o livro amargo

9
Urn homem chtrmaclo (]uillrcrnre,\'{illcr clissc' tltrc' .lt'srls voltarriai em 18'1,1. N4uitas pcssoas acrec'litaritrr ttclc, irtc. ltrsivt' um jovenr chamaclo Jerryl ,\'lcNoÌan. O l-ìvro t\tvturgo ('orìtlr jurstamente a histór:ia dc Jerryl. Apaixonaclo pcla jovem r\llice , ele não cotlscgt tc ctttt'tttlc:r os motivos cle os pais clela não Ihe pernritir:cln cortc. Apc'ttrts dcpois cle conhcccr a mensagcnr rnilerita, fitralntct'ttcr <.rs ;ritis clc Allice permitcm o Ì]iÌmoro. No entanto, o jovem casii] cnfrentiì LlnìiÌ iÌrììiÌìgiÌ clcccpção. C) que era clocc torna-se umar clura batalha t-ra v'icla clc,lcrrvl c AÌlice. So:á clue a sr-ra pocleria resistir t:sscr iìcontcciltrcnttiì Porém, mnis, mr-rito mais, na história deles. Ìrxpcrimente o sLrspcnse e a emoção clestc livro. V<rcô taLn- bóm vaí clescobrir clLre seÌÌpre muito mais pclo clttc vivcr. Denis Cruz. gracluaclo cnr l)ireiLo, é senidor clo cluac'lro cÌo Nlinistério ['úblicr,r clo Nl:ito Cìlosso clo Sul. É:rutorclc Alémtk Nlogì.a t: c{c outros ìivnrs. ir casa lmfiilrilflilil B

Upload: apostilas-desbravadores

Post on 28-Mar-2016

636 views

Category:

Documents


209 download

DESCRIPTION

Livro para leitura, Desbravadores, O livro amargo de Denis Cruz

TRANSCRIPT

Page 1: O Livro Amargo

Urn homem chtrmaclo (]uillrcrnre,\'{illcr clissc' tltrc' .lt'srls

voltarriai em 18'1,1. N4uitas pcssoas acrec'litaritrr ttclc, irtc. ltrsivt'

um jovenr chamaclo Jerryl ,\'lcNoÌan. O l-ìvro t\tvturgo ('orìtlr

jurstamente a histór:ia dc Jerryl.

Apaixonaclo pcla jovem r\llice , ele não cotlscgt tc ctttt'tttlc:r

os motivos cle os pais clela não Ihe pernritir:cln zì cortc. Apc'ttrts

dcpois cle conhcccr a mensagcnr rnilerita, fitralntct'ttcr <.rs ;ritis

clc Allice permitcm o Ì]iÌmoro.

No entanto, o jovem casii] cnfrentiì LlnìiÌ iÌrììiÌìgiÌ clcccpção.

C) que era clocc torna-se umar clura batalha t-ra v'icla clc,lcrrvl c

AÌlice. So:á clue a sr-ra fé pocleria resistir iì t:sscr iìcontcciltrcnttiì

Porém, há mnis, mr-rito mais, na história deles.

Ìrxpcrimente o sLrspcnse e a emoção clestc livro. V<rcô taLn-

bóm vaí clescobrir clLre seÌÌpre há muito mais pclo clttc vivcr.

Denis Cruz. gracluaclo cnr l)ireiLo, é senidor clo cluac'lro cÌo Nlinistério ['úblicr,r

clo Nl:ito Cìlosso clo Sul. É:rutorclc Alémtk Nlogì.a t: c{c outros ìivnrs.

ircasa

lmfiilrilflilil B

Page 2: O Livro Amargo

Direìtos rÌe 1 ublicação reseruados àC,tsR Pugr-rcaoor,q. Bnasrr-ernaRodovia SP 127 - km 106Caixa Postal 34 - 18270-970 - Tatuí, SP

Tet.: (15) l20t-8800 - Fax: (15) 3205-8900Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888www.cpb.com.br

L'' edição: I mil exemplares2012

EJìtoragào: Neila Oliveirr e Michelson BorgesLdpa e Projeto Grif ro: Elcso Granierilhuaaçãa d.a. Capa: Thiago LoboImagens da Capa: FotoliaFotos dos Personagens Reais: AFC

IMPRESSO NO BRASIL I Prìnted ìn Brazìl

Dados Internacionais de Catakrgação na Publicação ((ìlP)(Câmata Brasileira do Livto, SP' Brasit)

Cruz, f)enisO livro nmarl;o: <lurnclo o sonho não se realiza /

Denis Cruz. -'[atuí, SP: Casa PublicadoraBrasileira. 2Ol 2.

rsrJN 97rJ-rìt-145- rt33-7

lìicção rcl igiosa I. Título.

cDD-869.930382

6. Dia de lestiral ....... .

7. Fogos

B. Conirontos .. ......., .........

9. Guilherme Miller .... ..

10. A primeira corte ........

I I. O pedido . ........ ....,12. Emboscada ..... . ....

