o hipertexto no conto “teoria do medalhÃo”

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0 FACULDADE AVANTIS – EDUCAÇÃO SUPERIOR PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO: LÍNGUA PORTUGUESA NÚCLEO: BARRA DO CORDA/MA O HIPERTEXTO NO CONTO “TEORIA DO MEDALHÃO” DE MACHADO DE ASSIS

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FACULDADE AVANTIS – EDUCAÇÃO SUPERIOR

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

CURSO: LÍNGUA PORTUGUESA

NÚCLEO: BARRA DO CORDA/MA

O HIPERTEXTO NO CONTO “TEORIA DO MEDALHÃO”

DE MACHADO DE ASSIS

BARRA DO CORDA – MA

DEZEMBRO/2008

1

ALINNE BATISTA SILVA CUNHA

O HIPERTEXTO NO CONTO “TEORIA DO MEDALHÃO”

DE MACHADO DE ASSIS

Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do Instituto Avantis de Educação Superior, para a obtenção do título de especialista em Língua Portuguesa.

Orientadora: Profª. Terezinha Bogea

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BARRA DO CORDA – MA

DEZEMBRO/2008

O HIPERTEXTO NO CONTO “TEORIA DO MEDALHÃO”

DE MACHADO DE ASSIS

ALINNE BATISTA SILVA CUNHA*

RESUMO

O presente estudo procura realizar uma análise do hipertexto e suas características na obra

literária Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, tendo por base os pressupostos teóricos

da Lingüística Textual, da Teoria Literária e do Hipertexto. Neste, apresentamos um breve

relato sobre o a origem do Hipertexto e suas características destacando dentre elas a que mais

estão presentes na obra de Joaquim Maria Machado de Assis, Teoria do Medalhão.Mostra-se

sob o enfoque dos princípios teóricos de Ingedore Koch, Mariane Cavalcante e Adair Neitzel

e outros, que o hipertexto pode ser percebido no texto impresso, mesmo sendo do meio

eletrônico.

Palavras-chaves: Lingüística Textual, Literatura, Hipertexto.

3

*Pós-graduanda em Língua Portuguesa pela Faculdade Avantis

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................

2. Lingüística Textual ............................................................................................................

3. Teoria Literária ..................................................................................................................

4. Origem do Hipertexto .......................................................................................................

5. Sobre o autor......................................................................................................................

6. Síntese do conto Teoria do Medalhão ..............................................................................

7. Análise hipertextual da conto Teoria do Medalhão de Machado de Assis ..................

7.1 Não-linearidade ...............................................................................................................

7.2 Fragmentariedade ..........................................................................................................

7.3 Interatividade ..................................................................................................................

7.4 Intertextualidade/iteratividade .....................................................................................

8. CONLUSÃO ......................................................................................................................

9. ABSTRACT ......................................................................................................................

10. REFERÊNCIAS ..............................................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

As mudanças trazidas pelos meios eletrônicos não ocorreram apenas no âmbito

das comunicações, mas também nas formas e nos conteúdos da criação literária. O leitor passa

a ser o criador e o organizador das intenções e a máquina é o suporte pelo qual a obra se

concretiza. Nesse processo, o leitor assume o papel de co-autor, passando a interagir com o

autor.

Considerando este contexto, observamos que vários autores tem-se lançado na

investigação de um tema bastante comum em nossos dias, o hipertexto, ou seja, a criação

literária e a leitura crítica a partir de suportes informatizados, apresentando considerações

voltadas para sua identificação e influência na Literatura.

Após uma breve pesquisa bibliográfica, em bibliotecas e na Internet, acerca do

hipertexto, notou-se que trabalhos explicitam a teoria do hipertexto em diversas áreas

informacionais, inclusive na literatura, todavia, divergem da linha temática dessa pesquisa.

Por que, além de destacar o hipertexto em seu paradigma, típico do suporte eletrônico, o

objetivo dessa pesquisa é mostrar seu uso no texto impresso literário, o conto de Machado de

Assis, teoria do medalhão e desse modo, preencher esse espaço com novidades.

Sendo assim, analisa-se, na estrutura da referida obra machadiana, elementos que

identifiquem a presença do hipertexto e suas características.

O trabalho proposto tem como corpus de análise, um conto de Machado de Assis,

Teoria do Medalhão, pelo fato de que suas obras mostram uma estrutura não-linear.

Outro ponto importante a ser ressaltado para o desenvolvimento da pesquisa, é

que ao trabalhar com o conto, aumentam-se os tipos de análise hipertextual, mostrando que o

hipertexto não é apenas eletrônico, mas pode se estender a outros gêneros como a literatura.

Essa pesquisa terá um papel importante de ajudar a compreender o hipertexto e a aprofundar o

conhecimento sobre o conto enfatizando e que ambos podem estar juntos - hipertexto e

literatura.

