu.

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Eu olhei ao redor. Conferi meu bolso procurando por dinheiro. Considerei minhas opções. Então, fiz a única coisa que eu podia fazer.

Eu comprei outro sorvete para ele.

Depois do lanche, fui à biblioteca e procurei a palavra “chantagem” no dicionário, apenas para ter certeza de que eu entendia exatamente o que es-tava acontecendo.

A bibliotecária, Sra. Reedy, era uma velha amiga minha, mesmo que representasse tudo de ruim. Quando eu es-tava na educação infantil, ela tinha sido a bibliotecária da minha escola e havia tentado de tudo para me fazer ler. Uma vez, na primeira série, ela me fez sentar e ouvir uma música chamada “Pegue um Livro e Siga em Frente”, sobre as alegrias da leitura. Um dos versos dizia: “Se aconchegue na cama, o dia termina. Sozinho, mas você nunca está so-zinho, um livro pode ser um amigo”.

Eu nunca a perdoei.Então é desnecessário dizer que ela me olhou duas

vezes quando eu entrei na biblioteca.— Charlie Joe — ela disse —, você pegou algum cami-

nho errado?Eu ri. (É sempre bom rir da piada de um adulto, inde-

pendentemente de ela ser engraçada ou não.)

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— Eu só preciso pesquisar uma coisa — respondi, ten-tando manter a conversa o mais curta possível para que eu pudesse resolver meus problema e sair de lá.

A Sra. Reedy olhou para mim e piscou.— Bem, não se preocupe, Charlie Joe, seu segredo está

seguro comigo — ela disse.

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