I 3. Marcas

r r-1 l8t7

14. O dueloI5. Preparativos ...... ......

16. O enlace17. SinaisIB. Sacrilício ...... .,......

19. Chumbo e pólvora ..

20. Petalas antigas ... ..

21. Tempo de tardança .

22. O liwo amargo ... . .. .

23. A nora esperança ....

24. Remanescente fie1 .................Apêndice l: O que aconteceu em lB44 .

Apêndice 2: Personagens reais

Apêndice 3: Personagens fictícios

.. 64

Índices para catálogo sistemático:

I. Irit çiìo rt'ligiosa: Literatura brasileira

869.930382

..67

..71

..75

..7983

.. 87

..92.97l0l106

r07ilt

'ltxlos os clireitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,

;rrrr <lrrirlrluer meio,lem pr6uìa antorização escrìta ào autor e da Editora

'l i;rrl,rgia: lrrirlìrld fI Std 45 lighr 1Il72,t - 1231 1 121769

Page 3: O Livro Amargo

_..]

Para o tneu Deus, a quenx devo tudo. Paru a mìnha esposa Elisa' Seu

sorriso enriqwece weus dias. Jatnais o ecamrttni2e. Para nxinha n+eninu Lívia,

criança ltnda e talentosa. Para o nrcu güroL7 Kalcl. Você é a expressão md-

xima d.o signtficado d.e sew nonte: "enttti'ado por Dews". Para os atnìgos qwe

nte ajudaratn ao longo d.esta jornada corno escritort Felipe d.e Oli:veìra, Lwy

Maeda, Keila Cruz, Haroldo Júnior, Francìellen Memdes e tantos outras. Para

os awad,os ìrncãos da lgreja Ad,temtìsta de Mwndo Nozo, MS. Swas orações

fizeratn e fazeno wwìta d.ifurença em wìnha uida. E puror u7cê, qwerido leìtor,

que teln tornaclo esta tarefa de escrever wn^t'erdadeiro desafi'o.

f\velho homem olhava para o céu e seu coração cra agracíado com\-/um sentimento reconfortante: a esperança.

Sentaclo na cadeira de balanço da varanda na rústica casa de ma-deira sem pintura, ele oÌhou para o portão, por onde quatro jovensentravam.

- Boa-tarde, Sr. Jordan * disse o rapaz de camisa xadrez e calçajeams, que se chamava Sam.

- Boa-tarde, amigos - respondeu o homem, alargando um sorriso.

- Vamos, entrem.

- Meu pai mandou batatas - disse uma das moças que acompanha-va os jovens.

- Qr:e ótimo! Adoro batatas. - O velho esticou-se, pegou o sacocom os tubérculos e o colocou ao seu lado. Olhou para os quatro jo-vens à sua frente, com estampado ar de inquietude (um olhava parao outro, como se dissessem "Vamos, falel'', "Não, fale você!"). Comoninguém iria dizer nada, ele mesmo puxou o assunto:

- N{as vocês não vieram apenas trazer as batatas, não é?

- Não, senhor! * falou Sam - Viemos pelas histórias.O homem deu uma grande risada. Recostou-se na cadeira e balan-

çou duas vezes,

- Está trem. Sentem-se.

Page 4: O Livro Amargo

S loLrvlì()AMARCC)

()s tlulttro sorrilittìì satisfeitos, oihando tlns Para os oulros. Sam pu-

xot.t t-nìì lrrrnc'o. Vtnc'c Jill :rssentaram-Se no chão com o garoto nlais

ngvo, Mirtltc'1s (t,stc'tirrhat os cabelos vermelhos e o rosto cheio de sar-

clas; as cltns rno(:trs usiÌviìlrì vestidos de algodao, lclngos e dc um azul bem

discrcto, conìUtìs rìrìs l)cclrenas cidades daquele início do século l9).