Ressalta-se ainda, que esta pesquisa pode ajudar aqueles que pretendem analisar

contos de uma forma geral. Pretende-se, assim, contribuir para as novas formas de ler e

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escrever no estilo não-linear.

Portanto, a escolha pela análise do conto em seu aspecto hipertextual, é para

romper com o paradigma de que o hipertexto só pode ser compreendido pela Internet. Desse

modo, foi feita uma abordagem científica do conto Teoria do Medalhão, levando em

consideração que há dentro dele, ligações (links) temáticas que fazem conexão com outros

textos, formando, assim, uma grande rede de textos.

Entende-se que essa abordagem só pôde existir porque se considerou algumas

características do hipertexto dentro do conto.

A metodologia adotada para a elaboração desse trabalho foi a pesquisa

bibliográfica de cunho qualitativo, objetivando explicar o hipertexto de forma geral, e a

facilidade para se fazer uma pesquisa rápida e eficaz.

Foi escolhido como corpus de análise o conto Teoria do Medalhão de Machado de

Assis.

Isso posto, as etapas de pesquisa constitui em primeira instância de um estudo

aprofundado sobre o hipertexto origem, desenvolvimento, características e principais teóricos;

Na segunda etapa foi feita uma breve exposição sobre Machado de Assis,ou seja,

a contextualização a qual ajudará na análise;a terceira etapa constitui-se na análise do conto,

observando a não-linearidade, a fragmentariedade, a interatividade e a iteratividade e

intertextualidade, características do hipertexto.

.

2. Lingüística Textual

A Lingüística Textual constitui um novo ramo da Lingüística que começou a

desenvolver-se na década de 60, na Europa, e, de maneira especial, na Alemanha. Somente a

partir dos anos 70, é que a ela ganhou projeção. Seu objeto de estudo e investigação consiste

em tomar como unidade básica o texto, por ser a forma específica de manifestação da

linguagem (FÁVERO e KOCH,1988; KOCH, 2004).

Galembeck (2006) ressalta que a Lingüística Textual é oriunda, sobretudo, dos

países germânicos (Alemanha, Países-Baixos ou do Reino Unido), tendo por objetivo os

processos de construção textual, por meio dos quais os participantes do ato comunicativo

criam sentidos e interagem com outros seres humanos.

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Conforme Koch (2003) toda e qualquer ciência, bem como a Lingüística Textual

também têm seus limites. Sua preocupação maior é o texto, envolvendo todas as ações

lingüística, cognitivas e sociais envolvidas em sua organização, produção, compreensão e

funcionamento no meio social. Lembra que tais questões só interessam na medida em que

ajudam a explicar o seu objeto de estudo, o texto, e não a sociedade, a mente, a história, que

são objeto de outras ciências afins.

Dessa forma, a Lingüística Textual, baseada nessa concepção de texto, parece ter

se tornado um ponto de junção, para o qual convergem muitos caminhos e é, também, o ponto

de partida de muitos deles, em diversas direções. Portanto, a Lingüística do Texto, abre

perspectivas otimistas quanto a seu futuro, como parte integrante da ciência da linguagem,

bem como das demais ciências que tem como sujeito central o ser humano.

Rafael et al.(2006) destacam que a Lingüística Textual é uma área do

conhecimento recentemente constituída que, em oposição à Lingüística Estrutural (de

Saussure), procura ir além dos limites da frase e introduz o sujeito e a situação da

comunicação em seus estudos sobre a leitura e produção textual.

Percebe-se, diante do que foi dito anteriormente, que a Lingüística Textual

percorreu um longo caminho e vem ampliando o seu objeto de estudo, o texto. Ela

transformou-se em disciplina com forte tendência sociocognitiva, ou seja, no final do século

XX, as questões que a Lingüística Textual se habilita a estudar estavam relacionadas com o

processo sociocognitivo dos textos escritos e falados.

3. Teoria Literária

Segundo Castro (1984), a Literatura é formada da palavra littera (letra ou forma

de escritura). Desse modo, a Literatura está desde o início da Civilização Ocidental,

correlacionada ao texto escrito. Assim, a literatura sempre esteve ligada ao ensino, à

aprendizagem, à formação formal e cultural do ser humano.

Conforme o autor, a literatura possui várias definições, tais como: conjunto de

produção escrita de uma época ou país (literatura clássica), conjunto de obras separado pela

temática, origem ou público alvo (literatura infanto-juvenil), bibliografia sobre determinado

campo especializado do conhecimento (literatura médica) e disciplina que procede ao estudo

sistemático de produção literária (literatura geral, literatura brasileira).

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O termo Teoria da Literatura foi publicado em 1942 por René Wellek e Austin

Warren através de um tratado que tinha o objetivo de sistematizar as correntes de

identificação da literatura (estilística, o formalismo russo, escola morfológica alemã, nova

crítica anglo-americana e fenomenologia dos estratos), pois tinham pontos comuns, embora

divergissem em outros. Teoria da Literatura – nome adotado para uma nova disciplina, que

passa a designar uma ampla renovação metodológica. (SOUSA, s/d)

Desse modo, para o autor, a teoria da Literatura tem por objeto, a literatura stricto

sensu, ou seja, determinados elementos verbais em que a linguagem se apresenta estruturada

de forma especial, nas quais são formados universos imaginários ou ficcionais..

Assim, conforme Sousa (1987, p.102) por “Teoria da Literatura convém entender

uma disciplina específica no campo dos estudos literários, cuja unidade se acha estabelecida

pelo destaque dado ao texto e a linguagem, apesar da desconcertante presença em seu âmbito

de grupos e movimentos extremamente diferenciados entre si, em decorrência de suas opções

por métodos e conceitos exclusivistas”.

Em se tratando de texto, ressalta-se que esse texto segundo Castro (1987) é o

produto de uma leitura, enquanto modalidade de interação do homem com a sabedoria. Desse

modo, há duas espécies de texto: o texto-objeto e o texto-obra. O primeiro é entendido pelo

discurso pelo discurso referencial cotidiano e técnico, ou seja, se alguém quiser transmitir

uma ordem ou então dar uma instrução técnica, não precisa escolher frases bonitas, o mais

importante é ser compreendido.

O segundo é considerado texto literário, por ser texto/obra, no sentido de que o

texto lança mão do discurso metafórico, isto é, põe em tensão o emissor e o receptor, o leitor e

a realidade (lida), de tal forma que entre esses dois pólos se estabelece uma relação produtiva,

dinâmica e interativa, daí texto obra que faz transformações e manifestações.

Portanto, em Teoria do Medalhão de Machado de Assis, percebe-se um

texto/obra, de modo que o leitor tem papel ativo diante da obra, pois o leitor precisa conhecer

ou procurar conhecer os constantes links colocados na obra pelo o autor. Sendo que, por vezes

o escrito deixa espaço para o leitor crítico fazer suas próprias “leituras”.

4. Origem do hipertexto

Segundo Dias (1999), o crescimento tecnológico propiciou a origem do

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hipertexto. Por volta de 3.000 a.C., na Mesopotâmia, começaram surgir formas de escrita

utilizando ideogramas e fonemas. Nesse período, no Egito, eram usados papiros e tintas

rudimentares para representação de signos na comunicação escrita.

Para a autora, o livro moderno passou a apresentar uma interface padronizada

entre conteúdo da obra e o leitor, devido à incorporação de eventos anteriores à tipografia e o

aparecimento de alguns elementos, tais como: paginação, sumários, citações, capítulos,

títulos, resumos, erratas, esquemas, diagramas, índices, palavras-chave, bibliografias e

glossários. Todos esses elementos classificatórios, na época em que foram investidos,

possibilitaram uma interação entre texto e leitor completamente diferente daquela que ocorria

com os manuscritos. Com esses elementos foi dada ao leitor a possibilidade de avaliar o

conteúdo da obra de forma rápida e acessar as partes do livro que mais lhe interessavam, de

modo seletivo e não-linear.

Por meio das notas de rodapé e das referências bibliográficas, o leitor passou a ter

conhecimento de outros livros que tratavam do mesmo assunto. Essa nova forma de interação

com o conteúdo da obra já mostrava certa tendência à não-linearidade textual.

Os primórdios do hipertexto podem ser associados a uma idéia de Agostinho

Ramelli, cuja proposta era permitir a consulta simultânea de vários livros - “A roda da

leitura”. Com essa máquina o homem pôde ver e percorrer um grande número de livros sem

sair do lugar. (DIAS, 1999)

Em 1945, Vannevar Bush publicou na revista americana Atlantic Montey, um

artigo que descrevia uma máquina chamada Memex, capaz de propiciar leitura e escrita não-

lineares e armazenar uma biblioteca multimídia de documentos. Bush descreveu o Memex

como um dispositivo mecanizado em que uma peça guardaria todos os seus livros, fotos,

jornais, revistas e correspondências e que poderia ser consultado de forma rápida e flexível,

como se fosse uma extensão de sua memória.

O Memex, portanto, permitia o acesso rápido e não-linear a diversas unidades

individuais de informação multimídia relacionadas por meio de ligações. Essa idéia, no

entanto, ficou “adormecida” por quase vinte anos.

Esses inventos – a “roda de leitura”, de Ramelli e o Memex, de Bush, deram um

pontapé inicial para a criação do hipertexto propriamente dito.

Ainda conforme Dias (1999), em 1965, Theodore Nelson apresentou o termo

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hipertexto no seu projeto Xanadu, cuja proposta era implementar uma rede de publicações

elétricas, instantânea e universal, um verdadeiro sistema hipertexto, um universo documental.

O hipertexto na concepção de Nelson estava relacionado à idéia de leitura e escrita não-linear

em sistemas informatizados.

Conforme Komesu (2006) o prefixo hiper, escolhido por Nelson, confere ao termo

hipertexto certo caráter de superioridade em relação ao texto tradicional.