- Jill, colttrluc ils l)iÌtatas para cozinhar. Será umiÌ longa história; por

isso, é bom tcrrrros rlgtt para comer mais tarde - falou o homeirr'

- Eu sei fazcr pLtrô cljsse Vane.

- Seus pitis sabcnr (llle vocês poderão demorar aqui? - Pergllntouo Sr. Jordan.

Sim - rcsporrcÌerr Sam. Avisamos quc iríamos pedir que o senhot:

contrÌsse urna história. Sc derrrorarmos, saberão que estamos aqui.

- As batatas estão cozir-rÌranclo clissc Jilì. Cìolocluei rrrais clois

pedaços cle mardcira no lìtgo, c, l)or ltalitr lrisso, sLtt lcnha cortatcla está

no fìm.

- Eu possg cortrìr a lcnha mais tlrrrlc', otr irrnluthiì, sc o scnhor qtriser

- disse Sam.

- l,'aìarclrtos clisso clcg>ois - resl,oltclc'rr o ltonrcrrr. Mas j/l aclianto

que scriit tlt' glitndc arirrcla. Podernos ctlllrcçitrìA rcsposlir ('strìvrì r-ro olhar dos quatro.iovc'ns, (luc s('lr.icitararrr

melhor lìrrrrrir lrossívcl. Hntão, o Sr. Jorclarr illit iott.

Unt horrrcnt chanrado Guiihcrmc N4illcr clissc c1Lrc Jcsus volta-

rja em l,çJ44. N4r-r itas lìcssoas acrecÌitarant nc'lr', c'rrÍrc c[aS, um jovem

char-r-racl0.lcrryl McNolan. E a história d..lC cILrc vou contar paravocês

âgora...

-ai:i-'

It'rlyl McNolan saiu da ferraria. Olhor-r ì)itra o alto e vlu o sol do

r,.'r'iro tÍc 1i342. Sentia um calor intenso, pois acarbara de sair da frente

,lrr lìrrrrallr,r, oncle batia uma barra de ferro PiÌlra seu pai, o Sr. Noian

lVlc Nolan.lirrxLrgoLr o sLtor com o punho da camisa e ahsou o ar,ental de couro

slrrraclo. l)rlr nrrris cìuente que fosse a roupa, ela era uma prOleção Con-

trtr o fogo c sLrAS ltaíscas.

- Ei, íìlho! - gritou o Sr. Nolan de clentro do galpão c1a ferraria.

ljstá con'r calor hoje? - Deu uma risada com seu gracejo.

- Aqr-ri fora cst/r mais fresco - sorriu o filho. Quer água? Acho que

vou buscar un'r balde no poço.

OLHANDO PARA o ALTO I 9

- Quero. Aproveite e jogue Llm na cabeça, para esfriar a cucar. Te-mos três arados para terminar.

Jerryl encaminhou-se para os fundos. Jogou o balde no poço e opuxou com a manivela de madeira, com seu peculiar e ríf,mico "clanc,clanc". Bebeu a água fresca em uma caneca de metal, reita peÌo pró-prio pai.

. Qr-Lancl<-r entrou no galpão, viu Nolan parado na grande porta dupla.À Írente dele estava ur-,-r ho-"- bem vesticlo, qr" ãirio,

- Você mc cleve um cavaÌo, McNolan.Jerryl o reconheceu imediatamente. Era Zachary Brat, um dos bur-

gueses do Condaclo Novo, no estado de Nova York. Um encrenqueircrcom roupas finas e um sobrenome desejado pela marioria das mclçersdas outras famílias.

- Não dcvo nada para vocô, Sr. Brat disse o senl-ror McNolanenquanto Jerryl se aproximava cleles.

NIeu cavaÌo quebrou uma cÌas patas depois que você colocou fer-raduras nele, ferreiro dissc Zachary, com tom arrogante. Arrumou ochapéu fino na cabeça e alisou o bigocle sobre um sorriso cínico. -'Iiveque sacrifìcar o animaÌ por sua culpa.

Se seu cavaÌo quebrou a pata, não foi em razão das fer:rzrdurasnovas que coloquei.

- Cuidaclo com o tom, fèrreiro. - Ao dizer isso, dois capangas secoÌocaram ao lado cle Zachary e as mãos de ambos se apoiaram no cabode revólveres que traziam à cintura.

JerryÌ repetiu o gesto, ficando ao lado clo pai, mas não tinha armapara impor presença maior que a dos comparsas de Brat.