Marcuschi (1999), pesquisador do hipertexto no Brasil, concorda que a idéia de

Nelson dá condições ao leitor de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de

assuntos tratados no texto sem se prender a uma seqüência fixa ou a tópicos estabelecidos por

um autor. Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente co-

autor do texto final.

Segundo o pesquisador, o hipertexto se caracteriza como um processo de escritura

e leitura multilinearizado, multiseqüencial e indeterminado.

Já para Levy (apud CAVALCANTE, 2005), o sonho de Nelson era construir uma

imensa rede acessível em tempo real, contendo todos os tesouros literários e científicos do

mundo. A idéia era de uma enorme biblioteca, mas com uma grande diferença: todos podiam

utilizar essa rede para, por exemplo, escrever, interconectar, interagir, comentar os textos, os

filmes e as gravações sonoras disponíveis nesse espaço e anotar comentários.

A segunda geração com traços de hipermídia surge meados da década de 80. Essa

geração tem como base os mesmos conceitos apresentados anteriormente por Agostino

Ramelli e Vannevar Bush e Nelson. Entretanto, a tecnologia permite muito mais interações

entre o usuário e o suporte para gráficos e animações.

Levy, grande pesquisador do hipertexto, com muita precisão, define o hipertexto a

partir de duas perspectivas: a técnica e a funcional. Na técnica, o hipertexto é um conjunto de

nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências

sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos, serem hipertextos. Do ponto de

vista funcional, o hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimento ou

dados, visando à aquisição de informações e a comunicação.

Xavier (2005, p. 171) diz que o “hipertexto é uma forma híbrida, dinâmica e

flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas; adiciona e acondiciona na

sua superfície, formas outras de textualidade”. Para ele, ler o mundo tornou-se virtualmente

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possível, haja vista que sua natureza imaterial o faz ubíquo por permitir que seja acessado em

qualquer parte do planeta, a qualquer hora do dia e por mais de um leitor, simultaneamente.

O hipertexto requer do seu usuário muito mais do que simples decodificação das

palavras que flutuam sobre a realidade imediata.

A natureza do hipertexto, conforme Cavalcante (2005) permite pensar o próprio

texto em sua materialidade, bem como essas estratégias do seu processamento ou do

simulacro dele, pois o que os links evidenciam são as opções associativas que, na leitura,

partem de conhecimentos prévios, de uma ideologia.

Koch (2005) considera o hipertexto como uma forma de estrutura textual que faz

do leitor um co-autor do texto, oferecendo-lhe a possibilidade de opção entre caminhos

diversificados de referências, citações, notas de rodapé ou de final de capítulos, mostrando

que, nesses casos, temos um hipertexto, e que essas chamadas para as notas de rodapé ou de

referência funcionam como links.

A autora argumenta que o hipertexto não é apenas eletrônico, mesmo que esse

seja típico do gênero. A diferença está apenas no suporte, ou seja, um é eletrônico e o outro é

impresso.

Koch considera o hipertexto como algo radicalmente inovador, como um

paradigma de produção textual. O hipertexto é por natureza e essência, intertextual.

Percebemos que as considerações de Neitzel (2003) comungam com as de Koch

ao conceituar hipertexto, dizendo que este é um meio de informação que não existe apenas no

meio on line, no computador, mas é uma estrutura composta de blocos de textos conectados

que oferece trilhas labirínticas aos usuários; é uma maneira de ler e escrever que pode ser

encontrada em vários livros impressos.

Conceituando hipertexto há que se observar o que Smith, destacado por

Cavalcante (2005) chama de “competências definidoras do hipertexto”: os nós e os links.

Esses elementos para a pesquisadora são a identidade do hipertexto virtual, considerados

como seus constituintes internos.

Já no interior de um texto impresso, as ligações estabelecidas pelos links tendem a

funcionar como as conhecidas notas de rodapé. Os links seriam, então, as representações

dessas redes que o autor apresenta ao leitor, como estratégia de marcar seu próprio percurso

enquanto autor, seu estilo, sua história, delineando que caminho o leitor pode seguir durante

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sua leitura.

De acordo com Cavalcante, os links determinam o lugar da exterioridade textual,

demonstram o momento da relação do co-texto com o contexto.

Os links promovem ligações entre blocos de informações, outros textos,

fragmentos de informação, como por exemplo, palavra, parágrafos e endereçamento. Esses

blocos não necessitam estabelecer uma relação sêmica entre si, isto é, as ligações possíveis

não formam, necessariamente, a tessitura daquele texto específico, mas promove a abertura

para outros textos (CAVALCANTE, 2005).

5. Sobre o autor

Machado de Assis é sem dúvida o maior escritor do século XXI, pelo fato de ele

ser um escritor que brinca com as palavras, interage com o leitor durante a leitura dos seus

textos. Os contos e romances do autor são questionadores, complexos, ricos em ironias, e

possui muitas ligações temáticas (links) que confere ao leitor uma gama enorme de

informações.