- Vá para casa, Jerryl - disse Nolan. Mers o Íìlho não obedeceu.

- Pague o que me deve, lVlcNoÌan, ou vou quebrar uma das suaspernas - ameaçou o burguês.

- Nao me venha com ameaças, Sr. Brat - clisse o ferreiro com umtom cle indignação -, ou Ìevo nosso caso para o xerife Brautigarn.

O homem cleu um passo em direção a Nolan, ficando a menos deum palmo de se u nariz. Faiou com o mesmo tom ameaçador:

- Nada aqui scrá resolviclo na presença do xerifè. Vamos fazer dai

maneira antiga, McNolan. Como homer-rs de verdade.Cowto cotardes ile verd.ade, pensoll Jerryl, oÌhando para os homens

armados, mas preferiu não f'alar nada, ou iria piorar a cena.

- Scu ar,ô jamais aprovarr'tr isto! * argllmentou Nolan.- N.'leu falecjdo avô não tem nada a ver com nossos r-regócios

cla

Page 5: O Livro Amargo

10 | o LtvRoAMARGO

clisse o burguôs, apoiirnclo a mào direita no trabalhado cabo de um

fÌorctc cluc trazitr nar cinta. A esparcla fora feita pelo próprio NIcNolane clarda clc prcsctrtc a um de seus melhores amigos do Condado Novo'

o Sr. Cìustaph lìrat, o patriarca daquela família. - Trinta dias, ferreiro.

Esse é o prazo (lllc cLì dou para você indenizar meu prejuízo. - F'le se

virou e saiu Para â rlla poeirenta do condado, com seus dois homens

mal-encartrclos no cncaÌço.O ferreiro tirou o chapéu surrado e coçou o calvo cocuruto' um

gesto que sempre repctia quando estava preocupado com algo. Jerrylbem sabia.

- O que foi isso, pai?

- Maluquice dessc homem, Jerryl. Ele culpa minhas fcrraduras no-

vas pela .1to,ln de scul cavalo e quer quc eLÌ o indenize pela perda do

animal.

- E o senhor vai pagar?

- E como eu poclcrin pagar o valor clo uy'pukxxttt clo llrilt?Sem perccbeq Jcrryl repetiu o gcsto tìcrvoso cl<l 1tai, coçrinclcl a pró-

pria cabcça.

- Vtmos voltar ao trabalho - dissc o Sr' lVlcNolarl.

O jovent xtravcssou a bagunçada Ícrrariir, chciir clc ntctitis pcnclura-

dos e pcças csc<lrarclas por todos os lados. l,oi lrtó a lìrrrralha e felnexeu

numa placa clc rtrctul mergulhada na brasa. (lotn Lttl f'ole, soprou as

brasas c;r-rc Íìcirrarn ainda mais vermelhas. l)uxorr coln um alicate o

metal e o colocou sobre a bigorna, modelancltl sttit lìrrnra com Pancadasde martclo. A cada batida, uma miríade cìc laíscirs cintilava e morria

no chão terroso.

l\T: dia seguinte, a pedido da nãe, Jerryl foi aré o armazém cloI \ Sr. Fearnot comprar alguns mantimentos. A meio caminh,o de seudestino, o jovem viu um garoto em frente a um outro armazém cluevendia guìoseimas.

- Jclel - chamou ele. O menino respondeu com um imenso sorriso.

- JerryÌ! - disse o garoto depois de atravessar a rua. - Tudo bemcom você?

- Sim. Estou ótimo! disse JerryÌ, mas oÌhava por sobre os ombrosde Joe, como se procurasse mais alguma coisa. - Você está sozinho?

- Nao. Vin com meu pai e com minhas irmãs. Olhe! - ele tirou dobolso uma pequena faca, com cabo metálico. - Eu a trouxe comigo.Tcm sido muiro útil.

Jerryl pegou a fãca na mão e confèriu o fio, venclo que estava bemafiada.

- É ód-u para descascar frutas e reahzar outras tarefas emergen-ciais na fazenda - disse Joe.

Um mês antes, o jovem ferreiro, aproveitando a visita do pai da-quele garoto na ferraria para fazer a encomenda de um arado, o pre-senteou com uma faca (ferramenta muito útil para uma pessoa daárea rural). A partir daí, Joe o considerava um grandc amigo.

* E não é melhor você estar junfo de seu pai? disse Jerryl, semtenteìr mostrar muito interesse.I \1t1ttlrxr,,t(' rrìr rirçlr tlt' crvalo ttrmbém conhecida colno ctrvalolin|ado

Page 6: O Livro Amargo

12 lO LtvRoAMARCO

- Ele está no armazém clo Sr. Fearnot - disse o garoto. - Já estou indo lá.

Jerryl estremeccu e começou a caminhar ao lado de Joe, conversan-

do ã]eátoriamente até chegarem à venda. Subiram os três degraus de

madeira e atravessaram a portinhola.Duas pessozrs es[avam sendo atendidas no balcão de madeira amar-

ronzada peÌa poeira e oLltras duas andavam por entre rústicas Prate-leiras. Oi cheiros do ambiente se misturavam, mas o aroma de carnes

rcssecadas e clefumardas preclominava.F,ntre uma clas pratelóiras, Jerryl viu uma moça com vestido longo

e discreto, num tom pérola, olhanclo uma peça de tecido. Era Aliice,

irmã de Joe. A pele bianca combinava perfeitamente com o tom loiro

cle seus cabelos lisos.

- Oi, Allice - disse ele aproximando-se c tentanclo controlar o des-

compasso emocional ao ver a Elarota.

- Oi, Jerryl - respondeu ela c<ltl-l rttl s<lrris<l' -ltic se atproximou,

alternanclo o olhar cntrc os dois. - l,lLr vi a ltacir rlttc vrlcê fez Para meu

irmìo. f,le gostott mttittl.

- Eu... È.,... gagucjou McNolan' l-tr lìz algo l)ttra você também'

Ele enflor-r a mão no bolso interno ckr palctti sr-trraclo. Nlats, antes de

tirar, o Sr. Geralcl Norton gritou clo or-rtr<l lac|r clo atrtrrazí't.t-t:

-Allice Iì Jlt encontrou o que procurltvit?_ Nao, pai responcleu a moça, af'astanckl,sc, irrconscicr-itcmente,

um passo de Jerryl.

- Entao deixe para outra Vez - gritor-r tt lttltrtt'ttt r'ìLlm tom Sever',

batendo impacieniemente a ponta da botina lìc!{ra ao ver que a filha

não foi atA e te. Entendendo o gesto, Allice abaix,Lr a cabeça, pegou Joe

pelar mão e sariu pela porta. O menino dissc aPcrras' -'fchau, Jerryl!

- Sr. Norton I .hat.ì:ìo., o jovem ferreiro c1r-rancki o homem também

st' viroLt parra ir embora.gcraÍcl parour sob o umbral da porta. Jerryl sc aproximou e disse ,

Acho clue o senhor me conhece, soLl...

O Íìlho cle McNolan, o ferreiro' Sim, eu o cor-rheço

Scnhtlr, caso não se importe, eu gtlstaria de ir até sua fazenda

l)itfiì...Não clucro você na minha fazencla - interrompeu Norton, seca-

rrtt'tttc.N,las.. .

Olha, É{âroto, sei muito bem quais são suas intcnções' Saiba que

tìlto ('stalÌos ltrocuranclo um namorado para nossa Allice' Nãcl aprovo

o vrA,ANrË | 13

sua corte e não me faça ser mais cÌaro do que isto. - Ele se virou semdar oportunidade para qualquer outra palavra.

-f erryl Íìcou ali, engasgado com o complexo conjunto de argunentos

previamente ensaiados. "Sou de uma família conhecida na cidade", ' játenho uma profissão e minhas próprias ferramentas para exercê-Ia","frequentamos a mesma igreja aos domingos", e aí por diante.

Recostou-se no baicão e empurrou a Ìista de compra para o Sr. Fear-not, que a pegou com sua carranca mal-humorada de sempre.

- Não se preocupe com essas coisas pequenas, garoto - disse umhomem de barba branca e espessa recostando-se ao seu lad<_r. - Jesusvai voltar muito em breve.

O olhar qr-re Jerryl direcionou para o homem fbi de franca surpresa.Não pela frase que ele usou, mas por ter visto e compreendido ioda acena que se desenrolciu entre ele e cl Sr. Norton. Outras pessoas tatubúnTtcrceberctnr?. pensou o jovcm.

* Lá vem você, Têd, com essa história de Jesus voltando - disseFearnot, colocando uma piÌha de sacos no balcão.

- Você acreclita na Bíblia, Fearnotì - perguntou Ted.