Conforme Moço (2008) a qualidade da narrativa, a complexidade com que os

conflitos são nela expostos, o poder das idéias que transmitem e os questionamentos que

Machado de Assis suscita dá destaque aos seus escritos. O autor é referência por conseguir

ainda unir o erudito ao popular de forma única.

Para Moço, Machado revolucionou a cultura nacional. Mulato, gago e epilético,

em pleno período escravocrata, era admirado e respeitado nos mais nobres salões da corte,

contando histórias que ajudaram a moldar a noção que a se tem do que é ser brasileiro.

Muitos estudiosos hoje, se debruçam nos textos ou obras de Machado, tentando

descobrir as temáticas recorrentes desse escritor carioca.

Haja vista, o que relata Kostman (2008) sobre o grande escritor, pois durante

muito tempo, os manuais de literatura apresentam o autor de teoria do medalhão, tendo dupla

personalidade, antes e depois de Memórias póstumas de Brás Cubas. Antes, estaria um

machado romântico, estimulando um estilo do passado e nele forjando as características de

um prosa própria. Depois da mudança de Memorias Póstumas, teria surgido o machado

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realista, com pleno domínio de seu ofício.

Os estudos mais recentes sobre Machado mostram que a realidade é bem mais

complexa. Ele experimenta a evolução pela qual passa todo escritor em busca de m estilo.

Para Kostman, ao longo dessa trajetória, ela retorna “obsessivamente” aos

mesmos temas que aparecem nas obras de juventude e nas de maturidade, nos textos

despretenciosos como o conto A chave e nas obras-primas com Dom Casmuro. Pode-se dizer,

assim, que o diálogo com o leitor da sátira, ao pedantismo, o ciúme, o dinheiro e o parasitismo

da elite. Esses termos segundo o autor seriam as obsessões de Machado de Assis.

O tema mais relevante das obras machadianas que só agora vem sendo estudado é

o dinheiro. Ele apareceu em seus livros de uma maneira original, como a quantificar,

ironicamente, o valor dos afetos e atos humanos.

Logo, percebe-se com o que foi dito acima, que a postura didática e pedagógica

que Machado utilizou no início, deu lugar a uma atividade mais provocativa, tentando causar

desconforto e exigindo do leitor um esforço maior. Os narradores de machado apontam para a

necessidade de um novo tipo de literatura e para um novo tipo de leitor, menos acomodado

(Kostman, 2008). Visto que, Machado faz menção de vários assuntos em uma obra só, como é

o caso da obra em estudo, Teoria do Medalhão, nela pode-se perceber uma rede de

informações, onde o leitor para descobrir o sentido do texto, e conseqüentemente interagir

com esse texto terá, que procurar outros suportes materiais.

Portanto, tudo que foi exposto anteriormente se faz conhecer mais um pouco

sobre Machado de Assis e a forma com a qual escreveu seus textos, e justifica o objetivo

dessa pesquisa, que é provar que o conto Teoria do medalhão pode ser considerado um

hipertexto.

6. Síntese da Teoria do Medalhão

Esse conto mostra uma conversa com pai e seu filho, após o jantar de aniversário

de 21 anos deste. O pai fala que na vida, uns são conhecidos e reconhecidos, e outros são

anônimos, sendo estes últimos, a maioria. Propõe, então, ensinar ao filho uma profissão para

recompensar o esforço durante a vida, caso as outras profissões não alcancem as expectativas.

O conselho é que o filho cultive o ofício de medalhão. Acentua que deve moderar

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os impulsos da mocidade e que, aos quarenta e cinco anos, seria a idade em que o medalhão

normalmente se manifesta. Alguns um pouco mais velhos, outros, ainda mais jovens, sendo

estes últimos verdadeiros prodígios.

Nesta carreira, deve-se deixar de ter idéias. O pai ainda diz que o filho enquadra-

se perfeitamente nela: não tem idéias próprias. Com a idade pode ser que elas venham, mas

deve preveni-las fazendo atividades que não permitam seu surgimento, como jogar bilhar, ter

retóricas, passeios na rua – desde que seja acompanhado, para que a solidão não dê margem

às idéias. Poderá ir a uma livraria, mas para contar uma piada, um caso, um assassinato, e não

para outro fim, pois a solidão não convém ao fim do ofício. Com isso, em até dois anos pode

reduzir-se bastante o intelecto.

O filho reclama que não pode enfeitar muito aquilo fala ou escreve, ao que o pai

diz que pode empregar figuras, sempre a carregar citações, máximas, discursos prontos, até

mesmo frases feitas, procurando poupar problemas e discussões. Mas convém saber das

descobertas e interesses das ciências do momento com o tempo, pois seus significados e

terminologia, sendo aprendidos sem a interferência de professores e mestres não oferecem o

perigo de formular idéias.