- CÌaro, sou metodista, como você.Então, meu caro. A Bíblia diz que Jesus vai voltar até 2l de rnarço

de 1844.

- Onde está escrito isso, Têd? * desafiou o dono do armazém.

- Não está escrito em nenhum lugar, velho maluco. Tem que in-terpretar.

- l\llaluco é você - disse Fearnot, fazendo um gesto com a mào.Farecia que estava espantanc{o uma mosca, e voltou para pegar outrositens da lista dos N4cNolan.

- Como é isso? - interessou-se Jerryl.- Já ouviu falar de Guilherme MilÌer?- Acho que sim.

- Eu o conheci, há uns dez anos, num barco, enquanto viajava pelorio Hudson - disse Ted. - Quer ouvir minha história?

Jeri.gÌ olhou para o dono do armazém e viu que demoraria um pou-co para completar a listn. Ì\,leneou aÍìrmativamente a cabeça e Tedcomeçou:

- Bem, garolo, sou um viajante. Ando por aí vendendo minhas tra-lhas desde qlle me entendo por gente. Em 1833, eu estava num barco,viajando pelo rio Hudson. Eu discutia com outros viajantes sobre osavanços que \iemos uitimamente. Essas maravilhas todas, você sabe

l.,

Page 7: O Livro Amargo

14 | O LrvRoAMARco

bem: luzes de gás, máquinas de extrair caroços de algodão, comidas emlatas, fotografia, colheitadeiras, trens a vapol essas coisas. O própriobarco em que estávamos era a vapor, soìtando sua fumaça negra sobrenossas cabeças e deslizando numa velocidade sem igual. Num certomomento da conversa, um dos homens chegou a dizer que as coisasnão podiam continuar daquele jeito, ou em trinta anos o homem setornaria mais que humano.

Ted fez uma pausa e continuou:

- Nesse momento, outro homem se aproximou de nós. Disse queseu nome era Guilherme Miller e citou com suas palavras Daniel l2:4:"Nos últimr)s dias, muitos correrão de um lado para o outro e a ciên-cia se multiplicará." Achamos interessante a visão daquele homem eesperamos que ele continuasse a falar. E continuou. Miller começou acontar sobre as profècias do liwo de Daniel, cxatamentc nos capítulos11 e 12, dando uma síntese sobre a história do rnunclo. Ficamos todosboquiabertos com o que eÌe falava, até cyucr Íìrrulrnente ele se descul-pou, dizendo que não queria ter tornackr tanto do nosso tempo. Naverclade, nem notamos que havia passaclo tanto tempo assim. Durantea viagem, continuamos no encalço clele c- ouvimos coisas interessan-tíssimas sobre o livro de Daniel, incluír-rclo Lrma profecia sobre 2.300tardes e manhãs que, segundo Miller, prccliz o retorno de Jesus paramuito em breve, aproximadamente em lU43.l

- E como é essa proÍècia? - perguntou Jcrryl.-Ah, garoto. Eu tinha alguns panfletos (ÌLrc, na época, peguei com

Miller. Também achei outros impressos por aí, l]alando do assunto, masjá distribuí tudo.

- E tudo balela - disse Fearnot. - Esses rrrileritas são todos uns de-socuparcÌos. Estão é torcendo para que o munclo acabe. Sinceramente,('sl)cÌro qr:e não apareçam aqui na nossa cidiicle com essa história.

- Lamento desapontá-lo - disse'led corn unr sorriso. - Mas o pastorArratoli convidou um pregador milerita para explicar a tese das 2.300tirrdes c manhàs na sua congregaçào. meLl ciìro amigo.

Fearnot soltou os sacos sobre o balcão com violência. Fechou aindamais a carranca e voltou para outra seçào de produtos.

L Daclos extraídos de (ì

BrasiÌeira, \982), p. 22, 23.

f erryl r,oltou para casa pensanclo tanto na postura do Sr. Norton em

J ".uo permitir sua aproximação de Allice quanto nas palavras cle Ted.

Andava pelas ruas do condado Novo puxándo uma Ëarrocinha cheiacle p-rovisões para o mês e, quando .h"gu, em casa, situada mais aosfundos da ferraria, na extremidud" .,oit" da pequena vira, aiudou amãe, Sra. Marta, a descarregar e guardar a compra.

- Está preocupado c_om alguma coisa, Jerryì? _ perguntou a mãe,notando a expressão do Íìlho.

o jovem sorriu desconcertado, pois não esperava deíxar marcadarras feições sua atuaÌ condição.

- Ainda não sei se é algo para preocupação _ disse ele, evasivo. _Mas prometo que contarei se realmente merecer atencão.

Nesse momento, chegaram à despensa os doís i.-ão, mais novos,lìalph e Palmer, evitando a conrinuidìde da cena.* touxe doces? - perguntou palmer do vão da porta.

- Nãol - respondeu Marta. - Seu pai mandou que comprasse narrrercearia do Sr. Fearnot.

- se ele vendesse doces, tenho certeza de que teria uma caranlenos amarga - resmllngou Ralph, enquanto ]erryl lhe despenteavao cabelo.

. - Papai vai me dar uma parte dos lucros de alglrmas ferramentas queÍì2. Prometo levar vocês na Azul celeste

" .o-pïu, balas - disse JerryÌ.

" j*f

{ -..-.t.;'

!a'it

,*i

NIcnyn Nlarrrcll, Hì:tòrìa doAdventisruo (SantoAndÉ, SP: Casa Publicaclora

Page 8: O Livro Amargo

16 lO LTvRoAMARCO

A rcsposta veio num sonoro "Ebaaaa!" dos irmãos, que foi ouvido

lá dentro cla lerrarria onde, logo depois, o jovcm Ì\'lcNolan entrou para

começar suars ativiclaicles de ajudante.

- Pclr ltavor, ilqLleça a fbrnalha, Jerryl! grìtou Nolan, carregandoalgunras peças clc metal.

O filho obeclcccu imediatamente, inclo para â boca incandesccntedo grarrdc forno. Jogou madeira dentro dele e, com o fole, o abrasou

aincla mais. Alguns nrlnutos depois, a fornalha estava no ponto.

- Tudo ccrto coÌn F'earnotì perguntou o pai, parando ao lado dc

Jerrl,l e assistindo a revitalização do fogo.

Sin-r. F,le tinha tr-rdo da lista, mas os meninos reclamaram Por ellnão tcr trazido cloce.

Ambos riram e fìcaram em silêncio, cluvindo o cstaltir cla madeiraqr:eimanclo.

- Pai, o senhor tem alguma irrirlizitclc cotlì o Sr. N<lrton? - pergun-

tou JerryÌ, quebrtrr-rdo o silêr'rcio.

- Não. Pelo contrário, semprc nos clcrros r.nuito bem. Já Íìz muitoserviço para ele, em trocâ cle boa nrtclcira (lttc sltiÌ fazcnda nos forncce.Mas, por clue a pergunta?

- Cois:r boba, acho disse o jovclrt cr.rcabrrlmdo. - Creio que ele não

gostou de eu estar conversandcl cotìr a Íìlhl clcle, a Allice.

-Ah, Jerry você está querendo cortc.iti-lrrì - pcrgLtntou Nolan. A res-

posta foi apenas o coçar.de cabeça do íìlh<i. O hornem riu e deu um tapa

,-ro c,-bro do garoto. -Àr r,"r"t, esqueço (lLtc nleLÌ pequeno McNolan

1'á é um homern. Venha, vamos nos eifastar cla Ítornall-ra. Não precisamosÍìcar aqui qucin-rando os pelos se não cslivct'trtris trabalhando nela.

Forerm para o or-rtro laclo c1o gaÌpão e, cn(lLt.trìto Jerrvl vestia o aven-

tal clc couro, Nolan serviu-se de um copo clc'aígura. Então, disse:

Clcralcl lem uma superproteção com essa frllra. Foi sempre assim

c .já tcvc épocas cle fìcarmos meses sem vê-ìai rra cidade ou na igreja

clo conclaclo.

- F, o sernhor sabe o motivo?Não exatamente. Mas há boatos a respeìto. Dizern que ela é dedi-

cacìa a Deus, com voto de casticlade. Se este Íbr o caso, não poderá se

casar; portanto, podc desistir da corte.N.4ais uma vez, Jerryl repetiu o gesto de preocupação e o pai emen'

dou dizenclo:

- Agora vamos ao trabaÌho. 'lemos encomendas para tcrminar'E voltaram à licla.

A RosA | 17

Jerry[ ficou os dias seguintes cuidando do movimento da rua, espe-rando ver alguém da fanília Norton na ciclacle. Nenhum deÌes passoupor aÌi.