O pai ainda relata sobre os benefícios que a publicidade traz. Primeiramente, em

vez de escrever um "tratado científico sobre carneiros", deve dá-lo em forma de jantar aos

amigos e fazer com que a notícia se espalhe. Em seguida, deve fazer festas, ter figuras da

imprensa nelas para que se torne público seu acontecimento. Acaso a imprensa não possa,

deve ele mesmo redigir uma matéria para ser divulgada. A conseqüência disso é, com o

tempo, tornar-se conhecido e passar a ser chamado para festas e vir a ser uma figura

indispensável nelas.

O filho indaga se não deve ter nenhuma imaginação ou filosofia. O pai responde

que não, mas deve falar sobre "filosofia da história", mas não sabê-la, devendo fugir de tudo

que leve à reflexão. Quanto ao humor, ser medalhão não é sinônimo de ser sério, podendo-se

brincar, sem usar da ironia, mas usar da chalaça.

Vendo que já é meia noite, o pai pede ao filho que vá dormir e pense bem no que

foi conversado, pois, guardadas as proporções, a noite valeu pelo Príncipe de Maquiavel.

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7. Análise hipertextual do conto Teoria do Medalhão

Verifica-se que o conto Teoria do Medalhão possui vários links (ligações

temáticas) carregados de informações, o que leva o leitor a fazer uma leitura não-linear. Desse

modo, ele é um tipo de hipertexto.

Após a análise do conto, para ilustrar e provar a hipótese principal desse trabalho:

que o conto Teoria do Medalhão pode ser considerado hipertexto, selecionou-se alguns

trechos que possui as características do hipertexto como a não-linearidade (presente em todo o

conto), a fragmentariedade, a interatividade, a iteratividade e a intertextualidade.

7.1 Não-linearidade

O hipertexto é não-linear, porque não há um caminho pré-estabelecido a seguir,

ou seja, os links nele presentes não têm uma seqüência lógica que induza à noção de começo,

meio e fim. Essa é a característica central do hipertexto.

Para Nelson referenciado por Marcuschi (1999), a não-linearidade aponta para a

flexibilidade desenvolvida na forma de ligações permitidas/sugeridas entre links que

constituem redes as quais permitem a elaboração de vias navegáveis. Assim, o leitor tem

autonomia para “acessar” os trechos que lhe convém, ou percorrer todo o hipertexto.

É importante dizer, que nos meios impressos, há um limite material, pois a

ampliação do percurso passa a depender da possibilidade de entrar em contato com outros

suportes materiais como livros, revistas, músicas e jornais.

Para exemplificar a não-linearidade, observam-se trechos do conto abaixo:

(1)... Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices, um

diploma podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na

indústria, no comércio, nas letras ou nas artes..., vinte e um anos meu

rapaz, formas apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os mesmos

Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo aos vinte e um

anos (...)

(2) — Isto é o diabo! Não pode adornar o estilo de quando em quando

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(...)

— Podes; pode empregar umas figuras expressivas: a hidra de Lerna,

por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel de da Donaides, as asas de

Ícaro, e outros, que românticos, clássicos e realistas empregam sem

desar, quando precisam delas (...).

Percebe-se no trecho (1) que durante o diálogo do pai com o filho, o autor faz

ligações temáticas (links), ou seja, ele faz menção de dois personagens políticos, como

William Pitt (1759 - 1806), que foi um inglês, inimigo de Napoleão Bonaparte, cujo poder

pretendeu, inutilmente, abater ou diminuir, com uma série de manobras, dentre as quais, três

coligações de países contrários a França. Quanto a Napoleão Bonaparte (1769-1821), era

imperador dos franceses, que com seu gênio militar, guia e aliciador de homens sonhou para a

França um grande império. Mas, o seu temperamento impetuoso lhe soberbou a serenidade

necessária para realizar tal empreendimento. Napoleão exerceu influência, com seu estilo de

vida e de homem, dentro e fora da França.

No trecho (2) nota-se a presença de figuras da mitologia grega como “hidra de

Lerna”, uma serpente de sete cabeças que renasciam quando eram cortadas uma por uma. Era

preciso cortá-las de um só golpe, e Hércules acabou por vencê-la.

A outra era a “cabeça de Medusa”, segundo a mitologia grega, era uma jovem

dotada de grande beleza, possuía magnífica cabeleira. Por ter irritado Minerva, deusa da

sabedoria, esta transformou seus cabelos em serpentes, e deu a seus olhos o poder de tornar

em pedra tudo quanto visse. Desse modo, Perseu cortou-lhe a cabeça e levou-a em suas

expedições, a fim de amedrontar seus inimigos.

Nesse trecho, nota-se a expressão “tonel de Danaides”, que era as cinqüentas

filhas de Dânao, que na noite de núpcias matavam seus maridos, e apenas deixavam um

Linceu, esposo de Hipermnestre. Elas foram condenadas a encher de água, eternamente um

tonel sem fundo. Assim, essa expressão é usada para caracterizar as pessoas, cujo coração não

se satisfaz com que tem de pessoas que destrói seus bens.

Machado de Assis cita, ainda, as “asas de Ícaro” para mostrar que as pessoas são

vitimas de projetos muito ambiciosos. Ícaro, filho de Dédalo, era prisioneiro do Labirinto de

Creta, para fugir, construiu umas asas, pregadas com cera. Por ter se aproximado muito do sol

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em sua fuga a cera derreteu, as asas se despregaram e Ícaro caiu em pleno mar.

Diante dos trechos (1) e (2) verifica-se que eles possuem uma variedade de

ligações (links) temáticas, expostas de uma maneira não-linear e oferecendo ao leitor várias

informações. E é esse tipo de leitura que o hipertexto propicia.

7.2 Fragmentariedade

Conforme Marchuschi (1999) “o hipertexto é um texto que possui constantes

ligações (links), geralmente breves com possibilidades de possíveis retornos ou fugas.”

Komesu (2006) diz que “o leitor é considerado co-autor por organizar os

fragmentos textuais a que tem acesso”.

Dessa maneira, destacam-se alguns trechos do conto Teoria do Medalhão que

possui essa característica:

(3) (...) _ Vejo por aí que vosmecê condena toda e qualquer aplicação

dos processos, modernos.

— entendamo-nos, Condeno a aplicação, como denominação. O

mesmo direi de toda a recente terminologia cientifica; deves decorá-la.

Conquanto o rasgo peculiar do medalhão seja uma certa atitude de

deus Término, e as ciências, sejam obra do movimento humano, como

tens de ser medalhão mais tarde, convém tomar as armas do seu tempo

(...)

(4) (...) – Diga...

— somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao conto da

boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da decadência,

contraído por Luciano, transmitido a Swilf e Voltaire, feição própria

dos cépticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa chalaça

amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete

pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nos

meios e arrebentar de riso os suspensórios.

— Usa a chalaça. Que é isto?

17

No trecho (3) Machado de Assis faz referência à mitologia romana quando cita

“deus Término”. Um deus dos limites e das fronteiras.

Já no exemplo (4), o autor faz breves e constantes ligações temáticas (links).

Assim, percebe-se que ele faz referência a alguns escritores famosos, “Luciano”

de Samosata (II séc a.C) é autor de Diálogo dos Mortos, caracterizado por ceticismo, humor e

sátira e Jonathan swift (1667-1745),um escritor inglês,autor das Viagens de Gulliver, uma

sátira mordaz à sociedade inglesa de seu tempo. Cita ainda Voltaire, que possui o pseudônimo

de Francois-Marie Arout (1694 – 1778), foi um escritor francês célebre por sua mordacidade,

expressa numa série de contos, dentre os quais se salientam Cândido, Zadif e Mecromegas.

Desse modo, conclui-se que o texto em análise mostra ser um texto fragmentado,

mas conserva sempre a sua seqüencialidade.

7.3 Interatividade

O hipertexto permite ao leitor se locomover de um ponto a outro de forma não

seqüencial, a fazer suas próprias conexões, acrescentar seus próprios links e produzir seus

próprios percursos.

Segundo Correia e Antony (2003), a interatividade é outro elemento que compõe

o hipertexto, pois o usuário pode interferir e transformar o texto, tornando-se nesse caso, co-

autor desse texto.

Para ilustrar melhor, essa característica, destacam-se trechos dos exemplos

(1) e (2).

(1) (...) Vinte e um ano meu rapaz, formas apenas a primeira sílaba

do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não

foram tudo aos vinte e um anos (...).

(2) (...) – podes; podes empregar umas figuras expressivas a hidra

de Lerna, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das Donaides, as

asas de Ícaro, e outros, que românticos, clássicos e realistas empregam

sem desar, quando precisam delas (...).

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Anteriormente, viu-se o significado dos links estabelecidos por Machado de Assis,

nesses dois trechos. Dessa maneira, o leitor, para entender o que Machado quer dizer no seu

conto, terá que buscar suporte materiais que possibilitem sua compreensão. Ao fazer isso, ele

estará participando do contexto do texto, assim o leitor pode interpretá-la e lê-lo fazendo suas

próprias conexões. O que se pretende dizer é que cabe ao leitor procurar as informações que

lhe convier para estabelecer o sentido do texto, que pode não coincidir com o do autor. É

nesse jogo que o leitor “ajuda” a montar o texto, ou seja, se torna co-autor, interage com o

autor primeiro desse texto.

7.4 Intertextualidade / interatividade

Segundo Marcuschi (1999), a interatividade é essencialmente intertextual, ou seja,

é recheada de trechos ou fragmentos de outros textos, portanto fica claro que, ao analisar a

intertextualidade estar-se analisando também a iteratividade.