No domingo, logo que a noite caiu, os McNolan arruÌrìaram_se comas melhores roupas e f'oram caminhando juntos para a lgi-eja Metodis-ta, situada n0 centro do condado.

Havia um consideráveÌ movimento de pessoas cheganclo, a pé, acavalo o' famílias ir-rteirars em charretes. E.,trava- ,ro patio áa igreja,cercada com balaústres pintados em branco. A própria igreja, toàa ãemadeira, era branca, e, sobre o haLl de entracla, hãuia ,-â pequenatorre da qual pendia um sino e sobre a qual havia uma cruz.

os moradores da cidade e das fazendas ao redor vinham para assis-tir ao culto de domingo.

Quando Jerryl estava para entrar, Joe o puxou pekr braço e o condu_ziu para a lateral da igrcja.

- Tenho um recardo da minha irmã - clisse o gàÌroto, num tom bai-xinho. - Ela pediu que eu perglÌntasse o qu" uo.ã lãbricou para eÌa.

De imediato, Jerryl se lembrou de que, no armazém cro sr. Fearnot,tentolr entregar o presente para AlÌice, rrìas o Sr. Norton o interrom-peu. Colocou a mão dentro do_paletó enquanto pensava se queria en_trcgar o objeto para Joe ou preferia tazê-lo p"rroãl-",-,te. Na vercÌade,ensaiou uma série cle vezes a cena; a r.naioria cÌelas era encerracla, emseus sonhos, com um beijo de agraclecímento da amada.

Porém, ele não contava corì a oposição do Sr:. Norton. E, se de fatoqueria entreg.ìr o objeto, teria que usar o pequeno mensageiro à suafrente.

,. ..- F, isto - disse Jerryl, tirando clo bolso uma rosa com haste, umaf'olha e pétalas de metaÌ prateado e polido. - Eu mesmo fi2.

- uaul - exclamou Joe, olhando para o objeto que meclia cerca <Jeum palmo * É perfeita. Vou levar pu.u elu.

- Espere, Joe - disse lVlcNolan, segurando o garoto pelo ombroassim que ele se virou. - Por que seu pai não gostãu quon.lu me viufalando com AlÌiceì

Oner-iino não respondeu e apenas abaixou a cabeça.- Ela não pode ser cortejadaì - insistiu Jerryl.-.Não tenho permissão para faìar sobre esse assunto - clisse Joe,

sem levantar o rosto.Por um momento Jerryl ficou olhando para o garoto à sua frente.

Acharra que tinha mais ou menos a idade de Jc,e qrurrdo se apaixonou

Page 9: O Livro Amargo

18 lOLrvRoAMARco

pela menÍna Allice. Conversou poucas vezes com sua amada, mas foisuficiente para aumentar ainda mais o que sentia. Seu sonho adoles-cente se tornou, com o tempo, a determinação de um homem, Masagora tinha essa novidade. A proibiçao em cortejar a moça poderia des-

truir todos os seus pÌanos de um futuro em comum.

- Não tem problema, amiguinho - disse Jerryl, colocando a mão

sobre o ombro do garoto. - Apenas entregue a rosa para Allice e você jáestará fazendo o que está ao seu alcance.

Joe levantou o semblante com um sorriso encabulado. Virou-se, en-

trou na igreja e foi ìogo seguido pelo amigo ferreiro.Como estava sentado nos últimos bancos, Jerryl pôde ver quando o

menino entregou furtivamente o artesanato para a irmã. Sorriu, qllan-do viu o {ìr-ro traço clos lábíos alegres deAllice;porém, o que ele queriacontemplar eram os olhos azuis da jovem.

- Boa-noite, irmãos! - disse o pastor Anatoli, assumindo o púlpito e

dando início à liturgia metodista.Os membros daquela igreja cantaram e depois oraram juntos. Em

seguida, o pastor apresentou o pregador:

- Este é o pastor UÌric. Ele irá nos esclarrecer melhor o que temoslido em panfletos e revistas assinadas por Cr-rilherme Miller, sobre a

breve vincla de Jesus.Ulric, um sujeito magro e de sorriso carisrnático, que trajava um

terno cinza e discreta camisa branca, adornada com uma gravata nomesmo tom do terno, Ìevantou-se, cumprimentou a todos e deu inícioà mensagem:

- Até o dia 2l de março de 1844, Jesus voltará para buscar Seus

fiéis neste planeta. É o qu" a Bíblia diz e er-r vou mostrar para vocês

nesta noite.