Conforme Correia e Antony (2003), Baktin diz que qualquer texto é uma reação

ou resposta a uma diversidade de outros anteriores e um ponto desencadeador de outros

textos. Para ele, a intertextualidade sempre esteve presente no texto, uma vez que este é um

ato comunicacional, uma resposta a múltiplas vozes (textos complementares que dialogam

entre si), nas quais ele é formado.

Para se compreender melhor essa abordagem verificam-se trechos do conto Teoria

do Medalhão:

(6)... — Podes; podes empregar umas figuras expressivas; Sentenças

latinas, ditos históricos nesses celebres, brocardos jurídicos, máximos,

é de bom aviso trazê-los contigo para os discursos de sobremesa, de

felicitação, ou de agradecimento, Caveant, consules é um excelente

fecho de artigo político.

(7) ... — Nem política?

— Nem política. Toda a questão é não infringir as regras e obrigações

19

capitais. Podes pertencer a qualquer partido liberal ou conservador,

republicando ou ultramarino, com a cláusula única de não ligar

nenhuma idéia especial a esses vocábulos, e reconhecer-lhe somente a

utilidade do scibboleth bíblico.

No fragmento (6) observa-se uma expressão que usada pelo Senado, em Roma,

nos momentos de crise política, por meio dela os cônsules eram convidados a escolher um

ditador capaz de fazer face à situação. Essa expressão Carveant consules significa em

português: “Que os cônsules se ponham em guarda”.

Já no fragmento (7), Machado de Assis faz menção à bíblia, quando se refere ao

scibboleth, que significa espiga, torrente, curso de água. O sentido figurado dessa palavra é

senha.

De acordo com o livro de Juízes (12:4-6), o povo de Galaad venceu povo de

Efraim, e ocupou os vaus do Jordão. Sempre que um efraimita desejava passar, perguntavam

se era efraimita. Se a resposta fosse negativa, os povos de Galaad pediam que eles dissessem:

scibboleth. Se eles não conseguissem pronunciar corretamente, eram presos e degolados junto

dos vaus do Jordão.

Ao longo dos exemplos que foi apresentado, observa-se um número significativo

de características do hipertexto presentes no conto Teoria do Medalhão de Machado de Assis.

Cada característica foi apresentada individualmente para que essa pesquisa fosse mais bem

compreendida.

20

8. CONCLUSÃO

Inicia-se esta pesquisa a partir dos seguintes questionamentos: o conto Teoria do

Medalhão de Machado de Assis pode ser considerado hipertexto? Quais características do

hipertexto estão presentes no conto de Machado de Assis? Que resultados as ligações (links)

temáticas ou de informação são produzidos no conto de Machado de Assis?

Para obter essas respostas, procura-se destacar, inicialmente, que mesmo sendo

o hipertexto típico dos meios eletrônicos, ele também existe no texto impresso, apesar de

possuir um limite material, constatamos tudo isso a partir da concepção de vários

estudiosos do assunto, dentre eles Ingedore Koch, Marianne Cavalcante, Adair Neitzel,

Antonio Xavier. Em seguida fez-se um breve relato sobre Machado de Assis.

E por fim, na análise do conto, percebe-se as características do hipertexto e os

resultados obtidos pelas ligações (links) temáticas ou de informação, que leva a transferência

para novos tópicos, possibilitando uma leitura não-linear.

Temos, então, ao final da pesquisa, condições de responder aos questionamentos

iniciais, visto que o conto de Machado apresenta-se com um número elevado de

características do hipertexto, podendo ser consideradas como tal; as características mais

presentes são a não-linearidade, a fragmentariedade, a interatividade e a intertextualidade e

iteratividade; e que os resultados das ligações (links) temáticas ou de informação produzidas

no conto são responsáveis pela enorme gama de assuntos que enriquecem, sobremaneira, o

universo textual do conto, o que obriga o leitor a pesquisar, cada vez mais e em diferentes

fontes, não só o sentido, mas todo o conteúdo trabalhado por ele.

Desse modo, espera-se que a presente pesquisa possa contribuir e dar subsídios

para estudiosos da área de Letras e áreas afins, para estudiosos do hipertexto e para aqueles

que queiram fazer análises literárias.

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THE HIPERTEXT IN THE STORY “THEORY OF THE MEDALLION”

OF MACHADO DE ASSIS

ABSTRACT: The present study it looks for to carry through an analysis of hipertext and its

characteristics in the literary composition Theory of the Medallion, of Machado of Assis, having for

base the estimated theoreticians of the Literal Linguistics, the Literary Theory and the Hipertext. In

this, we present brief story on a origin of Hipertext and its characteristics detaching amongst them the

one that more is gifts in the workmanship of Joaquin Maria Machado of Assis, Theory of the

Medalhion. Sample under the approach of the theoretical principles of Ingedore Koch, Mariane

Cavalcante and Adair Neitzel and others, that hipertext can be perceived in the text printed matter,

exactly being of the half electronic.

Keys Words-: Textual linguistics, literature, hipertext.

22

10. REFERÊNCIAS

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